Revista Ciências da Saúde

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REVISTA
CIÊNCIAS
DA SAÚDE
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
Reitor: Álvaro Toubes Prata
Vice-Reitor: Carlos Alberto Justo da Silva
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
Diretora: Kenya Schmidt Reibnitz
Site
www.ccs.ufsc.br/revistaccs/ojs/index.php/REVCCS
REVISTA
CIÊNCIAS
DA SAÚDE
ISSN 0101 – 9546
Revista Ciências da Saúde
Florianópolis
V. 31, N. 1
P. 1 - 97
2012
Revista Ciências da Saúde é uma revista semestral editada pelo Centro de
Ciências da Saúde da Universidade Federal de Santa Catarina.
Comissão Editorial: Elisabeth Wazlawik (Nutrição-UFSC), Inês Beatriz Rath
(Estomatologia-UFSC), Liliane Janete Grando (Patologia-UFSC), Maria Itayra
Coelho de Souza Padilha (Enfermagem-UFSC), Patrícia Haas (Análises ClínicasUFSC), Roberto Henrique Heinish (Clínica Médica-UFSC), Tânia Silvia Fröde
(Editora-chefe UFSC).
Comissão Consultiva: Alcides Miranda (UFRGS), Ana Luísa Petersen Cogo
(UFRGS), Andréia Aparecida Traina (USP), Cesar Augusto da Silva (UNIVSF),
Cidônia Vituri (UFSC), Cristianne Fammer Rocha (UFRGS), Denise Guerreiro
(UFSC), Eduardo Monguilhott Dalmarco (UFSC), Emilia Addison Machado Moreira
(UFSC), Eva Neri Rubim Pedro (UFRGS), Fabian Calixto Fraiz (UFPR), Fernando
Procianoy (UFRGS), Helena Ferreira Franz (UFSC), Helga Geremias Gouveia
(UFRGS), Liliana Muller Larocca (UFPR), Luciane Peter Grillo (UNIVALI), Márcia de
Assunção Ferreira (UFRJ), Margarita Ana Rubin Unicovsky (UFRGS), Marize
Santos (UFPI), Mauro Caldeira de Andrada (UFSC), Neide Pena Coto(USP), Paulo
Roberto Kechele (UFSC), Regina Rigato Witt (UFRGS), Rubens Rodrigues Filho
(UFSC), Valéria Macedo Almeida Camilo (UFRB)
(Catalogação na fonte pela Biblioteca Universitária da
Universidade Federal de Santa Catarina)
Revista Ciências da Saúde/Universidade Federal de Santa Catarina. Centro de
Ciências da Saúde.
-- V.1, n.1 (1982)- , - Florianópolis: Imprensa Universitária, 1982.
V.: 27cm
Semestral
ISSN 0101-9546
1.Ciências Médicas. 2. Saúde-pesquisas. I. Universidade Federal de Santa Catarina. II
Centro de Ciências da Saúde.
Endereço:
Revista Ciências da Saúde - Secretaria do Centro de Ciências da Saúde da UFSC
Campus Universitário - Trindade
Caixa Postal 476
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SUMÁRIO
Editorial.................................................6
PERFIL PROFISSIONAL DE UM
GRUPO DE CIRURGIÕES-DENTISTAS
EM ATUAÇÃO NO ESTADO DE
SANTA
CATARINA
BRASIL
[Professional profile of a group of
dentistry practicing in Santa Catarina
– Brazil] Mário Uriarte Neto et al.........7
ESTRATÉGIAS
DE
PREVENÇÃO
PARA OBESIDADE INFANTIL NO
CONTEXTO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA
EM SAÚDE [Strategies for prevention
of childhood obesity in the context of
primary health care] Maria Elizia
Fornari Brunetta et al.........................18
PERFIL
EPIDEMIOLÓGICO
DOS
PACIENTES
COM
DOENÇAS
CONJUNTIVAIS
ATENDIDOS
EMERGENCIALMENTE NO SERVIÇO
DE OFTALMOLOGIA DO HOSPITAL
UNIVERSITÁRIO DA UNIVERSIDADE
FEDERAL DE SANTA CATARINA,
NOS ANOS DE 2005 A 2010
[Epidemiological profile of patients
with conjunctival diseases examined
at the emergency room of the
ophthalmology services clinic at the
Federal University of Santa Catarina`s
Hospital, in the years 2005 to 2010]
Rodrigo Dall`Oglio da Cunha et
al..........................................................27
ANÁLISE DA TONTURA NO IDOSO
INSTITUCIONALIZADO
[Dizziness
evaluation in nursing home residents]
Andressa Márjorye Amaral Krauss
Hansen et al........................................38
PRÁTICAS
DE
CUIDADO
NA
QUALIDADE DE VIDA DE UMA
PACIENTE
PORTADORA
DE
DOENÇAS CRÔNICAS: ESTUDO DE
UM CASO CLÍNICO [Practice of care
in the quality of life of a patient carrier
of chronic diseases: a case study]
Geny Aparecida Cantos et al............47
PERCEPÇÕES
DE
MULHERES
IDOSAS
DE
FLORIANÓPOLIS/SC
SOBRE A PRÁTICA DE ATIVIDADES
FÍSICAS NO LAZER [Perceptions of
older women in Florianópolis/SC on
the practice of leisure physical
activities] Rodrigo de Rosso Krug;
Moane Marchesan..............................55
DETERMINAÇÃO DE DNA-HPV POR
CAPTURA HÍBRIDA II E SUA
RELAÇÃO COM A COLPOCITOLOGIA
ONCOLÓGICA [Determination of HPV
DNA by Hybrid Capture II and its
relationship with the Pap smear]
Rafael Benedet; Lisiane Pagnussat;
Cidônia De Lourdes Vituri.................65
CARACTERÍSTICAS
DE
UM
DENTISTA IDEAL: A OPINIÃO DOS
DENTISTAS [Characteristics of an
ideal dentist: the opinion of the
dentists] Carolina Ardenghi Favretto
et al......................................................75
HÁBITOS ALIMENTARES DE UM
GRUPO
DE
PESSOAS
QUE
PARTICIPARAM DE UM PROGRAMA
DE PREVENÇÃO DE DOENÇAS
CARDIOVASCULARES
[Food trends in a group of people
who participated
in a
program of vascular disease
prevention] Thuani Antunes Corrêa;
Jussara Gazzola; Geny Aparecida
Cantos.................................................83
Normas editoriais...............................93
Revista Ciências da Saúde
Editorial
Prezado leitor,
A vida está cada vez mais rápida, mais dinâmica, mais
globalizada, mais intensa e complexa. O aumento visível das
responsabilidades e atividades destinadas a cada indivíduo nas
últimas décadas tem feito com que ele seja omisso em relação
ao cuidado com a própria vida.
O ‘’autocuidado” que deveria pautar todos os
empreendimentos nos diversos setores da vida, seja
profissional, social ou afetivo, uma vez omitido, reflete
diretamente no corpo e no ambiente desse indivíduo.
É notório que o stress é responsável pela maior parte das
doenças que afligem o homem moderno. E diante de tal fato
cabe aos profissionais de saúde o grande desafio de cuidar do
ser humano na sua totalidade, exercendo uma ação nas
dimensões física, psíquica, social e espiritual.
A estratégia para essa prática do cuidado integral dos
profissionais de Saúde parte do conhecimento, da informação,
da constante atualização do conteúdo científico para a
formação de uma visão global das enfermidades
contemporâneas.
A Revista Ciências da Saúde procura participar dessa
estratégia, reunindo artigos de diferentes áreas da Saúde, para
que vocês, nossos leitores, possam aperfeiçoar seus
conhecimentos para além da sua área de pesquisa ou trabalho.
Boa Leitura!
“O bom humor, a risada, o lazer, a alegria, recuperam a saúde
e trazem vida longa. A pessoa alegre tem o dom de alegrar o
ambiente em que vive. ‘O bom humor nos salva das mãos do
doutor’. Alegria é saúde e terapia.” Dráuzio Varella
Daniela de Andrade
Secretária da Revista Ciências da Saúde
Acadêmica de Relações Internacionais da UFSC
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Neto, M. U. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 7-17, jan/jun. 2012
PERFIL PROFISSIONAL DE UM GRUPO DE CIRURGIÕES-DENTISTAS EM
ATUAÇÃO NO ESTADO DE SANTA CATARINA - BRASIL [Professional profile of a
group of dentistry practicing in Santa Catarina – Brazil]
Mário Uriarte Neto1; Luiza Klipp de Oliveira2; Sheppa Foppa Arze Tames3; Elisabete
Rabaldo Bottan4; Eliane Garcia da Silveira5; Raphael Nunes Bueno6.
Resumo: O objetivo deste estudo foi traçar o perfil do cirurgião-dentista em atuação em Santa
Catarina (Brasil). O instrumento de coleta de dados foi um questionário com 23 questões. As
principais características que definiram o perfil do grupo investigado foram: 52% eram do
gênero masculino; 68% com idade entre 21 e 35 anos; 62,5% egressos de universidades
catarinenses; 66% estavam formados a dez ou mais anos. A maioria possui especialização e
atua como autônomo. Mais da metade desenvolvia atividades profissionais em paralelo Do
ponto de vista financeiro, 59% se consideravam parcialmente satisfeitos e 41% afirmaram
estar plenamente satisfeitos com a profissão.
Palavras-chave: Recursos Humanos em Odontologia; Mercado de Trabalho; Prática
Profissional.
Abstract: The objective of this exploratory study was to trace the profile of the dentist in
performance in Santa Catarina (Brasil). Data collection instrument was a questionnaire with
23 questions. The main characteristics that had defined the profile of the investigated group
had been: 52% were male; 68% had age range 21 to 35 years; 62.5% had studied at
universities of Santa Catarina, 66% were graduated ten years or more. The majority has
expertise and has activity as autonomous. More than half (60%) develops another activity in
parallel. About the aspect financially, the majority (59%) if considers partially satisfied and
41% said they were fully satisfied with the profession.
Keywords: Dental Staff; Job Market; Professional Practice.
_____________________
1
Cirurgião-Dentista, Doutor em Engenharia de Produção e Ergonomia; Professor e
Integrante do Grupo de Pesquisa Atenção a Saúde Individual e Coletiva em Odontologia, do
Curso
de
Odontologia
da
Universidade
do
Vale
do
Itajaí.
E-mail:
[email protected]
2
Acadêmica do Curso de Odontologia da Universidade do Vale do Itajaí. Bolsista de
Iniciação Científica; Integrante do Grupo de Pesquisa Atenção a Saúde Individual e Coletiva
em Odontologia. E-mail: [email protected]
³ Egressa do Curso de Odontologia da Universidade do Vale do Itajaí; Ex-Bolsista de
Iniciação Científica. E-mail: [email protected]
4
Bióloga, Mestre em Educação e Ciências. Professora e Integrante do Grupo de Pesquisa
Atenção à Saúde Individual e Coletiva em Odontologia, do Curso de Odontologia da
Universidade do Vale do Itajaí. E-mail: [email protected]
5
Cirurgiã-Dentista, Mestre em Odontopediatria; Professora e Integrante do Grupo de
Pesquisa Atenção à Saúde Individual e Coletiva em Odontologia, do Curso de Odontologia
da Universidade do Vale do Itajaí. E-mail: [email protected]
6
Cirurgiã-Dentista, Mestre em Engenharia de Produção-Ergonomia; Professora do Curso de
Odontologia da Universidade do Vale do Itajaí. E-mail: [email protected]
7
Neto, M. U. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 7-17, jan/jun. 2012
Introdução
Materiais e método
O panorama do mercado de
trabalho, na área da Odontologia, em especial
no Brasil, sofreu uma mudança radical nos
últimos vinte anos. Neste espaço de tempo,
houve um aumento significativo do número
de profissionais. Atualmente, o Brasil
concentra 19% do número de CirurgiõesDentistas (CD´s) do mundo e expressivo
número de cursos de Odontologia o que
implica numa forte pressão sobre o mercado
de trabalho.1-6
Analisando-se a relação entre número
de habitantes, número de faculdades/cursos e
número de profissionais inscritos no
Conselho Federal de Odontologia (CFO), em
cada estado brasileiro, identifica-se algumas
discrepâncias. Dos vinte e sete estados, treze
apresentam relação habitante/CD superior à
recomendada pela Organização Mundial da
Saúde (OMS), que é de um dentista para cada
mil e quinhentos habitantes (1/1500)1-10, no
entanto, a proporção média para o país é de
um cirurgião-dentista para cada 838
habitantes (1/838). E a média mundial é de
um CD para 62.595 habitantes.1
As regiões sudeste e sul concentram
três quartos dos CD´s do país. Na região
sudeste, está 59% dos CD´s cadastrados no
CFO, dos quais 33% estão atuando no estado
de São Paulo. Em outras regiões, porém, a
realidade revela que há uma péssima
distribuição de CD’s.1-10
Um mercado de trabalho com tais
características é preocupante, tornando
imperiosa a necessidade de profundas
reflexões, para a efetivação de mudanças. As
mudanças na organização da produção e do
trabalho exigem uma adequação da política
de recursos humanos para a construção do
novo modelo de atenção à saúde1-12.
Diante deste cenário, definiu-se pela
realização de uma pesquisa para se
identificar o perfil profissional dos
cirurgiões-dentistas
com
registro
no
Conselho Regional de Odontologia de Santa
Catarina (CRO/SC) e em atuação no Estado.
A investigação consistiu em um
estudo exploratório, tendo como populaçãoalvo os cirurgiões-dentistas cadastrados junto
ao CRO/SC. Segundo dados do CRO/SC13, o
total de CD´s com registro à época da coleta
de dados era 7.977. Na amostra, o número de
questionários respondidos foi de 349 (4,4%
da população-alvo), e foi considerado no
intervalo, com nível de confiança de 95%,
com erro amostral de 5,24%. O modelo
utilizado foi do tipo probabilístico utilizandose a técnica de amostragem aleatória simples.
Considerando-se
que
o
perfil
profissional é constituído por um conjunto de
fatores ou características que caracterizam a
pessoa em uma determinada atividade
profissional, definiu-se que o instrumento
para coleta de dados seria um questionário
com 23 questões, sendo 22 do tipo fechado e
uma aberta, distribuídas em cinco (05)
campos, a saber: caracterização sóciodemográfica
dos
sujeitos;
formação
profissional;
atividade
profissional;
rendimentos; e percepção quanto à profissão.
Antes do envio para toda a
população-alvo, o questionário foi validado
com um grupo de vinte CD’s, para ajustes e
melhorias indicadas pelos pesquisados. Estes
instrumentos não integraram a pesquisa. As
principais contribuições foram referentes ao
tópico sobre a atividade profissional, tendo
sido sugerida a inclusão de novas alternativas
às questões que integravam este campo do
instrumento de coleta de dados.
O questionário foi remetido a todos os
profissionais, junto ao Informativo do
CRO/SC que integra o site do CROSC. O
período de coleta de dados foi de dezembro
de 2009 a março de 2010. Durante todo este
período
foram
efetuadas
constantes
chamadas, solicitando-se a participação dos
CD’s.
Os dados foram tabulados com
auxílio do programa Microsoft Office Excel
2007, para o cálculo da frequência (absoluta
e relativa) das respostas de cada uma das
8
Neto, M. U. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 7-17, jan/jun. 2012
questões do tipo fechado. Para a questão do
tipo aberto, as respostas foram agrupadas em
categorias de acordo com o nível de
similaridade.
O projeto de pesquisa recebeu
aprovação da Comissão de Ética em Pesquisa
da UNIVALI, sob o nº 186/09.
Resultados
A caracterização sócio-demográfica
da amostra, segundo as variáveis que a
definiram, indica uma pequena diferença
entre o número de homens e mulheres e que a
maioria tinha entre 21 e 35 anos de idade.
(Tabela 1)
Tabela 1: Caracterização sócio-demográfica do grupo pesquisado.
VARIÁVEIS
%
Gênero
Masculino
Feminino
52
48
Idade (em anos)
21 a 35
36 a 50
51 ou mais
58
32
10
O grupo de cirurgiões-dentistas que integrou a amostra era procedente de 154, dos
293, municípios, que estavam distribuídos entre sete, das oito, mesorregiões de Santa
Catarina, sendo que a maior concentração estava nas mesorregiões Norte e Litoral
Catarinense. (Tabela 2)
Tabela 2: Mesorregiões do Estado de Santa Catarina em que o grupo pesquisado
atuava
Região do Estado em que atua
%
Norte e Litoral Catarinense
45,8
Vale do Itajaí
23,1
Meio-Oeste e Oeste Catarinense 18,9
Sul Catarinense
9,3
Planalto Serrano
2,9
Sobre a formação dos sujeitos integrantes da pesquisa, identificou-se que a maioria
havia se formado há dez ou mais anos, sendo que mais da metade (62,5%) realizou sua
graduação em instituições de Santa Catarina. A Universidade Federal de Santa Catarina e a
Universidade do Vale do Itajaí congregaram 88% da amostra. (Tabela 3)
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Neto, M. U. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 7-17, jan/jun. 2012
Tabela 3: Caracterização do grupo pesquisado quanto à graduação.
VARIÁVEIS
Tempo de formado
Menos de 10 anos
De 10 a 29 anos
30 ou mais anos
Estado onde se graduou
Santa Catarina
Rio Grande do Sul
Paraná
Outros (SP, MG, CE, PA)
%
34
56
10
62,5
15,5
15,5
6,5
Universidade de Santa Catarina onde
realizou a graduação
UFSC
45,0
UNIVALI
43,0
UNISUL
3,0
UNOESC
3,0
FURB
3,0
UNIVILLE
2,0
UNIPLAC
1,0
Ainda com relação ao processo de formação, destaca-se que expressivo percentual
(70%) possuía especialização. E, 90% afirmaram participar de cursos de atualização
profissional de modo regular e frequente. (Tabela 4)
Tabela 4: Caracterização dos Cd´s quanto ao processo de formação continuada.
VARIÁVEIS
%
Formação Continuada – Titulação
Especialização
70
Mestrado
22
Doutorado
8
Participação em Cursos de Atualização
Sim
90
Não
10
Participação em Cursos de Atualização
Pelo menos uma vez ao ano
42
Mais de uma vez ao ano
36
Esporadicamente
21
As especialidades vinculadas à clínica curativo-restaurativa foram as mais frequentes,
dentre as quais o maior destaque foi para a Ortodontia. A relação das especialidades e
respectivas frequências encontra-se na tabela 5.
10
Neto, M. U. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 7-17, jan/jun. 2012
Tabela 5: Frequência das áreas de especialização cursadas pelos sujeitos da pesquisa.
ÁREA DE ESPECIALIZAÇÃO
Ortodontia
Saúde Coletiva/S. da Família/S. Pública
Endodontia
Prótese
Implantodontia
Odontopediatria
Periodontia
Dentística
Radiologia
Cirurgia
Outras (com frequência inferior a 3%)
A caracterização da atividade
profissional indicou que a maioria (71%)
atuava na condição de autônomo, dentre os
quais 19,65% cumulavam serviço público,
com clínica privada; 6% prestavam serviços
a empresas privadas ou cooperativas e um
total de 23% trabalhava em serviço público.
A maioria (60%) possuía duplo
vínculo empregatício ou exercia outro tipo de
atividade, em paralelo. Das atividades
concomitantes, o exercício do magistério na
área da odontologia foi o mais citado (72%).
Um percentual de 39% trabalhava com
convênio. E 63% desenvolviam suas
atividades em parceria com outros CD´s.
Dentre os 23% que atuavam em
órgãos públicos, a maioria (44%) exercia
suas atividades junto a Equipes de Saúde da
Família, seguido por Unidades Básicas de
Saúde (36%), Centros de Especialidades
Odontológicas (11%), Órgão Gestor (7%) e
Hospital (2%).
No desempenho das atividades
profissionais, 60% atuavam, prioritariamente,
como especialista e 40% como generalista.
Entre os especialistas, as áreas mais citadas
foram: Ortodontia (21,1%), Endodontia
%
16,0
15,0
13,0
12,0
11,0
6,5
6,5
5,0
5,0
3,5
6,5
(16,5%), Prótese (15%), Implantodontia
(10,5%).
A maioria (62%) dispunha de equipe
de apoio, sendo o Auxiliar de Saúde Bucal
(ASB) e a secretária os dois componentes
mais citados.
Com relação aos rendimentos mensais
advindos da profissão, a maioria (52%)
informou que recebia até dez (10) Salários
Mínimos (SM); 35% entre 11 e 20 SM e 13%
acima de 20 SM. Para 60% dos pesquisados,
a procedência dos rendimentos era,
significativamente, da clientela particular.
A
avaliação
das
atividades
profissionais exercidas nos últimos seis
meses apontou que 43% estavam atendendo a
toda demanda, mas, no entanto, não se
classificavam como trabalhando em excesso.
Trinta e cinco por cento (35%) se
consideravam com excesso de trabalho. E,
22% afirmaram que não se encontravam
totalmente ocupados, podendo atender mais
pacientes.
A maioria (59%) se considerava parcialmente
satisfeita quanto ao aspecto financeiro. E,
com relação ao exercício profissional, 41%
avaliavam-se como satisfeitos para com a
profissão. (Gráfico 1)
11
Neto, M. U. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 7-17, jan/jun. 2012
%
Satisfeito
80
Parcialmente satisfeito
Insatisfeito
59
60
41
40
40
20
19
22
19
0
Financeiramente
Profissionalmente
Gráfico 1: Distribuição da frequência das categorias que caracterizam o nível de satisfação
financeira e profissionalmente dos CD´s que participaram da pesquisa.
Quando questionados se optariam,
novamente, pela profissão de cirurgiãodentista, a maioria (63%) respondeu
afirmativamente, tendo como principais
justificativas o fato de gostarem da profissão;
por ela ser uma atividade que lhes permite
flexibilizar o horário de trabalho; e porque é
autônoma. Dentre os 37% que não optariam
novamente pela Odontologia, as justificativas
foram: pouca valorização que a sociedade dá
ao
cirurgião-dentista;
pouco
retorno
financeiro e baixos salários; e pouca união da
classe. O que se observou, de forma
consistente, tanto entre os que optariam
como entre os que não mais optariam pela
Odontologia, foi a preocupação quanto ao
processo de saturação do mercado de
trabalho, como se pode observar em alguns
trechos retirados dos questionários e que
foram abaixo transcritos.
A prática privada da odontologia, a
meu ver, encontra-se em declínio. A minha
região possui uma relação CDs por
habitante desfavorável; um número saturado
de CDs, tornando difícil, principalmente, o
estabelecimento de recém-formados. Alguns
colegas já trocaram seus consultórios por
outras atividades dentro e fora da área.
(CD35)
Não vale a pena ser cirurgiãodentista, tanto em serviço público
(concursos) quanto autônomo ou empresa
privada.
Os
contratantes
desprezam
cirurgiões-dentistas, seja oferecendo salários
péssimos ou até mesmo com comentários
como: se você não quiser o emprego há
outro que queira, dentistas existem aos
montes. Os próprios colegas que também já
se encontram desesperados acabam por
denegrir mais ainda a profissão, oferecendo
serviços a preço de banana, o que não
ocorre, por exemplo, com profissionais
médicos, já que estes se apresentam como
classe unida, com conselho e sindicato
atuantes... (CD 209)
Há uma saturação e banalização da
profissão; as clínicas populares com preços
muito baixos estão aviltando a profissão...
(CD 87)
Discussão
O mercado de trabalho, para um
determinado país, região ou localidade,
depende significativamente de fatores que
estão vinculados à estrutura socioeconômica
e à organização da sociedade, tais como:
modelo de prestação de serviços, padrões
epidemiológicos, culturais e econômicos da
população, crescimento da oferta de mão-deobra e da própria estrutura profissional. Neste
sentido, é importante, inicialmente, se fazer
algumas reflexões sobre o número de CD´s
em atividade no Estado.
12
Neto, M. U. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 7-17, jan/jun. 2012
Santa Catarina integra o grupo dos
dez estados que, juntos, concentram 84,5%
dos profissionais do país. Em 2008, ele era o
sexto colocado neste ranking. A proporção de
CD por população, na região Sul, em 2009,
era de 1/774 (um CD para cada 774 pessoas)
e em Santa Catarina o valor médio era de
1/756 (um CD para cada 756 pessoas). Estes
valores são menores do que a média do país
(1/838) e, por sua vez, a média brasileira é
muito inferior à média mundial (1/62.595)1.
Considerando-se a recomendação da
OMS, que é de 1/1500 (um CD para um mil
e quinhentos habitantes)6,8-10, pode-se afirmar
que o Estado está caminhando para um
processo de saturação de oferta de
profissionais. Constatação esta que foi
apontada por expressivo número de CD´s que
integraram a presente pesquisa. É
inquestionável, portanto, como se depreende
dos depoimentos dos sujeitos desta pesquisa,
que o mercado de trabalho, na área da
Odontologia, encontra-se em um processo de
mudanças profundas.
A forma como a profissão foi
originalmente concebida, isto é, para o
exercício clínico liberal tradicional, que é
desempenhado de modo individual e
altamente especializado, deve ser objeto de
revisão,
envolvendo
as
instituições
formadoras de recursos humanos e os órgãos
de classe. Uma das alternativas, como
afirmaram diversos autores7-12,14-21, é a
substituição do trabalho autônomo pelo
assalariado
de
forma
indireta
(credenciamento) ou direta (contratação). A
perspectiva é de que o cirurgião-dentista
adote outros tipos de vínculos empregatícios,
buscando alternativas para ampliar as
possibilidades de atuação profissional48,10,14,17,19,20
, e esta proposição foi identificada
no grupo investigado, assim como entre
CD´s de diferentes partes do país1,3,8,10,11,19-21.
Entre os sinais de mudança
encontrados neste grupo, está a cumulação da
atividade autônoma com a assalariada e o
desenvolvimento concomitante de outras
atividades, como a docência. Há, também,
aqueles com vínculo parcial com serviços
públicos e os assalariados de empresas
privadas de serviços odontológicos. No
entanto, o vínculo dos CD´s integrantes desta
pesquisa com o Sistema Único de Saúde,
ainda, é reduzido, ratificando-se o relatado
em outros estudos efetuados em diferentes
regiões do país1,3-6,11.
A relação entre o número de CD´s
cadastrados no CFO e no Cadastro Nacional
de Estabelecimentos de Saúde (CNES), em
2008, variava de 13% (no Distrito Federal) a
78% (no Maranhão); o percentual médio de
CD´s brasileiros que prestavam atendimento
em
serviços
públicos
era
de,
aproximadamente, 27%. Do total de dentistas
vinculados ao serviço público (2.388), 43,4%
atuavam em Equipes de Saúde da Família
(ESF) e nos Centros de Especialidades
Odontológicas (CEO)1. Esta realidade quanto
à atuação do CD no serviço público, também,
foi observada entre os CD´s que participaram
desta pesquisa.
O perfil sócio-demográfico do grupo
investigado (expressivo número de mulheres
e predominância de sujeitos jovens),
também, foi constatado por outros
autores1,3,7,8,15,19-22. Este perfil, de acordo com
a literatura, tende a se manter e merece um
repensar em termos de competitividade e
competência para o desempenho de
atividades1,10,11,15,21.
Outra característica do grupo é a
preocupação para com a especialização
profissional o que, também, foi identificado
em diferentes estudos3,8,9,15-17,20,21. O número
de CD´s brasileiros com uma especialidade,
em 2008, era de 25% e, na região sul, a
média era de 30,5%. Estes percentuais são
mais elevados do que o de países
desenvolvidos, como Estados Unidos, Reino
Unido, Canadá, Alemanha e França1.
O processo de busca pela especialização nos
remete a duas situações antagônicas. De um
lado, o constante aperfeiçoamento é, sem
dúvida, fundamental para o competente
exercício profissional. De outro, a
especialização induz a uma fragmentação do
conhecimento21, pois as especialidades mais
procuradas, ainda, estão centradas no modelo
flexneriano16, como evidenciado no trabalho
de Morita et al.1 que 61% do contingente de
13
Neto, M. U. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 7-17, jan/jun. 2012
especialistas em atuação no Brasil, em 2008,
atuavam em áreas como: Ortodontia e
Ortopedia Facial, Endodontia e Periodontia.
Este comportamento encontrado no
cenário nacional, também, foi identificado
entre os pesquisados, pois, dentre as
especialidades mais citadas, estavam a
Ortodontia e a Endodontia. No entanto, há
um diferencial neste grupo que chama a
atenção, trata-se das especialidades voltadas
à área dos serviços públicos (Saúde Coletiva/
Saúde da Família/Saúde Pública), que,
ficaram entre as três áreas mais citadas,
enquanto que, no contexto nacional, a
especialidade de Saúde Coletiva alcançou a
décima colocação, em um conjunto de dez
especialidades1.
A participação em especialidades
relacionadas à saúde pública, provavelmente
esteja sendo influenciada pelas políticas
públicas
que
têm
propiciado
aos
profissionais, que prestam ou pretendam
prestar serviço na rede pública de saúde, a
realização de cursos de especialização
voltados à saúde coletiva com enfoque na
promoção, mediante, inclusive, incentivos
financeiros e de acesso. Portanto, depreendese que entre os pesquisados, mesmo ainda
sendo expressiva a atuação profissional em
clínicas privadas, há uma parcela que está se
apercebendo das transformações do mercado
de trabalho e, por isso, investindo nas
possibilidades que o serviço público tem
descortinado, fazendo com que haja um
crescimento da busca por cursos de
especialização voltados às necessidades do
serviço público.
No tocante à formação profissional,
observou-se que grande parte dos
pesquisados realizou sua graduação em
instituições de Santa Catarina o que fortalece
a importância do papel das universidades
catarinenses no processo de formação do
cirurgião-dentista. O modelo de prática
odontológica, em nosso país, ainda está
apoiado no paradigma biomédico, pois a
maioria trabalha sozinha ou com auxiliar, em
consultório, na rede privada, de forma
individualizada, executando procedimentos
clínicos cirúrgico-restauradores.
No entanto, já se tem indicadores de
que este tipo de formação pouco tem
contribuído para a melhoria do quadro de
saúde bucal da população brasileira11. As
mudanças decorrentes, em especial, da
expansão do número de cursos de
odontologia e da ampliação dos postos de
trabalho no setor público, trouxeram novos
valores à prática em saúde bucal e ao papel
do profissional e questionaram aspectos
ligados à especialização e à fragmentação do
cuidado. É necessário, portanto, que o
processo ensino-aprendizagem transponha a
formação técnico-científica e se preocupe,
também, em formar cidadãos com visão
crítica, com uma compreensão ampliada do
processo saúde-doença e do papel do dentista
no campo da saúde11. Assim, os currículos
devem favorecer a discussão sobre as reais
condições do mercado de trabalho e as atuais
necessidades da população brasileira.
