Morfologia Humana A célula é formada por diversas estruturas, cada uma com suas funções, mas que juntas são responsáveis pelo funcionamento de toda célula. A célula é revestida por uma camada fluida, formada por uma dupla camada de fosfolipídios (os fosfolipídios são sintetizados no REL- retículo endoplasmático liso), proteínas, colesterol e glicoproteínas; essa camada é chamada de MEMBRANA PLASMÁTICA. Sua estrutura molecular é chamada de MOSAICO FLUIDO devido ao fato de suas proteínas integrais flutuarem entre os lipídios, estando em constante movimento. A camada lipídica da membrana é formada pelas moléculas de fosfolipídios, que possuem uma parte hidrofóbica que é a camada interna (apolar) e uma parte hidrofílica (polar) que possui afinidade com a água, ficando nas extremidades da membrana. A membrana plasmática tem como uma de suas funções a regulação da entrada e saída de substancias na célula, através da permeabilidade seletiva. Esse processo tem como critérios o tamanho da substancia (só permite a entrada de substancias menores que os seus poros ou permite a entrada de algumas substancias maiores, porém por englobamento, chamado de endocitose), a carga elétrica desta (os canais positivos permitem a entrada de substancias de cargas negativas, e vice-versa), e o formato (através de seus receptores específicos). Permite a passagem de moléculas necessárias para a sobrevivencia da célula, e principalmente permite o equilíbrio do meio interno da célula, independente de como esteja o meio extracelular. Tem como outras funções a de manter ligações entre as células na constituição dos tecidos; reconhecimento celular através de seus receptores específicos, manter a integridade da estrutura celular, entre outros. O transporte de substancias para dentro e fora da célula pode ser por: -Transporte ativo: Na qual as substancias são transportadas com gasto de energia, esta energia vem da hidrolise do ATP. As moléculas a serem transportadas ligam-se às proteínas da membrana, que gira e libera a molécula para o outro lado da membrana. Exemplo: bomba de sódio e potássio. - Transporte passivo: * Difusão simples, *osmose, *difusão facilitada. *Difusão simples: As pequenas moléculas atravessam a membrana por um processe passivo, dependendo do tamanho da molécula e do grau de solubilidade em lipídios. *Osmose: Há a presença de uma membrana semipermeável separando as duas soluções que possuem concentrações diferentes. A membrana é permeável ao solvente (água) e impermeável ao soluto, ocorrendo a passagem de solvente do meio hipertônico para o meio hipotônico, com a intencionalidade de equilibrar os dois meios. *Difusão facilitada: Processo no qual ocorre à passagem de moléculas para o interior da célula, com uma proteína ligada à membrana (permease) que se liga à molécula transferindo- a para o interior da célula sem gasto de energia. A membrana também pode se comunicar através das captações de sinais, estabelecendo junções comunicantes para possibilitar a troca de íons e de pequenas moléculas, na qual através das junções passam diretamente de uma célula para outra sem atravessar o meio extracelular. As moléculas sinalizadoras participam de três tipos de sinalização: -Sinalização endócrina: Os hormônios chegam à célula alvos transportados pelo sangue. -Sinalização parácrina: As moléculas agem no local e nas células próximas, sendo rapidamente inativadas. Quando esta molécula atua sobre o mesmo tipo celular que a sintetizou ela recebe o nome de sinalização autócrina. -Sinalização sináptica: exclusiva do tecido nervoso, na qual os neurotransmissores agem nas sinapses. Outra estrutura da célula é o retículo endoplasmático, que se apresenta por uma rede intercomunicante de vesículas achatadas, vesículas redondas e túbulos, formada por uma membrana contínua e que delimita a cisterna do RE. Existem dois tipos de RE, o retículo endoplasmático rugoso e o retículo endoplasmático liso. O RER consiste em cisternas saculares ou achatadas, limitadas por uma membrana contínua e uma membrana externa do envelope nuclear. Apresentam polirribossomos na superfície externa da membrana, que confere basofilia (afinidade com básicos) ao RER quando estudados ao microscópio óptico. Participa da síntese de proteínas, que serão enviadas para o exterior das células ou para uso intracelular. Esse tipo de retículo é muito desenvolvido em células com função secretora ( por exemplo das células do pâncreas, que secretam enzimas digestivas). Participa da glicosilação(união) inicial das glicoproteinas, da síntese de fosfolipidios, da síntese das proteinas integrantes da membrana plasmatica e da montagem de proteinas com multiplas cadeias polipeptidicas. A sintese de proteinas, acontece com polirribossomos livres no citosol (líquido que preenche o citoplasma, que compreende microfilamentos de actina, microtubulos, subunidades