as cincias socias e humanas

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AS CIÊNCIAS SOCIAS E HUMANAS: CARACTERÍSTICAS E ABRANGÊNCIAS
Disciplina que se distingue das demais ciências sociais pela abrangência de seu
objeto, a sociologia busca conhecer, mediante métodos científicos, a totalidade
da realidade social como tal, sem proposta de transformação.
Sociologia é a ciência que estuda a natureza, causas e efeitos das relações que se
estabelecem entre os indivíduos organizados em sociedade. Assim, o objeto da
sociologia são as relações sociais, as transformações por que passam essas
relações, como também as estruturas, instituições e costumes que têm origem
nelas. A abordagem sociológica das relações entre os indivíduos distingue-se da
abordagem biológica, psicológica, econômica e política dessas relações. Seu
interesse focaliza-se no todo das interações sociais e não em apenas um de seus
aspectos, cada um dos quais constitui o domínio de uma ciência social
específica. As preocupações de ordem normativa são estranhas à sociologia e
não lhe cabe a aplicação de soluções para problemas sociais ou a
responsabilidade pelas reformas, planejamento ou adoção de medidas que
visem à transformação das condições sociais.
Vários obstáculos impediram a constituição da sociologia como ciência, desde
que ela surgiu, no século XIX. Entre os mais importantes citam-se a inexistência
de terminologia clara e precisa; a tendência a subjetivar os fatos sociais; a
multiplicidade de temas de seu interesse e aplicação; as afinidades partilhadas
com outras ciências sociais; a dificuldade de experimentação, já que os
elementos com que lida são seres humanos; e a proliferação de métodos,
técnicas e escolas que tentaram elaborar uma teoria sociológica unificada como
instrumento adequado de análise, descrição e interpretação dos fenômenos
sociais.
Antecedentes
O interesse pelos fenômenos sociais já existia na Grécia antiga, onde foram
estudados pelos sofistas. Os filósofos gregos, porém, não elaboraram uma
ciência sociológica autônoma, já que subordinaram os fatos sociais a exigências
éticas e didáticas. Assim, a contribuição grega à sociologia foi apenas indireta.
Um pensamento social existiu na Idade Média, mas sob uma forma nãosistemática de raciocínio e análise dos fenômenos sociais, pois se baseava na
especulação e não na investigação objetiva dos fatos. Além disso, nesse período
anulou-se a distinção entre as leis da natureza e as leis humanas e impôs-se a
concepção da ordem natural e social como decorrência da vontade divina, que
não seria passível de transformação. Assim, eivado de conotações ideológicas,
éticas e religiosas, o pensamento social medieval pouco evoluiu.
As profundas modificações econômicas, sociais e políticas ocorridas na
sociedade européia nos séculos XVIII e XIX, em decorrência da revolução
industrial, permitiram o surgimento do capitalismo e libertaram pensamento
dos dogmas medievais. Assim, as ciências naturais e humanas fizeram rápidos
progressos.
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Os principais antecedentes da sociologia são a filosofia política, a filosofia da
história, as teorias biológicas da evolução e os movimentos pelas reformas
sociais e políticas, que ensaiaram um levantamento das condições sociais
vigentes na época. Nos primórdios da sociologia, foram mais influentes a
filosofia da história e os movimentos reformistas.
A história permitiu o acesso ao conhecimento de dados objetivos sobre a
sociedade, acumulados ao longo do tempo. Além disso, a evolução da
historiografia contribuiu em parte para o aperfeiçoamento dos métodos
empíricos de compilação de dados e a análise dos fatos sociais. Em relação aos
movimentos reformistas, a sociologia partilhou com eles sua preocupação com
os problemas sociais e não mais aceitou como fato natural condições como a
pobreza, seqüela da industrialização. Incorporou também os procedimentos dos
reformistas, que se basearam nos métodos das ciências naturais para fazer
levantamentos sociais, numa tentativa de classificar e quantificar os fenômenos
sociais.
A pré-história da sociologia situa-se, assim, num período aproximado de cem
anos, de 1750 a 1850, entre a publicação de L'Esprit des lois (O espírito das leis),
de Montesquieu, e a formulação das teorias de Auguste Comte e Herbert
Spencer. Sua constituição como ciência ocorreu na segunda metade do século
XIX.
O termo sociologia foi consagrado por Auguste Comte na obra Cours de
philosophie positive (1839; Curso de filosofia positiva), em que batizou a nova
"ciência da sociedade" e tentou definir seu objeto. No entanto, a palavra
sociologia continuou suscetível de inúmeras interpretações e definições no que
diz respeito à delimitação de seu objeto, pois cada escola sociológica criou suas
próprias definições, de acordo com as perspectivas teóricas, filosóficas e
metodológicas adotadas. Todas essas definições, no entanto, partilhavam um
substrato comum: o estudo das relações e interações humanas.
Abrangência
As ciências sociais se constituem a partir de dois pilares: a teoria e o método. A
teoria se ocupa dos princípios, conceitos e generalizações; o método
proporciona os instrumentos necessários para a pesquisa científica dos
fenômenos sociais.
A sociologia subdivide-se em disciplinas especializadas: a sociologia do
conhecimento, da família, dos meios rurais e urbanos, da religião, da educação,
da cultura etc. A essa lista seria possível acrescentar um sem-número de novas
especializações, como a sociologia da vida cotidiana, do teatro, do esporte etc.,
já que os interesses do pesquisador se orientam para a compreensão e
explicação sistemática, mediante a utilização das teorias e dos métodos mais
adequados, dos aspectos sociais de todos os setores e atividades da vida
humana.