O modelo de prática identificado no
grupo pesquisado, e também entre expressivo
número de dentistas de outras regiões do
país, tem influenciado significativamente na
satisfação destes sujeitos. Sabe-se que o
exercício profissional é influenciado por
aspectos relacionados às habilidades e
aptidões de quem o executa e, também, por
fatores psicológicos e sociais. Por sua vez,
este conjunto de fatores interfere no
comportamento do profissional, traduzindose no que se denomina por satisfação
profissional22.
Para se analisar a satisfação profissional,
foram considerados os aspectos referentes
aos rendimentos e à prática vivenciada pelos
CD´s desta pesquisa; isto porque se concebe
como satisfação profissional o estado
emocional resulta, apenas, de fatores
financeiros e sociais20,22. Ela está fortemente
relacionada a aspectos como desempenho
profissional, qualidade de vida, saúde física e
mental e com a autoestima do trabalhador
20,22
.
No que se refere aos rendimentos,
45% dos CD´s brasileiros, em 2007, tinham
uma renda média mensal entre R$ 1.000,00 e
R$3.000,00 e 10% tinham a maior faixa de
renda (mais de R$ 6.000,00)1.
14
Neto, M. U. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 7-17, jan/jun. 2012
Comparando-se estes dados com as
informações fornecidas pelos sujeitos da
amostra deste estudo, observa-se uma
distribuição similar quanto às faixas de
renda. Em consequência do retorno
financeiro, que é tido como baixo por um
considerável número de CD´s, identifica-se,
tanto na literatura15,20,22 como entre os
pesquisados, uma insatisfação quanto à
remuneração auferida pela profissão. Já, a
análise sobre a avaliação das atividades
profissionais evidenciou que, apesar das
dificuldades quanto ao mercado de trabalho,
tanto no grupo investigado como em outras
pesquisas3,13, há um significativo percentual
de CD´s satisfeito com a profissão. positivo
resultante do prazer que se tem com as
experiências do trabalho e que não
Dentre os que afirmaram não estar
satisfeito,
as
principais
justificativas
relacionaram-se ao fato de o mercado de
trabalho estar altamente competitivo e que
não há uma valorização adequada por parte
da sociedade. A percepção da maioria é de
que a prática privada está em declínio, que
ainda há pouca oferta de outras modalidades
para o exercício profissional e que os postos
de trabalho existentes oferecem salários não
condizentes com a realidade. Identificou-se,
também, intensa crítica aos serviços
prestados pelas chamadas Clínicas Populares,
as quais, geralmente, ofertam procedimentos
de má qualidade por preços baixos, tornandose concorrentes desleais. Este tipo de
atuação, segundo os pesquisados, leva a uma
desvalorização da odontologia e a uma
imagem negativa do dentista.
Esta visão dos pesquisados é
consistente com a literatura, pois a
odontologia de natureza liberal e privada
tornou-se instável, sujeita às oscilações de
emprego e salários22. O crescimento
descontrolado do número de profissionais
contribui para o desequilíbrio do mercado,
gerando duas problemáticas: uma de cunho
quantitativo relacionada às relações de
mercado (relação dentista/paciente) e outra
de cunho qualitativo que se refere ao tipo de
formação, envolvendo as competências
profissionais1,2,7-15.
Considerações finais
A primeira reflexão, a título de
síntese, refere-se ao fato de que o perfil do
grupo investigado assemelha-se ao atual
perfil do CD brasileiro, que foi identificado
no trabalho de Morita et al.1. O grupo de
CD’s de Santa Catarina que integraram a
pesquisa se caracteriza por expressivo
número de especialistas em área clínicocurativa, atuando prioritariamente como
profissional autônomo, com pouca inserção
no serviço público e com mais de um tipo de
vínculo de trabalho. Este perfil pode ser
considerado como um reflexo da prática
odontológica
embasada
no
modelo
biomédico que orientou a formação de
profissionais no início do século passado e
que perdura até hoje. No entanto, este perfil
vem sofrendo pressões em decorrência das
mudanças na realidade da sociedade
brasileira e que têm exercido influências na
concepção da prática em saúde e no mercado
de trabalho.
Outro aspecto que merece destaque na
caracterização do grupo é o contundente
questionamento sobre a valorização da
profissão e a necessidade de maior integração
da classe. É indiscutível que o mercado
mudou nestes últimos vinte anos, e
continuará em constantes mudanças, portanto
profissionais, agências formadoras e governo
têm que acompanhar os desafios que são
apontados por estas transformações. A busca,
de forma articulada, por alternativas éticas,
que facilitem o acesso e o ingresso a
diferentes espaços de trabalho e favoreçam o
exercício profissional de forma a gerar plena
satisfação,
deve
ser
constantemente
fomentada desde o inicio do processo de
formação do cirurgião-dentista.
É imprescindível reconhecer e aceitar
que o perfil do profissional necessário para
atender às demandas da atualidade implica
no domínio de conhecimentos abrangentes
sobre o processo saúde-doença e pela
integração a uma equipe de saúde. Este é um
aspecto identificado entre os sujeitos da
pesquisa, embora de forma ainda muito
pouco frequente. As formas de atuação
15
Neto, M. U. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 7-17, jan/jun. 2012
profissional mostraram o desempenho de
atividades concomitantes em diferentes
contextos, do trabalho em parceria e da
vinculação com o serviço público em
Equipes de Saúde da Família, além da
procura por cursos de especialização na área
da saúde pública.
Assim, o debate sobre o perfil do
cirurgião-dentista deve ser pautado nas
mudanças que ocorrem no mercado de
trabalho, nas bases paradigmáticas que
sustentam o ensino odontológico, nos saberes
que atendam às necessidades apresentadas
pela sociedade, na relação generalista versus
especialista. Enfim, todos estes enfoques não
podem
ser
descartados,
eles
são
interdependentes e estão vinculados à
satisfação do profissional.
Agradecimentos
- À Universidade do Vale do Itajaí, através
da Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação,
Extensão e Cultura (ProPPEC), pelo
financiamento desta pesquisa, com recursos
Programa de Bolsas de Iniciação Científica
Artigo 170/Governo do Estado de Santa
Catarina.
- Ao Conselho Regional de Odontologia de
Santa Catarina (CROSC), que através de seu
Presidente à época da pesquisa, Dr. Sidnei
José Garcia, apoiou a sua execução,
viabilizando o envio do instrumento de coleta
de dados.
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17
Brunetta, M. E. F. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 18-26, jan/jun. 2012
ESTRATÉGIAS DE PREVENÇÃO PARA OBESIDADE INFANTIL NO CONTEXTO
DA ATENÇÃO PRIMÁRIA EM SAÚDE* [Strategies for prevention of childhood
obesity in the context of primary health care]
Maria Elizia Fornari Brunetta1; Gabriela Marcelino de Mello Lanzoni2; Caroline
Cechinel3.
Resumo: O estudo trata de uma revisão bibliográfica, cujo objetivo foi identificar estratégias
de combate e prevenção da obesidade infantil na Atenção Primária à Saúde, e identificar suas
causas e consequências. Os resultados demonstram que a obesidade é uma das enfermidades
nutricionais que mais têm apresentado aumento em sua prevalência. Em relação aos fatores
biológicos relacionados com o desenvolvimento da doença na infância, foram identificados o
desmame precoce, introdução de alimentos inadequados com alto teor calórico e a inatividade
física. O tratamento exige a atuação de uma equipe multiprofissional e recomenda práticas
interdisciplinares.
Palavras-chave: obesidade; atenção primária à saúde; desenvolvimento infantil; prevenção
primária; comunicação interdisciplinar.
Abstract: The study is a literature review which the objective was to investigate strategies to
combat and prevent childhood obesity in the Primary Health Care, and identify its causes and
consequences. The results show obesity is one of the most nutritional diseases have shown an
increase in prevalence. With regard to biological factors related to the development of disease
in childhood, were identified early weaning, introduction of inappropriate foods with high
calorie and physical inactivity. The treatment requires the action of a multidisciplinary team
and recommended interdisciplinary practices.
Keywords: obesity; primary health care; child development; primary prevention;
interdisciplinary communication.
Além disso, a infância é um
importante período para o desenvolvimento
do estilo de vida do indivíduo, uma vez que
Introdução
os comportamentos adquiridos nesta fase
A obesidade é um distúrbio crônico, podem ser perpetuados para o resto da vida.
cuja prevalência encontra-se em ascensão, Hábitos assumidos pelos pais tendem a serem
tornando-se cada vez mais comum entre os repetidos pelas crianças, demonstrando a
infantes. A obesidade infantil vem ganhando importância da conscientização daqueles,
atenção devido aos riscos associados, dentre bem como a influência das escolas em boas
os cardiovasculares, músculo-esqueléticos, práticas
alimentares,
reforçando
a
respiratórios e metabólicos, configurando um intervenção sobre a prática de uma
importante problema de saúde pública1-2-3.
alimentação saudável.
____________________
*
Trabalho de Conclusão de Curso. Especialização em Saúde da Família, modalidade à
distância. Maria Elizia Fornari Brunetta. Florianópolis / SC. Universidade Federal de Santa
Catarina. 2011.
1
Médica. Especialista em Saúde da Família. Universidade Federal de Santa Catarina.
[email protected]
1
Enfermeira. Doutoranda em Enfermagem. Universidade Federal de Santa Catarina.
[email protected]
1
Enfermeira. Mestranda em Saúde Coletiva. Universidade Federal de Santa Catarina.
[email protected]
18
Brunetta, M. E. F. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 18-26, jan/jun. 2012
A prevenção e o diagnóstico precoce
da obesidade são importantes aspectos para a
promoção da saúde e redução de
morbimortalidade, não só por ser um fator de
risco importante para outras doenças, mas
também por interferir na duração e qualidade
de vida, e ainda ter implicações diretas na
aceitação social da criança obesa. A
obesidade é um dos fatores de risco mais
importantes para outras doenças não
transmissíveis, com destaque especial para o
diabetes
e
agravos
cardiovasculares.
Demonstra-se que pessoas obesas morrem
mais de doenças do aparelho circulatório do
que indivíduos com peso normal5.
Além dos riscos somáticos associados
à obesidade, a doença ainda pode levar à
dificuldade de interação social, levando a um
sentimento de inferiorização do indivíduo6.
Nesse contexto, a Atenção Primária
em Saúde (APS) apresenta-se como
importante instrumento para alcance desta
população, a fim de promover a saúde destes
indivíduos em risco, prevenir e combater a
doença e minimizar os agravos por ela
proporcionados. A equipe interdisciplinar
atuante neste nível de atenção à saúde é
orientada para orientar a população quanto à
importância do autocuidado, e instruir e
facilitar o enfrentamento do processo saúdedoença por meio de ações educativas, que
integram os saberes de todos os profissionais
envolvidos, bem como respeite os
conhecimentos populares demonstrados pela
população. Além disso, uma assistência
interdisciplinar prioriza um atendimento
preventivista, valorizando a promoção da
saúde bem como a prevenção da doença e
seus agravos7.
Para avaliação do estado nutricional
de crianças, utiliza-se como referência a
população do National Center for Health and
Statistics – NCHC (1977), recomendada pela
WHO (1955), o percentil (P), pois as crianças
em condições adequadas de saúde têm
crescimento semelhante em diferentes
etnias8. Nesse sentido, o panorama
epidemiológico mundial da obesidade
infantil tem se revelado como um novo
desafio para a saúde pública. Evidencia-se
um aumento da prevalência da obesidade em
caráter de pandemia, tendo seu número
triplicado nos últimos 30 anos na realidade
brasileira, apresentando, além disso, um
aparecimento cada vez mais precoce9.
Países latinos, que tiveram rápido
desenvolvimento econômico nas últimas
décadas, apresentaram diminuição da
prevalência da desnutrição em contraponto
ao aumento da prevalência da obesidade
infantil9. O Brasil também se encontra em
um período de transição nutricional,
possuindo características tanto de desnutrição
quanto de obesidade. Segundo um estudo
multicêntrico realizado no município de
Marialva, Paraná, Brasil, a partir dos dados
do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), a prevalência de
obesidade chega a 11,9% na região Sudeste
do país2.
Com o advento do Sistema Único de
Saúde (SUS) foi criada a Política de
Alimentação e Nutrição, a partir da qual foi
ampliado e aperfeiçoado o Sistema de
Vigilância
Alimentar
e
nutricional
(SISVAN). O SISVAN é responsável pelo
monitoramento, análise e a divulgação de
dados sobre a situação alimentar e nutricional
de dada população e por estender sua
cobertura a todo o país10.
Em virtude das consequências que a
obesidade infantil pode acarretar na vida
adulta e os riscos destes agravos para a
qualidade de vida do indivíduo, é
reconhecida a importância de estudos que
contemplem a abordagem do assunto. A
partir destas percepções, viu-se a necessidade
de uma revisão bibliográfica da prevalência
da obesidade entre escolares e adolescentes
visando conhecer a magnitude do problema
em nosso meio, para a busca de soluções
preventivas, evitando o aumento da
morbimortalidade em pessoas jovens devido
a esta causa. Assim, este estudo tem como
objetivo identificar causas e consequências
da obesidade infantil e traçar possíveis
estratégias de combate e prevenção a este
agravo no âmbito da APS.
19
Brunetta, M. E. F. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 18-26, jan/jun. 2012
Metodologia
Para atingir o objetivo proposto,
utilizou-se uma revisão bibliográfica.
Adotou-se a Revisão Integrativa de
Literatura, que permite a sumarização de
pesquisas anteriores e possibilita que sejam
estabelecidas conclusões a partir da avaliação
crítica do delineamento das pesquisas,
apresentando a síntese das evidências
disponíveis acerca do tema investigado11.
As
etapas
percorridas
para
operacionalização desta revisão contemplam:
identificação do problema, elaboração de um
protocolo de pesquisa, definição das
informações a serem extraídas dos artigos
selecionados, seleção dos estudos, análise,
apresentação e discussão dos resultados11-12.
Foram definidos critérios para a
coleta de dados, análise e apresentação dos
resultados desde o início do estudo, a partir
de um protocolo de pesquisa previamente
elaborado e validado. A busca pela literatura
ocorreu no mês de janeiro de 2011 no site da
Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), que
inclui as bases: Literatura Latino-americana
em Ciências da Saúde (LILACS), Índice
Bibliográfico Espanhol em Ciências da
Saúde (IBECS), Biblioteca Científica
Eletrônica Online (SciELO), Literatura do
Caribe em Ciências da Saúde (MedCARIB),
Saúde
na
Adolescência
(ADOLEC),
Literatura Internacional em Ciências da
Saúde (MEDLINE) e Biblioteca Cochrane.
Os termos de busca foram
selecionados a partir da terminologia em
saúde consultada nos Descritores em
Ciências da Saúde (DECS-BIREME), sendo
incluídos estudos que continham os
descritores: Obesidade AND Atenção
Primária à Saúde, nos idiomas português e
espanhol, disponíveis gratuitamente no
formato completo, sem limite de tempo. Foi
excluída, automaticamente, toda produção
duplicada, cartas, editoriais, e produção não
relacionada com o escopo do estudo.
De um universo de 615 estudos
localizados, 106 estavam disponíveis no
formato completo e somente 24 nos idiomas
português e espanhol. A partir destas 24
produções científicas foi realizada a
captação, a leitura flutuante dos resumos e
texto completo e, considerando o critério de
pertinência e consistência do conteúdo, sendo
selecionados sete estudos completos para
análise mais aprofundada.
Para a extração dos dados dos estudos
selecionados, foi elaborado um instrumento
em formato de tabela contendo colunas
discriminando as seguintes informações:
autores, título do estudo, ano de publicação,
periódico, país, população de sujeitos,
cenário e principais estratégias utilizadas
pelas equipes.
A análise dos dados ocorreu a partir
da agregação das informações e conceitos
conforme a identificação de semelhanças e
diferenças compondo um achado que foi
interpretado e sustentado com literaturas
pertinentes.
Resultados
Foram selecionados sete estudos,
originados de periódicos brasileiros e
espanhóis, dentre os anos de 2004 a 2009,
conforme apresenta a Figura 1. Quanto ao
tipo de pesquisa, quatro (57%) estudos
caracterizavam-se como revisão de literatura,
dois (28%) artigos como pesquisa original, e
um (15%) como colaboração especial. O
público alvo das pesquisas originais foram
médicos pediatras no primeiro estudo, e
adolescentes no segundo.
20
Brunetta, M. E. F. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 18-26, jan/jun. 2012
Figura 1
Relação dos artigos selecionados segundo autor, título, ano de publicação, periódico e país.
Autor
Título
Ano
Periódico
País
Mello ED, Luft Obesidade
infantil:
como
2004 Jornal de Pediatria
Brasil
VC, Meyer F
podemos ser eficazes
Prevención y tratamiento de la
Revista Española
Alustiza
E,
obesidad infantil em atención 2004 de
Nutrición Espanha
Aranceta J
primaria
Comunitária
Revista
de
Prevención de la obesidad
Revuelta JC
2005 Pediatria
em Espanha
infantil
Atención Primaria
Garcinuño AC,
Obesidad infantil: opiniones y
García
IP,
2008 Gaceta Sanitaria
Espanha
actitudes de los pediatras
Alonso Ic
Estratégias para prevenção da
Sichieri
R,
Caderno de Saúde
obesidade
em
crianças
e 2008
Brasil
Souza AR
Pùblica
adolescentes
Ribeiro
IC, Fatores de risco para sobrepeso
Revista
de
Colugnati FAB, entre adolescentes: análise de três 2009
Brasil
Nutrição
Taddei JAAC
cidades brasileiras
La participación social como
Herrera
JCS, estrategia central de la nutrición
Revista Española
Juan
JJO, comunitaria para afrontar los 2009
Espanha
de Salud Publica
Majem LS
retos asociados a la transición
nutricional
É consenso na literatura selecionada
que a obesidade infantil é um problema de
saúde pública que vem em crescente
aumento. A identificação das estratégias
utilizadas pelas equipes de saúde como
combate ao aumento da incidência e
prevalência dessa doença se faz ainda mais
necessário na assistência à saúde na APS. Os
estudos selecionados apresentam que as
principais estratégias utilizadas pela equipe
são: intervenções dietéticas13-14, prática de
atividade física regular13-14, educação
nutricional13-14-15-16,
redução
do
13-17
sedentarismo
, integração dos pais e
comunidade13-15-16-17-18-19 e incentivo à
amamentação14-16-17-18.
Os principais obstáculos encontrados
foram: hábitos sedentários13-17-19, aumento da
ingestão de calorias15-17-19, obesidade dos
genitores17-18, tempo de sono inferior a 7hs
por noite16-18, baixa escolaridade dos pais16, e
baixo nível sócio econômico18. Dentre as
conseqüências deste agravo, podemos citar:
transtornos depressivos, baixa auto-estima,
hipertensão arterial, diabetes, dislipidemias,
apnéia do sono, asma, esteatose hepática,
refluxo gastroesofágico, ovário policístico,
colelitíase, dentre outros18.
Discussão
Destaca-se, inicialmente, o número
pouco expressivo de estudos sobre o tema
nos idiomas português e espanhol, tendo em
vista a relevância epidemiológica e impacto
social na vida das pessoas. Verifica-se que as
intervenções abordam uma fração muito
pequena dos fatores que geram a obesidade
infantil. Aspectos importantes, como o papel
da indústria de alimentos, das propagandas,
de um estilo de vida que mantém crianças
cada vez mais sedentárias e submetidas a um
hiperconsumo calórico, vêm sendo pouco
abordado nos desenhos de estudos
tradicionais4.
O padrão de consumo alimentar atual
está baseado na ingestão excessiva de
alimentos altamente energéticos e pobres em
21
Brunetta, M. E. F. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 18-26, jan/jun. 2012
fibras e micronutrientes. Os principais
responsáveis pelo aumento acelerado da
obesidade infantil no mundo e em nosso país
estão relacionados ao ambiente e às
mudanças do modo de vida, sendo, portanto,
passíveis de intervenção, demandando ações
no âmbito individual e coletivo20.
A literatura aceita a intervenção de
causas multifatoriais sobre a gênese da
obesidade,
destacando-se
os
fatores
genéticos, ambientais, comportamentais e
socioculturais. Também há consenso sobre a
predominância da doença entre as classes
sociais mais ricas da população, o que
corrobora com a maior prevalência da doença
no Sul e Sudeste do país20.
Para um atendimento que contemple
as múltiplas abordagens necessárias para
prevenção e tratamento dessa doença, faz-se
necessário uma equipe interdisciplinar a fim
de se realizar um atendimento integral a este
indivíduo. Os trabalhadores de saúde são os
principais atores de uma prática de saúde
exitosa, ao trabalharem em equipe,
compartilhando objetivos de trabalho e
complementando as lacunas existentes em
uma atuação profissional isolada. Para tanto,
faz-se necessária a atuação conjunta de
profissionais como nutricionistas (dedicados
à estruturação de dietas alimentares
equilibradas), educadores físicos (atuantes na
prática rotineira, cotidiana e natural de
exercícios físicos), professores (supervisores
dos hábitos alimentares no período em que as
crianças permanecem na escola), psicólogos
(intervindo quando há fatores psicológicos
intrínsecos à obesidade), e médicos e
enfermeiros,
principais
atores
no
desenvolvimento de promoção da saúde, uma
vez que os processos de trabalho destes dois
profissionais têm uma articulação direta na
equipe de saúde. A relação destas profissões
deve sustentar-se na cooperação e troca,
articulando saberes e fazeres21.
O modelo de atenção à saúde está
fragmentado, no qual cada profissional
realiza uma parte do cuidado, sendo apontado
como um dificultador na assistência,
diminuindo a satisfação dos profissionais, e
consequentemente do usuário. A ciência
entende que o cuidado em saúde é de
tamanha complexidade que ultrapassa os
limites de conhecimento de uma única
profissão, necessitando da interação das
diferentes áreas de conhecimento para uma
atenção integral21.
A APS intenta contemplar a
integralidade, ao desenvolver um conjunto de
ações que abrangem promoção de saúde,
prevenção, diagnóstico, tratamento e
reabilitação de doenças e agravos. No que diz
respeito à prevenção e acompanhamento da
obesidade na infância, a possibilidade de
apoio interdisciplinar neste nível da atenção
pode representar um avanço, pois as equipes
teriam suporte de profissionais de diferentes
áreas,
dentre
enfermeiros,
médicos,
psicólogos, nutricionistas, educadores físicos,
além da possibilidade de acesso por parte do
usuário às atividades físicas e práticas
corporais, essenciais para a promoção da
saúde através do peso saudável e prevenção
da obesidade22.
A possibilidade de criação de vínculo
com o usuário e família no contexto da APS
pode ser um potencial no cuidado à
obesidade infantil, pois se verificou que os
pais exercem uma forte influência sobre a
ingestão de alimentos pelas crianças.
Evidencia-se a relação da obesidade com o
menor conteúdo proteico do leite humano, a
menor capacidade de autorregulação da
ingestão energética, percebendo-se maior
possibilidade de formação de hábitos
alimentares
variados
pelas
crianças
amamentadas com o leite materno. A longo
prazo, tem-se observado a redução de
obesidade, hipertensão arterial, dislipidemias,
diabetes e câncer, naqueles indivíduos que
receberam este alimento23.
Com relação às cantinas escolares, a
avaliação
dos
cardápios
averiguou
preparações diferentes na merenda escolar,
porém ricas em carboidratos e açúcares,
evidenciando importante déficit nutricional.
Constatou-se que a proporção de crianças e
adolescentes com obesidade e sobrepeso é
elevada, sendo necessário o desenvolvimento
de medidas de prevenção e controle do
excesso de peso neste grupo etário através da
22
Brunetta, M. E. F. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 18-26, jan/jun. 2012
instituição escolar, com orientação e
elaboração de uma dieta equilibrada, mas
também através dos pais ou responsáveis
pelas crianças, por influenciarem diretamente
nos hábitos de vida24-25.
Pode-se observar que as principais
mudanças estão relacionadas à dimensão
biológica, com foco na ingestão alimentar e
exercício. As ações de promoção da saúde e
de uma alimentação saudável envolvem o
fortalecimento político dos diferentes grupos
para que possam pressionar pela garantia de
todos esses direitos: acesso ao alimento e a
uma alimentação saudável, acesso à
informação, à atenção à saúde, e aos bens e
serviços públicos essenciais24-26. Deve-se
desmistificar a idéia de que tudo o que é
gostoso engorda e é caro, apresentando-se
alternativas, e possibilitando que o usuário
descubra o quanto uma alimentação rica em
alimentos de baixa densidade calórica como
frutas, legumes e verduras, cereais integrais,
leite e derivados, carnes magras, podem ser
saborosos, mantendo-se o mesmo orçamento
familiar27.
Dentre
as
recomendações
da
Organização Mundial de Saúde para a
prevenção da obesidade e de outras doenças
associadas à alimentação, no atual contexto
de aumento de consumo de produtos
industrializados e diminuição de consumo de
alimentos in natura ou minimamente
processados, estão: buscar o balanço
energético e o peso saudável; limitar o
consumo de gorduras; aumentar o consumo
de frutas, legumes e verduras, cereais
integrais e oleaginosas, limitar o consumo de
açúcares livres, e limitar o consumo de sal28.
A prática regular de atividades físicas
proporciona uma série de benefícios, como
aumento da autoestima e o bem-estar, alívio
do estresse, estímulo do convívio social,
melhora da força muscular, fortalecimento
dos ossos e melhora do funcionamento do
sistema imunológico. A atividade física
regular combinada com a alimentação
saudável promove uma maior redução no
peso corporal quando em comparação com o
controle da alimentação da forma isolada,
além de aumentar a perda de gordura,
preservar a massa magra e diminuir o
depósito de gordura visceral24-29-30.
Ainda, a literatura indica como
estratégias empregadas pelos profissionais da
APS: articular atores sociais locais com
vistas à integração de ações para promoção
da segurança alimentar e nutricional; coletar
e analisar as informações sobre vigilância
alimentar e nutricional; monitorar a situação
nutricional da população adstrita com base
nos
indicadores;
participar
no
desenvolvimento de ações de promoção de
práticas alimentares e estilo de vida
saudáveis; conhecer e estimular a produção e
consumo de alimentos saudáveis produzidos
regionalmente; promover a articulação
intersetorial para viabilizar o cultivo de
hortas comunitárias; elaborar e divulgar
material educativo e informativo sobre
alimentação e nutrição com ênfase nas
práticas alimentares saudáveis; promover
ações de segurança alimentar e nutricional no
âmbito domiciliar, práticas seguras de
manipulação, preparo e acondicionamento de
alimentos; promover a orientação para o uso
de rotulagem nutricional como instrumento
de seleção de alimentos; elaborar rotinas de
atendimento para crianças obesas31.
Assim, a equipe multiprofissional tem
papel importante, pois deve desenvolver
ações de incentivo e apoio à adoção de
hábitos alimentares e à prática regular da
atividade física. As práticas educativas em
saúde devem ter como eixos centrais a
promoção de saúde, compreendida como
promoção da qualidade de vida e da
cidadania, e o incentivo à adoção de padrões
alimentares sustentáveis e que preservem a
saúde, a cultura, o prazer de comer, a vida, os
recursos naturais e a dignidade humana32.
A organização de sistemas integrados
dos serviços de saúde a partir de uma rede
regionalizada e hierarquizada possibilita
atenção de melhor qualidade e mais
direcionada a responder às necessidades de
saúde da população. Porém, a constituição de
um sistema integrado, que facilite o acesso e
permita a continuidade do cuidado,
melhorando
a
comunicação
entre
profissionais da APS com especialistas e com
23
Brunetta, M. E. F. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 18-26, jan/jun. 2012
serviços de emergência, assim como melhor
articulação entre as ações com enfoque
coletivo e as atividades clínicas individuais,
garantindo atenção integral, ainda é um
desafio33.
Um dos principais desafios atuais
para a qualificação da APS é a necessidade
de avançar na integralidade e na
resolubilidade da atenção. Muitos municípios
já vêm desenvolvendo experiências no
sentido de implementar ações para além das
áreas estratégicas mínimas preconizadas. Há
municípios que integraram profissionais de
saúde mental e de reabilitação, nutricionistas,
assistentes sociais, dentre outros, ao trabalho
das equipes de saúde da família. Essas
equipes realizam também atividades físicas e
práticas corporais voltadas para a promoção
da saúde. A partir dessas experiências, o
Ministério da Saúde vem trabalhando no
sentido de elaborar diretrizes para a inclusão
dessas ações e desses profissionais no âmbito
da Estratégia de Saúde da Família, com o
objetivo de avançar na qualificação das
atividades das equipes, efetivando ações que
vão
da
promoção
à
reabilitação,
fundamentais
para
a
garantia
da
integralidade34.
Conclusão
O conjunto de transformações
econômicas, sociais e demográficas ocorridas
nas últimas décadas, em consequência da
modernização e urbanização crescentes,
alteraram os padrões nutricionais da
população. Houve um aumento da
prevalência de sobrepeso e obesidade e uma
diminuição da incidência de desnutrição,
caracterizando um período de transição
nutricional em nosso país. Este fato torna-se
mais preocupante uma vez que o estilo de
vida sedentário associado ao padrão
alimentar inadequado coloca em risco o
desenvolvimento das crianças.
O aumento da prevalência da
obesidade infantil é alarmante, constituindose um grave problema de saúde pública. As
abordagens utilizadas para enfrentamento
desta doença demandam a mobilização de
todos os profissionais envolvidos nos
processos de promoção da saúde, prevenção,
e reabilitação de doenças e agravos. Dessa
forma, a assistência integral aos indivíduos
portadores desta doença exige um
atendimento interdisciplinar, tendo em vista
sua multifatorialidade.
Devido às consequências da doença e
comorbidades associadas, faz-se necessária a
implementação de uma série de medidas para
inserção de alimentos saudáveis no cotidiano
da população, que podem ser efetivadas com
uma atuação interdisciplinar no cotidiano dos
infantes,
considerando
o
contexto
socioeconômico e cultural da família.
Fortalecer as ações de promoção da saúde,
com destaque para a promoção da
alimentação saudável, representa aumentar a
efetividade dos investimentos em saúde e
nutrição e diminuir a morbimortalidade
relacionada com a obesidade e o sobrepeso.
Para tanto, percebe-se a necessidade da
atuação de equipes multiprofissionais na
APS, fortalecendo hábitos de vida saudáveis,
haja vista sua inserção no contexto da família
e maior proximidade com os usuários.
