SOLUÇÃO ELETRÔNICA PARA SUBSTITUIÇÃO DE SENHAS DE PAPEL EM RESTAURANTES E PRAÇAS DE ALIMENTAÇÃO Célia Marli Tokarski e Rodrigo Amaral Seger Curso de Engenharia Elétrica – Universidade Federal do Paraná Curitiba – Paraná - Brasil E-mail: [email protected] e [email protected] Situação 1: ao usufruir da infra-estrutura das praças de alimentação de shopping centers, o convívio com as senhas de papel é absolutamente natural. O procedimento básico consiste em três etapas: dirigir-se ao restaurante, por exemplo, efetuar a compra e, então, receber um ticket impresso, contendo sua ordem de serviço (senha). Feito isso, o cliente dirigi-se à mesa mais próxima e, então, aguarda seu pedido ficar pronto. Quando isso ocorre, o funcionário digita em um terminal a ordem de serviço correspondente ao pedido que está pronto e, então, um sistema eletrônico envia esse código diretamente a um painel com displays de sete segmentos que emitem a numeração digitada. O cliente, ao observar sua senha emitida pelo display, vai de encontro ao balcão e retira sua encomenda. Situação 2: para limitar e organizar o processo de atendimento em seus estabelecimentos, diversos restaurantes utilizam o sistema de senha seqüencial impressa. Neste caso, a rotina é da ordem do cliente chegar ao local, retirar uma senha e aguardar ou ser chamado oralmente pelo número da senha, ou ainda ficar observando um painel com displays de sete segmentos que, também de forma seqüencial, emitem a “senha da vez”. Uma vez reconhecida sua senha, seja por chamado ou por visualização em display, o cliente dirigi-se ao determinado fim. Como visto, o método mais comum utilizado para controle de fluxo de clientes e pedidos é o da impressão de senhas seqüenciais em papel e o anúncio de forma geral da mesma. Esse sistema, além de relativamente barato, é ágil e fácil de ser implementado, tornando-se agradável e eficiente para os proprietários dos estabelecimentos em si. No entanto, analisando o ponto de vista do cliente, não se tem necessariamente os mesmos benefícios. Por exemplo, o fato de o cliente ter que obrigatoriamente ficar próximo ao local onde comprara sua refeição ou próximo ao local onde será avisado da viabilidade de seu atendimento, para Resumo: este artigo tem como objetivo demonstrar a aplicação de um sistema de transmissão sem fios em praças de alimentação e restaurantes, substituindo as atuais senhas de papel por um sistema mais moderno e agradável ao consumidor. A transmissão é realizada via rádiofreqüência, em 433 MHz. Para isto, utiliza módulos de transmissão e recepção codificados através de um sistema microcontrolado, acionados via software e projetados para a específica aplicação. Palavras-chave: senha, transmissão, recepção, codificador, decodificador, hardware, software e firmware. ELECTRONIC SOLUTION FOR CURRENT TICKETS SYSTEM REPLACEMENT ON RESTAURANTS AND FOOD COURTS Abstract: this article was created to demonstrate the use of a wireless transmission in shopping malls’ food courts and restaurants, in order to replace the current “ticket-in-paper” system to a more modern and agreeable one for the costumers. The transmission is led by radio-frequency in 433 MHz. For this, it uses encoded transmitters and receivers in a micro controlled procedure, set by software e designed specifically for this application. Keywords: ticket, transmission, reception, encoder, decoder, hardware, software and firmware. INTRODUÇÃO Dado o atual contexto socioeconômico que as empresas de modo geral se encontram, com um elevado nível competitivo entre elas, o tempo e a capacidade de atendimento ao cliente são essenciais. Atualmente, quem freqüenta bares, lanchonetes e restaurantes normalmente convive com o fato de ter que aguardar para ser atendido ou esperar o seu pedido ser processado pelo estabelecimento. Observe as seguintes situações: 1 cliente através de um dispositivo eletrônico, chegouse à conclusão que o mesmo necessitaria obrigatoriamente de no mínimo três partes: transmissão, meio de comunicação e recepção. Em outras palavras, uma estação fixa controlada por um funcionário através de um computador, um meio de transmissão sem fios e receptores remotos que ficariam com os respectivos clientes ao efetuarem suas compras, como na ilustração a seguir. poder reconhecer a sua notificação seja via expressão oral ou visual, pode ser tratado como um incômodo para o mesmo, que acaba dispondo de um indeterminado tempo dentro do período de descontração, o qual está normalmente associado o ato de ir até algum destes estabelecimentos, em virtude do foco do seu próprio atendimento. Sobretudo, o ambiente muito povoado e até conturbado colabora