proteicas do citoesqueleto, miosina,enzimas,e outras moleculas como a glicose,vitaminas e aminoácidos). O RNA mensageiro das proteínas contem uma sequencia adicional de bases que codifica uma sequencia de 20-25 aminoácidos, chamada de sequencia sinal. Essa sequencia interage com um complexo de seis polipeptídeos não-identicos mais uma molécula de RNA 7S, que formam a particula reconhecedora do sinal ,a SRP. Essa partícula inibe a continuação da produção da proteina, até que o complexo SRP polirribossomico se ligue a um receptor da membrana do RER. Na cisterna do RER a sequencia sinal é removida pela enzima Peptidase do sinal; a ligação do SRP ao RER possibilita a continuação da sintese protéica. Nas cisternas do RER ocorrem modificações pós-translacionais (modificações químicas em cadeias proteicas após a tradução), como hidroxilações, glicosilações, sulfatações e fosforilações. As proteínas ali sintetizadas têm vários destinos como, por exemplo, armazenamento intracelular como nos lisossomos e nos grânulos dos leucócitos, armazenamento intracelular provisório para exportação, como no pâncreas e em algumas glândulas endócrinas. Transcrição celular É o processo de formação do RNAm mensageiro a partir da cadeia-molde de DNA. Este tem como função "informar" ao RNAt (RNA transportador) a ordem correta dos aminoácidos a serem sintetizados mais tarde em proteínas, através da tradução desse RNA. O processo é catalisado pela enzima RNA-polimerase. Os fatores de transcrição (auxiliares da RNA-polimerase) são responsáveis por romper as ligações de hidrogênio entre as bases nitrogenadas dos dois filamentos de DNA, como um zíper. A enzima destaca o filamento de RNA formado a partir do DNA e volta a unir as duas cadeias de DNA. O retículo endoplasmático liso não apresenta ribossomos em sua membrana, que é contínua com a do RER. O REL participa de diversos processos funcionais, por exemplo, nas células que produzem esteroides, como a glândula adrenal, ele ocupa grande parte do citoplasma celular, contendo algumas enzimas necessárias para as sínteses destes hormônios. O REL também é abundante nas células do fígado, onde é responsável pelos processos de conjugação e metilação, dos quais as células lançam mão para inativar certos hormônios e neutralizar substancias nociva e toxicas. Outra função importante do REL é a síntese de fosfolipídios para todas as membranas celulares. Apresenta a enzima glicose-6-fosfatase em sua membrana o que permite sua participação da hidrolise do glicogênio, produzindo glicose para o metabolismo energético. Nas células musculares estriadas, o REL chama-se retículo sarcoplasmático, e tem papel no processo de contração muscular e liberar íons cálcio, regulando a contração dos músculos. O complexo de Golgi ou complexo golgiense é uma organela formada por um conjunto de vesículas (dictiossomo) achatadas e ligeiramente curvas, dispostas umas ao lado das outras com as porções laterais dilatadas. Essas vesículas são feitas de membrana dupla lipoproteica (lipídios e proteínas) e dispostas de forma regular, ao contrario do reticulo endoplasmático que é disposto de forma irregular. Possui uma fase cis (convexa,voltada para o núcleo) e uma face trans (côncava,voltava para a membrana plasmática) e uma vesícula mediana. Encontramos o complexo de Golgi entre o RE e a membrana plasmática; geralmente encontramos o complexo de Golgi em uma determinada região do citoplasma, mas podem ser encontrados dispersos no citoplasma como, por exemplo, nas células nervosas. A sua função é de elaborar e armazenar proteínas vindas do RE, podendo também eliminar substancias (ex: enzimas) que irão atuar no meio extracelular (exocitose: processo no qual as substancias atuam fora da célula). Ele completa as modificações pós-tradução, marcando as moléculas sintetizadas e encaminhando- as principalmente para vesículas de secreção (lisossomos ou membrana celular). As proteínas chegam ao complexo de Golgi por vesículas transportadoras do RER, entrando na face CIS, e ai migram para as vesículas medianas e finalmente saem pela face TRANS que origina vesículas secretoras de onde o material deixa o Golgi e depois enviados a membrana plasmática e aos lisossomos. Tem como função também a produção de enzimas digestivas, nas células do pâncreas e estomago, secreção de muco nas células caliciformes do intestino, formação do acrossomo dos espermatozoides e produção de lisossomos. Os lisossomos são vesículas delimitadas por membrana que impede que as enzimas ataquem o citoplasma, contem mais de quarenta enzimas hidrolíticas com a função de digestão intracitoplasmática. Estão presentes em todas as células, porém mais abundantes nas fagocitárias. As enzimas dos lisossomos tem atividade máxima em pH 5 e variam de célula para célula, sendo as mais frequentes: fosfatases ácida,lipases e betaglicuronidase. As enzimas