Devido à escassez de estudos científicos que
abordam a temática direcionada a esta
população, sabe-se que a utilização de uma
dieta balanceada e a prática de atividade
física regular, muitas vezes incluídas em
brincadeiras de infâncias é de fundamental
importância para o desenvolvimento
saudável de crianças e adolescentes. Dessa
forma, a equipe multidisciplinar tem papel
particularmente
importante
no
compartilhamento destes hábitos com
família.
Os avanços das políticas de saúde
são importantes iniciativas, uma vez que,
como pesquisadores e profissionais da saúde
coletiva, consideramos a saúde como um
bem maior, integrada e interdependente com
os demais setores da sociedade. Neste
sentido, o vínculo que a Unidade Básica de
Saúde possui com a comunidade pode
potencializar a efetividade das atividades de
promoção da saúde, prevenção e tratamento
da doença.
24
Brunetta, M. E. F. et al.
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2
Cunha, R. D. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 27-37, jan/jun. 2012
PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DOS PACIENTES COM DOENÇAS CONJUNTIVAIS
ATENDIDOS EMERGENCIALMENTE NO SERVIÇO DE OFTALMOLOGIA DO
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA
CATARINA, NOS ANOS DE 2005 A 2010 [Epidemiological profile of patients with
conjunctival diseases examined at the emergency room of the ophthalmology services
clinic at the Federal University of Santa Catarina`s Hospital, in the years 2005 to 2010]
Rodrigo Dall`Oglio da Cunha1; Augusto Adam Netto2; Cleyton Takaiti Shimono3; Ana
Flávia Salai4; Lívia Souza de Oliveira5; Thales Simões Pires de Almeida6.
Resumo: Este estudo teve como objetivo avaliar o perfil epidemiológico dos pacientes com
doenças conjuntivais atendidos emergencialmente no ambulatório do Serviço de Oftalmologia
do Hospital Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina. Foram avaliados dados
referentes a 809 pacientes que tiveram, como diagnóstico único, alguma doença conjuntival.
As doenças conjuntivais foram responsáveis por 37,5% dos atendimentos. A maioria dos
pacientes procedeu de Florianópolis (77,4%). Houve predomínio de indivíduos do sexo
feminino (58,3%) e da faixa etária entre os 15 e 29 anos. O diagnóstico mais frequente foi o
de conjuntivite com 75,2% dos casos.
Palavras-chave: Conjuntiva, conjuntivite, emergência.
Abstract: This study aimed to evaluate the epidemiologic profile of patients with
conjunctival diseases examined in the emergency room of the ophthalmology services clinic
at the Federal University of Santa Catarina`s University Hospital. It was evaluated data from
809 patients who had, as a single diagnosis, some conjunctival disease. Conjunctival diseases
were accounted for 37.5% of visits. Most held in Florianópolis patients (77.4%). It was
identified a predominance of females (58.3%) and patients with ages between 15 and 29
years. The most frequent diagnosis was conjunctivitis with 75.2% of cases.
Keywords: Conjunctiva, conjunctivitis, emergency.
___________________
1
Aluno do 11º período do curso de graduação em Medicina da UFSC. E-mail:
[email protected]
2
Professor titular da disciplina de oftalmologia do departamento de cirurgia do CCS/UFSC.
Professor responsável pela disciplina de oftalmologia do módulo de sistemas sensoriais da
UNISUL. Chefe do serviço de oftalmologia do HU/UFSC. E-mail: [email protected]
3
Aluno do 11º período do curso de graduação em Medicina da UFSC. E-mail:
[email protected]
4
Aluna do 11º período do curso de graduação em Medicina da UFSC. E-mail:
[email protected]
5
Aluna do 11º período do curso de graduação em Medicina da UFSC. E-mail:
[email protected]
6
Aluno do 11º período do curso de graduação em Medicina da UFSC. E-mail:
[email protected]
27
Cunha, R. D. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 27-37, jan/jun. 2012
Introdução
A conjuntiva é uma membrana
mucosa transparente e fina que reveste a
superfície interna das pálpebras e a superfície
anterior do globo ocular até o limbo.1,2
Dividida em três porções (conjuntiva
palpebral, conjuntiva do fórnice e conjuntiva
bulbar), ela forma uma barreira mecânica que
protege a superfície do olho, permite
movimentos independentes das pálpebras,
fornece muco e lubrificação e contém tecido
linfóide para proteção imunológica sendo,
portanto, rica em vasos sanguíneos e
linfáticos,
bem
como
em
células
3-7
imunocompetentes.
Apesar
desses
mecanismos de defesa, o tecido conjuntival é
sede de frequentes afecções, pois não
somente está exposto a todos os tipos de
irritantes exógenos e infecções e é suscetível
a reações alérgicas, como também é
comprometido com frequência em casos de
afecções
endógenas
e
distúrbios
metabólicos.2,8
Apesar de existirem muitos serviços
com emergências oftalmológicas em todo o
país, há uma relativa escassez de
investigações epidemiológicas realizadas em
longo prazo no que diz respeito às doenças
conjuntivais. As informações contidas nesta
pesquisa podem ser importantes nas
estratégias de gestão e planejamento para a
prevenção e proteção das pessoas com essas
afecções.
Assim, objetivou-se com este estudo
avaliar o perfil epidemiológico dos pacientes
com
doenças
conjuntivais
atendidos
emergencialmente no ambulatório do Serviço
de Oftalmologia do HU/UFSC entre janeiro
de 2005 e dezembro de 2010 associando-o
com o ano, mês, sexo, faixa etária,
procedência, diagnóstico e estação do ano.
Métodos
Este
é
um
estudo
clínico,
observacional, descritivo, transversal e
retrospectivo, no qual foram abordadas as
doenças conjuntivais diagnosticadas nos
atendimentos,
realizados
em
caráter
emergencial, no ambulatório do Serviço de
Oftalmologia do HU/UFSC.
Foram avaliados dados referentes a
2.285 pacientes atendidos emergencialmente
no período de tempo entre janeiro de 2005 e
dezembro de 2010. Deste total foram
excluídos
128
pacientes
que
não
apresentavam todas as variáveis da pesquisa,
portanto, o total dos pacientes, para efeitos de
cálculo quantitativo, foi de 2.157.
Obtiveram-se os dados mensalmente,
através da revisão das agendas de consultas
referentes aos atendimentos emergenciais
diários
realizados
por
médicos
oftalmologistas do Serviço de Oftalmologia,
arquivadas no Serviço de Prontuários do
Paciente (SPP) do HU/UFSC. Os dados
obtidos foram anotados em um protocolo
contendo as seguintes variáveis dos
pacientes: sexo, idade, cidade e bairro
(somente de Florianópolis) de procedência e
diagnóstico na data do atendimento. Foram
selecionados então 809 pacientes que
tiveram, como diagnóstico único, alguma
doença conjuntival.
Os dados foram digitados no
programa Excel 2007® e posteriormente
analisados no programa estatístico Stata
11.0®. Foi realizada a análise descritiva de
todas as variáveis, apresentando frequências
absolutas e relativas para as variáveis
categóricas e medidas de tendência central e
dispersão para as variáveis quantitativas.
Foram testadas associações entre o desfecho
e as variáveis explanatórias através do teste
de hipóteses do Qui-Quadrado de Pearson,
considerando nível de significância de 95% e
um erro alfa de 5% para as associações
encontradas, ou seja, foram consideradas
significativas as diferenças com valor de
p<0,05. Por fim, fez-se uso do Microsoft
Excel 2007® e do Microsoft Word 2007®
para confecção das tabelas e gráficos
expostos ao longo do presente trabalho.
Este trabalho foi submetido ao
Comitê de Ética em Pesquisa com Seres
Humanos (CEPSH) da Pró-Reitoria de
Pesquisa e Extensão da Universidade Federal
de Santa Catarina, sendo aprovado sob
processo de número 1993, em 30 de maio de
2011.
28
Cunha, R. D. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 27-37, jan/jun. 2012
Resultados
O diagnóstico de doença conjuntival
foi responsável por 809 consultas,
representando 37,5% dos atendimentos
oftalmológicos emergenciais.
Porcentagem de
atendimentos
22,4% 22,40%
14,8% 14,80%
17,6% 17,60%
Os anos com maior número de
atendimentos por doença conjuntival foram
os anos de 2007 e 2010, com 181
atendimentos cada. O ano com menor
número de consultas foi o ano de 2005, com
66
atendimentos.
(Gráfico
1)
22,4% 22,40%
14,7% 14,70%
8,2% 8,20%
2010 (n=181)
2009 (n=120)
2008 (n=142)
2007 (n=181)
2006 (n=119)
2005 (n=66)
Ano do atendimento
Fonte: SPP do HU/UFSC no período de janeiro de 2005 a dezembro de 2010.
Gráfico 1 – Distribuição, segundo o ano, dos atendimentos emergenciais com diagnóstico de
doença conjuntival no Serviço de Oftalmologia do HU/UFSC.
Outubro foi o mês com maior número
de atendimentos por doença conjuntival
(n=94), representando 11,6% das consultas
em relação aos outros meses. Os meses com
menor número de atendimentos foram os
meses de janeiro e fevereiro com 6,6% e
6,3% dos atendimentos, respectivamente.
Quanto à procedência, Florianópolis
foi o município com o maior número de
pacientes, representando 77,4% (n=626) das
consultas. São José ficou em segundo lugar,
com 11,1% (n=90) e Palhoça ficou em
terceiro, com 4,8% (n=39). Os municípios de
Biguaçu e Governador Celso Ramos, além de
outros municípios do Estado de Santa
Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul, foram
responsáveis por 6,7% das consultas (n=54).
(Tabela 1)
Tabela 1 – Distribuição das consultas emergenciais por doenças conjuntivais segundo o
município de procedência dos pacientes atendidos no ambulatório do Serviço de Oftalmologia
do HU/UFSC.
Município
Florianópolis
São José
Palhoça
Biguaçu
Governador Celso Ramos
Outros*
Total
n
626
90
39
13
9
32
809
%
77,4
11,1
4,8
1,6
1,1
4,0
100
Fonte: SPP do HU/UFSC no período de janeiro de 2005 a dezembro de 2010.
*Alfredo Wagner, Angelina,Curitibanos, Garopaba,Imbituba,Itapema, Laguna, Paulo Lopes,
Tijucas, alguns municípios do Paraná e do Rio Grande do Sul.
29
Cunha, R. D. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 27-37, jan/jun. 2012
Os bairros de Florianópolis com a
maior procedência de pacientes foram os
bairros Trindade, com 12,7% de todas as
consultas (n=103); Pantanal, com 6,8%
(n=55); Saco dos Limões, com 6,3% (n=51);
Córrego Grande, com 5,8% (n=47); Centro,
com 4,0% (n=32) e Agronômica, com 3,3%
(n=27). Outros bairros, mais afastados do
HU/UFSC, foram responsáveis por valores
menores que 3,1% das consultas cada (n<25).
O diagnóstico de conjuntivite foi
predominante, sendo responsável por 608
consultas,
representando
75,2%
dos
atendimentos por doença conjuntival e 28,5%
de todos os atendimentos emergenciais. Os
outros diagnósticos de doença conjuntival em
ordem decrescente de aparecimento foram:
hemorragia subconjuntival com 10,3% (3,8%
do total de atendimentos emergenciais),
pterígio
com 9,2% e pinguécula com 4,7%, sendo que
os dois últimos somados representaram 5,2%
de todos os atendimentos emergenciais.
Isolando-se os diagnósticos de doença
conjuntival, a conjuntivite bacteriana foi o
diagnóstico
mais
encontrado,
correspondendo a 35,0% (n=283) dos casos,
seguida em ordem decrescente de pela
conjuntivite alérgica, conjuntivite viral,
hemorragia
subconjuntival,
pterígio,
conjuntivite
irritativa,
pinguécula
e
conjuntivite traumática. O menor número de
casos foi representado por granuloma
conjuntival, laceração conjuntival, tumoração
conjuntival,
nevus
conjuntival,
cisto
conjuntival e corpo estranho conjuntival,
todos com um atendimento cada, que
somados corresponderam a apenas 0,7%,
sendo, por esse motivo, denominados como
“outros”. (Tabela 2)
Tabela 2 – Distribuição das doenças conjuntivais em pacientes atendidos emergencialmente
no ambulatório do Serviço de Oftalmologia do HU/UFSC.
% de atendimentos por
% de atendimentos
Diagnóstico de Doença
n
doença conjuntival
emergenciais totais
Conjuntival
(n=809)
(n=2.157)
Conjuntivite bacteriana
283
35,0
13,1
Conjuntivite alérgica
169
20,9
7,8
Conjuntivite viral
104
12,9
4,8
Hemorragia
83
10,3
3,8
subconjuntival
Pterígio
74
9,2
3,4
Conjuntivite irritativa
46
5,7
2,1
Pinguécula
38
4,7
1,8
Conjuntivite traumática
6
0,7
0,3
Outros*
6
0,7
0,3
Total
809
100
37,5
Fonte: SPP do HU/UFSC no período de janeiro de 2005 a dezembro de 2010.
*cisto conjuntival, corpo estranho conjuntival, granuloma conjuntival, laceração conjuntival,
nevus conjuntival etumoração conjuntival.
Quanto ao sexo, houve predomínio do
sexo feminino em relação ao masculino, com
472 pacientes (58,3%) e 337 pacientes
(41,7%), respectivamente. Quando se
analisou o sexo e o diagnóstico de doença
conjuntival, apesar da amostra não ter
externado valor estatisticamente significativo
(p=0,155), observou-se um grande número
de atendimentos com diagnóstico de
conjuntivite alérgica no sexo feminino
(n=114), representando mais que o dobro de
atendimentos em relação ao sexo masculino
(n=55). (Gráfico 2)
30
Número de atendimentos
Cunha, R. D. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 27-37, jan/jun. 2012
180
160
140
120
100
80
60
40
20
0
Conjuntivite bacteriana
Conjuntivite alérgica
Conjuntivite viral
Hemorragia subconjuntival
Pterígio
Conjuntivite irritativa
Pinguécula
Conjuntivite traumática
Feminino
Sexo
Masculino
Outros*
p=0,155. Teste Qui-quadrado.
Fonte: SPP do HU/UFSC no período de janeiro de 2005 a dezembro de 2010.
*cisto conjuntival, corpo estranho conjuntival, granuloma conjuntival, laceração conjuntival,
nevus conjuntival etumoração conjuntival.
Gráfico 2 – Distribuição dos diagnósticos de doenças conjuntivais, segundo o sexo, em
pacientes atendidos emergencialmente no ambulatório do Serviço de Oftalmologia do
HU/UFSC.
Em relação à idade, a faixa etária com
o
maior
número
de
atendimentos
diagnosticados como doença conjuntival foi
entre os 15 e 29 anos, com 37,2% das
consultas (n=301), seguida pela faixa etária
entre os 40 e 49 anos, que correspondeu a
18,5% dos pacientes (n=150).
A faixa etária entre os 15 e 29 anos
foi a que apresentou o maior número
diagnósticos de conjuntivite bacteriana
(n=121), alérgica (n=60) e viral (n=50),
correspondendo a 40,2%, 19,9% e 16,6% das
consultas, respectivamente, nessa faixa etária
(p<0,001). Na faixa etária entre os 0 e 14
anos a conjuntivite bacteriana foi responsável
por 50,8% (n=31). (Gráfico 3)
O diagnóstico de pinguécula teve
frequência maior na faixa entre os 40 e 49
anos (n=13) e entre os 30 e 39 anos (n=9),
sendo responsável por 8,7% e 7,5% dos
atendimentos
nessas
faixas
etárias,
respectivamente (p<0,001). A incidência de
pterígio também foi maior entre os 40 e 49
anos, com 20 casos, seguida pela faixa etária
entre os 15 e 29 anos e entre os 30 e 39 anos,
com 18 e 17 casos, respectivamente
(p<0,001). A hemorragia subconjuntival teve
maior incidência na faixa etária dos 40 aos
49 anos e dos 30 aos 39 anos, com 19 e 18
casos, respectivamente. Pôde-se observar que
houve um grande número de casos de
conjuntivite irritativa na faixa etária entre os
15 e 29 anos (n=25), representando mais do
que o triplo de atendimentos em comparação
às outras faixas etárias. (Gráfico 3)
31
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 27-37, jan/jun. 2012
140
Conjuntivite bacteriana
Número de atendimentos
Cunha, R. D. et al.
Conjuntivite alérgica
120
Conjuntivite viral
100
Hemorragia subconjuntival
80
Pterígio
60
Conjuntivite irritativa
40
Pinguécula
20
Conjuntivite traumática
0
0 a 14
15 a 29
30 a 39 Faixa
40 aetária
49
50 a 59
Outros*
60 a 69 70 ou mais
p<0,001. Teste Qui-quadrado.
Fonte: SPP do HU/UFSC no período de janeiro de 2005 a dezembro de 2010.
*cisto conjuntival, corpo estranho conjuntival, granuloma conjuntival, laceração conjuntival,
nevus conjuntival e tumoração conjuntival.
Gráfico 3 – Distribuição dos diagnósticos de doenças conjuntivais, segundo a faixa etária, em
pacientes atendidos emergencialmente no Serviço de Oftalmologia do HU/UFSC.
Em relação ao ano dos diagnósticos
de doenças conjuntivais, observou-se em
2007 o maior número de consultas
diagnosticas como conjuntivite bacteriana,
com 77 casos, representando 42,5% dos
atendimentos por doença conjuntival nesse
ano (p<0,001). Já no ano de 2010 observouse um grande aumento no número de
atendimentos por conjuntivite viral, com 60
casos,
representando
33,2%
dos
atendimentos nesse ano (p<0,001). (Gráfico
4)
90
Conjuntivite bacteriana
Número de atendimentos
80
Conjuntivite alérgica
70
Conjuntivite viral
60
Hemorragia subconjuntival
50
40
Pterígio
30
Conjuntivite irritativa
20
Pinguécula
10
Conjuntivite traumática
Outros*
0
2005
2006
2007
2008
2009
2010
Ano
p<0,001. Teste Qui-quadrado.
Fonte: SPP do HU/UFSC no período de janeiro de 2005 a dezembro de 2010.
*cisto conjuntival, corpo estranho conjuntival, granuloma conjuntival, laceração conjuntival,
nevus conjuntival e tumoração conjuntival.
Gráfico 4 – Distribuição dos diagnósticos de doenças conjuntivais, segundo o ano, em
pacientes atendidos emergencialmente no Serviço de Oftalmologia do HU/UFSC.
32
Cunha, R. D. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 27-37, jan/jun. 2012
Número de atendimentos
Quanto à estação do ano, a primavera
foi período no qual se constatou o maior
número de diagnósticos de doença
conjuntival, com 244 atendimentos, seguida
pelo inverno (n=202), outono (n=193) e
verão (n=170).
O
maior
número
de
casos
diagnosticados como conjuntivite bacteriana
foi durante a primavera (n=85) e outono
(n=71). Já a conjuntivite alérgica foi mais
prevalente durante a primavera (n=51) e
inverno (n=49). A conjuntivite viral também
teve índice maior durante a primavera
(n=39). Porém, essa amostra não foi
significativa, já que valor de “p” foi igual a
0,336. (Gráfico 5)
100
80
60
40
20
0
Verão
Outono
Inverno
Primavera
Estação do ano
Conjuntivite bacteriana
Conjuntivite alérgica
Conjuntivite viral
Hemorragia subconjuntival
Pterígio
Conjuntivite irritativa
Pinguécula
Conjuntivite traumática
Outros*
p=0,336. Teste Qui-quadrado.
Fonte: SPP do HU/UFSC, no período de janeiro de 2005 a dezembro de 2010.
*cisto conjuntival, corpo estranho conjuntival, granuloma conjuntival, laceração conjuntival,
nevus conjuntival e tumoração conjuntival
Gráfico 5 – Distribuição dos diagnósticos de doenças conjuntivais, segundo a estação do ano,
no Serviço de Oftalmologia do HU/UFSC.
Discussão
Existem
poucos
estudos
epidemiológicos, recentes e em longo prazo,
no nosso país que analisam as doenças
conjuntivais. O presente estudo avaliou os
pacientes atendidos com diagnósticos de
doenças conjuntivais entre janeiro de 2005 e
dezembro de 2010, sendo esses responsáveis
por uma porcentagem relevante de
atendimentos, correspondendo a 37,5% das
consultas
oftalmológicas
emergenciais.
Adam Netto et al.9 em um estudo semelhante
a este, entre os anos 2001 e 2004, mostraram
resultado similar (33,4% dos atendimentos).
Sandri et al.10 encontraram doenças
conjuntivais em 35,0% das consultas. Pereira
et al.11 encontraram doença conjuntival em
39,5% dos atendimentos. Esses estudos
revelam que as doenças conjuntivais estão
muito presentes em nosso meio.
Em relação à procedência, 77,4% dos
pacientes eram procedentes de Florianópolis.
São José representou 11,1% das consultas e
outros municípios da grande Florianópolis
tiveram uma parcela bem inferior de
atendimentos. Esses dados são semelhantes
ao estudo de Adam Netto et al.9 Isso é
decorrente do fato de São José possuir um
Centro de Referência em Oftalmologia, com
um Serviço de Emergência, o que atrai para
esse local os pacientes de toda a Grande
Florianópolis
e
principalmente
dos
municípios vizinhos. Observa-se, porém, que
o número de atendimentos de pacientes
procedentes de São José foi maior que o de
outras cidades da região, provavelmente pelo
fato desse município ser vizinho de
Florianópolis e possuir uma população
absoluta maior em comparação a outros
municípios.
33
Cunha, R. D. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 27-37, jan/jun. 2012
Além disso, grande parte dos habitantes
dessa cidade tem seu local de trabalho em
Florianópolis, o que facilita seu acesso ao
HU/UFSC.
Quanto
à
distribuição
de
atendimentos nos bairros de Florianópolis, a
maior procedência de pacientes foi dos
bairros próximos ao HU/UFSC. Bairros mais
afastados foram responsáveis por valores
menores que 3,1% cada. Segundo Adam
Netto et al.9, bairros mais afastados como
Centro e Ingleses ocuparam o 4º e 6º lugar
em atendimentos, com 4,7% e 4,2% das
consultas, respectivamente. Fazendo-se uma
análise mais otimista, isso pode estar
refletindo a melhora da eficiência dos
sistemas de atendimento primário de saúde
dos locais mais afastados do HU/UFSC.
Analisando-se o diagnóstico, as
conjuntivites representaram 28,5% de todos
os atendimentos emergenciais realizados no
serviço de oftalmologia no período estudado.
Esse número foi muito próximo ao de outras
pesquisas.10-17 A literatura ainda descreve que
a conjuntivite é a doença ocular mais
comum, o que está de acordo a maioria dos
estudos, porém, cabe frisar que, segundo essa
mesma literatura, a epidemiologia das
doenças externas oculares muitas vezes é
discordante
por
ser
geográfica
e
7
endemicamente dependente. Provavelmente
foi por esse motivo que a pesquisa de
Sánchez et al.18 encontraram a conjuntivite
em apenas 15,0% dos atendimentos em um
hospital da Espanha.
No presente estudo, a conjuntivite
bacteriana, comparando-se com todos os
atendimentos emergenciais, foi o diagnóstico
que teve o maior índice de ocorrência
(13,1%), seguida pela conjuntivite alérgica
(7,8%) e viral (4,8%). Esse dado está de
acordo com o estudo de Sandri et al.10, no
qual observou-se que a conjuntivite
bacteriana foi o principal diagnóstico de
conjuntivite, correspondendo a 11,4% dos
atendimentos, seguida pela conjuntivite
alérgica com 7,4%. Já a literatura descreve
que a conjuntivite bacteriana é uma causa
relativamente incomum de conjuntivite,
sendo a viral a etiologia infecciosa mais
frequente.7 Foi o que apontou, por exemplo,o
estudo de Carvalho et al.13 no qual a
conjuntivite viral foi responsável por 24,4%
dos casos, seguida pela conjuntivite alérgica
com 2,7% e a bacteriana foi responsável por
apenas 0,7% das consultas. Pierre Filho19 e
Leonor et al.20 também encontraram
predomínio de casos de conjuntivite viral em
comparação com as outras conjuntivites.
Podemos observar que a maioria das
pesquisas anteriores relacionadas aos
atendimentos emergenciais foram realizadas
em um período curto de tempo e, por
consequência, podem ter como viés o fato de
que as conjuntivites (maioria das doenças
conjuntivais) apresentarem-se dependentes
da estação climática.5,7
O
diagnóstico
de
hemorragia
subconjuntival foi responsável por 3,8% de
todas as consultas emergenciais. Campos
Júnior15 encontrou resultado próximo (4,2%),
assim como Sandri et al.10 (3,2%) e Vieira et
al.17 (3,0%). Já Carvalho et al.13 observaram
a hemorragia subconjuntival em apenas
1,8% dos atendimentos.
Em relação ao pterígio e à
pinguégula, a literatura descreve que são
doenças diretamente relacionadas ao
ressecamento ocular e à exposição crônica
aos raios ultravioleta.4,21 A distribuição do
pterígio no mundo, por exemplo, mostra uma
prevalência de até 22,5% nas regiões
equatoriais, enquanto que nas regiões abaixo
do paralelo 40 a prevalência diminui para
2%.6 Nosso estudo, entretanto, mostrou que o
pterígio foi responsável por 3,4% de todos os
atendimentos
emergenciais,
número
discordante com a literatura, porém bem
próximo a outros estudos realizados em
hospitais que ficam bem acima do paralelo
40.10,12,13,15,17,19
Entretanto, se analisarmos o caráter
do atendimento dos estudos em questão,
podemos observar que tanto o pterígio
quanto a pinguécula, diferentemente da
conjuntivite, são doenças que muitas vezes
são assintomáticas4 e não levam o indivíduo
a um atendimento emergencial, isto é, são
diagnosticadas em consultas de rotina.
34
Cunha, R. D. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 27-37, jan/jun. 2012
Schelliniet al.22, por exemplo, mostraram em
seu estudo que, em 59,2% dos pacientes com
pterígio, a principal queixa foi a estética e
não
a
sintomatologia
normalmente
relacionada
com
os
atendimentos
emergenciais.
Em relação ao sexo, Adam Netto et
al.9 observaram em seu estudo o predomínio
de doenças conjuntivais no sexo feminino,
correspondendo a 54,2% dos casos, o que
pôde ser observado também em nossa
pesquisa, que mostrou um valor de 58,3% de
atendimentos nesse gênero. Ainda em relação
ao sexo, encontramos em nosso estudo pouco
mais que o dobro de atendimentos por
conjuntivite alérgica no sexo feminino em
comparação ao masculino, apesar de essa
amostra não apresentar significância
estatística. Marback et al.23, ao contrário do
nosso estudo, encontraram predomínio de
casos de conjuntivite alérgica no sexo
masculino.
No presente estudo, outubro foi o mês
com maior número de consultas (11,6%).
Adam Netto et al.9 encontraram o oposto, já
que outubro apresentou o menor número total
de atendimentos, sendo que esse resultado
pode ter sido influenciado por uma epidemia
de conjuntivite viral, ocorrida em nosso
Estado principalmente nos meses de
fevereiro e março de 2003. Através desta
pesquisa pudemos observar que no ano de
2010 também ocorreu um grande aumento de
atendimentos
de
conjuntivite
viral,
principalmente no mês de outubro, o que
pode caracterizar um surto epidêmico da
doença nesse ano.
Em relação à estação do ano e à
conjuntivite alérgica, apesar de a nossa
pesquisa não ter externado resultados
estatisticamente
significativos,
eles
corroboram os dados de Adam Netto et al.9,
os quais revelaram que a conjuntivite
alérgica foi mais prevalente durante a
primavera, destacando que essa estação
climática está associada a manifestações
alérgicas, como descreve a literatura.4,5,7
Soares et al.16, porém, encontram um número
um pouco maior de casos de conjuntivite
alérgica no inverno em comparação à
primavera.
Em nosso estudo a faixa etária com
maior número de atendimentos foi entre 15 e
29 anos, os quais tiveram como etiologia
principalmente a conjuntivite bacteriana,
viral e alérgica. Adam Netto et al.9 também
encontraram maior número de atendimentos
por doença conjuntival na faixa etária entre
os 15 e 29 anos. Soares et al.16 apontaram
predomínio de conjuntivite na faixa etária
entre os 20 e 29, o que também vai ao
encontro do verificado em nosso estudo. Já
Araújo et al.24 encontraram maior
prevalência de conjuntivites na faixa etária
entre 31 e 45 anos.
Ainda relacionado à faixa etária, Patel
25
et al.
relatam que, segundo estudos
anteriores, as crianças são mais acometidas
por conjuntivite bacteriana, fato que também
foi observado em seu estudo e confirmado
por nossa pesquisa, na qual o diagnóstico de
conjuntivite bacteriana foi responsável por
50,8% dos atendimentos na faixa etária dos 0
aos 14 anos.
Adam Netto et al.9 encontraram
apenas um caso de conjuntivite irritativa no
período de cinco anos, correspondendo a
apenas 0,3% das doenças conjuntivais (n=1).
Isso divergiu muito do nosso estudo, já que o
diagnóstico de conjuntivite irritativa foi
responsável
por
46
atendimentos,
principalmente na faixa etária entre os 15 e
29 anos, o que pode refletir a falta de cuidado
no que diz respeito ao manuseio de produtos
químicos e industriais por parte desse grupo
etário.
Nossa análise possui limitações que
devem ser consideradas, dentre elas, a coleta
de dados a partir de um centro que não é
referência em oftalmologia, podendo não
receber pacientes com lesões conjuntivais
mais graves. Além disso, as afecções da
conjuntiva, por serem em sua maioria de
baixa gravidade, acabam sendo tratadas em
outras unidades de saúde.
35
Cunha, R. D. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 27-37, jan/jun. 2012
Conclusão
A partir da avaliação das doenças
conjuntivais,
diagnosticadas
emergencialmente na população estudada,
podemos destacar os pontos conclusivos do
presente estudo nos seguintes tópicos: (1) Os
diagnósticos de doenças conjuntivais foram
responsáveis por 37,5% dos atendimentos;
(2) outubro foi o mês com maior número de
consultas (11,6%); (3) houve predomínio do
sexo feminino nos atendimentos (58,3%); (4)
a faixa etária entre os 15 e 29 anos foi a mais
acometida por doenças conjuntivais (37,2%);
(5) Florianópolis foi o município com o
maior número de atendimentos (77,6%) e
Trindade foi o bairro que teve a maior
procedência (12,7%); (6) a conjuntivite foi
responsável por 75,2% das consultas, seguido
por hemorragia subconjuntival (10,3%),
pterígio (9,2%) e pinguécula (4,7%); (7) a
conjuntivite bacteriana foi o diagnóstico de
doença conjuntival mais encontrado (35,0%),
seguida pela conjuntivite alérgica (20,9%) e
viral (12,9%); e (8) houve grande número de
atendimentos por conjuntivite viral no ano de
2010 (33,6%).