bastante para o aparecimento de certo grau de incerteza para ambas as partes no que diz respeito ao cliente ser verdadeiramente informado de que está para ser atendido ou para o representante do estabelecimento certificar-se de que seu consumidor fora devidamente notificado. Outro ponto negativo é o fato do papel utilizado hoje em dia, para a impressão dos bilhetes, ser o papel térmico. Essa nova tecnologia, por tratar-se de um papel comum impregnado com substâncias químicas sensíveis ao calor, dispensando o uso de tintas ou toners para a impressão, necessitando apenas de uma fonte controlada de calor, suportada por uma matriz de escrita (impressora térmica), é de natureza não-reciclável e, por se tratar de papel, nãoreaproveitável. Isso é relevante quando o assunto é acúmulo de lixo e a preservação do meio-ambiente. A idéia deste projeto é agir diretamente nas desvantagens do sistema atual, ou seja, automatizar inteligentemente o processo de espera, sem agredir o meio-ambiente. Através dele, mudar-se-ía a conceituação atual por completo: ao invés do cliente ser indexado a um número e aguardar até que este seja publicamente notificado, a própria senha faria a interface de forma pontual com o estabelecimento comercial, tornando o processo integralmente impessoal e mais agradável. Nesse contexto, visando resolver a questão de senhas por papel e chamada de senha por display e/ou voz, o presente trabalho busca uma solução prática e moderna para o tema ao desenvolver um pequeno dispositivo eletrônico, suficientemente capaz de reconhecer o aviso enviado pelo funcionário e, ao mesmo tempo, alertar o consumidor de seu iminente atendimento, de maneira simples, segura e confiável. Modelo básico de funcionamento do projeto. A transmissão consiste em um computador com um software específico para a aplicação, também contido nas premissas de projeto, e um hardware com firmware - programa inerente ao hardware que contém as linhas de código básicas para funcionamento em estado natural do mesmo responsável por protocolar a mensagem enviada pelo programa e então transmitir ao determinado receptor através de uma antena a ele acoplado. O meio de transmissão, por conseguinte, ocorre via wireless, tornando possível a comunicação entre transmissor e receptor dentro de uma determinada região de cobertura, sem que ambos estejam fisicamente conectados. Por fim, os diversos receptores reconhecem os sinais enviados pelo sistema de transmissão por meio de seu específico hardware, contendo da mesma forma uma antena de comunicação, acionando um circuito anexo a ele responsável por alertar o cliente de forma visual. Tendo bem alinhado o processo para o desenvolvimento do projeto, focalizou-se então no estudo de cada uma das três partes, sendo análise teórica e prática dos componentes que constituiriam as mesmas. Para a transmissão as metas foram desenvolver um dispositivo simples, sem recursos excessivos, que pudesse ser conectado a um computador pessoal comum e um software para gerenciar este dispositivo através do mesmo computador em questão. Para a comunicação, o foco foi adaptar recursos que operam em rádio-freqüência para que garantissem o tráfego de informações de forma segura e confiável dentro de uma área de cobertura mínima. Por último, para a recepção, o DEFINIÇÃO DO PROJETO Partindo-se do objetivo principal do projeto, ou seja, desenvolver um método simples de comunicação entre estabelecimento comercial e 2 método a ser desenvolvido resume-se a um hardware contendo uma numeração de série única e exclusiva, para reconhecimento dos códigos emitidos pelo sistema de transmissão e também uma arquitetura eletrônica para alertar o funcionamento do mesmo. O artigo, de agora em diante, será uma descrição pormenorizada de cada elemento descrito acima com o intuito de esclarecer o projeto e execução do sistema, apresentando os resultados obtidos passo-apasso. Chip HT12E e sua representação por pinos. O circuito integrado (CI) HT12E é um componente CMOS – opera com tensões de 2.4V a 12V – com 12 bits de capacidade de encriptação e funcionamento em nível lógico alto. Constitui-se de 8 bits de endereçamento fixo mais 4 bits que podem ser tanto de endereços como de dados. Esses bits trabalham em dois estados: alto e baixo. Pelo fato do componente ser de padrão alto, os pinos “em aberto” – não conectados a nada – ficam com nível alto, ou seja, para lidar-se com o arranjo de endereços e dados, é necessário lançar níveis baixos – 0V – para os determinados pinos. Os 12 bits são enviados em forma de palavracódigo e são habilitados à transmissão quando recebem um pulso baixo em seu gatilho, porém não possui portadora