dos lisossomos são segregadas no RER e transportadas ao complexo de Golgi,onde existe proteínas, como a mamose fosforilada,possibilitando que as enzimas destinadas ao lisossomos sejam separadas das outras proteínas. No complexo de Golgi as enzimas serão modificadas e empacotadas em vesículas que constituem os lisossomos primários. Os lisossomos primários são lisossomos que ainda não estão participando de processo digestivo. Os lisossomos secundários são formados a partir da fundição do lisossomo primário com o fagossomo, misturando assim as enzimas dos lisossomos com o material a ser digerido. Os catabólitos originados da digestão intralisossomal atravessa a membrana e entram no citosol, onde serão utilizados no metabolismo celular. Em alguns casos restos de material não digerido podem permanecer no lisossomo, formando corpos residuais, que podem ser eliminados do citoplasma; quando ocorre o acumulo destes corpos residuais nas células nervosas e musculares, formam os glanulos de lipofuscina. Quando os lisossomos secundários recebem o nome de autofagossomo é porque participaram da renovação de organelas, digerindo organelas da própria célula, que estavam velhas. Estão mais presentes nas células glandulares, que acumulam excesso de glanulos de secreção, nas células em atrofia, etc. Em alguns casos os lisossomos são eliminados da célula para que suas enzimas ajam sobre o meio extracelular. Já os proteassomos, organelas recentemente descobertas, também ajudam na função de limpeza celular, porém este complexo de proteases digerem proteínas que estão marcadas pela ubiquitina. Essa degradação se torna necessária para remover o excesso de enzimas e proteínas, quando estas se tornam inúteis á célula ou quando estão codificadas por vírus, o que daria origem a milhares de outros vírus. Apresentam a forma de um barril sobreposto por quatro anéis, e uma partícula reguladora que funciona como uma tampa. Essa partícula reguladora possui a ATPase, que desenrola a molécula proteica,quando esta é reconhecida devido à presença de ubiquitina que se liga a um resíduo de lisina na proteína a ser degradada. As ubiquitinas depois de utilizadas voltam para o citosol para serem usadas novamente. Os peroxissomos são organelas esféricas, limitadas por membrana, utilizam grande quantidade de oxigênio, porem não produzem ATP. Oxidam substratos orgânicos específicos, retirando átomos de hidrogênio e combinando-os com O2; essa reação produz peróxido de hidrogênio, mais conhecido como água oxigenada. Esta substancia é toxica para célula por isso logo que formadas são degradadas pela enzima catalase, também presente nos peroxissomos. Os peroxissomos apresenta uma abundancia de enzimas, as mais abundantes nos humanos são: urato oxidase, D- aminoácido oxidase e catalase. O ciclo da β- oxidação ocorre nos peroxissomos e nas mitocôndrias, neste ciclo fragmentos com dois átomos de carbono são removidos sequencialmente dos ácidos graxos de cadeia longa, para a formação de acetilcoenzima A que é exportado para o citosol. O acetil-coenzima A é utilizado em varias reações de síntese (síntese de ácidos biliares e de colesterol, por exemplo) e pode ser usado nas mitocôndrias para fornecer energia. As enzimas dos peroxissomos são sintetizadas por polirribossomos livres no citosol, são marcadas por uma sequencia de aminoácidos localizados próximos à extremidade carboxílica da enzima, funcionando como um sinal;os peroxissomos reconhecem esse sinal e englobam as enzimas destinadas a ele. Os peroxissomos se dividem por fissão. As mitocôndrias são organelas esféricas ou alongadas, que possuem a função de transformar energia química contida nos metabólicos citoplasmáticos em energia utilizável pela célula. Essa transformação consiste em 50% para armazenar ligações de fosfato de ATP e os outros 50 % para a manutenção da temperatura corporal. Dentro das mitocôndrias encontramos as cristas mitocondriais, a matriz mitocondrial e o citosol, onde são degradadas inicialmente moléculas como proteínas, lipídios e etc. É também na mitocôndria que acontece o ciclo de Krebs, que produz inicialmente o ácido cítrico. Nesse ciclo acontece varias reações de descarboxilação, que produzem CO2 e quatro pares de H+ que são removidos por reações específicas catalisadas por desidrogenase. Os íons H+ reagem com o oxigênio, gerando H2O. O sistema transportador de elétrons libera a energia que é capturada para a formação de ATP. Nas cristas mitocondriais encontramos o DNA, o RNA, proteínas e uma matriz amorfa onde estes componentes se localizam. Essa matriz é importante no processo de β- oxidação dos ácidos graxos e na regulação de enzimas. O DNA desta organela apresenta filamentos duplos e circulares, já o RNA se apresenta de três formas, sendo elas: RNA ribossomal (RNAr), RNA mensageiro (RNAm), RNA transportador (RNAt). A reprodução da mitocôndria