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Hansen, A. M. A. K. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p.38-46, jan/jun. 2012
ANÁLISE DA TONTURA NO IDOSO INSTITUCIONALIZADO [Dizziness evaluation
in nursing home residents]
Andressa Márjorye Amaral Krauss Hansen1; Ana Maria Carvalho Nascimento2;
Cristiano de Assis Pereira Hansen3.
Resumo: O estudo objetivou analisar a queixa de tonturas em idosos institucionalizados.
Estudo transversal, com 39 indivíduos que participaram de uma entrevista estruturada e
responderam ao Dizziness Handicap Inventory. Como resultados evidenciou-se que 54% da
amostra apresentou tontura, aumentando conforme idade e 66,6 % realizava fisioterapia
referindo vertigem rotatória, predominantemente. A situação desencadeante preponderante foi
a mudança de posição, a mediana de tempo de institucionalização de 2 anos e a média de
pontos no Dizziness Handicap Inventory de 44 (DP=16,8). Tontura e incapacidade foram
prevalentes na amostra.
Palavras-chave: tontura, saúde do idoso institucionalizado, qualidade de vida.
Abstract: Dizziness interfers with quality of life. The aim of this study was to evaluate
dizziness in a nursing home population. This was a cross-sectional study. Sample included 39
individuals. A structured interview and Dizziness Handicap Inventory were applied. Dizziness
occurred in 54% of individuals, increasing according age. Most of them were under physical
therapy (66,6%), reported vertigo and it was ellicited under position change. Median length of
stay was 2 years. Average DHI was 44 points (SD=16,8). Dizziness and handicap were high
in this sample.
Key words: dizziness, health of institutionalized elderly, quality of life.
rotatório e ambos os tipos podem ser
Introdução
O envelhecimento compromete o causados ou não por distúrbio vestibular”2.
organismo como um todo. No sistema
Na verdade, conforme citado por
nervoso central, o envelhecimento pode Barreto Filho, a função vestibular, testada
interferir na capacidade de processamento por meio de provas calóricas ou
dos
sinais
vestibulares,
visuais
e eletronistagmografia, apresenta declínio
proprioceptivos
responsáveis
pela apenas leve com a idade3. Parece que a
manutenção do equilíbrio corporal1.
desintegração de informações a nível central
Tontura é a sensação de perturbação ou múltiplos déficits nos sistemas
do equilíbrio corporal. Pode ser definida relacionados ao equilíbrio corporal, quais
como uma sensação de desorientação sejam: os sistemas vestibular, visual,
espacial do tipo rotatório (vertigem) ou não somatossensorial e musculoesquelético, são
___________________________
¹ Acadêmica de Fisioterapia da Fundação Universidade Regional de Blumenau – FURB,
Blumenau-SC. Estagiária de fisioterapia da Casa São Simeão, Blumenau-SC.
² Fisioterapeuta. Especialista em Gerontologia e Fisioterapia Cardio-respiratória. Mestre em
Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. Professora titular do
curso de Fisioterapia da Fundação Universidade Regional de Blumenau – FURB, BlumenauSC.
³Médico. Residência em Clínica Médica pelo Hospital Universitário Polydoro Ernani de São
Thiago, Universidade Federal de Santa Catarina, HU-UFSC, Florianópolis-SC. Título de
especialista em Clínica Médica pela Sociedade Brasileira de Clínica Médica. Médico
concursado pela Prefeitura Municipal de Blumenau-SC. E-mail: [email protected]
38
Hansen, A. M. A. K. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p.38-46, jan/jun. 2012
mais impactantes em termos de suscitar
tontura.
Estudos demonstram que 30% dos
idosos entre 65-75 anos restringem suas
atividades físicas diárias por conta de
tonturas4 e alguns trabalhos concluem que
programas de reabilitação vestibular têm
impacto na melhora da qualidade de vida
destes indivíduos5. Em nosso meio, o grau de
limitação que a tontura impõe às atividades
de vida diária de indivíduos idosos
institucionalizados e sua qualidade de vida
ainda são pouco mensurados.
Há alguma evidência na literatura de
que idosos em regime de atividade física
regular relatam com menor freqüência a
queixa de tontura6. Estudo realizado em
Goiânia
observou
que
idosos
institucionalizados apresentaram tempo
médio de institucionalização elevado e
relataram menor prática de atividade física,
maior utilização de medicamentos, maior
freqüência de hospitalização, queixa de
tontura e quedas nos últimos seis meses7.
Diante disso, especula-se que a queixa
de tontura seja muito frequente em um grupo
de idosos institucionalizados e dado que o
equilíbrio depende da interação dos sistemas
somatossensorial, visual, motor periférico,
além do vestibular (passíveis de abordagem
fisioterápica), o objetivo deste estudo foi
avaliar a queixa de tontura em um asilo da
cidade de Blumenau-SC, onde há um serviço
de fisioterapia geral implantado.
Método
A população-base deste estudo nãointervencionista, observacional, transversal8
foram os pacientes institucionalizados de um
asilo do município de Blumenau-SC, que
abriga idosos provenientes da comunidade ou
encaminhados via Secretaria Municipal de
Assistência Social.
Durante a realização do estudo, 68
indivíduos
encontravam-se
institucionalizados, sendo 24 do sexo
masculino e 44 do sexo feminino. O grau de
dependência I ocorreu em 23 indivíduos, o
grau II, em 24 indivíduos e o grau III, em 21
indivíduos.
O critério de grau de dependência
resultou de uma análise técnica prévia, com
base em informações coletadas com a
assistente social e avaliação de enfermagem.
Em suma, pacientes com grau de
dependência
I
são
considerados
independentes, aqueles com grau de
dependência II são semi-dependentes e com
grau de dependência III são totalmente
dependentes.
Neste estudo foram incluídos os
indivíduos institucionalizados com grau de
dependência I, II e III, contanto
concordassem participar através da assinatura
do termo de consentimento livre e
esclarecido (TCLE). Os critérios de exclusão
foram: não concordar em participar da
pesquisa, pela não assinatura do TCLE, ou
apresentar limitação cognitiva de qualquer
ordem que colocasse em risco a credibilidade
das informações prestadas.
O trabalho foi protocolado sob
número 110/10 e aprovado pelo Comitê de
Ética e Pesquisa da Fundação Universidade
Regional de Blumenau (FURB).
Instrumentos
Na amostra aplicamos uma entrevista
estruturada, onde constaram idade do
paciente,
tempo
em
que
está
institucionalizado, queixa de tontura (tipo de
tontura, situação em que ocorre) ou não,
freqüência de sessões de fisioterapia,
presença de co-morbidades, uso de
medicação.
Nos pacientes com relato de tontura
foi aplicado um questionário de qualidade de
vida especificamente elaborado e validado
internacionalmente para pacientes com
tontura, o Dizziness Handicap Inventory
(DHI).
Dizziness Handicap Inventory
Por meio deste questionário avalia-se
25 quesitos. As questões procuram avaliar
limitações de ordem física, funcional e
emocional que a tontura imprime na vida dos
pacientes acometidos. A pontuação varia de
39
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Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p.38-46, jan/jun. 2012
zero a 100 pontos e, quanto mais próxima de
100, maior será a limitação apresentada.
O escore final tem sido utilizado em
análises de qualidade de vida de pacientes
portadores de vestibulopatias e também para
demonstrar o resultado de programas de
reabilitação vestibular5.
Neste estudo, o DHI foi aplicado
sempre pelo mesmo indivíduo, previamente
treinado, de modo a não limitar a validade
interna da pesquisa.
descrever o problema da tontura na
população estudada.
Quando pertinente, ao comparar
proporções, foi utilizado o teste do quiquadrado ou o exato de Fisher, conforme o
número de observações. Na análise de
variáveis contínuas ou discretas ordenadas,
foi utilizado o teste não-paramétrico de
Mann-Whitney.
Foram
considerados
estatisticamente significativos resultados
com p<0,05.
Análise dos dados
Os dados foram expostos em tabelas e
gráficos e descritos em termos de média,
medianas, proporções e medidas de dispersão
(intervalos, desvio-padrão). O delineamento
escolhido pretendeu gerar hipóteses e
Resultados
Após esclarecimento dos pacientes e
assinatura do TCLE, 39 indivíduos foram
incluídos na pesquisa.
Dos 39 indivíduos do estudo, a
tontura foi encontrada em 21 deles (54%). A
distribuição conforme idade está exposta na
tabela 1.
Tabela 1 – Prevalência de tontura conforme idade dos indivíduos
Idade
Total de
Indivíduos com
indivíduos na
tontura
amostra*
≥ 65 anos
33
18
% da população
com tontura
54,5 %
≥ 70 anos
24
15
62,5 %
≥ 75 anos
13
09
69,2 %
≥ 80 anos
9
07
*Seis indivíduos da amostra apresentavam idade inferior a 65 anos
A média de idade no grupo com
tontura foi de 74,5 +/- 9,1 anos (1DP),
enquanto no grupo que relatou não apresentar
tontura a mesma foi de 70,6 +/- 6,2 anos
(p=0,14).
Do grupo com tontura, constam 13
mulheres (62%) e 8 homens (38%).
A média de permanência (anos de
institucionalização por indivíduo) foi de 4,4 e
5,7 anos, respectivamente, para os grupos
com e sem tontura. A mediana de
permanência no asilo foi de 2 anos para o
grupo com tontura versus 4 anos, para o
grupo sem tontura. Para testar se estes dois
grupos diferiam em relação a esta medida de
tendência central, foi utilizado o teste das
77,7 %
medianas, conforme descrito por Mood9 e os
resultados tiveram significância estatística
(X2=5,74, gl=1, p<0,02).
Da amostra total estudada (n=39), 26
(ou seja, 66,6%) realizaram fisioterapia nos
últimos 2 meses, enquanto 33,4 % não
realizaram. A proporção de indivíduos com e
sem tontura no grupo que realizou
fisioterapia está demonstrada no gráfico 1, o
qual demonstra uma proporção de cerca de
2:1.
A prevalência de tontura no grupo
que fazia fisioterapia (n=26) foi de 17
indivíduos (65%), enquanto no grupo que
não fazia fisioterapia (n=13), foi de 4
indivíduos (30%) (p<0,05).
40
Hansen, A. M. A. K. et al.
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Média e mediana de medicações no grupo que realizou fisioterapia foram 4,7 e 4
respectivamente versus 4,5 e 4, respectivamente, no grupo sem fisioterapia. Média e mediana
de co-morbidades foram de 7,6 (DP=3,1) e 7 versus 5,4 (DP=3,5) e 6, respectivamente.
A média de co-morbidades relatadas em prontuário e a média de medicações utilizadas pelos
grupos de indivíduos com e sem tontura constam das tabelas 2 e 3.
Tabela 2 – Co-morbidades nos grupos de indivíduos com e sem tontura
Grupo de
No de coNo de indivíduos
Média de coindivíduos
morbidades
morbidades por
indivíduo
Com tontura
108
21
5,1*
Sem tontura
74
18
4,1*
*p=0,15
Tabela 3 - Número de medicações utilizadas nos grupos de indivíduos com e sem
tontura
Grupo de
No de medicações
No de indivíduos
Média de
indivíduos
medicações por
indivíduo
Com tontura
170
21
8,1*
Sem tontura
99
18
5,5*
*p=0,01
Houve associação, conforme exemplificado no gráfico 2, entre o grau de dependência
e a presença de tontura. Os resultados apresentaram significância estatística (X2=9,14, gl=2,
p<0,02).
41
Hansen, A. M. A. K. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p.38-46, jan/jun. 2012
O tipo de tontura relatado pelos pacientes consta do gráfico 3.
As circunstâncias mais frequentemente associadas ao sintoma de tontura estão
ilustradas na tabela 4.
Tabela 4 – Situação em que ocorre a tontura
Situação
N
Quando muda de posição
12
Não definido
05
Atividades da vida diária
04
Deitado na cama
02
Nota: houve mais de uma resposta por entrevistado
%
57,14
23,80
19,04
09,52
A pontuação média no DHI – versão brasileira foi de 44 (DP=16,8). A mediana foi de
38 pontos. As médias, medianas e intervalos para os escores físico, funcional e emocional
estão esquematizadas na tabela 5.
42
Hansen, A. M. A. K. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p.38-46, jan/jun. 2012
Tabela 5 – Escores no Dizziness Handicap Inventory - DHI
Escore
Média/máxima
Mediana
possível
Físico
14,9/28
16
Funcional
15,8/36
14
Emocional
13,3/36
14
Pontuação total
44,0/100
38
As duas questões que mais pontuaram
para cada aspecto analisado no DHI foram:
Aspecto físico: 25 (“inclinar-se piora a sua
tontura?”), 11(“movimentos rápidos da sua
cabeça pioram a sua tontura?”). Aspecto
funcional: 12 (“devido a sua tontura, você
evita lugares altos?”), 05 (“devido a sua
tontura, você tem dificuldade ao deitar-se ou
levantar-se da cama?”). Aspecto emocional:
2 (“você se sente frustrado(a) devido a sua
tontura ?”) e 18 (“devido a sua tontura, é
difícil para você se concentrar?”).
Discussão
O primeiro achado do estudo diz
respeito à prevalência da queixa de tontura
em
uma
população
de
idosos
institucionalizados. Valores na ordem de
54,5% acima dos 65 anos de idade, melhor
avaliados quando cotejados com dados de
outros autores: fazemos referência a um
estudo de base populacional, realizado na
Holanda em 200110. Naquele país foi
mantido um registro de todos os casos de
tontura reportados pelos serviços de Clínica
Geral ao longo de um ano e a prevalência foi
de 8,3 % em pacientes com mais de 65 anos.
Em que pese as formas diferentes de
delineamento (principalmente o fato de que
muitos indivíduos idosos com tontura podem
não ter, de fato, procurado um médico
naquele estudo), é de notar a grande
frequência deste tipo de sintoma na
população idosa asilar estudada (54,5%).
Há citação em alguns artigos
científicos revisados de que a prevalência de
tontura aumenta com a idade5,11, o que ficou
claramente demonstrado na amostra.
Um segundo ponto a comentar foi a
prevalência maior de tontura em mulheres,
Intervalos
4-24
4-30
0-32
20-78
numa relação de quase 2:1, o que vem ao
encontro de dados constantes na literatura12.
Ressalve-se aqui que a maior parte da
população-base do estudo era composta de
mulheres.
Em relação ao tempo de permanência
na instituição e a presença de tontura, os
dados parecem paradoxais e põem em xeque
a
hipótese
de
que
a
própria
institucionalização poderia ser um fator a
contribuir para o aparecimento de tontura.
Talvez idade e co-morbidades sejam fatores
preponderantes.
Isto suscita uma nova indagação: será
que o fato de o asilo dispor de um serviço de
fisioterapia não seria um fator protetor
quanto ao aparecimento de tontura?
A análise do gráfico 1 pode indicar o
contrário. No entanto, há que se atentar para
o fato de que os pacientes sob fisioterapia
compõem um grupo de indivíduos com maior
número de co-morbidades e a demanda por
fisioterapia pode estar a isso relacionada.
Em relação ao tipo de tontura
encontraram-se resultados similares a de
outro estudo, o qual aponta que a maioria dos
casos de tontura se deve a vertigem rotatória
(90% de origem periférica), sendo que
sensação de desmaio responde por 6% (até
28% em idosos), desequilíbrio ocorre em 5%
dos casos e em 16% das vezes a causa é
psicogênica ou está associada a distúrbios
visuais13. Estes dados estão em conformidade
com o ilustrado no gráfico 3.
Há que se pesar com cuidado estes
dados, no entanto. Um estudo realizado em
dois hospitais universitários estadunidenses
para avaliar consistência e confiabilidade da
descrição de tontura fornecida pelo paciente
lançou dúvidas sobre o tema14. Os mesmos
autores ressaltam que outros fatores parecem
43
Hansen, A. M. A. K. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p.38-46, jan/jun. 2012
ser mais acurados que a descrição da queixa,
quais sejam: duração e desencadeantes da
tontura.
Neste aspecto, constatou-se aqui que
a principal situação relacionada à tontura no
estudo foi “quando muda de posição” (43%
das vezes).
Isto pode estar relacionado à etiologia
da tontura, sendo a hipotensão ortostática
uma condição a ser relembrada. A hipotensão
ortostática consiste na queda dos valores de
pressão arterial associada à mudança de
posição, há causas variadas, sendo que em
idosos pode ser demonstrada em 20-30% das
vezes13. Outra entidade clínica que não pode
ser desconsiderada são as labirintopatias, que
também podem suscitar tontura nesta
situação. Fica aqui uma interrogação, a ser
melhor analisada em estudos vindouros.
Passando agora à análise da qualidade
de vida, a Organização Mundial de Saúde
coloca que o envelhecimento populacional na
sociedade pode ser interpretado como uma
conquista das políticas de saúde pública e do
desenvolvimento econômico, no entanto
desafia esta mesma sociedade a adaptar-se e
melhorar a condição de saúde e a capacidade
funcional dos idosos, bem como sua
segurança e participação social15.
O conceito de capacidade funcional
norteia a avaliação geriátrica e se reveste de
significado ante considerações sobre
qualidade de vida na terceira idade.
Em relação ao DHI, instrumento
utilizado para avaliar qualidade de vida e
incapacidade física e funcional, o resultado
neste estudo é similar ao encontrado por
ocasião da própria validação e adaptação do
questionário original em inglês ao ambiente
brasileiro16. Naquele trabalho, a média de
pontos no DHI em um grupo de 250
pacientes com tontura crônica (mais de três
meses) foi de 44,8 e, além disto, o prejuízo
mensurado foi maior nos escores físico,
funcional e emocional, respectivamente. O
mesmo foi constatado neste estudo (vide
tabela 5).
Há que se enfatizar os valores
encontrados aqui. Segundo um estudo
norueguês, pontuação total no DHI igual ou
acima de 29 pontos está relacionada a
incapacidade17. Naquele estudo, que serviu
de base para validar o DHI à realidade
norueguesa, foram avaliados 92 indivíduos
pelo DHI, com uma pontuação média de 46,4
pontos (DP=16,5), valores muito parecidos
com os encontrados neste estudo.
Há pesquisas iniciais, testando a
capacidade de o DHI ser utilizado como
instrumento diagnóstico; melhor dizendo,
como instrumento de triagem diagnóstica,
pois nada substitui a avaliação clínica
detalhada. Conforme a pontuação atingida
em determinadas questões, se amplia ou
decresce a probabilidade de diagnóstico de
vertigem posicional paroxística benigna, por
exemplo18. De todo modo, neste estudo, esta
correlação não foi realizada.
Supõe-se, entretanto, que a maioria
dos indivíduos arrolados tem por base
vertigem
periférica,
alguns
deles
possivelmente uma causa metabólica para
tontura, outro tanto hipotensão ortostática,
entre outras. Presume-se, também, que a
maioria dos indivíduos seria beneficiada com
a aplicação de técnicas de reabilitação
vestibular.
Há relatos diversos e constatações na
literatura
científica
que
demonstram
claramente a eficácia e os benefícios em
relação à qualidade de vida de pacientes com
tontura
submetidos
a
reabilitação
vestibular5,11,19.
Mesmo
pacientes
neurológicos, com mal de Parkinson20, por
exemplo, têm apresentado bons resultados
em programas de reabilitação vestibular.
Fazendo um paralelo com o estudo
em tela, essas mesmas técnicas poderiam ser
utilizadas na esteira de um programa de
fisioterapia geral, amparada pelo serviço de
clínica médica local e, conforme ilustrado no
gráfico 1, estariam beneficiando cerca de 2
em 3 pacientes atendidos atualmente no
serviço de fisioterapia asilar. Hipótese esta a
ser testada em estudo futuro.
Conclusão
Tontura foi queixa freqüente na
amostra analisada e sua prevalência
44
Hansen, A. M. A. K. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p.38-46, jan/jun. 2012
aumentou conforme a idade dos indivíduos.
A maioria estava sob acompanhamento
fisioterápico (66,6%), reportou vertigem
rotatória e a situação desencadeante mais
referida foi mudança de posição. No grupo
de indivíduos com tontura, a mediana de
permanência na instituição foi de 2 anos. A
média de pontos no DHI foi de 44
(DP=16,8).
Assim, constatou-se que a queixa de
tontura foi prevalente na amostra e gerou
incapacidade, de acordo com os instrumentos
utilizados.
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PRÁTICAS DE CUIDADO NA QUALIDADE DE VIDA DE UMA PACIENTE
PORTADORA DE DOENÇAS CRÔNICAS: ESTUDO DE UM CASO CLÍNICO
[Practice of care in the quality of life of a patient carrier of chronic diseases: a case
study]
Geny Aparecida Cantos1; Joselma Tavares Frutuoso2; Marina Avila Cardoso3
Resumo: Será apresentado um caso clínico de uma paciente com doença crônica que foi
tratada e monitorada ao longo de 11 anos por uma equipe interdisciplinar e multiprofissional.
Diversos procedimentos terapêuticos foram utilizados: acompanhamento cardiológico e
nutricional; apoio psicológico, sessões de hidroterapia e palestras relacionadas com prevenção
para doenças cardiovasculares. Questionários de estresse e exames laboratoriais foram
realizados para monitorar o estado de saúde da paciente em questão. Os resultados obtidos
indicaram, não só quantitativamente quanto qualitativamente, o quanto a ajuda dessa equipe
interveio positivamente na vida da paciente em estudo.
Palavras-chave: doenças crônicas; qualidade de vida; prevenção, cuidado.
Abstract: We will present a clinical case of a patient with chronic disease that was treated
and monitored over 11 years by an interdisciplinary and multidisciplinary. Therapeutic
procedures were used: cardiac monitoring and nutritional counseling, hydrotherapy sessions
and lectures related to cardiovascular disease prevention. Stress questionnaires and laboratory
tests were performed to monitor the health status of the patient. The results indicated, not only
quantitatively and qualitatively, how much help this team intervened positively in the life of
the patient in the study.
Keywords: chronic diseases, quality of life; prevention; care.
Introdução
instrumentos, para que os indivíduos com
limitações possam interagir com seu tempo e
seu
meio,
em
toda
a
sua
multidimensionalidade.
Nesse contexto, os profissionais do
Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa e Ensino
e Assistência a Dislipidemia (NIPEAD-HUUFSC) vêm trabalhando com prevenção de
doenças cardiovasculares, tendo como meta
buscar um estilo de vida mais saudável para
pacientes diagnosticados com dislipidemia
ou algum fator de risco associado.2
O aumento expressivo de doenças
cardiovasculares somado aos problemas
decorrentes de doenças crônicas forma um
conjunto de morbidades, constituindo-se em
graves problemas de saúde pública. Dentro
desta realidade ações direcionadas à
promoção de saúde e às práticas de
prevenção são indispensáveis na recuperação
desse grupo populacional emergente 1. Sob
esta ótica, isto implica em uma ética de
solidariedade e cuidados que viabilize novos
.
___________________________
1
Prof. (a) do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC)-Departamento de Análises Clínicas. Endereço eletrônico: [email protected], Tel.:
(48) 91014927;
2
Prof (a) do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC). Endereço eletrônico: [email protected], Tel.: (48) 91543921;
3
Farmacêutica graduanda em Bioquímica da Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC). Endereço eletrônico: [email protected], Tel.: (48) 99563334
47
Cantos, G. A. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 47-54, jan/jun. 2012
Este Núcleo realiza atendimento
cardiológico, que em termos de prevenção é
o que se pode chamar de "check-up”
personalizado, onde as solicitações de um
conjunto de exames bioquímicos (colesterol
total e frações, triglicerídeos, glicemia em
jejum e alguns eletrólitos, como sódio e
potássio) são realizadas após a avaliação
clínica de cada paciente, considerando seu
histórico clínico. O objetivo de tais exames é
avaliar o perfil e os riscos cardiovasculares
de cada participante do projeto. Este
procedimento útil para orientá-lo a adotar
hábitos que atenue os possíveis riscos ou
ajuda a manter a sua saúde. Os exames mais
complexos (proteína C reativa ultrassensível,
ácido úrico, creatinina, hemoglobina
glicosilada) são solicitados apenas quando os
testes iniciais deixam dúvida ou levantam
suspeitas de outras doenças.
O atendimento nutricional abre
portas para o diálogo e a exposição do
cotidiano das pessoas, embora se perceba que
elas demonstram dificuldades na adoção de
hábitos alimentares saudáveis que seriam
compatíveis e preventivos de doenças
cardiovasculares e outras associadas, bem
como, de práticas de atividade física regular
e a adesão ao tratamento medicamentoso.
Dentro desse contexto, ações educativas
como palestras referentes a prevenção para
doenças
cardiovasculares
e
almoços
comunitários são ferramentas que contribuem
para o êxito do programa.3
Com intuito de integrar a medicina
convencional
com
outros
modelos
assistenciais, a fim de que se pudesse
trabalhar com prevenção de doenças
cardiovasculares e controle de estresse, em
2005 foi criado o projeto Vida e Saúde que
veio concretizar um modelo assistencial
baseado no cuidado e promoção da saúde de
pessoas com doenças crônicas. Este projeto
utiliza métodos terapêuticos aquáticos:
Watsu/Halliwick/Biodanza aquática.
O Watsu (water-shiatsu) é uma
técnica de massagem japonesa adaptada à
água, que utiliza uma variedade de
alongamentos e movimentos, de forma que o
paciente possa relaxar o corpo e a mente,
permitindo o alívio da dor e do estresse. A
partir da sustentação pela água, de toques
sutis e um contínuo movimento rítmico dos
vários fluxos, criam-se condições de
segurança, mesmo às pessoas que têm fobia
por água e o indivíduo experimenta um
relaxamento profundo, harmonizando-se com
a vida 4; 5.
O
método
Halliwick
foi
desenvolvido James McMillan em 1949,
como uma técnica de natação para pessoas
com necessidades especiais. Ele associou o
seu conhecimento sobre fluidos mecânicos e
somou isso a conceitos teóricos e
observações realizadas, com as reações do
corpo humano no ambiente aquático 4. Este
método enfatiza as habilidades dos pacientes
na água e não suas limitações, sendo também
de natureza recreativa. Essa técnica tem sido
usada
terapeuticamente
por
muitos
profissionais, de forma que o indivíduo possa
obter a máxima independência na água
(autoconfiança) 5.
Segundo a literatura, a biodanza
trabalha, em grupo, por meio de exercícios
específicos, que estimulem os potenciais
genéticos de cada participante. Na verdade
este processo ocorre concomitantemente com
o outro, de forma que essa comunicação
começa a melhorar a autoestima da pessoa e
conseqüentemente o seu bem estar biológico
e psicológico 6. Em geral, a biodanza atrai
um público de pessoas que pretendem
superar a timidez e o estresse.
O atendimento psicológico permite
desenvolver a percepção de si mesmo,
promovendo o autoconhecimento, além
verificar a presença de sinais indicadores de
alterações psicológicas (ex. ansiedade,
estresse, somatização, etc.) e desenvolver
procedimentos para ajudar a encontrar
estratégias de enfrentamento e de resolução
de problemas adequadas para lidar com as
situações geradoras do adoecimento físico e
psicológico. O paciente/cliente é levado a ter
autonomia
para
produzir
mudanças
comportamentais que promovam o bem-estar
no ambiente da terapia e essas mudanças
devem ser generalizadas para outras
situações e outros ambientes de interação
48
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Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 47-54, jan/jun. 2012
social (ex: família, trabalho, grupos sociais
que pertence).
É relevante observar as formas como
o estresse se apresenta na vida das pessoas.
Os questionários de estresse trazem
elementos importantes que podem emergir no
contexto de avaliação, sendo uma ferramenta
que permite analisar o grau de estresse e as
suas possíveis causas.
O presente artigo apresentará o estudo
de caso com o objetivo de mostrar a
importância de um trabalho interdisciplinar e
multiprofissional no monitoramento de uma
paciente portadora de doença crônica que
participou de um programa de prevenção
para doenças cardiovasculares, ao longo de
11 anos.
Metodologia
Paciente do sexo feminino, 83 anos
de idade, ex-professora de piano, aposentada
há 27 anos e viúva há 17, mãe de dois filhos:
um homem de 58 anos e uma mulher de 60
anos, ambos casados.
A paciente teve sua primeira
avaliação pela cardiologista do NIPEADHU-UFSC em 2000, apresentando histórico
familiar para doença arterial coronariana
(DAC). Esta foi realizada baseando-se em
dados bioquímicos, questionários de estresses
e por meio de entrevista. O estudo de caso
avaliou os resultados obtidos com a atenção
clínico-nutricional,
sobre
o
controle
glicêmico, o perfil lipídico e outras variáveis
bioquímicas, bem como estado emocional de
diabéticos dessa paciente. Na avaliação
cardiológica o diagnóstico obtido foi de
hipertensão arterial sistêmica (HAS),
dislipidemia e obesidade. Iniciou-se um
tratamento farmacológico para hipertensão e
colesterol e ela foi encaminhada ao setor de
nutrição, onde recebeu uma orientação
nutricional, de acordo com a Pirâmide
Alimentar equilibrada. Foi sugerido também
uma lista de alimentos de substituição para
hipercolesterololemia.
Novas consultas junto ao setor de
cardiologia e nutrição ocorreram no ano
2002 onde a paciente realizou exames
laboratoriais para verificar a dislipidemia, o
diabetes e a função renal. Nesse ano, junto à
consulta com a nutrição, foi medido seu peso,
que era de 74,7 quilogramas. No ano 2004,
2006, 2008, e 2011 outras consultas
(cardiológicas e nutricionais) e exames
bioquímicos foram realizados (tabela1).
Nos anos 2006, 2008 e 2011, a
paciente respondeu a três questionários de
monitoramento de estresse psicológico, são
eles: “você se sente muito estressado”7,
“tolerância ao estresse”8 e “determinação
do estado de estresse” 9.
No ano 2007 ela participou do
atendimento psicológico grupal: 28 encontros
ao longo de dois semestres letivos. A
frequência do encontro era semanal com
duração de duas horas cada no Serviço de
Atenção Psicológica - SAPSI da UFSC,
Departamento de Psicologia da Universidade
Federal de Santa Catarina.
No início do ano 2008, a paciente
continuava
com
seu
tratamento
medicamentoso para dislipidemia, doenças
cardiovasculares e tratamento da hipertensão.
Nessa ocasião ela iniciou atividades de
Watsu/Halliwick/Biodanza®.*
Durante toda sua trajetória no
NIPEAD-HU-UFSC a paciente participou
assiduamente de palestras mensais oferecidas
pela
equipe
multiprofisisonal
e
interdisciplinar, cujos temas foram voltados
para prevenção das doenças cardiovasculares
e controle de estresse.