própria, ou seja, necessita de um circuito de RF auxiliar conectado ao seu pino de saída. Além disso, um circuito oscilador também se faz necessário. Sua função é coordenar o processo de criação das palavras através de pulsos bem definidos. Dessa forma, garante-se que estas serão formadas coerentemente e que não haverá perda de informação durante o encaminhamento à transmissão. O oscilador é composto de um circuito RC simples, porém apenas o fator resistivo pode ser manipulado, dado que a capacitância é fixa e inerente ao integrado. A freqüência de operação típica do CI HT12E é de 3kHz, assim como a alimentação típica é de 5V. Dessa forma, para gerar a oscilação adequada, precisar-se-ía de um resistor de aproximadamente 1MΩ conectado entre os pinos OSC1 e OSC2. O funcionamento do encoder seria, então, basicamente o seguinte: com o endereçamento e os dados configurados via níveis altos e baixos, assim que o trigger fosse acionado, regido pela freqüência determinada pelo circuito oscilador, a palavra-código seria enviada diretamente à porta de saída do encoder até que o mesmo trigger fosse desativado. A palavra-código é formada do bit menos significativo (A0) até o mais significativo (AD11), TRANSMISSÃO Dado que o intuito do projeto é de automatizar senhas, evidentemente que o caminho mais fácil para isso seria transmitir números! E esse é realmente o método a ser aplicado, porém com uma restrição: desindexar o número propriamente dito do cliente. Para o cliente, o dispositivo seria apenas uma interface. Quem realmente teria necessidade de saber as numerações seria o estabelecimento em si. Uma segunda opção seria ao invés de códigos, enviar apenas pulsos, com freqüências levemente distintas, com cada receptor centrado em uma delas, porém este método foi sumariamente descartado devido ao alto teor de poluição do espectro nos ambientes onde o dispositivo seria aplicado e a alta interferência que freqüências próximas poderiam causar umas nas outras. Centrado na idéia de transmitir números, dois componentes se destacam: o software e o codificador. O software será apresentado mais adiante. O codificador, componente extremamente necessário para o bom funcionamento do projeto, é o circuito integrado HT12E, do fabricante HOLTEK®. Este trata-se de um componente discreto de fácil acesso, custo relativamente reduzido e ideal para aplicações onde há transmissão de dados codificados. Normalmente utilizado em circuitos para alarmes de incêndio, controles remotos para acionamento de portões eletrônicos, controles remotos para carros, sistemas de alarme automotivo e até telefones sem fio. 3 gerando um word de 12 bits no seguinte formato: A0 A1 A2 A3 A4 A5 A6 A7 AD8 AD9 AD10 AD11. As senhas seriam os bits de endereço do codificador. Por exemplo, utilizando os 8 bits de endereço em nível alto, seria relativo à senha de número 11111111 em binário, logo, 255 em decimal. No entanto, para o encoder só há palavras de 12 bits, logo a mensagem enviada seria o número 111111111111 em binário, 4095 em decimal. Porém, é nessa hora que surge um problema: como em um estabelecimento comercial há vários clientes atendidos simultaneamente, há diversas senhas a serem emitidas também de forma simultânea, mas o endereçamento no componente HT12E é fixo – não se pode “programar” o componente. Então, de que forma agir para tornar no endereçamento ativo? A resposta é o terceiro componente fundamental da cadeia transmissora: o microcontrolador. Devido ao fato de o encoder não suportar programação para se ter controle sobre seus recursos é que se faz necessário o uso de um sistema microcontrolado. Para isto, entram em cena duas opções: os controladores da família PIC e os controladores da família 8051. Ambos são recursos poderosos quando o assunto é sistemas embarcados – sistemas auto-suficientes, com programação própria e que só demandam de fonte de energia e interfaces – e suportariam facilmente às necessidades em questão. Em matéria de custo, hoje em dia ambos também são equivalentes, então, a escolha por uma das duas opções foi ponderada pelo nível de facilidade em lidar com uma delas. Sendo assim, o escolhido para fazer parte do projeto foi o microcontrolador da família 8051 AT89S52, do fabricante ATMEL®. O CI AT89S52 é microcontrolador de 8 bits com tecnologia CMOS, de baixa potência e alta performance com memória Flash programável de 8kB. É produzido com memória não-volátil de alta densidade, ou seja, mesmo que não haja tensão aplicada, a memória não tem seus dados apagados. Essa tecnologia de memória permite ser reprogramada indefinidamente através de gravadores convencionais para o dispositivo. Combinando a memória