acontece por mitose, onde cada célula mãe origina duas células- filhas. Os ribossomos são organelas celulares presentes em todo o citoplasma de células eucarióticas e procarióticos e também aderidos ao RER. Participam da síntese celular, essas estruturas permanecem agrupadas ao filamento do RNAm formando os polissomos. São formados a partir de duas subunidades de tamanhos diferentes: uma maior e outra menor, visíveis ao microscópio eletrônico. São originados da combinação de ácido nucleico ribossomal (RNAr) a uma enorme quantidade de proteínas, cerca de 50 tipos diferentes. O ribossomo só funciona quando suas subunidades de juntam. Na subunidade maior temos dois sítios: um A (aminoacil) e outro P (peptidil) receptivos ao RNAt (substancia carregadora dos aminoácidos). O núcleo é o ultimo centro de controle da célula, incluindo a tradução. Na cromatina a informação necessária para a síntese de proteínas é codificada no DNA, cada segmento do DNA é chamado de GENE. Esta informação contida no gene é copiada para uma molécula de RNAm, que é depois transportada para o citoplasma. No citoplasma as moléculas de RNAm é usada pelos ribossomos como moldes para a síntese proteica. O DNA total contem todos os códigos necessários para a formação de milhares de proteínas diferentes. No citoplasma um ribossomo move-se ao longo do RNAm lendo o códon para realizar a montagem da proteína,enquanto ele se move vai reunindo os aminoácidos em uma cadeia polipeptídica que se alonga gradualmente.No códon final da sequencia a tradução para e as subunidades do ribossomo se separam e a proteína completa é liberada. O RNAt funciona como um ‘’ dicionário’’ no processo de tradução, ele reconhece cada um dos 20 aminoácidos que são usados na síntese proteica,ligando cada trinca de bases (códon) ao RNAm. As enzimas são produzidas nos ribossomos do RER e de lá vão para o complexo de Golgi onde serão agrupadas e finalmente expelidas da célula. Os ribossomos não apresentam membrana e podem ser encontrados em fila com a ajuda de uma fita de RN A, formando o polirribossomo, ou podem estar espalhados no citoplasma ou no RER, quando um conjunto de ribossomos atuam no RNAm chamamos de polirribossomos. O processo de tradução realizado pelo ribossomo se divide em três estágios: o inicial (codificado pelo códon AUG), o estagio de alongamento (acréscimo de aminoácidos por ligações peptídicas) e o estágio terminal (codificado por um códon de parada). O Citoesqueleto é formado por vários tipos de fibras de proteínas que cruzam a célula em diversas direções, dando-lhe consistência e firmeza. Esta estrutura é importante se lembrarmos de que a célula animal é desprovida de uma membrana rígida. Os microfilamentos de actina, os microtubulos e os filamentos intermediários formam estas fibras proteicas que formam o citoesqueleto. O citoesqueleto tem a função de sustentar, manter a forma e a movimentação de organelas. Os microtubulos são dímeros (dois anéis) de tubulina cada um com treze protofilamentos, responsáveis pela divisão celular e pela formação de cílios, flagelos e centríolos. Os microfilamentos são formados por actina, possuem a função de movimentação que é devido à associação contrátil com a miosina. Os movimentos celulares podem ocorrer por ação do citoesqueleto, diferenças de viscosidade no citoplasma ou por sistemas contrateis intracelulares. Estão relacionados com os cílios, flagelos, pseudopodes, ciclose, sarcomeros. Os cílios e os flagelos tem função de defesa, nutrição e movimentação, surgem a partir da diferenciação de centríolos que migram ate a membrana plasmática, são formados por nove pares periféricos de microtubulos e uma central. A base de fixação dos cílios e dos flagelos na membrana é as proteínas que funcionam como motores. Já o flagelo bacteriano é formado por proteína flagelina, não tendo nenhuma relação com os centríolos. Os movimentos ameboides ocorrem nas amebas e leucócitos, ocorrem por diferença de viscosidade ou movimentos contrátil dos microfilamentos. A contração celular dos sarcomeros promovem os movimentos peristálticos, os batimentos cardíacos, etc. Ciclose é uma corrente orientada de circulação de matéria gerada no citoplasma por ação de microfilamentos. Usualmente o citoplasma contem depósitos transitórios, constituído de reserva de nutrientes ou outras substancias. Gotícula de lipídios, principais reserva energéticas são frequentes e abundantes nas células do tecido adiposo, nas da camada cortical da glândula adrenal e nas células do fígado. Depósitos de hidratos de carbono sob a forma de grânulos de glicogênio (reserva energética) também são frequentes na maioria das células. Depósitos de pigmentos também são encontrados como a melanina, o caroteno (abundante na epiderme e na camada pigmentar da retina sob a forma de grânulos envolvidos por membrana). Lipofuscina é um pigmento pardo