Este estudo teve aprovação do Comitê
de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da
Universidade Federal de Santa Catarina –
UFSC folha de registro número 299/08, de
acordo com a Resolução Nº 196, de 10 de
outubro de 1996 e Resolução 251 de 05 de
agosto de 1997. A paciente participante
assinou o termo de consentimento livre e
esclarecido para a participação do estudo.
Resultados e discussão
A escolha desta participante no projeto
para o relato do caso clínico foi baseada no
seu quadro clínico, tempo de participação no
NIPEAD-HU-UFSC,
assiduidade
nas
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palestras, frequência com que procurava as
consultas no setor da cardiologia e nutrição,
participação no grupo de atendimento
psicológico e terapia aquática.
Em 2000, a paciente em estudo
compareceu pela primeira vez no setor de
cardiologia, sendo realizado o seu
diagnóstico clínico e elaborado um plano
terapêutico.
Segundo
a
tabela
de
Framingham, que tem como objetivo avaliar
o risco cardiovascular de uma população, ela
apresentou 15% de chance de sofrer de uma
doença arterial coronariana em 10 anos (que
corresponde a médio risco cardiovascular)10.
Seus exames apontaram que o seu colesterol
total (CT) e triglicerídeos (TG) estavam
acima dos valores de referência (tabela 1),
apesar do uso que vinha fazendo de uma
estatina e acido acetilsalicílico, que são
medicamentos utilizados para diminuir o CT
e,
consequentemente,
diminuir
a
probabilidade de formação de uma placa
aterosclerótica. A glicemia de jejum era de
100 mg/dl (tabela 1), mostrando que ela
necessitava controlar sua glicemia, pois este
valor estava próximo ao limite superior de
referência. Como era hipertensa ela estava
tomando um inibidor da Enzima Conversora
da Angiotensina. Quanto à parte nutricional,
foi constatado que ela teve o diagnóstico de
eutrófica o que significa que sua ingestão de
nutrientes estava sendo adequada para
satisfazer as necessidades metabólicas e
energéticas.
No ano de 2002 os exames
bioquímicos mostraram que os níveis de CT
tiveram uma queda, passando de 312mg/dl
para 293mg/dl (tabela1), o que foi atribuído
ao uso adequado dos fármacos utilizados pela
paciente. O acompanhamento nutricional
indicou que sua glicemia em jejum e os
valores da hemoglobina glicosilada (Hb1Ac)
estavam um pouco acima dos valores
limítrofes de referência. Essa última dosagem
permitiu identificar a concentração média de
glicose no sangue durante períodos longos de
tempo, sendo utilizada no diagnóstico de
diabetes. De fato, na consulta junto à nutrição
percebeu-se que ela teve dificuldade em
aderir às recomendações indicada, o que
provavelmente
resultou
no
quadro
bioquímico descrito.
No ano 2004 as consultas e exames
bioquímicos (tabela 1) não revelaram
nenhuma mudança no quadro clínico e
laboratorial apresentado, exceto em relação
ao seu peso, que aumentou 8,3 kg. Foi
indicado que a paciente participasse das
palestras mensais, cujos temas eram sobre
prevenção para doenças cardiovasculares e
que ela deveria adotar a orientação
nutricional recebida devido ao ganho de
peso. Desde esse ano ela participou
assiduamente das palestras.
No ano 2006 sua glicemia era 115
mg/dl mostrando um quadro de diabetes,
embora os exames realizados para verificar a
função renal (ácido úrico e creatinina)
fossem normais. Por outro lado, pode-se
notar um decréscimo do CT e TG , passando
de 268 mg/dl para 211 mgdl e 186 para 127
mg/dl, respectivamente (tabela 1). Para
hipertensão arterial foi acrescido um
diurético, devido a uma descompensação da
mesma.
Do ano 2008 até 2011 seus níveis de
glicemia tiveram pouca alteração, embora
desde 2009 ela tivesse inserido um
antidiabético oral, pois de fato ela tinha
extrema dificuldade em aderir a dieta
recomendada. Mas, um fato bem positivo foi
notar que seus níveis de CT ficaram dentro
da faixa de referência e que houve melhoras
nos valores de LDL-c (tabela1). Esse último
dado apresenta grande importância, pois essa
lipoproteína
está
relaciona
com
a
aterosclerose e problemas relacionados com
suas complicações.
No ano 2006 foi aplicado o
questionário “Você se sente muito
estressado” 7, e a paciente obteve um
resultado de um nível moderado de tensão,
que poderia ser melhorado. Ela sentia-se
algumas vezes ansiosa e "enrolada", tinha
"sentimentos agitados", e sentia-se inquieta
com frequência. No ano 2008 e 2011
manteve o mesmo nível na avaliação,
apresentando uma diminuição quanto aos
seus "sentimentos agitados".
50
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No questionário “Tolerância ao
estresse”8, ela obteve um resultado
satisfatório quanto ao seu estilo de vida,
apresentando sono ocasionalmente irregular.
No ano 2008 ela obteve a mesma pontuação
mostrando, contudo melhoras no sono e
melhor estado de saúde no último mês. Esses
resultados se mantiveram no ano 2011. Em
todos três questionários respondidos ela dizia
fumar um cigarro por dia. Ela era fumante de
1984, com este hábito de fumar apenas um
cigarro por dia. Antes dessa data ela relatou
que fumava mais de uma carteira por dia.
No questionário sobre “Determinação
do estado de estresse” 9, o resultado indicou
que ela tinha algum problema de estresse.
Isso pode estar relacionado com a falta de
controle sobre seus sentimentos e também
por se preocupar com suas doenças. No ano
2008 ela relata “sentir menos incomodada
com os nervos", dizia que, por algum tempo,
sua vida tinha sido plena de coisas
interessantes e sentia-se na maioria das vezes
emocionalmente estável e segura de si. Em
2011 ela relatou que não se sentia triste e
desencorajada ou preocupada com sua saúde.
Também não se sentia ansiosa. Pelo
contrário, sentia-se feliz, relaxada e com
mais energia na sua vida, relatando não se
“incomodar mais por seus nervos”,
afirmando ter uma excelente disposição.
Pelo atendimento psicológico em
grupo, realizado em 2007, verificou-se que a
paciente tinha fortes crenças enraizadas na
sua história de vida, por exemplo, ela não
aceitava a gravidez antes do casamento,
dificuldade para aceitar e dar carinho a uma
bisneta que os pais não eram casados, e
defendia que respeito era ouvir de cabeça
baixa os mais velhos “Baixar a cabeça para
falar com idosos é respeito” etc. As
experiências compartilhadas por ela no grupo
foram muito enriquecedoras, pois geraram
vários debates em torno de temas tais como:
medo x respeito; manter-se casado infeliz x
separação;
conseqüências naturalmente
reforçadoras x punição e ameaças, qualidade
dos relacionamentos familiares; construção
de
vinculo
afetivo
positivo,
e
comportamentos assertivos e saudáveis,
dentre outros assuntos abordados que
ajudaram a promover o autoconhecimento e
mudanças comportamentais em vários
aspectos (afetivo,emocional e cognitivo).
Ela chegou para terapia com um perfil
muito rígido e contraditório com relação ao
seu relacionamento com os netos, dizendo
não aceitar a bisneta, mas desejar a presença
dos netos. Ela afirmava “eles se aproximam
para ganhar presentes, mas passear comigo
não. Festas eles nunca me convidam, eles
não querem minha presença”. Um dos
netos, de 28 anos que não casou, tinha uma
filha com menos de 1 ano e a paciente dizia
“esta modernidade não combina comigo”.
Afirmava que nunca tinha colocado sua
bisneta no colo.
Sua dificuldade de
relacionamento com os netos pode ser
percebida na seguinte fala “é a ultima
páscoa que dou presente para eles”. Os
participantes do grupo a ajudaram descrever
situações de interação que a afastavam dos
netos e as quais poderiam os aproximá-los.
O perfil variado dos membros do
grupo de apoio psicológico também ajudou
bastante. Havia desde um professor
universitário, um analfabeto, uma senhora
separada com namorado, duas pessoas que
optaram pela separação e uma senhora que
tinha três filhos que conviviam com seus
companheiros, mas que não eram casados.
Esta diversidade do grupo era terapêutica
para todos os participantes, pois ali no grupo
todos aprendiam a conviver e a respeitar
estas diferenças.
No encontro cujo tema foi
assertividade ela afirmou: “gostei de
aprender
a
palavra
assertividade.”.
Assertividade é conhecida como a habilidade
social de fazer afirmação dos próprios
direitos
e
expressar
pensamentos,
sentimentos e crenças de maneira direta,
clara, honesta e apropriada ao contexto, de
modo a não violar o direito das outras
pessoas11 . Quando o grupo entrou em
recesso, ela pediu para a coordenadora
leituras sobre assertividade para ler nas
férias. Ao retornar os encontros do próximo
ano, ela não pode participar do grupo devido
a problemas de horário, mas relatou que já
51
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estava brincando com sua neta e colocando-a
no seu colo “eu consegui colocar minha
bisneta no colo, foi bom vencer esta
barreira, graças a este grupo”.
No ano 2008 a paciente passou a
participar da hidroterapia a qual utilizava
técnicas de watsu, halliwick associados com
a biodanza aquática. Este programa lhe
trouxe amplos benefícios, pois o método
watsu foi importante, sobretudo na questão
do relaxamento corporal e controle do
estresse. Com a técnica de halliwick ela
obteve melhoras na postura, maior amplitude
de movimento, mais força muscular e
equilíbrio. Pela a biodanza aquática ela podese beneficiar em relação à troca de afeto,
vínculo com as pessoas, à capacidade de
desejar buscar e desfrutar das coisas boas da
vida, da intimidade e do contato corporal.
Durante sua participação nesse
programa
ela
teve
monitoramento
bioquímico e verificaram-se melhoras no
quadro de dislipidemia. Essas alterações
positivas devem estar relacionadas à sua
participação ao programa. Vários estudos
mostram os benefícios de programas de
prevenção nos processos enzimáticos
envolvidos no metabolismo lipídico,
normalização do peso corporal, na
diminuição dos níveis de pressão arterial, e
estresse, mostrando que esses programas
reduzem os custos do controle da doença, ou
tratamento das complicações e possivelmente
redução da mortalidade 12; 13; 14,15,16
A própria paciente relatou que sua
participação junto ao NIPEAD-HU-UFSC foi
de extrema importância para seu bem-estar e
qualidade de vida. Comentou que sua
disposição na realização nas diversas
atividades melhorou junto com o seu
enfrentamento do estresse verificado nos
resultados dos três questionários utilizados.
Trabalhos realizados pelo NIPEADHU-UFSC têm evidenciado a importância da
orientação nutricional como uma medida de
prevenção para doenças cardiovasculares17,18.
Dentro dessa perspectiva este Núcleo tem
realizado o acompanhamento nutricional de
pacientes. No presente estudo de caso,
mesmo ciente da importância desse
tratamento, a paciente demonstrou grande
dificuldade em aderir às orientações
transmitidas pelas nutricionistas, pois não
tinha habito alimentar saudável devido ao
consumo de embutidos, queijos e geléias,
dentre outros alimentos da culinária italiana.
Ela frequentava assiduamente as
palestras ministradas mensalmente, porém,
não participou de nenhum dos almoços
comunitários mensais realizados pelos
participantes. Nesses almoços o cardápio era
preparado pelo grupo de participantes e
analisado por nutricionista para assegurar
uma dieta balanceada. As adaptações das
preparações eram discutidas pelo grupo. A
sua presença nesses encontros poderia ter a
ajudado a aderir melhor às questões
nutricionais, pois além de promover
interações sociais tinha o objetivo de
estimular uma alimentação saudável e
equilibrada.
A paciente relata que parou de
fumar logo após o falecimento do seu esposo,
no ano de 1984, há 27 anos. Entretanto,
comentou que tinha o hábito de fumar um
cigarro todas as noites antes de dormir. Uma
contradição: ela não parou de fumar, apenas
diminuiu drasticamente o consumo de
cigarro. Segundo literatura, tem sido
amplamente demonstrado que o hábito de
fumar, entre idosos, está associado a um
excesso de mortalidade por todas as causas
(doenças do aparelho circulatório, as
neoplasias e as doenças do aparelho
respiratório), e ao maior risco de mortalidade
e morbidade por doenças cardiovasculares,
doenças
cerebrovasculares,
doenças
respiratórias e diversos tipos de cânceres 19.
Seria importante que ela cessasse o consumo
de cigarros, visto que a mesma já apresenta
doenças cardiovasculares e, devido a sua
idade elevada, poderia estar aumentando o
risco de desenvolver cânceres. Contudo, a
paciente parece não ter muitas preocupações
em relação a sua alimentação e consumo de
cigarro. Possivelmente isso pode estar
relacionado com a sua idade elevada e sua
boa condição de saúde, o que pode ter
diminuído suas preocupações em relação ao
tabagismo e nutrição.
52
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Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 47-54, jan/jun. 2012
Tabela 1 - Perfil bioquímico da paciente em estudo 2000-2011
Ano
Exames**
GLI (mg/dl)
CT (mg/dl)
TG (mg/dl)
HDL-c (mg/dl)
2000
2002
2004
2006
2008
2010 2011
100
312
173
44
106
293
162
38
108
268
186
49
115
211
127
44
107
197
173
39
108
192
154
47
Valores de
referência
(mg/dl)
60-100
< 200
< 150
Baixa:≤40
Alta: ≥ 60
LDL-c(mg/dl) 223 222,6 182 141,6 123,4 110 115
< 100
HbA1c
6,2% 6,2% 6,3% 6,4% 6,4% 6,3% 6,3%
4,3a 6,1%
Urca (mg/dl)
5,9
5,9
5,9
8,9
8,9
7,1
6,4
3,5-8,5
Crea (mg/dl)
0,8
0,9
1,0
1,2
1,2
1,4
1,3
0.5-1,2
Legenda**: GLI: glicose; CT: colesterol total; TG: triglicerídeos; HDL-c: lipoproteína de alta
densidade; LDL-c: lipoproteína de baixa densidade; HbA1C: hemoglobina glicosilada; Urca:
ácido úrico; Crea: creatinina.
Conclusão
A despeito da resistência à
mudança apresentada pela paciente ao longo
do tratamento, sobretudo na questão
nutricional, a combinação de estratégias
utilizadas pela equipe interdisciplinar e
multiprofissional contribuiu de forma mais
efetiva no seu quadro de saúde, com
diminuição de taxas, exames dentro do
padrão de referência, resultados dos
questionários, na adesão e no tratamento da
paciente, valorizando a sua subjetividade, e a
sua história, socialização, e desenvolver uma
postura a favor da vida. As experiências
vivenciadas ao longo das diversas
terapêuticas geraram um aprendizado com
repercussão relevante na execução de tarefas
diárias da vida e de enfrentamento dos
problemas em relação á sua saúde.
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110
188
149
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Krug, R. R. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 55-64, jan/jun. 2012
PERCEPÇÕES DE MULHERES IDOSAS DE FLORIANÓPOLIS/SC SOBRE A
PRÁTICA DE ATIVIDADES FÍSICAS NO LAZER
[Perceptions of older women in Florianópolis/SC on the practice of leisure physical
activities]
Rodrigo de Rosso Krug1; Moane Marchesan2.
Resumo: Objetivou-se nesta pesquisa participante analisar quais são as barreiras e
facilitadores para a prática de atividades físicas de seis idosas matriculadas em grupos de
convivência de Florianópolis/SC. Aplicou-se uma ficha diagnóstica e o IPAQ (domínio lazer),
além da técnica de grupo focal, interpretada pela análise de conteúdo. As barreiras percebidas
foram: comodidade, doenças, transporte e o financeiro. Os facilitadores foram: apoio de
familiares/amigos, gosto pela atividade física, sociabilização e o bom professor. Para superar
a inatividade física é necessário buscar atitudes positivas para que esta população possa
praticar atividades físicas regularmente, podendo assim ter um envelhecimento mais ativo e
saudável.
Palavras-chave: Idosas. Barreiras. Facilitadores. Atividade Física.
Abstract: The objective of this research participant to analyze what are the barriers and
facilitators to physical activity of elderly enrolled in six groups living in Florianópolis/SC. We
applied a diagnostic plug and the IPAQ (recreation area), in addition to the focus group
technique, performed by content analysis. The perceived barriers were: convenience, diseases,
transport and finance. The facilitators were: support from family/friends, i like physical
activity, socialization and good teacher. To overcome physical inactivity is necessary to seek
more positive attitudes toward this population can practice regular physical activity, may
therefore play a more active and healthy aging.
Keywords: Older. Barriers. Facilitators. Physical Activity.
Introdução
brasileira alcançará 64 milhões no ano de
2050. Em Santa Catarina já existem mais de
600 mil idosos, e na capital Florianópolis,
mais de 48 mil2.
As
perdas
decorrentes
do
envelhecimento humano se dão nos aspectos
biológicos, psicológicos e sociais3. O
aparecimento de doenças é maior, sendo que
85% têm pelo menos uma doença crônica2,
surgem problemas cognitivos4,5 e fisiológicos
que diminuem a capacidade funcional dessas
pessoas, dificultando a realização das
atividades básicas da vida diária6.
O aumento do envelhecimento
populacional é um fenômeno mundial.
Projeções estatísticas sugerem que até 2050,
um quinto da população mundial será
composto por pessoas acima de 60 anos de
idade, o que corresponde a aproximadamente
200 milhões de pessoas1. No Brasil o
envelhecimento da população também está
acontecendo em ritmo acelerado. Atualmente
existem mais de 20 milhões de idosos no
Brasil. Estima-se que a população idosa
________________________
1
Licenciado em Educação Física e Especialista em Ciências do Movimento Humano
(UNICRUZ), Especialista em Educação Física Escolar (UFSM), aluno do Curso de Mestrado
em Ciências do Movimento Humano (UDESC)
2
Fisioterapeuta, Licenciada em Educação Física e Especialista em Saúde Coletiva
(UNICRUZ), Mestre em Educação Física (UFPEL) e aluna do Curso de Doutorado em
Educação Física (UFSC).
55
Krug, R. R. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 55-64, jan/jun. 2012
Assim, o processo de envelhecimento
contribui com o aumento do risco de
inatividade física nesta população3, sendo
que cerca de 53.2% das mulheres e 51.5%
dos homens brasileiros acima dos 65 anos
são inativos fisicamente7. A inatividade física
é um dos principais fatores de risco para
diversas doenças1, onde baixos níveis de
atividade física aumentam os índices de
mortalidade por todas as causas8.
Neste sentido, o impacto da atividade
física na saúde pode ser importante
especialmente nos idosos9. Atualmente é um
consenso entre os profissionais da área da
saúde que a atividade física regular é um
fator determinante no sucesso do processo do
envelhecimento1,10.
Com isso a investigação das barreiras
e dos aspectos facilitadores para a realização
de atividades físicas tem sido uma
preocupação dos pesquisadores da área, na
medida em que a compreensão destes fatores
pode fornecer informações que levem a uma
intervenção mais efetiva10.
Sendo assim objetiva-se nesta
pesquisa identificar o nível de atividade
física no lazer e analisar quais são as
barreiras e os aspectos facilitadores para a
prática regular de atividades físicas no lazer
de idosas matriculadas em grupos de
convivência da cidade de Florianópolis/SC.
Métodos
Esta pesquisa caracteriza-se como
qualitativa fenomenológica11.
A
pesquisa
qualitativa
fenomenológica privilegia a consciência do
sujeito tentando entender à realidade social
como uma construção humana, onde a
preocupação fundamental é com a
caracterização do fenômeno, com as formas
que se apresenta e com as variações, já que o
seu principal objetivo é a descrição11. Neste
estudo os fenômenos estudados foram as
barreiras e os aspectos facilitadores para a
prática regular de atividades físicas de lazer
percebidas pelas idosas matriculadas em
grupos de convivência da cidade de
Florianópolis/SC.
Os sujeitos deste estudo foram seis
mulheres idosas, matriculadas nos grupos de
convivência Novas Amigas, Recordações e
GIPAN, grupos estes cadastrados na
Prefeitura Municipal de Florianópolis/SC.
Essas idosas foram convidadas a participar
do estudo por serem as únicas dos três grupos
de convivência pesquisados a estarem na
faixa etária de 75 a 79 anos que estavam
presentes no dia em que os pesquisadores
visitaram os respectivos grupos. Essa faixa
etária foi escolhida por compreender uma
faixa intermediária entre idosos jovens (60 a
74 anos) e idosos longevos (mais que 80
anos)2.
Esses grupos de convivência têm suas
reuniões realizadas no Conselho Comunitário
do Pantanal, localizado no bairro Pantanal da
referida cidade. Para participar da pesquisa as
idosas tinham que estar devidamente
matriculadas nos grupos de convivência e
não apresentar déficits cognitivos. Esses
grupos foram escolhidos por serem de fácil
acesso aos pesquisadores devido a
proximidade com a Universidade Federal de
Santa Catarina.
Os instrumentos utilizados foram os
seguintes:
A ficha diagnóstica aplicada para
verificar as características sociodemográficas
e condições de saúde das idosas;
O Questionário Internacional de
Atividade Física (IPAQ) versão 8, forma
longa e semana normal, adaptado para
idosos, domínio 4 (lazer)12,para verificar o
nível de atividade física no lazer da referida
população.
A técnica de grupo focal, para
analisar as barreiras e os facilitadores para a
prática regular de atividades físicas relatadas
pelas idosas. Essa técnica tem um tópico a
ser explorado, podendo abordar um tema e
um grupo específico, a fim de entender em
profundidade o comportamento de um
determinado grupo13. Os tópicos explorados
foram os seguintes: percepção da atividade
física; participação em grupos de atividades
físicas; motivos para a prática de atividades
físicas; motivos para a não prática de
atividades físicas; motivos que levam a faltas
56
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no grupo de atividades físicas; pratica de
atividades físicas no passado.
A aplicação é composta de três fases:
1ª) o convite aos participantes e a preparação
do encontro; 2ª) o encontro e o mapeamento
dos participantes; e, 3ª) a transcrição das fitas
e a compilação dos dados13.
Na coleta de dados, inicialmente,
entrou-se em contato com as coordenadoras
dos três grupos de convivência que foram
pesquisados neste estudo, para pedir
permissão para fazer a pesquisa. Na etapa
seguinte, as idosas foram convidadas a
participar do estudo, posteriormente foram
esclarecidos os objetivos desse, o retorno da
pesquisa após sua conclusão e os
procedimentos de coleta de dados. Também
foi explicado sobre a confidencialidade dos
dados e o direito de cada pesquisado de
desistir a qualquer momento da pesquisa. As
idosas que aceitaram participar da pesquisa
assinaram o termo de consentimento livre
esclarecido em duas vias, ficando uma em
posse do pesquisador e a outra na posse da
participante.
Para a aplicação da ficha diagnóstica
e do IPAQ foi marcada uma data, horário e
local, de acordo com a disponibilidade das
idosas. Estes questionários foram aplicados
no Centro Comunitário do Pantanal, local
este onde ocorrem os grupos de convivência
selecionados para este estudo. Posteriormente
foi marcado o dia, horário e local para a
realização do grupo focal, que foi realizado
no mesmo lugar.
Os dados provenientes da ficha
diagnóstica
(características
sociodemográficas e condições de saúde)
foram analisados a partir da estatística
descritiva, por meio de média e frequência
simples.
Para analisar o nível de atividade
física das idosas a partir do IPAQ, foi
utilizado o somatório dos tempos (minutos
por semana) das atividades físicas no lazer
(domínio 4), onde se considerou como
pessoas ativas fisicamente as que têm o
hábito regular de praticar atividades físicas,
ou seja, que fazem atividades físicas
moderadas e ou vigorosas com frequência
maior ou igual a 150 minutos semanais. E as
pessoas que não tem esse hábito regular de
praticar atividades físicas, ou seja, que fazem
menos que 150 minutos semanais de
atividades físicas moderadas e ou vigorosas,
são
consideradas
pessoas
inativas
14
fisicamente .
A técnica de grupo focal foi gravada e
posteriormente transcrita, sendo que suas
informações foram interpretadas pela análise
de conteúdo15.
Para Minayo15, a utilização da análise
de conteúdo prevê três etapas principais:
1ª) Pré-análise: trata do esquema de trabalho
e envolve os primeiros contatos com os
documentos de análise, a formulação de
objetivos, definição dos procedimentos a
serem seguidos e a preparação formal do
material. Além disso, a pré-análise pode ser
decomposta nas seguintes tarefas: leitura
flutuante; constituição do corpus; e
formulação e reformulação de hipóteses e
objetivos.
2ª) Exploração do material: corresponde ao
cumprimento das decisões anteriormente
tomadas, isto é, leitura de documentos,
categorização, definição das unidades de
contexto e de registro, entre outros.
3ª) Tratamento dos resultados obtidos e
interpretação: fase onde os dados são
lapidados, tornando-se significativos, sendo
que essa etapa de interpretação deve ir além
dos conteúdos manifestos nos documentos,
buscando descobrir o que está em torno das
novas dimensões teóricas e interpretativas,
sugeridas pela leitura do material.
Este estudo foi aprovado pelo Comitê
de Ética da Universidade do Estado de Santa
Catarina, com o número de referência
149/2010 no dia 20/08/2010.
Resultados e discussão
Os sujeitos deste estudo tinham média
de idade de 76,67 anos, mas, no entanto,
quatro apresentam hipertensão, cinco artrose,
três osteoporose, duas diabetes, uma
dispilidemia e uma problemas de visão, e a
maioria delas usa medicamentos. Nenhuma
das idosas fuma ou já fumou, nem tem
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costume de consumir bebidas alcoólicas e nenhuma delas tem dificuldades para praticar
atividades físicas.
Tabela 1. Características sociodemográficas e estado de saúde das idosas participantes do
estudo.
VARIÁVEIS
Estado Civil
Solteiro
Casado
Separado
Viúvo
Escolaridade
Analfabeto
Fundamental Incompleto
Fundamental Completo
Médio Completo
Superior Completo
Ocupação atual
Aposentado e ou Pensionista
Aposentado e ou Pensionista que Trabalha
Não Remunerado
Ainda Trabalha
Renda
Menos que um Salário Mínimo
De 1 a 3 Salários Mínimos
De 4 a 6 Salários Mínimos
Mais que 6 Salários Mínimos
Com quem mora atualmente
Sozinho
Acompanhado
Religião
Católica
Outras
Etnia
Caucasiano/ Branco
Afrodescente/ Mulato/ Pardo
Asiático
Estado de Saúde
Ótimo/ Bom
Regular
Ruim/ Muito Ruim
Uso de Medicamentos
Sim
Não
f= freqüência; % porcentagem
F
%
0
2
0
4
00,00
33,34
00,00
66,66
0
3
0
2
1
00,00
50,00
00,00
33,33
16,67
5
1
0
0
83,33
16,67
00,00
00,00
0
3
1
2
50,00
16,67
33,33
2
4
33,34
66,66
6
0
100,00
00,00
6
0
0
100,00
00,00
00,00
4
2
0
66,66
33,34
00,00
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1
83,33
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Ao analisar o nível de atividade física no tempo de lazer das idosas participantes
deste estudo evidenciou-se que três destas fazem menos que 150 minutos semanais de
atividades físicas, sendo consideradas inativas fisicamente, e três fazem um tempo superior a
150 minutos semanais de atividades físicas regulares, sendo consideradas ativas fisicamente.
Tabela 2. Nível de atividade física no lazer das idosas participantes do estudo.
Participantes
Idosa 1
Idosa 2
Idosa 3
Idosa 4
Idosa 5
Idosa 6
Prática semanal de AF (minutos)
0
0
300
450
185
120
As principais barreiras para a prática
regular de atividades físicas no lazer na
opinião das idosas participantes do estudo
foram: a comodidade, as doenças, o
transporte até o local onde é realizada a
atividade física e a parte financeira.
Ter doenças
A primeira barreira mencionada pelas
idosas matriculadas nos grupos de
convivência de Florianópolis/SC foi “ter
doenças”. As idosas relataram que as doenças
impossibilitam a prática regular de atividades
físicas. Esta barreira pode ser justificada pelo
fato de estas idosas apresentarem muitas
doenças
como
hipertensão,
artrose,
osteoporose, diabetes e dispilidemia, o que
pode dificultar a prática regular de atividades
físicas por parte destas. A presença de
doenças crônicas pode ocasionar dores,
desconfortos e outras limitações, que podem
influenciar na decisão das pessoas, em aderir
a prática regular de atividades físicas16.
Satariano, Haight e Tager17 também
encontraram esta barreira ao investigarem
2.046 indivíduos maiores de 55 anos e
evidenciarem que os problemas de saúde são
uma das barreiras citadas para a prática da
atividade física no tempo livre. Diversos
autores16,18,19, corroboram com esta afirmação
ao citarem que o estado de saúde é uma
barreira que influencia o idoso a não praticar
atividades físicas.
Classificação
Inativa
Inativa
Ativa
Ativa
Ativa
Inativa
Comodidade
Outra barreira mencionada pelas
idosas para a prática regular de atividades
físicas foi “a comodidade”. As participantes
disseram que têm pouca vontade (preguiça)
de fazer atividades físicas e se sentem mais
cômodas em casa. Wilcox, Tudor-Locke e
Ainsworth19 apontam que a falta de
motivação ou força de vontade é uma
barreira muito citada para a não aderência a
prática regular de atividades físicas.
O avanço da tecnologia provoca esta
falta de vontade para a prática de atividades
físicas, pois a televisão faz com que as
pessoas fiquem muito paradas dentro de casa,
o automóvel e o ônibus substituem as
caminhadas, o elevador evita a subida de
escada e muitas das profissões levam o
trabalhador a passar muitas horas na posição
sentada, fazendo com que as pessoas se
sintam mais cômodas sendo inativas
fisicamente20. Isto também é comprovado no
estudo de Satariano, Haight e Tager17 que ao
estudarem 2.046 pessoas com mais de 55
anos, verificara que a falta de interesse é uma
barreira para a prática da atividade física no
tempo livre, principalmente nas mulheres.
O transporte
Outra barreira mencionada pelas
participantes do estudo foi “o transporte” até
o local aonde é realizada a atividade física.
Elas explicaram que os motoristas de ônibus
andam muito rápido, e que os degraus dos
ônibus são muito altos, dificultando o uso
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deste meio de transporte por parte das
pessoas idosas. As idosas acrescentaram que
ir caminhando é muito difícil, pois a
distância entre sua casa e o local onde é
oferecida a atividade física é muito grande,
fato este mencionado anteriormente.
