Teoria Macroeconômica II Márcio Garcia PUC-Rio 2o Semestre de 2014 - Parte III - Tópicos Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 1/236 3a parte do curso Tópicos: 1 Hiperinflação e Senhoriagem (capı́tulo 23, Blanchard) 2 Polı́tica Monetária: Regime de Metas de Inflação (capı́tulo 25, Blanchard) 3 Polı́tica Fiscal: Déficits e Dı́vida Pública (capı́tulo 26, Blanchard) Crise atual na Europa 4 Teorias macroeconômicas recentes: Teoria dos ciclos econômicos reais Modelos de rigidez de preço novo-keynesianos 5 Interação entre fricções financeiras e a macroeconomia Armadilha da Liquidez (capı́tulo 22, Blanchard) Grande recessão: crise 2008/9 nos EUA Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 2/236 Hiperinflação e Senhoriagem Tópico 1: Hiperinflação e senhoriagem Referência: Blanchard, capı́tulo 23 Definição: hiperinflações são inflações muito elevadas. Exemplo: em 1913 o valor de toda a moeda que circulava na Alemanha era de 6 bilhões de Marcos. Dez anos depois, em outubro de 1923, 6 bilhões de Marcos dificilmente comprava 1kg de pão em Berlim, cujo preço, um mês depois, havia subido para 428 bilhões de Marcos. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 3/236 Hiperinflação e Senhoriagem Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 4/236 Hiperinflação e Senhoriagem Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 5/236 Hiperinflação e Senhoriagem Comentários: sete grandes inflações que se seguiram à Alemã foram todas curtas (um ano em média), mas intensas, com a inflação mensal por volta de 50% ou mais. a maior foi a 2a hiperinflação húngara. Na América Latina, vários paı́ses passaram por hiperinflações, não tão intensas porém mais longas. No Brasil: a hiperinflação nos 30 anos desde 7/64 até o Plano Real, medida pelo IGP-DI foi de 13.459.258.152.609,10% Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 6/236 jul/64 Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II -10% 7/236 mai/14 abr/13 mar/12 fev/11 jan/10 dez/08 nov/07 out/06 set/05 ago/04 jul/03 jun/02 mai/01 abr/00 mar/99 fev/98 jan/97 dez/95 nov/94 out/93 set/92 ago/91 jul/90 jun/89 mai/88 abr/87 mar/86 fev/85 jan/84 dez/82 nov/81 out/80 set/79 ago/78 jul/77 jun/76 mai/75 abr/74 mar/73 fev/72 jan/71 dez/69 nov/68 out/67 set/66 ago/65 Hiperinflação e Senhoriagem Brasil: inflação mensal medida pelo IGP-DI 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% Hiperinflação e Senhoriagem Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 8/236 Hiperinflação e Senhoriagem O que causa as hiperinflações? No capı́tulo 9: a inflação é causada em última instância, pelo crescimento da quantidade de moeda. Milton Friedman: “inflation is always and everywhere a monetary phenomenon” Em todos os paı́ses, a alta inflação esteve associada à alta taxa de crescimento monetário. Pergunta relevante: Por que a quantidade de moeda cresceu tanto? Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 9/236 Hiperinflação e Senhoriagem Por que a expansão monetária foi tão elevada? Resposta comum a todos os caso de hiperinflação: o déficit orçamentário é alto (economia foi afetada por choques enormes) o governo não consegue financiar seus gastos por quaisquer outros meios que não seja via criação de moeda Como o governo pode financiar seus déficits? pode tomar emprestado, emitindo tı́tulos. pode emitir moeda na prática, o Tesouro emite tı́tulos e o BC os compra pagando em moeda para o Tesouro este processo é chamado monetização da dı́vida Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 10/236 Hiperinflação e Senhoriagem Normalmente, um governo recorre a emissão de tı́tulos para financiar o déficit, mas, no inı́cio de hiperinflações, duas mudanças ocorrem: 1 uma crise orçamentária do governo, fruto de um grande distúrbio social ou econômico, que destrua a capacidade do governo de coletar impostos, como: guerra civil ou revolução (ex: Nicarágua na década de 1980) após guerras: quando há poucos impostos e muito gastos (ex: Alemanha após a 2a Guerra Mundial). grande choque econômico adverso, como por exemplo, o declı́nio no preço de uma matéria-prima que seja a grande receita de exportação do paı́s (ex: Bolı́via na década de 1980). 2 uma crescente relutância ou incapacidade do governo tomar emprestado junto ao público ou no exterior para financiar seu déficit motivo: tamanho da dı́vida; risco de default faz com que credores exijam retornos mais altos (ou parem de emprestar) só resta ao governo a outra fonte de financiamento, emitir moeda. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 11/236 Hiperinflação e Senhoriagem Quão grande deve ser a taxa de crescimento da moeda para financiar um dado déficit? Hipótese: não há acesso a empréstimos. déficit (nominal) = ∆M ⇒ déficit (real) = Senhoriagem (receitas da criação de moeda): ∆M P ∆M P Note que: senhoriagem = ∆M ∆M M = P M P Ou seja: senhoriagem = crescimento nominal da moeda × encaixes reais Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 12/236 Hiperinflação e Senhoriagem Quão grande deve ser a taxa de crescimento da moeda para financiar um dado déficit? Hipótese: não há acesso a empréstimos. déficit (real) = ∆M M | M{z P} ⇒ déficit (real) ∆M M/P = Y M Y senhoriagem Para financiar um déficit real equivalente 10% do produto real Y : 0, 1 = Se M/P Y = 2, por exemplo, então ∆M M/P M Y ∆M M Márcio Garcia PUC-Rio = 0, 05 Teoria Macroeconômica II 13/236 Hiperinflação e Senhoriagem Resumo: senhoriagem = ∆M M M P A receita fiscal oriunda da criação de moeda é a senhoriagem; A senhoriagem é igual ao produto da taxa de crescimento da moeda pelos encaixes reais; Para dado nı́vel de encaixes reais, senhoriagem mais alta requer maior crescimento monetário. Pergunta: se o governo pode financiar um déficit de 10% do PIB com uma taxa de crescimento monetário de 5%, ele também poderá financiar um déficit de 20% do PIB com uma taxa de crescimento monetário de 10%, e assim sucessivamente? Resposta: NÃO! Por que? Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 14/236 Hiperinflação e Senhoriagem À medida que o crescimento monetário aumenta, também aumenta a inflação. E, à medida que a inflação cresce, o custo de oportunidade de reter moeda cresce, levando as pessoas a reduzirem seus saldos monetários reais. Ou seja: um aumento em ∆M/M leva a um aumento de π, que por sua vez, leva a um decréscimo em M/P Logo: um aumento em ∆M/M não gera um aumento proporcional na senhoriagem, já que as pessoas ajustam os encaixes reais quando a inflação aumenta senhoriagem = Algebricamente: ∆M M ↑⇒ π ↑⇒ M P Márcio Garcia PUC-Rio ∆M M M P ↓ Teoria Macroeconômica II 15/236 Hiperinflação e Senhoriagem Evidência empı́rica: a inflação reduz os encaixes monetários real. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 16/236 Hiperinflação e Senhoriagem Derivar a relação entre inflação e encaixes reais nos perı́odos de hiperinflação. Curva LM (oferta de encaixe reais = demanda por encaixe reais): M = YL(i) = YL(r + π e ) P Esta relação é sempre válida, mas em perı́odos de hiperinflação podemos simplificá-la ainda mais. M = Y L(r + π e ) P ou seja, Y e r são tratados como fixos. Note que π e ↑⇒ M/P ↓. Intuição: em perı́odos de hiperinflação, π e varia muito mais que Y e r , sendo este o principal determinante da demanda por encaixe reais. Não é que Y e r sejam fixos, mas em perı́odos de hiperinflação, estes pouco afetam a demanda por moeda. Portanto, Y e r podem ser tratados como constantes na equação de demanda por encaixe reais. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 17/236 Hiperinflação e Senhoriagem Em uma hiperinflação, as pessoas encontram muitas maneiras de reduzir seus saldos monetários reais: as trocas (escambos) aumentam o pagamento de salários fica mais freqüente assim que recebem os salários, pessoas correm para as lojas o uso da moeda estrangeira aumenta (dolarização) instrumentos financeiros (juros overnight) As funções da moeda são paulatinamente perdidas: Meio de troca Reserva de valor Unidade de conta Inflação alta é extremamente prejudicial aqueles sem acesso a moeda estrangeira e instrumentos financeiros sofisticados. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 18/236 Hiperinflação e Senhoriagem Moeda perde suas funções: No Zimbabwe ... Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 19/236 Hiperinflação e Senhoriagem Taxa de extrema pobreza: percentual de pessoas na população total com renda domiciliar per capita inferior à linha de indigência Linha de indigência: é uma estimativa do valor de uma cesta de alimentos com o mı́nimo de calorias necessárias para suprir adequadamente uma pessoa Fonte: www.ipeadata.gov (calculado com base na PNAD) Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 20/236 Hiperinflação e Senhoriagem Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 21/236 Hiperinflação e Senhoriagem Vimos até agora: 1 A relação entre senhoriagem, crescimento da moeda nominal, e o estoque de encaixes reais: senhoriagem é igual ao produto do crescimento da moeda nominal pelo estoque de encaixes reais. senhoriagem = 2 ∆M ∆M M = P M P A relação entre encaixes reais e inflação esperada: aumentos na inflação esperada levam os agentes econômicos a reduzirem seus encaixes reais. M = Y L(r + π e ) P Combinando ambas: senhoriagem = ∆M Y L(r + π e ) M Objetivo: usar esta equação para mostrar que a necessidade de financiar um déficit pode levar não somente à inflação alta mas também à inflação crescente. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 22/236 Hiperinflação e Senhoriagem Suponha que o governo escolha uma taxa constante de expansão monetária e a mantenha indefinidamente. Este não é o caso de hiperinflações, é apenas uma consideração inicial. Até quanto o governo é capaz de financiar os déficits? Lembrem que no médio prazo: (DA) π = gm − ḡy . Hipótese: ḡy = 0, logo π = gm = ∆M/M. Portanto: como no médio prazo, π e = π = ∆M/M, senhoriagem = = Márcio Garcia PUC-Rio ∆M Y L(r + π e ) M ∆M ∆M YL r + M M Teoria Macroeconômica II 23/236 Hiperinflação e Senhoriagem ∆M ∆M ∆M = senhoriagem = YL r + P M M Dois efeitos: aumento do crescimento da moeda aumenta senhoriagem diretamente aumento do crescimento da moeda aumenta a inflação e, portanto, diminui os saldos monetários reais Logo: efeito de ∆M M sobre ∆M P é ambı́guo. Evidência empı́rica: Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 24/236 Hiperinflação e Senhoriagem Evidência empı́rica: Intuição: para taxas de expansão monetária baixas, um aumento nessa expansão provoca pequena redução dos encaixes reais e, portanto, aumenta a senhoriagem. quando a expansão da moeda se torna muito elevada, a redução dos saldos reais é cada vez maior e, portanto, aumenta cada vez menos a senhoriagem, ou até a diminui. Pensando numa relação entre receita de tributação e alı́quota, a curva anterior corresponde à Curva de Laffer. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 25/236 Hiperinflação e Senhoriagem A inflação pode ser encarada como um imposto sobre os saldos monetários reais. A alı́quota π reduz o valor real da moeda retida. A base de impostos corresponde aos saldos monetários reais M/P. E o produto, π(M/P), é chamado de imposto inflacionário. Observe que o que o governo recebe com a emissão de moeda não é o imposto inflacionário, e sim a senhoriagem, (∆M/M)(M/P). Mas ambos estão relacionados. Se o crescimento da moeda é constante, a inflação é igual à expansão monetária e, assim: M ∆M M = π P |{z} | M{z P} imposto inflacionário senhoriagem Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 26/236 Hiperinflação e Senhoriagem Pergunta: qual é a taxa de crescimento que maximiza a senhoriagem? Cagan (1956): estimou a relação entre demanda por moeda e inflação esperada M = Ȳ L(r̄ + π e ) P e depois, dado que π e = ∆M/M, solucionou para a tx de crescimento da moeda que maximiza a senhoriagem ∆M ∆M max Ȳ L r̄ + ∆M M M M Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 27/236 Hiperinflação e Senhoriagem Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 28/236 Hiperinflação e Senhoriagem Pergunta: por que a taxa efetiva de crescimento da moeda nominal foi muito maior do que o número que maximiza a senhoriagem? Resposta: é irreal a hipótese de que o crescimento monetário seja constante. Imaginemos um governo que precise financiar um déficit que tenha aumentado muito e que resolva fazê-lo via emissão de moeda. À medida que o crescimento da moeda aumente, pode levar tempo até que a inflação e a inflação esperada respondam. E, mesmo quando a inflação esperada aumenta, pode levar tempo até que os saldos monetários reais se ajustem (leva tempo fazer acordos de troca, uso de moeda estrangeira, ...) senhoriagem = Márcio Garcia PUC-Rio ∆M M M P Teoria Macroeconômica II 29/236 Hiperinflação e Senhoriagem senhoriagem = ∆M M M P No curto prazo: aumento da expansão monetária provoca pequena mudança nos saldos monetários reais. o governo pode gerar quase qualquer quantidade de senhoriagem que quiser. Com o passar do tempo: os saldos monetários reais se ajusturão a mesma expansão da moeda rende cada vez menos senhoriagem Para continuar financiando déficits altos, governo terá que aumentar ainda mais a taxa de crescimento da moeda. Conclusão: a taxa de crescimento da moeda aumenta continuamente hiperinflação é caracterizada por inflação crescente Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 30/236 Hiperinflação e Senhoriagem Há também outros efeitos em ação que potencializam um crescimento ainda maior da moeda. A medida que a inflação se torna muito alta, o déficit orçamentário tende a piorar. Por quê? Efeito Oliveira-Tanzi: os impostos são arrecadados com base na renda nominal passada, e seu valor real cai com a inflação. Efeito no lado dos gastos: se o governo exige que suas estatais controlem preços, dado que seus custos aumentam com a inflação, o governo eventualmente terá que subsidiá-las para cobrir os prejuı́zos. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 31/236 Hiperinflação e Senhoriagem Hiperinflação e atividade econômica: De inı́cio, um crescimento maior da moeda provoca aumento do produto, pois leva algum tempo para que a expansão monetária se reflita em inflação. Mas, quando a inflação se torna muito alta, os efeitos adversos da hiperinflação passam a dominar. As pessoas diminuem seus saldo monetários reais Sistema de trocas torna-se cada vez menos eficiente. As indicações de preço tornam-se cada vez menos úteis. É mais difı́cil prever a inflação para o próximo perı́odo. Incerteza futura quanto a inflação reduz o investimento. Efeito adverso naqueles que não tem acesso a instrumentos financeiros ou moeda estrangeira. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 32/236 Hiperinflação e Senhoriagem Como terminar as hiperinflações? Os elementos de um Programa de Estabilização: 1 Reforma fiscal que implemente uma redução crı́vel do déficit fiscal (receita e despesa). 2 O BC tem de se comprometer de forma crı́vel com a NÃO monetização do déficit (leis, câmbio fixo, dolarização etc.) 3 Polı́ticas de rendas: controle de preços e/ou salários. discordância quanto à necessidade deste elemento obs: controle de preços incentiva a informalidade e o mercado negro Se há (3), programa heterodoxo, se não há é programa ortodoxo. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 33/236 Hiperinflação e Senhoriagem Controle de preços incentiva a informalidade e o mercado negro: Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 34/236 Hiperinflação e Senhoriagem Brasil: Cruzado, Cruzado II, Bresser, Verão, Collor I e II, até chegar ao Real. Argentina tentou 6 vezes antes de conseguir. Por que os programas de estabilização falham? “Anestesia sem cirurgia” (só controle de preços) [https://www.youtube.com/watch?v=1A8-74ABQNU] Oposição polı́tica (inerente a toda grande reforma fiscal). Profecias auto-realizáveis (se um regime de câmbio fixo faz parte do programa de estabilização) o plano só funciona bem se as pessoas esperam que ele funcione bem Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 35/236 Hiperinflação e Senhoriagem Vimos na 1a parte que programas de controle de inflação, no curto-prazo, são associados a recessões e aumento de desemprego. Estabilização de uma hiperinflação não causa grande desemprego. Por quê? No caso de desinflações pequenas, vimos que há três motivos pelos quais a inflação pode não diminuir tão rápido quanto a queda do crescimento monetário. 1 Salários nominais são fixados por um certo perı́odo (muitos deles já estão determinados quando a polı́tica é implementada) 2 Contratos de trabalho são justapostos (dificulta colocar em prática a desaceleração de todos os salários ao mesmo tempo) 3 Polı́tica monetária pode não ter credibilidade. A HIPERINFLAÇÃO ELIMINA (1) E (2) RESTANDO APENAS (3). Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 36/236 Hiperinflação e Senhoriagem Portanto, o sucesso dos planos de estabilização depende da CREDIBILIDADE no processo. Exemplo: se o programa envolve um regime de câmbio fixo e não é crı́vel. Taxa de juros momentaneamente altas, durante o processo de construção de credibilidade, podem gerar recessão. Evidência: em geral maioria dos programas de estabilização de hiperinflações envolve alguma redução do produto. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 37/236 Hiperinflação e Senhoriagem: Exercı́cios Exercı́cio: Qual a diferença entre senhoriagem e imposto inflacionário? Em que situação ambos possuem o mesmo valor? Exercı́cio: Como cada uma das seguintes circunstâncias altera o efeito Oliveira-Tanzi? a) Exigir pagamentos de impostos mensais em vez de anuais para as famı́lias. b) Criar uma unidade de indexação diária para o pagamento de impostos, como a UFIR. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 38/236 Hiperinflação e Senhoriagem: Exercı́cios Exercı́cio (Prova 2011): Explique a racionalidade econômica da afirmação abaixo. “O processo hiperinflacionário brasileiro de 1987-1994, cada vez mais perverso, transferia renda dos pobres para os não pobres, piorando a grave concentração de renda.” Maı́lson da Nóbrega - Veja, 09/11/2011. Resposta: em um regime de hiperinflação, o valor da moeda é corroı́do diariamente. Como apenas os ricos têm acesso a instrumentos financeiros que os protegem contra a inflação, seus rendimentos valorizam proporcionalmente mais que os dos pobres. Consequentemente, a concentração de renda piora. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 39/236 Hiperinflação e Senhoriagem: Exercı́cios Exercı́cio (Prova 2013): Hiperinflação no Brasil. a) Na tabela abaixo, os anos em que houve congelamentos de preço no Brasil foram destacados em cinza. Observe que, em nenhum destes anos, a medida foi capaz de estabilizar a taxa de inflação medida pelo Índice Geral de Preços (IGP-DI). Explique por que apenas o controle de preços não é suficiente para eliminar uma hiperinflação, e aponte um custo deste tipo de medida sobre a economia. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 40/236 Hiperinflação e Senhoriagem: Exercı́cios Exercı́cio (Prova 2013, cont.): Hiperinflação no Brasil. b) Observe abaixo as taxas anuais de variação do IGP-DI e do PIB a partir de 1994. Apesar da redução substancial da inflação entre 1994 e 1995, em virtude do Plano Real, a taxa de crescimento do PIB manteve-se relativamente alta entre os dois anos. Posteriormente, a redução da inflação brasileira esteve associada a uma queda mais intensa do crescimento da economia. Explique por que, diferentemente de uma desinflação modesta, a estabilização de uma hiperinflação não gera uma desaceleração do nı́vel de atividade quando a polı́tica monetária é crı́vel. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 41/236 Hiperinflação e Senhoriagem: Exercı́cios Exercı́cio (Prova 2013, cont.): Hiperinflação no Brasil. c) A Medida Provisória que criou o Plano Real continha uma meta monetária que foi ultrapassada muito rapidamente. No entanto, o plano deu certo e a hiperinflação foi vencida. Por que a grande emissão monetária que ocorreu após a implementação do Plano Real não conduziu à hiperinflação? Baseie sua resposta na condição de equilı́brio no mercado financeiro, dado pela equação abaixo. M = YL(r + π e ) P Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 42/236 Polı́tica Monetária Tópico 2: polı́tica monetária. O que a gente já aprendeu? No curto prazo, a polı́tica monetária afeta o produto e a sua composição: um aumento da oferta monetária reduz a taxa de juros e causa depreciação da moeda. Isto gera aumento da demanda por bens e aumenta o produto interno. No médio prazo, a polı́tica monetária é neutra. Mudanças na oferta monetária geram alterações nos preços, mas produto e emprego não se alteram. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 43/236 Polı́tica Monetária Podemos pensar em polı́tica monetária envolvendo duas decisões: 1 Decisão sobre taxa de crescimento da moeda ou a taxa de juros e sua implicação para a taxa de inflação 2 Quanto calibrar o crescimento da moeda ou a taxa de juros para corrigir flutuações no produto. Vamos explorar duas questões: 1 Qual é a taxa de inflação ótima? 2 Como desenhar a polı́tica monetária? Referência: Blanchard, capı́tulo 25. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 44/236 Polı́tica Monetária: Taxa de Inflação Ótima Taxa de inflação muito alta pode desistabilizar a atividade econômica do paı́s. O debate atual se refere às vantagens de manter a inflação entre 0% e 4% ao ano. Custos da inflação: “custos de sola de sapato” distorções tributárias ilusão monetária variabilidade da inflação Benefı́cios da inflação: senhoriagem a opção de taxas reais de juros negativas a ilusão monetária revisitada Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 45/236 Polı́tica Monetária: Taxa de Inflação Ótima Custos da inflação: custos de sola de sapato No médio prazo, uma taxa de inflação mais alta provoca o aumento das taxas de juros e, portanto, dos custos de oportunidade de reter moeda. Logo, as pessoas diminuem seus saldos monetários e vão ao banco com maior freqüência: “shoe-leather costs” Nas hiperinflações, o custo de oportunidade de reter moeda, dado pela taxa nominal de juros, pode ser enorme. Se a inflação é moderada, sua importância é limitada. Custo adicional: se uma parcela da população não possui acesso ao mercado financeiro ... Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 46/236 Polı́tica Monetária: Taxa de Inflação Ótima Custos da inflação: distorções tributárias Este custo vem da interação entre o sistema tributário e a inflação. Ex.: imposto sobre ganhos de capital incide na variação do preço nominal do ativo entre o momento em que é comprado e o momento em que é vendido. Quanto maior a inflação, maior o tributo. Suponha que a inflação seja π a.a. nos últimos 10 anos Suponha que o valor de uma casa aumentou também π a.a., ou seja, o valor real não mudou. Suponha que a casa tenha sido comprada por x e a alı́quta de imposto é τ . Logo, a alı́quota de imposto efetiva é impostos pagos τ [x(1 + π)10 − x] = valor da casa x(1 + π)10 Se τ = 30% e π = 0% ⇒ alı́quota imposto efetiva = 0% Se τ = 30% e π = 5% ⇒ alı́quota imposto efetiva = 11,6% Se τ = 30% e π = 10% ⇒ alı́quota imposto efetiva = 18% Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 47/236 Polı́tica Monetária: Taxa de Inflação Ótima Custos da inflação: distorções tributárias Resumo: embora a taxa de retorno de um ativo seja a taxa de juros real, a renda sobre a qual o imposto incide inclui a taxa de juros nominal. Não necessariamente é um custo da inflação em si, mas um resultado de um sistema tributário mal estruturado. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 48/236 Polı́tica Monetária: Taxa de Inflação Ótima Custos da inflação: ilusão monetária Muitos cálculos simples quando há estabilidade de preços tornam-se complicados quando há inflação. As pessoas parecem cometer erros sistemáticos quanto à avaliação de variações reais e nominais. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 49/236 Polı́tica Monetária: Taxa de Inflação Ótima Custos da inflação: variabilidade da inflação Em geral, inflação mais alta está associada a maior variabilidade da inflação Logo: os ativos financeiros que tem pagamentos nominais fixos tornam-se mais arriscados. Efeitos sobre investimentos, poupança, aposentadoria, ... Não necessariamente é um custo da inflação em si, mas da incapacidade dos mercados financeiros de fornecer ativos que protegam contra a inflação. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 50/236 Polı́tica Monetária: Taxa de Inflação Ótima Benefı́cios da inflação: senhoriagem A emissão de moeda é uma das formas do governo se financiar. A senhoriagem é importante para paı́ses com taxa de inflação alta e pouco relevante para paı́ses em que a taxa de inflação está em torno de 0 Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 51/236 Polı́tica Monetária: Taxa de Inflação Ótima Benfı́cios da inflação: opção de taxas reais de juros negativas Uma taxa de inflação tal que permita taxa de juros reais negativas, pode ser vantajosa para tirar a economia de uma recessão. A taxa de juros nominal não pode ser negativa, mas a taxa de juros real pode, dependendo de que valores assumem a taxa de juros nominal e a taxa de inflação esperada. Debate atual nos EUA: Armadilha da Liquidez, polı́tica monetária não convencional e inflacionar a economia. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 52/236 Polı́tica Monetária: Taxa de Inflação Ótima Ilusão monetária revisitada: Suponha uma situação onde a inflação é de 0% a.a. e o salário é reduzido em 3%. Agora suponha uma inflação de 5% e um reajuste de salário de 2% em termos nominais. Ambas as situações levam a uma queda de 3% do salário real, mas é provável que os trabalhadores aceitarão com mais facilidade a segunda alternativa. Note que neste caso, a ilusão monetária é um argumento a favor da inflação. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 53/236 Polı́tica Monetária: Taxa de Inflação Ótima Debate: qual é a taxa de inflação ótima? Os que argumentam inflação baixa (entre 2% e 4%): Custos associados a distorções tributárias podem ser mitigados com a indexação do sistema tributário Custos associados a variabilidade da inflação podem ser mitigados pela emissão de tı́tulos indexados Custos de sola de sapato seriam baixos com inflação baixas A diminuição da inflação necessitaria um aumento no desemprego por algum perı́odo. Os que argumentam estabilidade de preços (inflação de 0%): Eliminaria o custo associado a ilusão monetária Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 54/236 Polı́tica Monetária: Taxa de Inflação Ótima Um argumento puramente estatı́stico: os ı́ndices de preços tendem a superestimar a inflação. Por que? 1 Efeito substituição, dado que a cesta de bens usada para calcular o ı́ndice de inflação é fixa. 2 Novas tecnologias são introduzidas na cesta de bens com alguma defasagem. 3 Ajustes na qualidade. Exemplo: preço do computador. 4 Descontos e liquidações. Conclusão: mirar uma taxa de inflação de 0% significaria mirar numa taxa inflação negativa. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 55/236 O Desenho da Polı́tica Monetária Uma vez decidida a taxa de inflação que o Banco Central deseja atingir, restam duas questões: Qual meta anunciar? Uma meta para crescimento da moeda (que ele controla diretamente) ou uma meta para a taxa de inflação (que não controla diretamente)? Uma vez escolhida a meta, quanto esforço deve desempenhar para alcançá-la. Quanto peso deve ser posto ao objetivo de alcançar a meta Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 56/236 O Desenho da Polı́tica Monetária Até a década de 90: formulação concentrava-se no crescimento da moeda nominal: Instrumento de polı́tica: estoque nominal de moeda No médio prazo: estabelecia uma meta para o crescimento nominal da moeda No curto prazo: desvio do crescimento da moeda em relação a essa meta Recentemente: Instrumento de polı́tica: taxa nominal de juros No médio prazo: estabelece uma meta para a taxa de inflação No curto prazo: ajusta a taxa nominal de juros Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 57/236 O Desenho da Polı́tica Monetária: Crescimento Monetário e Inflação No médio prazo, a inflação é determinada pelo crescimento da moeda. Como o Banco Central tem controle sobre o crescimento monetário, temos uma regra simples: Computar o crescimento monetário de médio prazo necessário para atingir a taxa de inflação desejada No curto prazo, ajustar o crescimento monetário para aquecer e desquecer a economia conforme o necessário Anunciar uma banda de variação do crescimento monetário como a meta da autoridade monetária Problema: Esta regra não funciona! Mesmo para perı́odos longos de tempo, não há relação fixa entre o crescimento da moeda e a taxa de inflação. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 58/236 O Desenho da Polı́tica Monetária: Crescimento Monetário e Inflação As duas variáveis (cresc. da moeda e inflação), em geral, movem-se juntas, mas a relação não é tão precisa quanto parece. Lembrando: o BC tem controle sobre a base monetária e não sobre M1. Mas pode escolher a base tal que atinja o M1 necessário. Base monetária = papel-moeda em poder do público + reserva dos bancos M1 = papel-moeda em poder do público + depósitos à vista Na verdade, tal cálculo não é exato pois há saltos na demanda por moeda (o multiplicador monetário muda ao longo do tempo). Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 59/236 O Desenho da Polı́tica Monetária: Crescimento Monetário e Inflação Exemplo: suponha a introdução de cartões de crédito na economia, tal que que as pessoas optam por demandar apenas metade da moeda que antes desejavam ter. Assim, para uma dada oferta monetária, se a demanda real de moeda caiu pela metade e até o médio prazo ser atingido, o nı́vel de preços terá dobrado. Analitacamente: a equação LM passou a ser: 1 M M = YL(i) ao invés de = YL(i) P 2 P Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 60/236 O Desenho da Polı́tica Monetária: Crescimento Monetário e Inflação Note que os saltos na demanda por moeda ocorrem devido a existência de substitutos próximos da moeda. Estes substitutos, apesar de não serem moeda, são trocados por moeda a um baixo custo, são lı́quidos. O Banco Central criou outras medidas que incluem não somente a moeda mas também outros ativos lı́quidos. Esses agregados monetários correspondem ao M2 (M1+cotas de fundos mútuos+depósitos de poupança+depósitos a prazo), M3, M4. A relação entre M2 e a inflação é mais precisa que a relação entre M1 e inflação, mas também apresenta problemas. Além disso, o Banco Central não controla diretamente M2, assim como não controla diretamente M1. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 61/236 O Desenho da Polı́tica Monetária: Crescimento Monetário e Inflação Formalizando: se a curva LM for mais instável que a curva IS, o BC deveria usar i, ao invés de M, como instrumento de polı́tica. Se ao escolher M, instabilidade implica que a curva LM esteja localizada entre as curvas LM1 e LM2 , o produto seria incerto entre Y1 e Y2 . Especificar a taxa de juros i, tal que Y = Yn , e ajustar a oferta de moeda para satisfazer a demanda gera menos incerteza. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 62/236 O Desenho da Polı́tica Monetária: Metas de Inflação Devido a instabilidade da curva LM, especificou-se a taxa de juros como o instrumento de polı́tica monetária. Logo: o crescimento monetário deixou de ser uma meta de polı́tica econômica. Nova meta de polı́tica: a taxa de inflação (deveria-se calibrar a taxa de juros para atender essa meta). Regime de metas de inflação: a taxa de inflação pode não estar sobre controle direto do BC, mas este é o seu objetivo final. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 63/236 O Desenho da Polı́tica Monetária: Metas de Inflação Curva de Phillips: πt = πte − α(ut − un ) Em um regime de metas de inflação crı́vel: πt = πte = π ∗ ⇒ ut = un Ou seja: ao atingir a meta de inflação no curto-prazo, estabiliza-se as flutuações no produto de curto-prazo. Intuição: suponha um choque de demanda adverso, Na ausência de uma expansão monetária, economia entraria em recessão, e inflação cairia Para manter a inflação estável, o BC reduziria os juros, o que aumentaria a oferta de moeda, tirando a economia da recessão Em outras palavras: ao estabilizar a inflação, automaticamente estabiliza-se as flutuações do produto Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 64/236 O Desenho da Polı́tica Monetária: Metas de Inflação Resultado: ao estabilizar a inflação, automaticamente estabiliza-se as flutuações do produto Esse resultado é forte demais por dois motivos: 1 Podemos ter πte = 6 π ∗ . Neste caso, para estabilizar o produto, o BC deveria mirar πt = πte . Expectativas adaptativas: πte = πt−1 6= π ∗ Expectativas racionais: πte = πt > π ∗ , qdo há falta de credibilidade do BC 2 É complicado estimar a curva de Phillips com exatidão. a relação estrutural não necessariamente é πt = πte − α(ut − un ) πte é uma variável extremamente complexa Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 65/236 O Desenho da Polı́tica Monetária: Regra de Taylor Como a atingir a meta de inflação? Com que velocidade? Taylor propôs a seguinte regra: it = i ∗ + a(πt − π ∗ ) − b(ut − un ) onde: π ∗ é a meta e i ∗ é a taxa de juros associada com o a meta de médio-prazo. Por exemplo: numa economia fechada com crescimento normal igual a zero IS de médio-prazo: Yn = C (Yn − T ) + G + I (Yn , rn ) Logo: i ∗ = rn + π ∗ Finalmente: a > 0 e b > 0. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 66/236 O Desenho da Polı́tica Monetária: Regra de Taylor Regra de Taylor: it = i ∗ + a(πt − π ∗ ) − b(ut − un ) Se a inflação está igual à meta e o desemprego está no nı́vel de pleno emprego, tem-se i = i ∗ . Se π > π ∗ , o BC deve aumentar a taxa de juros acima de i ∗ o que vai aumentar o desemprego e promover queda da inflação. O coeficiente a > 0 deve representar quanto peso o BC dá para a inflação em detrimento do desemprego. Quanto mais alto o a, mais o governo vai elevar a taxa de juros para conter a inflação, mais a economia retrai e mais rápido atinge-se a meta. Princı́pio de Taylor: a > 1. O que importa para os gastos é a taxa de juros real e não a nominal. Quando a inflação aumenta, o BC deve aumentar a taxa de juros real para conter o crescimento da economia. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 67/236 O Desenho da Polı́tica Monetária: Regra de Taylor Regra de Taylor: it = i ∗ + a(πt − π ∗ ) − b(ut − un ) Se ut > un , com b > 0, o BC deve reduzir a taxa de juros nominal. O coeficiente b representa quanto peso o BC dá para o desemprego em relação à inflação. Quanto mais alto b, mais o BC está disposto a desviar da meta para garantir desemprego baixo. Comentários: Taylor não argumentou que essa regra deveria ser usada cegamente. Outros eventos, como crise cambial, justificam mudanças na taxa nominal de juros. Regra oferece maneira útil de pensar a polı́tica monetária. Esta regra descreve muito bem o comportamento do FED, embora o FED não siga uma regra de Taylor especı́fica. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 68/236 Exercı́cios Exercı́cio: Discuta as vantagens e desvantagens de se estabelecer uma meta inflacionária de 0% em comparação com uma meta inflacionária baixa. Exercı́cio: a) Qual o problema prático de adotar metas para a expansão monetária? b) O que é a Regra de Taylor? O que indicam os valores dos coeficientes ”a” e ”b”? c) Por que, na Regra de Taylor, o peso dado ao desvio da inflação em relação à meta tem peso maior que 1? Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 69/236 Exercı́cios Exercı́cio (Prova 2011): Explique a racionalidade econômica da afirmação abaixo. “Na conferência anual do Fed Kansas City em 2007, John Taylor mostrou que os desvios da taxa de juros praticada pelo Fed com respeito a uma regra de Taylor estimada para os EUA confirmavam o ponto de vista de que a polı́tica monetária foi excessivamente frouxa entre 2002 e 2005.” Dionı́sio Dias Carneiro, Estadão - 15/01/2010. Resposta: A regra de Taylor, it = i ∗ + a(πt − π ∗ ) − b(ut − un ), representa uma boa aproximação da condução da polı́tica monetária nos EUA nas últimas décadas. Ao constatar que a taxa de juros praticada no perı́odo entre 2002 e 2005 (não necessariamente guiada pela regra de Taylor) foi menor que a prescrita por tal regra estimada para os EUA, i.e. it < i ∗ + a(πt − π ∗ ) − b(ut − un ), t = 2002, ..., 2005, Taylor concluiu que a polı́tica monetária foi frouxa (acomodatı́cia). Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 70/236 Exercı́cios Exercı́cio (Prova 2012): Suponha que em um determinado paı́s, a curva IS é estável. Portanto, o Banco Central consegue estimar a curva IS perfeitamente. Por outro lado, neste mesmo paı́s, a curva LM é instável. Portanto, a estimação da curva LM é bastante imprecisa. Qual deveria ser o instrumento de polı́tica monetária (taxa de juros ou oferta da moeda) neste paı́s? Justifique com alguma ferramenta teórica e pouquı́ssimas palavras. Exercı́cio (Prova 2012): Suponha que em um determinado paı́s, o objetivo final da polı́tica monetária é controlar a inflação. Para isso, o Banco Central deste paı́s segue a seguinte regra de Taylor it = i ∗ + a(πt − π ∗ ) onde π ∗ é a meta de inflação e i ∗ é a taxa de juros associada com o a meta no médio-prazo. O paı́s cumpriria a meta π ∗ se a < 1? Justifique com pouquı́ssimas palavras. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 71/236 Regime de Metas para Inflação Referência principal: excertos do capı́tulo 4 do IMF World Economic Outlook de Abril de 2005. O que é um Regime de Metas para Inflação? O Banco Central se compromete a atuar de forma a garantir que a taxa de inflação esteja em linha com uma meta pré-estabelecida anunciada publicamente. Mas que ı́ndice de inflação usar? Geralmente, usa-se o ı́ndice de preços ao consumidor. Idéia é que esta é a inflação que mensura o custo de vida da população. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 72/236 Regime de Metas para Inflação Idealmente, um regime de metas de inflação deveria ser composto por seis itens principais: O anúncio público de uma meta para a inflação; Estabilidade de preços como principal objetivo de polı́tica monetária; Instrumentos de previsão de inflação: modelagem e informações subjetivas. Autonomia operacional do Banco Central Transparência: reuniões, atas, relatório de inflação,... Accountability: explicação em caso de descumprimento, cláusula de demissão. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 73/236 Regime de Metas para Inflação: Alternativas Quais são as alternativas para Metas para Inflação? 1. Metas monetárias Problemas: Problema: instabilidade da demanda por moeda; O multiplicador monetário e a velocidade da moeda variam muito. Bom para paı́ses em que o BC tem pouca credibilidade e capacidade analı́tica (meta monetária é muito fácil de se executar e dados monetários estão prontamente disponı́veis). Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 74/236 Regime de Metas para Inflação: Alternativas Quais são as alternativas para Metas para Inflação? 2. Metas para taxa de câmbio: Dois tipos: Taxa de câmbio fixa (caixa de conversão, união monetária, e dolarização unilateral); Taxa de câmbio fixa porém ajustável (crawling pegs, crawling bands, etc.) Inconvenientes: Polı́tica monetária é “importada” de um paı́s estrangeiro cujo ciclo econômico é potencialmente diferente; Possibilidade de ataques especulativos; Todo o ajuste da taxa real de câmbio recai sobre os preços domésticos. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 75/236 Regime de Metas para Inflação Desde sua introdução na Nova Zelândia em 1990, diversos paı́ses adotaram explicitamente o regime de metas para inflação: Chile e Canadá (1991); Israel e Inglaterra (1992); Austrália, Finlândia e Suécia (1993); México (1995); República Tcheca e Coréia do Sul (1998); Brasil, Colômbia e Polônia (1999); África do Sul e Tailândia (2000); Islândia, Hungria e Noruega (2001); Peru e Filipinas (2002); Indonésia, Eslováquia e Romênia (2005); Turquia (2006); Gana (2007). Com pequenas variações: União Européia (1998) Nota: o FED nos EUA trabalha com uma meta de inflação implı́cita. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 76/236 Regime de Metas para Inflação Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 77/236 Regime de Metas para Inflação em Paı́ses Emergentes Ainda que alguns dos “pré-requisitos” para implementar o regime de metas para inflação possam não se verificar, a avaliação da experiência dos paı́ses emergentes que optaram pelo regime de metas para inflação é bastante favorável. Vejamos a evidência empı́rica ... Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 78/236 Regime de Metas para Inflação em Paı́ses Emergentes Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 79/236 Regime de Metas para Inflação em Paı́ses Emergentes Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 80/236 Regime de Metas para Inflação em Paı́ses Emergentes Considere a seguinte especificação econométrica: Xi,post − Xi,pre = α0 + α1 di + α2 Xi,pre + ei X é um indicador econômico (média da inflação, volatilidade da inflação), Xi,post é o indicador econômico após a adoção do regime de metas; Xi,pre é o indicador econômico antes a adoção do regime de metas di é uma variável dummy para paı́ses que possuem o regime de metas de inflação Para os paı́ses que não possuem o regime de metas, a data que divide Xi,pre e Xi,post é 1999:Q4. Amostra: paı́ses emergentes. Frequência: trimestral. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 81/236 Regime de Metas para Inflação em Paı́ses Emergentes Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 82/236 Regime de Metas para Inflação em Paı́ses Emergentes “ ... Metas para Inflação parecem estar associadas com inflação baixa, expectativa de inflação baixa, e volatilidade baixa da inflação em relação aos paı́ses que não as adotaram. Não houve nenhum efeito adverso visı́vel no produto, e o desempenho ao longo de outras dimensões - tais como a volatilidade da taxa de juros, da taxa de câmbio, e de reservas internacionais - foi favorável também.” Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 83/236 Crı́ticas recentes ... Crı́ticas recentes ao regime de metas de inflação: (1) Não responde a possı́veis bolhas no mercado de ativos, com efeitos desestabilizadores, que se formam na economia. Vários economistas defendem a tese que juros excessivamente baixos (porém consistentes com inflação baixa) contribuı́ram para a formação da bolha no mercado imobiliário americano pré-2008. (2) Resposta monetária deveria ser acomodatı́cia (redução de juros) frente a um choque desfavorável nos termos de trocas (exemplo: uma redução nos preços dos bens exportados e/ou aumento nos preços dos bens importados), levando a uma depreciação do câmbio. Entretanto, geralmente, o oposto ocorre no sistema de metas de inflação. Exemplo: no sistema de metas, um choque negativo de oferta (exemplo: aumento do preço do petróleo, supondo que este seja importado), levaria a um aumento da taxa de juros, potencializando uma eventual recessão. Possı́vel solução: usar ı́ndice de preços ao produtor ao invés do ı́ndice de preços ao consumidor. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 84/236 Debate recente nos EUA Debate recente nos EUA: O FED trabalha com uma meta implı́cita de inflação. FED Funds Rate próximo de zero; desemprego alto; inflação baixa. Como estimular a economia? Anúncio do horizonte esperado pelo qual os juros se manterão próximos de zero. Sistema de metas alternativo: PIB nominal, “7/3 rule”. Questões: A adotação de um novo sistema de metas seria permanente? Implicações para os demais paı́ses que possuem um sistema de metas de inflação? Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 85/236 Regime de Metas para Inflação no Brasil Índice de referência: IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo calculado pelo IBGE) O IPCA mede a variação do custo da cesta de consumo representativa da população com renda até 40 salários mı́nimos em 12 regiões metropolitanas do paı́s. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 86/236 Regime de Metas para Inflação no Brasil Metas definidas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), orgão subordinado ao Ministério da Fazenda, para o ano-calendário (2011, 2012, ... ) com intervalo de tolerância, sem cláusulas de escape. Para 2012, 2013, 2014, 2015: meta de 4,5% + ou - 2% Comitê de Polı́tica Monetária (COPOM) do Banco Central calibra polı́tica monetária de acordo com a meta de inflação estabelecida Instituı́do em 20/6/1996. Instrumento: taxa Selic Reuniões ocorrem a cada 6 semanas Membros: presidente e diretores (Polı́tica Monetária, Polı́tica Econômica, Assuntos Internacionais e Gestão de Riscos Corporativos, Organização do Sistema Financeiro e Controle de Operações de Crédito Rural, Fiscalização, Regulação do Sistema Financeiro, Administração, e Assuntos Especiais) Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 87/236 Regime de Metas para Inflação no Brasil Meios de comunicação com o público Relatório de Inflação (trimestral): cenário de evolução da inflação no médio/longo prazo Ata do Copom (a cada seis semanas): descreve os fatores condicionantes da decisão sobre a taxa de juros Relatório Focus (semanal): acompanha as expectativas de mercado Em caso de não-cumprimento da meta: presidente do Banco Central deve apresentar relatório público (carta aberta), justificando as razões do não-cumprimento Disponı́ves no site: http://www.bcb.gov.br/ Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 88/236 Regime de Metas para Inflação no Brasil “O Selic (Sistema Especial de Liquidação e de Custódia) é o depositário central dos tı́tulos emitidos pelo Tesouro Nacional e pelo Banco Central do Brasil e nessa condição processa, relativamente a esses tı́tulos, a emissão, o resgate, o pagamento dos juros e a custódia.” “A taxa Selic é a taxa apurada no Selic, obtida mediante o cálculo da taxa média ponderada e ajustada das operações de financiamento por um dia, lastreadas em tı́tulos públicos federais e cursadas no referido sistema ou em câmaras de compensação e liquidação de ativos, na forma de operações compromissadas.” “ ... as operações compromissadas são operações de venda de tı́tulos com compromisso de recompra assumido pelo vendedor, concomitante com compromisso de revenda assumido pelo comprador, para liquidação no dia útil seguinte.” “... estão aptas a realizar operações compromissadas, por um dia útil, fundamentalmente as instituições financeiras habilitadas, tais como bancos, caixas econômicas, sociedades corretoras de tı́tulos e valores mobiliários e sociedades distribuidoras de tı́tulos e valores mobiliários.” Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 89/236 Regime de Metas para Inflação no Brasil Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 90/236 Regime de Metas para Inflação no Brasil O Banco Central determina a taxa de juros de curtı́ssimo prazo (taxa Selic), mas a transmissão da polı́tica monetária se dá por meio das taxas de mercado em diferentes horizontes, que não são controladas pela autoridade monetária. É possı́vel ocorrer um descasamento entre a taxa Selic e as taxas de mercado, se os agentes antecipam mudanças da polı́tica monetária, ou em perı́odos de incerteza ou ainda em perı́odos em que a polı́tica monetária perde credibilidade. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 91/236 Regime de Metas para Inflação no Brasil Histórico de Metas para a Inflação no Brasil Ano 1999 2000 2001 2002 20031/ 20041/ 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 1/ Meta (%) Banda (p.p.) Limites Inferior e Superior (%) Inflação Efetiva (IPCA % a.a.) 28/6/2000 28/6/2001 27/6/2002 8 6 4 3,5 3,25 4 2 2 2 2 2 2,5 6-10 4-8 2-6 1,5-5,5 1,25-5,25 1,5-6,5 8,94 5,97 7,67 12,53 Resolução 2.972 27/6/2002 3,75 2,5 1,25-6,25 Resolução 3.108 Resolução 3.108 Resolução 3.210 Resolução 3.291 Resolução 3.378 Resolução 3.463 Resolução 3.584 Resolução 3.748 Resolução 3.880 Resolução 3.991 Resolução 4.095 Resolução 4.237 Resolução 4.345 25/6/2003 25/6/2003 30/6/2004 23/62005 29/6/2006 26/6/2007 1/7/2008 30/6/2009 22/6/2010 30/6/2011 28/6/2012 28/6/2013 25/6/2014 5,5 4,5 4,5 4,5 4,5 4,5 4,5 4,5 4,5 4,5 4,5 4,5 4,5 2,5 2,5 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 3-8 2-7 2,5-6,5 2,5-6,5 2,5-6,5 2,5-6,5 2,5-6,5 2,5-6,5 2,5-6,5 2,5-6,5 2,5-6,5 2,5-6,5 2,5-6,5 Norma Data Resolução 2.615 30/6/1999 Resolução 2.744 Resolução 2.842 Resolução 2.972 9,30 7,60 5,69 3,14 4,46 5,90 4,31 5,91 6,50 5,84 5,91 A Carta A berta, de 21/1/2003, estabeleceu metas ajustadas de 8,5% para 2003 e de 5,5% para 2004. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 92/236 Regime de Metas para Inflação no Brasil Não ter cumprido as metas de inflação no perı́odo 2001-03 não significa que o regime tenha tido um desempenho negativo. Pontos a serem considerados neste perı́odo: magnitude dos choques adversos; comportamento das variáveis macroeconômicas; comportamento das expectativas. Até recentemente, a polı́tica monetária tem conseguido manter as expectativas de inflação sob controle. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 93/236 Regime de Metas para Inflação no Brasil Na carta de 2002 (referente ao perı́odo de 2001): “ A inflação encerrou o ano acima da meta estabelecida em razão dos choques externos e internos que atingiram a economia brasileira em 2001. No âmbito externo, a desaceleração da economia mundial, o contágio proveniente da crise argentina e os ataques terroristas nos Estados Unidos produziram forte pressão de depreciação do real em 2001. Em outubro, a cotação do real atingiu o pico de R$2,84 por dólar, acumulando uma depreciação de 42,6%. A apreciação da taxa de câmbio nos últimos dois meses do ano permitiu que a depreciação média acumulada em 12 meses até dezembro fosse de 20,9%. Essa depreciação do real pressionou significativamente os preços internos.” Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 94/236 Regime de Metas para Inflação no Brasil Ainda na carta de 2002 (referente ao perı́odo de 2001): “No âmbito interno, destaca-se o crescimento acentuado dos preços administrados por contrato, principalmente das tarifas de energia elétrica. A inflação desses preços atingiu 10,4%, valor superior ao da inflação dos preços livres de 6,5% e da inflação do IPCA de 7,7%. Entende-se por preços administrados por contrato, aqueles preços cuja sensibilidade a fatores de oferta e demanda é menor, mas não necessariamente aqueles preços que são diretamente regulados pelo governo.” Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 95/236 Regime de Metas para Inflação no Brasil Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 96/236 Regime de Metas para Inflação no Brasil Na carta de 2003 (referente ao perı́odo de 2002): “O ano de 2002 foi caracterizado por uma conjugação perversa de uma severa crise de confiança na evolução da economia brasileira e um forte aumento da aversão ao risco nos mercados internacionais. Esses fatores se refletiram em turbulências no mercado financeiro doméstico, em dificuldades na administração da dı́vida pública e em quedas bruscas no financiamento externo do paı́s, com conseqüências negativas sobre a inflação e o nı́vel de atividade na economia.” Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 97/236 Regime de Metas para Inflação no Brasil Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 98/236 Regime de Metas para Inflação no Brasil Avaliação do Sistema de Metas no Brasil No perı́odo de metas para a inflação, houve redução na volatilidade da inflação, da taxa de juros e da taxa de crescimento do PIB, em comparação com o perı́odo 1994-98. A taxa média de crescimento do PIB subiu, comparativamente ao perı́odo de câmbio fixo; A taxa de juros, tanto nominal como real, caiu de forma expressiva. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 99/236 Canais de Transmissão da Polı́tica Monetaria Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 100/236 Canais de Transmissão da Polı́tica Monetaria Canal de Demanda Agregada: Afeta decisão de gastos versus poupança; Afeta gastos através da confiança. Canal de Expectativas: Expectativas de inflação aumentam inflação corrente; Polı́tica monetária afeta expectativas de inflação. Canal de Crédito: Aferta financiamento para aquisição de bens (afeta valor da prestação); Afeta valor do colateral (intermediação financeira). Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 101/236 Canais de Transmissão da Polı́tica Monetaria Canal de Rentabilidade de Ativos: Impacto direto: juros menores reduzem a rentabilidade do real em relação à das outras moedas, incentivando a saı́da de capitais e depreciando o câmbio; Impacto indireto: depreciação cambial aumenta a demanda agregada (via exportações lı́quidas); Afetam as taxas longas e as decisões de consumo/investimentos. Afetam os preços das ações e as decisões de consumo/investimento. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 102/236 Regime de Metas para Inflação no Brasil Para avaliar todos estes efeitos, além de informações qualitativas, o Banco Central usa três modelos para análise quantitativa: 1 Modelos Vetoriais Auto-Regressivos (VAR/BVAR) 2 Modelo semi-estrutural de médio porte 3 Dynamic Stochastic General Equilibrium (DSGE) também conhecido como Stochastic Analytical Model with Bayesian Approach (SAMBA) Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 103/236 Regime de Metas para Inflação no Brasil Modelos Vetoriais Auto-Regressivos (VAR/BVAR): seja yt um vetor de variáveis econômicas yt = A0 + A1 yt−1 + A2 yt−2 + ... + An yt−n + εt onde εt é um distúrbio estocástico. Estima-se as matrizes A0 , A1 , ..., An , e simula a economia alguns perı́odos a frente. O BC estima, com diferentes métodos estatı́sticos, várias especificações da equação acima. Exemplo de variáveis utilizadas: preços livres, preços administrados, câmbio, juros, produção industrial, moeda, ... Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 104/236 Regime de Metas para Inflação no Brasil Fonte: Relatório de Inflação de Setembro de 2014. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 105/236 Regime de Metas para Inflação no Brasil Modelo semi-estrutural de médio porte: Minella e Souza-Sobrinho (2009) Dynamic Stochastic General Equilibrium (DSGE/SAMBA): Castro, Gouvea, Minella, Santos e Souza-Sobrinho (2011) Ambos modelos são bastante complexos para o nı́vel de graduação. Vamos estudar um modelo estilizado (e bastante simplificado!) que captura a idéia geral deste tipo exercı́cio. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 106/236 Regime de Metas para Inflação no Brasil: Modelo Estilizado Referência: Bogdanski, Tombini e Werlang (2000) “Implementing Inflation Targeting in Brazil”, BCB Working Paper Series no 1. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 107/236 Regime de Metas para Inflação no Brasil: Modelo Estilizado Quatro variáveis: taxa de juros, taxa de inflação, hiato do produto e taxa de câmbio. Estrutura da economia: Oferta Agregada (Curva de Phillips) Demanda Agregada (Curva IS) Paridade descoberta da taxa de juros Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 108/236 Regime de Metas para Inflação no Brasil: Modelo Estilizado Curva IS: ht = β0 + β1 ht−1 + β2 ht−2 + β3 rt−1 + εdt onde: h é o log do hiato do produto r é a taxa real de juros εdt é um choque de demanda Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 109/236 Regime de Metas para Inflação no Brasil: Modelo Estilizado Curva de Phillips: πt = α1 πt−1 + α2 Et [πt+1 ] + α3 ht−1 + α4 ∆(ptF + et ) + εst onde: h é o log do hiato do produto π é a taxa de inflação p F é o log dos preços externos e é o log da taxa de câmbio nominal εst é um choque de oferta Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 110/236 Regime de Metas para Inflação no Brasil: Modelo Estilizado Paridade descoberta da taxa de juros: Et [et+1 ] − et = it − itF − xt onde: e é o log da taxa de câmbio nominal it = rt + Et [πt+1 ] é a taxa de juros nominal i F é a taxa de juros externa x é o log do prêmio de risco Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 111/236 Regime de Metas para Inflação no Brasil: Modelo Estilizado Quatro equações e cinco icógnitas: πt , ht , rt , it e et Curva IS: ht = β0 + β1 ht−1 + β2 ht−2 + β3 rt−1 + εdt Curva de Phillips: πt = α1 πt−1 + α2 Et [πt+1 ] + α3 ht−1 + α4 ∆(ptF + et ) + εst Paridade descoberta da taxa de juros: Et [et+1 ] − et = it − itF − xt Taxa de juros nominal: it = rt + Et [πt+1 ] Exercı́cio: (1) estima-se as equações acima; (2) especifica-se uma trajetória para it , it+1 , it+2 , ... e vê o que acontece com πt , πt+1 , .... Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 112/236 Regime de Metas para Inflação no Brasil Novamente: modelo anterior extremamente estilizado. Natureza do exercı́cio é a mesma, apenas em modelos mais complexos. Banco Central considera dois cenários: 1 Cenário de referência: de manutenção da taxa de câmbio e da taxa Selic nos seus patamares atuais e em todo o horizonte relevante 2 Cenário de mercado: leva em conta as trajetórias de câmbio e de juros coletadas junto aos analistas de mercado, no perı́odo imediatamente anterior a reunião do Copom Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 113/236 Regime de Metas para Inflação no Brasil Fonte: Relatório de Inflação de Setembro de 2014. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 114/236 Regime de Metas para Inflação no Brasil Fonte: Relatório de Inflação de Setembro de 2014. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 115/236 Regime de Metas para Inflação no Brasil Fonte: Relatório de Inflação de Setembro de 2014. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 116/236 Regime de Metas para Inflação no Brasil Fonte: Relatório de Inflação de Setembro de 2014. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 117/236 Regime de Metas para Inflação no Brasil Trajetória Selic desde 2010: 13 12 11 10 Início do ciclo de queda Selic volta a subir 9 8 7 Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 118/236 Regime de Metas para Inflação no Brasil Na Ata do Copom do dia 30 e 31/8/2011 (qdo inciou o ciclo de queda): 17. O cenário de referência leva em conta as hipóteses de manutenção da taxa de câmbio em 1,60 R$/US$ e da taxa Selic em 12,50% ao ano (a.a.) em todo o horizonte relevante. Nesse cenário, a projeção para a inflação de 2011 se elevou em relação ao valor considerado na reunião do Copom de julho e se encontra acima do valor central de 4,5% para a meta fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). No cenário de mercado, que leva em conta as trajetórias de câmbio e de juros coletadas pelo Gerin, junto a analistas de mercado, no perı́odo imediatamente anterior à reunião do Copom, a projeção de inflação para 2011 também se elevou e se encontra acima do valor central da meta para a inflação. Para 2012, as projeções de inflação no cenário de referência e no de mercado recuaram, posicionando-se ao redor do valor central da meta nos dois casos. No que se refere ao primeiro semestre de 2013, a projeção de inflação recuou no cenário de referência e permaneceu estável no cenário de mercado, nos dois casos posicionando-se ao redor do valor central da meta. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 119/236 Regime de Metas para Inflação no Brasil Na Ata do Copom do dia 30 e 31/8/2011 (qdo inciou o ciclo de queda): 18. Um cenário alternativo, construı́do e analisado sob a perspectiva de um modelo de equilı́brio geral dinâmico estocástico de médio porte, admite que a atual deterioração do cenário internacional cause um impacto sobre a economia brasileira equivalente a um quarto do impacto observado durante a crise internacional de 2008/2009. Além disso, supõe que a atual deterioração do cenário internacional seja mais persistente do que a verificada em 2008/2009, porém, menos aguda, sem observância de eventos extremos. Nesse cenário alternativo, a atividade econômica doméstica desacelera e, apesar de ocorrer depreciação da taxa de câmbio e de haver redução da taxa básica de juros, entre outros, a taxa de inflação se posiciona em patamar inferior ao que seria observado caso não fosse considerado o supracitado efeito da crise internacional. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 120/236 Regime de Metas para Inflação no Brasil Na Ata do Copom do dia 30 e 31/8/2011 (qdo inciou o ciclo de queda): 29. Em suma, o Copom reconhece um ambiente econômico em que prevalece nı́vel de incerteza crescente e que já se posiciona muito acima do usual, e identifica riscos decrescentes à concretização de um cenário em que a inflação convirja tempestivamente para o valor central da meta. Dito de outra forma, o Comitê pondera que o cenário prospectivo para a inflação, desde sua última reunião, acumulou sinais favoráveis. 30. O Copom, de forma unânime, reconhece que o ambiente macroeconômico se alterou substancialmente desde sua última reunião, de modo a justificar uma reavaliação, e, eventualmente, reversão, do recente processo de elevação da taxa básica. Entretanto, dois membros do Comitê avaliam que o momento atual ainda não oferece todas as condições necessárias a que esse movimento tenha inı́cio imediatamente. 31. Nesse contexto, o Copom decidiu reduzir a taxa Selic para 12,00% a.a., sem viés, por cinco votos a favor e dois votos pela manutenção da taxa Selic em 12,50% a.a. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 121/236 Regime de Metas para Inflação no Brasil Trajetória Selic desde 2010: 13 12 11 10 Início do ciclo de queda Selic volta a subir 9 8 7 Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 122/236 Regime de Metas para Inflação no Brasil Na Ata do Copom do dia 16 e 17/4/2013 (Selic volta a subir): 19. O cenário de referência leva em conta as hipóteses de manutenção da taxa de câmbio em R$2,00/US$ e da taxa Selic em 7,25% ao ano (a.a.) em todo o horizonte relevante. Nesse cenário, a projeção para a inflação de 2013 manteve-se estável em relação ao valor considerado na reunião do Copom de março e se posiciona acima do valor central de 4,5% para a meta fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). No cenário de mercado, que leva em conta as trajetórias de câmbio e de juros coletadas pelo Gerin com analistas de mercado, no perı́odo imediatamente anterior à reunião do Copom, a projeção de inflação para 2013 diminuiu, mas se encontra acima do valor central da meta para a inflação. Para 2014, a projeção de inflação aumentou em relação ao valor considerado na reunião do Copom de março e se encontra acima do valor central da meta, no cenário de referência. Já no cenário de mercado, a projeção de inflação diminuiu em relação ao valor considerado na reunião do Copom de março, mas se posiciona acima do valor central da meta, em 2014. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 123/236 Regime de Metas para Inflação no Brasil Na Ata do Copom do dia 16 e 17/4/2011 (Selic volta a subir): 28. O Copom avalia que o nı́vel elevado da inflação e a dispersão de aumentos de preços, entre outros fatores, contribuem para que a inflação mostre resistência e ensejam uma resposta da polı́tica monetária. Por outro lado, o Comitê pondera que incertezas internas e, principalmente, externas cercam o cenário prospectivo para a inflação e recomendam que a polı́tica monetária seja administrada com cautela. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 124/236 Regime de Metas para Inflação no Brasil Na Ata do Copom do dia 16 e 17/4/2011 (Selic volta a subir): 29. O julgamento de todos os membros do Copom é convergente no que se refere à necessidade de uma ação de polı́tica monetária destinada a neutralizar riscos que se apresentam no cenário prospectivo para a inflação, notadamente para o próximo ano. Parte do Comitê, entretanto, pondera que está em curso uma reavaliação do crescimento global e que esse processo, a depender de sua intensidade e duração, poderá ter repercussões favoráveis sobre a dinâmica dos preços domésticos. Para esses membros do Comitê, não seria recomendável uma ação imediata da polı́tica monetária, entretanto, essa visão não foi respaldada pela maioria do Colegiado. 30. Diante disso, o Copom decidiu elevar a taxa Selic para 7,50% a.a., sem viés, por seis votos a favor e dois votos pela manutenção da taxa Selic em 7,25% a.a. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 125/236 Regime de Metas para Inflação no Brasil Trajetória Selic desde 2010: 13 12 11 10 Início do ciclo de queda Selic volta a subir 9 8 7 Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 126/236 Regime de Metas para Inflação no Brasil Investimento sobre PIB (Trimestral): 21% 20% 19% 18% 17% 16% 15% 14% 13% 12% Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 127/236 Regime de Metas para Inflação no Brasil IPCA (acumulado em 12 meses): 8,50% 7,50% 6,50% 5,50% 4,50% 3,50% 2,50% 1,50% jan/05 jan/06 jan/07 jan/08 jan/09 Márcio Garcia PUC-Rio jan/10 jan/11 jan/12 Teoria Macroeconômica II jan/13 jan/14 128/236 Regime de Metas para Inflação no Brasil Crescimento real PIB (anual): Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 129/236 Regime de Metas para Inflação no Brasil Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 130/236 Regime de Metas para Inflação no Brasil Tripé que caracterizou a economia brasileira no passado recente: Câmbio flutuante. Metas de superávit primário. Regime de metas de inflação. Últimos dois anos: Regime de flutuação suja para o câmbio. “Contabilidade criativa” no cálculo do superávit primário. Inflação acima do centro da meta. Debate atual: Seria o fim do tripé? Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 131/236 Regime de Metas para Inflação no Brasil Exemplo de “contabilidade criativa”: Tesouro emite tı́tulos da dı́vida pública, e aporta o montante arrecadado ao BNDES. Contabilidade padrão: transferências para o BNDES, afetando o superávit primário e a dı́vida lı́quida do governo. Contabilidade criativa: empréstimos (subsidiados) ao BNDES, afetando apenas a dı́vida bruta do governo. O BNDES apura seus lucros com base nos empréstimos subsidiados e transfere dividendos ao Tesouro, melhorando o superávit primário. O governo/BNDES já antecipou receitas futuras da Petrobrás e da Eletrobrás, também aumentando o superávit primário. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 132/236 Exercı́cios Exercı́cio: Regimes de metas de inflação são usados por muitos paı́ses. a) Em quais paı́ses é mais difı́cil adotá-los: em paı́ses desenvolvidos ou em paı́ses em desenvolvimento? b) Discuta os principais pilares de um regime de metas de inflação e examine as pré-condições para aplicá-los de forma bem sucedida. c) Por que optar por um regime de metas de inflação? Compare com as principais alternativas, listando suas vantagens e desvantagens. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 133/236 Exercı́cios Exercı́cio (Prova 2011): Comente, pautado no que foi ensinado em aula, a passagem abaixo. Quando optou por reduzir a Selic, o Banco Central agiu com antecipação para evitar um cenário de queda brusca de crescimento, avalia Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú Unibanco. Em sua opinião, foi uma opção “legı́tima” do BC, que preferiu conduzir a convergência da inflação para o centro da meta, de 4,5%, num horizonte mais longo. Valor Econômico - 21/11/2011. Possı́vel resposta: O BC optou reduzir a Selic afim de estimular o crescimento. Isto, por sua vez, poderia aumentar a inflação gerando um risco de que a meta não fosse cumprida. Entretanto, frente a uma recessão global, poderia-se justificar este risco maior desde que haja o compromisso com a meta de inflação num horizonte mais longo. Os modelos estatı́sticos utilizados pelo BC confirmam tal cenário. O Brasil, por exemplo, já deixou de cumprir as metas em alguns anos, mas dada a credibilidade e as justificativas plausı́veis, conseguiu reconduzir a inflação para a meta em perı́odos posteriores. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 134/236 Exercı́cios Exercı́cio (Prova 2012): Considere a passagem abaixo retirada de um artigo de opinião do Professor Rogério Werneck publicado no Estado de São Paulo, no dia 12/10/2012. “A polı́tica macroeconômica perde coerência a olhos vistos. Por mais que alguns analistas se contorçam para racionalizar o que vem ocorrendo e arguir que os pilares do tripé consolidado a partir de 1999 permanecem sólidos, acumulam-se as evidências em contrário. Já não há quem negue que o regime de câmbio flexı́vel cedeu lugar a um problemático arranjo de câmbio fixo. E a polı́tica fiscal já não é mais levada a sério, desde que ficou claro, na esteira de infindáveis truques contábeis envolvendo ardilosa relação de mão dupla entre o Tesouro e o BNDES, que o governo agora dispõe de um caminho fácil para cumprir metas de superávit primário.” Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 135/236 Exercı́cios Exercı́cio (Prova 2012, cont.): a) Quais são os dois pilares do tripé mencionados no texto? b) O terceiro pilar é o regime de metas de inflação. Na sua opinião, o fato da inflação acumulada em 12 meses estar rodando acima do centro meta nos últimos três anos signifca que este pilar perdeu sua solidez? Justifique com poucas palavras. Obs.: não há resposta correta, logo a nota será baseada na coerência da justificativa. c) Explique, com poucas palavras, como os dois pilares mencionados no texto ajudariam a polı́tica monetária a manter a inflação perto do centro da meta. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 136/236 Polı́tica Fiscal e Dı́vida Pública Até então, ignoramos a relação entre polı́tica fiscal e dı́vida pública. Referência: Blanchard, cap. 26. Definição de déficit levando em conta a dı́vida pública: déficitt = rBt−1 + Gt − Tt r é a taxa de juros real Bt−1 é a dı́vida pública no final do ano t − 1 ou no inı́cio do ano t rBt−1 é o pagamento de juros reais sobre a dı́vida pública no ano t Gt são os gastos do governo com bens e serviços durante o ano t Tt são os impostos menos transferências durante o ano t Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 137/236 Polı́tica Fiscal e Dı́vida Pública A restrição orçamentária do governo afirma que a variação na dı́vida do governo durante o ano t financia o déficit no ano t Bt − Bt−1 = déficitt Se o governo tem um déficit, a dı́vida aumenta. Se o governo tem um superávit, a dı́vida cai. Usando a definição de déficit, obtemos: Bt − Bt−1 = rBt−1 + Gt − Tt A restrição orçamentária do governo relaciona a variação da dı́vida ao nı́vel inicial de dı́vida (que afeta os pagamentos de juros) e aos gastos e receitas correntes do governo. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 138/236 Polı́tica Fiscal e Dı́vida Pública É conveniente decompor o déficit na soma de dois termos: pagamentos de juros reais sobre a dı́vida, rBt−1 diferença entre receitas e impostos, Gt − Tt , o déficit primário. Assim procedendo, obtemos: Bt − Bt−1 = rBt−1 + Gt − Tt | {z } | {z } | {z } variação da dı́vida pagamento de juros déficit primário Logo: Bt = (1 + r )Bt−1 + Gt − Tt A dı́vida ao final do ano t iguala 1 + r vezes a dı́vida ao final do ano t − 1 mais o déficit primário durante o ano t, Gt − Tt . Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 139/236 Polı́tica Fiscal e Dı́vida Pública Impostos Correntes versus Impostos Futuros Vejamos as implicações de uma queda nos impostos durante um ano para a trajetória futura da dı́vida e dos impostos. Suponhamos uma situação inicial, até o ano 1, na qual o governo sempre tenha tido orçamento equilibrado com dı́vida inicial igual a zero (B0 = 0). No ano 1, o governo reduz os impostos por um ano em uma unidade. Ao final do ano 1, portanto, G1 − T1 = 1 ⇒ B1 = B0 + G1 − T1 = 1. O que acontece depois? Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 140/236 Polı́tica Fiscal e Dı́vida Pública Ao final do ano 1, B1 = 1 Dois casos: (1) Pagamento total da dı́vida no ano 2, ou seja, B2 = 0: B2 = (1 + r )B1 + G2 − T2 ⇒ T2 − G2 = (1 + r ) Ou seja, para pagar a dı́vida totalmente durante o ano 2, o governo tem que gerar um superávit primário igual a 1 + r , aumentando os impostos ou diminuindo gastos. Supondo que o ajuste é feito via impostos, de forma que a trajetória dos gastos não é afetada. Isso requer um aumento nos impostos em 1 + r acima do nı́vel normal. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 141/236 Polı́tica Fiscal e Dı́vida Pública Ao final do ano 1, B1 = 1 Dois casos: (2) Pagamento total da dı́vida no ano t, ou seja, Bt = 0: Hipótese: do ano 2 ao ano t − 1 o déficit primário é zero. O que isso implica para a dı́vida? B2 = (1 + r )B1 + G2 − T2 = (1 + r ) B3 = (1 + r )B2 + G3 − T3 = (1 + r )2 ... Bt−1 = (1 + r )Bt−2 + Gt−1 − Tt−1 = (1 + r )t−2 Logo Bt = (1 + r )Bt−1 + Gt − Tt ⇒ Tt − Gt = (1 + r )t−1 ou seja, o superávit primário precisa ser (1 + r )t−1 Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 142/236 Polı́tica Fiscal e Dı́vida Pública Conclusões: Se os gastos não se movem, uma queda nos impostos deve levar a um aumento de impostos no futuro. Quanto mais o governo esperar para aumentar os impostos ou quanto mais alta for a taxa real de juros, maior será o aumento dos impostos que deverá ocorrer. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 143/236 Polı́tica Fiscal e Dı́vida Pública Vimos o que ocorre quando a dı́vida é paga. Na realidade, o mais comum é estabilizar a dı́vida. Estabilizar a partir do ano 2 significa manter o nı́vel da dı́vida constante. A restrição orçamentária para o ano 2 é: B2 = (1 + r )B1 + (G2 − T2 ) No nosso exemplo, estabilização implica B2 = B1 = 1, logo T2 − G2 = r . Conclusão: para estabilizar a dı́vida, o governo deve eliminar o déficit. Para fazê-lo, deve produzir um superávit primário igual aos juros sobre a dı́vida pré-existente. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 144/236 Polı́tica Fiscal e Dı́vida Pública Devido ao crescimento econômico, faz mais sentido focarmos a razão dı́vida/PIB. Dividindo ambos os lados da restrição orçamentária pelo PIB: Bt−1 Gt − Tt Bt = (1 + r ) + Yt Yt Yt Multplicando e dividindo por Yt−1 Bt Bt−1 Yt−1 Gt − Tt = (1 + r ) + Yt Yt−1 Yt Yt Supondo a taxa de crescimento constante Yt Yt−1 =1+g 1 + r Bt−1 Gt − Tt Bt = + Yt 1 + g Yt−1 Yt Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 145/236 Polı́tica Fiscal e Dı́vida Pública Adendo matemático: quando r e g são pequenos, 1+r 1+g ≈ 1 + r − g. Por que? Expansão de Taylor de 1a ordem em torno de r = 0 e g = 0. Exemplo: se r = 0.05 e g = 0.03, temos: 1+r = 1.0194 e 1 + r − g = 1.0200 1+g Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 146/236 Polı́tica Fiscal e Dı́vida Pública Bt Yt Bt Yt 1 + r Bt−1 Gt − Tt + 1 + g Yt−1 Yt Bt−1 Gt − Tt ≈ (1 + r − g ) + Yt−1 Yt = Logo: Bt Bt−1 − Yt Yt−1 ≈ (r − g ) Bt−1 Gt − Tt + Yt−1 Yt A variação na razão da dı́vida/PIB é a soma de dois termos: O primeiro é a diferença entre a taxa real de juros e a taxa de crescimento vezes a razão da dı́vida inicial; O segundo é a razão entre o déficit primário e o PIB. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 147/236 Polı́tica Fiscal e Dı́vida Pública Bt−1 Bt−1 Gt − Tt Bt − ≈ (r − g ) + Yt Yt−1 Yt−1 Yt Conclusão: a equação acima implica que o aumento da razão dı́vida/PIB será maior: quanto maior for a taxa de juros; quanto menor for o crescimento do PIB; se r > g , quanto maior for a razão dı́vida/PIB inicial; quanto maior for a razão déficit primário/PIB. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 148/236 Definindo Conceitos Solvência: Uma entidade é solvente se o Valor Presente Descontado de seus gastos primários correntes e futuros não excedam o Valor Presente Descontado de sua trajetória de receitas correntes e futuras, livre de qualquer dı́vida inicial. ∞ X i=0 Et+i Qi j=1 (1 + rt+j ) ≤ ∞ X i=0 Yt+i Qi j=1 (1 + rt+j ) − (1 + rt )Dt−1 Solvência precisa ser vista em relação a trajetória de ajuste, que não deve ser apenas economicamente viável, como também socialmente e politicamente aceitável, de forma que o default não seja a opção preferı́vel. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 149/236 Definindo Conceitos Liquidez: Um entidade é ilı́quida se, independentemente de satisfazer a condição de solvência, seus ativos lı́quidos e financiamentos disponı́veis são insuficientes para atender ou rolar a maturidade do seu passivo. A distinção entre solvência e liquidez é muitas vezes tênue porque iliquidez se manifesta em taxas de juros crescentes - no caso limite em que nenhum financiamento extra está disponı́vel, a taxa marginal de juros vai para o infinito - o que em algum momento faz com que se questione a solvência da entidade. Sustentabilidade: A posição do passivo de uma entidade é sustentável se satisfizer a restrição orçamentária trazida a valor presente sem nenhuma grande correção no déficit dado os custos de financiamento que ela obtém no mercado. Vulnerabilidade: Vulnerabilidade é simplesmente o risco de que as condições de liquidez e solvência sejam violadas e o devedor entre em crise. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 150/236 Temas em Polı́tica Fiscal: Equivalência Ricardiana Levando em conta a restrição orçamentária do governo, como devemos pensar sobre o efeito dos déficits no produto? Visão extrema (proposição Ricardo-Barro): uma vez que se leve em consideração a restrição orçamentária do governo, nem o déficit nem a dı́vida tem qualquer papel sobre a atividade econômica. Exemplo: queda nos impostos em 1 para pagar em 2. O consumo em 1 não aumenta, pois o valor presente dos impostos não mudou, só o timing. Queda de imposto em x unidades hoje (∆T1 = −x) Aumento dos impostos em ∆T2 = (1 + r )x unidades amanhã Em valor presente, não há mudança na renda disponı́vel: ∆T2 = 0. ∆T1 + 1+r O argumento continua válido se o governo esperar t anos para aumentar os impostos (chequem!) Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 151/236 Temas em Polı́tica Fiscal: Equivalência Ricardiana A poupança privada aumenta um para um com o déficit, não afetando o investimento. Os agentes antecipam que os impostos futuros irão aumentar e poupam a renda adicional do primeiro perı́odo para pagar os impostos futuros. Pouco convincente: evidência empı́rica contrária. Reduções de impostos, em geral, não vêm com anúncios de aumentos futuros. Os agentes devem adivinhar quando este aumento deverá ocorrer. Quanto mais distantes parecem ser os ajustes, mais provável é que os agentes não poupem na razão de 1 para 1 com a redução dos impostos. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 152/236 Temas em Polı́tica Fiscal: Equivalência Ricardiana Conclusões anteriores continuam válidas: No curto prazo, déficits maiores levam a um crescimento na demanda e no produto. No longo prazo, o aumento dos déficits diminui a acumulação de capital, fazendo cair o produto. Embora considerações sobre a equivalência ricardiana sugiram que os efeitos da polı́tica fiscal sejam menores do que os sugeridos pelo modelo IS-LM. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 153/236 Temas em Polı́tica Fiscal: déficits, estabilização do produto e os déficit com ajuste cı́clico Polı́tica fiscal contra-cı́clica é um eficaz instrumento de polı́tica econômica. A restrição orçamentária entra aqui para recomendar que os déficits criados durante as recessões para aumentar o nı́vel de atividade devam ser pagos com superávits durante os booms. Desta forma, a dı́vida não crescerá para sempre. Para medir se isso de fato está ocorrendo é necessário ajustar o déficit para o estado do ciclo econômico. Déficit ciclicamente ajustado. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 154/236 Temas em Polı́tica Fiscal: déficits, estabilização do produto e os déficit com ajuste cı́clico Ou seja: se o déficit efetivo for grande, mas o déficit ciclicamente ajustado for zero, então, a polı́tica fiscal atual é coerente com a ausência de aumento sistemático da dı́vida ao longo do tempo. A dı́vida aumentará enquanto o produto estiver abaixo do seu nı́vel natural, mas cairá enquanto o produto estiver acima. Teoria é simples, mas a prática é problemática. Como medir o déficit ciclicamente ajustado? Dois passos: 1 Quão mais baixo será o déficit se o produto for 1% mais alto? 2 Quão longe está o produto de seu nı́vel natural? Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 155/236 Temas em Polı́tica Fiscal: déficits, estabilização do produto e os déficit com ajuste cı́clico Primeiro passo é simples. Quão mais baixo será o déficit se o produto for 1 % mais alto? Regra de bolso para os EUA: se o produto cai 1%, o déficit sobe 0,5%. Isto ocorre porque a maior parte dos impostos é proporcional ao produto, mas poucos gastos dependem do produto. Isto significa que uma queda no produto, que leva a uma queda nas receitas, mas não a mudanças significativas nos gastos, naturalmente ocasiona um aumento do déficit fiscal. Se o produto estiver, por exemplo, 5% abaixo de seu nı́vel natural, o déficit como razão do PIB será 2,5% maior do que se o produto estivesse em seu nı́vel natural. Este efeito da atividade sobre o déficit é chamado de estabilizador automático: Uma recessão naturalmente gera um déficit e, portanto, uma expansão fiscal que parcialmente mitiga o efeito recessivo. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 156/236 Temas em Polı́tica Fiscal: déficits, estabilização do produto e os déficit com ajuste cı́clico Segundo passo é complicado. Quão longe está o produto de seu nı́vel natural? Lembre-se que o nı́vel natural do produto foi definido como o nı́vel do produto associado à taxa natural de desemprego. Se a taxa natural de desemprego for estimada mais baixa do que de fato ela é, o produto natural será superestimado. Se o produto natural for estimado erroneamente (muito alto), a posição no ciclo ficará subestimada (um produto efetivo acima do natural pode ser tomado como abaixo, assim justificando um déficit quando deveria haver um superávit). Consequentemente, o déficit ciclicamente ajustado ficará muito otimista. Exemplo: Europa nos anos 80. Estimativas muito baixas para o desemprego natural deram a impressão equivocada de déficits ciclicamente ajustados não muito ruins. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 157/236 Temas em Polı́tica Fiscal: déficits, estabilização do produto e os déficit com ajuste cı́clico Problema adicional: questões polı́ticas dificultam a adoção de polı́tica fiscal contra-cı́clica quando necessária. ciclos econômicos polı́ticos; “war of attrition”. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 158/236 Temas em Polı́tica Fiscal: Os Perigos da Dı́vida Elevada Dois custos da dı́vida pública alta: menor acumulação de capital no longo prazo; maior quantidade de impostos (que geram distorções na economia). Custo adicional: dı́vida alta pode levar a um ciclo vicioso e tornar a condução da polı́tica fiscal extremamente difı́cil; exemplo recente: crise na Europa. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 159/236 Temas em Polı́tica Fiscal: Os Perigos da Dı́vida Elevada Considere: Bt−1 Bt − Yt Yt−1 ≈ (r − g ) Bt−1 Gt − Tt + Yt−1 Yt Exemplo: um paı́s com razão dı́vida/PIB = 100%, taxa de juros real r = 3% e taxa de crescimento g = 2% Logo, para manter a razão dı́vida/PIB constante o superávit primário tem que ser de 1% 0 ≈ (3% − 2%)100% + Gt − Tt Tt − Gt ⇒ = 1% Yt Yt Suponha que o risco cresça e os investidores passem a pedir juros mais altos para reter dı́vida do governo, de 3% para 6%. Logo, para manter a razão dı́vida/PIB constante o superávit primário tem que ser de 4%. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 160/236 Temas em Polı́tica Fiscal: Os Perigos da Dı́vida Elevada Se os investidores passam a pedir juros mais altos (por temor de que o governo não honre suas dı́vidas), o superávit primário necessário para manter a dı́vida constante aumenta. Alternativa 1: aumentar o superávit primário para estabilizar a dı́vida Necessidade de aumentar impostos pode gerar um custo polı́tico, logo incerteza polı́tica leva investidores a exigir r ainda maior. Necessidade de cortar os gastos pode gerar uma recessão, logo g cai. Conclusão: cı́rculo vicioso! Necessidade de um superávit primário ainda maior. Alternativa 2: não aumentar o superávit primário o suficiente Dı́vida começa a crescer, logo os investidores exigem juros ainda maiores Taxa de juros maiores levam a déficits ainda maiores Cı́rculo vicioso: razão dı́vida/PIB aumenta ainda mais! Necessidade de um superávit primário ainda maior. Se o ciclo não for quebrado, conclusão catastrófica: moratória! Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 161/236 Temas em Polı́tica Fiscal: Os Perigos da Dı́vida Elevada Note a semelhança da crise de dı́vida soberana com as crises cambiais. Profecias auto-realizáveis: o temor de que a dı́vida se torne explosiva é o suficiente para tornar a dı́vida explosiva. Por que? as expectativas, mesmo que infundadas, fazem com que os agentes exijam um prêmio de risco mais alto (juros mais altos); os argumentos anteriores justificam uma dinâmica da dı́vida catastrófica; portanto, as expectativas iniciais são validadas. Note que uma crise cambial pode desencadear uma crise soberana. Como? expectativa de desvalorização ⇒ juros sobem ⇒ razão dı́vida/PIB aumenta Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 162/236 Temas em Polı́tica Fiscal: Os Perigos da Dı́vida Elevada Crise cambial: corrida contra a moeda nacional Como tentar evitar uma profecia auto-realizável? O BC deve manter um nı́vel relativamente alto de reservas em moeda estrangeira. Crise de dı́vida soberana: “corrida” contra tı́tulos soberanos Como tentar evitar uma profecia auto-realizável? Garantias através de um emprestador de última instância (lender of last resort). Exemplos: FMI, FEEF (Fundo Europeu de Estabilidade Financeira) Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 163/236 Temas em Polı́tica Fiscal: Os Perigos da Dı́vida Elevada Se o governo acha que a dı́vida está muito elevada, como pode fazer para diminuı́-la? Através de muitos anos de polı́tica fiscal austera. Esta opção tem um custo elevado para a sociedade e muitas vezes, o governo pode optar pelo repúdio (calote) da dı́vida. Repudiar a dı́vida pode ser bom para a sociedade. Permite uma redução nos impostos e diminui o risco de ciclos viciosos. O problema do repúdio é um caso de inconsistência dinâmica. Ao repudiar a dı́vida, o governo pode encontrar dificuldade de se financiar novamente no futuro. Em outras palavras: dado o calote, os mercados financeiros ficarão relutantes em emprestar e/ou exigirão taxa de juros maiores no futuro. O repúdio da dı́vida é muito mais um último recurso, algo a ser usado quando todo o resto falhou. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 164/236 Crise na Europa em Quatro Slides Adoção do Euro: estimula as exportações lı́quidas de paı́ses como a Alemanha, França, ... (equivalente a uma “depreciação do marco alemão”) paı́ses como Grécia, Portugal, ... herdam a credibilidade das instituições estáveis de outros paı́ses (o que reduz incerteza e gera mais investimentos, por exemplo) união monetária, mas não fiscal: polı́tica fiscal irresponsável de alguns paı́ses (intensificado após a grande recessão de 2008/9). paı́ses como Grécia, Itália, Espanha, ... se endividam demais e ficam suscetı́veis a um crise de dı́vida soberana. Mercado exige juros cada vez mais altos para rolar a dı́vida. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 165/236 Crise na Europa em Quatro Slides Mecanismos que intensificam ou podem intensificar a crise: Compromisso de Banco Central Europeu com uma meta de inflação baixa. Engessamento institucional: tratados, parlamento europeu, ... Redução da intermediação financeira via redução do valor dos ativos dos bancos que detem tı́tulos soberanos destes paı́ses (crise bancária) Mecanismo polı́tico: incapacidade das autoridades em lidar com a crise de um paı́s pode antecipar uma corrida contra tı́tulos soberanos de outros paı́ses Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 166/236 Crise na Europa em Quatro Slides Possı́veis desfechos para a crise grega (considerados na época): 1 “calote parcial” (restruturação da dı́vida), recapitalização dos bancos que detem tı́tulos gregos, programa de ajuda (empréstimo) a Grécia condicional a um ajuste fiscal Problema: ajuste fiscal pode ser recessivo o que tornaria a razão dı́vida/PIB ainda mais alta, intensificando a crise; Problema: disputas polı́ticas internas na Grécia podem inviabilizar o ajuste fiscal. 2 saı́da da zona do Euro a fim de liberar a polı́tica monetária. Problema: saı́da do Euro implica saı́da da União Européia (onde há livre comércio); Problema: poderia itensificar as crises em outros paı́ses caso o mercado reagisse negativamente (e exigisse juros mais altos destes paı́ses), com uma possı́vel debandada do Euro; Como fazer uma saı́da ordenada do Euro? Acabou vigorando o desfecho 1. Desfechos similares ocorreram nos outros paı́ses (sem a necessidade de restruturação da dı́vida). Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 167/236 Crise na Europa em Quatro Slides Taxa de juros de longo-prazo (10 anos): Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 168/236 Exercı́cios Exercı́cio: Supondo que um dado paı́s se encontre na seguinte situação: Dı́vida Pública/PIB = 150% Déficit Primário/PIB = 2% Taxa de Juros = 16% a.a. Taxa de Inflação = 8% a.a. Taxa de crescimento do produto projetada = 2% a.a. a) Caso o déficit primário cresça na mesma magnitude que o PIB, quanto será a razão Dı́vida/PIB daqui a um ano? b) Se o objetivo for estabilizar a dı́vida, o que deveria acontecer com a razão Superávit Primário/PIB? c) Mantendo o objetivo do item anterior, qual deveria ser a taxa de crescimento do PIB caso a razão Déficit/PIB suba para 4,5%? Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 169/236 Exercı́cios Exercı́cio: Verdadeiro ou falso. Justifique: a) De acordo com o Princı́pio da Equivalência Ricardiana, uma redução dos impostos, leva a um aumento exatamente proporcional do consumo privado. b) Uma dı́vida pública muito elevada pode ser um indı́cio de que o risco de default é alto, o que aumenta o prêmio de risco e pressiona os juros domésticos, forçando o paı́s a ter um maior superávit na Balança Comercial para estabilizar a dı́vida. c) O governo jamais deve financiar uma guerra por intermédio da elevação do déficit fiscal. d) O déficit primário é o déficit nominal descontado da despesa com os juros reais. e) Um paı́s que mantenha um superávit primário positivo ao longo do tempo necessariamente tem sua dı́vida pública reduzida. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 170/236 Exercı́cios Exercı́cio (Prova 2011): explique a racionalidade econômica da passagem abaixo sobre a crise atual na Europa. “O que está acontecendo na Itália é uma advertência a todos os paı́ses, a todos os governos que não têm um plano digno de crédito para lidar com o endividamento e o déficit em excesso”. David Cameron, primeiro-ministro da Grã-Bretanha - Estadão, 10/11/2011. Resposta: Considere a seguinte equação derivada em aula: Bt−1 Bt−1 Gt − Tt Bt − ≈ (r − g ) + Yt Yt−1 Yt−1 Yt Quando a razão dı́vida/PIB fica suficientemente alta, existe um risco maior de calote, logo o mercado exige taxa de juros r alta (prêmio de risco) para emprestar ao governo Italiano. Mas como o r subiu, a dı́vida cresce ainda mais, aumentando ainda mais o risco de calote e r . A economia entra em um ciclo vicioso, difı́cil de ser quebrado sem a ocorrência de calote ou monetização da dı́vida. Por isso a importância de um plano de crédito para manter o nı́vel de endividamento sustentável. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 171/236 Exercı́cios Exercı́cio (Prova 2011): explique a racionalidade econômica da passagem abaixo sobre a crise atual na Europa. “Acho que os paı́ses periféricos da Europa vão enfrentar anos e anos de crescimento muito baixo e recessão, e isso faz com que os pacotes de austeridade sejam completa e fundamentalmente impossı́veis de serem cumpridos.” “É altamente provável que pelo menos um e possivelmente mais paı́ses sejam forçados a abandonar o euro antes que esse problema seja resolvido.” Kenneth Rogoff, economista da Harvard University - Estadão, 29/10/2011. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 172/236 Exercı́cios Resposta: Considere a seguinte equação derivada em aula: Bt Bt−1 Bt−1 Gt − Tt − ≈ (r − g ) + Yt Yt−1 Yt−1 Yt Como os paı́ses periféricos passarão por um perı́odo de baixo crescimento, um ajuste fiscal, tal que Gt − Tt caia, reduziria ainda mais o crescimento g . Olhando a equação acima, não é óbvio qual efeito domina e o que acontecerá com a razão dı́vida/PIB. Pacotes de austeridades também podem ser politicamente inviáveis. Se o ajuste fiscal não for uma solução viável para o problema de endividamento, uma alternativa seria abondonar o euro (e o “regime de câmbio fixo”), e utilizar a polı́tica monetária para estimular a economia. Exercı́cio: O que você espera do comportamento da relação dı́vida/PIB ao longo ciclo econômico? Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 173/236 Exercı́cios Exercı́cio (Prova 2012). Considere a seguinte equação derivada em aula: Bt−1 Bt−1 Gt − Tt Bt − ≈ (r − g ) + Yt Yt−1 Yt−1 Yt onde B é a dı́vida pública, Y é o PIB real, r é a taxa de juros real, g é a taxa de crescimento de Y , e G − T é o déficit primário. a) Explique, utilizando a equação acima, porque o temor de que a razão dı́vida sobre PIB se torne explosiva é o suficiente para tornar esta razão explosiva. b) No dia 08/10/2012, saiu no G1 qua a “Zona do Euro oficializou seu fundo de resgate permanente, o Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE), criado para auxiliar a região a sair crise da dı́vida, em um processo fundamental para auxiliar os paı́ses mais frágeis da região.” Explique como o MEE - uma espécie de FMI para a Zona do Euro poderia evitar que uma profecia auto-realizável provoque uma crise de dı́vida soberana. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 174/236 Exercı́cios Exercı́cio (Prova 2013). Num episódio recente e controverso, economistas debateram sobre a relação entre dı́vida pública e crescimento do PIB. Kenneth Rogoff e Carmen Reinhart, por exemplo, alegam que a evidência empı́rica sugere que perı́odos de alta razão dı́vida/PIB estão associados com baixo crescimento econômico. Use a equação abaixo, derivada em sala de aula, para responder os seguintes itens. Bt−1 Bt−1 Gt − Tt Bt − ≈ (r − g ) + Yt Yt−1 Yt−1 Yt a) Proponha uma mecanismo teórico, no qual uma alta razão dı́vida/PIB cause baixo crescimento econômico. b) Alguns economistas questionaram a validade dos resultados do estudo de Rogoff e Reinhart. Estes economistas (por exemplo, Paul Krugman) alegam que nos EUA, apesar da razão dı́vida/PIB ter atingido 106% em 2012, uma polı́tica fiscal expansionista é um dos elementos necessários para a retomada do crescimento econômico. Explique, com poucas palavras, a racionalidade econômica deste argumento, contrapondo-o com sua resposta no item a). Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 175/236 3a parte do curso Últimos tópicos. Avanços recentes: 1 Nova macroeconomia. Teorias macroeconômicas recentes: Teoria dos ciclos econômicos reais Modelos de rigidez de preço novo-keynesianos Referência: Dornbush, Fischer e Startz, capı́tulo 21. 2 “Novı́ssima macroeconomia”. Interação entre fricções financeiras e a macroeconomia: Grande recessão: crise 2008/9 nos EUA Referências: Brunnermeier (2009) e Woodford (2010). Armadilha da Liquidez (capı́tulo 22, Blanchard) Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 176/236 Nova Macroeconomia Referência: Dornbush, Fischer e Startz, capı́tulo 20. Nos últimos anos, quatro novas teorias foram desenvolvidas e revolucionaram o estudo da macroeconomia: 1 Expectativas racionais 2 Passeio aleatório como trajetória para o PIB 3 Teoria dos ciclos econômicos reais 4 Modelos de rigidez de preço novo-keynesianos Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 177/236 Nova Macroeconomia: Teoria dos Ciclos Reais de Negócios “Real Business Cycle (RBC)” Flutuações no produto e no emprego são oriundas de choques reais na economia, com os mercados se ajustando rapidamente e permanecendo sempre em equilı́brio. ⇒ Implicação teórica do enfoque das expectativas racionais: Polı́tica monetária antecipada não tem efeitos reais. ⇒ Implicação empı́rica da teoria do passeio aleatório. Choques de demanda não são uma fonte importante de flutuação. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 178/236 Nova Macroeconomia: Teoria dos Ciclos Reais de Negócios Negando as possı́veis causas monetárias das flutuações, a teoria dos RBC defronta-se com duas tarefas: 1 Quais são os choques que atingem a economia? 2 Quais são e como operam os mecanismos de propagação? Objetivo final: explicar por que o emprego e o produto são altos em expansões, e reduzidos em recessões. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 179/236 Nova Macroeconomia: Teoria dos Ciclos Reais de Negócios Primeira pergunta: Quais são os choques que atingem a economia? Perturbações (Distúrbios): A propagação dos ciclos econômicos é desencadeada por acontecimentos que alteram o produto e o emprego de equilı́brio. Algumas perturbações: choques sobre produtividade, ou choques da oferta, e choques sobre a despesa pública. Exemplo de distúrbio: choque positivo de produtividade ⇒ emprego e produto aumentam. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 180/236 Nova Macroeconomia: Teoria dos Ciclos Reais de Negócios Exemplo de distúrbio: choque positivo de produtividade ⇒ emprego e produto aumentam. Por que? Possı́vel mecanismo de propagação: choque positivo (expansão) aumenta o salário real, W /P, que por sua vez, aumenta a oferta de trabalho choque negativo (recessão) reduz o salário real, W /P, que por sua vez, reduz a oferta de trabalho Entretanto: não há comprovação empı́rica desta explicação. Evidências indicam que a elasticidade da oferta de trabalho em relação ao salário real é muito pequena. Além disso, o salário real varia pouco ao longo do ciclo econômico. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 181/236 Nova Macroeconomia: Teoria dos Ciclos Reais de Negócios Segunda pergunta: Quais são e como operam os mecanismos de propagação? Em outras palavras: como pequenos movimentos nos salários reais geram grandes movimentos no produto? Resposta dos modelos RBC: substituição intertemporal de lazer. Supõe-se uma elasticidade elevada da oferta de trabalho como reação às variações temporárias do salário real. Ou seja, as pessoas estão muito dispostas a substituir lazer (e por conseguinte, trabalho) ao longo do ciclo econômico. Elas se importam com o esforço (quantidade de trabalho) total, mas não se importam com quando trabalhar. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 182/236 Nova Macroeconomia: Teoria dos Ciclos Reais de Negócios Exemplo: suponha que durante um perı́odo bienal os trabalhadores estão planejando trabalhar 4000 horas (50 semanas x 40 horas x 2 anos) ao salário vigente. Se o salário não flutuar nesse perı́odo bienal, eles trabalharão uniformemente, 2000 horas em cada ano. Entretanto, se o salário no primeiro ano for apenas 2% mais alto que no segundo ano, eles poderiam preferir trabalhar 2200 horas no primeiro ano (eliminando as férias e fazendo horas-extras) e apenas 1800 horas no segundo ano. Substituindo entre os anos, trabalha-se o mesmo tempo total, mas aumenta o rendimento. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 183/236 Nova Macroeconomia: Teoria dos Ciclos Reais de Negócios Note que a substituição intertemporal do lazer não implica que a oferta de trabalho seja sensı́vel a mudanças permanentes no salário. Se o salário subir, e se mantiver mais alto, não há nenhum ganho em trabalhar mais no primeiro ano do que no segundo. Neste caso, os trabalhadores continuariam a trabalhar 2000 horas em cada ano, o que daria uma elasticidade nula (pequena) da oferta de trabalho em relação aos salários. A substituição intertemporal de lazer consegue gerar grandes movimentos na quantidade de trabalho realizado em resposta a pequenas mudanças nos salários. Evidência empı́rica: grandes efeitos no emprego e no produto estão acompanhados de pequenas mudanças nos salários. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 184/236 Nova Macroeconomia: Teoria dos Ciclos Reais de Negócios Legado da teoria RBC: revolução metodológica em macroeconomia (legou o Nobel ao Kydland e Prescott) influenciou bastante a forma pela qual se faz pesquisa em economia. hoje em dia, os principais modelos de RBC já incorporam vários resultados tradicionais, como os efeitos da polı́tica monetária. Muitos economistas não acreditam que substituição intertemporal de lazer é o mecanismo pelo qual o ciclo se propaga. Resposta: modelos Novo-Keynesianos. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 185/236 Nova Macroeconomia: Modelos Novo-Keynesianos A ortodoxia keynesiana dos modelos de OA-DA foi atingida pela introdução das teorias de expectativas racionais e RBC (revolução novo-clássica). Nos modelos RBC, o mercado se ajusta (equilibra) rapidamente. No inı́cio dos anos 80, uma contrarevolução novo-keynesiana surgiu. Modelos novo-keynesianos mantêm a hipótese de racionalidade dos indivı́duos (expectativas racionais), mas os mercados não se equilibram rapidamente. Por que? Preços nem sempre se ajustam rapidamente às mudanças na oferta de moeda! Novo-keynesianos introduzem rigidez de preços nos modelos RBC. Agora, choque de demanda é importante para gerar o ciclo (como no modelo OA-DA). Esses modelos supões concorrência imperfeita, onde os preços podem ser fixados pela firma. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 186/236 Nova Macroeconomia: Modelos Novo-Keynesianos Como microfundamentar a rigidez de preço? Quando a quantidade de moeda aumenta, todas as firmas deveriam ajustar proporcionalmente seus preços, como previsto pelos modelos clássicos. Porém, há custos (“custos de menu”) em reajustar os preços. Esses custos podem ser maiores que a perda de receita em permanecer com o preço “errado”. Interpretações do “custo de menu”: coletar informação, manter os clientes e contratos com fornecedores ou salariais de médio prazo. Frente a uma mudança de preços na economia, as firmas só irão mudar seus próprios preços se os benefı́cios forem maiores que os custos. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 187/236 Nova Macroeconomia: Modelos Novo-Keynesianos Frente a uma mudança de preços na economia, as firmas só irão mudar seus próprios preços se os benefı́cios forem maiores que os custos. O problema desta teoria é que os “custos de menu” são em geral muito pequenos, o que desacreditava este argumento. Mankiw resolve este problema: Mostra que se a firma possui algum poder de mercado, pode ser que o aumento de lucro em ajustar seu preço seja menor que os custos. Na verdade, quando a firma é competitiva, estar com o preço fora do equilı́brio implica grandes prejuı́zos. Mas se a firma enfrentar uma demanda pouco elástica, o lucro é menos sensı́vel à variação de preço e neste caso os custos de menu podem sobressair. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 188/236 Execı́cios Exercı́cio (Prova, 2013): Teorias Macroeconômicas Recentes. a) Em um artigo acadêmico de 1986, Joseph Altonji (economista da Yale University), estimou uma gama de valores para a elasticidade intertemporal da oferta de trabalho entre 0 e 0,35. A partir destes resultados, como um economista novo-keynesiano criticaria o mecanismo de propagação sustentado pela teoria do Ciclo Econômico Real? Observação: interprete a elasticidade intertemporal da oferta de trabalho como a “reação” da oferta de trabalho em relação às variações temporárias do salário real. b) Em um artigo acadêmico de 2004, Mark Bils (economista da University of Rochester) e Peter Klenow (economista da Stanford University), encontraram evidências de que os preços nominais permanecem fixos, no máximo, entre 4,3 e 5,5 meses, enquanto os modelos novo-keynesianos indicariam um perı́odo de 9 a 12 meses. Neste caso, como um economista novo-clássico criticaria o mecanismo de propagação sustentado pela teoria Novo-Keynesiana? Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 189/236 A “Novı́ssima” (?) Macroeconomia Já vimos: 1 Expectativas racionais 2 Passeio aleatório como trajetória para o PIB 3 Teoria dos ciclos econômicos reais 4 Modelos de rigidez de preço novo-keynesianos Crise de 2008/9: itermediação financeira e a macroeconomia. Referência: Woodford (2010). Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 190/236 Intermediação financeira e a macroeconomia Motivação: estabilidade financeira sempre fez parte do estudo da macroeconomia interesse histórico relevantı́ssimo para economias emergentes crise de 2008/9: instabilidade nos intermediários financeiros para entendermos esse fenômeno: um modelo no qual intermediação financeira é importante para alocação de recursos foco: curto-prazo Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 191/236 Reescrevendo o modelo IS-LM Curva de oferta de crédito/empréstimos (LS - “lending supply”): LS(i, Y ) Curva de demanda por crédito/empréstimos (LD - “lending demand”): LD(i, Y ) Equilı́brio no mercado de crédito: Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 192/236 Reescrevendo o modelo IS-LM Qual efeito de um aumento de Y ? Juros i caem. Variando Y , podemos derivar a curva IS (i ↑ e Y ↓). Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 193/236 Reescrevendo o modelo IS-LM Curva IS derivada do mercado de crédito: Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 194/236 Reescrevendo o modelo IS-LM Da curva LM a curva MP: Curva LM: M/P = L(Y , i) . | {z } | {z } oferta demanda E se o instrumento de polı́tica monetária for a taxa de juros i e não a oferta de moeda M? Curva MP: i = R(Y , π) (regra de polı́tica monetária). Dado que o mercado de ativos está em equilı́brio: Mt Pt Pt−1 Mt Pt−1 Pt 1 Mt 1 + πt Pt−1 = L(Yt , it ) = L(Yt , it ) = L(Yt , R(Yt , πt )) Ou seja: FED ajusta M de forma a satisfazer a relação acima. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 195/236 Reescrevendo o modelo IS-LM Curva LM original: M/P = L(Y , i) . | {z } | {z } oferta demanda E se o instrumento de polı́tica monetária for a taxa de juros i e não a oferta de moeda M? O FED ajusta M de forma a manter a seguinte relação: Curva MP: i = R(Y , π) (regra de polı́tica monetária). Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 196/236 Reescrevendo o modelo IS-LM Quando inflação aumenta, curva MP se desloca para esquerda. Varrendo π ↑ e Y ↓, podemos derivar a relação de demanda agregada, que junto com a “curva de Phillips”, πt − πte = λ(Yt − Yn ) determina o equilı́brio nesta economia. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 197/236 Intermediação financeira e a macroeconomia Modelo IS-MP padrão: Queda dos preços nos imóveis justificaria uma queda substancial da demanda agregada? Por um lado, reduz o valor do estoque de imóveis. Por outro lado, também reduz o preço dos imóveis/aluguéis que as pessoas planejavam comprar. No agregado, pode ter algum efeito, mas não deveria ser grande. Curva IS não deveria se deslocar muito. Perdas dos intermediadores financeiros têm efeito significante na economia real? Crises bancárias: depósitos bancários são reduzidos, aumentando a demanda por moeda. Entretanto: o FED aumenta a oferta de moeda, de forma a manter a taxa de juros inalterada. Curva MP não deveria se deslocar. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 198/236 Intermediação financeira e a macroeconomia Problema do modelo IS-MP: omite propriedades essenciais do sistema financeiro, múltiplas taxa de juros, que não são perfeitamente correlacionadas: spread: ω = i b − i s mudanças no spread são indicadores de mudanças na intermediação financeira Como introduzir múltiplas taxas de juros? Intermediação financeira. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 199/236 Intermediação financeira e a macroeconomia Hipótese: poupadores (ou credores) financiam intermediários, que emprestam estes fundos para devedores. Existe uma taxa de juros i s paga aos poupadores, e uma taxa de juros i b cobrada dos devedores. Spread ω = i b − i s vai para a intermediação financeira. Modificação: i s é a taxa de juros relevante para a curva LS e i b é a taxa de juros relevante para a curva LD. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 200/236 Intermediação financeira e a macroeconomia Em equilı́brio: Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 201/236 Intermediação financeira e a macroeconomia O que determina spread ω em equilı́brio? Curva XD (demanda por intermediação): ω ↑, L ↓ Curva XS (oferta por intermediação): ω ↑, L ↑ Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 202/236 Digressão sobre a razão de alavancagem ... Antes de estudarmos os determinantes da intermediação financeira ... Balanço do banco: ativo dı́vida capital Nota: passivo = dı́vida; patrimônio lı́quido = capital. Razão de alavancagem: uma medida que captura o quanto o banco usa de recursos de terceiros para adquirir ativos. Razão de alavancagem definida em Woodford: dı́vida dı́vida = depósitos = ativo = “empréstimos” dı́vida + capital Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 203/236 Digressão sobre a razão de alavancagem ... Digressão sobre a razão de alavancagem: uma medida que captura o quanto o banco usa de recursos de terceiros para adquirir ativos. Definida no texto do Woodford: passivo ativo Definida no capı́tulo 28 do Blanchard: ativo capital Essas medidas são equivalentes? Sim: passivo ativo - capital capital = =1− ativo ativo ativo passivo Ou seja: quando ativo ↑, ativo ↑, e vice-versa. capital Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 204/236 Intermediação financeira e a macroeconomia O que determina spread ω em equilı́brio? Curva XD (demanda por intermediação): ω ↑, L ↓ Curva XS (oferta por intermediação): ω ↑, L ↑ Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 205/236 Intermediação financeira e a macroeconomia O que determina a oferta de intermediação? Possı́vel explicação ... Banco competitivo: toma o spread como dado, e iguala lucro marginal ao custo marginal. ω = lucro marginal = custo marginal Hipótese: É custoso para intermediários gerar empréstimos. Quanto maior os empréstimos, maior o custo marginal de emprestar. Logo: quanto maior ω, maior L. Mas o setor bancário, geralmente, não é competitivo. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 206/236 Intermediação financeira e a macroeconomia O que determina a oferta de intermediação? Outra explicação ... Alavancagem: dı́vida dı́vida = depósitos = ativo = “empréstimos” dı́vida + capital Note que: dado um nı́vel de capital, quanto maior a razão de alavancagem, maior os nı́vel empréstimos. Queremos mostrar que quanto maior o spread, maior a razão de alavancagem. Mas antes ... O que limita a razão de alavancagem? Teoria: Quanto maior a alavancagem, menor o impacto das perdas (defaults ou calotes) nos intermediários. Moral hazard: bancos tendem a fazer empréstimos excessivamente arriscados ou pouco colateralizados. Regulação governamental ou disciplina dos poupadores: requerimento de capital. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 207/236 Intermediação financeira e a macroeconomia Queremos mostrar que quanto maior o spread, maior a razão de alavancagem. Por que? Suponha que o banco invista em um ativo com que tem probabilidade p de não dá retorno. Suponha que os poupadores, ou o regulador, exigem que o banco tenha capital o suficiente para ser solvente em valor esperado: dı́vida(1 + i s ) = (capital + dı́vida)(1 − p)(1 + i b ) alavancagem(1 + i s ) = (1 − p)(1 + i b ) alavancagem = (1 − p) 1 + ib 1 + is Requerimento de capital implica que quanto maior o spread, maior a alavancagem. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 208/236 Intermediação financeira e a macroeconomia Como determinar a IS? Qual é a taxa de juros relevante: i s ou i b ? Alvo da polı́tica monetária: i s . Variando Y ... Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 209/236 Intermediação financeira e a macroeconomia Qual é o efeito de mudanças exógenas em XS? Uma contração da oferta de intermediação financeira, por exemplo. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 210/236 Intermediação financeira e a macroeconomia Qual é o efeito de mudanças exógenas em XS? Uma contração da oferta de intermediação financeira, por exemplo. O spread aumenta e o montante financiado diminui. A taxa de juros i s cai, mas a i b aumenta, deslocando a IS e diminuindo o produto. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 211/236 Intermediação financeira e a macroeconomia Crise 2008/9: Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 212/236 Intermediação financeira e a macroeconomia “The dependence of the supply of intermediation on the capital of intermediaries also introduces an important channel through which additional types of disturbances can affect aggregate activity. Any disturbance that impairs the capital of the banking sector will shift the schedule XS up and to the left, with the effects just discussed. This means that shocks that might seem of only modest significance for the aggregate economy — in terms, say, of the total value of business losses that directly result from the shock — can have substantial aggregate effects if the losses in question happen to be concentrated in highly leveraged intermediaries, who suffer significant reductions in their capital as a result. This was an important reason for the dramatic aggregate effects in 2008-09 of the losses in the U.S. subprime mortgage market.” Woodford (2010). Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 213/236 Intermediação financeira e a macroeconomia “The financial market turmoil in 2007 and 2008 has led to the most severe financial crisis since the Great Depression and threatens to have large repercussions on the real economy. The bursting of the housing bubble forced banks to write down several hundred billion dollars in bad loans caused by mortgage delinquencies. At the same time, the stock market capitalization of the major banks declined by more than twice as much. While the overall mortgage losses are large on an absolute scale, they are still relatively modest compared to the $8 trillion of U.S. stock market wealth lost between October 2007, when the stock market reached an all-time high, and October 2008.” Brunnermeier (2009). Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 214/236 Intermediação financeira e a macroeconomia Lembre que da razão de alavancagem é definida pelo mercado/governo: razão de alavancagem = dı́vida dı́vida = ativo dı́vida + capital Choques que deslocariam a curva XS para cima a equerda: Controles de crédito (Carter, 1980) Choques que diminuem o valor dos ativos dos intermediadores (Bolha imobiliária, 2008). Mudanças na razão de alavancagem exigida (crise de 2008/9) se os acionistas não estiverem dispostos a injetar capital, intermediadores são obrigados a vender ativos e reduzir passivo mas todos os intermediadores financeiros fazem ao mesmo tempo, reduzindo ainda mais o valor dos ativos ciclo reinicia. espiral: mercado congela Contágio entre bancos: redução do valor dos ativos (risco de solvência) de um determiando banco, implica na redução do valor de dos ativos dos seus credores (outros bancos). Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 215/236 Colapso do crédito de 2007/2008 Por que os intermediadores financeiros ficaram vulneráveis a esse tipo de choque? Referência: Brunnermeier (2009). Securitização (collateralized debt obligation - CDO): Faz um portfólio diversificado com vários tipos de empréstimos (hipotecas, cartão de crédito, ...) Fatie este portfólio em diferentes “tranches”, vendidas a investidores com diferentes demandas por risco. A “tranche” mais segura oferece menos juros, mas é a primeira a ser paga conforme os empréstimos são pagos (desenhada de forma a receber AAA). Credit Default Swap (CDS): podia-se comprar um seguro em caso de default. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 216/236 Colapso do crédito de 2007/2008 Por que os intermediadores financeiros ficaram vulneráveis a esse tipo de choque? Referência: Brunnermeier (2009). Shadow banking: “veı́culos fora do balanço” (dos bancos comerciais) emprestavam no longo-prazo mas se financiaram com instrumentos de curto-prazo short-term asset-backed commercial paper - ABCP (pool de hipotecas e outros empréstimos com colateral) descolamento de maturidades: risco de liquidez, se investores parassem de comprar ABCP, não seria possı́vel rolar a dı́vida solução: banco patrocionador oferecia uma linha de crédito (“liquidity backstop”), e portanto, assumia o risco Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 217/236 Colapso do crédito de 2007/2008 Por que os intermediadores financeiros ficaram vulneráveis a esse tipo de choque? Referência: Brunnermeier (2009). Bancos de investimento: crescia o descolamento de maturidades acordos de recompra no curto-prazo (mercado de repo) firma toma emprestado hoje, vendendo um ativo colateralizado e prometendo recomprá-lo numa data seguinte haircut ou margem: parcela do ativo exigida como colateral com o tempo, esses financiamentos ocorriam no overnight bancos de investimentos tinha que rolar suas dı́vidas com frequência diária Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 218/236 Colapso do crédito de 2007/2008 Por que os intermediadores financeiros ficaram vulneráveis a esse tipo de choque? Referência: Brunnermeier (2009). Securitização se tornou extremamente popular: produtos desenhados de acordo com a necessidade de cada investidor risco podia ser diluı́do em muitos participantes taxas de juros menores nos empréstimos securitização permitiu que investidores institucionais (fundos de pensão), restritos a investir em AAA, investissem nestes ativos entretanto, boa parte do risco nunca saiu do sistema bancário arbitragem na regulação e nos “ratings” acordo da Basiléia: 8% dos empréstimos em forma de capital. “veı́culos fora do balanço” permitiam burlar tal requerimento linha de crédito permitia que ABCP tivessem ratings AAA Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 219/236 Colapso do crédito de 2007/2008 Por que os intermediadores financeiros ficaram vulneráveis a esse tipo de choque? Referência: Brunnermeier (2009). Em retrospecto: modelos estatı́sticos deram previsões muito otimistas sobre produtos financeiros estruturados baixo default histórico nas hipotecas queda de preços no setor imobiliário era um fenômeno regional baixa correlação regional nos preços dos imóveis gerou uma percepção positiva em relação aos benefı́cios da diversificação Produtos estrurados receberam ratings favoráveis porque as agências coletavam taxas maiores destes produtos (outro problema de moral hazard) Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 220/236 Colapso do crédito de 2007/2008 Por que os intermediadores financeiros ficaram vulneráveis a esse tipo de choque? Referência: Brunnermeier (2009). Popularidade dos produtos securitizados taxa de juros baixa (crédito barato) empréstimos de qualidade duvidosas aumentaram como risco ia ser repassado, pouco cuidado no monitoramento dos empréstimos (moral hazard) premissa de que não era necessário tomar cuidado, pois os preços dos imóveis subiriam “The trigger for the liquidity crisis was an increase in subprime mortgage defaults, which was first noted in February 2007.” Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 221/236 Colapso do crédito de 2007/2008 “The trigger for the liquidity crisis was an increase in subprime mortgage defaults, which was first noted in February 2007.” Consequências: Ninguém sabia ao certo a exposição ao risco imobiliário dos CDO e ABCP (corrida contra estes ativos) Emprestadores exigiam margens maiores no mercado de REPO Mercados congelaram: preços destes ativos declinaram Capital dos intermediadores reduziu, limitando a capacidade de financiamento Resultado: maior crise depois da grande depressão Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 222/236 Perspectiva histórica GDP REAL EUA: Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 223/236 Implicações para a polı́tica monetária Numa crise financeira, o Banco Central gostaria de deslocar a curva XS para direita e para baixo. “Uncoventional monetary policy”: 1 emprestar aos intermediadores financeiros, requerindo um haircut (ou margem) menor que o mercado 2 “credit easing”: comprar os ativos (por exemplo, ABCP) dos intermediadores financeiros geralmente (mas nem sempre) usado em oposição a “quantitative easing”: comprar de tı́tulos de longa-maturidade do governo 3 Salvar (bail out) ou não os bancos? Caso: Lehman Brothers. Trade-off: combater moral hazard vs. too big to fail Debate atual nos EUA: exit strategy. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 224/236 Implicações para a polı́tica monetária Debate atual nos EUA: exit strategy. Ativos no balanço do FED: Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 225/236 Implicações para a polı́tica monetária Debate atual nos EUA: exit strategy. Reservas do sistema bancário no FED: Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 226/236 Crise 2008/9: visão alternativa Até então: colapso dos preços dos imóveis ⇒ redução na intermediação financeira Visão alternativa: colapso dos preços dos imóveis ⇒ redução na demanda agregada (efeito riqueza negativo) Mian e Sufi (2013): Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 227/236 Crise 2008/9: visão alternativa Até então: colapso dos preços dos imóveis ⇒ redução na intermediação financeira Visão alternativa: colapso dos preços dos imóveis ⇒ redução na demanda agregada (efeito riqueza negativo) Mian, Rao e Sufi (2014): Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 228/236 Crise 2008/9: visão alternativa Até então: colapso dos preços dos imóveis ⇒ redução na intermediação financeira Visão alternativa: colapso dos preços dos imóveis ⇒ redução na demanda agregada (efeito riqueza negativo) Mian e Sufi (2013): Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 229/236 Referências Sugestões de leitura (além dos artigos de Brunnermeier e Woodford): Lo. Reading About the Financial Crisis: A 21-Book Review. Gorton e Metrick. Getting up to Speed on the Financial Crisis: A One-Weekend-Reader’s Guide Livro: Michael Lewis, The Big Short. Livro: Reinhard e Rogoff, This Time Is Different: Eight Centuries of Financial Folly. Sugestões de filmes: Documentário: Inside Job (veja com olhar crı́tico). Ficção: Margin Call / Too Big to Fail. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 230/236 Exercı́cio Exercı́cio (Prova, 2011) Considere o seguinte balanço de um determinado banco: ativos 100 passivos 40 capital 60 Suponha que metade dos ativos são tı́tulos emitidos pelo governo grego. Os passivos são as dı́vidas (depósitos dos clientes, por exemplo) do banco. Finalmente, note que o capital (ou seja, o patrimônio lı́quido) do banco é sempre igual aos ativos menos os passivos. passivos Defina a razão de alavancagem como ativos . Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 231/236 Exercı́cio a) Qual é a razão de alavancagem do banco? Suponha que a Grécia dê um calote integral em sua dı́vida. Qual seria a nova razão de alavancagem do banco imediatamente após o calote? Resposta: Antes do calote: 40/100 = 0.4 Depois do calote: 40/50 = 0.8 Para responder os itens b), c) e d), suponha que os clientes deste banco (ou o governo) exijam que este opere com uma razão de alavancagem de no máximo 0,5. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 232/236 Exercı́cio b) Justifique porque os clientes de um determinado banco (ou o governo) exigiriam uma razão de alavancagem relativamente baixa. Em outras palavras: por que se exije que os bancos usem recursos próprios (ou seja, capital) para investir em ativos? Qualquer uma das respostas abaixo é valida: garantir que o banco seja solvente (ativos ≥ passivos) no caso dos ativos (investimentos, empréstimos, ...) irem mal em outras palavras, garantir que os bancos sejam capazes de absorver perdas sem falir mitigar problemas de moral hazard: ou seja, prover incentivos para que o banco empreste e invista de forma responsável Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 233/236 Exercı́cio c) Suponha que os acionistas do banco e o governo não estejam dispostos a injetar mais capital no banco. Mostre, algebricamente, o que este banco fará para atender a razão de alavancagem exigida após um eventual calote grego? Demonstre, graficamente, o que ocorre com a intermediação financeira, o spread da taxa de juros e o produto. Resposta. Após o calote grego: ativos 50 − x passivos 40 − x capital 10 Dado que o banco não tem como aumentar capital, resta ao banco liquidar seus ativos (empréstimos, investimentos ...) para atender uma razão de alavancagem de 0,5. passivos 40 − x = = 0, 5 ⇒ x = 30. ativos 50 − x Ou seja: o banco reduz a sua escala de operação (reduz a oferta de intermediação financeira). Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 234/236 Exercı́cio Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 235/236 Exercı́cio d) Explique a racionalidade econômica por trás desta fala da Angela Merkel, chanceler alemã, que diante da crise européia atual disse que os alemães e franceses estão dispostos a “fazer o que for necessário para recapitalizar os bancos” (Valor Econômico, 10/10/2011). Obs.: use gráficos se necessário. Resposta: Recapitalizar significa aumentar o capital o que, por sua vez, reduz a razão de alavancagem, mitigando a necessidade de liquidar os ativos dos bancos. A idéia é fazer com que a curva XS’ (oferta de intermediação financeira) não se desloque muito para esquerda, mitigando o impacto negativo sobre o produto. Exercı́cio: Verdadeiro ou Falso? Justifique. De acordo com o modelo em Woodford (2010), uma nova regulação requerendo que o banco reduza a razão de alavancagem desloca a curva XS para baixo, gerando uma expansão da atividade econômica. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 236/236 Exercı́cio Exercı́cio (Prova, 2012): Abaixo seguem alguns excertos de um artigo que saiu no Valor Econômico, no dia 21/11/2012. “O Banco Espı́rito Santo anuncia hoje um aumento de capital de R$ 100 milhões em sua operação no Brasil.” “Com o aporte, o patrimônio lı́quido passará para R$ 664 milhões. O ı́ndice de Basiléia - que mede a capacidade de alavancagem das instituições financeiras - estava abaixo de 13% e ficará perto de 16%.” “Com a injeção de recursos, espera ganhar fôlego para financiar clientes.” Nota: simplificando, o ı́ndice de Basiléia determina quanto de capital (como percentual dos ativos), os bancos reservam para cobrir riscos de seus empréstimos ou problemas operacionais. O mı́nimo exı́gido pelo Banco Central do Brasil é de 11%. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 237/236 Exercı́cio Exercı́cio (Prova, 2012, cont.): a) Explique a lógica destes argumentos utilizando alguma ferramenta teórica e poucas palavras. Obs.: não deixe de mencionar algo sobre alavancagem na resposta. b) Explique, com uso de gráficos, o que ocorrerá com a quantidade de empréstimos, o spread, a taxa de juros ao poupador e o produto nesta economia. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 238/236 Exercı́cio Exercı́cio (Prova, 2013) Intermediação Financeira e Ciclo Econômico. a) Explique detalhadamente, com auxı́lio de gráficos, como um choque adverso sobre a oferta de intermediação financeira induz a uma contração do produto concomitantemente à uma queda da taxa básica de juros da economia. b) Saiu no Valor Econômico do dia 10/06/2013: uma proposta, feita por uma Comissão Parlamentar da Inglaterra, que prevê que “dirigentes de bancos britânicos, que normalmente recebem bônus imediatamente ou após um, dois ou três anos, terão o acesso aos pagamentos barrado por não menos que dez anos.” Esta proposta aumentaria ou reduziria a probabilidade de falência dos bancos? Justifique, com poucas palavras, sua resposta (só serão pontuadas as respostas com justificativas corretas). Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 239/236 Polı́tica Monetária: Armadilha da Liquidez Tópico atual: Armadilha da Liquidez Referência: Blanchard, capı́tulo 22. Motivação: vimos que embora as economias passem por flutuações (recessões e expansões) no curto prazo, o produto tende a voltar para o nı́vel natural no médio prazo. Entretanto, há casos em que o crescimento fica baixo e o desemprego alto por muito tempo. Grande Depressão: de 1931 até 1940, a taxa de desemprego ficou acima de 14% Crise japonesa: de 1992 até 2002, a taxa de crescimento média foi de 1% Perı́odo atual? Como racionalizar estes fatos? Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 240/236 No médio-prazo ... Revisão: por que o produto tende a voltar ao médio-prazo após um choque adverso. Suponha que o produto esteja abaixo do natural Y < Yn , tal que P < Pe Isto, por sua vez, leva a uma diminuição do nı́vel de preços ao longo do tempo. O aumento do estoque real de moeda desloca a curva LM para baixo, levando a uma taxa de juros menor e um produto maior Este processo se repete, tal que a LM se desloque ao longo da IS até que Y = Yn Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 241/236 No médio-prazo ... Graficamente: Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 242/236 No médio-prazo ... Hipótese crucial deste argumento: estoque de moeda é constante. Logo, no médio prazo, o nı́vel de preços é constante (não haverá inflação). O ajuste se dá pela queda no nı́vel de preços, algo que não se observa muito na prática. Entretanto, mesmo em um modelo dinâmico mais rico, no médio prazo, o nı́vel de desemprego é igual ao natural: Suponha que Y < Yn tal que u > un Curva de Phillips: u > un ⇒ πt < π e Com expectativas adaptativas (π e = πt−1 ), a inflação diminui ao longo do tempo Portanto, o crescimento real da moeda é positivo Conclusão: a LM se desloca para baixo, aumentando o produto ... Isto sugere que economias possuem um forte mecanismo interno de estabilização Y < Yn ⇒ u > un ⇒ πt < πt−1 ⇒ cresc. real da moeda ↑⇒ Y ↑ Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 243/236 Crises e Depressões Por que essa teoria não explica a Grande Depressão ou o Japão na década de 90? Propor duas extensões ao modelo IS-LM: o efeito da inflação esperada π e na IS a armadilha da liquidez: taxa de juros nominal não pode ser menor que zero, i ≥ 0. Para a LM: o que importa é taxa de juros nominal i Para a IS: o que importa é taxa de juros real r = i − π e Logo, quando π e cai, a IS se desloca para esquerda Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 244/236 Crises e Depressões: o efeito da inflação esperada π e na IS Ou seja: quando o Y < Yn , temos dois efeitos distintos 1 Redução da inflação, aumentando o estoque real de moeda, o que desloca a curva LM para baixo (direita). 2 Se a diminuição da inflação levar a uma diminuição da inflação esperada Dado uma taxa de juros nominal i, a taxa de juros real r = i − π e aumenta Uma taxa de juros real maior reduz os gastos com investimentos, e o produto cai Conclusão: a IS se desloca para esquerda Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 245/236 Crises e Depressões: o efeito da inflação esperada π e na IS Graficamente: Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 246/236 Crises e Depressões: o efeito da inflação esperada π e na IS Note que o efeito sobre o produto é ambı́guo já que depende da magnitude dos deslocamentos das curvas IS e LM. Mas a taxa de juros nominal necessariamente cai. Considere o seguinte cenário: Economia está em recessão Y < Yn Logo: π e π e caem Se a IS contrai mais que a LM expande: Produto cai Y 0 < Y < Yn Taxa de juros nominal cai Ciclo reinicia Ou seja: a recessão inicial pode se tornar uma depressão profunda, com o produto caindo continuamente. O mecanismo interno de estabilização falha. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 247/236 Polı́tica Monetária: Armadilha da Liquidez Como sair dessa situação? Polı́tica monetária. Basta o BC adotar uma polı́tica monetária expansionista, afim de deslocar a LM suficientemente para baixo. Entretanto: existe um limite para uso da polı́tica monetária. Armadilha da Liquidez: taxa de juros nominal não pode ser menor que zero. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 248/236 Polı́tica Monetária: Armadilha da Liquidez Por que a taxa de juros nominal não pode ser menor que zero? Resposta: quanto menor a taxa de juros nominal, maior a demanda por moeda e menor a demanda por tı́tulos quando a taxa de juros nominal é zero, o agente é indiferente entre reter moedas e tı́tulos a taxa de juros não pode ser menor que zero por uma questão de arbitragem se i < 0, agentes trocariam todos os seus tı́tulos por moeda logo: demanda por tı́tulos < oferta de tı́tulos (desequilı́brio) Por que a taxa de juros real pode ser menor que zero? Resposta: se π e > i, então r = i − π e < 0. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 249/236 Polı́tica Monetária: Armadilha da Liquidez Demanda e oferta por moeda: Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 250/236 Polı́tica Monetária: Armadilha da Liquidez Note: a partir de um determinado ponto, o aumento da oferta de moeda deixa de impactar a taxa de juros. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 251/236 Polı́tica Monetária: Armadilha da Liquidez Armadilha da Liquidez: quando a taxa de juros nominal é igual a zero, a polı́tica monetária expansionista torna-se impotente. As pessoas estão dispostas a reter mais moeda (mais liquidez) à mesma taxa nominal de juros. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 252/236 Polı́tica Monetária: Armadilha da Liquidez Derivando a curva LM: Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 253/236 Polı́tica Monetária: Armadilha da Liquidez Curva LM sob armadilha da liquidez: Para nı́veis baixos de produto, Y < Y 00 no gráfico, a curva LM é horizontal e taxa de juros é igual a zero. Intuição: a taxa de juros nominal não pode ser negativa. Para nı́veis altos de produto, Y > Y 00 , a curva LM é positivamente inclinada. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 254/236 Polı́tica Monetária: Armadilha da Liquidez Na presença da armadilha da liquidez, a polı́tica monetária não consegue trazer o produto de volta para o nı́vel natural Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 255/236 Polı́tica Monetária: Armadilha da Liquidez Resumo: Quando a taxa nominal de juros é igual a zero, a economia cai em uma armadilha da liquidez. O BC pode aumentar a liquidez, mas esta é prontamente retida pelos investidores financeiros a uma taxa de juros inalterada. Dado que a taxa de juros nominal não se mexe, o BC perde sua capacidade de estimular a demanda agregada. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 256/236 Crises e Depressões: Juntando os Mecanismos Juntar os dois mecanismos: 1 o efeito da inflação esperada π e na IS 2 a armadilha da liquidez Sequência de eventos: Suponha que a economia esteja em recessão, Y < Yn Logo, a inflação diminui constantemente, baixando a expectativa de inflação π e A curva IS se desloca para esquerda Se a economia estiver numa armadilha de liquidez, não há nada que polı́tica monetária possa fazer Com o produto ainda menor, o ciclo reinicia ... Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 257/236 Crises e Depressões: Juntando os Mecanismos Graficamente: Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 258/236 Crises e Depressões: Juntando os Mecanismos Economia está em um ciclo vicioso: Produto baixo leva a uma redução nas expectativas de inflação. Uma redução nas expectativas de inflação leva a um aumento da taxa de juros real. Um aumento da taxa de juros real leva a um nı́vel de produto mais baixo. Armadilha da Liquidez: polı́tica monetária é ineficaz para quebrar esse ciclo. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 259/236 Crises e Depressões: Juntando os Mecanismos Debate recente nos EUA: polı́tica monetária convencional pouco eficaz (Armadilha de liquidez). Soluções? Polı́tica monetária não convencional: operações twist, “quantitative easing”, anúncios de uma estimativa para o horizonte em que a taxa de juros permanecerá igual a zero ... Polı́tica fiscal: desenhar um plano de estı́mulo fiscal para economia americana que não comprometa o ajuste fiscal de longo-prazo Tarefa bastante complicada mesmo na ausência de embates polı́ticos. War of attrition: os embates polı́ticos prejudicam bastante a execução desta tarefa. Tópico sobre polı́tica fiscal e dı́vida pública: o ajuste fiscal de longo-prazo é importante. Inflacionar a economia (π e ↑), deslocando a curva IS para direita, visando sair da armadilha. Como? Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 260/236 Crises e Depressões: Juntando os Mecanismos Como gerar expecatativas de inflacão alta (π e ↑)? Problema de incosistência intertemporal. Paul Krugman (1998): “... a liquidity trap fundamentally involves a credibility problem – but it is the inverse of the usual one, in which central bankers have difficulty convincing private agents of their commitment to price stability. In a liquidity trap, the problem is that the markets believe that the central bank will target price stability, given the chance, and hence that any current monetary expansion is merely transitory.” “If the central bank can credibly promise to be irresponsible – that is, convince the market that it will in fact allow prices to rise sufficiently – it can bootstrap the economy out of the trap.” Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 261/236 Exercı́cios Exercı́cio (Prova 2011). Justifique a racionalidade econômica da afirmação abaixo sobre a crise de 2008/9 nos EUA. “The basic advantage of pushing inflation a little higher is that it would make it less likely that we run into the problem of the interest rate hitting zero and the Fed not being able to stimulate the economy if necessary”. Tradução livre: “É vantajoso deixar a inflação rodar um pouco alta, pois assim, seria menos provável que tenhamos uma problema com a taxa de juros atingindo zero e o Fed não sendo capaz de estimular a economia quando necessário.” Laurence Ball, economista da Johns Hopkins University - Bloomberg, 19/05/2009 Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 262/236 Exercı́cios Resposta: como a taxa de juros nominal não pode ser menor que zero (armadilha da liquidez), caso contrário o mercado de tı́tulos não estaria equilibrado, existe um limite natural do que a polı́tica monetária (redução de juros) pode fazer (aqui caberia o uso de um gráfico). Ao deixar a inflação rodando um pouco alta, diminui-se as chances desse cenário ocorrer, já que o FED ainda poderia tentar estimular a economia via taxa de juros real negativa. Exercı́cio (Prova 2011, 2012). Esta questão refere-se a armadilha da liquidez. a) Explique porque a taxa de juros nominal não pode ser negativa. Mostre, graficamente, como fica a curva de demanda por moeda. Derive a curva LM. b) Tomando e expectativa de inflação como dada, use o modelo IS-LM para derivar a demanda agregada neste cenário. Márcio Garcia PUC-Rio Teoria Macroeconômica II 263/236