que aumenta nas células com a idade, os grânulos de lipofuscina são constituídos por substancias que não foram digeridas pelos lisossomos. Estão presentes principalmente nas células que não se renovam como os neurônios e o músculo cardíaco. Todos estes tipos de depósitos são chamados de depósitos citoplasmáticos. O citosol ou citomatriz é formado por microfilamentos de actina, microtubulos, subunidades proteicas desses componentes do citoesqueleto, miosina, enzimas e outras moléculas, como glicose, vitaminas e aminoácidos, alem de água e íons. Um componente importante do citosol são as proteínas motoras que participam do transporte intracelular de organelas e vesículas. O citosol fornece substrato para a organização de moléculas enzimáticas que funcionam melhor quando ordenadas do que dispostas ao acaso (quando dependeriam de colisões esporádicas com os substratos). No citosol se localizam milhares de enzimas que produzem muitos tipos de moléculas, bem comoa ruptura de moléculas energéticas para gerar ATP pela via glicolítica (anaeróbica). Alem disso, toda maquinaria para a síntese proteica, como o RNAr, RNAm, RNAt, enzimas e outros fatores estão contidos no citosol. Via endocítica A via endocítica é também chamada de endocitose, que vem do latim ENDO "dentro" e CITO de "célula" e SE de "síntese, digestão’’, portanto é a digestão celular, podendo ocorrer de três formas: * Fagocitose, que consiste na ingestão de partículas grandes ou células através de expansões citoplasmáticas chamadas pseudópodos; * Pinocitose, que é o processo contínuo de ingestão de fluídos e moléculas por meio de pequenas vesículas;apresentando a ultima fase da via endocítica nos lisossomos. * Endocitose mediada por um receptor , que consiste na ligação duma molécula extracelular a um receptor na membrana celular. Estes receptores, igualmente constituintes da membrana, estão muitas vezes associados à proteína do citoplasma denominada clatrina que forma uma depressão na membrana; quando um receptor se liga a uma molécula, a depressão aumenta até se transformar num vacúolo rodeado de clatrina, que entra na célula. O brotamento de membranas mediado por clatrina é usado para transporte de lipídeos e proteínas da membrana plasmática e da rede trans-Golgi. Nos terminais nervosos, este processo faz parte da reciclagem de vesículas sinápticas após liberação do neurotransmissor. A endocitose mediada por clatrina depende de dois grupos de proteínas: as que compreendem a depressão formando o revestimento da vesícula e um outro grupo que é um arranjo de outras proteínas frequentemente referidas como proteínas acessórias. Muitas destas proteínas têm sido agora caracterizadas em sua estrutura cristalizada e suas interações com outras proteínas e fosfolipídios de membrana. O bloco de construção básico da depressão revestida é a clatrina. Ela consiste de uma estrutura de 3 eixos (tríqueto), sendo que cada eixo ou perna contém uma cadeia leve e uma cadeia pesada de clatrina. Os tríquetos se reúnem para formar uma gaiola de hexágonos e pentágonos que se anexa à membrana plasmática via uma proteína adaptadora tetramérica (complexo AP2) (figura 1). A depressão também contém uma forma específica de neurônio de uma proteína adaptadora monomérica, AP180, que pode estimular a montagem da clatrina e que parece ser crítica para a geração de vesículas sinápticas com um tamanho homogêneo. A formação de uma depressão revestida endocítica parece começar com a ligação da AP2 à membrana. Um receptor de membrana candidato para AP2 é a proteína de vesícula sináptica sinaptotagmina que se liga a AP2 via um de seus domínios citoplasmáticos C2. Via um distinto sítio de ligação, AP2 também se liga a motivos baseados em tirosina que são conhecidos como sinais de direcionamento no contexto da endocitose mediada por receptor e que ocorre em proteínas de vesículas sinápticas. A formação da depressão revestida também envolve interações entre proteínas de revestimento e fosfolípides de membrana. Fosfoinositídeos parecem ter particular importância. Por exemplo, a membrana plasmática alvo da AP2 depende de seu sítio de ligação a fosfoinositídeos e a estimulação da síntese de fosfoinositídeos pode acentuar a formação da depressão revestida enquanto o encobrimento dos fosfoinositídeos pela superexpressão de proteínas ligadoras de fosfoinositídeos tem um efeito inibidor. A formação da depressão revestida por clatrina pode também ser acentuada pela Dfosfolipase que pode estar parcialmente envolvida na estimulação da síntese de fosfoinositídeos. A DFosfolipase foi encontrada adicionalmente acentuando a estimulação da ligação sinaptotagmina-AP2 pelos motivos baseados em tirosina, sugerindo uma possível cooperatividade entre a sinalização lipídica e as interações proteína-proteína. Entre as proteínas acessórias a dinamina tem sido até aqui a mais estudada. Ela