Benetti e Benedetti21 entrevistaram
em seu estudo, 76 idosas, sendo 39
praticantes de exercícios físicos e 37 não
praticantes, indagando estas sobre como
estava o transporte coletivo da cidade de
Florianópolis/SC, e verificaram nas falas das
idosas que a tarefa de andar de ônibus
aparentemente deixa as idosas apreensivas,
ansiosas e preocupadas, descontentes com a
situação, onde estas reclamam dentro e fora
do ônibus da falta de educação de motoristas
e cobradores.
O transporte urbano é uma questão
importante para os idosos no Brasil, pois o
item é listado como uma das primeiras
capacidades que o indivíduo perde, e entre as
atividades do dia-a-dia é considerada a mais
difícil22. Nossa sociedade possui muitas
barreiras que influenciam o idoso a não
praticar atividades físicas, e o transporte é
uma delas18.
O Financeiro
O “financeiro” é outra barreira citada
pelas idosas para a prática regular de
atividades físicas. De acordo com as idosas
está muito caro fazer atividades físicas em
academias de ginástica. Este fato é
facilmente explicado, pois a metade das
participantes deste estudo ganha de 1 a 3
salários mínimos.
Dados do IBGE23 mostram que 70%
das pessoas idosas brasileiras recebem menos
de dois salários mínimos como aposentadoria
e ou pensão, limitando ainda mais a condição
do idoso, que muitas vezes é incapacitado e
sem recursos financeiros. Lehr18 e Hallal et
al.16 explicam que o estado socioeconômico
das pessoas influencia muito na sua prática
regular de atividade física.
Já os principais facilitadores para a
prática regular de atividades físicas no lazer
na opinião das idosas participantes do estudo
foram: o apoio de familiares e amigos, o
gosto pela modalidade de atividade física que
vai praticar, a sociabilização e o bom
professor.
Apoio de familiares e amigos
O primeiro fator facilitador para a
prática regular de atividades físicas
mencionado pelas idosas foi “ter apoio dos
familiares e amigos” para praticar atividades
físicas regularmente. As idosas relataram que
se seus familiares e amigos incentivam a
prática de atividades físicas ou realizam
atividades físicas, a aderência deles a esta
prática fica facilitada.
O incentivo de familiares para a
prática regular de atividades físicas, bem
como ter companhia para realizar esta prática
pode facilitar a pessoa idosa a adquirir este
hábito regularmente10,24,25. Do mesmo modo
Cassou et al.,10 enfatizam o papel da família
como um agente facilitador para a prática
regular da atividade física por parte das
pessoas que estão na terceira idade.
O gosto pela prática
Outro facilitador para a prática
regular de atividades físicas relatado pelas
idosas foi “gostar de fazer atividades físicas”.
As participantes explicaram que gostam de
praticar dança e ginástica, e mencionaram
que não fariam outras modalidades esportivas
que não gostam. Esta informação está em
concordância com a afirmação de Miranda e
Batista26 de que o prazer é fundamental para
a aderência à atividade física.
Em estudo realizado com pessoas
idosas, na cidade de Belo Horizonte, o prazer
pela prática foi apontado como um motivo
para esses ingressarem em um programa de
atividades físicas27. Ter o prazer como o
motivo mais referenciado para ingressar em
programa de atividades físicas, é uma
motivação intrínseca que evidencia o desejo
pessoal associado à realização e satisfação
em estar em um grupo social, com
manifestações de respeito, cumplicidade e
reconhecimento social, desejos que se tornam
importantes, principalmente, nesta fase da
vida27.
60
Krug, R. R. et al.
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Meurer, Benedetti e Mazo28 relata que
o prazer pela prática de atividades físicas é
um dos fatores mais citados pelas pessoas
idosas que participaram de seu estudo como
fator motivante para a aderência a prática de
atividades físicas regulares. Mazo, Cardoso e
Aguiar29 também concluíram em seu estudo
que o principal motivo para que os idosos
(n=60) pratiquem atividades físicas regulares
é o gosto pela atividade física.
Sociabilização
A
“sociabilização”
foi
outro
facilitador para a prática de atividades físicas
mencionada pelas idosas. Elas explicaram
que quando a atividade física é feita em
grupo ou com amigos é melhor, pois assim
podem conversar e conhecer mais pessoas.
A perda do espaço social é mais um
problema do envelhecimento humano,
principalmente,
após
o
evento
da
aposentadoria, sendo que os programas de
atividades físicas podem amenizar essa
perda, pois representam uma maior
convivência entre amigos30. O fator
sociabilização dentro de um grupo de
atividades físicas é muito importante, pois
pode fazer com que os participantes tenham
uma perspectiva de novas relações de
amizades28. Meurer, Benedetti e Mazo28
encontrou em seu estudo que a
sociabilização, com 8,6%, foi o segundo
motivo mais citado pelas pessoas idosas, para
a aderência ao projeto de atividades físicas
Floripa Ativa – Fase B.
No estudo de Mazo, Cardoso e
Aguiar29 com 60 idosos da cidade de
Florianópolis/SC, o convívio social e a
sociabiliazação
(25%)
foram
fatores
facilitadores para a prática regular de
atividades físicas por parte desta população.
O Bom professor
O último facilitador para a prática de
atividades físicas relatado pelas idosas foi
“ter um bom professor”. As idosas relataram
que se o professor é calmo, sabe o que está
fazendo, não falta às aulas e sabe explicar e
adequar os exercícios para as limitações
delas será mais fácil de elas fazerem
atividades físicas regularmente.
As atividades desenvolvidas de forma
prazerosa, social, gradual, dinâmica, variada,
entre outras, bem como as atitudes
profissionais, são fatores facilitadores para a
participação e continuidade de um idoso em
um programa. Sendo assim a atuação do
profissional de Educação Física é
fundamental para a adoção e a manutenção
de um idoso em um programa de atividades
físicas10.
Todo o início ou reinício de atividade
física deve ser controlado, principalmente
para pessoas idosas, evidenciando assim a
importância de uma orientação especializada
para a prática de atividades físicas
regulares31. A prática regular de atividade
física só proporcionará benefícios para saúde
se esta for bem orientada e bem praticada,
devendo ser encarada como um meio
potencial para se contribuir para a saúde32.
Para que os benefícios da atividade física
sejam contemplados, é necessário que a
prática seja fundamentada em alguns
princípios básicos como a intensidade, a
duração e a freqüência, conceitos estes
estudados por profissionais de Educação
Física20.
Considerações Finais
É muito importante conhecer as
barreiras e os aspectos facilitadores que
podem influenciar as pessoas idosas na
adesão e na manutenção de práticas de
atividades físicas regulares no lazer, pois a
partir do levantamento destes fatores,
podemos propor intervenções para uma
mudança de comportamento, proporcionando
um envelhecimento ativo.
Existem
muitos
fatores
que
influenciam a prática regular de atividades
físicas, sendo que neste estudo as barreiras
relatadas pelas idosas foram a comodidade,
as doenças, o transporte até o local onde é
realizada a atividade física e a parte
financeira. Os facilitadores citados pelas
mesmas foram o apoio de familiares e
amigos, o gosto pela modalidade de atividade
61
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física praticada, a sociabilização e o bom
professor.
Com este estudo conclui-se que
realizar atividades físicas regularmente está
vinculado a desafios constantes para as
idosas participantes do estudo e, que, é
necessário transpor as barreiras advindas do
envelhecimento, buscando atitudes positivas,
neste caso os facilitadores, para que esta
população possa adotar um estilo de vida
ativo tendo um envelhecimento mais
saudável.
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O
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Benedet, R. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 65-74, jan/jun. 2012
DETERMINAÇÃO DE DNA-HPV POR CAPTURA HÍBRIDA II E SUA RELAÇÃO
COM A COLPOCITOLOGIA ONCOLÓGICA [Determination of HPV DNA by Hybrid
Capture II and its relationship with the Pap smear]
Rafael Benedet1; Lisiane Pagnussat2; Cidônia De Lourdes Vituri3.
Resumo: A Captura Híbrida II (CH II) têm sido sugerida como método alternativo a
colpocitologia oncológica (CO) para o rastreamento de câncer do colo uterino, por essa ser
um exame tecnicamente complexo. No estudo foram avaliadas 82.182 requisições do
Laboratório OnlineLab em Florianópolis, Santa Catarina e selecionadas as que continham
suspeita clínica de infecção pelo HPV, exames de CO e CH II simultaneamente. Houve clara
associação entre HPV de alto risco e valor da carga viral com o grau das lesões precursoras de
câncer cervical. Ainda, a infecção pelo HPV é mais comum em mulheres com menos de 30
anos.
Palavras-Chave: Captura Híbrida II, Colpocitologia Oncológica, Papilomavírus Humano,
carga viral.
Abstract: The Hybrid Capture II (HC II) has been suggested as an alternative methods to Pap
smear (PS) for screening of cervical cancer, since this is a technically complex test. In the
study were evaluated 82.182 requests from the OnlineLab in Florianópolis, Santa Catarina,
and selected those containing clinical suspect of HPV infection, PS and HC II tests
simultaneously. There was a clear association between high-risk HPV and viral load values to
the degree of precursor lesions of cervical cancer. Yet, the HPV infection is more common
among women under 30.
Key words: Hybrid capture II, Pap Smear, Human papillomavirus, viral load.
Introdução
maligna mais comum entre as mulheres,
sendo superado pelo câncer de pele (nãomelanoma) e pelo câncer de mama. Para o
ano de 2008, as Estimativas da Incidência de
Câncer no Brasil apontam a ocorrência de
18.680 novos casos de câncer do colo
do útero, com um risco estimado de 19 casos
a cada 100 mil mulheres (2). A infecção pelo
Papilomavírus Humano (HPV) é a principal
causa câncer de colo do útero (3, 4, 5, 6).
Mais de 100 tipos de HPV tem sido
identificado e subdivididos em tipos de baixo
risco oncogênico e tipos de intermediário/alto
risco oncogênico (4, 7). Porém, praticamente
O câncer de colo do útero é um
problema de saúde pública em muitas regiões
do mundo, apesar da tecnologia para seu
diagnóstico precoce estar disponível há
muitas décadas (1). Com cerca de 500 mil
casos novos por ano no mundo, o câncer do
colo do útero é o segundo tipo de câncer mais
comum entre as mulheres, sendo responsável
por, aproximadamente, 230 mil óbitos por
ano (2).
No Brasil, estima-se que o câncer de
colo uterino seja a terceira neoplasia
______________________
1
Farmacêutico Bioquímico do OnlineLab Laboratório de Anatomia Patológica, Florianópolis,
Santa Catarina, Brasil. E-mail: [email protected]
2
Farmacêutica Bioquímica, especialista em Citologia Cérvico-Vaginal e Líquidos Corporais
pela Universidade Federal de Santa Catarina, Departamento de Análises Clínicas,
Florianópolis, Santa Catarina, Brasil. E-mail: [email protected]
3
Professora Doutora da Universidade Federal de Santa Catarina, Departamento de Análises
Clínicas, Florianópolis, Santa Catarina, Brasil. E-mail: [email protected]
65
Benedet, R. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 65-74, jan/jun. 2012
todos os casos de câncer do colo do útero são
causados por um dos 15 tipos de alto risco
oncogênico (2, 4, 8). Destes, os tipos mais
comuns são o HPV16 e o HPV18 (2, 9).
Verifica-se, porém, que a maioria das
infecções pelo HPV de alto risco oncogênico
é transitória e, aproximadamente 70% delas
desaparecem no período de um ano (4).
A maioria dos casos de câncer do colo
uterino pode ser prevenida por meio de um
programa de rastreamento, no qual possui a
proposta de diagnosticar o câncer em
estádios iniciais e de detectar e remover
lesões de alto grau (1).
A colpocitologia oncológica (CO) é o
método mais difundido mundialmente para
esse rastreamento (1, 4). A CO, contudo, é um
exame tecnicamente complexo, que depende
de coleta e preparação adequada dos
esfregaços,
processamento
laboratorial
controlado e leitura e interpretação por
profissionais experientes (10, 11, 12), podendo
resultar em um exame inadequado e falsonegativo (13). Com isso métodos alternativos
e tecnologicamente diferentes da citologia
oncológica têm sido sugeridos para o
rastreamento do câncer cervical, entre estes a
inspeção visual com ácido acético 3% a 5% e
com solução de iodo 2% a 5% (prova de
Schiller) através do exame especular,
colposcopia e testes de biologia molecular
(DNA-HPV) (1).
Somente os testes virais permitem a
identificação do DNA do HPV, independente
ou não de alterações morfológicas induzidas
pelo vírus (14) e por serem mais sensíveis
permitem um intervalo maior entre os
exames de rastreamento (9, 15). Além disso, a
identificação de HPV de alto risco e carga
viral é importante para se estabelecer o
potencial de progressão para lesões cervicais
mais graves (3, 16). Em decorrência disso é
válido supor que as técnicas de biologia
molecular possam constituir métodos
adjuvantes à CO no diagnóstico de lesões
pré-neoplásicas do colo do útero (10, 12).
Dentre os métodos de biologia molecular
disponíveis, a Captura Híbrida II (CH II)
parece ser adequada para esta finalidade, pois
é de fácil execução e leitura e não é
influenciada por condições locais como
presença de infecção, inflamação, atrofia ou
sangue (14).
Métodos
População estudada
Este trabalho “Determinação de DNAHPV por Captura Híbrida II e sua relação
com a Colpocitologia Oncológica”, é parte
integrante
do
projeto
“Estudo
Citomorfológico de lesões do colo uterino –
análise
comparativa
de
diversas
metodologias”, aprovado no Comitê de Ética
em Pesquisa com Seres Humanos da
Universidade Federal de Santa Catarina, sob
o número 115/03.
Neste estudo descritivo de corte
transversal
foram
avaliadas
82.182
requisições encaminhadas ao Laboratório
OnlineLab,
instituição
particular
de
Florianópolis, Santa Catarina, entre setembro
de 2001 e dezembro de 2005, incluindo
mulheres de 13 a 68 anos de idade. Das
requisições analisadas foram selecionadas
para o estudo aquelas que continham suspeita
clínica de infecção pelo HPV, CO e detecção
do DNA-HPV pelo sistema CH II,
simultaneamente.
A suspeita clínica partiu de alterações ou
lesões de colo uterino observadas pelos
médicos durante a consulta ginecológica
através do exame especular (avaliação a olho
nu, inspeção visual com ácido acético 3 a 5%
e solução de iodo 2 a 5%).
Citologia
Para a Colpocitologia Oncológica foram
coletadas amostras de raspado vaginal e/ou
cervical e de escovado da endocérvice em
consultório médico, durante a consulta
ginecológica. As lâminas foram coradas pelo
método de Papanicolaou e avaliadas com
base no Sistema Bethesda (2001) e
classificação de Richard (1967), pelo
laboratório OnlineLab. Os resultados
citológicos foram classificados em: (1)
negativo para lesão intraepitelial ou
malignidade
(NILM);
(2)
alterações
inflamatórias; (3) atipias de células
66
Benedet, R. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 65-74, jan/jun. 2012
escamosas de origem indeterminada
(ASCUS); (4) lesões escamosas de baixo
grau (LSIL / NIC I para Richard) e (5) lesões
escamosas de alto grau (HSIL). Os casos de
HSIL foram subclassificados em NIC II e
NIC III segundo Richard.
Captura Híbrida II
A detecção de DNA-HPV foi obtida
através do exame de Captura Híbrida II, onde
o processamento foi realizado segundo as
instruções do fabricante, por laboratórios de
Análises Clínicas de Florianópolis - SC. O
material para análise consistia de raspado
endocervical coletado com uma escova
fornecida pelo próprio fabricante da CH II.
A captura híbrida para HPV é capaz de
detectar os 18 tipos de HPVs divididos em
sorotipos
de
baixo
risco
e
de
intermediário/alto risco. O grupo A possui
sondas para os HPVs de baixo risco (6, 11,
42, 43, e 44) e o grupo B, sondas para os
HPVs de intermediário/alto risco (16, 18, 31,
33, 35, 39, 45, 51, 52, 56, 58, 59, 68) (17, 18).
A detecção foi feita pela medida da luz
emitida e expressa como unidade de luz
relativa por controle positivo (RLU/PCB), no
luminômetro. A intensidade da luz denota a
presença ou ausência e é proporcional a carga
de DNA-HPV, sendo desta forma a Captura
Híbrida, ao mesmo tempo, um teste
qualitativo e quantitativo.
A sensibilidade da metodologia é de 1
pg/ml de DNA/HPV, isto é, 0,1 cópias de
vírus/célula e a proporção de RLU/PCB para
considerar o exame como positivo é de 1,0, o
que corresponde a 1 pg/mL de DNA-HPV.
No entanto valores menores que 50,00
significam pequeno número de cópias
virais/célula, podendo corresponder a
infecção inicial, latente ou em remissão
espontânea. Nestes casos, a critério médico,
sugere-se reavaliar a evolução da carga viral
após
o
intervalo
de
3
meses.
Análise dos Dados
Para análise dos resultados foi elaborado
tabelas descritivas, no Microsoft Word, com
o resultado dos exames da CO e CH II.
Os resultados obtidos das cargas virais
das cepas de intermediário/alto grau (Grupo
B) segundo graus de lesões foram analisados
estatisticamente empregando-se o programa
INSTAT-2. O grau de correlação foi
analisado pelo teste não paramétrico de
Spearman, onde foi considerado significativo
quando p  0,05.
Resultados
Das 82.182 requisições analisadas 916
apresentavam suspeita clínica de infecção
pelo HPV, solicitação de CO e CH II, sendo
assim selecionadas para o estudo.
Desses 916 casos selecionados 322
(35,2%) apresentaram pelo menos um dos
exames positivo. A CO foi positiva em 90
casos (28,0%) e a CH II foi positiva em 309
casos (96%).
Dos 90 casos com atipias celulares
encontradas através da CO, 14 (15,5%)
foram classificados como ASCUS, 67
(74,5%) como LSIL / NIC I e 9 (10,0%)
como HSIL / NIC II. Não foi encontrada
nenhuma citologia oncológica sugestiva de
carcinoma in situ ou invasivo (HSIL / NIC
III).
Das 309 CH II positivas, 45 (14,5%)
foram somente para vírus de baixo risco
(grupo A), 201 (65,0%) somente para vírus
de intermediário/alto risco (grupo B) e 63
(20,5%) foram positivas para os vírus de
baixo e intermediário/alto risco (grupos A e
B) (Figura 1).
67
Benedet, R. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 65-74, jan/jun. 2012
82.182 requisições
Período de Set/2001 – Dez/2005
916 casos
Suspeita clínica, COa
e CH IIb
ASCUS – 14 (15,5%)
LSIL – 67 (74,5%)
HSIL – 9 (10,0%)
Grupo A – 45 (14,5%)
Grupo B – 201 (65,0%)
Grupos A e B – 63
(20,5%)
322 casos positivos
35,2%
CO
90 casos
28,0%
CH II
309 casos
96,0%
Figura 1 - Incidência de exames positivos na CO e na CH II com suspeita clínica,
Florianópolis (SC), Brasil, 2001-2005.
CO: Colpocitolopia Oncológica; CH II: Captura Híbrida II; ASCUS: Atipias de células
escamosas de origem indeterminada; LSIL: Lesões escamosas de baixo grau; HSIL: Lesões
escamosas de alto grau.
Grupo A: vírus de baixo risco; Grupo B: vírus de intermediário/alto risco; Grupos A e B:
vírus de baixo e intermediário/alto risco.
Comparando os resultados da CO e da
CH II, observamos que 13 casos foram
positivos somente na CO, 232 casos somente
na CH II e 77 casos apresentaram-se
positivos na CO e na CH II.
Das 14 amostras diagnosticadas como
ASCUS, 86% apresentaram resultado
positivo, por CH II, para HPV de baixo risco
e 28,5% para HPV de intermediário/alto
risco. Das 67 amostras diagnosticadas como
NIC I, 28% apresentaram resultado positivo,
por CH II, para HPV de baixo risco e 82%
para HPV de intermediário/alto risco. Das 9
amostras diagnosticadas como NIC II, 33%
apresentaram resultado positivo, por CH II,
para HPV de baixo risco e 67% para HPV de
intermediário/alto risco (Tabela 1).
68
Benedet, R. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 65-74, jan/jun. 2012
Tabela 1. Porcentagem de positividade da CH II em relação a CO, Florianópolis (SC), Brasil,
2001-2005
Grau de lesão
(CO)
% CH II Grupo A
(baixo risco)
% CH II Grupo B
(intermediário/alto risco)
ASCUS
86%
28,5%
LSIL
(NIC I)
28%
82%
HSIL
(NIC II)
33%
67%
CH II: Captura Híbrida II; CO: Colpocitolopia Oncológica; ASCUS: Atipias de células
escamosas de origem indeterminada; LSIL/NIC I: Lesões escamosas de baixo grau;
HSIL/NIC II: Lesões escamosas de alto grau.
Entre os casos com CO normal e CH II
positiva 43 corresponderam a vírus do grupo
A com uma média de carga viral de 34,0
RLU, 150 corresponderam ao grupo B com
média de carga viral de 20,40 RLU e 39
manifestaram-se positivos para os grupos A e
B simultaneamente, com médias de cargas
virais
de
48,05
e
32,54
RLU
respectivamente.
Nos casos de ASCUS, 8 corresponderam
a vírus do grupo B com média de carga viral
de 137,22 RLU e 4 casos manifestaram-se
positivos para
os grupos A e B
simultaneamente, com médias de cargas
virais
de
528,98
e
28,12
RLU
respectivamente.
Nos casos de NIC I (LSIL), 3
corresponderam a vírus do grupo A com
média de carga viral de 104,89 RLU, 39 ao
grupo B com média de carga viral de 431,67
RLU e 16 casos manifestaram-se positivos
para os grupos A e B simultaneamente, com
médias de cargas virais de 155,95 e 306,65
RLU respectivamente.
E finalmente nos casos de NIC II
(HSIL), 3 corresponderam a vírus do grupo B
com média de carga viral de 1.295,07 RLU e
3 manifestaram-se positivos para os grupos A
e B com médias de cargas virais de 148,57 e
315,15 RLU respectivamente (Tabela 2).
Tabela 2. Avaliação da carga viral nos diferentes graus de lesão, Florianópolis (SC), Brasil,
2001-2005
Grau
lesão
(CO)
Normal
ASCUS
LSIL
(NIC I)
HSIL
(NIC II)
de
CH II Grupo A
(baixo risco)
Número
Média
da
de casos
carga
viral
(RLU/PCB)
CH II Grupo B
(intermediário/alto risco)
Número de Média
da
casos
carga
viral
(RLU/PCB)
43
34,0
150
20,40
0
0
8
137,22
3
104,89
39
431,67
0
0
3
1.295,07
CH II Grupo A e B
(baixo e intermediário/alto risco).
Número
de Média da
casos
carga
viral
(RLU/PCB)
48,05 A
39
32,54 B
528,98 A
4
28,12 B
155,95 A
16
306,65 B
148,57 A
3
315,15 B
CH II: Captura Híbrida II; CO: Colpocitolopia Oncológica; ASCUS: Atipias de células
escamosas de origem indeterminada; LSIL/NIC I: Lesões escamosas de baixo grau;
HSIL/NIC II: Lesões escamosas de alto grau.
69
Benedet, R. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 65-74, jan/jun. 2012
Através da determinação do percentual de positividade da CO nas diferentes faixas de
valores de carga viral (RLU/PCB), obtidos pela CH II, podemos observar que à medida que a
carga viral DNA-HPV de alto risco oncogênico (grupo B) assume valores mais elevados,
aumenta também o percentual de positividade da CO (Tabela 3).
Tabela 3. Porcentagem de positividade da CO em relação à carga viral (RLU) para DNAHPV de alto risco oncogênico (grupo B) detectada pela CH II, Florianópolis (SC), Brasil,
2001-2005
Carga viral
(RLU/PCB)
% de positividade
CO
Inferior a 1
29%
1-10
14%
11 – 50
28,5%
51 – 100
37,5%
101 – 200
70%
201 – 300
50%
301 – 500
87,5%
Acima de 500
90%
*
r = 0,9048
p = 0,0046**
CO: Colpocitolopia Oncológica.
Grau de Correlação (Teste de Spearman)
*
Considerado significante (p < 0,05)
*
A idade das mulheres variou de 13 a 68
anos (média de 28 anos), sendo que 73% dos
resultados de CH II e/ou CO positivas foram
entre aquelas com menos de 30 anos de
idade.
Discussão
Devido à forte associação entre HPV e
lesões intraepiteliais escamosas o teste
molecular de CH II tem sido motivo de
estudos com o objetivo de auxiliar a
interpretação do diagnóstico citológico (4).
Nosso
estudo
demonstrou
uma
proporção nitidamente maior de casos com
CH II positiva em comparação com o índice
de positividade da CO, já que das 322
amostras que apresentaram pelo menos um
dos exames positivo, a CO foi positiva em 90
casos (28,0%) e a CH II foi positiva em 309
casos (96%), mostrando assim uma maior
sensibilidade por parte da CH II. Esses
resultados são semelhantes a outros estudos
já descritos (9, 19, 20).
No entanto, apesar dessa conclusão, o
papel da detecção do DNA-HPV é
controverso, pois a grande maioria desses
casos apresentou baixa carga viral podendo
corresponder à infecção inicial, latente ou em
remissão espontânea e, conseqüentemente,
baixo risco para qualquer tipo de lesão de
alto grau.
Além disso, a presença do HPV é
necessária, mas insuficiente para causar
(13)
câncer
cervical
.
Para
ocorrer
desenvolvimento de lesão intraepitelial é
necessário que haja uma porta de entrada
para o vírus (infecção, eversão de colo,
processo inflamatório, micro-traumas), que o
vírus possua potencial carcinogênico, que se
tenha uma alta carga viral e/ou que a paciente
esteja com baixa imunidade (21).
Esses resultados também podem ser
justificados pela dificuldade de interpretação
70
Benedet, R. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 65-74, jan/jun. 2012
da lâmina na CO, problemas na coleta (4) ou
ainda pelo fato de que 73% das mulheres
estudadas possuíam idade inferior a 30 anos.
Sabe-se que nesta faixa etária a
especificidade da CH II diminui, pois as
infecções subclínicas pelo HPV são comuns
e a grande maioria das mulheres tem infecção
transitória que, em curto período de tempo
elimina completamente o vírus, sem resultar
em doença (1, 6, 12). Além disso, a moderada
especificidade da CH II pode ser atribuída a
reação cruzada com genótipos de HPV não
carcinogênicos (22).
No entanto, estudos têm demonstrado
relação proporcional entre a detecção do
HPV e a evolução das mulheres com
citologia normal para lesão de alto grau (12).
Com isso a utilização de uma técnica
alternativa, como a detecção do DNA-HPV
pelo método de CH II, pode assumir papel
coadjuvante, ao lado da citologia oncológica,
resultando em melhoria da detecção e da
predição da gravidade das lesões cervicais,
com conseqüente diminuição da incidência e
mortalidade por câncer do colo uterino. No
entanto, sua utilização como rastreamento é
aconselhável somente nas pacientes com
idade superior a 30 anos visto que nesse
grupo sua especificidade aumenta (20).
De um modo geral, a associação da CO e
da CH II pode elevar a sensibilidade e o valor
preditivo negativo para quase 100% (12).
A prevalência de 15,5% de ASCUS e
74,5% de LSIL / NIC I em nosso trabalho,
contra apenas 10,0% de HSIL / NIC II pode
ser explicada pelo fato do diagnóstico
citológico de anormalidades menores ser
considerado
complexo
mesmo
por
patologistas experientes, conduzindo a
possíveis erros. Além disso, as amostras
colpo-dirigidas podem ser representativas de
regiões da cérvice onde não ocorrem lesões
mais graves (10).
Entre os 309 casos com CH II positivas,
45 (14,5%) foram somente para vírus de
baixo risco (grupo A), 201 (65,0%) somente
para vírus de intermediário/alto risco (grupo
B) e 63 (20,5%) foram positivas para vírus de
baixo e intermediário/alto risco (grupos A e
B), demonstrando uma prevalência de HPV
de alto risco na população estudada.
Resultados semelhantes foram encontrados
em outros estudos, onde a maioria dos casos
positivos na CH II eram HPV de alto risco (4,
24)
.
Em um estudo de corte transversal,
realizado em Belo Horizonte – MG, com 110
mulheres que apresentavam resultado de
citologia e/ou biópsia compatível com
diagnóstico de NIC, o resultado da CH II
para detecção do DNA-HPV foi positivo em
85 (77,3%) mulheres. Entres estes, 84
(76,4%) corresponderam a vírus de alto risco
oncogênico (Grupo B). Em apenas uma
paciente foi detectado vírus de baixo risco
(Grupo A) e em 17 (15,5%) pacientes
detectou-se HPV dos dois grupos (A e B) (14).
Nossos resultados também confirmam
estudos anteriores em que à medida que
aumenta o grau de lesão pela avaliação
citológica, o percentual de casos positivos
para HPV de intermediário/alto risco elevase. Por outro lado, para o grupo de baixo
risco, quanto maior o grau de lesão menor o
percentual de casos positivos. A literatura
mostra maior chance de progressão da lesão
intraepitelial, na presença do vírus HPV de
alto risco oncogênico (3, 8, 26), principalmente
quando a infecção é persistente e com alta
carga viral (14).
De acordo com nosso trabalho, à medida
que ocorre evolução da lesão há também um
aumento da carga viral para HPV de alto
risco, que são as maiores responsáveis pelo
câncer de colo uterino, mostrando a
coerência com dados da literatura (4, 6, 27).
Estudos recentes relataram que em
pacientes com elevada carga viral, de HPV
de alto risco, há maior chance de
desenvolvimento de lesões intraepiteliais, e
que a quantidade de DNA-HPV está
relacionada com a severidade da lesão
intraepitelial (4, 6,14, 27). Assim, a alta carga
viral de HPV do grupo B poderia ser usada
como um marcador de progressão da lesão (3,
28)
. No entanto, alguns autores afirmam que o
significado da carga viral não está bem
definido, sendo possível que em alguns casos
não apresenta correlação com a severidade da
lesão (5, 29, 30, 31).
71
Benedet, R. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 65-74, jan/jun. 2012
Também podemos observar que à
medida que a carga viral DNA-HPV de alto
risco oncogênico assume valores mais
elevados, aumenta também o percentual de
positividade da CO, ou seja, melhora a
sensibilidade da CO. Isso se deve ao fato de
que quanto maior o número de cópias de
vírus p/ célula, maior a probabilidade das
atipias celulares estarem presentes e serem
detectadas pela CO. No entanto, em alguns
casos em que a CH II manifestou-se com
valores inferiores a 1,0 RLU (negativa) para
carga viral de HPV de alto risco, na CO
foram observadas atipias celulares, atingindo
uma porcentagem relativamente alta (29%).
