REVISTA CIÊNCIAS DA SAÚDE UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA Reitor: Álvaro Toubes Prata Vice-Reitor: Carlos Alberto Justo da Silva CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE Diretora: Kenya Schmidt Reibnitz Site www.ccs.ufsc.br/revistaccs/ojs/index.php/REVCCS REVISTA CIÊNCIAS DA SAÚDE ISSN 0101 – 9546 Revista Ciências da Saúde Florianópolis V. 31, N. 1 P. 1 - 97 2012 Revista Ciências da Saúde é uma revista semestral editada pelo Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal de Santa Catarina. Comissão Editorial: Elisabeth Wazlawik (Nutrição-UFSC), Inês Beatriz Rath (Estomatologia-UFSC), Liliane Janete Grando (Patologia-UFSC), Maria Itayra Coelho de Souza Padilha (Enfermagem-UFSC), Patrícia Haas (Análises ClínicasUFSC), Roberto Henrique Heinish (Clínica Médica-UFSC), Tânia Silvia Fröde (Editora-chefe UFSC). Comissão Consultiva: Alcides Miranda (UFRGS), Ana Luísa Petersen Cogo (UFRGS), Andréia Aparecida Traina (USP), Cesar Augusto da Silva (UNIVSF), Cidônia Vituri (UFSC), Cristianne Fammer Rocha (UFRGS), Denise Guerreiro (UFSC), Eduardo Monguilhott Dalmarco (UFSC), Emilia Addison Machado Moreira (UFSC), Eva Neri Rubim Pedro (UFRGS), Fabian Calixto Fraiz (UFPR), Fernando Procianoy (UFRGS), Helena Ferreira Franz (UFSC), Helga Geremias Gouveia (UFRGS), Liliana Muller Larocca (UFPR), Luciane Peter Grillo (UNIVALI), Márcia de Assunção Ferreira (UFRJ), Margarita Ana Rubin Unicovsky (UFRGS), Marize Santos (UFPI), Mauro Caldeira de Andrada (UFSC), Neide Pena Coto(USP), Paulo Roberto Kechele (UFSC), Regina Rigato Witt (UFRGS), Rubens Rodrigues Filho (UFSC), Valéria Macedo Almeida Camilo (UFRB) (Catalogação na fonte pela Biblioteca Universitária da Universidade Federal de Santa Catarina) Revista Ciências da Saúde/Universidade Federal de Santa Catarina. Centro de Ciências da Saúde. -- V.1, n.1 (1982)- , - Florianópolis: Imprensa Universitária, 1982. V.: 27cm Semestral ISSN 0101-9546 1.Ciências Médicas. 2. Saúde-pesquisas. I. Universidade Federal de Santa Catarina. II Centro de Ciências da Saúde. Endereço: Revista Ciências da Saúde - Secretaria do Centro de Ciências da Saúde da UFSC Campus Universitário - Trindade Caixa Postal 476 88040 970 - Florianópolis - SC Telefone (0xx) 48 3721-9525 / 3721-9783 / (0xx) 48 3721-9712 ramal 211 Site: www.ccs.ufsc.br/revistaccs/ojs/index.php/REVCCS SUMÁRIO Editorial.................................................6 PERFIL PROFISSIONAL DE UM GRUPO DE CIRURGIÕES-DENTISTAS EM ATUAÇÃO NO ESTADO DE SANTA CATARINA BRASIL [Professional profile of a group of dentistry practicing in Santa Catarina – Brazil] Mário Uriarte Neto et al.........7 ESTRATÉGIAS DE PREVENÇÃO PARA OBESIDADE INFANTIL NO CONTEXTO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA EM SAÚDE [Strategies for prevention of childhood obesity in the context of primary health care] Maria Elizia Fornari Brunetta et al.........................18 PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DOS PACIENTES COM DOENÇAS CONJUNTIVAIS ATENDIDOS EMERGENCIALMENTE NO SERVIÇO DE OFTALMOLOGIA DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA, NOS ANOS DE 2005 A 2010 [Epidemiological profile of patients with conjunctival diseases examined at the emergency room of the ophthalmology services clinic at the Federal University of Santa Catarina`s Hospital, in the years 2005 to 2010] Rodrigo Dall`Oglio da Cunha et al..........................................................27 ANÁLISE DA TONTURA NO IDOSO INSTITUCIONALIZADO [Dizziness evaluation in nursing home residents] Andressa Márjorye Amaral Krauss Hansen et al........................................38 PRÁTICAS DE CUIDADO NA QUALIDADE DE VIDA DE UMA PACIENTE PORTADORA DE DOENÇAS CRÔNICAS: ESTUDO DE UM CASO CLÍNICO [Practice of care in the quality of life of a patient carrier of chronic diseases: a case study] Geny Aparecida Cantos et al............47 PERCEPÇÕES DE MULHERES IDOSAS DE FLORIANÓPOLIS/SC SOBRE A PRÁTICA DE ATIVIDADES FÍSICAS NO LAZER [Perceptions of older women in Florianópolis/SC on the practice of leisure physical activities] Rodrigo de Rosso Krug; Moane Marchesan..............................55 DETERMINAÇÃO DE DNA-HPV POR CAPTURA HÍBRIDA II E SUA RELAÇÃO COM A COLPOCITOLOGIA ONCOLÓGICA [Determination of HPV DNA by Hybrid Capture II and its relationship with the Pap smear] Rafael Benedet; Lisiane Pagnussat; Cidônia De Lourdes Vituri.................65 CARACTERÍSTICAS DE UM DENTISTA IDEAL: A OPINIÃO DOS DENTISTAS [Characteristics of an ideal dentist: the opinion of the dentists] Carolina Ardenghi Favretto et al......................................................75 HÁBITOS ALIMENTARES DE UM GRUPO DE PESSOAS QUE PARTICIPARAM DE UM PROGRAMA DE PREVENÇÃO DE DOENÇAS CARDIOVASCULARES [Food trends in a group of people who participated in a program of vascular disease prevention] Thuani Antunes Corrêa; Jussara Gazzola; Geny Aparecida Cantos.................................................83 Normas editoriais...............................93 Revista Ciências da Saúde Editorial Prezado leitor, A vida está cada vez mais rápida, mais dinâmica, mais globalizada, mais intensa e complexa. O aumento visível das responsabilidades e atividades destinadas a cada indivíduo nas últimas décadas tem feito com que ele seja omisso em relação ao cuidado com a própria vida. O ‘’autocuidado” que deveria pautar todos os empreendimentos nos diversos setores da vida, seja profissional, social ou afetivo, uma vez omitido, reflete diretamente no corpo e no ambiente desse indivíduo. É notório que o stress é responsável pela maior parte das doenças que afligem o homem moderno. E diante de tal fato cabe aos profissionais de saúde o grande desafio de cuidar do ser humano na sua totalidade, exercendo uma ação nas dimensões física, psíquica, social e espiritual. A estratégia para essa prática do cuidado integral dos profissionais de Saúde parte do conhecimento, da informação, da constante atualização do conteúdo científico para a formação de uma visão global das enfermidades contemporâneas. A Revista Ciências da Saúde procura participar dessa estratégia, reunindo artigos de diferentes áreas da Saúde, para que vocês, nossos leitores, possam aperfeiçoar seus conhecimentos para além da sua área de pesquisa ou trabalho. Boa Leitura! “O bom humor, a risada, o lazer, a alegria, recuperam a saúde e trazem vida longa. A pessoa alegre tem o dom de alegrar o ambiente em que vive. ‘O bom humor nos salva das mãos do doutor’. Alegria é saúde e terapia.” Dráuzio Varella Daniela de Andrade Secretária da Revista Ciências da Saúde Acadêmica de Relações Internacionais da UFSC 6 Neto, M. U. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 7-17, jan/jun. 2012 PERFIL PROFISSIONAL DE UM GRUPO DE CIRURGIÕES-DENTISTAS EM ATUAÇÃO NO ESTADO DE SANTA CATARINA - BRASIL [Professional profile of a group of dentistry practicing in Santa Catarina – Brazil] Mário Uriarte Neto1; Luiza Klipp de Oliveira2; Sheppa Foppa Arze Tames3; Elisabete Rabaldo Bottan4; Eliane Garcia da Silveira5; Raphael Nunes Bueno6. Resumo: O objetivo deste estudo foi traçar o perfil do cirurgião-dentista em atuação em Santa Catarina (Brasil). O instrumento de coleta de dados foi um questionário com 23 questões. As principais características que definiram o perfil do grupo investigado foram: 52% eram do gênero masculino; 68% com idade entre 21 e 35 anos; 62,5% egressos de universidades catarinenses; 66% estavam formados a dez ou mais anos. A maioria possui especialização e atua como autônomo. Mais da metade desenvolvia atividades profissionais em paralelo Do ponto de vista financeiro, 59% se consideravam parcialmente satisfeitos e 41% afirmaram estar plenamente satisfeitos com a profissão. Palavras-chave: Recursos Humanos em Odontologia; Mercado de Trabalho; Prática Profissional. Abstract: The objective of this exploratory study was to trace the profile of the dentist in performance in Santa Catarina (Brasil). Data collection instrument was a questionnaire with 23 questions. The main characteristics that had defined the profile of the investigated group had been: 52% were male; 68% had age range 21 to 35 years; 62.5% had studied at universities of Santa Catarina, 66% were graduated ten years or more. The majority has expertise and has activity as autonomous. More than half (60%) develops another activity in parallel. About the aspect financially, the majority (59%) if considers partially satisfied and 41% said they were fully satisfied with the profession. Keywords: Dental Staff; Job Market; Professional Practice. _____________________ 1 Cirurgião-Dentista, Doutor em Engenharia de Produção e Ergonomia; Professor e Integrante do Grupo de Pesquisa Atenção a Saúde Individual e Coletiva em Odontologia, do Curso de Odontologia da Universidade do Vale do Itajaí. E-mail: [email protected] 2 Acadêmica do Curso de Odontologia da Universidade do Vale do Itajaí. Bolsista de Iniciação Científica; Integrante do Grupo de Pesquisa Atenção a Saúde Individual e Coletiva em Odontologia. E-mail: [email protected] ³ Egressa do Curso de Odontologia da Universidade do Vale do Itajaí; Ex-Bolsista de Iniciação Científica. E-mail: [email protected] 4 Bióloga, Mestre em Educação e Ciências. Professora e Integrante do Grupo de Pesquisa Atenção à Saúde Individual e Coletiva em Odontologia, do Curso de Odontologia da Universidade do Vale do Itajaí. E-mail: [email protected] 5 Cirurgiã-Dentista, Mestre em Odontopediatria; Professora e Integrante do Grupo de Pesquisa Atenção à Saúde Individual e Coletiva em Odontologia, do Curso de Odontologia da Universidade do Vale do Itajaí. E-mail: [email protected] 6 Cirurgiã-Dentista, Mestre em Engenharia de Produção-Ergonomia; Professora do Curso de Odontologia da Universidade do Vale do Itajaí. E-mail: [email protected] 7 Neto, M. U. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 7-17, jan/jun. 2012 Introdução Materiais e método O panorama do mercado de trabalho, na área da Odontologia, em especial no Brasil, sofreu uma mudança radical nos últimos vinte anos. Neste espaço de tempo, houve um aumento significativo do número de profissionais. Atualmente, o Brasil concentra 19% do número de CirurgiõesDentistas (CD´s) do mundo e expressivo número de cursos de Odontologia o que implica numa forte pressão sobre o mercado de trabalho.1-6 Analisando-se a relação entre número de habitantes, número de faculdades/cursos e número de profissionais inscritos no Conselho Federal de Odontologia (CFO), em cada estado brasileiro, identifica-se algumas discrepâncias. Dos vinte e sete estados, treze apresentam relação habitante/CD superior à recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que é de um dentista para cada mil e quinhentos habitantes (1/1500)1-10, no entanto, a proporção média para o país é de um cirurgião-dentista para cada 838 habitantes (1/838). E a média mundial é de um CD para 62.595 habitantes.1 As regiões sudeste e sul concentram três quartos dos CD´s do país. Na região sudeste, está 59% dos CD´s cadastrados no CFO, dos quais 33% estão atuando no estado de São Paulo. Em outras regiões, porém, a realidade revela que há uma péssima distribuição de CD’s.1-10 Um mercado de trabalho com tais características é preocupante, tornando imperiosa a necessidade de profundas reflexões, para a efetivação de mudanças. As mudanças na organização da produção e do trabalho exigem uma adequação da política de recursos humanos para a construção do novo modelo de atenção à saúde1-12. Diante deste cenário, definiu-se pela realização de uma pesquisa para se identificar o perfil profissional dos cirurgiões-dentistas com registro no Conselho Regional de Odontologia de Santa Catarina (CRO/SC) e em atuação no Estado. A investigação consistiu em um estudo exploratório, tendo como populaçãoalvo os cirurgiões-dentistas cadastrados junto ao CRO/SC. Segundo dados do CRO/SC13, o total de CD´s com registro à época da coleta de dados era 7.977. Na amostra, o número de questionários respondidos foi de 349 (4,4% da população-alvo), e foi considerado no intervalo, com nível de confiança de 95%, com erro amostral de 5,24%. O modelo utilizado foi do tipo probabilístico utilizandose a técnica de amostragem aleatória simples. Considerando-se que o perfil profissional é constituído por um conjunto de fatores ou características que caracterizam a pessoa em uma determinada atividade profissional, definiu-se que o instrumento para coleta de dados seria um questionário com 23 questões, sendo 22 do tipo fechado e uma aberta, distribuídas em cinco (05) campos, a saber: caracterização sóciodemográfica dos sujeitos; formação profissional; atividade profissional; rendimentos; e percepção quanto à profissão. Antes do envio para toda a população-alvo, o questionário foi validado com um grupo de vinte CD’s, para ajustes e melhorias indicadas pelos pesquisados. Estes instrumentos não integraram a pesquisa. As principais contribuições foram referentes ao tópico sobre a atividade profissional, tendo sido sugerida a inclusão de novas alternativas às questões que integravam este campo do instrumento de coleta de dados. O questionário foi remetido a todos os profissionais, junto ao Informativo do CRO/SC que integra o site do CROSC. O período de coleta de dados foi de dezembro de 2009 a março de 2010. Durante todo este período foram efetuadas constantes chamadas, solicitando-se a participação dos CD’s. Os dados foram tabulados com auxílio do programa Microsoft Office Excel 2007, para o cálculo da frequência (absoluta e relativa) das respostas de cada uma das 8 Neto, M. U. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 7-17, jan/jun. 2012 questões do tipo fechado. Para a questão do tipo aberto, as respostas foram agrupadas em categorias de acordo com o nível de similaridade. O projeto de pesquisa recebeu aprovação da Comissão de Ética em Pesquisa da UNIVALI, sob o nº 186/09. Resultados A caracterização sócio-demográfica da amostra, segundo as variáveis que a definiram, indica uma pequena diferença entre o número de homens e mulheres e que a maioria tinha entre 21 e 35 anos de idade. (Tabela 1) Tabela 1: Caracterização sócio-demográfica do grupo pesquisado. VARIÁVEIS % Gênero Masculino Feminino 52 48 Idade (em anos) 21 a 35 36 a 50 51 ou mais 58 32 10 O grupo de cirurgiões-dentistas que integrou a amostra era procedente de 154, dos 293, municípios, que estavam distribuídos entre sete, das oito, mesorregiões de Santa Catarina, sendo que a maior concentração estava nas mesorregiões Norte e Litoral Catarinense. (Tabela 2) Tabela 2: Mesorregiões do Estado de Santa Catarina em que o grupo pesquisado atuava Região do Estado em que atua % Norte e Litoral Catarinense 45,8 Vale do Itajaí 23,1 Meio-Oeste e Oeste Catarinense 18,9 Sul Catarinense 9,3 Planalto Serrano 2,9 Sobre a formação dos sujeitos integrantes da pesquisa, identificou-se que a maioria havia se formado há dez ou mais anos, sendo que mais da metade (62,5%) realizou sua graduação em instituições de Santa Catarina. A Universidade Federal de Santa Catarina e a Universidade do Vale do Itajaí congregaram 88% da amostra. (Tabela 3) 9 Neto, M. U. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 7-17, jan/jun. 2012 Tabela 3: Caracterização do grupo pesquisado quanto à graduação. VARIÁVEIS Tempo de formado Menos de 10 anos De 10 a 29 anos 30 ou mais anos Estado onde se graduou Santa Catarina Rio Grande do Sul Paraná Outros (SP, MG, CE, PA) % 34 56 10 62,5 15,5 15,5 6,5 Universidade de Santa Catarina onde realizou a graduação UFSC 45,0 UNIVALI 43,0 UNISUL 3,0 UNOESC 3,0 FURB 3,0 UNIVILLE 2,0 UNIPLAC 1,0 Ainda com relação ao processo de formação, destaca-se que expressivo percentual (70%) possuía especialização. E, 90% afirmaram participar de cursos de atualização profissional de modo regular e frequente. (Tabela 4) Tabela 4: Caracterização dos Cd´s quanto ao processo de formação continuada. VARIÁVEIS % Formação Continuada – Titulação Especialização 70 Mestrado 22 Doutorado 8 Participação em Cursos de Atualização Sim 90 Não 10 Participação em Cursos de Atualização Pelo menos uma vez ao ano 42 Mais de uma vez ao ano 36 Esporadicamente 21 As especialidades vinculadas à clínica curativo-restaurativa foram as mais frequentes, dentre as quais o maior destaque foi para a Ortodontia. A relação das especialidades e respectivas frequências encontra-se na tabela 5. 10 Neto, M. U. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 7-17, jan/jun. 2012 Tabela 5: Frequência das áreas de especialização cursadas pelos sujeitos da pesquisa. ÁREA DE ESPECIALIZAÇÃO Ortodontia Saúde Coletiva/S. da Família/S. Pública Endodontia Prótese Implantodontia Odontopediatria Periodontia Dentística Radiologia Cirurgia Outras (com frequência inferior a 3%) A caracterização da atividade profissional indicou que a maioria (71%) atuava na condição de autônomo, dentre os quais 19,65% cumulavam serviço público, com clínica privada; 6% prestavam serviços a empresas privadas ou cooperativas e um total de 23% trabalhava em serviço público. A maioria (60%) possuía duplo vínculo empregatício ou exercia outro tipo de atividade, em paralelo. Das atividades concomitantes, o exercício do magistério na área da odontologia foi o mais citado (72%). Um percentual de 39% trabalhava com convênio. E 63% desenvolviam suas atividades em parceria com outros CD´s. Dentre os 23% que atuavam em órgãos públicos, a maioria (44%) exercia suas atividades junto a Equipes de Saúde da Família, seguido por Unidades Básicas de Saúde (36%), Centros de Especialidades Odontológicas (11%), Órgão Gestor (7%) e Hospital (2%). No desempenho das atividades profissionais, 60% atuavam, prioritariamente, como especialista e 40% como generalista. Entre os especialistas, as áreas mais citadas foram: Ortodontia (21,1%), Endodontia % 16,0 15,0 13,0 12,0 11,0 6,5 6,5 5,0 5,0 3,5 6,5 (16,5%), Prótese (15%), Implantodontia (10,5%). A maioria (62%) dispunha de equipe de apoio, sendo o Auxiliar de Saúde Bucal (ASB) e a secretária os dois componentes mais citados. Com relação aos rendimentos mensais advindos da profissão, a maioria (52%) informou que recebia até dez (10) Salários Mínimos (SM); 35% entre 11 e 20 SM e 13% acima de 20 SM. Para 60% dos pesquisados, a procedência dos rendimentos era, significativamente, da clientela particular. A avaliação das atividades profissionais exercidas nos últimos seis meses apontou que 43% estavam atendendo a toda demanda, mas, no entanto, não se classificavam como trabalhando em excesso. Trinta e cinco por cento (35%) se consideravam com excesso de trabalho. E, 22% afirmaram que não se encontravam totalmente ocupados, podendo atender mais pacientes. A maioria (59%) se considerava parcialmente satisfeita quanto ao aspecto financeiro. E, com relação ao exercício profissional, 41% avaliavam-se como satisfeitos para com a profissão. (Gráfico 1) 11 Neto, M. U. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 7-17, jan/jun. 2012 % Satisfeito 80 Parcialmente satisfeito Insatisfeito 59 60 41 40 40 20 19 22 19 0 Financeiramente Profissionalmente Gráfico 1: Distribuição da frequência das categorias que caracterizam o nível de satisfação financeira e profissionalmente dos CD´s que participaram da pesquisa. Quando questionados se optariam, novamente, pela profissão de cirurgiãodentista, a maioria (63%) respondeu afirmativamente, tendo como principais justificativas o fato de gostarem da profissão; por ela ser uma atividade que lhes permite flexibilizar o horário de trabalho; e porque é autônoma. Dentre os 37% que não optariam novamente pela Odontologia, as justificativas foram: pouca valorização que a sociedade dá ao cirurgião-dentista; pouco retorno financeiro e baixos salários; e pouca união da classe. O que se observou, de forma consistente, tanto entre os que optariam como entre os que não mais optariam pela Odontologia, foi a preocupação quanto ao processo de saturação do mercado de trabalho, como se pode observar em alguns trechos retirados dos questionários e que foram abaixo transcritos. A prática privada da odontologia, a meu ver, encontra-se em declínio. A minha região possui uma relação CDs por habitante desfavorável; um número saturado de CDs, tornando difícil, principalmente, o estabelecimento de recém-formados. Alguns colegas já trocaram seus consultórios por outras atividades dentro e fora da área. (CD35) Não vale a pena ser cirurgiãodentista, tanto em serviço público (concursos) quanto autônomo ou empresa privada. Os contratantes desprezam cirurgiões-dentistas, seja oferecendo salários péssimos ou até mesmo com comentários como: se você não quiser o emprego há outro que queira, dentistas existem aos montes. Os próprios colegas que também já se encontram desesperados acabam por denegrir mais ainda a profissão, oferecendo serviços a preço de banana, o que não ocorre, por exemplo, com profissionais médicos, já que estes se apresentam como classe unida, com conselho e sindicato atuantes... (CD 209) Há uma saturação e banalização da profissão; as clínicas populares com preços muito baixos estão aviltando a profissão... (CD 87) Discussão O mercado de trabalho, para um determinado país, região ou localidade, depende significativamente de fatores que estão vinculados à estrutura socioeconômica e à organização da sociedade, tais como: modelo de prestação de serviços, padrões epidemiológicos, culturais e econômicos da população, crescimento da oferta de mão-deobra e da própria estrutura profissional. Neste sentido, é importante, inicialmente, se fazer algumas reflexões sobre o número de CD´s em atividade no Estado. 12 Neto, M. U. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 7-17, jan/jun. 2012 Santa Catarina integra o grupo dos dez estados que, juntos, concentram 84,5% dos profissionais do país. Em 2008, ele era o sexto colocado neste ranking. A proporção de CD por população, na região Sul, em 2009, era de 1/774 (um CD para cada 774 pessoas) e em Santa Catarina o valor médio era de 1/756 (um CD para cada 756 pessoas). Estes valores são menores do que a média do país (1/838) e, por sua vez, a média brasileira é muito inferior à média mundial (1/62.595)1. Considerando-se a recomendação da OMS, que é de 1/1500 (um CD para um mil e quinhentos habitantes)6,8-10, pode-se afirmar que o Estado está caminhando para um processo de saturação de oferta de profissionais. Constatação esta que foi apontada por expressivo número de CD´s que integraram a presente pesquisa. É inquestionável, portanto, como se depreende dos depoimentos dos sujeitos desta pesquisa, que o mercado de trabalho, na área da Odontologia, encontra-se em um processo de mudanças profundas. A forma como a profissão foi originalmente concebida, isto é, para o exercício clínico liberal tradicional, que é desempenhado de modo individual e altamente especializado, deve ser objeto de revisão, envolvendo as instituições formadoras de recursos humanos e os órgãos de classe. Uma das alternativas, como afirmaram diversos autores7-12,14-21, é a substituição do trabalho autônomo pelo assalariado de forma indireta (credenciamento) ou direta (contratação). A perspectiva é de que o cirurgião-dentista adote outros tipos de vínculos empregatícios, buscando alternativas para ampliar as possibilidades de atuação profissional48,10,14,17,19,20 , e esta proposição foi identificada no grupo investigado, assim como entre CD´s de diferentes partes do país1,3,8,10,11,19-21. Entre os sinais de mudança encontrados neste grupo, está a cumulação da atividade autônoma com a assalariada e o desenvolvimento concomitante de outras atividades, como a docência. Há, também, aqueles com vínculo parcial com serviços públicos e os assalariados de empresas privadas de serviços odontológicos. No entanto, o vínculo dos CD´s integrantes desta pesquisa com o Sistema Único de Saúde, ainda, é reduzido, ratificando-se o relatado em outros estudos efetuados em diferentes regiões do país1,3-6,11. A relação entre o número de CD´s cadastrados no CFO e no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), em 2008, variava de 13% (no Distrito Federal) a 78% (no Maranhão); o percentual médio de CD´s brasileiros que prestavam atendimento em serviços públicos era de, aproximadamente, 27%. Do total de dentistas vinculados ao serviço público (2.388), 43,4% atuavam em Equipes de Saúde da Família (ESF) e nos Centros de Especialidades Odontológicas (CEO)1. Esta realidade quanto à atuação do CD no serviço público, também, foi observada entre os CD´s que participaram desta pesquisa. O perfil sócio-demográfico do grupo investigado (expressivo número de mulheres e predominância de sujeitos jovens), também, foi constatado por outros autores1,3,7,8,15,19-22. Este perfil, de acordo com a literatura, tende a se manter e merece um repensar em termos de competitividade e competência para o desempenho de atividades1,10,11,15,21. Outra característica do grupo é a preocupação para com a especialização profissional o que, também, foi identificado em diferentes estudos3,8,9,15-17,20,21. O número de CD´s brasileiros com uma especialidade, em 2008, era de 25% e, na região sul, a média era de 30,5%. Estes percentuais são mais elevados do que o de países desenvolvidos, como Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, Alemanha e França1. O processo de busca pela especialização nos remete a duas situações antagônicas. De um lado, o constante aperfeiçoamento é, sem dúvida, fundamental para o competente exercício profissional. De outro, a especialização induz a uma fragmentação do conhecimento21, pois as especialidades mais procuradas, ainda, estão centradas no modelo flexneriano16, como evidenciado no trabalho de Morita et al.1 que 61% do contingente de 13 Neto, M. U. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 7-17, jan/jun. 2012 especialistas em atuação no Brasil, em 2008, atuavam em áreas como: Ortodontia e Ortopedia Facial, Endodontia e Periodontia. Este comportamento encontrado no cenário nacional, também, foi identificado entre os pesquisados, pois, dentre as especialidades mais citadas, estavam a Ortodontia e a Endodontia. No entanto, há um diferencial neste grupo que chama a atenção, trata-se das especialidades voltadas à área dos serviços públicos (Saúde Coletiva/ Saúde da Família/Saúde Pública), que, ficaram entre as três áreas mais citadas, enquanto que, no contexto nacional, a especialidade de Saúde Coletiva alcançou a décima colocação, em um conjunto de dez especialidades1. A participação em especialidades relacionadas à saúde pública, provavelmente esteja sendo influenciada pelas políticas públicas que têm propiciado aos profissionais, que prestam ou pretendam prestar serviço na rede pública de saúde, a realização de cursos de especialização voltados à saúde coletiva com enfoque na promoção, mediante, inclusive, incentivos financeiros e de acesso. Portanto, depreendese que entre os pesquisados, mesmo ainda sendo expressiva a atuação profissional em clínicas privadas, há uma parcela que está se apercebendo das transformações do mercado de trabalho e, por isso, investindo nas possibilidades que o serviço público tem descortinado, fazendo com que haja um crescimento da busca por cursos de especialização voltados às necessidades do serviço público. No tocante à formação profissional, observou-se que grande parte dos pesquisados realizou sua graduação em instituições de Santa Catarina o que fortalece a importância do papel das universidades catarinenses no processo de formação do cirurgião-dentista. O modelo de prática odontológica, em nosso país, ainda está apoiado no paradigma biomédico, pois a maioria trabalha sozinha ou com auxiliar, em consultório, na rede privada, de forma individualizada, executando procedimentos clínicos cirúrgico-restauradores. No entanto, já se tem indicadores de que este tipo de formação pouco tem contribuído para a melhoria do quadro de saúde bucal da população brasileira11. As mudanças decorrentes, em especial, da expansão do número de cursos de odontologia e da ampliação dos postos de trabalho no setor público, trouxeram novos valores à prática em saúde bucal e ao papel do profissional e questionaram aspectos ligados à especialização e à fragmentação do cuidado. É necessário, portanto, que o processo ensino-aprendizagem transponha a formação técnico-científica e se preocupe, também, em formar cidadãos com visão crítica, com uma compreensão ampliada do processo saúde-doença e do papel do dentista no campo da saúde11. Assim, os currículos devem favorecer a discussão sobre as reais condições do mercado de trabalho e as atuais necessidades da população brasileira. O modelo de prática identificado no grupo pesquisado, e também entre expressivo número de dentistas de outras regiões do país, tem influenciado significativamente na satisfação destes sujeitos. Sabe-se que o exercício profissional é influenciado por aspectos relacionados às habilidades e aptidões de quem o executa e, também, por fatores psicológicos e sociais. Por sua vez, este conjunto de fatores interfere no comportamento do profissional, traduzindose no que se denomina por satisfação profissional22. Para se analisar a satisfação profissional, foram considerados os aspectos referentes aos rendimentos e à prática vivenciada pelos CD´s desta pesquisa; isto porque se concebe como satisfação profissional o estado emocional resulta, apenas, de fatores financeiros e sociais20,22. Ela está fortemente relacionada a aspectos como desempenho profissional, qualidade de vida, saúde física e mental e com a autoestima do trabalhador 20,22 . No que se refere aos rendimentos, 45% dos CD´s brasileiros, em 2007, tinham uma renda média mensal entre R$ 1.000,00 e R$3.000,00 e 10% tinham a maior faixa de renda (mais de R$ 6.000,00)1. 14 Neto, M. U. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 7-17, jan/jun. 2012 Comparando-se estes dados com as informações fornecidas pelos sujeitos da amostra deste estudo, observa-se uma distribuição similar quanto às faixas de renda. Em consequência do retorno financeiro, que é tido como baixo por um considerável número de CD´s, identifica-se, tanto na literatura15,20,22 como entre os pesquisados, uma insatisfação quanto à remuneração auferida pela profissão. Já, a análise sobre a avaliação das atividades profissionais evidenciou que, apesar das dificuldades quanto ao mercado de trabalho, tanto no grupo investigado como em outras pesquisas3,13, há um significativo percentual de CD´s satisfeito com a profissão. positivo resultante do prazer que se tem com as experiências do trabalho e que não Dentre os que afirmaram não estar satisfeito, as principais justificativas relacionaram-se ao fato de o mercado de trabalho estar altamente competitivo e que não há uma valorização adequada por parte da sociedade. A percepção da maioria é de que a prática privada está em declínio, que ainda há pouca oferta de outras modalidades para o exercício profissional e que os postos de trabalho existentes oferecem salários não condizentes com a realidade. Identificou-se, também, intensa crítica aos serviços prestados pelas chamadas Clínicas Populares, as quais, geralmente, ofertam procedimentos de má qualidade por preços baixos, tornandose concorrentes desleais. Este tipo de atuação, segundo os pesquisados, leva a uma desvalorização da odontologia e a uma imagem negativa do dentista. Esta visão dos pesquisados é consistente com a literatura, pois a odontologia de natureza liberal e privada tornou-se instável, sujeita às oscilações de emprego e salários22. O crescimento descontrolado do número de profissionais contribui para o desequilíbrio do mercado, gerando duas problemáticas: uma de cunho quantitativo relacionada às relações de mercado (relação dentista/paciente) e outra de cunho qualitativo que se refere ao tipo de formação, envolvendo as competências profissionais1,2,7-15. Considerações finais A primeira reflexão, a título de síntese, refere-se ao fato de que o perfil do grupo investigado assemelha-se ao atual perfil do CD brasileiro, que foi identificado no trabalho de Morita et al.1. O grupo de CD’s de Santa Catarina que integraram a pesquisa se caracteriza por expressivo número de especialistas em área clínicocurativa, atuando prioritariamente como profissional autônomo, com pouca inserção no serviço público e com mais de um tipo de vínculo de trabalho. Este perfil pode ser considerado como um reflexo da prática odontológica embasada no modelo biomédico que orientou a formação de profissionais no início do século passado e que perdura até hoje. No entanto, este perfil vem sofrendo pressões em decorrência das mudanças na realidade da sociedade brasileira e que têm exercido influências na concepção da prática em saúde e no mercado de trabalho. Outro aspecto que merece destaque na caracterização do grupo é o contundente questionamento sobre a valorização da profissão e a necessidade de maior integração da classe. É indiscutível que o mercado mudou nestes últimos vinte anos, e continuará em constantes mudanças, portanto profissionais, agências formadoras e governo têm que acompanhar os desafios que são apontados por estas transformações. A busca, de forma articulada, por alternativas éticas, que facilitem o acesso e o ingresso a diferentes espaços de trabalho e favoreçam o exercício profissional de forma a gerar plena satisfação, deve ser constantemente fomentada desde o inicio do processo de formação do cirurgião-dentista. É imprescindível reconhecer e aceitar que o perfil do profissional necessário para atender às demandas da atualidade implica no domínio de conhecimentos abrangentes sobre o processo saúde-doença e pela integração a uma equipe de saúde. Este é um aspecto identificado entre os sujeitos da pesquisa, embora de forma ainda muito pouco frequente. As formas de atuação 15 Neto, M. U. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 7-17, jan/jun. 2012 profissional mostraram o desempenho de atividades concomitantes em diferentes contextos, do trabalho em parceria e da vinculação com o serviço público em Equipes de Saúde da Família, além da procura por cursos de especialização na área da saúde pública. Assim, o debate sobre o perfil do cirurgião-dentista deve ser pautado nas mudanças que ocorrem no mercado de trabalho, nas bases paradigmáticas que sustentam o ensino odontológico, nos saberes que atendam às necessidades apresentadas pela sociedade, na relação generalista versus especialista. Enfim, todos estes enfoques não podem ser descartados, eles são interdependentes e estão vinculados à satisfação do profissional. Agradecimentos - À Universidade do Vale do Itajaí, através da Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação, Extensão e Cultura (ProPPEC), pelo financiamento desta pesquisa, com recursos Programa de Bolsas de Iniciação Científica Artigo 170/Governo do Estado de Santa Catarina. - Ao Conselho Regional de Odontologia de Santa Catarina (CROSC), que através de seu Presidente à época da pesquisa, Dr. Sidnei José Garcia, apoiou a sua execução, viabilizando o envio do instrumento de coleta de dados. Referências 1. Morita MC, Haddad AE, Araújo ME. Perfil atual e tendências do cirurgiãodentista brasileiro. Maringá: Dental Press International; 2010. 2. América Latina tem 30% dos CDs do mundo. Jornal ABO nac. 2008 Nov-Dez [acesso Jul 20 2009];116. Disponível em: URL: http://www.abo.org.br/jornal/116/rede27. php. 3. Mialhe FL, Furuse R, Gonçalo CS. Perfil profissional de uma amostra de egressos da Faculdade de Odontologia de Piracicaba. UFES Rev Odontol 2008;10(2):31-6. 4. Michel-Crossato E. Análise conjuntural do mundo contemporâneo e sua relação com o mercado de trabalho odontológico. Odontologia e Sociedade 2008;10(2):2732. 5. Pereira AC, Mialhe FL, Pereira SM, Meneghim MC. O mercado de trabalho odontológico em saúde coletiva: possibilidades e discussões. Arq Odontol 2010;46(4):232-9. 6. Lucietto DA, Amâncio Filho A, Oliveira SP. Revisão e discussão sobre indicadores para a previsão de demanda por cirurgiões-dentistas no Brasil. Rev Fac Odontol 2008;49(3): 28-35. 7. Fuzo A, Longo L. Odontologia hoje: mercado saturado. Mas existem saídas. Rev Assoc Paul Cir Dent 2006;60(4):256-9. 8. Medeiros UV, Gandarão GC. Aspectos atuais do mercado de trabalho odontológico no Brasil. Rev ABO Nac 2009;16(6):351-55. 9. Paranhos LR, Ricci ID, Scanavini MA, Bérzin F, Ramos AL. Análise do mercado de trabalho odontológico na região do sul do Brasil. RFO UPF 2009;14(1):7-13. 10. Junqueira CR, Ramos DLP, Rode SM. Considerações sobre o mercado de trabalho em Odontologia. Rev Paul Odontol 2005;27(4):24-7. 11. Reibnitz Júnior C, Caetano JC, Prado ML. A contribuição do trabalho odontológico na resolução de problemas de saúde da população: a concepção de alunos de Odontologia. Rev Physis 2009;19(1):189-206. 16 Neto, M. U. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 7-17, jan/jun. 2012 12. Lubiana NF. Menos profissionais e mais promoção de saúde bucal. Jornal ABO nac. [on line] 2009 Mar-Abr [acesso 2009 Jul 20]; 118. Disponível em: URL: http://www.abo.org.br/jornal/118/editoria l.php. 13. Conselho Regional de Odontologia de Santa Catarina (CRO/SC). Dados sobre profissionais inscritos no CRO/SC. 2009. [acesso 2009 Nov 9]. Disponível em: URL: http://www.crosc.org. 14. D´Avila S, Oliveira PAP, Lucas RSCC, Souza EA. Assistência odontológica x planos de saúde: um estudo em Campina Grande, Paraíba, Brasil. Pesquisa Bras Odontopediatria Clín Integr 2007;7(3):259-63. 15. Galassi MS, Santos PL, Scannavino FLF. Expectativas do cirurgião-dentista em relação ao mercado de trabalho. Rev Assoc Paul Cir Dent 2004;58(1):67-70. 16. Campos JADB, Garcia PPNS. Odontologia X mercado de trabalho. Rev Paul Odontol 2004;26(2)30-1. 18. Garbin CAS, Saliba NA, Moimaz SAS, Santos KT. O papel das universidades na formação de profissionais na área da saúde. Rev ABENO 2006;6(1):6-10. 19. Ponte TM, Zaitter WM, Biazevic MGH, Crosato EM. Prática odontológica: perfil dos cirurgiões-dentistas que exercem suas atividades em empresa do setor privado – São Paulo, 2008. RSBO 2009;6(3):26571. 20. Ponte TM. Satisfação profissional: perfil dos cirurgiões-dentistas que exercem suas atividades em empresa do setor privado [dissertação]. São Paulo (SP): Faculdade de Odontologia da USP; 2009. 21. Paranhos LR, Ricci ID, Bittar TO, Scanavini MA, Ramos AL. Análise do mercado de trabalho odontológico na região Centro-Oeste do Brasil. Robrac 2009;18(45):48-55. 22. Mialhe FL, Gonçalo CS, Furuse R. Satisfação profissional de uma amostra de cirurgiões-dentistas. Odontologia Clín-Científ 2008;7(2):139-43. 17. Carvalho ACP. Ensino de especialização: redirecionamento acadêmico. Rev ABENO 2005;5(2):125-9. 17 Brunetta, M. E. F. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 18-26, jan/jun. 2012 ESTRATÉGIAS DE PREVENÇÃO PARA OBESIDADE INFANTIL NO CONTEXTO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA EM SAÚDE* [Strategies for prevention of childhood obesity in the context of primary health care] Maria Elizia Fornari Brunetta1; Gabriela Marcelino de Mello Lanzoni2; Caroline Cechinel3. Resumo: O estudo trata de uma revisão bibliográfica, cujo objetivo foi identificar estratégias de combate e prevenção da obesidade infantil na Atenção Primária à Saúde, e identificar suas causas e consequências. Os resultados demonstram que a obesidade é uma das enfermidades nutricionais que mais têm apresentado aumento em sua prevalência. Em relação aos fatores biológicos relacionados com o desenvolvimento da doença na infância, foram identificados o desmame precoce, introdução de alimentos inadequados com alto teor calórico e a inatividade física. O tratamento exige a atuação de uma equipe multiprofissional e recomenda práticas interdisciplinares. Palavras-chave: obesidade; atenção primária à saúde; desenvolvimento infantil; prevenção primária; comunicação interdisciplinar. Abstract: The study is a literature review which the objective was to investigate strategies to combat and prevent childhood obesity in the Primary Health Care, and identify its causes and consequences. The results show obesity is one of the most nutritional diseases have shown an increase in prevalence. With regard to biological factors related to the development of disease in childhood, were identified early weaning, introduction of inappropriate foods with high calorie and physical inactivity. The treatment requires the action of a multidisciplinary team and recommended interdisciplinary practices. Keywords: obesity; primary health care; child development; primary prevention; interdisciplinary communication. Além disso, a infância é um importante período para o desenvolvimento do estilo de vida do indivíduo, uma vez que Introdução os comportamentos adquiridos nesta fase A obesidade é um distúrbio crônico, podem ser perpetuados para o resto da vida. cuja prevalência encontra-se em ascensão, Hábitos assumidos pelos pais tendem a serem tornando-se cada vez mais comum entre os repetidos pelas crianças, demonstrando a infantes. A obesidade infantil vem ganhando importância da conscientização daqueles, atenção devido aos riscos associados, dentre bem como a influência das escolas em boas os cardiovasculares, músculo-esqueléticos, práticas alimentares, reforçando a respiratórios e metabólicos, configurando um intervenção sobre a prática de uma importante problema de saúde pública1-2-3. alimentação saudável. ____________________ * Trabalho de Conclusão de Curso. Especialização em Saúde da Família, modalidade à distância. Maria Elizia Fornari Brunetta. Florianópolis / SC. Universidade Federal de Santa Catarina. 2011. 1 Médica. Especialista em Saúde da Família. Universidade Federal de Santa Catarina. [email protected] 1 Enfermeira. Doutoranda em Enfermagem. Universidade Federal de Santa Catarina. [email protected] 1 Enfermeira. Mestranda em Saúde Coletiva. Universidade Federal de Santa Catarina. [email protected] 18 Brunetta, M. E. F. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 18-26, jan/jun. 2012 A prevenção e o diagnóstico precoce da obesidade são importantes aspectos para a promoção da saúde e redução de morbimortalidade, não só por ser um fator de risco importante para outras doenças, mas também por interferir na duração e qualidade de vida, e ainda ter implicações diretas na aceitação social da criança obesa. A obesidade é um dos fatores de risco mais importantes para outras doenças não transmissíveis, com destaque especial para o diabetes e agravos cardiovasculares. Demonstra-se que pessoas obesas morrem mais de doenças do aparelho circulatório do que indivíduos com peso normal5. Além dos riscos somáticos associados à obesidade, a doença ainda pode levar à dificuldade de interação social, levando a um sentimento de inferiorização do indivíduo6. Nesse contexto, a Atenção Primária em Saúde (APS) apresenta-se como importante instrumento para alcance desta população, a fim de promover a saúde destes indivíduos em risco, prevenir e combater a doença e minimizar os agravos por ela proporcionados. A equipe interdisciplinar atuante neste nível de atenção à saúde é orientada para orientar a população quanto à importância do autocuidado, e instruir e facilitar o enfrentamento do processo saúdedoença por meio de ações educativas, que integram os saberes de todos os profissionais envolvidos, bem como respeite os conhecimentos populares demonstrados pela população. Além disso, uma assistência interdisciplinar prioriza um atendimento preventivista, valorizando a promoção da saúde bem como a prevenção da doença e seus agravos7. Para avaliação do estado nutricional de crianças, utiliza-se como referência a população do National Center for Health and Statistics – NCHC (1977), recomendada pela WHO (1955), o percentil (P), pois as crianças em condições adequadas de saúde têm crescimento semelhante em diferentes etnias8. Nesse sentido, o panorama epidemiológico mundial da obesidade infantil tem se revelado como um novo desafio para a saúde pública. Evidencia-se um aumento da prevalência da obesidade em caráter de pandemia, tendo seu número triplicado nos últimos 30 anos na realidade brasileira, apresentando, além disso, um aparecimento cada vez mais precoce9. Países latinos, que tiveram rápido desenvolvimento econômico nas últimas décadas, apresentaram diminuição da prevalência da desnutrição em contraponto ao aumento da prevalência da obesidade infantil9. O Brasil também se encontra em um período de transição nutricional, possuindo características tanto de desnutrição quanto de obesidade. Segundo um estudo multicêntrico realizado no município de Marialva, Paraná, Brasil, a partir dos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a prevalência de obesidade chega a 11,9% na região Sudeste do país2. Com o advento do Sistema Único de Saúde (SUS) foi criada a Política de Alimentação e Nutrição, a partir da qual foi ampliado e aperfeiçoado o Sistema de Vigilância Alimentar e nutricional (SISVAN). O SISVAN é responsável pelo monitoramento, análise e a divulgação de dados sobre a situação alimentar e nutricional de dada população e por estender sua cobertura a todo o país10. Em virtude das consequências que a obesidade infantil pode acarretar na vida adulta e os riscos destes agravos para a qualidade de vida do indivíduo, é reconhecida a importância de estudos que contemplem a abordagem do assunto. A partir destas percepções, viu-se a necessidade de uma revisão bibliográfica da prevalência da obesidade entre escolares e adolescentes visando conhecer a magnitude do problema em nosso meio, para a busca de soluções preventivas, evitando o aumento da morbimortalidade em pessoas jovens devido a esta causa. Assim, este estudo tem como objetivo identificar causas e consequências da obesidade infantil e traçar possíveis estratégias de combate e prevenção a este agravo no âmbito da APS. 19 Brunetta, M. E. F. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 18-26, jan/jun. 2012 Metodologia Para atingir o objetivo proposto, utilizou-se uma revisão bibliográfica. Adotou-se a Revisão Integrativa de Literatura, que permite a sumarização de pesquisas anteriores e possibilita que sejam estabelecidas conclusões a partir da avaliação crítica do delineamento das pesquisas, apresentando a síntese das evidências disponíveis acerca do tema investigado11. As etapas percorridas para operacionalização desta revisão contemplam: identificação do problema, elaboração de um protocolo de pesquisa, definição das informações a serem extraídas dos artigos selecionados, seleção dos estudos, análise, apresentação e discussão dos resultados11-12. Foram definidos critérios para a coleta de dados, análise e apresentação dos resultados desde o início do estudo, a partir de um protocolo de pesquisa previamente elaborado e validado. A busca pela literatura ocorreu no mês de janeiro de 2011 no site da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), que inclui as bases: Literatura Latino-americana em Ciências da Saúde (LILACS), Índice Bibliográfico Espanhol em Ciências da Saúde (IBECS), Biblioteca Científica Eletrônica Online (SciELO), Literatura do Caribe em Ciências da Saúde (MedCARIB), Saúde na Adolescência (ADOLEC), Literatura Internacional em Ciências da Saúde (MEDLINE) e Biblioteca Cochrane. Os termos de busca foram selecionados a partir da terminologia em saúde consultada nos Descritores em Ciências da Saúde (DECS-BIREME), sendo incluídos estudos que continham os descritores: Obesidade AND Atenção Primária à Saúde, nos idiomas português e espanhol, disponíveis gratuitamente no formato completo, sem limite de tempo. Foi excluída, automaticamente, toda produção duplicada, cartas, editoriais, e produção não relacionada com o escopo do estudo. De um universo de 615 estudos localizados, 106 estavam disponíveis no formato completo e somente 24 nos idiomas português e espanhol. A partir destas 24 produções científicas foi realizada a captação, a leitura flutuante dos resumos e texto completo e, considerando o critério de pertinência e consistência do conteúdo, sendo selecionados sete estudos completos para análise mais aprofundada. Para a extração dos dados dos estudos selecionados, foi elaborado um instrumento em formato de tabela contendo colunas discriminando as seguintes informações: autores, título do estudo, ano de publicação, periódico, país, população de sujeitos, cenário e principais estratégias utilizadas pelas equipes. A análise dos dados ocorreu a partir da agregação das informações e conceitos conforme a identificação de semelhanças e diferenças compondo um achado que foi interpretado e sustentado com literaturas pertinentes. Resultados Foram selecionados sete estudos, originados de periódicos brasileiros e espanhóis, dentre os anos de 2004 a 2009, conforme apresenta a Figura 1. Quanto ao tipo de pesquisa, quatro (57%) estudos caracterizavam-se como revisão de literatura, dois (28%) artigos como pesquisa original, e um (15%) como colaboração especial. O público alvo das pesquisas originais foram médicos pediatras no primeiro estudo, e adolescentes no segundo. 20 Brunetta, M. E. F. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 18-26, jan/jun. 2012 Figura 1 Relação dos artigos selecionados segundo autor, título, ano de publicação, periódico e país. Autor Título Ano Periódico País Mello ED, Luft Obesidade infantil: como 2004 Jornal de Pediatria Brasil VC, Meyer F podemos ser eficazes Prevención y tratamiento de la Revista Española Alustiza E, obesidad infantil em atención 2004 de Nutrición Espanha Aranceta J primaria Comunitária Revista de Prevención de la obesidad Revuelta JC 2005 Pediatria em Espanha infantil Atención Primaria Garcinuño AC, Obesidad infantil: opiniones y García IP, 2008 Gaceta Sanitaria Espanha actitudes de los pediatras Alonso Ic Estratégias para prevenção da Sichieri R, Caderno de Saúde obesidade em crianças e 2008 Brasil Souza AR Pùblica adolescentes Ribeiro IC, Fatores de risco para sobrepeso Revista de Colugnati FAB, entre adolescentes: análise de três 2009 Brasil Nutrição Taddei JAAC cidades brasileiras La participación social como Herrera JCS, estrategia central de la nutrición Revista Española Juan JJO, comunitaria para afrontar los 2009 Espanha de Salud Publica Majem LS retos asociados a la transición nutricional É consenso na literatura selecionada que a obesidade infantil é um problema de saúde pública que vem em crescente aumento. A identificação das estratégias utilizadas pelas equipes de saúde como combate ao aumento da incidência e prevalência dessa doença se faz ainda mais necessário na assistência à saúde na APS. Os estudos selecionados apresentam que as principais estratégias utilizadas pela equipe são: intervenções dietéticas13-14, prática de atividade física regular13-14, educação nutricional13-14-15-16, redução do 13-17 sedentarismo , integração dos pais e comunidade13-15-16-17-18-19 e incentivo à amamentação14-16-17-18. Os principais obstáculos encontrados foram: hábitos sedentários13-17-19, aumento da ingestão de calorias15-17-19, obesidade dos genitores17-18, tempo de sono inferior a 7hs por noite16-18, baixa escolaridade dos pais16, e baixo nível sócio econômico18. Dentre as conseqüências deste agravo, podemos citar: transtornos depressivos, baixa auto-estima, hipertensão arterial, diabetes, dislipidemias, apnéia do sono, asma, esteatose hepática, refluxo gastroesofágico, ovário policístico, colelitíase, dentre outros18. Discussão Destaca-se, inicialmente, o número pouco expressivo de estudos sobre o tema nos idiomas português e espanhol, tendo em vista a relevância epidemiológica e impacto social na vida das pessoas. Verifica-se que as intervenções abordam uma fração muito pequena dos fatores que geram a obesidade infantil. Aspectos importantes, como o papel da indústria de alimentos, das propagandas, de um estilo de vida que mantém crianças cada vez mais sedentárias e submetidas a um hiperconsumo calórico, vêm sendo pouco abordado nos desenhos de estudos tradicionais4. O padrão de consumo alimentar atual está baseado na ingestão excessiva de alimentos altamente energéticos e pobres em 21 Brunetta, M. E. F. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 18-26, jan/jun. 2012 fibras e micronutrientes. Os principais responsáveis pelo aumento acelerado da obesidade infantil no mundo e em nosso país estão relacionados ao ambiente e às mudanças do modo de vida, sendo, portanto, passíveis de intervenção, demandando ações no âmbito individual e coletivo20. A literatura aceita a intervenção de causas multifatoriais sobre a gênese da obesidade, destacando-se os fatores genéticos, ambientais, comportamentais e socioculturais. Também há consenso sobre a predominância da doença entre as classes sociais mais ricas da população, o que corrobora com a maior prevalência da doença no Sul e Sudeste do país20. Para um atendimento que contemple as múltiplas abordagens necessárias para prevenção e tratamento dessa doença, faz-se necessário uma equipe interdisciplinar a fim de se realizar um atendimento integral a este indivíduo. Os trabalhadores de saúde são os principais atores de uma prática de saúde exitosa, ao trabalharem em equipe, compartilhando objetivos de trabalho e complementando as lacunas existentes em uma atuação profissional isolada. Para tanto, faz-se necessária a atuação conjunta de profissionais como nutricionistas (dedicados à estruturação de dietas alimentares equilibradas), educadores físicos (atuantes na prática rotineira, cotidiana e natural de exercícios físicos), professores (supervisores dos hábitos alimentares no período em que as crianças permanecem na escola), psicólogos (intervindo quando há fatores psicológicos intrínsecos à obesidade), e médicos e enfermeiros, principais atores no desenvolvimento de promoção da saúde, uma vez que os processos de trabalho destes dois profissionais têm uma articulação direta na equipe de saúde. A relação destas profissões deve sustentar-se na cooperação e troca, articulando saberes e fazeres21. O modelo de atenção à saúde está fragmentado, no qual cada profissional realiza uma parte do cuidado, sendo apontado como um dificultador na assistência, diminuindo a satisfação dos profissionais, e consequentemente do usuário. A ciência entende que o cuidado em saúde é de tamanha complexidade que ultrapassa os limites de conhecimento de uma única profissão, necessitando da interação das diferentes áreas de conhecimento para uma atenção integral21. A APS intenta contemplar a integralidade, ao desenvolver um conjunto de ações que abrangem promoção de saúde, prevenção, diagnóstico, tratamento e reabilitação de doenças e agravos. No que diz respeito à prevenção e acompanhamento da obesidade na infância, a possibilidade de apoio interdisciplinar neste nível da atenção pode representar um avanço, pois as equipes teriam suporte de profissionais de diferentes áreas, dentre enfermeiros, médicos, psicólogos, nutricionistas, educadores físicos, além da possibilidade de acesso por parte do usuário às atividades físicas e práticas corporais, essenciais para a promoção da saúde através do peso saudável e prevenção da obesidade22. A possibilidade de criação de vínculo com o usuário e família no contexto da APS pode ser um potencial no cuidado à obesidade infantil, pois se verificou que os pais exercem uma forte influência sobre a ingestão de alimentos pelas crianças. Evidencia-se a relação da obesidade com o menor conteúdo proteico do leite humano, a menor capacidade de autorregulação da ingestão energética, percebendo-se maior possibilidade de formação de hábitos alimentares variados pelas crianças amamentadas com o leite materno. A longo prazo, tem-se observado a redução de obesidade, hipertensão arterial, dislipidemias, diabetes e câncer, naqueles indivíduos que receberam este alimento23. Com relação às cantinas escolares, a avaliação dos cardápios averiguou preparações diferentes na merenda escolar, porém ricas em carboidratos e açúcares, evidenciando importante déficit nutricional. Constatou-se que a proporção de crianças e adolescentes com obesidade e sobrepeso é elevada, sendo necessário o desenvolvimento de medidas de prevenção e controle do excesso de peso neste grupo etário através da 22 Brunetta, M. E. F. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 18-26, jan/jun. 2012 instituição escolar, com orientação e elaboração de uma dieta equilibrada, mas também através dos pais ou responsáveis pelas crianças, por influenciarem diretamente nos hábitos de vida24-25. Pode-se observar que as principais mudanças estão relacionadas à dimensão biológica, com foco na ingestão alimentar e exercício. As ações de promoção da saúde e de uma alimentação saudável envolvem o fortalecimento político dos diferentes grupos para que possam pressionar pela garantia de todos esses direitos: acesso ao alimento e a uma alimentação saudável, acesso à informação, à atenção à saúde, e aos bens e serviços públicos essenciais24-26. Deve-se desmistificar a idéia de que tudo o que é gostoso engorda e é caro, apresentando-se alternativas, e possibilitando que o usuário descubra o quanto uma alimentação rica em alimentos de baixa densidade calórica como frutas, legumes e verduras, cereais integrais, leite e derivados, carnes magras, podem ser saborosos, mantendo-se o mesmo orçamento familiar27. Dentre as recomendações da Organização Mundial de Saúde para a prevenção da obesidade e de outras doenças associadas à alimentação, no atual contexto de aumento de consumo de produtos industrializados e diminuição de consumo de alimentos in natura ou minimamente processados, estão: buscar o balanço energético e o peso saudável; limitar o consumo de gorduras; aumentar o consumo de frutas, legumes e verduras, cereais integrais e oleaginosas, limitar o consumo de açúcares livres, e limitar o consumo de sal28. A prática regular de atividades físicas proporciona uma série de benefícios, como aumento da autoestima e o bem-estar, alívio do estresse, estímulo do convívio social, melhora da força muscular, fortalecimento dos ossos e melhora do funcionamento do sistema imunológico. A atividade física regular combinada com a alimentação saudável promove uma maior redução no peso corporal quando em comparação com o controle da alimentação da forma isolada, além de aumentar a perda de gordura, preservar a massa magra e diminuir o depósito de gordura visceral24-29-30. Ainda, a literatura indica como estratégias empregadas pelos profissionais da APS: articular atores sociais locais com vistas à integração de ações para promoção da segurança alimentar e nutricional; coletar e analisar as informações sobre vigilância alimentar e nutricional; monitorar a situação nutricional da população adstrita com base nos indicadores; participar no desenvolvimento de ações de promoção de práticas alimentares e estilo de vida saudáveis; conhecer e estimular a produção e consumo de alimentos saudáveis produzidos regionalmente; promover a articulação intersetorial para viabilizar o cultivo de hortas comunitárias; elaborar e divulgar material educativo e informativo sobre alimentação e nutrição com ênfase nas práticas alimentares saudáveis; promover ações de segurança alimentar e nutricional no âmbito domiciliar, práticas seguras de manipulação, preparo e acondicionamento de alimentos; promover a orientação para o uso de rotulagem nutricional como instrumento de seleção de alimentos; elaborar rotinas de atendimento para crianças obesas31. Assim, a equipe multiprofissional tem papel importante, pois deve desenvolver ações de incentivo e apoio à adoção de hábitos alimentares e à prática regular da atividade física. As práticas educativas em saúde devem ter como eixos centrais a promoção de saúde, compreendida como promoção da qualidade de vida e da cidadania, e o incentivo à adoção de padrões alimentares sustentáveis e que preservem a saúde, a cultura, o prazer de comer, a vida, os recursos naturais e a dignidade humana32. A organização de sistemas integrados dos serviços de saúde a partir de uma rede regionalizada e hierarquizada possibilita atenção de melhor qualidade e mais direcionada a responder às necessidades de saúde da população. Porém, a constituição de um sistema integrado, que facilite o acesso e permita a continuidade do cuidado, melhorando a comunicação entre profissionais da APS com especialistas e com 23 Brunetta, M. E. F. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 18-26, jan/jun. 2012 serviços de emergência, assim como melhor articulação entre as ações com enfoque coletivo e as atividades clínicas individuais, garantindo atenção integral, ainda é um desafio33. Um dos principais desafios atuais para a qualificação da APS é a necessidade de avançar na integralidade e na resolubilidade da atenção. Muitos municípios já vêm desenvolvendo experiências no sentido de implementar ações para além das áreas estratégicas mínimas preconizadas. Há municípios que integraram profissionais de saúde mental e de reabilitação, nutricionistas, assistentes sociais, dentre outros, ao trabalho das equipes de saúde da família. Essas equipes realizam também atividades físicas e práticas corporais voltadas para a promoção da saúde. A partir dessas experiências, o Ministério da Saúde vem trabalhando no sentido de elaborar diretrizes para a inclusão dessas ações e desses profissionais no âmbito da Estratégia de Saúde da Família, com o objetivo de avançar na qualificação das atividades das equipes, efetivando ações que vão da promoção à reabilitação, fundamentais para a garantia da integralidade34. Conclusão O conjunto de transformações econômicas, sociais e demográficas ocorridas nas últimas décadas, em consequência da modernização e urbanização crescentes, alteraram os padrões nutricionais da população. Houve um aumento da prevalência de sobrepeso e obesidade e uma diminuição da incidência de desnutrição, caracterizando um período de transição nutricional em nosso país. Este fato torna-se mais preocupante uma vez que o estilo de vida sedentário associado ao padrão alimentar inadequado coloca em risco o desenvolvimento das crianças. O aumento da prevalência da obesidade infantil é alarmante, constituindose um grave problema de saúde pública. As abordagens utilizadas para enfrentamento desta doença demandam a mobilização de todos os profissionais envolvidos nos processos de promoção da saúde, prevenção, e reabilitação de doenças e agravos. Dessa forma, a assistência integral aos indivíduos portadores desta doença exige um atendimento interdisciplinar, tendo em vista sua multifatorialidade. Devido às consequências da doença e comorbidades associadas, faz-se necessária a implementação de uma série de medidas para inserção de alimentos saudáveis no cotidiano da população, que podem ser efetivadas com uma atuação interdisciplinar no cotidiano dos infantes, considerando o contexto socioeconômico e cultural da família. Fortalecer as ações de promoção da saúde, com destaque para a promoção da alimentação saudável, representa aumentar a efetividade dos investimentos em saúde e nutrição e diminuir a morbimortalidade relacionada com a obesidade e o sobrepeso. Para tanto, percebe-se a necessidade da atuação de equipes multiprofissionais na APS, fortalecendo hábitos de vida saudáveis, haja vista sua inserção no contexto da família e maior proximidade com os usuários. Devido à escassez de estudos científicos que abordam a temática direcionada a esta população, sabe-se que a utilização de uma dieta balanceada e a prática de atividade física regular, muitas vezes incluídas em brincadeiras de infâncias é de fundamental importância para o desenvolvimento saudável de crianças e adolescentes. Dessa forma, a equipe multidisciplinar tem papel particularmente importante no compartilhamento destes hábitos com família. Os avanços das políticas de saúde são importantes iniciativas, uma vez que, como pesquisadores e profissionais da saúde coletiva, consideramos a saúde como um bem maior, integrada e interdependente com os demais setores da sociedade. Neste sentido, o vínculo que a Unidade Básica de Saúde possui com a comunidade pode potencializar a efetividade das atividades de promoção da saúde, prevenção e tratamento da doença. 24 Brunetta, M. E. F. et al. Referências Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 18-26, jan/jun. 2012 matriculadas em escolas particulares no município de São Paulo. Rev bra crescimento desenvolv hum 2009;19(2):211-8. 1. Alves LMM, Yagui CM, Rodrigues CS, Mazzo A, Rangel EML, Girão FB. Obesidade infantil ontem e hoje: importância da avaliação antropométrica 10. Ministério da Saúde. Política Nacional de Alimentação e Nutrição. Brasília: pelo enfermeiro. Esc Anna Nery Ministério da Saúde; 2003. 2011;15(2):238-44. 2. Mello AD, Marcon SS, Hulsmeyer AP, 11. Ganong L. Integrative Reviews of Nursing. Rev Nurs Health 1987;10(1):1Cattai GB, Ayres CS, Santana RG. 11. Prevalência de sobrepeso e obesidade em crianças de seis a dez anos de escolas 12. Whittemore R, Knafl K. The integrative municipais de área urbana. Rev Paul review: updated methodology. Journal of Pediatr 2010;28(1):48-54. Advanced Nursing 2005;52(5):546–53. 3. Murillo OO, Rey MCPA. Panorama de 13. Garcinuño AC, García IP, Alonso IC. prácticas de alimentación de adolescentes Obesidad infantil: opiniones y actitudes de escolarizados. Av Enferm 2009;27(2):43los pediatras. Gac Sanit 2008;22(2):10756. 15. 4. Souza EA, Barbosa-Filho VC, Nogueira 14. Alustiza E, Bartrina JA. Prevención y JAD, Azevedo-Junior MR. Atividade tratamiento de la obesidad infantil en física e alimentação saudável em escolares atención primaria. Rev Esp Nutr brasileiros: revisão de programas de Comunitária 2004;10(4):192-6. intervenção. Cad Saúde Pública 2011;27(8):1459-71. 15. Schieri R, Souza RA. Estratégias para prevenção da obesidade em crianças e 5. Campos GW, Barros RB, Castro AM. adolescentes. Cad de Saúde Pública Avaliação de política nacional de 2008;24(2);244-56. promoção da saúde. Ciênc Saúde Coletiva 2004;9(3):745-9. 16. Ribeiro IC, Colugnati FAB, Taddei JAAC. Fatores de risco para sobrepeso 6. Mishima FKT, Barbieri V. O brincar entre adolescentes: análise de três cidades criativo e a obesidade infantil. Estud brasileiras. Rev Nutr 2009;22(4):252-60. psicol 2009;14(3):249-55. 17. Mello E, Luft V, Meyer F. Obesidade 7. Cervera DPP, Parreira BDM, Goulart BF. infantil: como podemos ser eficazes? J Educação em saúde: percepção dos Pediatr 2004;80(3):173-82. enfermeiros da atenção básica em Uberaba (MG). Ciênc Saúde Coletiva 18. Revuelta JC. Prevención de la obesidad 2011;16 suppl.1:1547-54. infantil. Rev Pediatr Aten Prim 2005;5(26):255-75. 8. Onis M, Onyango A W, Borghi E, Siyam A, Nishida C, Siekmann J. Development 19. Suárez-Herrera JC, Juan JJO, Serraof a WHO growth reference for schoolMajem L. La participación social como aged children and adolescents. Bull World estratégia central de la nutrición Health Organ. 2007;85(9):660-7 comunitária para afrontar los retos asociados a la transición nutricional. Rev 9. Simon VGN, Souza JMP, Leone C, Souza Esp Salud Pública 2009;83(6):383-93. SB. Prevalência de sobrepeso e obesidade em crianças de dois a seis anos 25 Brunetta, M. E. F. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 18-26, jan/jun. 2012 20. Jesus G, Vieira G, Vieira T, Martins CC, 27. Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Mendes CMC, Castelão E. Fatores Janeiro. Projeto com Gosto da Saúde: determinantes do sobrepeso em crianças cartilha distúrbios nutricionais. Rio de menores de 4 anos de idade. J Pediat Janeiro, 2005. 2010;86(4):311-6. 28. Food and Agriculture Organization 21. Matos E, Pires DEP, Campos GWS. (FAO). Organização Mundial de Saúde Relações de trabalho em equipes (OMS). ONU. Necessidades de energia e interdisciplinares: contribuições para proteína. Genebra: Editora Roca; 1998. novas formas de organização do trabalho em saúde. Rev bras enferm 29. Ministério da Saúde. Hipertensão arterial sistêmica e diabetes mellitus. Brasília: 2010;63(5):775-81. Ministério da Saúde; 2001. 22. Sala A, Luppi CG, Simões O, Marsiglia RG. Integralidade e Atenção Primária à 30. Matsudo V. Atividade física, saúde e nutrição. Revista Saúde em foco Saúde: avaliação na perspectiva dos 1999;8(18);23-8. usuários de unidades de saúde do município de São Paulo. Saude soc 31. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de 2011;20(4):948-60. Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Obesidade. Brasília: 23. Novaes JF, Lamounier JA, Franceschini Ministério da Saúde; 2006. SCC, Priore SE. Efeitos a curto e longo prazo do aleitamento materno na saúde 32. Boog MCF. Contribuição da educação infantil. Nutrire Rev Soc Bras Aliment nutricional à construção da segurança Nutr 2009;34(2):139-60. alimentar. Saúde Rev 2004;13(6)17-23. 24. Silva MJ, Sousa EM, Freitas CL. 33. Giovanella L, Escorel S, Mendonça MH. Formação em enfermagem: interface entre Porta de entrada pela atenção básica: as diretrizes curriculares e os conteúdos de Integração do PSF à rede de serviços de atenção básica. Rev bras enferm saúde. Saúde Debate 2003;65(27)278-89. 2011;64(2):315-21. 34. Ministério da Saúde. Análise da estratégia 25. Chaves MGAM, Marques MH, Dalpra JO, global para alimentação saudável, Rodrigues PA, Carvalho MF, Carvalho atividade física e saúde. Brasília: RF. Estudo da relação entre a alimentação Ministério da Saúde; 2004. escolar e a obesidade. HU Rev 2008;34(3)191-7. 26. Burlandy L. A construção da política de segurança alimentar e nutricional no Brasil: estratégias e desafios para a promoção da intersetorialidade no âmbito federal de governo. Ciênc Saúde Coletiva 2009;14(3):851-60. 2 Cunha, R. D. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 27-37, jan/jun. 2012 PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DOS PACIENTES COM DOENÇAS CONJUNTIVAIS ATENDIDOS EMERGENCIALMENTE NO SERVIÇO DE OFTALMOLOGIA DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA, NOS ANOS DE 2005 A 2010 [Epidemiological profile of patients with conjunctival diseases examined at the emergency room of the ophthalmology services clinic at the Federal University of Santa Catarina`s Hospital, in the years 2005 to 2010] Rodrigo Dall`Oglio da Cunha1; Augusto Adam Netto2; Cleyton Takaiti Shimono3; Ana Flávia Salai4; Lívia Souza de Oliveira5; Thales Simões Pires de Almeida6. Resumo: Este estudo teve como objetivo avaliar o perfil epidemiológico dos pacientes com doenças conjuntivais atendidos emergencialmente no ambulatório do Serviço de Oftalmologia do Hospital Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina. Foram avaliados dados referentes a 809 pacientes que tiveram, como diagnóstico único, alguma doença conjuntival. As doenças conjuntivais foram responsáveis por 37,5% dos atendimentos. A maioria dos pacientes procedeu de Florianópolis (77,4%). Houve predomínio de indivíduos do sexo feminino (58,3%) e da faixa etária entre os 15 e 29 anos. O diagnóstico mais frequente foi o de conjuntivite com 75,2% dos casos. Palavras-chave: Conjuntiva, conjuntivite, emergência. Abstract: This study aimed to evaluate the epidemiologic profile of patients with conjunctival diseases examined in the emergency room of the ophthalmology services clinic at the Federal University of Santa Catarina`s University Hospital. It was evaluated data from 809 patients who had, as a single diagnosis, some conjunctival disease. Conjunctival diseases were accounted for 37.5% of visits. Most held in Florianópolis patients (77.4%). It was identified a predominance of females (58.3%) and patients with ages between 15 and 29 years. The most frequent diagnosis was conjunctivitis with 75.2% of cases. Keywords: Conjunctiva, conjunctivitis, emergency. ___________________ 1 Aluno do 11º período do curso de graduação em Medicina da UFSC. E-mail: [email protected] 2 Professor titular da disciplina de oftalmologia do departamento de cirurgia do CCS/UFSC. Professor responsável pela disciplina de oftalmologia do módulo de sistemas sensoriais da UNISUL. Chefe do serviço de oftalmologia do HU/UFSC. E-mail: [email protected] 3 Aluno do 11º período do curso de graduação em Medicina da UFSC. E-mail: [email protected] 4 Aluna do 11º período do curso de graduação em Medicina da UFSC. E-mail: [email protected] 5 Aluna do 11º período do curso de graduação em Medicina da UFSC. E-mail: [email protected] 6 Aluno do 11º período do curso de graduação em Medicina da UFSC. E-mail: [email protected] 27 Cunha, R. D. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 27-37, jan/jun. 2012 Introdução A conjuntiva é uma membrana mucosa transparente e fina que reveste a superfície interna das pálpebras e a superfície anterior do globo ocular até o limbo.1,2 Dividida em três porções (conjuntiva palpebral, conjuntiva do fórnice e conjuntiva bulbar), ela forma uma barreira mecânica que protege a superfície do olho, permite movimentos independentes das pálpebras, fornece muco e lubrificação e contém tecido linfóide para proteção imunológica sendo, portanto, rica em vasos sanguíneos e linfáticos, bem como em células 3-7 imunocompetentes. Apesar desses mecanismos de defesa, o tecido conjuntival é sede de frequentes afecções, pois não somente está exposto a todos os tipos de irritantes exógenos e infecções e é suscetível a reações alérgicas, como também é comprometido com frequência em casos de afecções endógenas e distúrbios metabólicos.2,8 Apesar de existirem muitos serviços com emergências oftalmológicas em todo o país, há uma relativa escassez de investigações epidemiológicas realizadas em longo prazo no que diz respeito às doenças conjuntivais. As informações contidas nesta pesquisa podem ser importantes nas estratégias de gestão e planejamento para a prevenção e proteção das pessoas com essas afecções. Assim, objetivou-se com este estudo avaliar o perfil epidemiológico dos pacientes com doenças conjuntivais atendidos emergencialmente no ambulatório do Serviço de Oftalmologia do HU/UFSC entre janeiro de 2005 e dezembro de 2010 associando-o com o ano, mês, sexo, faixa etária, procedência, diagnóstico e estação do ano. Métodos Este é um estudo clínico, observacional, descritivo, transversal e retrospectivo, no qual foram abordadas as doenças conjuntivais diagnosticadas nos atendimentos, realizados em caráter emergencial, no ambulatório do Serviço de Oftalmologia do HU/UFSC. Foram avaliados dados referentes a 2.285 pacientes atendidos emergencialmente no período de tempo entre janeiro de 2005 e dezembro de 2010. Deste total foram excluídos 128 pacientes que não apresentavam todas as variáveis da pesquisa, portanto, o total dos pacientes, para efeitos de cálculo quantitativo, foi de 2.157. Obtiveram-se os dados mensalmente, através da revisão das agendas de consultas referentes aos atendimentos emergenciais diários realizados por médicos oftalmologistas do Serviço de Oftalmologia, arquivadas no Serviço de Prontuários do Paciente (SPP) do HU/UFSC. Os dados obtidos foram anotados em um protocolo contendo as seguintes variáveis dos pacientes: sexo, idade, cidade e bairro (somente de Florianópolis) de procedência e diagnóstico na data do atendimento. Foram selecionados então 809 pacientes que tiveram, como diagnóstico único, alguma doença conjuntival. Os dados foram digitados no programa Excel 2007® e posteriormente analisados no programa estatístico Stata 11.0®. Foi realizada a análise descritiva de todas as variáveis, apresentando frequências absolutas e relativas para as variáveis categóricas e medidas de tendência central e dispersão para as variáveis quantitativas. Foram testadas associações entre o desfecho e as variáveis explanatórias através do teste de hipóteses do Qui-Quadrado de Pearson, considerando nível de significância de 95% e um erro alfa de 5% para as associações encontradas, ou seja, foram consideradas significativas as diferenças com valor de p<0,05. Por fim, fez-se uso do Microsoft Excel 2007® e do Microsoft Word 2007® para confecção das tabelas e gráficos expostos ao longo do presente trabalho. Este trabalho foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos (CEPSH) da Pró-Reitoria de Pesquisa e Extensão da Universidade Federal de Santa Catarina, sendo aprovado sob processo de número 1993, em 30 de maio de 2011. 28 Cunha, R. D. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 27-37, jan/jun. 2012 Resultados O diagnóstico de doença conjuntival foi responsável por 809 consultas, representando 37,5% dos atendimentos oftalmológicos emergenciais. Porcentagem de atendimentos 22,4% 22,40% 14,8% 14,80% 17,6% 17,60% Os anos com maior número de atendimentos por doença conjuntival foram os anos de 2007 e 2010, com 181 atendimentos cada. O ano com menor número de consultas foi o ano de 2005, com 66 atendimentos. (Gráfico 1) 22,4% 22,40% 14,7% 14,70% 8,2% 8,20% 2010 (n=181) 2009 (n=120) 2008 (n=142) 2007 (n=181) 2006 (n=119) 2005 (n=66) Ano do atendimento Fonte: SPP do HU/UFSC no período de janeiro de 2005 a dezembro de 2010. Gráfico 1 – Distribuição, segundo o ano, dos atendimentos emergenciais com diagnóstico de doença conjuntival no Serviço de Oftalmologia do HU/UFSC. Outubro foi o mês com maior número de atendimentos por doença conjuntival (n=94), representando 11,6% das consultas em relação aos outros meses. Os meses com menor número de atendimentos foram os meses de janeiro e fevereiro com 6,6% e 6,3% dos atendimentos, respectivamente. Quanto à procedência, Florianópolis foi o município com o maior número de pacientes, representando 77,4% (n=626) das consultas. São José ficou em segundo lugar, com 11,1% (n=90) e Palhoça ficou em terceiro, com 4,8% (n=39). Os municípios de Biguaçu e Governador Celso Ramos, além de outros municípios do Estado de Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul, foram responsáveis por 6,7% das consultas (n=54). (Tabela 1) Tabela 1 – Distribuição das consultas emergenciais por doenças conjuntivais segundo o município de procedência dos pacientes atendidos no ambulatório do Serviço de Oftalmologia do HU/UFSC. Município Florianópolis São José Palhoça Biguaçu Governador Celso Ramos Outros* Total n 626 90 39 13 9 32 809 % 77,4 11,1 4,8 1,6 1,1 4,0 100 Fonte: SPP do HU/UFSC no período de janeiro de 2005 a dezembro de 2010. *Alfredo Wagner, Angelina,Curitibanos, Garopaba,Imbituba,Itapema, Laguna, Paulo Lopes, Tijucas, alguns municípios do Paraná e do Rio Grande do Sul. 29 Cunha, R. D. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 27-37, jan/jun. 2012 Os bairros de Florianópolis com a maior procedência de pacientes foram os bairros Trindade, com 12,7% de todas as consultas (n=103); Pantanal, com 6,8% (n=55); Saco dos Limões, com 6,3% (n=51); Córrego Grande, com 5,8% (n=47); Centro, com 4,0% (n=32) e Agronômica, com 3,3% (n=27). Outros bairros, mais afastados do HU/UFSC, foram responsáveis por valores menores que 3,1% das consultas cada (n<25). O diagnóstico de conjuntivite foi predominante, sendo responsável por 608 consultas, representando 75,2% dos atendimentos por doença conjuntival e 28,5% de todos os atendimentos emergenciais. Os outros diagnósticos de doença conjuntival em ordem decrescente de aparecimento foram: hemorragia subconjuntival com 10,3% (3,8% do total de atendimentos emergenciais), pterígio com 9,2% e pinguécula com 4,7%, sendo que os dois últimos somados representaram 5,2% de todos os atendimentos emergenciais. Isolando-se os diagnósticos de doença conjuntival, a conjuntivite bacteriana foi o diagnóstico mais encontrado, correspondendo a 35,0% (n=283) dos casos, seguida em ordem decrescente de pela conjuntivite alérgica, conjuntivite viral, hemorragia subconjuntival, pterígio, conjuntivite irritativa, pinguécula e conjuntivite traumática. O menor número de casos foi representado por granuloma conjuntival, laceração conjuntival, tumoração conjuntival, nevus conjuntival, cisto conjuntival e corpo estranho conjuntival, todos com um atendimento cada, que somados corresponderam a apenas 0,7%, sendo, por esse motivo, denominados como “outros”. (Tabela 2) Tabela 2 – Distribuição das doenças conjuntivais em pacientes atendidos emergencialmente no ambulatório do Serviço de Oftalmologia do HU/UFSC. % de atendimentos por % de atendimentos Diagnóstico de Doença n doença conjuntival emergenciais totais Conjuntival (n=809) (n=2.157) Conjuntivite bacteriana 283 35,0 13,1 Conjuntivite alérgica 169 20,9 7,8 Conjuntivite viral 104 12,9 4,8 Hemorragia 83 10,3 3,8 subconjuntival Pterígio 74 9,2 3,4 Conjuntivite irritativa 46 5,7 2,1 Pinguécula 38 4,7 1,8 Conjuntivite traumática 6 0,7 0,3 Outros* 6 0,7 0,3 Total 809 100 37,5 Fonte: SPP do HU/UFSC no período de janeiro de 2005 a dezembro de 2010. *cisto conjuntival, corpo estranho conjuntival, granuloma conjuntival, laceração conjuntival, nevus conjuntival etumoração conjuntival. Quanto ao sexo, houve predomínio do sexo feminino em relação ao masculino, com 472 pacientes (58,3%) e 337 pacientes (41,7%), respectivamente. Quando se analisou o sexo e o diagnóstico de doença conjuntival, apesar da amostra não ter externado valor estatisticamente significativo (p=0,155), observou-se um grande número de atendimentos com diagnóstico de conjuntivite alérgica no sexo feminino (n=114), representando mais que o dobro de atendimentos em relação ao sexo masculino (n=55). (Gráfico 2) 30 Número de atendimentos Cunha, R. D. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 27-37, jan/jun. 2012 180 160 140 120 100 80 60 40 20 0 Conjuntivite bacteriana Conjuntivite alérgica Conjuntivite viral Hemorragia subconjuntival Pterígio Conjuntivite irritativa Pinguécula Conjuntivite traumática Feminino Sexo Masculino Outros* p=0,155. Teste Qui-quadrado. Fonte: SPP do HU/UFSC no período de janeiro de 2005 a dezembro de 2010. *cisto conjuntival, corpo estranho conjuntival, granuloma conjuntival, laceração conjuntival, nevus conjuntival etumoração conjuntival. Gráfico 2 – Distribuição dos diagnósticos de doenças conjuntivais, segundo o sexo, em pacientes atendidos emergencialmente no ambulatório do Serviço de Oftalmologia do HU/UFSC. Em relação à idade, a faixa etária com o maior número de atendimentos diagnosticados como doença conjuntival foi entre os 15 e 29 anos, com 37,2% das consultas (n=301), seguida pela faixa etária entre os 40 e 49 anos, que correspondeu a 18,5% dos pacientes (n=150). A faixa etária entre os 15 e 29 anos foi a que apresentou o maior número diagnósticos de conjuntivite bacteriana (n=121), alérgica (n=60) e viral (n=50), correspondendo a 40,2%, 19,9% e 16,6% das consultas, respectivamente, nessa faixa etária (p<0,001). Na faixa etária entre os 0 e 14 anos a conjuntivite bacteriana foi responsável por 50,8% (n=31). (Gráfico 3) O diagnóstico de pinguécula teve frequência maior na faixa entre os 40 e 49 anos (n=13) e entre os 30 e 39 anos (n=9), sendo responsável por 8,7% e 7,5% dos atendimentos nessas faixas etárias, respectivamente (p<0,001). A incidência de pterígio também foi maior entre os 40 e 49 anos, com 20 casos, seguida pela faixa etária entre os 15 e 29 anos e entre os 30 e 39 anos, com 18 e 17 casos, respectivamente (p<0,001). A hemorragia subconjuntival teve maior incidência na faixa etária dos 40 aos 49 anos e dos 30 aos 39 anos, com 19 e 18 casos, respectivamente. Pôde-se observar que houve um grande número de casos de conjuntivite irritativa na faixa etária entre os 15 e 29 anos (n=25), representando mais do que o triplo de atendimentos em comparação às outras faixas etárias. (Gráfico 3) 31 Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 27-37, jan/jun. 2012 140 Conjuntivite bacteriana Número de atendimentos Cunha, R. D. et al. Conjuntivite alérgica 120 Conjuntivite viral 100 Hemorragia subconjuntival 80 Pterígio 60 Conjuntivite irritativa 40 Pinguécula 20 Conjuntivite traumática 0 0 a 14 15 a 29 30 a 39 Faixa 40 aetária 49 50 a 59 Outros* 60 a 69 70 ou mais p<0,001. Teste Qui-quadrado. Fonte: SPP do HU/UFSC no período de janeiro de 2005 a dezembro de 2010. *cisto conjuntival, corpo estranho conjuntival, granuloma conjuntival, laceração conjuntival, nevus conjuntival e tumoração conjuntival. Gráfico 3 – Distribuição dos diagnósticos de doenças conjuntivais, segundo a faixa etária, em pacientes atendidos emergencialmente no Serviço de Oftalmologia do HU/UFSC. Em relação ao ano dos diagnósticos de doenças conjuntivais, observou-se em 2007 o maior número de consultas diagnosticas como conjuntivite bacteriana, com 77 casos, representando 42,5% dos atendimentos por doença conjuntival nesse ano (p<0,001). Já no ano de 2010 observouse um grande aumento no número de atendimentos por conjuntivite viral, com 60 casos, representando 33,2% dos atendimentos nesse ano (p<0,001). (Gráfico 4) 90 Conjuntivite bacteriana Número de atendimentos 80 Conjuntivite alérgica 70 Conjuntivite viral 60 Hemorragia subconjuntival 50 40 Pterígio 30 Conjuntivite irritativa 20 Pinguécula 10 Conjuntivite traumática Outros* 0 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Ano p<0,001. Teste Qui-quadrado. Fonte: SPP do HU/UFSC no período de janeiro de 2005 a dezembro de 2010. *cisto conjuntival, corpo estranho conjuntival, granuloma conjuntival, laceração conjuntival, nevus conjuntival e tumoração conjuntival. Gráfico 4 – Distribuição dos diagnósticos de doenças conjuntivais, segundo o ano, em pacientes atendidos emergencialmente no Serviço de Oftalmologia do HU/UFSC. 32 Cunha, R. D. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 27-37, jan/jun. 2012 Número de atendimentos Quanto à estação do ano, a primavera foi período no qual se constatou o maior número de diagnósticos de doença conjuntival, com 244 atendimentos, seguida pelo inverno (n=202), outono (n=193) e verão (n=170). O maior número de casos diagnosticados como conjuntivite bacteriana foi durante a primavera (n=85) e outono (n=71). Já a conjuntivite alérgica foi mais prevalente durante a primavera (n=51) e inverno (n=49). A conjuntivite viral também teve índice maior durante a primavera (n=39). Porém, essa amostra não foi significativa, já que valor de “p” foi igual a 0,336. (Gráfico 5) 100 80 60 40 20 0 Verão Outono Inverno Primavera Estação do ano Conjuntivite bacteriana Conjuntivite alérgica Conjuntivite viral Hemorragia subconjuntival Pterígio Conjuntivite irritativa Pinguécula Conjuntivite traumática Outros* p=0,336. Teste Qui-quadrado. Fonte: SPP do HU/UFSC, no período de janeiro de 2005 a dezembro de 2010. *cisto conjuntival, corpo estranho conjuntival, granuloma conjuntival, laceração conjuntival, nevus conjuntival e tumoração conjuntival Gráfico 5 – Distribuição dos diagnósticos de doenças conjuntivais, segundo a estação do ano, no Serviço de Oftalmologia do HU/UFSC. Discussão Existem poucos estudos epidemiológicos, recentes e em longo prazo, no nosso país que analisam as doenças conjuntivais. O presente estudo avaliou os pacientes atendidos com diagnósticos de doenças conjuntivais entre janeiro de 2005 e dezembro de 2010, sendo esses responsáveis por uma porcentagem relevante de atendimentos, correspondendo a 37,5% das consultas oftalmológicas emergenciais. Adam Netto et al.9 em um estudo semelhante a este, entre os anos 2001 e 2004, mostraram resultado similar (33,4% dos atendimentos). Sandri et al.10 encontraram doenças conjuntivais em 35,0% das consultas. Pereira et al.11 encontraram doença conjuntival em 39,5% dos atendimentos. Esses estudos revelam que as doenças conjuntivais estão muito presentes em nosso meio. Em relação à procedência, 77,4% dos pacientes eram procedentes de Florianópolis. São José representou 11,1% das consultas e outros municípios da grande Florianópolis tiveram uma parcela bem inferior de atendimentos. Esses dados são semelhantes ao estudo de Adam Netto et al.9 Isso é decorrente do fato de São José possuir um Centro de Referência em Oftalmologia, com um Serviço de Emergência, o que atrai para esse local os pacientes de toda a Grande Florianópolis e principalmente dos municípios vizinhos. Observa-se, porém, que o número de atendimentos de pacientes procedentes de São José foi maior que o de outras cidades da região, provavelmente pelo fato desse município ser vizinho de Florianópolis e possuir uma população absoluta maior em comparação a outros municípios. 33 Cunha, R. D. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 27-37, jan/jun. 2012 Além disso, grande parte dos habitantes dessa cidade tem seu local de trabalho em Florianópolis, o que facilita seu acesso ao HU/UFSC. Quanto à distribuição de atendimentos nos bairros de Florianópolis, a maior procedência de pacientes foi dos bairros próximos ao HU/UFSC. Bairros mais afastados foram responsáveis por valores menores que 3,1% cada. Segundo Adam Netto et al.9, bairros mais afastados como Centro e Ingleses ocuparam o 4º e 6º lugar em atendimentos, com 4,7% e 4,2% das consultas, respectivamente. Fazendo-se uma análise mais otimista, isso pode estar refletindo a melhora da eficiência dos sistemas de atendimento primário de saúde dos locais mais afastados do HU/UFSC. Analisando-se o diagnóstico, as conjuntivites representaram 28,5% de todos os atendimentos emergenciais realizados no serviço de oftalmologia no período estudado. Esse número foi muito próximo ao de outras pesquisas.10-17 A literatura ainda descreve que a conjuntivite é a doença ocular mais comum, o que está de acordo a maioria dos estudos, porém, cabe frisar que, segundo essa mesma literatura, a epidemiologia das doenças externas oculares muitas vezes é discordante por ser geográfica e 7 endemicamente dependente. Provavelmente foi por esse motivo que a pesquisa de Sánchez et al.18 encontraram a conjuntivite em apenas 15,0% dos atendimentos em um hospital da Espanha. No presente estudo, a conjuntivite bacteriana, comparando-se com todos os atendimentos emergenciais, foi o diagnóstico que teve o maior índice de ocorrência (13,1%), seguida pela conjuntivite alérgica (7,8%) e viral (4,8%). Esse dado está de acordo com o estudo de Sandri et al.10, no qual observou-se que a conjuntivite bacteriana foi o principal diagnóstico de conjuntivite, correspondendo a 11,4% dos atendimentos, seguida pela conjuntivite alérgica com 7,4%. Já a literatura descreve que a conjuntivite bacteriana é uma causa relativamente incomum de conjuntivite, sendo a viral a etiologia infecciosa mais frequente.7 Foi o que apontou, por exemplo,o estudo de Carvalho et al.13 no qual a conjuntivite viral foi responsável por 24,4% dos casos, seguida pela conjuntivite alérgica com 2,7% e a bacteriana foi responsável por apenas 0,7% das consultas. Pierre Filho19 e Leonor et al.20 também encontraram predomínio de casos de conjuntivite viral em comparação com as outras conjuntivites. Podemos observar que a maioria das pesquisas anteriores relacionadas aos atendimentos emergenciais foram realizadas em um período curto de tempo e, por consequência, podem ter como viés o fato de que as conjuntivites (maioria das doenças conjuntivais) apresentarem-se dependentes da estação climática.5,7 O diagnóstico de hemorragia subconjuntival foi responsável por 3,8% de todas as consultas emergenciais. Campos Júnior15 encontrou resultado próximo (4,2%), assim como Sandri et al.10 (3,2%) e Vieira et al.17 (3,0%). Já Carvalho et al.13 observaram a hemorragia subconjuntival em apenas 1,8% dos atendimentos. Em relação ao pterígio e à pinguégula, a literatura descreve que são doenças diretamente relacionadas ao ressecamento ocular e à exposição crônica aos raios ultravioleta.4,21 A distribuição do pterígio no mundo, por exemplo, mostra uma prevalência de até 22,5% nas regiões equatoriais, enquanto que nas regiões abaixo do paralelo 40 a prevalência diminui para 2%.6 Nosso estudo, entretanto, mostrou que o pterígio foi responsável por 3,4% de todos os atendimentos emergenciais, número discordante com a literatura, porém bem próximo a outros estudos realizados em hospitais que ficam bem acima do paralelo 40.10,12,13,15,17,19 Entretanto, se analisarmos o caráter do atendimento dos estudos em questão, podemos observar que tanto o pterígio quanto a pinguécula, diferentemente da conjuntivite, são doenças que muitas vezes são assintomáticas4 e não levam o indivíduo a um atendimento emergencial, isto é, são diagnosticadas em consultas de rotina. 34 Cunha, R. D. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 27-37, jan/jun. 2012 Schelliniet al.22, por exemplo, mostraram em seu estudo que, em 59,2% dos pacientes com pterígio, a principal queixa foi a estética e não a sintomatologia normalmente relacionada com os atendimentos emergenciais. Em relação ao sexo, Adam Netto et al.9 observaram em seu estudo o predomínio de doenças conjuntivais no sexo feminino, correspondendo a 54,2% dos casos, o que pôde ser observado também em nossa pesquisa, que mostrou um valor de 58,3% de atendimentos nesse gênero. Ainda em relação ao sexo, encontramos em nosso estudo pouco mais que o dobro de atendimentos por conjuntivite alérgica no sexo feminino em comparação ao masculino, apesar de essa amostra não apresentar significância estatística. Marback et al.23, ao contrário do nosso estudo, encontraram predomínio de casos de conjuntivite alérgica no sexo masculino. No presente estudo, outubro foi o mês com maior número de consultas (11,6%). Adam Netto et al.9 encontraram o oposto, já que outubro apresentou o menor número total de atendimentos, sendo que esse resultado pode ter sido influenciado por uma epidemia de conjuntivite viral, ocorrida em nosso Estado principalmente nos meses de fevereiro e março de 2003. Através desta pesquisa pudemos observar que no ano de 2010 também ocorreu um grande aumento de atendimentos de conjuntivite viral, principalmente no mês de outubro, o que pode caracterizar um surto epidêmico da doença nesse ano. Em relação à estação do ano e à conjuntivite alérgica, apesar de a nossa pesquisa não ter externado resultados estatisticamente significativos, eles corroboram os dados de Adam Netto et al.9, os quais revelaram que a conjuntivite alérgica foi mais prevalente durante a primavera, destacando que essa estação climática está associada a manifestações alérgicas, como descreve a literatura.4,5,7 Soares et al.16, porém, encontram um número um pouco maior de casos de conjuntivite alérgica no inverno em comparação à primavera. Em nosso estudo a faixa etária com maior número de atendimentos foi entre 15 e 29 anos, os quais tiveram como etiologia principalmente a conjuntivite bacteriana, viral e alérgica. Adam Netto et al.9 também encontraram maior número de atendimentos por doença conjuntival na faixa etária entre os 15 e 29 anos. Soares et al.16 apontaram predomínio de conjuntivite na faixa etária entre os 20 e 29, o que também vai ao encontro do verificado em nosso estudo. Já Araújo et al.24 encontraram maior prevalência de conjuntivites na faixa etária entre 31 e 45 anos. Ainda relacionado à faixa etária, Patel 25 et al. relatam que, segundo estudos anteriores, as crianças são mais acometidas por conjuntivite bacteriana, fato que também foi observado em seu estudo e confirmado por nossa pesquisa, na qual o diagnóstico de conjuntivite bacteriana foi responsável por 50,8% dos atendimentos na faixa etária dos 0 aos 14 anos. Adam Netto et al.9 encontraram apenas um caso de conjuntivite irritativa no período de cinco anos, correspondendo a apenas 0,3% das doenças conjuntivais (n=1). Isso divergiu muito do nosso estudo, já que o diagnóstico de conjuntivite irritativa foi responsável por 46 atendimentos, principalmente na faixa etária entre os 15 e 29 anos, o que pode refletir a falta de cuidado no que diz respeito ao manuseio de produtos químicos e industriais por parte desse grupo etário. Nossa análise possui limitações que devem ser consideradas, dentre elas, a coleta de dados a partir de um centro que não é referência em oftalmologia, podendo não receber pacientes com lesões conjuntivais mais graves. Além disso, as afecções da conjuntiva, por serem em sua maioria de baixa gravidade, acabam sendo tratadas em outras unidades de saúde. 35 Cunha, R. D. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 27-37, jan/jun. 2012 Conclusão A partir da avaliação das doenças conjuntivais, diagnosticadas emergencialmente na população estudada, podemos destacar os pontos conclusivos do presente estudo nos seguintes tópicos: (1) Os diagnósticos de doenças conjuntivais foram responsáveis por 37,5% dos atendimentos; (2) outubro foi o mês com maior número de consultas (11,6%); (3) houve predomínio do sexo feminino nos atendimentos (58,3%); (4) a faixa etária entre os 15 e 29 anos foi a mais acometida por doenças conjuntivais (37,2%); (5) Florianópolis foi o município com o maior número de atendimentos (77,6%) e Trindade foi o bairro que teve a maior procedência (12,7%); (6) a conjuntivite foi responsável por 75,2% das consultas, seguido por hemorragia subconjuntival (10,3%), pterígio (9,2%) e pinguécula (4,7%); (7) a conjuntivite bacteriana foi o diagnóstico de doença conjuntival mais encontrado (35,0%), seguida pela conjuntivite alérgica (20,9%) e viral (12,9%); e (8) houve grande número de atendimentos por conjuntivite viral no ano de 2010 (33,6%). Referências 1. Pavan-Langston D. Manual de oftalmologia: diagnóstico e tratamento. 4ª ed. Rio de Janeiro: Medsi; 2001. 2. Vaughan DG, Asbury T, Riordan-Eva P. Oftalmologia Geral. 4ª ed. São Paulo: Atheneu; 1997. 3. Yamane R, Semiologia ocular. 2ª ed. Rio de Janeiro: Cultura Médica; 2003. 4. Kansky JJ, Bowling B. Clinical ophthalmology; a systematic approach. 7th ed. London: Butterworlh-Heinemann; 2011. 5. Kara-José N, Freitas D, Moreira H, Boteon JE. Doenças da córnea e conjuntiva. 1ª ed. Rio de Janeiro: Cultura Médica; 2007. 6. Gomes JAP, Alves MR. Superfície Ocular: Córnea, Limbo, Conjuntiva, Filme Lacrimal. 2ª ed. Rio de Janeiro: Cultura Médica e Guanabara Koogan; 2011. 7. Höfling-Lima AL, Alves MR, Dantas MCN. Doenças Externas Oculares e Córnea: Série Oftalmologia Brasileira. Vol1. Rio de Janeiro: Cultura Médica e Guanabara Koogan; 2008. 8. Parsons JH, Miller SJH. Enfermidades dos olhos. 16ª ed. São Paulo: Artes Médicas; 1981. 9. Adam Netto A, Müller TPS, Queiroz AA, Siewert MC, Silvano RE, Thiesen EB. Prevalência de doenças conjuntivais no serviço emergencial de oftalmologia do Hospital Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina. Arq Cat Med 2006;35(4):44-9. 10. Sandri JM, Adam Netto A, Petermann Neto O, Shimono KE, Shimono CT. Achados diagnósticos no atendimento emergencial no ambulatório de oftalmologia do hospital universitário da Universidade Federal de Santa Catarina, nos anos de 2000 a 2005. Rev Ciências da Saúde 2009;28(2):7-16. 11. Pereira FB, Frasson M, D'Almeida AGZB, Almeida A, Faria D, Francis J, et al. Perfil da demanda e morbidade dos pacientes atendidos em centro de urgências oftalmológicas de um hospital universitário. Rev Bras Oftalmol 2011;70(4):238-42. 12. Vieira GM. Um mês em um prontosocorro de oftalmologia em Brasília. Arq Bras Oftalmol 2007;70(5):797-802. 13. Carvalho RS, Kara-José N. Ophthalmology emergency room at the University of São Paulo General Hospital: a tertiary hospital providing primary and secondary level care. Clinics 2007;62(3):301-08. 36 Cunha, R. D. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 27-37, jan/jun. 2012 14. Sugano DM, Ávila MP, Lima VL, Carvalho F; Rehder JRCL. Estudo do perfil de demanda e morbidade ocular em um serviço de emergência oftalmológica no período de 1999 a 2002. Rev Bras Oftalmol 2004;63(4):231-35. 15. Campos Júnior JC. Perfil do atendimento oftalmológico de urgência. Rev Bras Oftalmol 2004;64(2):89-91. 16. Soares AS, Adam Netto A, Soares AS. Análise da prevalência de conjuntivite no atendimento emergencial do serviço de oftalmologia do Hospital Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina nos anos de 2004 a 2008. Arq Cat Med 2010;39(2):50-55. 17. Vieira CGL, Marques ML, Lacerda RR. Emergências oculares - Clínica de Olhos da Santa Casa de Belo Horizonte. Arq Bras Oftalmol 2002;61(10):738-41. 18. Sánchez TH, Galindo FA, Iglesias CD, Galindo AJ, Fernández MM. Estudio epidemiológico de las urgencias oftalmológicas em un hospital general. Arch Soc Esp Oftalmol 2004;79(9):42532. 19. Pierre Filho PTP, Gomes PRP, Pierre ETL, Pinheiro Neto FB. Profile of ocular emergencies in a tertiary hospital from Northeast of Brazil. Rev Bras Oftalmol 2010;69(1):12-17. 20. Leonor ACI, Dealfre JT, Moreira PB, Gaiotto Junior OA. Emergências oftalmológicas em um hospital dia. Rev Bras Oftalmol 2009;68(4):197-200. 21. Cullom RD, Chang B. Manual de Doenças Oculares “Wills EyeHospital”: Diagnóstico e Tratamento Emergencial das Doenças Oculares. 2ª ed. Rio de Janeiro: Cultura Médica; 1998. 22. Schellini AS, Veloso CER, Lopes CR, Padovani CR, Padovani CRP. Características de portadores de pterígio na região de Botucatu. Arq Bras Oftalmol 2005;68(3):291-4. 23. Marback PMF, Freitas D, Paranhos Junior A, Belfort Junior R. Aspectos clínicos e epidemiológicos da conjuntivite alérgica em serviço de referência. Arq Bras Oftalmol 2007;70(2):312-6. 24. Araújo AAS, Almeida DV, Araújo VM, Goes MR. Urgência oftalmológica: Corpo estranho ocular ainda como principal causa. Arq Bras Oftalmol 2002;65(2):223-27. 25. Patel PB, Diaz MCG, Bennett MD, Attia MW. Clinical features of bacterial conjunctivitis in children. Acad Emerg Med 2007;14(1):1-5. 37 Hansen, A. M. A. K. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p.38-46, jan/jun. 2012 ANÁLISE DA TONTURA NO IDOSO INSTITUCIONALIZADO [Dizziness evaluation in nursing home residents] Andressa Márjorye Amaral Krauss Hansen1; Ana Maria Carvalho Nascimento2; Cristiano de Assis Pereira Hansen3. Resumo: O estudo objetivou analisar a queixa de tonturas em idosos institucionalizados. Estudo transversal, com 39 indivíduos que participaram de uma entrevista estruturada e responderam ao Dizziness Handicap Inventory. Como resultados evidenciou-se que 54% da amostra apresentou tontura, aumentando conforme idade e 66,6 % realizava fisioterapia referindo vertigem rotatória, predominantemente. A situação desencadeante preponderante foi a mudança de posição, a mediana de tempo de institucionalização de 2 anos e a média de pontos no Dizziness Handicap Inventory de 44 (DP=16,8). Tontura e incapacidade foram prevalentes na amostra. Palavras-chave: tontura, saúde do idoso institucionalizado, qualidade de vida. Abstract: Dizziness interfers with quality of life. The aim of this study was to evaluate dizziness in a nursing home population. This was a cross-sectional study. Sample included 39 individuals. A structured interview and Dizziness Handicap Inventory were applied. Dizziness occurred in 54% of individuals, increasing according age. Most of them were under physical therapy (66,6%), reported vertigo and it was ellicited under position change. Median length of stay was 2 years. Average DHI was 44 points (SD=16,8). Dizziness and handicap were high in this sample. Key words: dizziness, health of institutionalized elderly, quality of life. rotatório e ambos os tipos podem ser Introdução O envelhecimento compromete o causados ou não por distúrbio vestibular”2. organismo como um todo. No sistema Na verdade, conforme citado por nervoso central, o envelhecimento pode Barreto Filho, a função vestibular, testada interferir na capacidade de processamento por meio de provas calóricas ou dos sinais vestibulares, visuais e eletronistagmografia, apresenta declínio proprioceptivos responsáveis pela apenas leve com a idade3. Parece que a manutenção do equilíbrio corporal1. desintegração de informações a nível central Tontura é a sensação de perturbação ou múltiplos déficits nos sistemas do equilíbrio corporal. Pode ser definida relacionados ao equilíbrio corporal, quais como uma sensação de desorientação sejam: os sistemas vestibular, visual, espacial do tipo rotatório (vertigem) ou não somatossensorial e musculoesquelético, são ___________________________ ¹ Acadêmica de Fisioterapia da Fundação Universidade Regional de Blumenau – FURB, Blumenau-SC. Estagiária de fisioterapia da Casa São Simeão, Blumenau-SC. ² Fisioterapeuta. Especialista em Gerontologia e Fisioterapia Cardio-respiratória. Mestre em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. Professora titular do curso de Fisioterapia da Fundação Universidade Regional de Blumenau – FURB, BlumenauSC. ³Médico. Residência em Clínica Médica pelo Hospital Universitário Polydoro Ernani de São Thiago, Universidade Federal de Santa Catarina, HU-UFSC, Florianópolis-SC. Título de especialista em Clínica Médica pela Sociedade Brasileira de Clínica Médica. Médico concursado pela Prefeitura Municipal de Blumenau-SC. E-mail: [email protected] 38 Hansen, A. M. A. K. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p.38-46, jan/jun. 2012 mais impactantes em termos de suscitar tontura. Estudos demonstram que 30% dos idosos entre 65-75 anos restringem suas atividades físicas diárias por conta de tonturas4 e alguns trabalhos concluem que programas de reabilitação vestibular têm impacto na melhora da qualidade de vida destes indivíduos5. Em nosso meio, o grau de limitação que a tontura impõe às atividades de vida diária de indivíduos idosos institucionalizados e sua qualidade de vida ainda são pouco mensurados. Há alguma evidência na literatura de que idosos em regime de atividade física regular relatam com menor freqüência a queixa de tontura6. Estudo realizado em Goiânia observou que idosos institucionalizados apresentaram tempo médio de institucionalização elevado e relataram menor prática de atividade física, maior utilização de medicamentos, maior freqüência de hospitalização, queixa de tontura e quedas nos últimos seis meses7. Diante disso, especula-se que a queixa de tontura seja muito frequente em um grupo de idosos institucionalizados e dado que o equilíbrio depende da interação dos sistemas somatossensorial, visual, motor periférico, além do vestibular (passíveis de abordagem fisioterápica), o objetivo deste estudo foi avaliar a queixa de tontura em um asilo da cidade de Blumenau-SC, onde há um serviço de fisioterapia geral implantado. Método A população-base deste estudo nãointervencionista, observacional, transversal8 foram os pacientes institucionalizados de um asilo do município de Blumenau-SC, que abriga idosos provenientes da comunidade ou encaminhados via Secretaria Municipal de Assistência Social. Durante a realização do estudo, 68 indivíduos encontravam-se institucionalizados, sendo 24 do sexo masculino e 44 do sexo feminino. O grau de dependência I ocorreu em 23 indivíduos, o grau II, em 24 indivíduos e o grau III, em 21 indivíduos. O critério de grau de dependência resultou de uma análise técnica prévia, com base em informações coletadas com a assistente social e avaliação de enfermagem. Em suma, pacientes com grau de dependência I são considerados independentes, aqueles com grau de dependência II são semi-dependentes e com grau de dependência III são totalmente dependentes. Neste estudo foram incluídos os indivíduos institucionalizados com grau de dependência I, II e III, contanto concordassem participar através da assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE). Os critérios de exclusão foram: não concordar em participar da pesquisa, pela não assinatura do TCLE, ou apresentar limitação cognitiva de qualquer ordem que colocasse em risco a credibilidade das informações prestadas. O trabalho foi protocolado sob número 110/10 e aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Fundação Universidade Regional de Blumenau (FURB). Instrumentos Na amostra aplicamos uma entrevista estruturada, onde constaram idade do paciente, tempo em que está institucionalizado, queixa de tontura (tipo de tontura, situação em que ocorre) ou não, freqüência de sessões de fisioterapia, presença de co-morbidades, uso de medicação. Nos pacientes com relato de tontura foi aplicado um questionário de qualidade de vida especificamente elaborado e validado internacionalmente para pacientes com tontura, o Dizziness Handicap Inventory (DHI). Dizziness Handicap Inventory Por meio deste questionário avalia-se 25 quesitos. As questões procuram avaliar limitações de ordem física, funcional e emocional que a tontura imprime na vida dos pacientes acometidos. A pontuação varia de 39 Hansen, A. M. A. K. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p.38-46, jan/jun. 2012 zero a 100 pontos e, quanto mais próxima de 100, maior será a limitação apresentada. O escore final tem sido utilizado em análises de qualidade de vida de pacientes portadores de vestibulopatias e também para demonstrar o resultado de programas de reabilitação vestibular5. Neste estudo, o DHI foi aplicado sempre pelo mesmo indivíduo, previamente treinado, de modo a não limitar a validade interna da pesquisa. descrever o problema da tontura na população estudada. Quando pertinente, ao comparar proporções, foi utilizado o teste do quiquadrado ou o exato de Fisher, conforme o número de observações. Na análise de variáveis contínuas ou discretas ordenadas, foi utilizado o teste não-paramétrico de Mann-Whitney. Foram considerados estatisticamente significativos resultados com p<0,05. Análise dos dados Os dados foram expostos em tabelas e gráficos e descritos em termos de média, medianas, proporções e medidas de dispersão (intervalos, desvio-padrão). O delineamento escolhido pretendeu gerar hipóteses e Resultados Após esclarecimento dos pacientes e assinatura do TCLE, 39 indivíduos foram incluídos na pesquisa. Dos 39 indivíduos do estudo, a tontura foi encontrada em 21 deles (54%). A distribuição conforme idade está exposta na tabela 1. Tabela 1 – Prevalência de tontura conforme idade dos indivíduos Idade Total de Indivíduos com indivíduos na tontura amostra* ≥ 65 anos 33 18 % da população com tontura 54,5 % ≥ 70 anos 24 15 62,5 % ≥ 75 anos 13 09 69,2 % ≥ 80 anos 9 07 *Seis indivíduos da amostra apresentavam idade inferior a 65 anos A média de idade no grupo com tontura foi de 74,5 +/- 9,1 anos (1DP), enquanto no grupo que relatou não apresentar tontura a mesma foi de 70,6 +/- 6,2 anos (p=0,14). Do grupo com tontura, constam 13 mulheres (62%) e 8 homens (38%). A média de permanência (anos de institucionalização por indivíduo) foi de 4,4 e 5,7 anos, respectivamente, para os grupos com e sem tontura. A mediana de permanência no asilo foi de 2 anos para o grupo com tontura versus 4 anos, para o grupo sem tontura. Para testar se estes dois grupos diferiam em relação a esta medida de tendência central, foi utilizado o teste das 77,7 % medianas, conforme descrito por Mood9 e os resultados tiveram significância estatística (X2=5,74, gl=1, p<0,02). Da amostra total estudada (n=39), 26 (ou seja, 66,6%) realizaram fisioterapia nos últimos 2 meses, enquanto 33,4 % não realizaram. A proporção de indivíduos com e sem tontura no grupo que realizou fisioterapia está demonstrada no gráfico 1, o qual demonstra uma proporção de cerca de 2:1. A prevalência de tontura no grupo que fazia fisioterapia (n=26) foi de 17 indivíduos (65%), enquanto no grupo que não fazia fisioterapia (n=13), foi de 4 indivíduos (30%) (p<0,05). 40 Hansen, A. M. A. K. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p.38-46, jan/jun. 2012 Média e mediana de medicações no grupo que realizou fisioterapia foram 4,7 e 4 respectivamente versus 4,5 e 4, respectivamente, no grupo sem fisioterapia. Média e mediana de co-morbidades foram de 7,6 (DP=3,1) e 7 versus 5,4 (DP=3,5) e 6, respectivamente. A média de co-morbidades relatadas em prontuário e a média de medicações utilizadas pelos grupos de indivíduos com e sem tontura constam das tabelas 2 e 3. Tabela 2 – Co-morbidades nos grupos de indivíduos com e sem tontura Grupo de No de coNo de indivíduos Média de coindivíduos morbidades morbidades por indivíduo Com tontura 108 21 5,1* Sem tontura 74 18 4,1* *p=0,15 Tabela 3 - Número de medicações utilizadas nos grupos de indivíduos com e sem tontura Grupo de No de medicações No de indivíduos Média de indivíduos medicações por indivíduo Com tontura 170 21 8,1* Sem tontura 99 18 5,5* *p=0,01 Houve associação, conforme exemplificado no gráfico 2, entre o grau de dependência e a presença de tontura. Os resultados apresentaram significância estatística (X2=9,14, gl=2, p<0,02). 41 Hansen, A. M. A. K. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p.38-46, jan/jun. 2012 O tipo de tontura relatado pelos pacientes consta do gráfico 3. As circunstâncias mais frequentemente associadas ao sintoma de tontura estão ilustradas na tabela 4. Tabela 4 – Situação em que ocorre a tontura Situação N Quando muda de posição 12 Não definido 05 Atividades da vida diária 04 Deitado na cama 02 Nota: houve mais de uma resposta por entrevistado % 57,14 23,80 19,04 09,52 A pontuação média no DHI – versão brasileira foi de 44 (DP=16,8). A mediana foi de 38 pontos. As médias, medianas e intervalos para os escores físico, funcional e emocional estão esquematizadas na tabela 5. 42 Hansen, A. M. A. K. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p.38-46, jan/jun. 2012 Tabela 5 – Escores no Dizziness Handicap Inventory - DHI Escore Média/máxima Mediana possível Físico 14,9/28 16 Funcional 15,8/36 14 Emocional 13,3/36 14 Pontuação total 44,0/100 38 As duas questões que mais pontuaram para cada aspecto analisado no DHI foram: Aspecto físico: 25 (“inclinar-se piora a sua tontura?”), 11(“movimentos rápidos da sua cabeça pioram a sua tontura?”). Aspecto funcional: 12 (“devido a sua tontura, você evita lugares altos?”), 05 (“devido a sua tontura, você tem dificuldade ao deitar-se ou levantar-se da cama?”). Aspecto emocional: 2 (“você se sente frustrado(a) devido a sua tontura ?”) e 18 (“devido a sua tontura, é difícil para você se concentrar?”). Discussão O primeiro achado do estudo diz respeito à prevalência da queixa de tontura em uma população de idosos institucionalizados. Valores na ordem de 54,5% acima dos 65 anos de idade, melhor avaliados quando cotejados com dados de outros autores: fazemos referência a um estudo de base populacional, realizado na Holanda em 200110. Naquele país foi mantido um registro de todos os casos de tontura reportados pelos serviços de Clínica Geral ao longo de um ano e a prevalência foi de 8,3 % em pacientes com mais de 65 anos. Em que pese as formas diferentes de delineamento (principalmente o fato de que muitos indivíduos idosos com tontura podem não ter, de fato, procurado um médico naquele estudo), é de notar a grande frequência deste tipo de sintoma na população idosa asilar estudada (54,5%). Há citação em alguns artigos científicos revisados de que a prevalência de tontura aumenta com a idade5,11, o que ficou claramente demonstrado na amostra. Um segundo ponto a comentar foi a prevalência maior de tontura em mulheres, Intervalos 4-24 4-30 0-32 20-78 numa relação de quase 2:1, o que vem ao encontro de dados constantes na literatura12. Ressalve-se aqui que a maior parte da população-base do estudo era composta de mulheres. Em relação ao tempo de permanência na instituição e a presença de tontura, os dados parecem paradoxais e põem em xeque a hipótese de que a própria institucionalização poderia ser um fator a contribuir para o aparecimento de tontura. Talvez idade e co-morbidades sejam fatores preponderantes. Isto suscita uma nova indagação: será que o fato de o asilo dispor de um serviço de fisioterapia não seria um fator protetor quanto ao aparecimento de tontura? A análise do gráfico 1 pode indicar o contrário. No entanto, há que se atentar para o fato de que os pacientes sob fisioterapia compõem um grupo de indivíduos com maior número de co-morbidades e a demanda por fisioterapia pode estar a isso relacionada. Em relação ao tipo de tontura encontraram-se resultados similares a de outro estudo, o qual aponta que a maioria dos casos de tontura se deve a vertigem rotatória (90% de origem periférica), sendo que sensação de desmaio responde por 6% (até 28% em idosos), desequilíbrio ocorre em 5% dos casos e em 16% das vezes a causa é psicogênica ou está associada a distúrbios visuais13. Estes dados estão em conformidade com o ilustrado no gráfico 3. Há que se pesar com cuidado estes dados, no entanto. Um estudo realizado em dois hospitais universitários estadunidenses para avaliar consistência e confiabilidade da descrição de tontura fornecida pelo paciente lançou dúvidas sobre o tema14. Os mesmos autores ressaltam que outros fatores parecem 43 Hansen, A. M. A. K. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p.38-46, jan/jun. 2012 ser mais acurados que a descrição da queixa, quais sejam: duração e desencadeantes da tontura. Neste aspecto, constatou-se aqui que a principal situação relacionada à tontura no estudo foi “quando muda de posição” (43% das vezes). Isto pode estar relacionado à etiologia da tontura, sendo a hipotensão ortostática uma condição a ser relembrada. A hipotensão ortostática consiste na queda dos valores de pressão arterial associada à mudança de posição, há causas variadas, sendo que em idosos pode ser demonstrada em 20-30% das vezes13. Outra entidade clínica que não pode ser desconsiderada são as labirintopatias, que também podem suscitar tontura nesta situação. Fica aqui uma interrogação, a ser melhor analisada em estudos vindouros. Passando agora à análise da qualidade de vida, a Organização Mundial de Saúde coloca que o envelhecimento populacional na sociedade pode ser interpretado como uma conquista das políticas de saúde pública e do desenvolvimento econômico, no entanto desafia esta mesma sociedade a adaptar-se e melhorar a condição de saúde e a capacidade funcional dos idosos, bem como sua segurança e participação social15. O conceito de capacidade funcional norteia a avaliação geriátrica e se reveste de significado ante considerações sobre qualidade de vida na terceira idade. Em relação ao DHI, instrumento utilizado para avaliar qualidade de vida e incapacidade física e funcional, o resultado neste estudo é similar ao encontrado por ocasião da própria validação e adaptação do questionário original em inglês ao ambiente brasileiro16. Naquele trabalho, a média de pontos no DHI em um grupo de 250 pacientes com tontura crônica (mais de três meses) foi de 44,8 e, além disto, o prejuízo mensurado foi maior nos escores físico, funcional e emocional, respectivamente. O mesmo foi constatado neste estudo (vide tabela 5). Há que se enfatizar os valores encontrados aqui. Segundo um estudo norueguês, pontuação total no DHI igual ou acima de 29 pontos está relacionada a incapacidade17. Naquele estudo, que serviu de base para validar o DHI à realidade norueguesa, foram avaliados 92 indivíduos pelo DHI, com uma pontuação média de 46,4 pontos (DP=16,5), valores muito parecidos com os encontrados neste estudo. Há pesquisas iniciais, testando a capacidade de o DHI ser utilizado como instrumento diagnóstico; melhor dizendo, como instrumento de triagem diagnóstica, pois nada substitui a avaliação clínica detalhada. Conforme a pontuação atingida em determinadas questões, se amplia ou decresce a probabilidade de diagnóstico de vertigem posicional paroxística benigna, por exemplo18. De todo modo, neste estudo, esta correlação não foi realizada. Supõe-se, entretanto, que a maioria dos indivíduos arrolados tem por base vertigem periférica, alguns deles possivelmente uma causa metabólica para tontura, outro tanto hipotensão ortostática, entre outras. Presume-se, também, que a maioria dos indivíduos seria beneficiada com a aplicação de técnicas de reabilitação vestibular. Há relatos diversos e constatações na literatura científica que demonstram claramente a eficácia e os benefícios em relação à qualidade de vida de pacientes com tontura submetidos a reabilitação vestibular5,11,19. Mesmo pacientes neurológicos, com mal de Parkinson20, por exemplo, têm apresentado bons resultados em programas de reabilitação vestibular. Fazendo um paralelo com o estudo em tela, essas mesmas técnicas poderiam ser utilizadas na esteira de um programa de fisioterapia geral, amparada pelo serviço de clínica médica local e, conforme ilustrado no gráfico 1, estariam beneficiando cerca de 2 em 3 pacientes atendidos atualmente no serviço de fisioterapia asilar. Hipótese esta a ser testada em estudo futuro. Conclusão Tontura foi queixa freqüente na amostra analisada e sua prevalência 44 Hansen, A. M. A. K. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p.38-46, jan/jun. 2012 aumentou conforme a idade dos indivíduos. A maioria estava sob acompanhamento fisioterápico (66,6%), reportou vertigem rotatória e a situação desencadeante mais referida foi mudança de posição. No grupo de indivíduos com tontura, a mediana de permanência na instituição foi de 2 anos. A média de pontos no DHI foi de 44 (DP=16,8). Assim, constatou-se que a queixa de tontura foi prevalente na amostra e gerou incapacidade, de acordo com os instrumentos utilizados. Referências 1. Nadol JB, Schuknecht HJ. The pathology of peripheral vestibular disorders in the elderly. Ear Nose Throat J 1989;68(12):930-34. 2. Ganança MM, Caovilla HH. Desequilíbrio e reequilíbrio. In: Ganança MM. Vertigem tem cura? 1ª ed. São Paulo: Lemos Editorial; 1998. p 9-13 3. Barreto Filho ACP. Alterações do equilíbrio e quedas no idoso. In: Martins MA, Carrilho FJ, Alves VAF. Clínica Médica, vol1. Barueri, SP: Manole; 2009. 4. Bittar RSM, Pedaline MEB, Bottino MA. Síndrome do desequilíbrio no idoso. Prófono 2002;1(14):119-28. 5. Zanardini FH, Zeigelboim BS, Jurkiewicz AL. Reabilitação vestibular em idosos com tontura. Pró-fono 2007;19(2):177-84. 6. Ruwer SL, Rossi AG, Simon LF. Equilíbrio no idoso. Rev Bras Otorrinolaringol 2005;71(3):298-303. 7. Borges LL, Garcia PA, Ribeiro SOV. Características clínico-demográficas, quedas e equilíbrio funcional de idosos institucionalizados e comunitários. Fisioter Mov 2009;22(1):53-60. 8. Hulley SB, Cummings SR, Browner WS. Delineando a pesquisa clínica. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed; 2003. 9. Siegel S, Catellan NJ. Estatística nãoparamétrica para ciências do comportamento. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed; 2006. 10. Maarsingh OR, Dros J, Schellevis FG. Dizziness reported by elderly patients in family practice: prevalence, incidence and clinical characteristics. BMC Fam Pract. 2010; 11(2). [acesso em 2010 out 30] Disponível em: URL: http://www.biomedcentral.com/14712296/11/2 11. Mantello EB, Moriguti JC, RodriguesJúnior AL. Efeito da reabilitação vestibular sobre a qualidade de vida de idosos labirintopatas. Rev Bras Otorrinolaringol 2008;74(2):172-80. 12. Gazzola JM, Ganança FF, Aratani MC. Caracterização clínica de idosos com disfunção vestibular crônica. Rev Bras Otorrinolaringol 2006;72(4):515-22. 13. Stern SD, Cifu AS, Altkorn D. Do sintoma ao diagnóstico – um guia baseado em evidências. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan; 2007. 14. Newman-Toker DE, Cannon LM, Stofferahn ME. Imprecision in patient reports of dizziness symptom quality: a cross-sectional study conducted in an acute care setting. Mayo Clin Proc 2007;82(11):1329-40. 15. World Health Organization. Health topics: Ageing. [internet] WHO; 2011 [Acesso em 2011 jan 15] Disponível em: URL: http://www.who.int/topics/ageing/en/ 16. Castro ASO, Gazzola JM, Natour J. Versão brasileira do Dizziness Handicap Inventory. Pró-fono 2007;19(1):97-104. 45 Hansen, A. M. A. K. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p.38-46, jan/jun. 2012 17. Tamber A, Wilhelmsen KT, Strand LI. Measurement properties of the dizziness handicap inventory by cross-sectional and longitudinal designs. Health Qual Life Outcomes 2009; 7(101) [acesso em 2010 out 30] disponível em: URL: http://www.hqlo.com/content/7/1/101 18. Whitney SL, Marchetti GF, Morris LO. Usefulness of the Dizziness Handicap Inventory in the screening for Benign Paroxysmal Positional Vertigo. Otol Neurotol 2005;26(5):1027-33. 19. Hillier SL, McDonnell M. Vestibular rehabilitation for unilateral peripheral vestibular dysfunction. Cochrane Database of Systematic Reviews. The Cochrane Library 2008;138(4):415-17. 20. Zeigelboim BS, Klagenberg KF, Teive HAG. Reabilitação vestibular: utilidade clínica em pacientes com doença de Parkinson. Arq Neuropsiquiatr 2009;67(2):219-23. 46 Cantos, G. A. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 47-54, jan/jun. 2012 PRÁTICAS DE CUIDADO NA QUALIDADE DE VIDA DE UMA PACIENTE PORTADORA DE DOENÇAS CRÔNICAS: ESTUDO DE UM CASO CLÍNICO [Practice of care in the quality of life of a patient carrier of chronic diseases: a case study] Geny Aparecida Cantos1; Joselma Tavares Frutuoso2; Marina Avila Cardoso3 Resumo: Será apresentado um caso clínico de uma paciente com doença crônica que foi tratada e monitorada ao longo de 11 anos por uma equipe interdisciplinar e multiprofissional. Diversos procedimentos terapêuticos foram utilizados: acompanhamento cardiológico e nutricional; apoio psicológico, sessões de hidroterapia e palestras relacionadas com prevenção para doenças cardiovasculares. Questionários de estresse e exames laboratoriais foram realizados para monitorar o estado de saúde da paciente em questão. Os resultados obtidos indicaram, não só quantitativamente quanto qualitativamente, o quanto a ajuda dessa equipe interveio positivamente na vida da paciente em estudo. Palavras-chave: doenças crônicas; qualidade de vida; prevenção, cuidado. Abstract: We will present a clinical case of a patient with chronic disease that was treated and monitored over 11 years by an interdisciplinary and multidisciplinary. Therapeutic procedures were used: cardiac monitoring and nutritional counseling, hydrotherapy sessions and lectures related to cardiovascular disease prevention. Stress questionnaires and laboratory tests were performed to monitor the health status of the patient. The results indicated, not only quantitatively and qualitatively, how much help this team intervened positively in the life of the patient in the study. Keywords: chronic diseases, quality of life; prevention; care. Introdução instrumentos, para que os indivíduos com limitações possam interagir com seu tempo e seu meio, em toda a sua multidimensionalidade. Nesse contexto, os profissionais do Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa e Ensino e Assistência a Dislipidemia (NIPEAD-HUUFSC) vêm trabalhando com prevenção de doenças cardiovasculares, tendo como meta buscar um estilo de vida mais saudável para pacientes diagnosticados com dislipidemia ou algum fator de risco associado.2 O aumento expressivo de doenças cardiovasculares somado aos problemas decorrentes de doenças crônicas forma um conjunto de morbidades, constituindo-se em graves problemas de saúde pública. Dentro desta realidade ações direcionadas à promoção de saúde e às práticas de prevenção são indispensáveis na recuperação desse grupo populacional emergente 1. Sob esta ótica, isto implica em uma ética de solidariedade e cuidados que viabilize novos . ___________________________ 1 Prof. (a) do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)-Departamento de Análises Clínicas. Endereço eletrônico: [email protected], Tel.: (48) 91014927; 2 Prof (a) do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Endereço eletrônico: [email protected], Tel.: (48) 91543921; 3 Farmacêutica graduanda em Bioquímica da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Endereço eletrônico: [email protected], Tel.: (48) 99563334 47 Cantos, G. A. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 47-54, jan/jun. 2012 Este Núcleo realiza atendimento cardiológico, que em termos de prevenção é o que se pode chamar de "check-up” personalizado, onde as solicitações de um conjunto de exames bioquímicos (colesterol total e frações, triglicerídeos, glicemia em jejum e alguns eletrólitos, como sódio e potássio) são realizadas após a avaliação clínica de cada paciente, considerando seu histórico clínico. O objetivo de tais exames é avaliar o perfil e os riscos cardiovasculares de cada participante do projeto. Este procedimento útil para orientá-lo a adotar hábitos que atenue os possíveis riscos ou ajuda a manter a sua saúde. Os exames mais complexos (proteína C reativa ultrassensível, ácido úrico, creatinina, hemoglobina glicosilada) são solicitados apenas quando os testes iniciais deixam dúvida ou levantam suspeitas de outras doenças. O atendimento nutricional abre portas para o diálogo e a exposição do cotidiano das pessoas, embora se perceba que elas demonstram dificuldades na adoção de hábitos alimentares saudáveis que seriam compatíveis e preventivos de doenças cardiovasculares e outras associadas, bem como, de práticas de atividade física regular e a adesão ao tratamento medicamentoso. Dentro desse contexto, ações educativas como palestras referentes a prevenção para doenças cardiovasculares e almoços comunitários são ferramentas que contribuem para o êxito do programa.3 Com intuito de integrar a medicina convencional com outros modelos assistenciais, a fim de que se pudesse trabalhar com prevenção de doenças cardiovasculares e controle de estresse, em 2005 foi criado o projeto Vida e Saúde que veio concretizar um modelo assistencial baseado no cuidado e promoção da saúde de pessoas com doenças crônicas. Este projeto utiliza métodos terapêuticos aquáticos: Watsu/Halliwick/Biodanza aquática. O Watsu (water-shiatsu) é uma técnica de massagem japonesa adaptada à água, que utiliza uma variedade de alongamentos e movimentos, de forma que o paciente possa relaxar o corpo e a mente, permitindo o alívio da dor e do estresse. A partir da sustentação pela água, de toques sutis e um contínuo movimento rítmico dos vários fluxos, criam-se condições de segurança, mesmo às pessoas que têm fobia por água e o indivíduo experimenta um relaxamento profundo, harmonizando-se com a vida 4; 5. O método Halliwick foi desenvolvido James McMillan em 1949, como uma técnica de natação para pessoas com necessidades especiais. Ele associou o seu conhecimento sobre fluidos mecânicos e somou isso a conceitos teóricos e observações realizadas, com as reações do corpo humano no ambiente aquático 4. Este método enfatiza as habilidades dos pacientes na água e não suas limitações, sendo também de natureza recreativa. Essa técnica tem sido usada terapeuticamente por muitos profissionais, de forma que o indivíduo possa obter a máxima independência na água (autoconfiança) 5. Segundo a literatura, a biodanza trabalha, em grupo, por meio de exercícios específicos, que estimulem os potenciais genéticos de cada participante. Na verdade este processo ocorre concomitantemente com o outro, de forma que essa comunicação começa a melhorar a autoestima da pessoa e conseqüentemente o seu bem estar biológico e psicológico 6. Em geral, a biodanza atrai um público de pessoas que pretendem superar a timidez e o estresse. O atendimento psicológico permite desenvolver a percepção de si mesmo, promovendo o autoconhecimento, além verificar a presença de sinais indicadores de alterações psicológicas (ex. ansiedade, estresse, somatização, etc.) e desenvolver procedimentos para ajudar a encontrar estratégias de enfrentamento e de resolução de problemas adequadas para lidar com as situações geradoras do adoecimento físico e psicológico. O paciente/cliente é levado a ter autonomia para produzir mudanças comportamentais que promovam o bem-estar no ambiente da terapia e essas mudanças devem ser generalizadas para outras situações e outros ambientes de interação 48 Cantos, G. A. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 47-54, jan/jun. 2012 social (ex: família, trabalho, grupos sociais que pertence). É relevante observar as formas como o estresse se apresenta na vida das pessoas. Os questionários de estresse trazem elementos importantes que podem emergir no contexto de avaliação, sendo uma ferramenta que permite analisar o grau de estresse e as suas possíveis causas. O presente artigo apresentará o estudo de caso com o objetivo de mostrar a importância de um trabalho interdisciplinar e multiprofissional no monitoramento de uma paciente portadora de doença crônica que participou de um programa de prevenção para doenças cardiovasculares, ao longo de 11 anos. Metodologia Paciente do sexo feminino, 83 anos de idade, ex-professora de piano, aposentada há 27 anos e viúva há 17, mãe de dois filhos: um homem de 58 anos e uma mulher de 60 anos, ambos casados. A paciente teve sua primeira avaliação pela cardiologista do NIPEADHU-UFSC em 2000, apresentando histórico familiar para doença arterial coronariana (DAC). Esta foi realizada baseando-se em dados bioquímicos, questionários de estresses e por meio de entrevista. O estudo de caso avaliou os resultados obtidos com a atenção clínico-nutricional, sobre o controle glicêmico, o perfil lipídico e outras variáveis bioquímicas, bem como estado emocional de diabéticos dessa paciente. Na avaliação cardiológica o diagnóstico obtido foi de hipertensão arterial sistêmica (HAS), dislipidemia e obesidade. Iniciou-se um tratamento farmacológico para hipertensão e colesterol e ela foi encaminhada ao setor de nutrição, onde recebeu uma orientação nutricional, de acordo com a Pirâmide Alimentar equilibrada. Foi sugerido também uma lista de alimentos de substituição para hipercolesterololemia. Novas consultas junto ao setor de cardiologia e nutrição ocorreram no ano 2002 onde a paciente realizou exames laboratoriais para verificar a dislipidemia, o diabetes e a função renal. Nesse ano, junto à consulta com a nutrição, foi medido seu peso, que era de 74,7 quilogramas. No ano 2004, 2006, 2008, e 2011 outras consultas (cardiológicas e nutricionais) e exames bioquímicos foram realizados (tabela1). Nos anos 2006, 2008 e 2011, a paciente respondeu a três questionários de monitoramento de estresse psicológico, são eles: “você se sente muito estressado”7, “tolerância ao estresse”8 e “determinação do estado de estresse” 9. No ano 2007 ela participou do atendimento psicológico grupal: 28 encontros ao longo de dois semestres letivos. A frequência do encontro era semanal com duração de duas horas cada no Serviço de Atenção Psicológica - SAPSI da UFSC, Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina. No início do ano 2008, a paciente continuava com seu tratamento medicamentoso para dislipidemia, doenças cardiovasculares e tratamento da hipertensão. Nessa ocasião ela iniciou atividades de Watsu/Halliwick/Biodanza®.* Durante toda sua trajetória no NIPEAD-HU-UFSC a paciente participou assiduamente de palestras mensais oferecidas pela equipe multiprofisisonal e interdisciplinar, cujos temas foram voltados para prevenção das doenças cardiovasculares e controle de estresse. Este estudo teve aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC folha de registro número 299/08, de acordo com a Resolução Nº 196, de 10 de outubro de 1996 e Resolução 251 de 05 de agosto de 1997. A paciente participante assinou o termo de consentimento livre e esclarecido para a participação do estudo. Resultados e discussão A escolha desta participante no projeto para o relato do caso clínico foi baseada no seu quadro clínico, tempo de participação no NIPEAD-HU-UFSC, assiduidade nas 49 Cantos, G. A. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 47-54, jan/jun. 2012 palestras, frequência com que procurava as consultas no setor da cardiologia e nutrição, participação no grupo de atendimento psicológico e terapia aquática. Em 2000, a paciente em estudo compareceu pela primeira vez no setor de cardiologia, sendo realizado o seu diagnóstico clínico e elaborado um plano terapêutico. Segundo a tabela de Framingham, que tem como objetivo avaliar o risco cardiovascular de uma população, ela apresentou 15% de chance de sofrer de uma doença arterial coronariana em 10 anos (que corresponde a médio risco cardiovascular)10. Seus exames apontaram que o seu colesterol total (CT) e triglicerídeos (TG) estavam acima dos valores de referência (tabela 1), apesar do uso que vinha fazendo de uma estatina e acido acetilsalicílico, que são medicamentos utilizados para diminuir o CT e, consequentemente, diminuir a probabilidade de formação de uma placa aterosclerótica. A glicemia de jejum era de 100 mg/dl (tabela 1), mostrando que ela necessitava controlar sua glicemia, pois este valor estava próximo ao limite superior de referência. Como era hipertensa ela estava tomando um inibidor da Enzima Conversora da Angiotensina. Quanto à parte nutricional, foi constatado que ela teve o diagnóstico de eutrófica o que significa que sua ingestão de nutrientes estava sendo adequada para satisfazer as necessidades metabólicas e energéticas. No ano de 2002 os exames bioquímicos mostraram que os níveis de CT tiveram uma queda, passando de 312mg/dl para 293mg/dl (tabela1), o que foi atribuído ao uso adequado dos fármacos utilizados pela paciente. O acompanhamento nutricional indicou que sua glicemia em jejum e os valores da hemoglobina glicosilada (Hb1Ac) estavam um pouco acima dos valores limítrofes de referência. Essa última dosagem permitiu identificar a concentração média de glicose no sangue durante períodos longos de tempo, sendo utilizada no diagnóstico de diabetes. De fato, na consulta junto à nutrição percebeu-se que ela teve dificuldade em aderir às recomendações indicada, o que provavelmente resultou no quadro bioquímico descrito. No ano 2004 as consultas e exames bioquímicos (tabela 1) não revelaram nenhuma mudança no quadro clínico e laboratorial apresentado, exceto em relação ao seu peso, que aumentou 8,3 kg. Foi indicado que a paciente participasse das palestras mensais, cujos temas eram sobre prevenção para doenças cardiovasculares e que ela deveria adotar a orientação nutricional recebida devido ao ganho de peso. Desde esse ano ela participou assiduamente das palestras. No ano 2006 sua glicemia era 115 mg/dl mostrando um quadro de diabetes, embora os exames realizados para verificar a função renal (ácido úrico e creatinina) fossem normais. Por outro lado, pode-se notar um decréscimo do CT e TG , passando de 268 mg/dl para 211 mgdl e 186 para 127 mg/dl, respectivamente (tabela 1). Para hipertensão arterial foi acrescido um diurético, devido a uma descompensação da mesma. Do ano 2008 até 2011 seus níveis de glicemia tiveram pouca alteração, embora desde 2009 ela tivesse inserido um antidiabético oral, pois de fato ela tinha extrema dificuldade em aderir a dieta recomendada. Mas, um fato bem positivo foi notar que seus níveis de CT ficaram dentro da faixa de referência e que houve melhoras nos valores de LDL-c (tabela1). Esse último dado apresenta grande importância, pois essa lipoproteína está relaciona com a aterosclerose e problemas relacionados com suas complicações. No ano 2006 foi aplicado o questionário “Você se sente muito estressado” 7, e a paciente obteve um resultado de um nível moderado de tensão, que poderia ser melhorado. Ela sentia-se algumas vezes ansiosa e "enrolada", tinha "sentimentos agitados", e sentia-se inquieta com frequência. No ano 2008 e 2011 manteve o mesmo nível na avaliação, apresentando uma diminuição quanto aos seus "sentimentos agitados". 50 Cantos, G. A. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 47-54, jan/jun. 2012 No questionário “Tolerância ao estresse”8, ela obteve um resultado satisfatório quanto ao seu estilo de vida, apresentando sono ocasionalmente irregular. No ano 2008 ela obteve a mesma pontuação mostrando, contudo melhoras no sono e melhor estado de saúde no último mês. Esses resultados se mantiveram no ano 2011. Em todos três questionários respondidos ela dizia fumar um cigarro por dia. Ela era fumante de 1984, com este hábito de fumar apenas um cigarro por dia. Antes dessa data ela relatou que fumava mais de uma carteira por dia. No questionário sobre “Determinação do estado de estresse” 9, o resultado indicou que ela tinha algum problema de estresse. Isso pode estar relacionado com a falta de controle sobre seus sentimentos e também por se preocupar com suas doenças. No ano 2008 ela relata “sentir menos incomodada com os nervos", dizia que, por algum tempo, sua vida tinha sido plena de coisas interessantes e sentia-se na maioria das vezes emocionalmente estável e segura de si. Em 2011 ela relatou que não se sentia triste e desencorajada ou preocupada com sua saúde. Também não se sentia ansiosa. Pelo contrário, sentia-se feliz, relaxada e com mais energia na sua vida, relatando não se “incomodar mais por seus nervos”, afirmando ter uma excelente disposição. Pelo atendimento psicológico em grupo, realizado em 2007, verificou-se que a paciente tinha fortes crenças enraizadas na sua história de vida, por exemplo, ela não aceitava a gravidez antes do casamento, dificuldade para aceitar e dar carinho a uma bisneta que os pais não eram casados, e defendia que respeito era ouvir de cabeça baixa os mais velhos “Baixar a cabeça para falar com idosos é respeito” etc. As experiências compartilhadas por ela no grupo foram muito enriquecedoras, pois geraram vários debates em torno de temas tais como: medo x respeito; manter-se casado infeliz x separação; conseqüências naturalmente reforçadoras x punição e ameaças, qualidade dos relacionamentos familiares; construção de vinculo afetivo positivo, e comportamentos assertivos e saudáveis, dentre outros assuntos abordados que ajudaram a promover o autoconhecimento e mudanças comportamentais em vários aspectos (afetivo,emocional e cognitivo). Ela chegou para terapia com um perfil muito rígido e contraditório com relação ao seu relacionamento com os netos, dizendo não aceitar a bisneta, mas desejar a presença dos netos. Ela afirmava “eles se aproximam para ganhar presentes, mas passear comigo não. Festas eles nunca me convidam, eles não querem minha presença”. Um dos netos, de 28 anos que não casou, tinha uma filha com menos de 1 ano e a paciente dizia “esta modernidade não combina comigo”. Afirmava que nunca tinha colocado sua bisneta no colo. Sua dificuldade de relacionamento com os netos pode ser percebida na seguinte fala “é a ultima páscoa que dou presente para eles”. Os participantes do grupo a ajudaram descrever situações de interação que a afastavam dos netos e as quais poderiam os aproximá-los. O perfil variado dos membros do grupo de apoio psicológico também ajudou bastante. Havia desde um professor universitário, um analfabeto, uma senhora separada com namorado, duas pessoas que optaram pela separação e uma senhora que tinha três filhos que conviviam com seus companheiros, mas que não eram casados. Esta diversidade do grupo era terapêutica para todos os participantes, pois ali no grupo todos aprendiam a conviver e a respeitar estas diferenças. No encontro cujo tema foi assertividade ela afirmou: “gostei de aprender a palavra assertividade.”. Assertividade é conhecida como a habilidade social de fazer afirmação dos próprios direitos e expressar pensamentos, sentimentos e crenças de maneira direta, clara, honesta e apropriada ao contexto, de modo a não violar o direito das outras pessoas11 . Quando o grupo entrou em recesso, ela pediu para a coordenadora leituras sobre assertividade para ler nas férias. Ao retornar os encontros do próximo ano, ela não pode participar do grupo devido a problemas de horário, mas relatou que já 51 Cantos, G. A. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 47-54, jan/jun. 2012 estava brincando com sua neta e colocando-a no seu colo “eu consegui colocar minha bisneta no colo, foi bom vencer esta barreira, graças a este grupo”. No ano 2008 a paciente passou a participar da hidroterapia a qual utilizava técnicas de watsu, halliwick associados com a biodanza aquática. Este programa lhe trouxe amplos benefícios, pois o método watsu foi importante, sobretudo na questão do relaxamento corporal e controle do estresse. Com a técnica de halliwick ela obteve melhoras na postura, maior amplitude de movimento, mais força muscular e equilíbrio. Pela a biodanza aquática ela podese beneficiar em relação à troca de afeto, vínculo com as pessoas, à capacidade de desejar buscar e desfrutar das coisas boas da vida, da intimidade e do contato corporal. Durante sua participação nesse programa ela teve monitoramento bioquímico e verificaram-se melhoras no quadro de dislipidemia. Essas alterações positivas devem estar relacionadas à sua participação ao programa. Vários estudos mostram os benefícios de programas de prevenção nos processos enzimáticos envolvidos no metabolismo lipídico, normalização do peso corporal, na diminuição dos níveis de pressão arterial, e estresse, mostrando que esses programas reduzem os custos do controle da doença, ou tratamento das complicações e possivelmente redução da mortalidade 12; 13; 14,15,16 A própria paciente relatou que sua participação junto ao NIPEAD-HU-UFSC foi de extrema importância para seu bem-estar e qualidade de vida. Comentou que sua disposição na realização nas diversas atividades melhorou junto com o seu enfrentamento do estresse verificado nos resultados dos três questionários utilizados. Trabalhos realizados pelo NIPEADHU-UFSC têm evidenciado a importância da orientação nutricional como uma medida de prevenção para doenças cardiovasculares17,18. Dentro dessa perspectiva este Núcleo tem realizado o acompanhamento nutricional de pacientes. No presente estudo de caso, mesmo ciente da importância desse tratamento, a paciente demonstrou grande dificuldade em aderir às orientações transmitidas pelas nutricionistas, pois não tinha habito alimentar saudável devido ao consumo de embutidos, queijos e geléias, dentre outros alimentos da culinária italiana. Ela frequentava assiduamente as palestras ministradas mensalmente, porém, não participou de nenhum dos almoços comunitários mensais realizados pelos participantes. Nesses almoços o cardápio era preparado pelo grupo de participantes e analisado por nutricionista para assegurar uma dieta balanceada. As adaptações das preparações eram discutidas pelo grupo. A sua presença nesses encontros poderia ter a ajudado a aderir melhor às questões nutricionais, pois além de promover interações sociais tinha o objetivo de estimular uma alimentação saudável e equilibrada. A paciente relata que parou de fumar logo após o falecimento do seu esposo, no ano de 1984, há 27 anos. Entretanto, comentou que tinha o hábito de fumar um cigarro todas as noites antes de dormir. Uma contradição: ela não parou de fumar, apenas diminuiu drasticamente o consumo de cigarro. Segundo literatura, tem sido amplamente demonstrado que o hábito de fumar, entre idosos, está associado a um excesso de mortalidade por todas as causas (doenças do aparelho circulatório, as neoplasias e as doenças do aparelho respiratório), e ao maior risco de mortalidade e morbidade por doenças cardiovasculares, doenças cerebrovasculares, doenças respiratórias e diversos tipos de cânceres 19. Seria importante que ela cessasse o consumo de cigarros, visto que a mesma já apresenta doenças cardiovasculares e, devido a sua idade elevada, poderia estar aumentando o risco de desenvolver cânceres. Contudo, a paciente parece não ter muitas preocupações em relação a sua alimentação e consumo de cigarro. Possivelmente isso pode estar relacionado com a sua idade elevada e sua boa condição de saúde, o que pode ter diminuído suas preocupações em relação ao tabagismo e nutrição. 52 Cantos, G. A. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 47-54, jan/jun. 2012 Tabela 1 - Perfil bioquímico da paciente em estudo 2000-2011 Ano Exames** GLI (mg/dl) CT (mg/dl) TG (mg/dl) HDL-c (mg/dl) 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2011 100 312 173 44 106 293 162 38 108 268 186 49 115 211 127 44 107 197 173 39 108 192 154 47 Valores de referência (mg/dl) 60-100 < 200 < 150 Baixa:≤40 Alta: ≥ 60 LDL-c(mg/dl) 223 222,6 182 141,6 123,4 110 115 < 100 HbA1c 6,2% 6,2% 6,3% 6,4% 6,4% 6,3% 6,3% 4,3a 6,1% Urca (mg/dl) 5,9 5,9 5,9 8,9 8,9 7,1 6,4 3,5-8,5 Crea (mg/dl) 0,8 0,9 1,0 1,2 1,2 1,4 1,3 0.5-1,2 Legenda**: GLI: glicose; CT: colesterol total; TG: triglicerídeos; HDL-c: lipoproteína de alta densidade; LDL-c: lipoproteína de baixa densidade; HbA1C: hemoglobina glicosilada; Urca: ácido úrico; Crea: creatinina. Conclusão A despeito da resistência à mudança apresentada pela paciente ao longo do tratamento, sobretudo na questão nutricional, a combinação de estratégias utilizadas pela equipe interdisciplinar e multiprofissional contribuiu de forma mais efetiva no seu quadro de saúde, com diminuição de taxas, exames dentro do padrão de referência, resultados dos questionários, na adesão e no tratamento da paciente, valorizando a sua subjetividade, e a sua história, socialização, e desenvolver uma postura a favor da vida. As experiências vivenciadas ao longo das diversas terapêuticas geraram um aprendizado com repercussão relevante na execução de tarefas diárias da vida e de enfrentamento dos problemas em relação á sua saúde. Referências 1. Brasil FBS. Efeitos da apresentação de um material educativo para pacientes com diabetes mellitus sobre o conhecimento e enfermidade da doença [tese]. Brasília: Uni. de Brasília; 2009. 2. Cavalett C. Avaliação do quadro 110 188 149 44 clínico e laboratorial de pacientes com alto risco para doença arterial coronariana atendidos por um programa multiprofissional e interdisciplinar [tese]. Florianópolis: Uni. Federal de Santa Catarina; 2008. 3. Cantos GA, Silva CM, Hermes EM, Balén MG, Schutz R. Atendimento multiprofissional e interdisciplinar para pacientes com dislipidemia de uma comunidade universitária: relatos de uma experiência de 10 anos. Rev Ciênc Saúde 2007;26(2):33-8. 4. Morris DM. Aquatic rehabilitation for the treatment of neurological disorders. J Back Muscoloskel Rehabil 1994;4:297-308. 5. Cunha MCB, Labronini RHDD, Oliveira ASB & Gabbai AA. Hidroterapia Rev Neurociênc 1998;6(3):126-30. 6. Toro RA. Biodanza. Fortaleza, São Paulo: Olavobrás; 2002. 7. Simon RMM. Estresse esclarecendo suas dúvidas. São Paulo: Ahora; 2000. 53 Cantos, G. A. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 47-54, jan/jun. 2012 8. Boucher F, Binette A. Vença o Estresse. São Paulo: Loyola; 1996. 9. Lip MEN. O que eu tenho é estresse? De onde ele vem? São Paulo: Contexto; 1999. 10. Grundy SM, Brewer B, Cleeman JI, Smith Jr SC, Lenfant C. Definition of the metabolic syndrome. Report of the National Heart, Lung and Blood Institute/American Heart Association Conference on Scientific Issues Related to Definition. Circ 2004;109:433–8. 11. Bandeira M, Lange AJ, & Jakubowski P. Responsible assertive behavior. Illionis: Research Press; 1976. 12. Ziogas GG, Thomas TR, Harris WS. Exercise training, postprandial hypertriglyceridemia, and LDL subfraction distribution. Med Sci Sports Exerc 1997;29:986-91. 13. Sunami Y, Motoyama M, Kinoshita F. Effects of low-intensity aerobic training on the high-density lipoprotein cholesterol concentration in healthy elderly subjects. Metabolism 1999;48:984-8. 14. Thompson PD, Yurgalevitch SM, Flynn MM. Effect of prolonged exercise training without weight loss on highdensity lipoprotein metabolism in overweight men. Metabolism 1997;46:217-23. 15. Sposito AC, Caramelli B, Fonseca FAH, Bertolami MC. IV Diretriz Brasileira sobre Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose: Departamento de Aterosclerose da Soc Brasileira de Cardiologia. Arq Bras Cardiol 2007;88(1):1-19. 16. Anderson MIP, Assis M, Pacheco LC, Silva EA, Menezes IS, Duarte T. Saúde e qualidade de vida na terceira idade. Textos Envelhecimento 1998;1(1):7-19 17. Cantos GA, Schütz R, Rocha ME. Associação das técnicas de Watsu e Halliwick com a Biodanza aquática, como forma de melhorar o estresse psicológico de pacientes com doenças crônicas. Rev Pensamento Biocêntrico 2008;9:69-83. 18. Schütz R, Gazzola J, Balen MG. Orientação nutricional na prevenção e controle de doenças cardiovasculares numa comunidade universitária. Rev Extensio 2009;6(7):126-32. 19. Cox JL. Smoking cessation in the elderly patient. Clin Chest Med 1993;14:423-8. 54 Krug, R. R. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 55-64, jan/jun. 2012 PERCEPÇÕES DE MULHERES IDOSAS DE FLORIANÓPOLIS/SC SOBRE A PRÁTICA DE ATIVIDADES FÍSICAS NO LAZER [Perceptions of older women in Florianópolis/SC on the practice of leisure physical activities] Rodrigo de Rosso Krug1; Moane Marchesan2. Resumo: Objetivou-se nesta pesquisa participante analisar quais são as barreiras e facilitadores para a prática de atividades físicas de seis idosas matriculadas em grupos de convivência de Florianópolis/SC. Aplicou-se uma ficha diagnóstica e o IPAQ (domínio lazer), além da técnica de grupo focal, interpretada pela análise de conteúdo. As barreiras percebidas foram: comodidade, doenças, transporte e o financeiro. Os facilitadores foram: apoio de familiares/amigos, gosto pela atividade física, sociabilização e o bom professor. Para superar a inatividade física é necessário buscar atitudes positivas para que esta população possa praticar atividades físicas regularmente, podendo assim ter um envelhecimento mais ativo e saudável. Palavras-chave: Idosas. Barreiras. Facilitadores. Atividade Física. Abstract: The objective of this research participant to analyze what are the barriers and facilitators to physical activity of elderly enrolled in six groups living in Florianópolis/SC. We applied a diagnostic plug and the IPAQ (recreation area), in addition to the focus group technique, performed by content analysis. The perceived barriers were: convenience, diseases, transport and finance. The facilitators were: support from family/friends, i like physical activity, socialization and good teacher. To overcome physical inactivity is necessary to seek more positive attitudes toward this population can practice regular physical activity, may therefore play a more active and healthy aging. Keywords: Older. Barriers. Facilitators. Physical Activity. Introdução brasileira alcançará 64 milhões no ano de 2050. Em Santa Catarina já existem mais de 600 mil idosos, e na capital Florianópolis, mais de 48 mil2. As perdas decorrentes do envelhecimento humano se dão nos aspectos biológicos, psicológicos e sociais3. O aparecimento de doenças é maior, sendo que 85% têm pelo menos uma doença crônica2, surgem problemas cognitivos4,5 e fisiológicos que diminuem a capacidade funcional dessas pessoas, dificultando a realização das atividades básicas da vida diária6. O aumento do envelhecimento populacional é um fenômeno mundial. Projeções estatísticas sugerem que até 2050, um quinto da população mundial será composto por pessoas acima de 60 anos de idade, o que corresponde a aproximadamente 200 milhões de pessoas1. No Brasil o envelhecimento da população também está acontecendo em ritmo acelerado. Atualmente existem mais de 20 milhões de idosos no Brasil. Estima-se que a população idosa ________________________ 1 Licenciado em Educação Física e Especialista em Ciências do Movimento Humano (UNICRUZ), Especialista em Educação Física Escolar (UFSM), aluno do Curso de Mestrado em Ciências do Movimento Humano (UDESC) 2 Fisioterapeuta, Licenciada em Educação Física e Especialista em Saúde Coletiva (UNICRUZ), Mestre em Educação Física (UFPEL) e aluna do Curso de Doutorado em Educação Física (UFSC). 55 Krug, R. R. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 55-64, jan/jun. 2012 Assim, o processo de envelhecimento contribui com o aumento do risco de inatividade física nesta população3, sendo que cerca de 53.2% das mulheres e 51.5% dos homens brasileiros acima dos 65 anos são inativos fisicamente7. A inatividade física é um dos principais fatores de risco para diversas doenças1, onde baixos níveis de atividade física aumentam os índices de mortalidade por todas as causas8. Neste sentido, o impacto da atividade física na saúde pode ser importante especialmente nos idosos9. Atualmente é um consenso entre os profissionais da área da saúde que a atividade física regular é um fator determinante no sucesso do processo do envelhecimento1,10. Com isso a investigação das barreiras e dos aspectos facilitadores para a realização de atividades físicas tem sido uma preocupação dos pesquisadores da área, na medida em que a compreensão destes fatores pode fornecer informações que levem a uma intervenção mais efetiva10. Sendo assim objetiva-se nesta pesquisa identificar o nível de atividade física no lazer e analisar quais são as barreiras e os aspectos facilitadores para a prática regular de atividades físicas no lazer de idosas matriculadas em grupos de convivência da cidade de Florianópolis/SC. Métodos Esta pesquisa caracteriza-se como qualitativa fenomenológica11. A pesquisa qualitativa fenomenológica privilegia a consciência do sujeito tentando entender à realidade social como uma construção humana, onde a preocupação fundamental é com a caracterização do fenômeno, com as formas que se apresenta e com as variações, já que o seu principal objetivo é a descrição11. Neste estudo os fenômenos estudados foram as barreiras e os aspectos facilitadores para a prática regular de atividades físicas de lazer percebidas pelas idosas matriculadas em grupos de convivência da cidade de Florianópolis/SC. Os sujeitos deste estudo foram seis mulheres idosas, matriculadas nos grupos de convivência Novas Amigas, Recordações e GIPAN, grupos estes cadastrados na Prefeitura Municipal de Florianópolis/SC. Essas idosas foram convidadas a participar do estudo por serem as únicas dos três grupos de convivência pesquisados a estarem na faixa etária de 75 a 79 anos que estavam presentes no dia em que os pesquisadores visitaram os respectivos grupos. Essa faixa etária foi escolhida por compreender uma faixa intermediária entre idosos jovens (60 a 74 anos) e idosos longevos (mais que 80 anos)2. Esses grupos de convivência têm suas reuniões realizadas no Conselho Comunitário do Pantanal, localizado no bairro Pantanal da referida cidade. Para participar da pesquisa as idosas tinham que estar devidamente matriculadas nos grupos de convivência e não apresentar déficits cognitivos. Esses grupos foram escolhidos por serem de fácil acesso aos pesquisadores devido a proximidade com a Universidade Federal de Santa Catarina. Os instrumentos utilizados foram os seguintes: A ficha diagnóstica aplicada para verificar as características sociodemográficas e condições de saúde das idosas; O Questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ) versão 8, forma longa e semana normal, adaptado para idosos, domínio 4 (lazer)12,para verificar o nível de atividade física no lazer da referida população. A técnica de grupo focal, para analisar as barreiras e os facilitadores para a prática regular de atividades físicas relatadas pelas idosas. Essa técnica tem um tópico a ser explorado, podendo abordar um tema e um grupo específico, a fim de entender em profundidade o comportamento de um determinado grupo13. Os tópicos explorados foram os seguintes: percepção da atividade física; participação em grupos de atividades físicas; motivos para a prática de atividades físicas; motivos para a não prática de atividades físicas; motivos que levam a faltas 56 Krug, R. R. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 55-64, jan/jun. 2012 no grupo de atividades físicas; pratica de atividades físicas no passado. A aplicação é composta de três fases: 1ª) o convite aos participantes e a preparação do encontro; 2ª) o encontro e o mapeamento dos participantes; e, 3ª) a transcrição das fitas e a compilação dos dados13. Na coleta de dados, inicialmente, entrou-se em contato com as coordenadoras dos três grupos de convivência que foram pesquisados neste estudo, para pedir permissão para fazer a pesquisa. Na etapa seguinte, as idosas foram convidadas a participar do estudo, posteriormente foram esclarecidos os objetivos desse, o retorno da pesquisa após sua conclusão e os procedimentos de coleta de dados. Também foi explicado sobre a confidencialidade dos dados e o direito de cada pesquisado de desistir a qualquer momento da pesquisa. As idosas que aceitaram participar da pesquisa assinaram o termo de consentimento livre esclarecido em duas vias, ficando uma em posse do pesquisador e a outra na posse da participante. Para a aplicação da ficha diagnóstica e do IPAQ foi marcada uma data, horário e local, de acordo com a disponibilidade das idosas. Estes questionários foram aplicados no Centro Comunitário do Pantanal, local este onde ocorrem os grupos de convivência selecionados para este estudo. Posteriormente foi marcado o dia, horário e local para a realização do grupo focal, que foi realizado no mesmo lugar. Os dados provenientes da ficha diagnóstica (características sociodemográficas e condições de saúde) foram analisados a partir da estatística descritiva, por meio de média e frequência simples. Para analisar o nível de atividade física das idosas a partir do IPAQ, foi utilizado o somatório dos tempos (minutos por semana) das atividades físicas no lazer (domínio 4), onde se considerou como pessoas ativas fisicamente as que têm o hábito regular de praticar atividades físicas, ou seja, que fazem atividades físicas moderadas e ou vigorosas com frequência maior ou igual a 150 minutos semanais. E as pessoas que não tem esse hábito regular de praticar atividades físicas, ou seja, que fazem menos que 150 minutos semanais de atividades físicas moderadas e ou vigorosas, são consideradas pessoas inativas 14 fisicamente . A técnica de grupo focal foi gravada e posteriormente transcrita, sendo que suas informações foram interpretadas pela análise de conteúdo15. Para Minayo15, a utilização da análise de conteúdo prevê três etapas principais: 1ª) Pré-análise: trata do esquema de trabalho e envolve os primeiros contatos com os documentos de análise, a formulação de objetivos, definição dos procedimentos a serem seguidos e a preparação formal do material. Além disso, a pré-análise pode ser decomposta nas seguintes tarefas: leitura flutuante; constituição do corpus; e formulação e reformulação de hipóteses e objetivos. 2ª) Exploração do material: corresponde ao cumprimento das decisões anteriormente tomadas, isto é, leitura de documentos, categorização, definição das unidades de contexto e de registro, entre outros. 3ª) Tratamento dos resultados obtidos e interpretação: fase onde os dados são lapidados, tornando-se significativos, sendo que essa etapa de interpretação deve ir além dos conteúdos manifestos nos documentos, buscando descobrir o que está em torno das novas dimensões teóricas e interpretativas, sugeridas pela leitura do material. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade do Estado de Santa Catarina, com o número de referência 149/2010 no dia 20/08/2010. Resultados e discussão Os sujeitos deste estudo tinham média de idade de 76,67 anos, mas, no entanto, quatro apresentam hipertensão, cinco artrose, três osteoporose, duas diabetes, uma dispilidemia e uma problemas de visão, e a maioria delas usa medicamentos. Nenhuma das idosas fuma ou já fumou, nem tem 57 Krug, R. R. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 55-64, jan/jun. 2012 costume de consumir bebidas alcoólicas e nenhuma delas tem dificuldades para praticar atividades físicas. Tabela 1. Características sociodemográficas e estado de saúde das idosas participantes do estudo. VARIÁVEIS Estado Civil Solteiro Casado Separado Viúvo Escolaridade Analfabeto Fundamental Incompleto Fundamental Completo Médio Completo Superior Completo Ocupação atual Aposentado e ou Pensionista Aposentado e ou Pensionista que Trabalha Não Remunerado Ainda Trabalha Renda Menos que um Salário Mínimo De 1 a 3 Salários Mínimos De 4 a 6 Salários Mínimos Mais que 6 Salários Mínimos Com quem mora atualmente Sozinho Acompanhado Religião Católica Outras Etnia Caucasiano/ Branco Afrodescente/ Mulato/ Pardo Asiático Estado de Saúde Ótimo/ Bom Regular Ruim/ Muito Ruim Uso de Medicamentos Sim Não f= freqüência; % porcentagem F % 0 2 0 4 00,00 33,34 00,00 66,66 0 3 0 2 1 00,00 50,00 00,00 33,33 16,67 5 1 0 0 83,33 16,67 00,00 00,00 0 3 1 2 50,00 16,67 33,33 2 4 33,34 66,66 6 0 100,00 00,00 6 0 0 100,00 00,00 00,00 4 2 0 66,66 33,34 00,00 5 1 83,33 16,67 58 Krug, R. R. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 55-64, jan/jun. 2012 Ao analisar o nível de atividade física no tempo de lazer das idosas participantes deste estudo evidenciou-se que três destas fazem menos que 150 minutos semanais de atividades físicas, sendo consideradas inativas fisicamente, e três fazem um tempo superior a 150 minutos semanais de atividades físicas regulares, sendo consideradas ativas fisicamente. Tabela 2. Nível de atividade física no lazer das idosas participantes do estudo. Participantes Idosa 1 Idosa 2 Idosa 3 Idosa 4 Idosa 5 Idosa 6 Prática semanal de AF (minutos) 0 0 300 450 185 120 As principais barreiras para a prática regular de atividades físicas no lazer na opinião das idosas participantes do estudo foram: a comodidade, as doenças, o transporte até o local onde é realizada a atividade física e a parte financeira. Ter doenças A primeira barreira mencionada pelas idosas matriculadas nos grupos de convivência de Florianópolis/SC foi “ter doenças”. As idosas relataram que as doenças impossibilitam a prática regular de atividades físicas. Esta barreira pode ser justificada pelo fato de estas idosas apresentarem muitas doenças como hipertensão, artrose, osteoporose, diabetes e dispilidemia, o que pode dificultar a prática regular de atividades físicas por parte destas. A presença de doenças crônicas pode ocasionar dores, desconfortos e outras limitações, que podem influenciar na decisão das pessoas, em aderir a prática regular de atividades físicas16. Satariano, Haight e Tager17 também encontraram esta barreira ao investigarem 2.046 indivíduos maiores de 55 anos e evidenciarem que os problemas de saúde são uma das barreiras citadas para a prática da atividade física no tempo livre. Diversos autores16,18,19, corroboram com esta afirmação ao citarem que o estado de saúde é uma barreira que influencia o idoso a não praticar atividades físicas. Classificação Inativa Inativa Ativa Ativa Ativa Inativa Comodidade Outra barreira mencionada pelas idosas para a prática regular de atividades físicas foi “a comodidade”. As participantes disseram que têm pouca vontade (preguiça) de fazer atividades físicas e se sentem mais cômodas em casa. Wilcox, Tudor-Locke e Ainsworth19 apontam que a falta de motivação ou força de vontade é uma barreira muito citada para a não aderência a prática regular de atividades físicas. O avanço da tecnologia provoca esta falta de vontade para a prática de atividades físicas, pois a televisão faz com que as pessoas fiquem muito paradas dentro de casa, o automóvel e o ônibus substituem as caminhadas, o elevador evita a subida de escada e muitas das profissões levam o trabalhador a passar muitas horas na posição sentada, fazendo com que as pessoas se sintam mais cômodas sendo inativas fisicamente20. Isto também é comprovado no estudo de Satariano, Haight e Tager17 que ao estudarem 2.046 pessoas com mais de 55 anos, verificara que a falta de interesse é uma barreira para a prática da atividade física no tempo livre, principalmente nas mulheres. O transporte Outra barreira mencionada pelas participantes do estudo foi “o transporte” até o local aonde é realizada a atividade física. Elas explicaram que os motoristas de ônibus andam muito rápido, e que os degraus dos ônibus são muito altos, dificultando o uso 59 Krug, R. R. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 55-64, jan/jun. 2012 deste meio de transporte por parte das pessoas idosas. As idosas acrescentaram que ir caminhando é muito difícil, pois a distância entre sua casa e o local onde é oferecida a atividade física é muito grande, fato este mencionado anteriormente. Benetti e Benedetti21 entrevistaram em seu estudo, 76 idosas, sendo 39 praticantes de exercícios físicos e 37 não praticantes, indagando estas sobre como estava o transporte coletivo da cidade de Florianópolis/SC, e verificaram nas falas das idosas que a tarefa de andar de ônibus aparentemente deixa as idosas apreensivas, ansiosas e preocupadas, descontentes com a situação, onde estas reclamam dentro e fora do ônibus da falta de educação de motoristas e cobradores. O transporte urbano é uma questão importante para os idosos no Brasil, pois o item é listado como uma das primeiras capacidades que o indivíduo perde, e entre as atividades do dia-a-dia é considerada a mais difícil22. Nossa sociedade possui muitas barreiras que influenciam o idoso a não praticar atividades físicas, e o transporte é uma delas18. O Financeiro O “financeiro” é outra barreira citada pelas idosas para a prática regular de atividades físicas. De acordo com as idosas está muito caro fazer atividades físicas em academias de ginástica. Este fato é facilmente explicado, pois a metade das participantes deste estudo ganha de 1 a 3 salários mínimos. Dados do IBGE23 mostram que 70% das pessoas idosas brasileiras recebem menos de dois salários mínimos como aposentadoria e ou pensão, limitando ainda mais a condição do idoso, que muitas vezes é incapacitado e sem recursos financeiros. Lehr18 e Hallal et al.16 explicam que o estado socioeconômico das pessoas influencia muito na sua prática regular de atividade física. Já os principais facilitadores para a prática regular de atividades físicas no lazer na opinião das idosas participantes do estudo foram: o apoio de familiares e amigos, o gosto pela modalidade de atividade física que vai praticar, a sociabilização e o bom professor. Apoio de familiares e amigos O primeiro fator facilitador para a prática regular de atividades físicas mencionado pelas idosas foi “ter apoio dos familiares e amigos” para praticar atividades físicas regularmente. As idosas relataram que se seus familiares e amigos incentivam a prática de atividades físicas ou realizam atividades físicas, a aderência deles a esta prática fica facilitada. O incentivo de familiares para a prática regular de atividades físicas, bem como ter companhia para realizar esta prática pode facilitar a pessoa idosa a adquirir este hábito regularmente10,24,25. Do mesmo modo Cassou et al.,10 enfatizam o papel da família como um agente facilitador para a prática regular da atividade física por parte das pessoas que estão na terceira idade. O gosto pela prática Outro facilitador para a prática regular de atividades físicas relatado pelas idosas foi “gostar de fazer atividades físicas”. As participantes explicaram que gostam de praticar dança e ginástica, e mencionaram que não fariam outras modalidades esportivas que não gostam. Esta informação está em concordância com a afirmação de Miranda e Batista26 de que o prazer é fundamental para a aderência à atividade física. Em estudo realizado com pessoas idosas, na cidade de Belo Horizonte, o prazer pela prática foi apontado como um motivo para esses ingressarem em um programa de atividades físicas27. Ter o prazer como o motivo mais referenciado para ingressar em programa de atividades físicas, é uma motivação intrínseca que evidencia o desejo pessoal associado à realização e satisfação em estar em um grupo social, com manifestações de respeito, cumplicidade e reconhecimento social, desejos que se tornam importantes, principalmente, nesta fase da vida27. 