foi originalmente ligada à endocitose através de uma Drosophila mutante sensível à temperatura (shibire) em que a endocitose é bloqueada numa temperatura restritiva. A dinamina é uma proteína multi domínio com um domínio GTPase, um domínio homólogo à pleckstrina ligadora de fosfolípides (PH) e um, então conhecido, domínio efetor GTPase (GED). O C-terminal consiste de um domínio rico em prolina (PRD) que interage com domínios homólogos à src (SH3) de outras proteínas acessórias incluindo anfifisina, endofilina, dap 160/intersectina e sindapina/pacsina. A dinamina tem uma tendência a se reunir em tetrâmeros que podem se polimerizar em estruturas tipo anel. A estrutura dos polímeros da dinamina é alterada por hidrólise de GTP que pode até causar vesiculação de túbulos lipídicos. Duas das proteínas acessórias, sinaptojanina e endofilina têm sido encontradas atuando como enzimas metabolizadoras de lipídeos. Sinaptojanina é uma polifosfoinositídeo fosfatase que desfosforila fosfoinositídeos nas posições 3, 4 e 5 do anel inositol e ela pode então regular interações de proteínas endocíticas com a membrana plasmática. Endofilina atua como uma ácido lisofosfatídico acil transferase (LPAAT) pela conversão de ácido lisofosfatídico em ácido fosfatídico, a endofilina pode alterar as propriedades biofísicas da bicamada lipídica. Algumas proteínas acessórias têm sido mostradas por interagirem com proteínas reguladoras de actina. Por exemplo, dinamina se liga a profilina e sindapina/pacsina se liga a N-WASP. Figura 1: Diagrama de proteínas implicadas na endocitose de vesículas sinápticas mediado por clatrina. A clatrina ocorre como um tríqueto consistindo de três cadeias pesadas e leves da clatrina. Os tríquetos se reúnem em uma gaiola de pentágonos e hexágonos que são conectados à membrana plasmática via um complexo adaptador AP2. O domínio aminoterminal da cadeia pesada da clatrina (N) se liga ao domínio dobradiça (hinge) nas subunidades a 2 e b 2 da AP2. O domínio orelha (ou apêndice) da AP2 interage com um número de proteínas incluindo AP180, Eps 15, anfifisina e auxilina. AP2 interage com sinaptotagmina, com motivos baseados em tirosina via a subunidade m 2 e com fosfoinositídeos via a subunidade a 2. AP180 é uma proteína tipo adaptadora monomérica que interage com AP2 e estimula a montagem da rede de clatrina. AP180 também interage com fosfoinositídeos. As proteínas remanescentes (acessórias) não são usualmente detectáveis em preparações de vesículas revestidas por clatrina; Isto sugere que elas interagem transientemente com a rede de clatrina. Apenas uma forma está representada, embora existam múltiplas isoformas. Cada proteína está representada pelas caixas indicando o tamanho aproximado dos diferentes domínios. Os domínios com atividade enzimática incluem o domínio GTPase na dinamina e os domínios homólogos a 5fosfatase e Sac1 da sinaptojanina. A atividade LPAAT da endofilina é provável residir na região aminoterminal conservada da proteína. Domínios moduladores mediando às interações proteín-proteína incluem os domínios SH3 que interagem com sítios de ligação distintos dentro de domínios ricos em prolina (PRD) e domínios EH que interagem com motivos NPF (Asn-Pro-Phe). Múltiplas repetições NPF ocorrem no C-terminal da epsina. As repetições NPF estão também presentes na sindapina e dentro de uma isoforma da sinaptojanina. ENTH indica um novo domínio denominado domínio homólogo à epsina n-terminal. CC indica domínios coiled-coil que podem estar envolvidos em heteromerização. Sítios de ligação distintos para AP2 e clatrina estão presentes na anfifilina e Eps 15 LOCALIZAÇÃO DA ENDOCITOSE MEDIADA POR CLATRINA NAS SINAPSES As proteínas mencionadas acima são altamente concentradas nos terminais nervosos. Estudos de terminais em Drosophila e lampréia indicam que, dentro de um terminal, diferentes proteínas endocíticas estão enriquecidas na região da membrana plasmática, rodeando a zona ativa. Esta região parece definir uma “zona endocítica" que tipicamente se estende cerca de um mícron da extremidade da zona ativa. A polimerização da actina pode ser induzida nesta região pela ativação da GTPase com GTPg S. A proteína ativadora de GTPase tipo rho tem sido localizada nesta zona. A depressão revestida por clatrina aparece na zona endocítica logo após a exocitose, sugerindo que a membrana da vesícula sináptica e seus componentes proteicos rapidamente se movem para esta região. O alvo da formação da depressão revestida por clatrina para a zona endocítica não é, entretanto, absoluto, como as depressões revestidas podem ocasionalmente ocorrer dentro da zona ativa. Seu número pode aumentar após manipulações que causam deleção maciça das vesículas sinápticas, sugerindo que a vesículas sinápticas ancoradas podem limitar a formação de depressões revestidas na zona ativa. A extensão da zona