Os casos de NIC negativos para DNAHPV podem decorrer da presença de lesões
com poucas cópias de vírus, ainda não
detectadas pelos métodos utilizados ou por
serem lesões contendo novos tipos viróticos
ainda não incluídos nos testes (14). Também
pode não ser detectada a presença deste vírus
como o agente etiológico (14).
A detecção do HPV pode ainda ser
influenciada por diversos fatores, entre os
quais a qualidade da amostra, local de sua
coleta (endocérvice, ectocérvice ou fundo de
saco), tamanho da lesão histológica e,
principalmente, o número de células
epiteliais obtidas (32).
A idade das mulheres variou de 13 a 68
anos (média de 28 anos). Houve proporção
significativamente maior (73%) de mulheres
com CH II positiva entre aquelas com menos
de trinta anos de idade.
A literatura indica que a infecção pelo
HPV é mais comum em mulheres jovens,
sexualmente ativas (5, 14, 24, 26). Agregado a
isso, geralmente, essa é a faixa etária de
gestação e utilização de contraceptivos,
acrescendo riscos maiores de infecções
genitais (14). No entanto, a maior parte dessas
infecções é transitória e, de fato, a
prevalência diminui depois dos 35 anos de
idade, sugerindo que infecções após essa
idade poderiam indicar persistência viral,
provavelmente por HPV oncogênico, sendo
considerado verdadeiro grupo de risco para o
desenvolvimento do câncer cervical (19).
Em trabalhos como Sarian et al, 2003
(33)
, no qual foram incluídas 309 mulheres
em um estudo realizado em São Paulo, a
idade das mulheres variou de 16 a 40 anos
(média de 33,2
anos), havendo uma
proporção significativamente maior (72,8%)
de mulheres com CH II positiva entre aquelas
com menos de 33,2 anos de idade.
Concluímos que na população estudada
há uma clara associação entre HPV de alto
risco e também os valores da carga viral, com
o grau das lesões precursoras de câncer
cervical. Além disso, a CH II deve assumir
papel coadjuvante, ao lado da citologia
oncológica, resultando em melhoria da
detecção e da predição da gravidade das
lesões cervicais. Ainda, observamos que a
infecção pelo HPV é mais comum em
mulheres com menos de 30 anos.
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Favretto, C. A. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 75-82, jan/jun. 2012
CARACTERÍSTICAS DE UM DENTISTA IDEAL: A OPINIÃO DOS DENTISTAS
[Characteristics of an ideal dentist: the opinion of the dentists]
Carolina Ardenghi Favretto¹; Diésse Gindri Santi²; Elisabete Rabaldo Bottan³;
Fernanda Angeloni de Souza4; Luciane Campos5; Mário Uriate Neto6.
Resumo: O objetivo foi conhecer como o cirurgião-dentista descreve um dentista ideal. A
população-alvo constou de cirurgiões-dentistas de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul. O
conceito sobre dentista ideal foi obtido a partir do Teste de Associação Livre de Idéias (ALI).
A organização e interpretação dos dados foram efetuadas com base na técnica da análise de
conteúdo. A taxa de retorno foi de 63,74% da população-alvo (n=111). As categorias
definidoras foram: Relacionamento Profissional-Paciente (46,4%); Competência Profissional
(45,7%); Estrutura do Consultório (7,9%). A concepção de dentista ideal construída está
vinculada a um atendimento humanizado aliado a uma qualificada formação profissional.
Palavras-chaves: condutas na prática dos dentistas; relações dentista-paciente; recursos
humanos em odontologia.
Abstract: The aim was to know how surgeon-dentists describe an ideal dentist. The
population-target consisted of surgeon-dentists in performance in Santa Catarina and Rio
Grande do Sul. The concept about ideal dentist was obtained by the free idea association test.
To data analysis for the free idea association test was used content analysis. The answer rate
was 63.74% (n=111). The defining categories of ideal dentist had been: Dentist-Patient
Relations (46.4%); Professional Competence (45.7%); Structure of the doctor's office (7.9%).
The conception of an ideal dentist conceived by the searched dentists is attached to a
humanized treatment associated with a qualified professional formation.
Keywords: dentist's practice patterns; dentist-patient relations; dental staff.
_________________________
¹ Acadêmica do Curso de Odontologia da Universidade do Vale do Itajaí; Bolsista de
Iniciação Científica;
² Acadêmica do Curso de Odontologia da Universidade do Vale do Itajaí; Bolsista do
PET/Odontologia;
³ Mestre e professora de Trabalho de Iniciação Científica do Curso de Odontologia da
Universidade do Vale do Itajaí; Integrante do Grupo de Pesquisa Atenção à Saúde Individual
e Coletiva em Odontologia;
4
Acadêmica do Curso de Odontologia da Universidade do Vale do Itajaí; Bolsista de
Iniciação Científica;
5
Mestre e professora de Odontologia Social e Coletiva do Curso de Odontologia da
Universidade do Vale do Itajaí; Integrante do Grupo de Pesquisa Atenção à Saúde Individual
e Coletiva em Odontologia;
6
Doutor e professor de Ergonomia do Curso de Odontologia da Universidade do Vale do
Itajaí; Integrante do Grupo de Pesquisa Atenção à Saúde Individual e Coletiva em
Odontologia.
75
Favretto, C. A. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 75-82, jan/jun. 2012
Introdução
Nos serviços de saúde, há um forte
anseio por profissionais humanos, éticos e
compromissados com a qualidade do
atendimento à população. Então, pesquisar
como o próprio profissional da Odontologia
concebe um cirurgião-dentista ideal é de
grande importância, pois o comportamento
do dentista exerce influência relevante sobre
o
desenvolvimento
do
tratamento
odontológico e, portanto, sobre a qualidade
de vida das pessoas.1-6
Junto
à
bibliografia,
foram
identificados estudos que abordam aspectos
referentes à relação profissional da
odontologia com o paciente e os fatores mais
destacados nestes trabalhos são: maneira
como o profissional trata seu paciente;
competência e formação profissional; e medo
relacionado ao dentista e ao instrumental por
ele utilizado.2,4-15 No entanto, estas pesquisas
não enfocam, diretamente, a concepção do
próprio
cirurgião-dentista
sobre
as
características essenciais a um cirurgiãodentista.
Nesta
perspectiva,
foram
encontrados dois trabalhos; um que teve
como população-alvo médicos e dentistas11 e
outro com graduandos de odontologia15.
Considerando-se, pois, a relevância
da temática e a importância da percepção
expressa por cirurgiões-dentistas sobre o
perfil do profissional ideal, foi conduzida
esta pesquisa com o objetivo de conhecer
como cirurgiões-dentistas em atuação em
cidades de Santa Catarina e do Rio Grande
do Sul descrevem um dentista ideal.
Materiais e Métodos
Esta pesquisa se caracteriza como um
estudo descritivo com análise de dados numa
abordagem qualitativa.
A população-alvo constou de
cirurgiões-dentistas (CD´s) em atuação em
cidades dos estados de Santa Catarina e do
Rio Grande do Sul.
A seleção das cidades foi definida por
conveniência. No Rio Grande do Sul, foram
escolhidas Palmeira das Missões e Santiago;
e, em Santa Catarina, foram: Ermo, Jacinto
Machado, Meleiro, Sombrio, Timbé do Sul e
Turvo.
O município de Palmeiras das
Missões, segundo dados da Federação de
Municípios do Rio Grande do Sul, situa-se na
mesorregião do noroeste riograndense a
341km da capital do estado, com
aproximadamente 34mil habitantes, tendo
como principais atividades econômicas a
agropecuária e os serviços. E, o município de
Santiago situa-se na fronteira oeste do Rio
Grande do Sul, a 474 km da capital do
estado, com aproximadamente 49mil
habitantes, cujas atividades econômicas,
também, estão suportadas na agropecuária e
nos serviços.
Os municípios catarinenses, conforme
dados do Governo do Estado de Santa
Catarina, localizam-se no extremo-sul, na
microrregião de Araranguá, distando em
torno de 250 km da capital do estado, tendo
na agricultura a principal atividade
econômica. O número de habitantes nestes
municípios varia de 2 a 26mil.
O número de CD´s em atuação em
cada uma das cidades foi obtido através de
consulta junto ao site do Conselho Regional
de Odontologia de Santa Catarina (CRO/SC)
e do Rio Grande do Sul (CRO/RS).
Conforme dados do CRO/RS, o
número de CD´s inscritos e em atividade, à
época da coleta dos dados, era 51em
Palmeiras das Missões e 63 em Santiago. E,
o número de CD´s inscritos nos municípios
catarinenses, segundo dados do CRO/SC, era
o seguinte: 2 em Ermo; 6 em Jacinto
Machado; 5 em Meleiro; 30 em Sombrio; 2
em Timbé do Sul; 15 em Turvo. Assim, a
população-alvo da pesquisa ficou estruturada
com um total de 174 CD´s (114 no Rio
Grande do Sul e 60 em Santa Catarina).
Através de e-mail foi encaminhado
um ofício a todos os sujeitos integrantes da
população-alvo, explicitando os objetivos e
os procedimentos da pesquisa e convidandoos a participarem de livre e espontânea
vontade. Juntamente com o ofício estava o
76
Favretto, C. A. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 75-82, jan/jun. 2012
instrumento de coleta de dados para que os
que aceitassem participar preenchessem-no e
devolvessem-no, via e-mail.
A remessa do instrumento de coleta
de dados ocorreu no segundo semestre de
2010, tendo sido aguardado um prazo de
trinta dias, após a sua remessa. Após este
prazo, considerando-se o baixo retorno, as
pesquisadoras passaram a procurar os
profissionais em seus ambientes de trabalho
para novos esclarecimentos sobre a pesquisa
e entrega do instrumento de coleta de dados,
tendo sido definido o prazo de uma semana
para a sua recolha.
A coleta e a análise dos dados foram
efetuadas com base em procedimentos
metodológicos da pesquisa qualitativa. O
conceito sobre dentista ideal foi obtido a
partir do Teste de Associação Livre de Idéias
(ALI), o qual visa fazer emergir associações
livres em relação a um estímulo indutor.16 A
questão indutora foi O quê, no seu entender,
caracteriza um dentista ideal. Também, foi
solicitado ao participante que informasse
gênero, idade e cidade onde atuava.
As diversas evocações mencionadas
pelos pesquisados foram listadas, passando a
compor um conjunto heterogêneo de
unidades semânticas. Para facilitar a análise
descritiva e explicativa, as evocações foram
classificadas em categorias. Para o processo
de codificação, com base na literatura
revisada preliminarmente4-8, foram criadas
três
categorias
nominais,
a
saber:
Relacionamento
Profissional-Paciente,
Competência Técnica e Estrutura do
Consultório. As categorias de análise foram
quantificadas através do cálculo da
frequência relativa, segundo as características
sócio-demográficas dos sujeitos (gênero,
faixa etária e município de atuação).
O projeto de pesquisa foi submetido e
aprovado pela Comissão de Ética em
Pesquisa da UNIVALI, tendo recebido
parecer nº 88/10/CEP/UNIVALI.
Resultados
Obteve-se o retorno de 111
instrumentos respondidos, representando
63,74% do total da população-alvo. A
representatividade por estado foi de 70,17%
(n=80), para o Rio Grande do Sul, e de
51,66% (n=31), para Santa Catarina.
O grupo investigado apresentou as
seguintes características: 61,3% pertenciam
ao gênero feminino e 38,7% ao masculino.
As idades variaram de 24 a 60 anos; a maior
frequência foi para a faixa de 22 a 36 anos,
com 54,1%; e, a faixa de 37 ou mais anos
ficou com 45,9%.
A partir da análise das respostas
emitidas pelos sujeitos integrantes da
pesquisa, foram consideradas 657 evocações,
que foram distribuídas entre as categorias
estabelecidas para o estudo. A frequência das
categorias descritoras do dentista ideal, na
visão do próprio CD, demonstrou uma
similaridade entre as cidades, por isso, optouse pela apresentação dos resultados segundo
o gênero e a faixa etária, independente da
cidade em que o CD atuava.
De um modo geral, o que se
identificou foi uma frequência relativa muito
próxima entre as categorias Relacionamento
Profissional-Paciente
e
Competência
Técnica, como pode ser observado no gráfico
1.
77
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Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 75-82, jan/jun. 2012
60
%
46,4
45,7
40
20
7,9
0
Relação profissionalpaciente
Competência profissional
Estrutura do consultório
Gráfico 1: Distribuição da frequência relativa das categorias definidoras de um dentista
ideal, na visão dos cirurgiões-dentistas integrantes da pesquisa.
As expressões mais evidenciadas para
a caracterização do dentista ideal pelo grupo
de CD´s integrantes da pesquisa foram:
atualizado; bom relacionamento com seus
pacientes e com seus colegas de classe; ter
atenção com o paciente; gostar do que faz;
cuidar o ambiente de trabalho; ter
consultório organizado e bem equipado; ser
competente,
responsável,
atualizado;
profissional
que
execute
bem
os
procedimentos; conhecer as novas técnicas,
sem esquecer do paciente; saiba criar
vínculo com a clientela.
Relac. Profissional-paciente
56,1
60
Muito embora, de modo geral, a
categoria
Relacionamento
ProfissionalPaciente tenha sido a mais evidenciada pelos
sujeitos da pesquisa, observou-se que esta
categoria foi mais destacada pelos cirurgiõesdentistas da faixa etária de 37 ou mais anos,
para ambos os gêneros. Enquanto que entre
os sujeitos de faixa etária mais jovem (22 a
36 anos), também para ambos os gêneros,
houve uma maior valorização das
características referentes à Competência
Profissional (Gráfico 2).
Competência Profissional
Estrutura do consultório
53,6
52,9
51,5
%
41,6
40
40,0
36,7
36,4
20
12,1
7,1
5,4
6,4
0
Masculino
Feminino
22 a 36 anos
Masculino
Feminino
37 ou mais anos
Gráfico 2: Frequência das categorias definidoras do dentista ideal na concepção dos
pesquisados, segundo o gênero e a faixa etária.
78
Favretto, C. A. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 75-82, jan/jun. 2012
Discussão
O cirurgião-dentista ocupa uma
posição importante na sociedade e a sua
socialização profissional deve começar desde
a sua admissão no curso de graduação e
continuar durante toda sua carreira. Neste
sentido, é fundamental lembrar que a
Odontologia vem passando por diversas
transformações, deixando de ser empírica
para se tornar ciência, evoluindo da atuação
exclusiva na boca para atenção ao indivíduo
como um todo, enfatizando o aspecto
preventivo em substituição ao tratamento
meramente curativo. E, todas estas
mudanças, também, têm exercido influência
na formação do cirurgião-dentista.
É importante lembrar que as reflexões
sobre o perfil profissional de recursos
humanos para os diferentes campos da saúde,
decorrentes da implantação do Sistema Único
de Saúde (SUS), exercem influência na
orientação dos currículos dos cursos de
graduação. As Diretrizes Curriculares para o
Curso de Odontologia reportam que o
cirurgião-dentista do século XXI deve
apresentar conhecimento técnico-científico
associado à competência relativa à
comunicação interpessoal, ou seja, deve ter
uma visão generalista, saber se comunicar
com o paciente, ser ético e, principalmente,
considerar o paciente como um ser humano
único e especial. Este parecer preconiza,
também, que os futuros profissionais sejam
capazes de atuarem no SUS com qualidade,
eficiência e resolutividade. O que implica em
um profissional que saiba trabalhar em
equipe, em todos os níveis de atenção à
saúde, que seja hábil e competente
tecnicamente, mas, sobretudo, um ser
humano. 1,17-24
Depreende-se, pois, que o sucesso da
atenção
odontológica
não
está
exclusivamente vinculado à capacidade
técnica do profissional. O campo relacional,
também, exerce influência no resultado dos
procedimentos. Portanto, uma boa relação
deve ser estabelecida para haver maior
motivação e comportamento colaborativo por
parte do paciente. E, nesta investigação, foi
observado que os CD’s pesquisados
destacaram tanto os aspectos referentes ao
relacionamento profissional-paciente quanto
os diretamente vinculados à capacitação
técnico-científica.
Esta constatação nos remete à idéia de
que este grupo de cirurgiões-dentistas já tem
claro o entendimento de que um bom trabalho
clínico
depende,
previamente,
do
estabelecimento de uma comunicação
dialógica com o paciente, com fornecimento
de orientações consistentes. A presente
afirmação encontra ressonância na explicação
de Stolz et al.19 de que há uma disposição dos
profissionais em compreender seus pacientes
em sua dualidade (corpo e mente) e que
existe quase unanimidade entre os CD’s de
que é necessário conversar, explicar e ouvir o
paciente.
O profissional deve ser atencioso,
gentil e responder às perguntas que lhe são
demandadas. Este comportamento contribuirá
para que o paciente sinta-se acolhido e mais
tranquilo durante o procedimento a que será
submetido.
Aspectos
referentes
à
cordialidade, comunicabilidade, boa vontade
são as principais características que as
pessoas esperam encontrar quando procuram
por um cirurgião-dentista, conforme apontado
por recentes estudos. 5-15 Estes aspectos,
quando aliados à competência, potencializam
o
relacionamento
paciente-profissional,
favorecendo positivamente o atendimento e
valorizando o trabalho odontológico. Então,
pode-se afirmar, com o respaldo da literatura
pertinente, que um relacionamento de
respeito e confiança traz conforto ao paciente
e credibilidade para o profissional. 1,2,5-15,2023,25
As capacidades relativas à educação,
gentileza, escuta e compreensão dos motivos
do paciente podem influenciar positivamente
na percepção da resolutividade do tratamento
odontológico. Portanto, o cirurgião-dentista
qualificado não é aquele que apresente
somente excelentes qualidades técnicas; ele
deve associar características típicas de um
atendimento humanizado à competência
profissional. Nesta pesquisa, muito embora se
tenha observado um equilíbrio entre as
79
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Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 75-82, jan/jun. 2012
evocações que constituem as categorias
Relacionamento
Profissional-Paciente
e
Competência Técnica, chamou-nos a atenção
o fato de que houve uma pequena diferença
entre as frequências destas duas categorias
em função da faixa etária. Entre os sujeitos
com 37 ou mais anos, a frequência das
evocações referentes às características do
Relacionamento Profissional-Paciente foi
maior do que as outras categorias; e os
pesquisados com 22 a 36 anos destacaram
mais os fatores relativos à Competência
Técnica.
Este tipo de manifestação, entre os
mais jovens, pelo fato deles terem concluído
seus cursos de graduação e/ou especialização
mais recentemente, pode estar evidenciando
a rotina da formação acadêmica que estimula
a preferência por atividades que estejam
envolvidas prioritariamente com alta
densidade tecnológica. 26 Por isso, expressam
maior valoração à capacitação técnicocientífica e ao domínio de habilidades
técnico-científicas. Já, os sujeitos de mais
idade, por terem mais tempo de experiência
profissional, passam a dar mais atenção aos
quesitos sobre o relacionamento com o
paciente, tendo em vista que este é muito
valorizado pelos pacientes.
Sendo os aspectos referentes à relação
dentista-paciente extremamente importantes
para o êxito do tratamento odontológico,
entende-se que eles devem ser fortalecidos
desde o processo de formação do futuro
profissional. O ato de humanizar implica em
ser afável e tratável; e, a humanização no
atendimento odontológico vem sendo
preconizada como essencial no processo de
formação do cirurgião-dentista e na prática
diária profissional. 1,25 Além do mais, a
negligência aos aspectos psicossociais
relacionados ao exercício da profissão,
durante a formação profissional, acentua a
imagem negativa da profissão e diminui sua
importância dentro do contexto geral de
saúde, perpetuando o distanciamento da
relação profissional-paciente.1
Considerações finais
Com base nos dados obtidos nesta
investigação, conclui-se que, para o grupo de
CD´s participantes, a concepção do dentista
ideal está vinculada à prática da relação
paciente-profissional
numa
dimensão
humanística associada à competência
técnico-científica.
A humanização no atendimento
odontológico vem sendo preconizada como
essencial no processo de formação do
cirurgião-dentista, bem como na prática
diária profissional, principalmente, em
decorrência das constantes transformações da
sociedade e do mercado de trabalho.
As novas formas de inserção do
profissional no mercado de trabalho têm
propiciado mudanças nas relações com a
clientela, gerando-se alterações na prática,
tanto no que diz respeito à técnica, quanto à
organização do trabalho, produção e
distribuição de serviços na sociedade. Assim,
discutir a formação dos profissionais da área
da Odontologia à luz das novas Diretrizes
Curriculares é uma condição da qual as
universidades, atualmente, não podem se
furtar. E, em especial, é necessário que se
inclua neste processo de formação como o
próprio profissional em atuação no mercado
de trabalho se percebe, se desvela frente à
efervescência destas mudanças com as quais
tem convivido.
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Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 83-92, jan/jun. 2012
HÁBITOS ALIMENTARES DE UM GRUPO DE PESSOAS QUE PARTICIPARAM
DE UM PROGRAMA DE PREVENÇÃO DE DOENÇAS CARDIOVASCULARES
[Food trends in a group of people who participated in a program of vascular disease
prevention]
Thuani Antunes Corrêa¹; Jussara Gazzola²; Geny Aparecida Cantos³.
Resumo: Trata-se de uma investigação exploratória, tendo como objetivo analisar os hábitos
alimentares de um grupo de pessoas que têm participado de um trabalho de prevenção para
doenças cardiovasculares. No ano 2011, participaram desta pesquisa 42 indivíduos inseridos
pelo menos um ano no referido programa. Foram realizadas consultas semestrais, com uma
nutricionista e uma cardiologista, palestras mensais e visitas ao supermercado. Foi aplicado
um questionário, identificando os hábitos alimentares desses indivíduos. Os resultados
mostraram que as pessoas obtiveram informações quantitativas e/ou qualitativas sobre o
consumo e os hábitos alimentares o que possibilitou a identificação de atitudes e práticas
alimentares mais saudáveis.
Palavras-chave: hábitos alimentares, prevenção de doenças, nutrição em grupo de risco.
Abstract: This is an exploratory qualitative study aiming to analyze the feeding habits
of a group of people who have participated in a study of prevention of cardiovascular
diseases. In 2011, 42 individuals participated in this research that were inserted at least one
year in that program. Consultations were held every six months with a nutritionist
and a cardiologist, monthly lectures and visits to the supermarket. We used a questionnaire,
identifying the eating habits of these individuals. The results showed that
people had quantitative and/or qualitative information on consumption and eating
habits which allowed the identification the identification of attitudes and healthier eating
habits.
Keywords: eating habits, prevention of diseases, nutritional risk group.
Introdução
alimentos, nível socioeconômico, status,
prestígio, pressão publicitária, religião, entre
outros fatores1,2 .
Pesquisas mostram que as ações de
alimentação e nutrição representam papel
fundamental no contexto da Atenção Básica
em Saúde e são fortalecidas com a inserção
do
nutricionista
nas
equipes
3
multidisciplinares . O Núcleo Interdisciplinar
de Pesquisa, Ensino e Assistência a
Dislipidemia do Hospital Universitário da
Bons hábitos alimentares
ocupam atualmente um papel central na
prevenção e no tratamento de doenças
cardiovasculares. O termo hábito alimentar é
usado quando se quer designar os costumes e
modo de se alimentar de uma pessoa ou
comunidade, sendo este determinado por
diversos fatores tais como: culturais,
acessibilidade
e
disponibilidade
dos
___________________________
¹ Aluna de extensão do Departamento de Análises Clínicas da Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC). Endereço eletrônico: [email protected], Tel.: (48) 99650062
² Professora do Departamento de Nutrição da Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC). Endereço eletrônico: [email protected]
³ Professora do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC)-Departamento de Análises Clínicas. Endereço eletrônico: [email protected], Tel.:
(48) 91014927;
83
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Universidade Federal de Santa Catarina
(NIPEAD-HU-UFSC) criado em 1997, tem
como um dos objetivos conscientizar os
pacientes, no sentido de mudar seus hábitos
alimentares e estilo de vida, melhorando a
qualidade de vida dos mesmos.
Contudo a adesão ao tratamento
dietético é bastante complexa, sendo os
hábitos alimentares inadequados e as
condições socioeconômicas e culturais os
maiores motivos da não adesão. Mudanças
nos hábitos alimentares têm sido observadas
nas últimas décadas, em vários países,
revelando a complexidade dos modelos de
consumo e de seus fatores determinantes4 . O
Brasil tem passado pelos processos de
transição demográfica, epidemiológica e
nutricional, desde a década de 60, acentuado
pela queda na fecundidade, crescimento da
renda, industrialização e mecanização da
produção, urbanização, maior acesso a
alimentos
em
geral,
incluindo
os
processados, e globalização de hábitos não
saudáveis, expondo a população cada vez
mais ao risco de doenças crônicas. Estas
mudanças configuram novos desafios para os
profissionais de saúde, considerando que
estas doenças têm um forte impacto na
qualidade de vida dos indivíduos, efeitos
econômicos adversos para as famílias,
comunidades e sociedade em geral.
Diante desse cenário, o Ministério da
Saúde protagonizou o Plano de Ações
Estratégicas para o Enfrentamento das
Doenças Crônicas Não Transmissíveis
(DCNT) no Brasil, 2011-20225 . O objetivo,
é que, nos próximos dez anos, o
desenvolvimento e a implementação de
políticas públicas efetivas, integradas,
sustentáveis e baseadas em evidências para a
prevenção e o controle das DCNT e seus
fatores de risco, possam incluir o
fortalecimento dos serviços de saúde, a partir
dos seguintes eixos: a) vigilância,
informação, avaliação e monitoramento; b)
promoção da saúde e c) cuidado integral.
Assim, este trabalho teve como
objetivo caracterizar os hábitos alimentares
de indivíduos de uma comunidade
universitária que participaram de um
programa de prevenção para doenças
cardiovasculares a fim de perceber se as
atividades nutricionais desenvolvidas no
programa tiveram um efeito positivo na
promoção da saúde e nutrição, desse grupo
específico.
Metodologia
Foi realizado um estudo transversal,
de natureza exploratória e descritiva com 42
indivíduos, com idade entre 28 e 73 anos,
que participaram de um programa de
prevenção para doenças cardiovasculares na
cidade de Florianópolis – Santa Catarina. A
escolha dessa população se deu pela
disponibilidade e interesse que os mesmos
tiveram para com essa pesquisa.
Primeiramente
os
pacientes
passaram pelo exame clínico realizado pelo
setor de cardiologia no SASC (Serviço de
Atendimento à Saúde da Comunidade
Universitária), e após foram encaminhados
para consulta nutricional com a nutricionista
do projeto, a qual fez um acompanhamento
alimentar desses pacientes, baseado no Guia
Alimentar para a População Brasileira6, o
qual, dentre uma de suas concepções, é
reduzir a incidência de doenças crônicas nãotransmissíveis (DCNT), por meio da
alimentação saudável.
As consultas tanto no setor de
cardiologia como da nutrição foram
semestrais e os
almoços comunitários e
as palestras ministradas foram mensais. A
avaliação do estado nutricional foi realizada
a partir de dados antropométricos,
considerando a relação do IMC e esta foi
associada com o perfil lipídico, a pressão
arterial, a glicemia de jejum por 8 horas e a
realização de atividade física7 .
Como instrumento de avaliação de
aprendizagem foi aplicado um questionário,
proposto por Nahas (2006)8, com itens sobre
alimentos/alimentação, o qual foi preenchido
ao longo do segundo semestre de 2011, em
horários pré-estabelecidos com a bolsista de
Extensão.
Todos os participantes tiveram o
devido esclarecimento sobre a presente
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pesquisa e assinaram o termo de
consentimento, sendo garantido o sigilo das
informações. Este trabalho teve a aprovação
pela Comissão de Ética de Pesquisa em
Humanos da Universidade Federal de Santa
Catarina.
Resultados e Análise
Este trabalho tem como intuito
analisar o resultado de uma prática
assistencial realizada em Florianópolis-SC,
com um grupo de pessoas que participavam
do NIPEAD-HU-UFSC, durante o ano 2011.
A equipe interdisciplinar e multiprofissional
que compõe este Núcleo vem ao longo de 15
anos trabalhando com prevenção para
doenças cardiovasculares.
Um dos grandes desafios enfrentados
por esta equipe foi interferir positivamente
no comportamento alimentar do indivíduo,
de forma que os mesmos pudessem efetivar
as mudanças necessárias na vida cotidiana.
Uma pesquisa realizada no Serviço de
Nutrição Clínica Ambulatorial do Hospital
Universitário da Universidade Federal de
Santa Catarina, entre 1985 e 1988, mostrou
que dos 472 pacientes atendidos, 50,6%
abandonaram o tratamento9. Posteriormente
DiMatteo (1994)10 relatou que 75% dos
pacientes não seguiam as recomendações
médicas relacionadas às mudanças no estilo
de vida, como restrições alimentares,
abandono do fumo e outros. Esta realidade
não tem sido diferente em relação aos
integrantes do NIPEAD-HU-UFSC. Um
trabalho realizado com esses pacientes
mostrou
a
necessidade
de
um
acompanhamento nutricional de forma mais
regular a fim de que os pacientes pudessem
aderir às orientações prescritas11. Essa
problemática exigiu uma atenção especial
dos profissionais integrantes desse Núcleo,
no sentido de adotar modelos assistenciais
associando-se a melhor qualidade de vida
dessa população.
Apoiado
em
estratégias
de
intervenção de promoção da saúde e
prevenção, ofereceu-se também um programa
que visou orientar e avaliar uma alimentação
balanceada, por meio de consultas
cardiológicas,
nutricionais,
palestras
educativas e almoços comunitários. Estes
almoços foram realizados uma vez por mês
na residência de um dos indivíduos
participantes, visando à integração do grupo
aliado a hábitos alimentares saudáveis e a
trocas de experiências. O cardápio
possibilitou o oferecimento de alimentos
seguros, saudáveis e saborosos, sob as óticas
higiênico-sanitária, nutricional e sensorial.
Não obstante, esta atividade contou com a
supervisão da nutricionista12 .
As atividades promovidas por este
Núcleo propiciaram aos indivíduos um
espaço
para
conversa,
trocas
de
conhecimento e esclarecimentos de dúvidas.
Os temas foram escolhidos de acordo com as
necessidades da comunidade. A cada
encontro com o indivíduo (consultas,
exames, palestras, outros...), o mesmo era
estimulado a fazer o que lhe fosse possível,
de forma a não criar resistência às
orientações
propostas
pela
equipe
multiprofissional. A partir dos encontros,
estabeleceram-se
novas
formas
de
comunicação e de vínculo afetivo, de
maneira a despertar a cada participante uma
maior sensibilidade quanto à necessidade de
mudanças no estilo de vida.