com uma unidade de processamento de 8 bits, tem-se no CI AT89S52 um excelente microcontrolador, eficaz e com alto custo-benefício quando se trata de aplicações de controle para sistemas embarcados. µController AT89S52 e seu diagrama pino-a-pino. Alguns dos recursos contidos neste integrado: memória Flash de 8kB de capacidade, 256 bytes de memória RAM, 32 pinos de entrada/saída, conexão duplex com interface serial (possibilita leitura e escrita simultâneas), oscilador interno e circuito de clock. O intuito do microcontrolador no projeto é o de trabalhar com os pinos de endereçamento e dados do encoder sem precisar alterar suas configurações de forma física. Além disso, através do controlador 8051, pode-se ativar o processo de transmissão do código tudo de forma automática, sem alterações de hardware. Para que isso funcione, é necessário programar o controlador, em outras palavras, construir o firmware do sistema transmissor. Porém, para que o firmware possa ser verdadeiramente implementado no microcontrolador, é preciso configurar seu hardware para pleno funcionamento. Para que o oscilador interno funcione, é necessário montar um arranjo oscilador de suporte e conectá-lo nos pinos 18 e 19 (XTAL1 e XTAL2). Circuito oscilador para o 8051. Os componentes utilizados no projeto foram: um cristal de 11.059MHz e dois capacitores de 33pF. O motivo para tal valor de freqüência será explicado mais adiante e os capacitores são de 33pF por serem 4 os valores comerciais mais comuns dentro da faixa de operação do componente. Para garantir que todos os registradores sejam inicializados de forma conveniente, evitando que a unidade de processamento utilize endereços aleatórios ao contrário da seqüência lógica inicializada em zero, é que se constrói o circuito de reset. A figura a seguir ilustra o circuito de reset. MAX232 e sua representação por pinos. A transmissão da serial é conectada ao CI MAX232 para conversão de nível de tensão e então transferido ao microcontrolador para ser processado. Uma vez montado o arranjo para o microcontrolador, parte-se para a criação do programa. Este reconhecerá quando um número foi digitado no terminal, armazenará o mesmo em sua memória interna e processará de forma adequada para enviar ao circuito codificador. O processamento funciona da seguinte maneira: receber o número digitado através de mensagem enviada pela porta serial, armazená-lo em um endereço de memória, transferi-lo para os pinos de saída e então enviar um bit de confirmação para iniciar a transmissão. O número pós-processado terá informações de endereçamento e dados. Dessa forma, sabe-se o que será enviado e para quem será enviado. Baseado nesse roteiro, a correlação microcontrolador – codificador fica da seguinte maneira: Circuito de reset para o 8051. O modo de operação é facilmente definido através do pino 31 ou External Access Enable. Ele determina se o microcontrolador será apenas a CPU de um sistema externo ou se todo o processo for interno a ele. Se ativo, o sistema será externo, se não, interno. Para o caso em questão, as execuções serão todas internas ao CI 8051, portanto, o pino precisa estar em nível zero. Este pino possui uma porta “não” em sua entrada, logo, deve ser conectado à fonte de tensão para ficar adequadamente configurado. A interface de comunicação entre microcontrolador e PC é a porta serial. O controlador AT89S52 possui comunicação full duplex com esta porta, ou seja, pode receber e enviar dados pela interface de maneira simultânea. Como a transmissão terá o intuito de apenas enviar um valor, só será necessário o pino de leitura da porta no CI 8051, já que não há resposta enviada para o computador, ou seja, não se faz necessário escrita. Não se pode conectar porta serial e microcontrolador diretamente. Isso porque os níveis de tensão não são equivalentes. A porta serial trabalha com níveis em torno de 15V, enquanto que o CI 8051 limita-se em 12V, sendo que para este projeto a especificação é de 5V (TTL) para que o codificador funcione adequadamente. A equiparação dos níveis é feita através do componente MAX232. Este é um conversor alimentado com 5V capaz de transformar nível serial em TTL/CMOS. Ligações entre microcontrolador e codificador. A mensagem chega pelo pino 10 do microcontrolador – pino de leitura, é processada e enviada para a porta 0 (pinos P0.0 a P0.7), que está diretamente ligada aos pinos de entrada de endereço do codificador. Quando isso está pronto, um bit é enviado pelo pino P2.7 até o trigger do encoder, disparando o processo de transmissão. Para esclarecer melhor o funcionamento da codificação, segue o exemplo. Para que o receptor “1” seja