endocítica na membrana plasmática não parece ser fixa. Após certas manipulações que inibem a endocitose, as vesículas revestidas podem ocorrer em uma área que se estende diversos mícrons da zona ativa. Depressões revestidas por clatrina podem também aparecer em invaginações da membrana plasmática que ocorrem após inibição da endocitose. Neste caso, suas características podem diferir daquelas formadas em uma zona endocítica intacta, consistente com uma especialização funcional da zona endocítica intacta. A zona endocítica sináptica pode corresponder a hot spots identificados na membrana plasmática de células não neuronais. INÍCIO DA ENDOCITOSE A endocitose de vesículas sinápticas mediada por clatrina é normalmente acoplada a exocitose, mas os dois processos podem ser separados experimentalmente. O início da formação da depressão revestida requer cálcio (baixas concentrações micromolares são suficientes), mas o influxo evocado não é necessário. Este processo parece também depender de ATP, a queda dos níveis de ATP causa deleção de vesículas e o aparecimento de invaginações na membrana plasmática. Em contraste, a formação da depressão revestida in vitro não é dependente de ATP. Após a adição de cálcio, estágios sequenciais da formação da depressão podem ser identificados pela sua relativa abundância em diferentes pontos no tempo (figura 2). O primeiro estágio consiste de uma porção da membrana revestida com uma leve curvatura. O segundo estágio é uma vesícula revestida invaginada com uma ampla base. O terceiro estágio é uma vesícula revestida invaginada com um estreito pescoço. Uma estrutura tipo anel é ocasionalmente vista em volta do pescoço estreito que define um quarto estágio embora sua baixa abundância torne a localização na sequencia um tanto incerta. O próximo estágio é provável ser representado por uma vesícula revestida livre, mas, este estágio parece ser muito transiente. INTERMEDIÁRIOS NA FORMAÇÃO DA DEPRESSÃO REVESTIDA: INVAGINAÇÃO DA MEMBRANA REVESTIDA Estudos de microinjeções em sinapse gigante de lampréia sugerem que as proteínas da depressão revestida não podem sozinhas gerar uma depressão revestida invaginada, mas fatores acessórios, incluindo endofilina, parecem ser requeridos. Após microinjeção pré-sináptica de anticorpos anti-endofilina, a estimulação causa deleção das vesículas sinápticas juntamente com uma maciça acumulação de vesículas revestidas superficiais (shallow) na zona endocítica . In vitro, a formação de depressões revestidas a partir do citosol do cérebro não é afetada pela imunodeleção de endofilina, indicando que ela atua na membrana, mais propriamente na montagem da depressão. Uma possibilidade é que a conversão de ácido lisofasfatídico a ácido fosfatídico pela endofilina promove a geração de uma curvatura de membrana negativa nas extremidades da depressão revestida. Schmidt et al apontam que a atividade LPAAT pode também induzir outros efeitos tal com um metabolismo de fosfoinositídeos alterado. A importância geral da composição da membrana plasmática para invaginação da depressão revestida tem sido apoiada pelos achados que a deleção de colesterol inibe este processo. A tensão de superfície da membrana plasmática é outro fator potencialmente importante que pode ser indiretamente influenciado pela endofilina, talvez via o citoesqueleto. Ademais, parceiros de ligação do domínio SH3 da endofilina, incluindo dinamina e sinaptojanina poderiam estar envolvidos. ESTREITANDO A REGIÃO DO PESCOÇO O processo subsequente à invaginação - estreitamento do pescoço da depressão revestida invaginada, parece também depender de mecanismos extrínsecos para o revestimento de clatrina. A microinjeção de toxinas para actina pode aumentar a quantidade de depressões revestidas com um grande pescoço em sinapses estimuladas. A ruptura da actina tem sido proposta por afetar a formação de depressões revestidas de clatrina na membrana plasmática de outros tipos de células, mas os efeitos são variáveis e o exato papel da actina na formação de depressões revestidas permanece obscuro. Um envolvimento geral da actina na endocitose tem, entretanto, sido suportada por estudos de imagem da actina acoplada a GFP (Green fluorescent protein) em células tronco , que indicam que a polimerização da actina ocorre nas invaginações da membrana endocítica emergentes. A polimeração da actina na zona endocítica das sinapses parece estar acoplada com a atividade sináptica, possivelmente através da sinalização via GTPases e fosfoinositideos. Ambos os tipos de sinal podem regular a polimerização da actina mediada por N-WASP/asp 2,3. FISSÃO A fissão do pescoço da depressão revestida é sensível a uma variedade de perturbações. Em terminais nervosos do mutante shibire, depressões endocíticas invaginadas com um pescoço estreito rodeado por um anel eletron-denso se acumulam em uma temperatura