60 Krug, R. R. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 55-64, jan/jun. 2012 Meurer, Benedetti e Mazo28 relata que o prazer pela prática de atividades físicas é um dos fatores mais citados pelas pessoas idosas que participaram de seu estudo como fator motivante para a aderência a prática de atividades físicas regulares. Mazo, Cardoso e Aguiar29 também concluíram em seu estudo que o principal motivo para que os idosos (n=60) pratiquem atividades físicas regulares é o gosto pela atividade física. Sociabilização A “sociabilização” foi outro facilitador para a prática de atividades físicas mencionada pelas idosas. Elas explicaram que quando a atividade física é feita em grupo ou com amigos é melhor, pois assim podem conversar e conhecer mais pessoas. A perda do espaço social é mais um problema do envelhecimento humano, principalmente, após o evento da aposentadoria, sendo que os programas de atividades físicas podem amenizar essa perda, pois representam uma maior convivência entre amigos30. O fator sociabilização dentro de um grupo de atividades físicas é muito importante, pois pode fazer com que os participantes tenham uma perspectiva de novas relações de amizades28. Meurer, Benedetti e Mazo28 encontrou em seu estudo que a sociabilização, com 8,6%, foi o segundo motivo mais citado pelas pessoas idosas, para a aderência ao projeto de atividades físicas Floripa Ativa – Fase B. No estudo de Mazo, Cardoso e Aguiar29 com 60 idosos da cidade de Florianópolis/SC, o convívio social e a sociabiliazação (25%) foram fatores facilitadores para a prática regular de atividades físicas por parte desta população. O Bom professor O último facilitador para a prática de atividades físicas relatado pelas idosas foi “ter um bom professor”. As idosas relataram que se o professor é calmo, sabe o que está fazendo, não falta às aulas e sabe explicar e adequar os exercícios para as limitações delas será mais fácil de elas fazerem atividades físicas regularmente. As atividades desenvolvidas de forma prazerosa, social, gradual, dinâmica, variada, entre outras, bem como as atitudes profissionais, são fatores facilitadores para a participação e continuidade de um idoso em um programa. Sendo assim a atuação do profissional de Educação Física é fundamental para a adoção e a manutenção de um idoso em um programa de atividades físicas10. Todo o início ou reinício de atividade física deve ser controlado, principalmente para pessoas idosas, evidenciando assim a importância de uma orientação especializada para a prática de atividades físicas regulares31. A prática regular de atividade física só proporcionará benefícios para saúde se esta for bem orientada e bem praticada, devendo ser encarada como um meio potencial para se contribuir para a saúde32. Para que os benefícios da atividade física sejam contemplados, é necessário que a prática seja fundamentada em alguns princípios básicos como a intensidade, a duração e a freqüência, conceitos estes estudados por profissionais de Educação Física20. Considerações Finais É muito importante conhecer as barreiras e os aspectos facilitadores que podem influenciar as pessoas idosas na adesão e na manutenção de práticas de atividades físicas regulares no lazer, pois a partir do levantamento destes fatores, podemos propor intervenções para uma mudança de comportamento, proporcionando um envelhecimento ativo. Existem muitos fatores que influenciam a prática regular de atividades físicas, sendo que neste estudo as barreiras relatadas pelas idosas foram a comodidade, as doenças, o transporte até o local onde é realizada a atividade física e a parte financeira. Os facilitadores citados pelas mesmas foram o apoio de familiares e amigos, o gosto pela modalidade de atividade 61 Krug, R. R. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 55-64, jan/jun. 2012 física praticada, a sociabilização e o bom professor. Com este estudo conclui-se que realizar atividades físicas regularmente está vinculado a desafios constantes para as idosas participantes do estudo e, que, é necessário transpor as barreiras advindas do envelhecimento, buscando atitudes positivas, neste caso os facilitadores, para que esta população possa adotar um estilo de vida ativo tendo um envelhecimento mais saudável. Referências 1. Organização Mundial de Saúde - OMS. Envelhecimento Ativo: uma política de saúde. Brasília: Organização PanAmericana da Saúde; 2005. 2. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Base de dados, censo 2010. Rio de Janeiro: IBGE; 2010. 3. Von Bonsdorff MB, Rantanen, T. Progression of functional limitations in relation to physical activity: a life course approach. Eur Rev Aging Phys Act 2011;8:23-30. 4. American College of Sports Medicine ACSM. Position stand on exercise and physical activity for older adults. Medicine Scien Sports Exerc 1998;30:992-1008. 5. Moreno JA, Cervelló E, Moreno R. Importancia de la práctica físicodeportiva y del género em el autoconcepto físico de los 9 a los 23 años. Intern J Clin Health Psyc 2008;8(1):171-83. 6. Mazo GZ, Lopes MA, Benedetti TRB. Atividade física e o idoso: concepção gerontológica. 3 ed. Porto Alegre: Sulina; 2009. 7. Brasil. Ministério Da Saúde. Vigitel Brasil 2008: vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico. Brasília; 2009. 8. Blair SN. Physical Inactivity: the major public health problem of the new millennium the evidence and strategies for change. In: Caderno de Resumo do Congresso de Desporto, Actividade Física e Saúde: o contributo da ciência e o papel da escola. Porto: FCDEF; 2002. p.2-4. 9. Hirvensalo M, Lintunen T. Life-course perspective for physical activity and sports participation. Eur Rev Aging Phys Act 2011;8:13-22. 10. Cassou ACN, Fermino RC, Santos SM, Rodriguez-Añes CR, Reis RS, Rodrigues MR. Barriers to Physical Activity Among Brazilian Elderly Women From Different Socioeconomic Status: A Focus-Group Study. J Phy Act Health 2011;8:126-32. 11. Triviños ANS. Introdução à pesquisa em ciências sociais – pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas; 1987. 12. Mazo GZ; Benedetti TRB. Adaptação do questionário internacional de atividade física para idosos. Rev Bras Cinean Desemp Humano 2010;12(6):480-84. 13. Trad LAB. Grupos focais: conceitos, procedimentos e reflexões baseadas em experiências com o uso da técnica em pesquisas de saúde. Rev Saúde Col 2009;19(3):777-96. 14. Marshall A, Bauman A. The International Physical Activity Questionnaire. Summary Report of the Reliability & Validity Studies. Produzido pelo Comitê Executivo do IPAQ. Summary, March, 2001. 15. Minayo MCS. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 11ª ed. São Paulo: Hucitec; 2008. 62 Krug, R. R. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 55-64, jan/jun. 2012 16. Hallal PC, Victora CG, Wells JCK, Lima RC. Physical Inactivity: Prevalence and Associated Variables in Brazilian Adults. Medicien Scien Sports & Exerc 2003;35(11):1894-900. 24. Cohen-Mansfield J, Marx MS, Guralnik JM. Motivators and barriers to exercise in an older community-dwelling population. J Aging Phys Activ 2003;11(1):242-53. 17. Satariano WA, Haight TJ, Tager IB. Reasons given by older people for limitation or avoidance of leisure time physical activity. J Am Geriatrics Soc 2000;8:505-12. 25. Cassou ACN, Fermino RC, Santos MS, Rodriguez-Añez CR, Reis RS. Barreiras para a atividade física em idosos: uma análise por grupos focais. Rev Educ Fís UEM 2008;19(3):353-60. 18. Lehr U. Revolução da Longevidade: sociedade, na família e no individuo. Rev Est Interdiscip Env 1999;1:7-36. 26. Miranda CJM, Batista LA. O prazer como determinante da aderência à atividade física por adolescentes, o caso do contexto escolar. Livro de Resumo do XVII Congresso de Educação Física e Ciências do Esporte dos Países de Língua Portuguesa; 1999 Abril 17-22; Florianópolis, Brasil. 19. Wilcox S, Tudor-Locke CE, Ainsworth BE. Physical Activity Patterns, Assessment, and Motivation in Older Adults. In: Shephard RJ (ed.) Gender, Physical Activity, and Aging. Florida: CRC Press LLC; 2002. p.13-39. 20. Nahas MV. Atividade Física, Saúde e Qualidade de Vida. 4. ed. Londrina: Midiograf; 2006. 21. Benetti MZ, Benedetti TRB. Idoso, ônibus e exercício físico. Revista Lecturas: Educación Física y Deportes [revista online] 2005 Agosto. Disponível em:http://www.efdeportes.com/efd87/ido so.htm 22. Ramos LR. Health care for the elderly an unmet need. Assessing health and living in a large urban center, São Paulo [Tese]. Londres: Departamento de Medicina Comunitária de Londres; 1986. 23. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Censo Demográfico 2000. Sinopse preliminar do Censo demográfico 2000. Rio de Janeiro: IBGE; 2001. 27. Lins RG, Corbucci PR. A importância da motivação na prática de atividade física para idosos. Rev Estação Científica Online 2007;4. 28. Meurer ST, Benedetti TRB, Mazo GZ. Teoria da autodeterminação: compreensão dos fatores motivacionais e autoestima de idosos praticantes de exercícios físicos. Rev Bras Ativ Fís Saúde 2011;16(1):18-23. 29. Mazo GZ, Cardoso FL, Aguiar DL. Programa de Hidroginástica para Idosos: motivação, auto-estima e auto-imagem. Rev Bras Cinean Desemp Humano 2006;8(2):67-72. 30. Souza DL, Vendrusculo R. Fatores determinantes para a continuidade da participação de idosos em programas de atividade física: a experiência dos participantes do projeto "Sem Fronteiras". Rev Bras Educ Fís Esp 2010;24(1):95-105. 63 Krug, R. R. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 55-64, jan/jun. 2012 31. Carvalho T, Nóbrega ACL, Lazzoli JK, Magni JRT, Rezende L, Drummond FA et al. Posição oficial da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte: atividade física e saúde. Rev Bras Med Esp 1996;2:4. 32. Ferreira MS. Aptidão física e saúde na Educação Física Escolar: Rev Bras Ciên Esp 2001;22(2):41-54. 64 Benedet, R. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 65-74, jan/jun. 2012 DETERMINAÇÃO DE DNA-HPV POR CAPTURA HÍBRIDA II E SUA RELAÇÃO COM A COLPOCITOLOGIA ONCOLÓGICA [Determination of HPV DNA by Hybrid Capture II and its relationship with the Pap smear] Rafael Benedet1; Lisiane Pagnussat2; Cidônia De Lourdes Vituri3. Resumo: A Captura Híbrida II (CH II) têm sido sugerida como método alternativo a colpocitologia oncológica (CO) para o rastreamento de câncer do colo uterino, por essa ser um exame tecnicamente complexo. No estudo foram avaliadas 82.182 requisições do Laboratório OnlineLab em Florianópolis, Santa Catarina e selecionadas as que continham suspeita clínica de infecção pelo HPV, exames de CO e CH II simultaneamente. Houve clara associação entre HPV de alto risco e valor da carga viral com o grau das lesões precursoras de câncer cervical. Ainda, a infecção pelo HPV é mais comum em mulheres com menos de 30 anos. Palavras-Chave: Captura Híbrida II, Colpocitologia Oncológica, Papilomavírus Humano, carga viral. Abstract: The Hybrid Capture II (HC II) has been suggested as an alternative methods to Pap smear (PS) for screening of cervical cancer, since this is a technically complex test. In the study were evaluated 82.182 requests from the OnlineLab in Florianópolis, Santa Catarina, and selected those containing clinical suspect of HPV infection, PS and HC II tests simultaneously. There was a clear association between high-risk HPV and viral load values to the degree of precursor lesions of cervical cancer. Yet, the HPV infection is more common among women under 30. Key words: Hybrid capture II, Pap Smear, Human papillomavirus, viral load. Introdução maligna mais comum entre as mulheres, sendo superado pelo câncer de pele (nãomelanoma) e pelo câncer de mama. Para o ano de 2008, as Estimativas da Incidência de Câncer no Brasil apontam a ocorrência de 18.680 novos casos de câncer do colo do útero, com um risco estimado de 19 casos a cada 100 mil mulheres (2). A infecção pelo Papilomavírus Humano (HPV) é a principal causa câncer de colo do útero (3, 4, 5, 6). Mais de 100 tipos de HPV tem sido identificado e subdivididos em tipos de baixo risco oncogênico e tipos de intermediário/alto risco oncogênico (4, 7). Porém, praticamente O câncer de colo do útero é um problema de saúde pública em muitas regiões do mundo, apesar da tecnologia para seu diagnóstico precoce estar disponível há muitas décadas (1). Com cerca de 500 mil casos novos por ano no mundo, o câncer do colo do útero é o segundo tipo de câncer mais comum entre as mulheres, sendo responsável por, aproximadamente, 230 mil óbitos por ano (2). No Brasil, estima-se que o câncer de colo uterino seja a terceira neoplasia ______________________ 1 Farmacêutico Bioquímico do OnlineLab Laboratório de Anatomia Patológica, Florianópolis, Santa Catarina, Brasil. E-mail: [email protected] 2 Farmacêutica Bioquímica, especialista em Citologia Cérvico-Vaginal e Líquidos Corporais pela Universidade Federal de Santa Catarina, Departamento de Análises Clínicas, Florianópolis, Santa Catarina, Brasil. E-mail: [email protected] 3 Professora Doutora da Universidade Federal de Santa Catarina, Departamento de Análises Clínicas, Florianópolis, Santa Catarina, Brasil. E-mail: [email protected] 65 Benedet, R. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 65-74, jan/jun. 2012 todos os casos de câncer do colo do útero são causados por um dos 15 tipos de alto risco oncogênico (2, 4, 8). Destes, os tipos mais comuns são o HPV16 e o HPV18 (2, 9). Verifica-se, porém, que a maioria das infecções pelo HPV de alto risco oncogênico é transitória e, aproximadamente 70% delas desaparecem no período de um ano (4). A maioria dos casos de câncer do colo uterino pode ser prevenida por meio de um programa de rastreamento, no qual possui a proposta de diagnosticar o câncer em estádios iniciais e de detectar e remover lesões de alto grau (1). A colpocitologia oncológica (CO) é o método mais difundido mundialmente para esse rastreamento (1, 4). A CO, contudo, é um exame tecnicamente complexo, que depende de coleta e preparação adequada dos esfregaços, processamento laboratorial controlado e leitura e interpretação por profissionais experientes (10, 11, 12), podendo resultar em um exame inadequado e falsonegativo (13). Com isso métodos alternativos e tecnologicamente diferentes da citologia oncológica têm sido sugeridos para o rastreamento do câncer cervical, entre estes a inspeção visual com ácido acético 3% a 5% e com solução de iodo 2% a 5% (prova de Schiller) através do exame especular, colposcopia e testes de biologia molecular (DNA-HPV) (1). Somente os testes virais permitem a identificação do DNA do HPV, independente ou não de alterações morfológicas induzidas pelo vírus (14) e por serem mais sensíveis permitem um intervalo maior entre os exames de rastreamento (9, 15). Além disso, a identificação de HPV de alto risco e carga viral é importante para se estabelecer o potencial de progressão para lesões cervicais mais graves (3, 16). Em decorrência disso é válido supor que as técnicas de biologia molecular possam constituir métodos adjuvantes à CO no diagnóstico de lesões pré-neoplásicas do colo do útero (10, 12). Dentre os métodos de biologia molecular disponíveis, a Captura Híbrida II (CH II) parece ser adequada para esta finalidade, pois é de fácil execução e leitura e não é influenciada por condições locais como presença de infecção, inflamação, atrofia ou sangue (14). Métodos População estudada Este trabalho “Determinação de DNAHPV por Captura Híbrida II e sua relação com a Colpocitologia Oncológica”, é parte integrante do projeto “Estudo Citomorfológico de lesões do colo uterino – análise comparativa de diversas metodologias”, aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de Santa Catarina, sob o número 115/03. Neste estudo descritivo de corte transversal foram avaliadas 82.182 requisições encaminhadas ao Laboratório OnlineLab, instituição particular de Florianópolis, Santa Catarina, entre setembro de 2001 e dezembro de 2005, incluindo mulheres de 13 a 68 anos de idade. Das requisições analisadas foram selecionadas para o estudo aquelas que continham suspeita clínica de infecção pelo HPV, CO e detecção do DNA-HPV pelo sistema CH II, simultaneamente. A suspeita clínica partiu de alterações ou lesões de colo uterino observadas pelos médicos durante a consulta ginecológica através do exame especular (avaliação a olho nu, inspeção visual com ácido acético 3 a 5% e solução de iodo 2 a 5%). Citologia Para a Colpocitologia Oncológica foram coletadas amostras de raspado vaginal e/ou cervical e de escovado da endocérvice em consultório médico, durante a consulta ginecológica. As lâminas foram coradas pelo método de Papanicolaou e avaliadas com base no Sistema Bethesda (2001) e classificação de Richard (1967), pelo laboratório OnlineLab. Os resultados citológicos foram classificados em: (1) negativo para lesão intraepitelial ou malignidade (NILM); (2) alterações inflamatórias; (3) atipias de células 66 Benedet, R. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 65-74, jan/jun. 2012 escamosas de origem indeterminada (ASCUS); (4) lesões escamosas de baixo grau (LSIL / NIC I para Richard) e (5) lesões escamosas de alto grau (HSIL). Os casos de HSIL foram subclassificados em NIC II e NIC III segundo Richard. Captura Híbrida II A detecção de DNA-HPV foi obtida através do exame de Captura Híbrida II, onde o processamento foi realizado segundo as instruções do fabricante, por laboratórios de Análises Clínicas de Florianópolis - SC. O material para análise consistia de raspado endocervical coletado com uma escova fornecida pelo próprio fabricante da CH II. A captura híbrida para HPV é capaz de detectar os 18 tipos de HPVs divididos em sorotipos de baixo risco e de intermediário/alto risco. O grupo A possui sondas para os HPVs de baixo risco (6, 11, 42, 43, e 44) e o grupo B, sondas para os HPVs de intermediário/alto risco (16, 18, 31, 33, 35, 39, 45, 51, 52, 56, 58, 59, 68) (17, 18). A detecção foi feita pela medida da luz emitida e expressa como unidade de luz relativa por controle positivo (RLU/PCB), no luminômetro. A intensidade da luz denota a presença ou ausência e é proporcional a carga de DNA-HPV, sendo desta forma a Captura Híbrida, ao mesmo tempo, um teste qualitativo e quantitativo. A sensibilidade da metodologia é de 1 pg/ml de DNA/HPV, isto é, 0,1 cópias de vírus/célula e a proporção de RLU/PCB para considerar o exame como positivo é de 1,0, o que corresponde a 1 pg/mL de DNA-HPV. No entanto valores menores que 50,00 significam pequeno número de cópias virais/célula, podendo corresponder a infecção inicial, latente ou em remissão espontânea. Nestes casos, a critério médico, sugere-se reavaliar a evolução da carga viral após o intervalo de 3 meses. Análise dos Dados Para análise dos resultados foi elaborado tabelas descritivas, no Microsoft Word, com o resultado dos exames da CO e CH II. Os resultados obtidos das cargas virais das cepas de intermediário/alto grau (Grupo B) segundo graus de lesões foram analisados estatisticamente empregando-se o programa INSTAT-2. O grau de correlação foi analisado pelo teste não paramétrico de Spearman, onde foi considerado significativo quando p 0,05. Resultados Das 82.182 requisições analisadas 916 apresentavam suspeita clínica de infecção pelo HPV, solicitação de CO e CH II, sendo assim selecionadas para o estudo. Desses 916 casos selecionados 322 (35,2%) apresentaram pelo menos um dos exames positivo. A CO foi positiva em 90 casos (28,0%) e a CH II foi positiva em 309 casos (96%). Dos 90 casos com atipias celulares encontradas através da CO, 14 (15,5%) foram classificados como ASCUS, 67 (74,5%) como LSIL / NIC I e 9 (10,0%) como HSIL / NIC II. Não foi encontrada nenhuma citologia oncológica sugestiva de carcinoma in situ ou invasivo (HSIL / NIC III). Das 309 CH II positivas, 45 (14,5%) foram somente para vírus de baixo risco (grupo A), 201 (65,0%) somente para vírus de intermediário/alto risco (grupo B) e 63 (20,5%) foram positivas para os vírus de baixo e intermediário/alto risco (grupos A e B) (Figura 1). 67 Benedet, R. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 65-74, jan/jun. 2012 82.182 requisições Período de Set/2001 – Dez/2005 916 casos Suspeita clínica, COa e CH IIb ASCUS – 14 (15,5%) LSIL – 67 (74,5%) HSIL – 9 (10,0%) Grupo A – 45 (14,5%) Grupo B – 201 (65,0%) Grupos A e B – 63 (20,5%) 322 casos positivos 35,2% CO 90 casos 28,0% CH II 309 casos 96,0% Figura 1 - Incidência de exames positivos na CO e na CH II com suspeita clínica, Florianópolis (SC), Brasil, 2001-2005. CO: Colpocitolopia Oncológica; CH II: Captura Híbrida II; ASCUS: Atipias de células escamosas de origem indeterminada; LSIL: Lesões escamosas de baixo grau; HSIL: Lesões escamosas de alto grau. Grupo A: vírus de baixo risco; Grupo B: vírus de intermediário/alto risco; Grupos A e B: vírus de baixo e intermediário/alto risco. Comparando os resultados da CO e da CH II, observamos que 13 casos foram positivos somente na CO, 232 casos somente na CH II e 77 casos apresentaram-se positivos na CO e na CH II. Das 14 amostras diagnosticadas como ASCUS, 86% apresentaram resultado positivo, por CH II, para HPV de baixo risco e 28,5% para HPV de intermediário/alto risco. Das 67 amostras diagnosticadas como NIC I, 28% apresentaram resultado positivo, por CH II, para HPV de baixo risco e 82% para HPV de intermediário/alto risco. Das 9 amostras diagnosticadas como NIC II, 33% apresentaram resultado positivo, por CH II, para HPV de baixo risco e 67% para HPV de intermediário/alto risco (Tabela 1). 68 Benedet, R. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 65-74, jan/jun. 2012 Tabela 1. Porcentagem de positividade da CH II em relação a CO, Florianópolis (SC), Brasil, 2001-2005 Grau de lesão (CO) % CH II Grupo A (baixo risco) % CH II Grupo B (intermediário/alto risco) ASCUS 86% 28,5% LSIL (NIC I) 28% 82% HSIL (NIC II) 33% 67% CH II: Captura Híbrida II; CO: Colpocitolopia Oncológica; ASCUS: Atipias de células escamosas de origem indeterminada; LSIL/NIC I: Lesões escamosas de baixo grau; HSIL/NIC II: Lesões escamosas de alto grau. Entre os casos com CO normal e CH II positiva 43 corresponderam a vírus do grupo A com uma média de carga viral de 34,0 RLU, 150 corresponderam ao grupo B com média de carga viral de 20,40 RLU e 39 manifestaram-se positivos para os grupos A e B simultaneamente, com médias de cargas virais de 48,05 e 32,54 RLU respectivamente. Nos casos de ASCUS, 8 corresponderam a vírus do grupo B com média de carga viral de 137,22 RLU e 4 casos manifestaram-se positivos para os grupos A e B simultaneamente, com médias de cargas virais de 528,98 e 28,12 RLU respectivamente. Nos casos de NIC I (LSIL), 3 corresponderam a vírus do grupo A com média de carga viral de 104,89 RLU, 39 ao grupo B com média de carga viral de 431,67 RLU e 16 casos manifestaram-se positivos para os grupos A e B simultaneamente, com médias de cargas virais de 155,95 e 306,65 RLU respectivamente. E finalmente nos casos de NIC II (HSIL), 3 corresponderam a vírus do grupo B com média de carga viral de 1.295,07 RLU e 3 manifestaram-se positivos para os grupos A e B com médias de cargas virais de 148,57 e 315,15 RLU respectivamente (Tabela 2). Tabela 2. Avaliação da carga viral nos diferentes graus de lesão, Florianópolis (SC), Brasil, 2001-2005 Grau lesão (CO) Normal ASCUS LSIL (NIC I) HSIL (NIC II) de CH II Grupo A (baixo risco) Número Média da de casos carga viral (RLU/PCB) CH II Grupo B (intermediário/alto risco) Número de Média da casos carga viral (RLU/PCB) 43 34,0 150 20,40 0 0 8 137,22 3 104,89 39 431,67 0 0 3 1.295,07 CH II Grupo A e B (baixo e intermediário/alto risco). Número de Média da casos carga viral (RLU/PCB) 48,05 A 39 32,54 B 528,98 A 4 28,12 B 155,95 A 16 306,65 B 148,57 A 3 315,15 B CH II: Captura Híbrida II; CO: Colpocitolopia Oncológica; ASCUS: Atipias de células escamosas de origem indeterminada; LSIL/NIC I: Lesões escamosas de baixo grau; HSIL/NIC II: Lesões escamosas de alto grau. 69 Benedet, R. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 65-74, jan/jun. 2012 Através da determinação do percentual de positividade da CO nas diferentes faixas de valores de carga viral (RLU/PCB), obtidos pela CH II, podemos observar que à medida que a carga viral DNA-HPV de alto risco oncogênico (grupo B) assume valores mais elevados, aumenta também o percentual de positividade da CO (Tabela 3). Tabela 3. Porcentagem de positividade da CO em relação à carga viral (RLU) para DNAHPV de alto risco oncogênico (grupo B) detectada pela CH II, Florianópolis (SC), Brasil, 2001-2005 Carga viral (RLU/PCB) % de positividade CO Inferior a 1 29% 1-10 14% 11 – 50 28,5% 51 – 100 37,5% 101 – 200 70% 201 – 300 50% 301 – 500 87,5% Acima de 500 90% * r = 0,9048 p = 0,0046** CO: Colpocitolopia Oncológica. Grau de Correlação (Teste de Spearman) * Considerado significante (p < 0,05) * A idade das mulheres variou de 13 a 68 anos (média de 28 anos), sendo que 73% dos resultados de CH II e/ou CO positivas foram entre aquelas com menos de 30 anos de idade. Discussão Devido à forte associação entre HPV e lesões intraepiteliais escamosas o teste molecular de CH II tem sido motivo de estudos com o objetivo de auxiliar a interpretação do diagnóstico citológico (4). Nosso estudo demonstrou uma proporção nitidamente maior de casos com CH II positiva em comparação com o índice de positividade da CO, já que das 322 amostras que apresentaram pelo menos um dos exames positivo, a CO foi positiva em 90 casos (28,0%) e a CH II foi positiva em 309 casos (96%), mostrando assim uma maior sensibilidade por parte da CH II. Esses resultados são semelhantes a outros estudos já descritos (9, 19, 20). No entanto, apesar dessa conclusão, o papel da detecção do DNA-HPV é controverso, pois a grande maioria desses casos apresentou baixa carga viral podendo corresponder à infecção inicial, latente ou em remissão espontânea e, conseqüentemente, baixo risco para qualquer tipo de lesão de alto grau. Além disso, a presença do HPV é necessária, mas insuficiente para causar (13) câncer cervical . Para ocorrer desenvolvimento de lesão intraepitelial é necessário que haja uma porta de entrada para o vírus (infecção, eversão de colo, processo inflamatório, micro-traumas), que o vírus possua potencial carcinogênico, que se tenha uma alta carga viral e/ou que a paciente esteja com baixa imunidade (21). Esses resultados também podem ser justificados pela dificuldade de interpretação 70 Benedet, R. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 65-74, jan/jun. 2012 da lâmina na CO, problemas na coleta (4) ou ainda pelo fato de que 73% das mulheres estudadas possuíam idade inferior a 30 anos. Sabe-se que nesta faixa etária a especificidade da CH II diminui, pois as infecções subclínicas pelo HPV são comuns e a grande maioria das mulheres tem infecção transitória que, em curto período de tempo elimina completamente o vírus, sem resultar em doença (1, 6, 12). Além disso, a moderada especificidade da CH II pode ser atribuída a reação cruzada com genótipos de HPV não carcinogênicos (22). No entanto, estudos têm demonstrado relação proporcional entre a detecção do HPV e a evolução das mulheres com citologia normal para lesão de alto grau (12). Com isso a utilização de uma técnica alternativa, como a detecção do DNA-HPV pelo método de CH II, pode assumir papel coadjuvante, ao lado da citologia oncológica, resultando em melhoria da detecção e da predição da gravidade das lesões cervicais, com conseqüente diminuição da incidência e mortalidade por câncer do colo uterino. No entanto, sua utilização como rastreamento é aconselhável somente nas pacientes com idade superior a 30 anos visto que nesse grupo sua especificidade aumenta (20). De um modo geral, a associação da CO e da CH II pode elevar a sensibilidade e o valor preditivo negativo para quase 100% (12). A prevalência de 15,5% de ASCUS e 74,5% de LSIL / NIC I em nosso trabalho, contra apenas 10,0% de HSIL / NIC II pode ser explicada pelo fato do diagnóstico citológico de anormalidades menores ser considerado complexo mesmo por patologistas experientes, conduzindo a possíveis erros. Além disso, as amostras colpo-dirigidas podem ser representativas de regiões da cérvice onde não ocorrem lesões mais graves (10). Entre os 309 casos com CH II positivas, 45 (14,5%) foram somente para vírus de baixo risco (grupo A), 201 (65,0%) somente para vírus de intermediário/alto risco (grupo B) e 63 (20,5%) foram positivas para vírus de baixo e intermediário/alto risco (grupos A e B), demonstrando uma prevalência de HPV de alto risco na população estudada. Resultados semelhantes foram encontrados em outros estudos, onde a maioria dos casos positivos na CH II eram HPV de alto risco (4, 24) . Em um estudo de corte transversal, realizado em Belo Horizonte – MG, com 110 mulheres que apresentavam resultado de citologia e/ou biópsia compatível com diagnóstico de NIC, o resultado da CH II para detecção do DNA-HPV foi positivo em 85 (77,3%) mulheres. Entres estes, 84 (76,4%) corresponderam a vírus de alto risco oncogênico (Grupo B). Em apenas uma paciente foi detectado vírus de baixo risco (Grupo A) e em 17 (15,5%) pacientes detectou-se HPV dos dois grupos (A e B) (14). Nossos resultados também confirmam estudos anteriores em que à medida que aumenta o grau de lesão pela avaliação citológica, o percentual de casos positivos para HPV de intermediário/alto risco elevase. Por outro lado, para o grupo de baixo risco, quanto maior o grau de lesão menor o percentual de casos positivos. A literatura mostra maior chance de progressão da lesão intraepitelial, na presença do vírus HPV de alto risco oncogênico (3, 8, 26), principalmente quando a infecção é persistente e com alta carga viral (14). De acordo com nosso trabalho, à medida que ocorre evolução da lesão há também um aumento da carga viral para HPV de alto risco, que são as maiores responsáveis pelo câncer de colo uterino, mostrando a coerência com dados da literatura (4, 6, 27). Estudos recentes relataram que em pacientes com elevada carga viral, de HPV de alto risco, há maior chance de desenvolvimento de lesões intraepiteliais, e que a quantidade de DNA-HPV está relacionada com a severidade da lesão intraepitelial (4, 6,14, 27). Assim, a alta carga viral de HPV do grupo B poderia ser usada como um marcador de progressão da lesão (3, 28) . No entanto, alguns autores afirmam que o significado da carga viral não está bem definido, sendo possível que em alguns casos não apresenta correlação com a severidade da lesão (5, 29, 30, 31). 71 Benedet, R. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 65-74, jan/jun. 2012 Também podemos observar que à medida que a carga viral DNA-HPV de alto risco oncogênico assume valores mais elevados, aumenta também o percentual de positividade da CO, ou seja, melhora a sensibilidade da CO. Isso se deve ao fato de que quanto maior o número de cópias de vírus p/ célula, maior a probabilidade das atipias celulares estarem presentes e serem detectadas pela CO. No entanto, em alguns casos em que a CH II manifestou-se com valores inferiores a 1,0 RLU (negativa) para carga viral de HPV de alto risco, na CO foram observadas atipias celulares, atingindo uma porcentagem relativamente alta (29%). Os casos de NIC negativos para DNAHPV podem decorrer da presença de lesões com poucas cópias de vírus, ainda não detectadas pelos métodos utilizados ou por serem lesões contendo novos tipos viróticos ainda não incluídos nos testes (14). Também pode não ser detectada a presença deste vírus como o agente etiológico (14). A detecção do HPV pode ainda ser influenciada por diversos fatores, entre os quais a qualidade da amostra, local de sua coleta (endocérvice, ectocérvice ou fundo de saco), tamanho da lesão histológica e, principalmente, o número de células epiteliais obtidas (32). A idade das mulheres variou de 13 a 68 anos (média de 28 anos). Houve proporção significativamente maior (73%) de mulheres com CH II positiva entre aquelas com menos de trinta anos de idade. A literatura indica que a infecção pelo HPV é mais comum em mulheres jovens, sexualmente ativas (5, 14, 24, 26). Agregado a isso, geralmente, essa é a faixa etária de gestação e utilização de contraceptivos, acrescendo riscos maiores de infecções genitais (14). No entanto, a maior parte dessas infecções é transitória e, de fato, a prevalência diminui depois dos 35 anos de idade, sugerindo que infecções após essa idade poderiam indicar persistência viral, provavelmente por HPV oncogênico, sendo considerado verdadeiro grupo de risco para o desenvolvimento do câncer cervical (19). Em trabalhos como Sarian et al, 2003 (33) , no qual foram incluídas 309 mulheres em um estudo realizado em São Paulo, a idade das mulheres variou de 16 a 40 anos (média de 33,2 anos), havendo uma proporção significativamente maior (72,8%) de mulheres com CH II positiva entre aquelas com menos de 33,2 anos de idade. Concluímos que na população estudada há uma clara associação entre HPV de alto risco e também os valores da carga viral, com o grau das lesões precursoras de câncer cervical. Além disso, a CH II deve assumir papel coadjuvante, ao lado da citologia oncológica, resultando em melhoria da detecção e da predição da gravidade das lesões cervicais. Ainda, observamos que a infecção pelo HPV é mais comum em mulheres com menos de 30 anos. Referências 1. Borges SCV, Melo VH, Junior GM. Taxa de detecção do papilomavírus humano pela captura híbrida II, em mulheres com neoplasia intra-epitelial cervical. Rev. Bras. Ginecol Obstet 2004;26(2):05-10. 