ativado, deve-se enviar a senha 1 pelo transmissor. “Ativar o receptor 1” significa enviar o 5 Passado o tempo, desativa-se o pino P2.7 e retorna-se ao início, aguardando até que outra mensagem seja enviada pela porta serial. O firmware é essencialmente muito simples, mas funciona perfeitamente. Como o intuito do projeto é solucionar o problema das senhas de forma moderna e simples, vai perfeitamente de acordo com esse ideal. Para concluir o processo de transmissão, faltam apenas o software e o sistema irradiante responsável por enviar verdadeiramente as informações codificadas e processadas até o referido destinatário. O software utilizado em todo período de projeto foi um script criado no ambiente de desenvolvimento MATLAB®. Consiste em 2 ações: um código para envio das senhas e um segundo código para desabilitar o funcionamento do dispositivo. Conforme explicado anteriormente, devido à topologia do protótipo, sempre que uma senha for enviada, há a necessidade de enviar-se um bit 1 no pino AD8 – dados. Para transmitir-se a senha de número 1, o endereçamento adequado passa a ser o número 129. Transmitindo-se a senha 112, 00001110, deve-se enviar o número 00001111, logo, 240. Notase que as senhas são números de sete bits, ou seja, limitado em 128 exemplares, do 0 ao 127 e que para ativar-se a recepção, é necessário somar 128 ao número enviado. Esta é a lógica do software! Do contrário, para desativar o funcionamento, basta enviar o próprio número. Assim, o oitavo bit, sempre será 0, desligando o circuito. Este é o segundo bloco do software. O código implementado é o seguinte: endereçamento relativo ao receptor 1, porém somente se o nível do bit de dados for alto, o dispositivo será acionado. Dessa forma, a palavra enviada não poderia ser 00000001, mas sim 10000001, ou seja, 00000001 + 10000000 Æ 1 + 128 Æ 129. Enviando-se a mensagem 129 para o microcontrolador, o mesmo faria o codificador HT12E enviar a palavra 100000011111 Æ 3969, ou seja, na realidade, a palavra-código para acionar a senha 1 seria 3969. Do contrário, para desativar o circuito receptor, o número a ser enviado seria 100000010111 Æ 3713. Estes códigos são em nível de programação. Ao usuário bastaria digitar o número 1, pois o roteamento seria feito de forma automática. Para que o componente AT89S52 possa fazer todo esse processo corretamente é necessário programar em seu firmware todos os passos necessários. A linguagem de programação utilizada é a linguagem de baixo-nível Assembly©. Para que o controlador 8051 processe os dados de forma correta, o seguinte firmware foi construído: O programa consiste em esperar algo chegar pela serial e ativar o registrador RI (interrupção). Feito isso, se limpa o conteúdo de RI e transfere-se o conteúdo de registrador da serial (SBUF) para o acumulador (A). Em seguida, move-se os dados do acumulador para a porta P0, porta cujos pinos estão conectados no codificador – o codificador 8051 já move bit a bit, sem que haja necessidade de converter o número de decimal para binário. Uma vez coordenados os bits, ativa-se a transmissão, enviando um bit 1 para o pino P2.7, conectado ao trigger do CI HT12E. Para otimizar o processo de transmissão, a mesma é projetada para que dure 65ms, reduzindo consumo de energia, apenas indicando que a transmissão foi realizada. Em efeito de teste, foi desenvolvido também um software em plataforma C++, com interface mais amigável. Esse software é necessário e seria o comercializado no produto final – o MATLAB é apenas um ambiente de desenvolvimento, não podendo ser utilizado em futuras aplicações comerciais. O código implementado, juntamente com sua interface gráfica é apresentado a seguir: 6 freqüência, porém, por questões de padronização e facilidade de operação, decidiu-se utilizar o mesmo modelo para ambos. Devido a essa restrição, surge um problema: os dispositivos tinham como premissa de projeto serem pequenos, para facilitar o manuseio e serem mais bem apresentáveis. Como utilizar neste caso uma antena de quase 18cm? A solução encontrada foi aplicar uma antena helicoidal. Para operações em 433MHz, pode-se construir uma antena helicoidal usando condutor esmaltado 22AWG. Faz-se um helicoidal de aproximadamente 2,5cm de comprimento, formado por 14 espiras uniformes de 6mm de diâmetro. Dessa forma, obtémse uma antena com comprimento elétrico 24,5cm com -3dBi de ganho. Esses fatores estipulam uma área de alcance com raio em torno de 30m. Enlaces mais bem projetados, utilizando antenas mais poderosas, conseguiriam alcance de até 100m em visada livre, porém encareceriam o projeto. Uma vez determinados todos os componentes que fazem parte da transmissão, pode-se