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Teorias sociológicas
Na sociologia, a teoria é o instrumento de entendimento da realidade, dentro da
qual se enunciam as leis gerais. Difere, por isso, da doutrina social, de cunho
normativo e ideológico, e a ela se opõe.
As teorias sociológicas enunciadas ao longo dos séculos XIX e XX
centralizaram-se em algumas questões básicas. Entre elas distinguem-se a
determinação do que representam a sociedade e a cultura; a fixação de unidades
elementares para seu estudo; a especificação dos fatores que condicionam sua
estabilidade ou sua mudança; a descoberta das relações que mantêm entre si e
com a personalidade; a delimitação de um campo; e a especificação de um
objeto e de métodos de estudos próprios à sociologia.
O desenvolvimento da teoria sociológica pode ser analisado de acordo com três
grandes temas: os tipos de generalização empregados, os conceitos e esquemas
de classificação e os tipos de explicação.
São seis os tipos de generalização geralmente aceitos:
1. correlações empíricas entre fenômenos sociais concretos;
2. generalizações das condições sob as quais surgem as instituições e
outras formas sociais;
3. generalizações que afirmam que as mudanças que determinadas
instituições experimentam estão regularmente associadas às
mudanças que ocorrem em outras instituições;
4. generalizações sobre a existência de repetições rítmicas de vários
tipos;
5. generalizações que enumeram as principais tendências evolutivas
da humanidade; e
6. elaboração de leis sobre as repercussões e hipóteses relacionadas
ao comportamento humano.
A sociologia se mostrou mais fecunda no campo da elaboração de conceitos e
esquemas de classificação. No entanto, e apesar de terem sido criados muitos
conceitos, as definições existentes continuam ainda insatisfatórias, o que
impede a classificação adequada das sociedades, dos grupos e das relações
sociais, assim como o descobrimento de conceitos centrais que permitam a
elaboração de uma teoria sistemática. Verifica-se que numerosos conceitos
foram utilizados com significados distintos por diferentes sociólogos. Mais
ainda, tentativas recentes de aperfeiçoar a base da conceituação atribuíram
importância excessiva à definição do conceito e relegaram a segundo plano sua
finalidade fundamental, a utilização.
As teorias de explicação dividem-se em dois tipos principais, a causal e a
teleológica. A primeira, que seria uma ciência natural da sociedade, indaga o
porquê dos fenômenos sociais, qual a causa de sua ocorrência. A segunda indaga
a finalidade dos fenômenos sociais, com que objetivo eles ocorrem, e tenta
interpretar o comportamento humano em termos de propósitos e significados.
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Métodos sociológicos.
Distinguem-se sete métodos na sociologia: histórico, comparativo, funcional,
formal ou sistemático, compreensivo, estatístico e monográfico. O método
histórico ocupa-se do estudo dos acontecimentos, processos e instituições das
civilizações passadas para proceder à identificação e explicação das origens da
vida social contemporânea.
O método comparativo, considerado durante muito tempo o método sociológico
por excelência porque permitia a realização de correlações tanto restritas como
gerais, estabelece comparações entre diversos tipos de grupos e fenômenos
sociais com o fim de descobrir diferenças e semelhanças.
O método funcional estuda os fenômenos sociais do ponto de vista de suas
funções. O sistema social total de uma comunidade seria integrado por diversas
partes inter-relacionadas e interdependentes e cada uma delas desempenharia
uma função necessária à vida do conjunto. Nessa abordagem são evidentes as
analogias entre a sociedade e um organismo, o que levou seus partidários a
tentativas de diferenciar o funcionamento normal das instituições e sistemas
sociais de seu funcionamento patológico.
O método formal, ou sistemático, analisa as relações sociais existentes entre os
indivíduos, sobretudo no que diz respeito às diversas formas que essas relações
podem assumir independentemente de seu conteúdo. Em completa oposição ao
formal, o método compreensivo atribui uma importância fundamental ao
significado e aos motivos das ações sociais, isto é, a seu conteúdo. O método
estatístico enfatiza a medição matemática dos fenômenos sociais. No entanto,
como a maior parte dos dados sociológicos é do tipo qualitativo, não se pode
adotar tratamento estatístico rígido.
Por último, o método monográfico centraliza-se no estudo aprofundado de
casos particulares: um grupo, uma comunidade, uma instituição ou um
indivíduo. Cada um dos objetos de estudo deve necessariamente representar
vários outros para que seja possível estabelecer generalizações.
Técnicas sociológicas
Antes de mais nada, é preciso estabelecer a diferença entre métodos e técnicas
sociológicas. Os métodos representam uma opção estratégica e não devem ser
confundidos com os objetivos da investigação, enquanto as técnicas constituem
níveis de etapas práticas de operação limitada, ligadas a elementos concretos e
adaptadas a uma finalidade determinada. O método é, portanto, uma concepção
intelectual que coordena um conjunto de técnicas.
Entre as principais técnicas utilizadas na investigação sociológica figuram as
entrevistas, as experiências de grupo, as histórias de vida ou de caso e os
formulários ou questionários, que podem ser de tipo fechado, que oferecem
alternativas prévias de resposta, ou aberto, que permitem ao entrevistado uma
liberdade maior de expressão. Tais técnicas não são necessariamente
excludentes, pois permitem a utilização simultânea e complementar.
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