Contudo,
diversos
elementos
contribuem para a construção do senso
comum sobre alimentação saudável em
diferentes populações13,14. A intenção de
ampliar os conhecimentos nesta área requer
instrumentos em que se possam avaliar as
práticas alimentares. Neste estudo o saber
científico formal de cada participante foi
estruturado tendo como instrumento um
questionário
com
itens
sobre
alimentos/alimentação elaborado por Nahas
(2006)8. Esse foi relacionado com o Guia
Alimentar para a População Brasileira, o
qual, apresenta um conjunto de diretrizes
visando à alimentação saudável e à promoção
da saúde6.
A categorização do instrumento
baseou-se nas seguintes diretrizes: a) Diretriz
1 - Alimentos saudáveis e as refeições; b)
Diretriz 2 - Cereais, tubérculos e raízes
85
Corrêa, T. A. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 83-92, jan/jun. 2012
c) Diretriz 3 - Frutas, legumes e verduras d)
Diretriz 4 - Feijões e outros alimentos
vegetais ricos em proteínas e) Diretriz 5 Leite e derivados, carnes e ovos f) Diretriz 6
- Gorduras, açucares e sal.
a) Diretriz 1 – Alimentos saudáveis e
refeições
“Refeições são saudáveis quando
preparadas com alimentos variados,
com tipos e quantidades adequadas
às fases do curso da vida, compondo
refeições coloridas e saborosas que
incluem alimentos tanto de origem
vegetal como animal. Para garantir
a saúde, faça pelo menos três
refeições por dia (café da manhã,
almoço e jantar), intercaladas por
pequenos lanches”.
Nos últimos tempos houve um
aumento na busca por uma orientação e
atendimento nutricional, a fim de obter uma
dieta baseada em uma alimentação saudável .
As ações da diretriz 1 têm como enfoque o
resgate de hábitos e práticas alimentares que
valorizem o consumo de alimentos de
elevado valor nutritivo, de maneira que se
possa consumir apenas a quantidade
necessária de carboidratos, gorduras,
proteínas, fibras e de micronutrientes minerais e vitaminas. Segundo a Pesquisa de
Orçamentos Familiares (POF) (2008-2009),
entre as prevalências de inadequação de
consumo (percentuais de pessoas que
ingerem determinado nutriente em níveis
abaixo das necessidades diárias ou acima do
limite recomendado), destacam-se o excesso
de gorduras saturadas e açúcar (82% e 61%
da população) e escassez de fibras (68% da
população) 15.
Uma tendência crescente para o
consumo de alimentos de maior concentração
energética é promovida pela indústria de
alimentos por meio da produção abundante
de alimentos saborosos, de alta densidade
energética e de custo relativamente baixo. O
consumo de sanduíches e os refrigerantes
são hábitos que levam também a uma perda
da qualidade de vida. Esses maus hábitos
alimentares estão associados a diversos
prejuízos à saúde, entre eles a obesidade e o
aparecimento
de
doenças
crônico16
degenerativas . Sanduíches de lanchonetes
fast food, ganharam na últimas três décadas a
preferência pela praticidade e a rapidez,
favorecendo a formação de novos hábitos
nocivos. Contudo, estes geralmente são
muito calóricos, ricos em gorduras trans e
colesterol, e quando consumidos em excesso
podem elevar as taxas de triglicerídeos e
colesterol sanguíneos, aumentando as
chances de ocorrência de doenças
vasculares17. Pesquisas mostram que a
obesidade aumenta o risco de inúmeras
doenças crônicas, como: diabetes mellitus,
dislipidemia,
doenças
cardio
e
cerebrovasculares, alterações da coagulação,
doenças articulares degenerativas, neoplasias
estrogênios-dependentes,
neoplasia
de
vesícula biliar, esteatose hepática com ou
sem cirrose, apnéia do sono etc18. Em nosso
estudo as pessoas foram orientadas a
consumir alimentos variados, evitando,
sempre que possível, alimentos processados.
Verificou-se
que
somente
19,05%
consumiam mais calorias que o necessário e
apenas 7,14% consumiam sanduíches em
lanchonetes fast food diariamente.
Em um trabalho realizado em 2000 em
uma escola secundária norte-americana foi
analisado a relação entre o consumo de
bebidas carbonatadas em 460 adolescentes e
a ocorrência de fraturas ósseas. O resultado
demonstrou maior associação entre fraturas e
o consumo de refrigerantes19. Em 1999, um
estudo publicado demonstrou que o consumo
de uma ou mais garrafas diárias de bebidas
do tipo cola, estava associado com
hipocalcemia. Os autores associaram a
ocorrência da hipocalcemia ao conteúdo de
acido fosfórico das bebidas20. No Brasil, a
POF apontou que entre os anos 2008-2009, a
mediana de consumo de sucos e refrigerantes
foi de 122 ml diários, sendo que o consumo
dos mesmos, nos últimos anos vem
aumentando
consideravelmente
especialmente em adolescentes15. A pesquisa
do Sistema de Vigilância de Fatores de Risco
e Proteção para Doenças Crônicas não
Transmissíveis por Inquérito Telefônico
(Vigitel), implantado no Brasil em 2006,
86
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destacou que 29,8% dos brasileiros tomam a
bebida no mínimo cinco vezes por semana21.
Neste trabalho percebeu-se que apenas
11,90% dos participantes consomem
refrigerantes diariamente, demonstrando que
os integrantes deste estudo possuem
conhecimento a respeito dos efeitos
maléficos do consumo constante de
refrigerantes. Essa observação pode-se
perceber melhor durante a discussão das
palestras realizadas mensalmente e almoços
comunitários.
O número de refeições diárias é um
dos pontos mais importantes. Precisamos de
mais de três refeições diárias para suprir
22
nossas necessidades nutricionais . Além
dessas três refeições - café da manhã, almoço
e jantar – é importante realizar pequenos
lanches nos intervalos das refeições,
respeitando a quantidade de nutrientes e
23
calorias . Neste estudo os indivíduos foram
orientados a realizar pelo menos três
refeições diárias (desjejum, almoço e jantar),
em lugares tranquilos, sem televisão,variar o
consumo desses alimentos nas diferentes
refeições ao longo da semana, diversificar os
tipos de preparo e valorizar a grande
variedade desses grupos de alimentos a baixo
custo, no Estado de Santa Catarina. Pode-se
notar que na população em estudo 92,86%
seguiram a recomendação indicada.
O café da manhã é a refeição mais
importante do dia, já que reconstitui as
reservas de energia utilizadas durante à
noite24 Nesta pesquisa percebemos que
somente 11,90% dos indivíduos não
realizavam o café da manhã, diariamente.
b) Diretriz 2: Cereais, tubérculos e raízes:
“Arroz, milho e trigo, alimentos como
pães e massas, preferencialmente na
forma integral; tubérculos como as
batatas; raízes como a mandioca
devem ser a mais importante fonte de
energia e o principal componente da
maioria das refeições”.
Pesquisas mostram que o consumo de
cereais matinais tem aumentado muito nos
últimos anos devido à necessidade de se
obter produtos de preparo rápido, com alto
teor de proteína, carboidratos e fibras25. Hoje,
os profissionais da saúde incentivam o
consumo médio diário de produtos integrais,
apontando o grupo dos cereais e derivados
como sendo a principal fonte de fibras
alimentares da dieta8. Há evidências de que o
perfil alimentar da população brasileira
apresentou excessivas mudanças nos últimos
trinta anos. Segundo o Ministério da Saúde
entre os anos de 1974 e 2003 houve uma
diminuição na participação relativa de
carboidratos totais e complexos (61,66% para
55,9%), ocorrendo situação inversa em
relação aos lipídios, os quais aumentaram de
25,7 para 30,56. Neste trabalho as pessoas
foram orientadas a consumir cereais
diariamente, de preferência integrais,
tubérculos e raízes. Observou-se que 50%
dos entrevistados consumiam pelo menos
quatro porções de pães, cereais matinais
(aveia, granola, flocos de milho), macarrão,
arroz e 26,19% utilizavam alimentos
integrais (arroz, outros cereais integrais,
farelo de trigo, pão integral, massas
integrais).
c) Diretriz 3: Frutas, legumes e verduras
“Frutas, legumes e verduras são ricos
em vitaminas, minerais e fibras, e
devem estar presentes diariamente nas
refeições, pois contribuem para a
proteção à saúde e diminuição do risco
de ocorrência de várias doenças.”
Em 2004, a Organização Mundial de
Saúde (OMS)
propôs recomendações
pautadas em mudanças de estilo de vida, a
fim de prevenir e minimizar a prevalência
mundial das doenças crônicas não
transmissíveis. Uma de suas principais
recomendações foi o consumo diário de
cinco porções ou mais de frutas e hortaliças.
O aumento do consumo desses alimentos
atua de forma importante na redução do risco
das
principais
doenças
crônicas,
especialmente devido a maior oferta de
vitaminas, minerais antioxidantes e fibras
alimentares26. A Organização Mundial da
Saúde (OMS) preconiza uma ingestão diária
de 400g de vegetais27. Dados da Vigitel21,
revelaram que apenas 20,2% da população
87
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brasileira ingerem a quantidade de frutas e
hortaliças recomendada pela OMS. Esse
consumo insuficiente seria responsável
anualmente por 2,7 milhões de mortes, por
31% das doenças isquêmicas do coração,
11% das doenças cerebrovasculares e 19%
dos cânceres gastrointestinais ocorridos em
todo o mundo. Neste trabalho as pessoas
foram orientadas a consumir diariamente,
cereais de preferência integrais, leguminosas
(feijões, ervilha seca, lentilha, grão de bico e
soja) e a consumir pelo menos três porções
de frutas e três porções de legumes e
verduras nas refeições diárias, pois o
recomendado de frutas, legumes e verduras é
de 400g/dia. Observou-se que 71,43% dos
indivíduos
entrevistados
consumiam
diariamente folhas verdes cruas ou cozidas,
61,90%
pelo menos duas porções de
vegetais crus, cozidos
ou assados
diariamente, 66,67% consumiam folhas
verdes escuras, cenoura, mamão, manga e
abóbora e 64,28% três ou mais porções de
frutas frescas ou sucos de fruta natural,
diariamente.
d) Diretriz 4 - Feijões e outros alimentos
vegetais ricos em proteínas
"As leguminosas, como os feijões e
as oleaginosas, como as castanhas e
sementes
são
alimentos
fundamentais para a saúde. A
preparação típica brasileira feijão
com arroz é uma combinação
alimentar saudável e completa em
proteínas".
O arroz com feijão contribui com o
valor energético da dieta e é uma importante
fonte proteica. A fibra do feijão pode atuar
tanto na mobilidade intestinal como
contribuir para a manutenção de níveis
saudáveis de colesterol. As leguminosas são
empregadas como fonte alternativa: elas
possuem vitaminas, proteínas, carboidratos e
minerais - cálcio, ferro e zinco - essenciais ao
organismo e metabolismo celular28. Aos
integrantes do projeto foi dada a orientação
para que consumissem diariamente feijão
com arroz, na proporção de uma para duas
partes e também outras leguminosas: ervilha
seca, lentilha, grão de bico e soja. Analisando
o resultado da pesquisa, verificamos que
40,48% consumiam refeições com feijão,
lentilha, ervilha, grão de bico ou soja.
e) Diretriz 5: Leite e derivados, carnes e
ovos:
“Leite e derivados são as principais
fontes de cálcio na alimentação,
carnes, aves, peixes e ovos fazem parte
de uma alimentação nutritiva que
contribui para a saúde e o crescimento
saudável.”
A respeito do leite, destaca-se a
importância desse grupo de alimentos como
fonte de proteínas, vitaminas e principal
fonte de cálcio da alimentação, nutriente
fundamental para a formação e manutenção
de massa óssea. Contudo o leite integral
possui um conteúdo em gordura igual ou
superior a 3,2%, o semi-desnatado tem um
conteúdo de gordura entre 1,5% e 1,8% e o
leite desnatado tem um percentual inferior
0,330 . Pesquisa realizada pela Vigitel21
mostrou que mais da metade da população
brasileira (56,9%) consome leite integral
regularmente. Neste trabalho a orientação foi
dada para que houvesse o consumo diário de
leite e derivados desnatados, com a ingestão
de três porções ao dia de leite e seus
derivados, como iogurte e queijos. Nossos
resultados mostraram que 50% dos
participantes relataram consumir ao menos
um copo de leite desnatado, um pote de
iogurte ou uma fatia de queijo diariamente.
A carne possui elevado teor
nutritivo, sendo fonte de proteína de alto
valor biológico, ferro, vitaminas do
complexo B, zinco e magnésio. A
recomendação é consumir carne vermelha
magras e optar por peixes e frango, que têm
em comum o baixo conteúdo de gordura
saturada e elevada quantidade de proteínas.
Os peixes de água salgada são ótimas fontes
de ácidos graxos essenciais e de vitaminas A
e D30. Contudo, pesquisa realizada pela
Vigitel21 indica que a dieta do brasileiro é
inadequada, com excesso de gordura
saturada: 34,6% dos brasileiros não
dispensam a carne gordurosa. Analisando os
88
Corrêa, T. A. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 83-92, jan/jun. 2012
dados do nosso estudo, verificamos que
pessoas têm-se preocupado com problemas
cardiovasculares e obesidade, relacionados a
ingestão dos ácidos graxos saturados
31
presentes na carne , sendo que 19,05% das
pessoas consumiam carnes vermelhas magras
e apenas 9,52% carnes vermelhas gordas
diariamente. As demais, tinham preferência
pelo frango e peixes com menor teor de
gordura e preparados grelhados, assados,
cozidos ou ensopados.
f) Diretriz 6: gorduras, açúcares e sal:
“As gorduras e os açúcares são
fontes de energia. O consumo
frequente e em grande quantidade de
gorduras, açúcar e sal aumenta o
risco de doenças como obesidade,
hipertensão arterial, diabetes e
doenças do coração”
Os hábitos alimentares inadequados,
adquiridos
na
infância
e
na
adolescência
podem
exercer
grande
influência
no
desenvolvimento
das
doenças crônicas não transmissíveis e
contribuem para a epidemia de excesso de
peso, hoje observada no país32. É necessário
equilibrar a ingestão e o gasto energético
para a manutenção do peso, desequilíbrios
nesta relação desencadeariam o processo de
obesidade. Os doces, especialmente os
elaborados com açúcar refinado e gordura
trans, são alimentos altamente calóricos e
deveriam ser consumidos com moderação. A
adição elevada de açúcar aumenta o conteúdo
calórico das refeições sem aumento do valor
nutricional, contribuindo para problemas de
obesidade22.
Um estudo realizado pela Vigitel
21
(2011) revelou que nos últimos seis anos
no Brasil, a obesidade e o excesso de peso
aumentaram. Em 2011, o Ministério da
Saúde6 apontou que a proporção de pessoas
acima do peso no Brasil era de 48,5%, sendo
que o percentual de obesos nos últimos 4
anos subiu de 11,4% para 15,8%. Nossa
pesquisa mostrou que a preocupação com o
consumo excessivo do açúcar está presente
entre os integrantes do projeto. Neste
trabalho, pode-se notar que apenas 19,05%
dos participantes consumiam mais de duas
colheres de sopa por dia de açúcar nas suas
bebidas (sucos, chá, leite ou café), 14,28%
ingeriam doces diariamente.e apenas 4,76%
comiam frituras ou outros alimentos
gordurosos diariamente
Um fator de risco para a hipertensão
arterial é o consumo excessivo de sal. De
acordo com a Vigitel21, uma medida
encontrada pelo Ministério da Saúde para
diminuir o consumo de sódio entre a
população foi reduzir gradativamente o sódio
em algumas categorias de alimentos junto à
indústria alimentícia.
Estudos indicam que o açúcar
refinado é altamente prejudicial ao
organismo humano. Durante o refino são
utilizados diversos produtos químicos para
que o açúcar fique branco e solto. Como
consequência desse refino, as fibras, as
proteínas, os sais minerais e demais
nutrientes são eliminados restando apenas um
produto químico. Devido a esse resultado, o
consumo de açúcar produz um estado de
superacidez que desmineraliza o organismo
refletindo na carência de cálcio, magnésio,
zinco, cobre e selênio, dentre outros
nutrientes33.
Neste trabalho os indivíduos foram
orientados: a) a reduzir o consumo de
alimentos com alta concentração de sal, de
açúcar e gordura saturada para diminuir o
risco de doenças como hipertensão arterial,
diabetes, obesidade, dislipidemias e doenças
cardiovasculares; b) ler com atenção a lista
de ingredientes nos rótulos dos produtos
alimentícios, especialmente pela presença de
gorduras trans e alto teor de sódio; c) dar
preferência aos óleos vegetais e azeites e
evitar o uso do saleiro à mesa; e) reduzir o
consumo de alimentos processados com alta
concentração de sódio, como temperos
prontos, caldos concentrados, molhos
prontos, salgadinhos, sopas industrializadas e
outros; f) com relação aos açúcares, dar
preferência
ao
consumo
daqueles
encontrados naturalmente nos alimentos,
como frutas e mel, ou melado e rapadura
evitando o açúcar refinado; g) valorizar o
sabor natural dos alimentos, reduzindo o
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Corrêa, T. A. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 83-92, jan/jun. 2012
açúcar ou o sal adicionados; h) quando
houver necessidade, acentuar o sabor de
alimentos cozidos e crus utilizando ervas
frescas ou secas ou suco de frutas como
tempero.
Conclusão
É possível perceber que uma
variedade de fatores está relacionada à
formação dos hábitos alimentares e estes
quando
adequados
proporcionam
ao
organismo humano condições para uma vida
saudável. Uma dieta composta basicamente
por produtos naturais como frutas e verduras,
cereais integrais, leguminosas e peixes têm
impacto positivo no curso na qualidade de
vida do indivíduo. A escolha alimentar
depende de muitas variáveis, sendo
importante
identificar
os
fatores
determinantes dos hábitos alimentares dos
indivíduos e como desenvolver a intervenção
nutricional, quando esta se fizer necessária.
Sem dúvida, a orientação nutricional
apresenta papel fundamental para a formação
de hábitos alimentares adequados, pois a
mesma pode constituir-se em um processo
educativo e auxiliar os indivíduos efetivarem
as mudanças positivas necessárias na vida
cotidiana dessas pessoas.
Contudo, pode-se dizer ainda que a
junção das categorias de análise que
determinaram a escolha alimentar dos
indivíduos referidas neste estudo e o
cruzamento de olhares interdisciplinares e
multiprofissionais,
voltados
a
uma
alimentação
saudável
auxiliaram
na
formação de hábitos alimentares saudáveis.
As palestras mensais e os almoços mensais
promovidos pela equipe do NIPEAD-HUUFSC, onde os pacientes foram orientados a
prepararem seus alimentos saudáveis e
saborosos, sob as óticas higiênico-sanitária,
nutricional e sensorial, bem como os
cuidados na sua elaboração foram também
ferramentas importantes na busca da
promoção da saúde. Embora algumas dessas
ações necessitem de um controle mais
rigoroso, ressalta-se o papel determinante da
orientação nutricional na formação dos
hábitos alimentares saudáveis.
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Normas de Publicação
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 93-96, jan./jun. 2012
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8. A revista classificará os textos
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8.1
EDITORIAL
–
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8.2
ARTIGOS
ORIGINAIS:
a)
PESQUISA – constará de relatos de
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REVISÃO – abrangerá revisões de literatura
sobre temas específicos. c) RELATO DE
EXPERIÊNCIA/CASOS CLÍNICO –
incluirá descrições de atividades acadêmicas
assistenciais e de extensão. d) REFLEXÃO
– apresentará materiais de caráter opinativo
e/ou análise de questões que possam
contribuir para o aprofundamento de temas
relacionados à área a que se destina a revista.
8.3 OUTRAS SEÇÕES: a) ENTREVISTA
– espaço destinado a entrevistas de
autoridades / especialistas / pesquisadores. b)
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE
CURSO
/
DISSERTAÇÕES
DE
MESTRADO
E
TESES
DE
DOUTORADO
–
RESUMOS
E
ABSTRACT c) PÁGINA DO LEITOR.
9. NORMAS DE APRESENTAÇÃO DE
TRABALHOS
9.1 – FORMATO – O trabalho deverá ser
encaminhado em 02 (duas) vias. Na
digitação deverá ser utilizado espaço 1,5;
com margem esquerda 3 cm; margem direita
(superior e inferior) 2 cm; letra Times New
Roman, tamanho 12, observando a ortografia
oficial, editor Word For Windows. O título
deverá ser em caixa alta, negrito, espaço 1,5
simples e justificado. Os autores deverão
estar abaixo do título do artigo, em negrito,
espaço simples e em caixa baixa. O texto
deverá conter seus respectivos títulos, de
acordo com as características do trabalho
(ex. Artigo de pesquisa: Introdução,
Métodos, Resultados e Discussão, etc.),
formatados em caixa baixa, negrito. É
obrigatório o envio de disquete ou CD-ROM
na primeira etapa do trabalho.
9.2 – PADRÃO DE APRESENTAÇÃO –
a) ARTIGOS ORIGINAIS – redigidos de
acordo com as normas da Revista do CCS
devendo conter no máximo 15 laudas de
texto para artigos originais e 25 para revisões
93
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e observar o que segue:  Título do artigo em
português (caixa alta) e inglês (caixa baixa) e
entre colchetes. Nome(s) completo(s) do(s)
autor(es). Em nota de roda pé a(s)
credencial(is) e local de atividade do(s)
autor(es) (espaço 1,5 cm), email para
correspondência.  Resumo indicativo em
português, de acordo com as normas da
Revista do CCS, com até 100 palavras, em
espaço 1,5.  Palavras-chave - palavras ou
expressões que identifiquem o artigo. Para
determinação das palavras-chave consultar
a lista de “Descritores em Ciências da Saúde
– DECS-LILACS”, elaborada pela BIREME
e/ou “Medical Subject Heading –
Comprehensive Medline”. Texto – incluindo
ilustrações (quadros, fotos, modelos, mapas,
desenhos, gravuras, esquemas, gráficos e
tabelas), com seus respectivos títulos e fontes
(quando houver). Exceto gráficos e tabelas,
todas as ilustrações deverão ser designadas
como figuras. As despesas com os fotolitos
de figuras somente coloridas serão de
responsabilidade dos autores  Abstract –
tradução do resumo em inglês, em espaço 1,5
cm.  Keywords – tradução das palavraschave para o inglês.
As referências (Normas de Vancouver) no
texto
deverão
ser
numeradas
consecutivamente de forma crescente e na
ordem que aparecem no texto pela primeira
vez, identificando assim os autores
SOMENTE
POR
NÚMEROS.
A
numeração, no texto, portanto deve ser em
ORDEM
CRESCENTE
e
SOBRESCRITO. NÃO LISTAR OS
NOMES DOS AUTORES NO TEXTO.
No setor de referências: (Normas de
Vancouver)
A
listagem
de
referências deverá seguir a mesma ORDEM
NUMÉRICACRESCENTE do texto. NÃO
COLOCAR OS AUTORES EM ORDEM
ALFABÉTICA.
 EXEMPLOS DE REFERÊNCIAS
A) Artigos de revistas
1. Artigo padrão de revista:
Listar os primeiros seis autores seguido por
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transplantation is associated with an
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Mais do que seis autores:
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Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 93-96, jan./jun. 2012
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Curr Opin Gen Surg 1993:325-33.
10. Paginação em numeração romana:
Fisher GA, Sikic BI. Drug resistance in
clinical
oncology
and
hematology.
Introduction. Hematol Oncol Clin North Am
1995 Apr;9(2):xi-xii.
11. Indicação do tipo de artigo, se
necessário:
Enzensberger W, Fischer PA. Metronome in
Parkinson's
disease
[carta].
Lancet
1996;347:1337. Clement J, De Bock R.
Hematological complications of hantavirus
nephropathy (HVN) [resumo]. Kidney Int
1992;42:1285.
12. Artigo contendo retratação:
Garey CE, Schwarzman AL, Rise ML,
Seyfried TN. Ceruloplasmin gene defect
associated with epilepsy in EL mice
[retractação de Garey CE, Schwarzman AL,
Rise ML, Seyfried TN. In: Nat Genet
1994;6:426-31]. Nat Genet 1995;11:104.
13. Artigo retratado:
Liou GI, Wang M, Matragoon S. Precocious
IRBP gene expression during mouse
development
[retractado
em
Invest
Ophthalmol Vis Sci 1994;35:3127]. Invest
Ophthalmol Vis Sci 1994;35:1083-8.
14. Artigo com erratum publicado:
Hamlin JA, Kahn AM. Herniography in
symptomatic patients following inguinal
hernia repair [erratum publicado encontra-se
em West J Med 1995;162:278]. West J Med
1995;162:28-31.
B- Livros e outras monografias
1. Autor(es) individual:
Ringsven MK, Bond D. Gerontology and
leadership skills for nurses. 2nd ed. Albany
(NY): Delmar Publishers; 1996.
2. Editor(es), compilador, como autor:
Norman IJ, Redfern SJ, editors. Mental
health care for elderly people. New York:
Churchill Livingstone; 1996.
3. Organização como autor e editor:
Institute of Medicine (US). Looking at the
future
of
the
Medicaid
program.
Washington: The Institute; 1992.
4. Capítulo de um livro:
Phillips SJ, Whisnant JP. Hypertension and
stroke. In: Laragh JH, Brenner BM, editors.
Hypertension: pathophysiology, diagnosis,
and management. 2nd ed. New York: Raven
Press; 1995. p. 465-78.
5. Livro de atos de conferência, congresso,
encontro:
Kimura J, Shibasaki H, editors. Recent
advances in clinical neurophysiology.
Proceedings of the 10th International
Congress
of
EMG
and
Clinical
Neurophysiology; 1995 Oct 15-19; Kyoto,
Japan. Amsterdam: Elsevier; 1996.
6. Comunicação em conferência:
Bengtsson S, Solheim BG. Enforcement of
data protection, privacy and security in
medical informatics. In: Lun KC, Degoulet
P, Piemme TE, Rienhoff O, editors.
MEDINFO 92. Proceedings of the 7th World
Congress on Medical Informatics; 1992 Sep
6-10; Geneva, Switzerland. Amsterdam:
North-Holland; 1992. p. 1561-5.
7. Relatório técnico ou científico:
Publicado pela entidade financiadora ou
patrocinadora: Smith P, Golladay K.
Payment for durable medical equipment
billed during skilled nursing facility stays.
Final report. Dallas (TX): Dept. of Health
and Human Services (US), Office of
Evaluation and Inspections; 1994 Oct.
Report
No.:
HHSIGOEI69200860.
Publicado pela entidade executora: Field
MJ, Tranquada RE, Feasley JC, editors.
Health services research: work force and
educational issues. Washington: National
Academy Press; 1995. Contract No.:
AHCPR282942008. Sponsored by the
Agency for Health Care Policy and
Research.
8. Dissertação:
Kaplan SJ. Post-hospital home health care:
the elderly's access and utilization
[dissertação]. St. Louis (MO): Washington
Univ.; 1995.
95
Normas de Publicação
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 93-96, jan./jun. 2012
9. Patente:
Larsen CE, Trip R, Johnson CR, inventors;
Novoste Corporation, assignee. Methods for
procedures related to the electrophysiology
of the heart. US patent 5,529,067. 1995 Jun
25.
C).Outras publicações
1. Artigo de jornal:
Lee G. Hospitalizations tied to ozone
pollution: study estimates 50,000 admissions
annually. The Washington Post 1996 Jun
21;Sect. A:3 (col. 5).
2. Material audiovisual:
HIV+/AIDS: the facts and the future
[cassette video]. St. Louis (MO): MosbyYear Book; 1995
3. Texto legal:
Legislação publicada Preventive Health
Amendments of 1993, Pub. L. No. 103-183,
107 Stat. 2226 (Dec. 14, 1993). Legislação
não
promulgada:
Medical
Records
Confidentiality Act of 1995, S. 1360, 104th
Cong., 1st Sess. (1995). Code of Federal
Regulations: Informed Consent, 42 C.F.R.
Sect. 441.257 (1995). Audição: Increased
Drug Abuse: the Impact on the Nation's
Emergency Rooms: Hearings Before the
Subcomm. on Human Resources and
Intergovernmental Relations of the House
Comm. on Government Operations, 103rd
Cong., 1st Sess. (May 26, 1993).
4. Mapa:
North Carolina. Tuberculosis rates per
100,000 population, 1990 [demographic
map]. Raleigh: North Carolina Dept. of
Environment, Health, and Natural Resources,
Div. of Epidemiology; 1991.
5. Livro da Bíblia:
The Holy Bible. King James version. Grand
Rapids (MI): Zondervan Publishing House;
1995. Ruth 3:1-18.
6. Dicionário e referências semelhantes:
Stedman's medical dictionary. 26th ed.
Baltimore: Williams & Wilkins; 1995.
Apraxia; p. 119-20.
7. Texto clássico:
The Winter's Tale: act 5, scene 1, lines 1316. The complete works of William
Shakespeare. London: Rex; 1973.
B) Material não publicado
8. Aguardando publicação:
Leshner AI. Molecular mechanisms of
cocaine addiction. N Engl J Med. Em
publicação 1996. Material electrónico
C) Material eletrônico
9. Revista em formato eletrônico:
Morse SS. Factors in the emergence of
infectious diseases. Emerg Infect Dis [serial
online] 1995 Jan-Mar [cited 1996 Jun 5];
1(1):[24 ecrans]. Disponível em: URL:
http://www.cdc.gov/ncidod/EID/eid.htm
10. Monografia em formato eletrônico:
CDI, clinical dermatology illustrated
[monografia em CD-ROM]. Reeves JRT,
Maibach H. CMEA Multimedia Group,
producers. 2nd ed . Version 2.0. San Diego:
CMEA; 1995.
11. Ficheiro de computador:
Hemodynamics III: the ups and downs of
hemodynamics [programa de computador].
Version 2.2. Orlando (FL): Computerized
Educational Systems; 1993.
10.O(s) autores deverão encaminhar o artigo
para análise acompanhado de uma carta com
os seguintes dizeres:
(Cidade, data)
À Comissão Editorial
Revista de Ciências da Saúde
Os autores abaixo assinados transferem come
exclusividade, os direitos de publicação, na
Revista de Ciências da Saúde do artigo
intitulado: (escrever título do artigo) e
garantem que o artigo é inédito e não está
sendo avaliado ou foi publicado por outro
periódico.
(incluir nome completo de todos os autores,
endereço postal, telefone, email, fax, e
assinaturas respectivas).
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