gerar o seguinte diagrama de blocos do projeto: Interface gráfica do software desenvolvido. Uma vez enviada a mensagem para o microcontrolador e deste para o codificador, transfere-se agora para o sistema irradiante para, então, efetivamente transmitir a senha. Para efetuar a transmissão das senhas, utilizamse um modulador de sinais e uma antena. O módulo TWS-BS-3 é o componente responsável por modular a mensagem oriunda do codificador em uma portadora em rádio-freqüência para, então, transmitila através de uma antena. O circuito opera em 433MHz, com portadora modulada em ASK – Amplitude-Shift Keying – com 8kbps de tráfego máximo de dados. Esse tipo de modulação é bem simples, similar à modulação AM – Amplitude Modulation – só que de forma digital. O modulador reconhece os dados que recebe e cria a onda portadora baseado nos bits da mensagem: bits 1 representam níveis altos de onda, bits 0 níveis baixos. A antena para concretizar a transmissão tem que obrigatoriamente ser uma antena com bom alcance e capaz de transmitir sinais em 433MHz. O alcance é determinado basicamente através do ganho da antena e do seu comprimento elétrico. O comprimento elétrico é definido através da fórmula l = Diagrama de blocos do sistema transmissor. O esquemático final do protótipo é o seguinte: 1 30000 , onde l é o comprimento × 4 f elétrico da antena e f é a freqüência do sinal em MHz. Como a freqüência é 433MHz, tem-se l = 17,3cm. Esse é o comprimento mínimo que a antena deve ter para ter-se um bom alcance e conseguir transmitir sinais nesta faixa de freqüência. Não é obrigatório se ter antenas iguais para transmissão e recepção. Pode-se trabalhar com modelos diferentes, desde que operem na mesma Esquemático do sistema transmissor. Concluída a transmissão, parte-se agora para a recepção das senhas. Esses dispositivos serão de fato as senhas só que de forma eletrônica, suficientemente capazes de reconhecer o sinal emitido pelo transmissor e alertar o cliente de forma coerente. 7 compara os bits referentes ao endereço três vezes com seu endereço local e, caso estejam corretos, os dados transmitidos são transferidos para a porta de saída. Para que haja sintonia entre o CIs HT12D e HT12E, ambos devem estar operando com freqüências compatíveis. Segundo o fabricante, o decodificador deve trabalhar com uma freqüência 50 vezes maior que a do codificador, logo, 150kHz. Para isso, como resistência de oscilação foi colocado um resistor de 47kΩ. Para sinalizar que a transmissão foi concluída com sucesso, foi inserido um LED que é acionado apenas durante o período (65ms), juntamente com um resistor de 1kΩ, junto à porta VT. Feito isso, foi criado um sistema onde, caso seja colocado um LED na saída teríamos ele sempre aceso em caso de informação correta e apagado caso não haja recepção ou ela seja incorreta. Após uma análise do protótipo na prática, foi visto que o LED sempre aceso não chamaria tanto a atenção dos usuários. A forma pensada de obter mais atenção foi a de se colocar a luz intermitente. Para essa indicação, foi necessário criar um circuito oscilador com este intuito. Para este circuito, foi escolhido o componente NE555N, em operação astável. RECEPÇÃO Feita a transmissão, é necessário que se estabeleça um circuito para a recepção destes dados. Abaixo há a descrição do sistema de codificação e processamento do sinal. Como se trata de dispositivos remotos, não há como fixar a uma fonte de tensão, portanto a alimentação do circuito é realizada através de uma bateria. Para um melhor desempenho dos componentes do circuito, foi projetado 5V de tensão. Como a disponibilidade de baterias de 5V é nula, foi utilizada uma bateria de 12V. Para o ajuste do nível da tensão de entrada, necessitou-se utilizar o componente LM7805, que é um regulador de tensão de saída fixa em nível TTL, ou seja, 5V. A recepção inicia-se com a antena igualmente projetada ao circuito transmissor. Esta está acoplada ao módulo receptor RWS-371-5, que é o “par casado” do módulo TWS-BS-3. Este módulo opera de forma análoga, em 433MHz, com detector capaz de demodular mensagens emitidas em modulação ASK, com até 500kbps de largura de banda. Uma vez recebido o código, faz-se necessário decodifica-lo para verificar se a mensagem recebida é de fato a senha enviada. Para tal, foi selecionado o componente HT12D do fabricante HOLTEK®. Assim como temos o par módulo transmissão e recepção, tem-se o par codificador-decodificador. Apenas o CI HT12D é capaz de decodificar o sinal enviado pelo CI HT12E. Timer NE555N. Ele é um dispositivo altamente estável para gerar tempos exatos de atraso ou de oscilação. Além disso, o tempo em modo de