restritiva. A localização da mutação de shibire para o domínio GTPase da dinamina junto com as observações que a hidrólise de GTP pode alterar a estrutura do polímero de dinamina, sugerindo que hidrólise de GTP pela dinamina pode conduzir à fissão. Entretanto, recentes estudos da dinamina discutem contra este modelo. O GED da dinamina parece mediar o aumento da atividade GTPase que ocorre durante a oligomerização. Quando a estimulação da atividade GTPase é perturbada por mutações em GED, a endocitose mediada por receptor encontra-se acentuada ao invés de inibida. Enquanto esta descoberta não explica o papel da atividade GTPase da dinamina, ela mostra que a atividade GTPase não é razão limitante para a endocitose. É possível que a dinamina, como as GTPases convencionais, atue como um regulador que interage com efetores downstream no seu estado ligado a GTP. Um outro intermediário relatado à dinamina – uma depressão revestida de clatrina com um pescoço alongado rodeado por múltiplos anéis eletron-densos, pode estar aprisionado com GTPg s, o análogo de GTP lentamente hidrolisável. Este intermediário foi primeiro observado in vitro, mas ele também ocorre em sinapses estimuladas depois da microinjeção de GTPg s. Embora os mecanismos subjacentes à indução deste intermediário sejam incertos (outras GTPases que a dinamina podem estar envolvidos), têm-se fornecido insight sobre a composição da maquinária de fissão. Estudos imunocitoquímicos sugerem que os anéis dependentes de GTPg s contêm ambos dinamina, amfifisina e endofilina. A interação entre dinamina e amfifisina parece ser essencial para a fissão, como a microinjeção de proteínas ou peptídeos que inibem esta interação causa deleção de vesícula sináptica juntamente com uma acumulação maciça de depressões revestidas invaginadas com pescoços estreitos. Anéis eletron-densos não são vistos após esta perturbação, indicando que interações do domínio SH3 contribuem para a formação do anel. Um aprisionamento depressões revestidas invaginada, intensamente similares, pode ocorrer também após perturbação da endofilina. Em estudos de injeção de anticorpos discutido acima, invaginações da membrana plasmática algumas vezes são estendidas para fora da zona endocítica. A localização destas invaginações mostram que elas algumas vezes contêm depressões revestidas invaginadas com pescoço estreitos diferindo das depressões revestidas superficiais (shallow) na zona endocítica. Estas observações parecem convergir com os estudos de formação de vesícula tipo sináptica em células permeabilizadas PC12. Neste ensaio, ambas endofilina e dinamina são requeridas para a formação da vesícula. Endofilina é somente ativa quando seu domínio SH3 está intacto, consistente com o papel das interações dinamina-endofilina na fissão. Esta possibilidade, entretanto, permanece a ser testada experimentalmente. A formação de vesícula in vitro foi também observada por ser sensível a tratamentos interferindo com o metabolismo de lipídeos catalisado pela atividade LPAAT. A proteína de tráfego no Golgi CtBP/BARS (carboxy-terminal-binding protein/brefeldin A-ADP-ribosylated substrate) tem também sido mostra possuir atividade LPAAT. Túbulos de Golgi incubados com concentrações crescentes de CtBP/BARS exibem um aumento da ocorrência de invaginações que parecem proceder à vesiculação. Assim, estudos recentes indicam que a fissão de depressões revestidas de clatrina depende de uma ação coordenada de um conjunto de proteínas que inclui dinamina, anfifisina, endofilina e talvez outras. A sequencia exata de eventos durante a fissão permanece por ser elucidada. PERDA DO REVESTIMENTO Ainda não tem sido possível traçar a via exata da vesícula endocítica depois que foi deixada na membrana plasmática na zona endocítica. Mais provavelmente, uma rápida perda do revestimento ocorre, já que vesículas revestidas livres são raramente vistas em sinapses estimuladas. A reação de perda de revestimento envolve dissociação do revestimento de clatrina pela proteína ATPase e auxilina. Sinaptojanina 1 tem também sido proposta como uma proteína que contribui para a perda do revestimento. TRANSPORTE DE VESÍCULAS RECÉM-RECUPERADAS A recente vesícula endocíticas sem revestimento pode retornar diretamente para o sítio de liberação como vesículas sinápticas totalmente funcional, ou pode passar através de um passo de fusão e brotamento secundário. Enquanto evidência para a formação de vesícula sináptica de ambos compartimentos endossomal e de membrana plasmática têm sido obtidos, o passo de brotamento tem recentemente sido favorecido com principal rota fisiológica. O transporte baseado em actina tem sido implicado no transporte de vesículas endocíticas em outros tipos celulares e isto pode desempenhar um papel similar no transporte de vesículas sinápticas entre a zona endocítica e o cluster de vesículas sinápticas.