funcionamento é precisamente controlado por resistores e capacitores externos. Este fato contribui para a aparência do produto final. Dado as características do circuito de recepção, a figura abaixo apresenta o diagrama em blocos do circuito: Decodificador HT12D O componente trabalha com tensões que vão de 2.4V a 12V, sendo 5V a tensão típica de operação. Da mesma forma que o CI HT12E, este dispositivo também funciona com 12 bits de capacidade de decodificação. Para seu perfeito funcionamento, deve-se escolher o mesmo número de endereços e formato de dados de seu par transmissor. Ele recebe o endereço e os dados do codificador programado, que foram transmitidos via RF e coerentemente demodulados. Feito isso, ele 8 É bom ressaltar que o custo acima descrito está discriminado à implementação da estação transmissora e dois receptores remotos. Outro detalhe a ser ressaltado está ligado à interpretação da tabela acima. Os valores são distintos, pois as duas primeiras colunas estão referenciados a todos os custos de componentes e terceira e quarta coluna é ao custo otimizado, ou seja, ao custo efetivo do projeto. Diagrama de blocos do sistema receptor. O circuito final obtido foi: TESTES E RESULTADOS O teste iniciou-se montando o circuito no protoboard, conforme projeto estabelecido. Inicialmente, realizaram-se testes sem a antena instalada, ou seja, conectando fisicamente a saída do transmissor na entrada do receptor. Manualmente foram induzidos pulsos no circuito transmissor, porém, durante as primeiras tentativas, não se teve o resultado esperado. Realizaram-se medições com multímetro para analisar o que estava ocorrendo e verificar possíveis atitudes a serem tomadas para solucionar os problemas. Feito o estudo e, então, os devidos reparos nos circuitos, conseguiu-se o primeiro êxito de comunicação, com os níveis de sinal e acendendo o LED receptor conforme o projetado. Após a primeira tentativa bem sucedida, partiuse para a transmissão através da antena, a qual foi apenas um condutor esmaltado AWG22 com aproximadamente 17 cm de comprimento, com os módulos transmissor e receptor separados fisicamente (protoboards distintos). Após algumas tentativas, obteve-se comunicação entre os módulos, com pulsos gerados similarmente ao teste inicial. No entanto, devido à baixa qualidade da antena, não se teve alcance desejável. Uma vez confeccionada a antena nos moldes anteriormente apresentados, ou seja, helicoidal de 14 espiras, com uma polegada de comprimento, a comunicação deu-se de forma substancialmente melhor. Circuito de recepção. TABELA DE PREÇOS Segue a tabela de custos para implementação do projeto. Montagem do circuito transmissor em protoboard 9 Placa de circuito impresso do circuito receptor, com dimensões. 58 x 65 x 30 mm. Montagem do circuito receptor em protoboard Não foram simulados testes em locais abertos, como praças de alimentação, devido à inviabilidade logística, por isso, foram adaptadas situações de alta dificuldade, como testes em pontos distintos isolados por portas, janelas e paredes, obtendo êxito total nos mesmos. Mesmo em situações como esta, o protótipo funcionou perfeitamente, o que permite concluir que em zonas sem obstrução o projeto se adequaria. Conforme esperado, os circuitos em sua versão final apresentaram rendimento condizente aos protótipos iniciais em termos de alcance de recepção e capacidade de transmissão, porém, o consumo de energia nas unidades remotas foi extremamente elevado. Durante a realização dos testes, verificou-se que uma bateria completamente carregada, descarregouse até cerca de 40% de sua tensão nominal em um tempo médio de 7 horas de funcionamento. Esse consumo é altíssimo para a aplicação, não tendo solução imediata. Uma vez estabelecido o processo de comunicação sem fios, passou-se, então, à programação simultânea do controlador 8051 e do software no ambiente MATLAB. Tendo ambos desenvolvidos, foi realizada mais uma bateria de testes. Nos testes realizados, verificou-se estabilidade de operação dos circuitos e um bom indicador de alcance. Este indicador foi averiguado pelo fato de o teste ter sido realizado com os componentes do projeto em ambientes diferentes. Estabeleceu-se o circuito transmissor em uma sala fechada e os receptores em salas anexas. Cada receptor obteve o sinal adequado para seu funcionamento mesmo no cenário descrito anteriormente. Devido à inviabilidade de se instalar o MATLAB® em qualquer computador, partiu-se para a confecção de um software mais bem-elaborado, tendo a interface amigável com o usuário. Esta nova interface foi desenvolvida utilizando a linguagem de programação C++, porém não se obteve o resultado esperado nas primeiras tentativas, demandando diversas correções até que o mesmo funcionasse. Com o protótipo inicial funcionando adequadamente, iniciou-se a confecção das placas de circuito impresso, com o intuito de gerar a versão final do dispositivo. CONCLUSÃO Através das informações descritas no artigo, podemos concluir que o protótipo se adequou perfeitamente às necessidades estimadas, tornando-se uma boa ferramenta de estudo para a solução da questão do uso das senhas de papel. O mesmo apresentou resultados convincentes com relação à funcionalidade e originalidade da idéia, mesmo com as diversas limitações por ele apresentadas. Dentre os pontos positivos do protótipo, destaca-se a capacidade de cobertura do dispositivo mesmo sendo confeccionado através de componentes discretos e com recursos altamente reduzidos. Com isso, permite-se concluir ainda que com maiores estudos no desenvolvimento de codificações e sistemas irradiantes o projeto alcançaria resultados Placa de circuito impresso do circuito transmissor, com dimensões 65 x 75 x 30 mm. 10 também uma vibração (através do mesmo sistema de vibracall, utilizados em aparelhos celulares). Mesmo com as limitações, foi comprovado que é possível realizar a implementação do projeto em escala comercial rapidamente. Desde o conceito até a elaboração do produto, utilizou-se um espaço de tempo inferior a quatro meses, um tempo relativamente curto para o resultado em si atingido. ainda mais satisfatórios, tornando plausível sua comercialização. Em relação ao custo, nota-se que existe uma grande viabilidade financeira, tornando-se perfeitamente implementável, dado que o protótipo atingiu um patamar de preço baixo e que a produção em série deste, diminuiria ainda mais o custo final. Entretanto, para que de fato haja possibilidade de comercialização, outros fatores necessitam ser reprojetados. A alimentação dos circuitos receptores através das baterias é o principal ponto de atenção, pois como o circuito receptor fica constantemente ativado, baterias com baixa capacidade de corrente elétrica não são adequadas. Uma opção seria a substituição das mesmas por baterias de íon Lítio ou equivalente. Uma segunda restrição está no uso dos componentes discretos, os quais tornaram os dispositivos maiores, acima do viável, culminando com um aspecto incômodo à aplicação. Este problema poderia ser solucionado através do uso de componentes SMD – Surface Mounting Devices. Com isso, tornaria o dispositivo mais bemapresentável ao consumidor final, mantendo suas características funcionais. Outra restrição ao protótipo é a limitação da capacidade de gerenciar senhas simultaneamente. Visto que em um ambiente de praça de alimentação há vários estabelecimentos concorrentes e vários clientes atendidos ao mesmo tempo, em caso das mesmas adquirirem o sistema, certamente haveria restrição no atendimento e/ou conflito de códigos entre as empresas. Neste caso, o ideal seria restringir, via programação, as senhas para que cada estabelecimento inicie com uma centena ou milhar, ou seja, estabelecimento X tem as senhas iniciadas por 0, estabelecimento Y senhas iniciadas por 1, e assim sucessivamente. Além disso, estendendo-se a capacidade de codificação de 8 para os 11 bits disponíveis, poder-se-ia conseguir em torno de 5 mil senhas simultâneas. Para melhorar a acessibilidade de pessoas portadoras de necessidades especiais, seria necessário inserir, além comunicação visual (via LED), uma comunicação sonora e sensitiva, através de som (podendo ser intermitente, como acontece com os atuais painéis de visualização), e contemplando REFERÊNCIAS Wenshing. Datasheet: Electronic Publication. RWS-371 Series v1.02. Wenshing. Datasheet: Electronic Publication. TWS-BS Series v1.01. Holtek. Datasheet: HT12D/HT12F 212 series of decoders. Rev. 1.10. Electronic Publication, 2002. Holtek. Datasheet: HT12A/HT12E 212 series of decoders. Electronic Publication, 2000. Atmel. Datasheet: AT89S52 8 bit micro controller with 8k bytes in-system programmable Flash. Electronic Publication, 2005. Texas Instruments. Datasheet: µA7800 series positive-voltage regulator. Electronic Publication, 2006. Texas Instruments. Datasheet: MAX232, MAX232I dual EIA-232 drivers/receivers. Electronic Publication, 2002. K. SMITH, “Antennas for low power applications”. Electronic Publication. H. S. LOPES, R. A. de FARIA. “Manual da placa P51N”. Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Departamento Acadêmico de Eletrônica. Apostila, 2007. A. L. PASTRO. “MICROCONTROLADORES: Microcontrolador 8051”. Universidade Federal do Paraná, Setor de Tecnologia, Departamento de Engenharia Elétrica. Apostila, 2004. 11