2. Caetano R, Vianna CMM, Thuler LCS, Girianelli VR. Custo-efetividade no diagnóstico precoce do câncer de colo uterino no Brasil. Rev. Saúde Coletiva 2006;16(1):99-118. 3. Cárdenas-turanzas M, NoguerasGonzalez GM, Scheurer ME, AdlerStorthz K, Benedet JL, Beck JR, et al. The Performance of Human Papillomavirus High-Risk DNA Testing in the Screening and Diagnostic Settings. Cancer Epidemiol Biomarkers Prev 2008;17(10):2865-71. 4. Carestiato FN, Silva KC, Balthazar DS, Silva L, Marinho M, Oliveira LHS, et al. Analysis of molecular biology techniques for the diagnosis of human papillomavirus infection and cervical cancer prevention. Rev Soc Bras Med Trop 2006;39(5):428-32. 72 Benedet, R. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 65-74, jan/jun. 2012 5. Carestiato FN, Silva KC , Dimetz T, Oliveira LHS, Cavalcanti SMB. Prevalence of Human Papillomavirus Infection in the Genital Tract Determined by Hybrid Capture Assay. Braz J Infect Dis 2006;10(5):331-36. 6. Castle PE, Solomon D, Wheeler CM, Gravitt PE, Wacholder S, Schiffman M. J Clin Microbiol, 2008;46(8):2595-604. 7. Cathro HP, Loya T, Dominguez F, Howe SL, Howell R, Orndorff K, et al. Human papillomavirus profile of women in Belize City, Belize: correlation with cervical cytopathologic findings. Hum Patho 2009;40:942-49. 8. Clavel C, Masure M, Bory JP, Putaud I, Mangeonjean C, Lorenzato M, et al. Human papillomavirus testing in primary screening for the detection of high-grade cervical lesions: a study of 7932 women. Br J Cancer 2001;84:1616-23. 9. Clavel C, Masure M, Bory JP, Putaud I, Mangeonjean C, Lorenzato M, et al. Hybrid capture II-based human papillomavirus detection, a sensitive test to detect in routine high-grade cervical lesions: a preliminary study on 1518 women. Br J Cancer 1999;80:306-11. 10. Cuzicka J, Arbyn M, Sankaranarayanan R, Tsu V, Ronco G, Mayrand MH, et al. Overview of Human PapillomavirusBased and Other Novel Options for Cervical Cancer Screening in Developed and Developing Countries. Vaccine 2008;26S:K29-K4. 11. Dalstein V, Riethmuller D, Prétet JL, Le Bail Carval K, Sautière JL, Carbillet JP, et al. Persistence and load of high-risk HPV are predictors for development of high-grade cervical lesions: a longitudinal French cohort study. Int J Cancer 2003;106:396-403. 12. Datta SD, Koutsky LA, Ratelle S, Unger ER, Shlay J, McClain T, et al. Human Papillomavirus Infection and Cervical Cytology in Women Screened for Cervical Cancer in the United States, 2003–2005. Ann Intern Med 2008;48:493-500. 13. Derchain SFM, Longatto Filho A, Syrjanen KJ. Neoplasia intra-epitelial cervical: diagnóstico e tratamento. Rev Bras Ginecol Obstet 2005;27(7):425-33. 14. Girianelli V R, Thuler LCS, Szklo M, Donato A, Zardo LMG, Lozana JA, et al. Comparação do desempenho do teste de captura híbrida II para HPV, citologia em meio líquido e citologia convencional na detecção precoce do câncer do colo do útero e de suas lesões precursoras no Rio de Janeiro, Brasil. Rev Bras de Cancerol 2004;50(3):225-6. 15. Giuliano AR, Denman C, Zapien J G, Henze JLN, Ortega L, Djambazov B, et al. Design and results of the USA-Mexico Border Human Papillomavirus (HPV), Cervical Dysplasia, and Chlamydia trachomatis Study. Rev Panam Salud Publica 2001;9(3):172-81. 16. Gontijo RC, Derchain SFM, Montemor EBL, Sarian LOZ, Serra MMP, Zeferino LC, et al. Citologia oncológica, captura de híbridos II e inspeção visual no rastreamento de lesões cervicais. Cad. Saúde Pública 2005;21(1):141-49. 17. Hantz S, Decroisette E , Caly H , Renaudie J , Dussartre C , Bakeland D, et al. Testing of a new probe 16/18/45 Hybrid Capture1 (Digene) in women with high risk HPV infection. Pathol Biol 2009;57:81-5. 18. Huang MZ, Li HB, Nie XM, Jiang XM, Ming H, Li DQ, et al. Analysis of the dose-response relationship between highrisk human papillomavirus viral load and 73 Benedet, R. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 65-74, jan/jun. 2012 cervical lesions. Trans R Soc Trop Med Hyg 2009;103(8):779-84. 19. Kjellberg L, Hallmans G, Ahren AM, Johansson R, Bergman F, Wadell G, et al. Smoking, diet, pregnancy, and oral contraceptive use as risk factors for cervical intra-epithelial neoplasia in relation to human papillomavirus infection. Br J Cancer 2000;(82):1332-8. 20. Novaes LCG, Novaes MRCG, SimõesBarbosa A. Diagnosis of Human Papillomatosis by Polymerase Chain Reaction in Cases of Divergence Between Results of Hybrid Capture and Papanicolaou Cytology. Braz J Infect Dis 2006;10(3):169-72. 25. Sarian LOZ, Santos ALF, Derchain SFM, Figuereido PG, Morais SS. Carga viral do papilomavírus humano na predição da gravidade de lesões cervicais em mulheres com atipias celulares na colpocitologia oncológica. Rev Bras Ginecol Obstet 2003;25(5):365-70. 26. Schlecht NF, Trevisan A, Duarte-Franco E, Rohan TE, Ferenczy A, Villa LL, et al. Viral load as a predictor of the risk of cervical intraepithelial neoplasia. Int J Cancer 2003;103:519-24. 27. Tay SK, Tay Y K. The prevalence and significance of high-risk human papillomavirus DNA test in southern Malaysia and Singapore. Aust N Z J Obstet Gynecol 2009;49:323-7. 21. Rabelo-Santos SH, Levi JE, Derchain SF, Sarian LO, Zeferino LC, Messias S, et al. DNA recovery from hybrid capture II samples stored in specimen transport medium with denaturing reagent, for the detection of human papillomavirus by PCR. J Virol Methods 2005;126:197-201. 28. Tozetti IA, Scapulatempo IDL, Levi JE, Ferreira AW. Determination of HPV DNA viral load by hybrid capture assay and its association with cytological fndings. J Bras Patol Med Lab 2006;42(6):449-53. 22. Rama CH, Roteli-Martins CM, Derchain SFM, Longatto-Filho A, Gontijo RC, Sarian LOZ, et al. Prevalência do HPV em mulheres rastreadas para o câncer cervical. Rev Saúde Pública 2008;42(1):123-30. 29. Tulio S, Pereira LA, Neves FB, Pinto AP. Relação entre a carga viral de HPV oncogênico determinada pelo método de captura híbrida e o diagnóstico citológico de lesões de alto grau. J Bras Patol Med Lab 2007;43(1):31-5. 23. Ronco G, et al. Results at Recruitment From a Randomized Controlled Trial Comparing Human Papillomavirus Testing Alone With Conventional Cytology as the Primary Cervical Cancer Screening Test. J Natl Cancer Inst 2008;100(7):492-501. 30. Xu Y, Dotto J, Hui Y, Lawton K, Schofield K, Hui P. High Grade Cervical Intraepithelial Neoplasia and Viral Load of High-Risk Human Papillomavirus: Significant Correlations in Patients of 22 Years Old or Younger. Int J Clin Exp Pathol 2009;2:169-75. 24. Santos ALF, et al. Resultados Histológicos e Detecção do HPV em Mulheres com Células Escamosas Atípicas de Significado Indeterminado e Lesão Escamosa Intra-epitelial de Baixo Grau na Colpocitologia Oncológica. Rev Bras Ginecol Obstet 2004;26(6):457-62. 31. Zhang WY, Xue YZ, Chen M, Han L, Luo M. Prevalence of high-risk human papillomavirus infection indifferent cervical lesion among organized healthexamination women in Shanghai, China. Chin Med J 2008;121(16):1578-82. 74 Favretto, C. A. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 75-82, jan/jun. 2012 CARACTERÍSTICAS DE UM DENTISTA IDEAL: A OPINIÃO DOS DENTISTAS [Characteristics of an ideal dentist: the opinion of the dentists] Carolina Ardenghi Favretto¹; Diésse Gindri Santi²; Elisabete Rabaldo Bottan³; Fernanda Angeloni de Souza4; Luciane Campos5; Mário Uriate Neto6. Resumo: O objetivo foi conhecer como o cirurgião-dentista descreve um dentista ideal. A população-alvo constou de cirurgiões-dentistas de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul. O conceito sobre dentista ideal foi obtido a partir do Teste de Associação Livre de Idéias (ALI). A organização e interpretação dos dados foram efetuadas com base na técnica da análise de conteúdo. A taxa de retorno foi de 63,74% da população-alvo (n=111). As categorias definidoras foram: Relacionamento Profissional-Paciente (46,4%); Competência Profissional (45,7%); Estrutura do Consultório (7,9%). A concepção de dentista ideal construída está vinculada a um atendimento humanizado aliado a uma qualificada formação profissional. Palavras-chaves: condutas na prática dos dentistas; relações dentista-paciente; recursos humanos em odontologia. Abstract: The aim was to know how surgeon-dentists describe an ideal dentist. The population-target consisted of surgeon-dentists in performance in Santa Catarina and Rio Grande do Sul. The concept about ideal dentist was obtained by the free idea association test. To data analysis for the free idea association test was used content analysis. The answer rate was 63.74% (n=111). The defining categories of ideal dentist had been: Dentist-Patient Relations (46.4%); Professional Competence (45.7%); Structure of the doctor's office (7.9%). The conception of an ideal dentist conceived by the searched dentists is attached to a humanized treatment associated with a qualified professional formation. Keywords: dentist's practice patterns; dentist-patient relations; dental staff. _________________________ ¹ Acadêmica do Curso de Odontologia da Universidade do Vale do Itajaí; Bolsista de Iniciação Científica; ² Acadêmica do Curso de Odontologia da Universidade do Vale do Itajaí; Bolsista do PET/Odontologia; ³ Mestre e professora de Trabalho de Iniciação Científica do Curso de Odontologia da Universidade do Vale do Itajaí; Integrante do Grupo de Pesquisa Atenção à Saúde Individual e Coletiva em Odontologia; 4 Acadêmica do Curso de Odontologia da Universidade do Vale do Itajaí; Bolsista de Iniciação Científica; 5 Mestre e professora de Odontologia Social e Coletiva do Curso de Odontologia da Universidade do Vale do Itajaí; Integrante do Grupo de Pesquisa Atenção à Saúde Individual e Coletiva em Odontologia; 6 Doutor e professor de Ergonomia do Curso de Odontologia da Universidade do Vale do Itajaí; Integrante do Grupo de Pesquisa Atenção à Saúde Individual e Coletiva em Odontologia. 75 Favretto, C. A. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 75-82, jan/jun. 2012 Introdução Nos serviços de saúde, há um forte anseio por profissionais humanos, éticos e compromissados com a qualidade do atendimento à população. Então, pesquisar como o próprio profissional da Odontologia concebe um cirurgião-dentista ideal é de grande importância, pois o comportamento do dentista exerce influência relevante sobre o desenvolvimento do tratamento odontológico e, portanto, sobre a qualidade de vida das pessoas.1-6 Junto à bibliografia, foram identificados estudos que abordam aspectos referentes à relação profissional da odontologia com o paciente e os fatores mais destacados nestes trabalhos são: maneira como o profissional trata seu paciente; competência e formação profissional; e medo relacionado ao dentista e ao instrumental por ele utilizado.2,4-15 No entanto, estas pesquisas não enfocam, diretamente, a concepção do próprio cirurgião-dentista sobre as características essenciais a um cirurgiãodentista. Nesta perspectiva, foram encontrados dois trabalhos; um que teve como população-alvo médicos e dentistas11 e outro com graduandos de odontologia15. Considerando-se, pois, a relevância da temática e a importância da percepção expressa por cirurgiões-dentistas sobre o perfil do profissional ideal, foi conduzida esta pesquisa com o objetivo de conhecer como cirurgiões-dentistas em atuação em cidades de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul descrevem um dentista ideal. Materiais e Métodos Esta pesquisa se caracteriza como um estudo descritivo com análise de dados numa abordagem qualitativa. A população-alvo constou de cirurgiões-dentistas (CD´s) em atuação em cidades dos estados de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul. A seleção das cidades foi definida por conveniência. No Rio Grande do Sul, foram escolhidas Palmeira das Missões e Santiago; e, em Santa Catarina, foram: Ermo, Jacinto Machado, Meleiro, Sombrio, Timbé do Sul e Turvo. O município de Palmeiras das Missões, segundo dados da Federação de Municípios do Rio Grande do Sul, situa-se na mesorregião do noroeste riograndense a 341km da capital do estado, com aproximadamente 34mil habitantes, tendo como principais atividades econômicas a agropecuária e os serviços. E, o município de Santiago situa-se na fronteira oeste do Rio Grande do Sul, a 474 km da capital do estado, com aproximadamente 49mil habitantes, cujas atividades econômicas, também, estão suportadas na agropecuária e nos serviços. Os municípios catarinenses, conforme dados do Governo do Estado de Santa Catarina, localizam-se no extremo-sul, na microrregião de Araranguá, distando em torno de 250 km da capital do estado, tendo na agricultura a principal atividade econômica. O número de habitantes nestes municípios varia de 2 a 26mil. O número de CD´s em atuação em cada uma das cidades foi obtido através de consulta junto ao site do Conselho Regional de Odontologia de Santa Catarina (CRO/SC) e do Rio Grande do Sul (CRO/RS). Conforme dados do CRO/RS, o número de CD´s inscritos e em atividade, à época da coleta dos dados, era 51em Palmeiras das Missões e 63 em Santiago. E, o número de CD´s inscritos nos municípios catarinenses, segundo dados do CRO/SC, era o seguinte: 2 em Ermo; 6 em Jacinto Machado; 5 em Meleiro; 30 em Sombrio; 2 em Timbé do Sul; 15 em Turvo. Assim, a população-alvo da pesquisa ficou estruturada com um total de 174 CD´s (114 no Rio Grande do Sul e 60 em Santa Catarina). Através de e-mail foi encaminhado um ofício a todos os sujeitos integrantes da população-alvo, explicitando os objetivos e os procedimentos da pesquisa e convidandoos a participarem de livre e espontânea vontade. Juntamente com o ofício estava o 76 Favretto, C. A. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 75-82, jan/jun. 2012 instrumento de coleta de dados para que os que aceitassem participar preenchessem-no e devolvessem-no, via e-mail. A remessa do instrumento de coleta de dados ocorreu no segundo semestre de 2010, tendo sido aguardado um prazo de trinta dias, após a sua remessa. Após este prazo, considerando-se o baixo retorno, as pesquisadoras passaram a procurar os profissionais em seus ambientes de trabalho para novos esclarecimentos sobre a pesquisa e entrega do instrumento de coleta de dados, tendo sido definido o prazo de uma semana para a sua recolha. A coleta e a análise dos dados foram efetuadas com base em procedimentos metodológicos da pesquisa qualitativa. O conceito sobre dentista ideal foi obtido a partir do Teste de Associação Livre de Idéias (ALI), o qual visa fazer emergir associações livres em relação a um estímulo indutor.16 A questão indutora foi O quê, no seu entender, caracteriza um dentista ideal. Também, foi solicitado ao participante que informasse gênero, idade e cidade onde atuava. As diversas evocações mencionadas pelos pesquisados foram listadas, passando a compor um conjunto heterogêneo de unidades semânticas. Para facilitar a análise descritiva e explicativa, as evocações foram classificadas em categorias. Para o processo de codificação, com base na literatura revisada preliminarmente4-8, foram criadas três categorias nominais, a saber: Relacionamento Profissional-Paciente, Competência Técnica e Estrutura do Consultório. As categorias de análise foram quantificadas através do cálculo da frequência relativa, segundo as características sócio-demográficas dos sujeitos (gênero, faixa etária e município de atuação). O projeto de pesquisa foi submetido e aprovado pela Comissão de Ética em Pesquisa da UNIVALI, tendo recebido parecer nº 88/10/CEP/UNIVALI. Resultados Obteve-se o retorno de 111 instrumentos respondidos, representando 63,74% do total da população-alvo. A representatividade por estado foi de 70,17% (n=80), para o Rio Grande do Sul, e de 51,66% (n=31), para Santa Catarina. O grupo investigado apresentou as seguintes características: 61,3% pertenciam ao gênero feminino e 38,7% ao masculino. As idades variaram de 24 a 60 anos; a maior frequência foi para a faixa de 22 a 36 anos, com 54,1%; e, a faixa de 37 ou mais anos ficou com 45,9%. A partir da análise das respostas emitidas pelos sujeitos integrantes da pesquisa, foram consideradas 657 evocações, que foram distribuídas entre as categorias estabelecidas para o estudo. A frequência das categorias descritoras do dentista ideal, na visão do próprio CD, demonstrou uma similaridade entre as cidades, por isso, optouse pela apresentação dos resultados segundo o gênero e a faixa etária, independente da cidade em que o CD atuava. De um modo geral, o que se identificou foi uma frequência relativa muito próxima entre as categorias Relacionamento Profissional-Paciente e Competência Técnica, como pode ser observado no gráfico 1. 77 Favretto, C. A. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 75-82, jan/jun. 2012 60 % 46,4 45,7 40 20 7,9 0 Relação profissionalpaciente Competência profissional Estrutura do consultório Gráfico 1: Distribuição da frequência relativa das categorias definidoras de um dentista ideal, na visão dos cirurgiões-dentistas integrantes da pesquisa. As expressões mais evidenciadas para a caracterização do dentista ideal pelo grupo de CD´s integrantes da pesquisa foram: atualizado; bom relacionamento com seus pacientes e com seus colegas de classe; ter atenção com o paciente; gostar do que faz; cuidar o ambiente de trabalho; ter consultório organizado e bem equipado; ser competente, responsável, atualizado; profissional que execute bem os procedimentos; conhecer as novas técnicas, sem esquecer do paciente; saiba criar vínculo com a clientela. Relac. Profissional-paciente 56,1 60 Muito embora, de modo geral, a categoria Relacionamento ProfissionalPaciente tenha sido a mais evidenciada pelos sujeitos da pesquisa, observou-se que esta categoria foi mais destacada pelos cirurgiõesdentistas da faixa etária de 37 ou mais anos, para ambos os gêneros. Enquanto que entre os sujeitos de faixa etária mais jovem (22 a 36 anos), também para ambos os gêneros, houve uma maior valorização das características referentes à Competência Profissional (Gráfico 2). Competência Profissional Estrutura do consultório 53,6 52,9 51,5 % 41,6 40 40,0 36,7 36,4 20 12,1 7,1 5,4 6,4 0 Masculino Feminino 22 a 36 anos Masculino Feminino 37 ou mais anos Gráfico 2: Frequência das categorias definidoras do dentista ideal na concepção dos pesquisados, segundo o gênero e a faixa etária. 78 Favretto, C. A. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 75-82, jan/jun. 2012 Discussão O cirurgião-dentista ocupa uma posição importante na sociedade e a sua socialização profissional deve começar desde a sua admissão no curso de graduação e continuar durante toda sua carreira. Neste sentido, é fundamental lembrar que a Odontologia vem passando por diversas transformações, deixando de ser empírica para se tornar ciência, evoluindo da atuação exclusiva na boca para atenção ao indivíduo como um todo, enfatizando o aspecto preventivo em substituição ao tratamento meramente curativo. E, todas estas mudanças, também, têm exercido influência na formação do cirurgião-dentista. É importante lembrar que as reflexões sobre o perfil profissional de recursos humanos para os diferentes campos da saúde, decorrentes da implantação do Sistema Único de Saúde (SUS), exercem influência na orientação dos currículos dos cursos de graduação. As Diretrizes Curriculares para o Curso de Odontologia reportam que o cirurgião-dentista do século XXI deve apresentar conhecimento técnico-científico associado à competência relativa à comunicação interpessoal, ou seja, deve ter uma visão generalista, saber se comunicar com o paciente, ser ético e, principalmente, considerar o paciente como um ser humano único e especial. Este parecer preconiza, também, que os futuros profissionais sejam capazes de atuarem no SUS com qualidade, eficiência e resolutividade. O que implica em um profissional que saiba trabalhar em equipe, em todos os níveis de atenção à saúde, que seja hábil e competente tecnicamente, mas, sobretudo, um ser humano. 1,17-24 Depreende-se, pois, que o sucesso da atenção odontológica não está exclusivamente vinculado à capacidade técnica do profissional. O campo relacional, também, exerce influência no resultado dos procedimentos. Portanto, uma boa relação deve ser estabelecida para haver maior motivação e comportamento colaborativo por parte do paciente. E, nesta investigação, foi observado que os CD’s pesquisados destacaram tanto os aspectos referentes ao relacionamento profissional-paciente quanto os diretamente vinculados à capacitação técnico-científica. Esta constatação nos remete à idéia de que este grupo de cirurgiões-dentistas já tem claro o entendimento de que um bom trabalho clínico depende, previamente, do estabelecimento de uma comunicação dialógica com o paciente, com fornecimento de orientações consistentes. A presente afirmação encontra ressonância na explicação de Stolz et al.19 de que há uma disposição dos profissionais em compreender seus pacientes em sua dualidade (corpo e mente) e que existe quase unanimidade entre os CD’s de que é necessário conversar, explicar e ouvir o paciente. O profissional deve ser atencioso, gentil e responder às perguntas que lhe são demandadas. Este comportamento contribuirá para que o paciente sinta-se acolhido e mais tranquilo durante o procedimento a que será submetido. Aspectos referentes à cordialidade, comunicabilidade, boa vontade são as principais características que as pessoas esperam encontrar quando procuram por um cirurgião-dentista, conforme apontado por recentes estudos. 5-15 Estes aspectos, quando aliados à competência, potencializam o relacionamento paciente-profissional, favorecendo positivamente o atendimento e valorizando o trabalho odontológico. Então, pode-se afirmar, com o respaldo da literatura pertinente, que um relacionamento de respeito e confiança traz conforto ao paciente e credibilidade para o profissional. 1,2,5-15,2023,25 As capacidades relativas à educação, gentileza, escuta e compreensão dos motivos do paciente podem influenciar positivamente na percepção da resolutividade do tratamento odontológico. Portanto, o cirurgião-dentista qualificado não é aquele que apresente somente excelentes qualidades técnicas; ele deve associar características típicas de um atendimento humanizado à competência profissional. Nesta pesquisa, muito embora se tenha observado um equilíbrio entre as 79 Favretto, C. A. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 75-82, jan/jun. 2012 evocações que constituem as categorias Relacionamento Profissional-Paciente e Competência Técnica, chamou-nos a atenção o fato de que houve uma pequena diferença entre as frequências destas duas categorias em função da faixa etária. Entre os sujeitos com 37 ou mais anos, a frequência das evocações referentes às características do Relacionamento Profissional-Paciente foi maior do que as outras categorias; e os pesquisados com 22 a 36 anos destacaram mais os fatores relativos à Competência Técnica. Este tipo de manifestação, entre os mais jovens, pelo fato deles terem concluído seus cursos de graduação e/ou especialização mais recentemente, pode estar evidenciando a rotina da formação acadêmica que estimula a preferência por atividades que estejam envolvidas prioritariamente com alta densidade tecnológica. 26 Por isso, expressam maior valoração à capacitação técnicocientífica e ao domínio de habilidades técnico-científicas. Já, os sujeitos de mais idade, por terem mais tempo de experiência profissional, passam a dar mais atenção aos quesitos sobre o relacionamento com o paciente, tendo em vista que este é muito valorizado pelos pacientes. Sendo os aspectos referentes à relação dentista-paciente extremamente importantes para o êxito do tratamento odontológico, entende-se que eles devem ser fortalecidos desde o processo de formação do futuro profissional. O ato de humanizar implica em ser afável e tratável; e, a humanização no atendimento odontológico vem sendo preconizada como essencial no processo de formação do cirurgião-dentista e na prática diária profissional. 1,25 Além do mais, a negligência aos aspectos psicossociais relacionados ao exercício da profissão, durante a formação profissional, acentua a imagem negativa da profissão e diminui sua importância dentro do contexto geral de saúde, perpetuando o distanciamento da relação profissional-paciente.1 Considerações finais Com base nos dados obtidos nesta investigação, conclui-se que, para o grupo de CD´s participantes, a concepção do dentista ideal está vinculada à prática da relação paciente-profissional numa dimensão humanística associada à competência técnico-científica. A humanização no atendimento odontológico vem sendo preconizada como essencial no processo de formação do cirurgião-dentista, bem como na prática diária profissional, principalmente, em decorrência das constantes transformações da sociedade e do mercado de trabalho. As novas formas de inserção do profissional no mercado de trabalho têm propiciado mudanças nas relações com a clientela, gerando-se alterações na prática, tanto no que diz respeito à técnica, quanto à organização do trabalho, produção e distribuição de serviços na sociedade. Assim, discutir a formação dos profissionais da área da Odontologia à luz das novas Diretrizes Curriculares é uma condição da qual as universidades, atualmente, não podem se furtar. E, em especial, é necessário que se inclua neste processo de formação como o próprio profissional em atuação no mercado de trabalho se percebe, se desvela frente à efervescência destas mudanças com as quais tem convivido. Referências 1. Almeida AB, Alves MS, Leite ICG. Reflexões sobre os desafios da odontologia no Sistema Único de Saúde. Rev. APS 2010;13(1):126-36. 2. Fajardo RS, Grecco P. O que o cirurgiãodentista precisa saber para compreender seu paciente geriátrico-parte I: aspectos psicossociais. J Bras Odonto-Psicol Odontol Pacientes Espec 2003;1(4):32430. 80 Favretto, C. A. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 75-82, jan/jun. 2012 3. Butters JN, Willis DO. A comparison of patient satisfaction among current and former dental school patients. J. dent. educ. 2000;64(6):409-15. 4. Churchill JL. What’s a dentist to do? Empathy, part two. Northwest Dent. 2010;89(5):43-4. 5. Blanco RAO, García LE, Rodríguez GLO, Menéndez LA, Sotres VJ. La relación estomatólogo-paciente: importancia de los factores sociales. Rev Cubana Estomatol [on line]. 2004 Abr [Acesso 2010 Set 06]; 41(1):00. Disponível em: URL: http://scielo.sld.cu/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S003475072004000100010 &lng=es. 6. Lima ACS, Cabral ED, Vasconcelos MMVB. Satisfação dos usuários assistidos nos Centros de Especialidades Odontológicas do município de Recife, Pernambuco, Brasil. Cad. Saúde Pública 2010;26(5):991-1002. 7. Bottan ER, Odebrecht CMR, Silveira EG, Basso C, Oliveira LK, Gonçalves MK, et al. Perfil del odontólogo ideal: concepto de individuos adultos, en distintos contextos socioculturales de Santa Catarina, Brasil. Rev.Facultad.Odontol. (FOUNNE) 2009;2(2):11-9. 8. Bottan ER, Dall´ Oglio J, Silveira EG, Araújo SM. Dentista ideal: perfil definido por crianças e adolescentes. RSBO 2009;6(4):381-6. 9. Bibancos FA, Loureiro CA. Imagem do cirurgião-dentista. Rev. ABO nac.2004;12(1):17-9. 10. Garbin AJI, Garbin CAS, Tiano AVP, Carvalho ML, Fagundes ACG. Marketing em Odontologia: a percepção do cliente em relação ao serviço odontológico de clínica privada. Rev. odontol. UNESP 2008;37(2):197-202. 11. Garbin AJI, Garbin CAS, Sumida DH, Yarid SD. Relação profissional-paciente: médico e cirurgião-dentista enquanto pacientes. ClipeOdonto-UNITAU 2009;1(1):26-30. 12. Hiramatsu DA, Tomita NE, Franco LJ. Perda dentária e a imagem do cirurgiãodentista entre grupo de idosos. Ciênc. saúde coletiva 2007;12(4):1051-6. 13. Yamalik N. Dentist-patient relationship and quality care 3.Communication. Int. dent. j. 2005;55(4):254-6. 14. Morano Júnior M, Mialhe FL. Critérios utilizados por diferentes grupos etários na escolha do cirurgião dentista. Odontologia. Clín.-Científ. 2007;6(1):337. 15. Garcia PPNS, Pinelli EAV, Campos JADB, Oliveira TG. Critérios para escolha de cirurgião-dentista entre graduandos do Campus de Araraquara – UNESP. Rev. Fac. Odontol. Araraquara 2009;38(6):347-55. 16. Bauer MW, Aarts B. A construção do corpus: um princípio para coleta de dados qualitativos. In: Bauer MW, Gaskell G. (Ed.). Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som. Petrópolis: Vozes; 2002. p.39-63. 17. Silva AM, Santos CC, Reggiori MG, Andia-Merlin R, Martins RB, Alegretti CE. et al. Study of emotional and psychological factors that may interfere in the dental treatment. J. Health Sci. Inst. 2009;27(3):249-53. 18. Scalioni FAR, Alves RT, Mattos CLB, Ribeiro, R. A. Humanização na Odontologia: a Experiência da Disciplina odontopediatria II do Curso de Graduação em Odontologia da UFJF. 81 Favretto, C. A. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 75-82, jan/jun. 2012 Pesqui. bras. odontopediatria clín. integr. 2008;8(2):185-90. 19. Stolz ASB, Abreu MER, Viegas VN, Pagnoncelli RM, Oliveira MG. Sentimentos, percepções e manifestações de pacientes e profissionais sobre a cirurgia ambulatorial de terceiros molares. Pesqui. bras. odontopediatria clín. integr. 2008;8(2):229-32. 20. Usual AB, Araujo AA, Diniz FVM, Drummond MM. Necessidades sentida e observada: suas influências na satisfação de pacientes e profissionais. Arq. Odontol. 2006; 42(1):65-79. 21. Venturelli A. La actualización profesional y su dimensión social: algunas reflexiones. Rev. Círc. Argent. Odontol. 2009;66(106):22-5. 22. Vieira DO. Comportamento profissional X paciente. Só técnicas estéticas 2010;7(3): 46. 23. Zacca GG, Sala MRA. Comunicación dialogada en la toma de decisiones informadas en la atención estomatológica. Rev. cuba. estomatol. [on line] 2006 Ene./Abr. [Acesso 2007 Nov 22];43(1):0-0. Disponível em: URL: http://www.scielo.sld.cu. 24. Brasil. Ministério da Saúde. Ministério da Educação. Programa Nacional de reorientação da formação profissional em saúde. Brasília: Ministério da Saúde; 2007. 25. Canalli CSE, Gonçalves SS, Chvitarese L, Silveira RG, Miasato JM. A humanização na Odontologia: uma reflexão sobre a prática educativa. Rev. bras. odontol. 2011;68(1):44-8. 26. Sanchez HF, Drumond MM, Vilaça EL. Adequação de recursos humanos ao PSF: percepção de formandos de dois modelos de formação acadêmica em odontologia. Ciênc. saúde coletiva. 2008;13(2):523-31 82 Corrêa, T. A. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 83-92, jan/jun. 2012 HÁBITOS ALIMENTARES DE UM GRUPO DE PESSOAS QUE PARTICIPARAM DE UM PROGRAMA DE PREVENÇÃO DE DOENÇAS CARDIOVASCULARES [Food trends in a group of people who participated in a program of vascular disease prevention] Thuani Antunes Corrêa¹; Jussara Gazzola²; Geny Aparecida Cantos³. Resumo: Trata-se de uma investigação exploratória, tendo como objetivo analisar os hábitos alimentares de um grupo de pessoas que têm participado de um trabalho de prevenção para doenças cardiovasculares. No ano 2011, participaram desta pesquisa 42 indivíduos inseridos pelo menos um ano no referido programa. Foram realizadas consultas semestrais, com uma nutricionista e uma cardiologista, palestras mensais e visitas ao supermercado. Foi aplicado um questionário, identificando os hábitos alimentares desses indivíduos. Os resultados mostraram que as pessoas obtiveram informações quantitativas e/ou qualitativas sobre o consumo e os hábitos alimentares o que possibilitou a identificação de atitudes e práticas alimentares mais saudáveis. Palavras-chave: hábitos alimentares, prevenção de doenças, nutrição em grupo de risco. Abstract: This is an exploratory qualitative study aiming to analyze the feeding habits of a group of people who have participated in a study of prevention of cardiovascular diseases. In 2011, 42 individuals participated in this research that were inserted at least one year in that program. Consultations were held every six months with a nutritionist and a cardiologist, monthly lectures and visits to the supermarket. We used a questionnaire, identifying the eating habits of these individuals. The results showed that people had quantitative and/or qualitative information on consumption and eating habits which allowed the identification the identification of attitudes and healthier eating habits. Keywords: eating habits, prevention of diseases, nutritional risk group. Introdução alimentos, nível socioeconômico, status, prestígio, pressão publicitária, religião, entre outros fatores1,2 . Pesquisas mostram que as ações de alimentação e nutrição representam papel fundamental no contexto da Atenção Básica em Saúde e são fortalecidas com a inserção do nutricionista nas equipes 3 multidisciplinares . O Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa, Ensino e Assistência a Dislipidemia do Hospital Universitário da Bons hábitos alimentares ocupam atualmente um papel central na prevenção e no tratamento de doenças cardiovasculares. O termo hábito alimentar é usado quando se quer designar os costumes e modo de se alimentar de uma pessoa ou comunidade, sendo este determinado por diversos fatores tais como: culturais, acessibilidade e disponibilidade dos ___________________________ ¹ Aluna de extensão do Departamento de Análises Clínicas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Endereço eletrônico: [email protected], Tel.: (48) 99650062 ² Professora do Departamento de Nutrição da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Endereço eletrônico: [email protected] ³ Professora do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)-Departamento de Análises Clínicas. Endereço eletrônico: [email protected], Tel.: (48) 91014927; 83 Corrêa, T. A. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 83-92, jan/jun. 2012 Universidade Federal de Santa Catarina (NIPEAD-HU-UFSC) criado em 1997, tem como um dos objetivos conscientizar os pacientes, no sentido de mudar seus hábitos alimentares e estilo de vida, melhorando a qualidade de vida dos mesmos. Contudo a adesão ao tratamento dietético é bastante complexa, sendo os hábitos alimentares inadequados e as condições socioeconômicas e culturais os maiores motivos da não adesão. Mudanças nos hábitos alimentares têm sido observadas nas últimas décadas, em vários países, revelando a complexidade dos modelos de consumo e de seus fatores determinantes4 . O Brasil tem passado pelos processos de transição demográfica, epidemiológica e nutricional, desde a década de 60, acentuado pela queda na fecundidade, crescimento da renda, industrialização e mecanização da produção, urbanização, maior acesso a alimentos em geral, incluindo os processados, e globalização de hábitos não saudáveis, expondo a população cada vez mais ao risco de doenças crônicas. Estas mudanças configuram novos desafios para os profissionais de saúde, considerando que estas doenças têm um forte impacto na qualidade de vida dos indivíduos, efeitos econômicos adversos para as famílias, comunidades e sociedade em geral. Diante desse cenário, o Ministério da Saúde protagonizou o Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) no Brasil, 2011-20225 . O objetivo, é que, nos próximos dez anos, o desenvolvimento e a implementação de políticas públicas efetivas, integradas, sustentáveis e baseadas em evidências para a prevenção e o controle das DCNT e seus fatores de risco, possam incluir o fortalecimento dos serviços de saúde, a partir dos seguintes eixos: a) vigilância, informação, avaliação e monitoramento; b) promoção da saúde e c) cuidado integral. Assim, este trabalho teve como objetivo caracterizar os hábitos alimentares de indivíduos de uma comunidade universitária que participaram de um programa de prevenção para doenças cardiovasculares a fim de perceber se as atividades nutricionais desenvolvidas no programa tiveram um efeito positivo na promoção da saúde e nutrição, desse grupo específico. Metodologia Foi realizado um estudo transversal, de natureza exploratória e descritiva com 42 indivíduos, com idade entre 28 e 73 anos, que participaram de um programa de prevenção para doenças cardiovasculares na cidade de Florianópolis – Santa Catarina. A escolha dessa população se deu pela disponibilidade e interesse que os mesmos tiveram para com essa pesquisa. Primeiramente os pacientes passaram pelo exame clínico realizado pelo setor de cardiologia no SASC (Serviço de Atendimento à Saúde da Comunidade Universitária), e após foram encaminhados para consulta nutricional com a nutricionista do projeto, a qual fez um acompanhamento alimentar desses pacientes, baseado no Guia Alimentar para a População Brasileira6, o qual, dentre uma de suas concepções, é reduzir a incidência de doenças crônicas nãotransmissíveis (DCNT), por meio da alimentação saudável. As consultas tanto no setor de cardiologia como da nutrição foram semestrais e os almoços comunitários e as palestras ministradas foram mensais. A avaliação do estado nutricional foi realizada a partir de dados antropométricos, considerando a relação do IMC e esta foi associada com o perfil lipídico, a pressão arterial, a glicemia de jejum por 8 horas e a realização de atividade física7 . Como instrumento de avaliação de aprendizagem foi aplicado um questionário, proposto por Nahas (2006)8, com itens sobre alimentos/alimentação, o qual foi preenchido ao longo do segundo semestre de 2011, em horários pré-estabelecidos com a bolsista de Extensão. Todos os participantes tiveram o devido esclarecimento sobre a presente 84 Corrêa, T. A. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 83-92, jan/jun. 2012 pesquisa e assinaram o termo de consentimento, sendo garantido o sigilo das informações. Este trabalho teve a aprovação pela Comissão de Ética de Pesquisa em Humanos da Universidade Federal de Santa Catarina. Resultados e Análise Este trabalho tem como intuito analisar o resultado de uma prática assistencial realizada em Florianópolis-SC, com um grupo de pessoas que participavam do NIPEAD-HU-UFSC, durante o ano 2011. A equipe interdisciplinar e multiprofissional que compõe este Núcleo vem ao longo de 15 anos trabalhando com prevenção para doenças cardiovasculares. Um dos grandes desafios enfrentados por esta equipe foi interferir positivamente no comportamento alimentar do indivíduo, de forma que os mesmos pudessem efetivar as mudanças necessárias na vida cotidiana. Uma pesquisa realizada no Serviço de Nutrição Clínica Ambulatorial do Hospital Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina, entre 1985 e 1988, mostrou que dos 472 pacientes atendidos, 50,6% abandonaram o tratamento9. Posteriormente DiMatteo (1994)10 relatou que 75% dos pacientes não seguiam as recomendações médicas relacionadas às mudanças no estilo de vida, como restrições alimentares, abandono do fumo e outros. Esta realidade não tem sido diferente em relação aos integrantes do NIPEAD-HU-UFSC. Um trabalho realizado com esses pacientes mostrou a necessidade de um acompanhamento nutricional de forma mais regular a fim de que os pacientes pudessem aderir às orientações prescritas11. Essa problemática exigiu uma atenção especial dos profissionais integrantes desse Núcleo, no sentido de adotar modelos assistenciais associando-se a melhor qualidade de vida dessa população. Apoiado em estratégias de intervenção de promoção da saúde e prevenção, ofereceu-se também um programa que visou orientar e avaliar uma alimentação balanceada, por meio de consultas cardiológicas, nutricionais, palestras educativas e almoços comunitários. Estes almoços foram realizados uma vez por mês na residência de um dos indivíduos participantes, visando à integração do grupo aliado a hábitos alimentares saudáveis e a trocas de experiências. O cardápio possibilitou o oferecimento de alimentos seguros, saudáveis e saborosos, sob as óticas higiênico-sanitária, nutricional e sensorial. Não obstante, esta atividade contou com a supervisão da nutricionista12 . As atividades promovidas por este Núcleo propiciaram aos indivíduos um espaço para conversa, trocas de conhecimento e esclarecimentos de dúvidas. Os temas foram escolhidos de acordo com as necessidades da comunidade. A cada encontro com o indivíduo (consultas, exames, palestras, outros...), o mesmo era estimulado a fazer o que lhe fosse possível, de forma a não criar resistência às orientações propostas pela equipe multiprofissional. A partir dos encontros, estabeleceram-se novas formas de comunicação e de vínculo afetivo, de maneira a despertar a cada participante uma maior sensibilidade quanto à necessidade de mudanças no estilo de vida. Contudo, diversos elementos contribuem para a construção do senso comum sobre alimentação saudável em diferentes populações13,14. A intenção de ampliar os conhecimentos nesta área requer instrumentos em que se possam avaliar as práticas alimentares. Neste estudo o saber científico formal de cada participante foi estruturado tendo como instrumento um questionário com itens sobre alimentos/alimentação elaborado por Nahas (2006)8. Esse foi relacionado com o Guia Alimentar para a População Brasileira, o qual, apresenta um conjunto de diretrizes visando à alimentação saudável e à promoção da saúde6. A categorização do instrumento baseou-se nas seguintes diretrizes: a) Diretriz 1 - Alimentos saudáveis e as refeições; b) Diretriz 2 - Cereais, tubérculos e raízes 85 Corrêa, T. A. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 83-92, jan/jun. 2012 c) Diretriz 3 - Frutas, legumes e verduras d) Diretriz 4 - Feijões e outros alimentos vegetais ricos em proteínas e) Diretriz 5 Leite e derivados, carnes e ovos f) Diretriz 6 - Gorduras, açucares e sal. a) Diretriz 1 – Alimentos saudáveis e refeições “Refeições são saudáveis quando preparadas com alimentos variados, com tipos e quantidades adequadas às fases do curso da vida, compondo refeições coloridas e saborosas que incluem alimentos tanto de origem vegetal como animal. Para garantir a saúde, faça pelo menos três refeições por dia (café da manhã, almoço e jantar), intercaladas por pequenos lanches”. Nos últimos tempos houve um aumento na busca por uma orientação e atendimento nutricional, a fim de obter uma dieta baseada em uma alimentação saudável . As ações da diretriz 1 têm como enfoque o resgate de hábitos e práticas alimentares que valorizem o consumo de alimentos de elevado valor nutritivo, de maneira que se possa consumir apenas a quantidade necessária de carboidratos, gorduras, proteínas, fibras e de micronutrientes minerais e vitaminas. Segundo a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) (2008-2009), entre as prevalências de inadequação de consumo (percentuais de pessoas que ingerem determinado nutriente em níveis abaixo das necessidades diárias ou acima do limite recomendado), destacam-se o excesso de gorduras saturadas e açúcar (82% e 61% da população) e escassez de fibras (68% da população) 15. Uma tendência crescente para o consumo de alimentos de maior concentração energética é promovida pela indústria de alimentos por meio da produção abundante de alimentos saborosos, de alta densidade energética e de custo relativamente baixo. O consumo de sanduíches e os refrigerantes são hábitos que levam também a uma perda da qualidade de vida. Esses maus hábitos alimentares estão associados a diversos prejuízos à saúde, entre eles a obesidade e o aparecimento de doenças crônico16 degenerativas . Sanduíches de lanchonetes fast food, ganharam na últimas três décadas a preferência pela praticidade e a rapidez, favorecendo a formação de novos hábitos nocivos. Contudo, estes geralmente são muito calóricos, ricos em gorduras trans e colesterol, e quando consumidos em excesso podem elevar as taxas de triglicerídeos e colesterol sanguíneos, aumentando as chances de ocorrência de doenças vasculares17. Pesquisas mostram que a obesidade aumenta o risco de inúmeras doenças crônicas, como: diabetes mellitus, dislipidemia, doenças cardio e cerebrovasculares, alterações da coagulação, doenças articulares degenerativas, neoplasias estrogênios-dependentes, neoplasia de vesícula biliar, esteatose hepática com ou sem cirrose, apnéia do sono etc18. Em nosso estudo as pessoas foram orientadas a consumir alimentos variados, evitando, sempre que possível, alimentos processados. Verificou-se que somente 19,05% consumiam mais calorias que o necessário e apenas 7,14% consumiam sanduíches em lanchonetes fast food diariamente. Em um trabalho realizado em 2000 em uma escola secundária norte-americana foi analisado a relação entre o consumo de bebidas carbonatadas em 460 adolescentes e a ocorrência de fraturas ósseas. O resultado demonstrou maior associação entre fraturas e o consumo de refrigerantes19. Em 1999, um estudo publicado demonstrou que o consumo de uma ou mais garrafas diárias de bebidas do tipo cola, estava associado com hipocalcemia. Os autores associaram a ocorrência da hipocalcemia ao conteúdo de acido fosfórico das bebidas20. No Brasil, a POF apontou que entre os anos 2008-2009, a mediana de consumo de sucos e refrigerantes foi de 122 ml diários, sendo que o consumo dos mesmos, nos últimos anos vem aumentando consideravelmente especialmente em adolescentes15. A pesquisa do Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas não Transmissíveis por Inquérito Telefônico (Vigitel), implantado no Brasil em 2006, 86 Corrêa, T. A. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 83-92, jan/jun. 2012 destacou que 29,8% dos brasileiros tomam a bebida no mínimo cinco vezes por semana21. Neste trabalho percebeu-se que apenas 11,90% dos participantes consomem refrigerantes diariamente, demonstrando que os integrantes deste estudo possuem conhecimento a respeito dos efeitos maléficos do consumo constante de refrigerantes. Essa observação pode-se perceber melhor durante a discussão das palestras realizadas mensalmente e almoços comunitários. O número de refeições diárias é um dos pontos mais importantes. Precisamos de mais de três refeições diárias para suprir 22 nossas necessidades nutricionais . Além dessas três refeições - café da manhã, almoço e jantar – é importante realizar pequenos lanches nos intervalos das refeições, respeitando a quantidade de nutrientes e 23 calorias . Neste estudo os indivíduos foram orientados a realizar pelo menos três refeições diárias (desjejum, almoço e jantar), em lugares tranquilos, sem televisão,variar o consumo desses alimentos nas diferentes refeições ao longo da semana, diversificar os tipos de preparo e valorizar a grande variedade desses grupos de alimentos a baixo custo, no Estado de Santa Catarina. Pode-se notar que na população em estudo 92,86% seguiram a recomendação indicada. O café da manhã é a refeição mais importante do dia, já que reconstitui as reservas de energia utilizadas durante à noite24 Nesta pesquisa percebemos que somente 11,90% dos indivíduos não realizavam o café da manhã, diariamente. b) Diretriz 2: Cereais, tubérculos e raízes: “Arroz, milho e trigo, alimentos como pães e massas, preferencialmente na forma integral; tubérculos como as batatas; raízes como a mandioca devem ser a mais importante fonte de energia e o principal componente da maioria das refeições”. Pesquisas mostram que o consumo de cereais matinais tem aumentado muito nos últimos anos devido à necessidade de se obter produtos de preparo rápido, com alto teor de proteína, carboidratos e fibras25. Hoje, os profissionais da saúde incentivam o consumo médio diário de produtos integrais, apontando o grupo dos cereais e derivados como sendo a principal fonte de fibras alimentares da dieta8. Há evidências de que o perfil alimentar da população brasileira apresentou excessivas mudanças nos últimos trinta anos. Segundo o Ministério da Saúde entre os anos de 1974 e 2003 houve uma diminuição na participação relativa de carboidratos totais e complexos (61,66% para 55,9%), ocorrendo situação inversa em relação aos lipídios, os quais aumentaram de 25,7 para 30,56. Neste trabalho as pessoas foram orientadas a consumir cereais diariamente, de preferência integrais, tubérculos e raízes. Observou-se que 50% dos entrevistados consumiam pelo menos quatro porções de pães, cereais matinais (aveia, granola, flocos de milho), macarrão, arroz e 26,19% utilizavam alimentos integrais (arroz, outros cereais integrais, farelo de trigo, pão integral, massas integrais). c) Diretriz 3: Frutas, legumes e verduras “Frutas, legumes e verduras são ricos em vitaminas, minerais e fibras, e devem estar presentes diariamente nas refeições, pois contribuem para a proteção à saúde e diminuição do risco de ocorrência de várias doenças.” Em 2004, a Organização Mundial de Saúde (OMS) propôs recomendações pautadas em mudanças de estilo de vida, a fim de prevenir e minimizar a prevalência mundial das doenças crônicas não transmissíveis. Uma de suas principais recomendações foi o consumo diário de cinco porções ou mais de frutas e hortaliças. O aumento do consumo desses alimentos atua de forma importante na redução do risco das principais doenças crônicas, especialmente devido a maior oferta de vitaminas, minerais antioxidantes e fibras alimentares26. A Organização Mundial da Saúde (OMS) preconiza uma ingestão diária de 400g de vegetais27. Dados da Vigitel21, revelaram que apenas 20,2% da população 87 Corrêa, T. A. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 83-92, jan/jun. 2012 brasileira ingerem a quantidade de frutas e hortaliças recomendada pela OMS. Esse consumo insuficiente seria responsável anualmente por 2,7 milhões de mortes, por 31% das doenças isquêmicas do coração, 11% das doenças cerebrovasculares e 19% dos cânceres gastrointestinais ocorridos em todo o mundo. Neste trabalho as pessoas foram orientadas a consumir diariamente, cereais de preferência integrais, leguminosas (feijões, ervilha seca, lentilha, grão de bico e soja) e a consumir pelo menos três porções de frutas e três porções de legumes e verduras nas refeições diárias, pois o recomendado de frutas, legumes e verduras é de 400g/dia. Observou-se que 71,43% dos indivíduos entrevistados consumiam diariamente folhas verdes cruas ou cozidas, 61,90% pelo menos duas porções de vegetais crus, cozidos ou assados diariamente, 66,67% consumiam folhas verdes escuras, cenoura, mamão, manga e abóbora e 64,28% três ou mais porções de frutas frescas ou sucos de fruta natural, diariamente. d) Diretriz 4 - Feijões e outros alimentos vegetais ricos em proteínas "As leguminosas, como os feijões e as oleaginosas, como as castanhas e sementes são alimentos fundamentais para a saúde. A preparação típica brasileira feijão com arroz é uma combinação alimentar saudável e completa em proteínas". O arroz com feijão contribui com o valor energético da dieta e é uma importante fonte proteica. A fibra do feijão pode atuar tanto na mobilidade intestinal como contribuir para a manutenção de níveis saudáveis de colesterol. As leguminosas são empregadas como fonte alternativa: elas possuem vitaminas, proteínas, carboidratos e minerais - cálcio, ferro e zinco - essenciais ao organismo e metabolismo celular28. Aos integrantes do projeto foi dada a orientação para que consumissem diariamente feijão com arroz, na proporção de uma para duas partes e também outras leguminosas: ervilha seca, lentilha, grão de bico e soja. Analisando o resultado da pesquisa, verificamos que 40,48% consumiam refeições com feijão, lentilha, ervilha, grão de bico ou soja. e) Diretriz 5: Leite e derivados, carnes e ovos: “Leite e derivados são as principais fontes de cálcio na alimentação, carnes, aves, peixes e ovos fazem parte de uma alimentação nutritiva que contribui para a saúde e o crescimento saudável.” A respeito do leite, destaca-se a importância desse grupo de alimentos como fonte de proteínas, vitaminas e principal fonte de cálcio da alimentação, nutriente fundamental para a formação e manutenção de massa óssea. Contudo o leite integral possui um conteúdo em gordura igual ou superior a 3,2%, o semi-desnatado tem um conteúdo de gordura entre 1,5% e 1,8% e o leite desnatado tem um percentual inferior 0,330 . Pesquisa realizada pela Vigitel21 mostrou que mais da metade da população brasileira (56,9%) consome leite integral regularmente. Neste trabalho a orientação foi dada para que houvesse o consumo diário de leite e derivados desnatados, com a ingestão de três porções ao dia de leite e seus derivados, como iogurte e queijos. Nossos resultados mostraram que 50% dos participantes relataram consumir ao menos um copo de leite desnatado, um pote de iogurte ou uma fatia de queijo diariamente. A carne possui elevado teor nutritivo, sendo fonte de proteína de alto valor biológico, ferro, vitaminas do complexo B, zinco e magnésio. A recomendação é consumir carne vermelha magras e optar por peixes e frango, que têm em comum o baixo conteúdo de gordura saturada e elevada quantidade de proteínas. Os peixes de água salgada são ótimas fontes de ácidos graxos essenciais e de vitaminas A e D30. Contudo, pesquisa realizada pela Vigitel21 indica que a dieta do brasileiro é inadequada, com excesso de gordura saturada: 34,6% dos brasileiros não dispensam a carne gordurosa. Analisando os 88 Corrêa, T. A. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 83-92, jan/jun. 2012 dados do nosso estudo, verificamos que pessoas têm-se preocupado com problemas cardiovasculares e obesidade, relacionados a ingestão dos ácidos graxos saturados 31 presentes na carne , sendo que 19,05% das pessoas consumiam carnes vermelhas magras e apenas 9,52% carnes vermelhas gordas diariamente. As demais, tinham preferência pelo frango e peixes com menor teor de gordura e preparados grelhados, assados, cozidos ou ensopados. f) Diretriz 6: gorduras, açúcares e sal: “As gorduras e os açúcares são fontes de energia. O consumo frequente e em grande quantidade de gorduras, açúcar e sal aumenta o risco de doenças como obesidade, hipertensão arterial, diabetes e doenças do coração” Os hábitos alimentares inadequados, adquiridos na infância e na adolescência podem exercer grande influência no desenvolvimento das doenças crônicas não transmissíveis e contribuem para a epidemia de excesso de peso, hoje observada no país32. É necessário equilibrar a ingestão e o gasto energético para a manutenção do peso, desequilíbrios nesta relação desencadeariam o processo de obesidade. Os doces, especialmente os elaborados com açúcar refinado e gordura trans, são alimentos altamente calóricos e deveriam ser consumidos com moderação. A adição elevada de açúcar aumenta o conteúdo calórico das refeições sem aumento do valor nutricional, contribuindo para problemas de obesidade22. Um estudo realizado pela Vigitel 21 (2011) revelou que nos últimos seis anos no Brasil, a obesidade e o excesso de peso aumentaram. Em 2011, o Ministério da Saúde6 apontou que a proporção de pessoas acima do peso no Brasil era de 48,5%, sendo que o percentual de obesos nos últimos 4 anos subiu de 11,4% para 15,8%. Nossa pesquisa mostrou que a preocupação com o consumo excessivo do açúcar está presente entre os integrantes do projeto. Neste trabalho, pode-se notar que apenas 19,05% dos participantes consumiam mais de duas colheres de sopa por dia de açúcar nas suas bebidas (sucos, chá, leite ou café), 14,28% ingeriam doces diariamente.e apenas 4,76% comiam frituras ou outros alimentos gordurosos diariamente Um fator de risco para a hipertensão arterial é o consumo excessivo de sal. De acordo com a Vigitel21, uma medida encontrada pelo Ministério da Saúde para diminuir o consumo de sódio entre a população foi reduzir gradativamente o sódio em algumas categorias de alimentos junto à indústria alimentícia. Estudos indicam que o açúcar refinado é altamente prejudicial ao organismo humano. Durante o refino são utilizados diversos produtos químicos para que o açúcar fique branco e solto. Como consequência desse refino, as fibras, as proteínas, os sais minerais e demais nutrientes são eliminados restando apenas um produto químico. Devido a esse resultado, o consumo de açúcar produz um estado de superacidez que desmineraliza o organismo refletindo na carência de cálcio, magnésio, zinco, cobre e selênio, dentre outros nutrientes33. Neste trabalho os indivíduos foram orientados: a) a reduzir o consumo de alimentos com alta concentração de sal, de açúcar e gordura saturada para diminuir o risco de doenças como hipertensão arterial, diabetes, obesidade, dislipidemias e doenças cardiovasculares; b) ler com atenção a lista de ingredientes nos rótulos dos produtos alimentícios, especialmente pela presença de gorduras trans e alto teor de sódio; c) dar preferência aos óleos vegetais e azeites e evitar o uso do saleiro à mesa; e) reduzir o consumo de alimentos processados com alta concentração de sódio, como temperos prontos, caldos concentrados, molhos prontos, salgadinhos, sopas industrializadas e outros; f) com relação aos açúcares, dar preferência ao consumo daqueles encontrados naturalmente nos alimentos, como frutas e mel, ou melado e rapadura evitando o açúcar refinado; g) valorizar o sabor natural dos alimentos, reduzindo o 89 Corrêa, T. A. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 83-92, jan/jun. 2012 açúcar ou o sal adicionados; h) quando houver necessidade, acentuar o sabor de alimentos cozidos e crus utilizando ervas frescas ou secas ou suco de frutas como tempero. Conclusão É possível perceber que uma variedade de fatores está relacionada à formação dos hábitos alimentares e estes quando adequados proporcionam ao organismo humano condições para uma vida saudável. Uma dieta composta basicamente por produtos naturais como frutas e verduras, cereais integrais, leguminosas e peixes têm impacto positivo no curso na qualidade de vida do indivíduo. A escolha alimentar depende de muitas variáveis, sendo importante identificar os fatores determinantes dos hábitos alimentares dos indivíduos e como desenvolver a intervenção nutricional, quando esta se fizer necessária. Sem dúvida, a orientação nutricional apresenta papel fundamental para a formação de hábitos alimentares adequados, pois a mesma pode constituir-se em um processo educativo e auxiliar os indivíduos efetivarem as mudanças positivas necessárias na vida cotidiana dessas pessoas. Contudo, pode-se dizer ainda que a junção das categorias de análise que determinaram a escolha alimentar dos indivíduos referidas neste estudo e o cruzamento de olhares interdisciplinares e multiprofissionais, voltados a uma alimentação saudável auxiliaram na formação de hábitos alimentares saudáveis. As palestras mensais e os almoços mensais promovidos pela equipe do NIPEAD-HUUFSC, onde os pacientes foram orientados a prepararem seus alimentos saudáveis e saborosos, sob as óticas higiênico-sanitária, nutricional e sensorial, bem como os cuidados na sua elaboração foram também ferramentas importantes na busca da promoção da saúde. Embora algumas dessas ações necessitem de um controle mais rigoroso, ressalta-se o papel determinante da orientação nutricional na formação dos hábitos alimentares saudáveis. Referências 1. Story M, Neumark-Sztainer D, French S. Individual and environmental influences on adolescent eating behaviors. J Am Diet Assoc 2002;102(3 Suppl):40-51. 2. Krause MV, Mahan LK. Alimentos, Nutrição e Dietoterapia. 11. ed. São Paulo: Roca, 2005. 3. Jaime PC, Silva ACF da, Lima AMC de and Bortolini GA. Ações de alimentação e nutrição na atenção básica: a experiência de organização no Governo Brasileiro. Rev Nutr 2011;24(6):809-24. 4. Pieniz S. Avaliação antropométrica e educação nutricional em mulheres com diabetes tipo 2. Rev Nutr Brasil 2007;6(5). 5. Epidemiologia e serviços de saúde – Revista do Sistema único de saúde do Brasil, outubro/dezembro de 2011;20(4). 6. Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Coordenação-Geral da Política de Alimentação e Nutrição, Guia alimentar, para a população brasileira Promovendo a Alimentação Saudável, Série A. Normas e Manuais Técnicos Brasília – DF, 2005. 7. Schutz R, Gazzola J, Balen MGW, Hermes EM, Silva CM, Cantos GA, et al. Orientação nutricional na prevenção e controle de doenças cardiovasculares em uma comunidade universitária. Rev Eletrônica Extensio UFSC 2009;6/7. 8. Nahas MV. Atividade Física, Saúde e Qualidade de Vida: conceitos e sugestões para um estilo de vida ativo. 4.ed. Londrina: Midiograf; 2006. 90 Corrêa, T. A. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 83-92, jan/jun. 2012 9. Carmo, MGTC & BATISTA, S.M. Experiência no atendimento ambulatorial em ambulatório. Rev Ciências da Saúde 1994;12(1/2):95-107. 10. DiMatteo MR. Enhancing patient adherence to medical recommendations. Journal of the American Medical Association, Chicago 1994;271(1):79-83. 11. Cavalett, C. Avaliação do quadro clínico e laboratorial de pacientes com alto risco para doença arterial coronariana atendidos por um programa multiprofissional e interdisciplinar. (dissertação). Florianópolis: Uni Federal de Santa Catarina; 2008. 12. Bonetti A, Cantos GA, Frutuoso JT, Rocha ME. Atividades interdisciplinares e multiprofissionais: relatos de uma experiência com participantes do programa de prevenção para doenças cardiovasculares. Rev Eletrônica de Extensão: Extensio 2010;10:70-89. 13. Pinto MS, Bosi MLM. Muito mais do que pe(n)sam: percepções e experiências acerca da obesidade entre usuárias da rede pública de saúde de um município do Nordeste do Brasil. 567Rev Physis 2010;20(2):443-457. 14. Teo CRPA. Discursos e a construção do senso comum sobre alimentação a partir de uma revista feminina. Saude Soc 2010;19(2):333-346. 15. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Trabalho e Rendimento, Pesquisa de Orçamentos Familiares, 2008-2009. Rio de Janeiro: IBGE; 2011. 16. Stewart H, Blisard N, Bhuyan S, Nayga RMJr. United States Department of Agriculture. USDA. The demand for food away from home: full-service or fast food?. 2004. 17. Santos MV dos, Proença RP da C, Fiates GMR , Calvo MCM. Os Restaurantes por peso no contexto de alimentação saudável fora de casa. Rev Nutr 2011;24(4):641-64 18. Mancini MC. Como diagnosticar & tratar a obesidade. Rev Bras Med 2004;61:8590. 19. Wyshak G. Teenaged girls, carbonated beverage consumption, and bone fractures. Arch Ped Adol Med 2000;13:154-610. 20. Guerrero-Romero F, Rodriguez-Moran M, Reyes E. Consumption of soft drinks with phosphoric acid as a risk factor for the development of hypocalcemia in postmenopausal womem. J Clin Epidemiol 1999;52:1007-10. 21. Secretaria de Vigilância em Saúde. Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa. Vigitel Brasil 2010: vigilancia de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefónico. Brasília: Ministério da Saúde. 22. Navarro FM, Marcon SS. Convivência familiar e independência para atividades de vida diária entre idosos de um centro dia. Cogitare Enf 2006;11(3):211-7. 23. Garcia GCB, Gambardella AMD, Frutuoso MFP. Estado nutricional e consumo alimentar de adolescentes de um centro de juventude da cidade de São Paulo. Rev Nutr PUCCAMP 2003;50:1641. 24. Trancoso SC; Cavalli SB e Proença RP da C. Café da manhã: caracterização, consumo e importância para a saúde. Rev Nutr 2010;23(5). 91 Corrêa, T. A. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 83-92, jan/jun. 2012 25. Takeuchi KP, Sabadini E, Cunha RL da. Análise das propriedades mecânicas de cereais matinais com diferentes fontes de amido durante o processo de absorção de leite. Ciênc Tecnol Aliment 2005;25(1):78-85. 29. Kira, CS e Maihara, VA. Determinação de elementos essenciais maiores e traço em queijos por espectrometria de emissão atômica com plasma de argônio induzido após digestão parcial. Ciênc Tecnol Aliment 2007;27(3):446-50. 26. Viebig RF, Pastor-Valero M, Scazufca M, Menezes PR. Consumo de frutas e hortaliças por idosos de baixa renda na cidade de São Paulo. Rev Saúde Pública 2009;43(5):806-13. 30. Oetterer M. Industria do Pescado e Cultivo. Livraria e Editora Agropecuária. Guaíba, 2002:35. 27. Sichieri R, Coitinho DC, Monteiro JB, Coutinho WF. Recomendações de alimentação e nutrição saudável para a população brasileira. Arq Bras Endocrinol Metab 2000;44(3):227-232. 31. Cantos GA, Silva CM, Hermes EH, Balen MG, Schutz R. Atendimento multiprofissional e interdisciplinar para pacientes com dislipidemia de uma comunidade universitária: relatos de uma experiência de 10 anos. Rev Ciências da Saúde 2007;26:33-42. 28. Barrueto-Gonzalez NB. Biodisponibilidade de minerais das fontes leguminosas. Rev Simbio-Logias 2008;1(1):174-83. 32. Salvatti AG, Escrivao MAMS, Taddei JA de AC and Bracco MM. Padrões alimentares de adolescentes na cidade de São Paulo. Rev Nutr 2011;24(5):703-13. 33. Carvalho F. O Livro Negro do Açúcar, Rio de Janeiro; 2006 92 Normas de Publicação Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 93-96, jan./jun. 2012 NORMAS EDITORIAIS DA REVISTA CIÊNCIAS DA SAÚDE 1. Serão aceitos, no máximo 2 (dois) artigos originais por autor que, destinados exclusivamente à Revista Ciências da Saúde, serão submetidos à avaliação e aprovação de uma Consultoria Científica e Comissão Editorial. 2. A Comissão Editorial assegura o anonimato do(s) autor(es) no processo de avaliação pela Consultoria Científica. 3. Um dos autores, pelo menos, deverá ser assinante(s) da Revista Ciências da Saúde. Anexar comprovante de assinatura. 4. Trabalhos apresentados em eventos (congressos, simpósios, seminários...) serão aceitos desde que não tenham sido publicados integralmente em anais e autorizados, por escrito, pela entidade organizadora do evento, quando as normas do mesmo assim o exigirem. 5. Excepcionalmente, serão aceitos trabalhos já publicados em periódicos estrangeiros, desde que autorizados pela Comissão Editorial do periódico onde o artigo tenha sido originalmente publicado. 6. A Consultoria Científica se reserva o direito de sugerir eventuais modificações de estrutura ou conteúdo do trabalho, que serão acordadas com os autores. Não serão admitidos acréscimos ou alterações após o envio para composição editorial. 7. As opiniões emitidas nos trabalhos, bem como a exatidão, adequação e procedência das citações bibliográficas, são de exclusiva responsabilidade dos autores. 8. A revista classificará os textos encaminhados de acordo com as seguintes seções: 8.1 EDITORIAL – matéria de responsabilidade da Comissão Editorial da Revista. 8.2 ARTIGOS ORIGINAIS: a) PESQUISA – constará de relatos de investigações científicas concluídas. b) REVISÃO – abrangerá revisões de literatura sobre temas específicos. c) RELATO DE EXPERIÊNCIA/CASOS CLÍNICO – incluirá descrições de atividades acadêmicas assistenciais e de extensão. d) REFLEXÃO – apresentará materiais de caráter opinativo e/ou análise de questões que possam contribuir para o aprofundamento de temas relacionados à área a que se destina a revista. 8.3 OUTRAS SEÇÕES: a) ENTREVISTA – espaço destinado a entrevistas de autoridades / especialistas / pesquisadores. b) TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO / DISSERTAÇÕES DE MESTRADO E TESES DE DOUTORADO – RESUMOS E ABSTRACT c) PÁGINA DO LEITOR. 9. NORMAS DE APRESENTAÇÃO DE TRABALHOS 9.1 – FORMATO – O trabalho deverá ser encaminhado em 02 (duas) vias. Na digitação deverá ser utilizado espaço 1,5; com margem esquerda 3 cm; margem direita (superior e inferior) 2 cm; letra Times New Roman, tamanho 12, observando a ortografia oficial, editor Word For Windows. O título deverá ser em caixa alta, negrito, espaço 1,5 simples e justificado. Os autores deverão estar abaixo do título do artigo, em negrito, espaço simples e em caixa baixa. O texto deverá conter seus respectivos títulos, de acordo com as características do trabalho (ex. Artigo de pesquisa: Introdução, Métodos, Resultados e Discussão, etc.), formatados em caixa baixa, negrito. É obrigatório o envio de disquete ou CD-ROM na primeira etapa do trabalho. 9.2 – PADRÃO DE APRESENTAÇÃO – a) ARTIGOS ORIGINAIS – redigidos de acordo com as normas da Revista do CCS devendo conter no máximo 15 laudas de texto para artigos originais e 25 para revisões 93 Normas de Publicação Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 93-96, jan./jun. 2012 e observar o que segue: Título do artigo em português (caixa alta) e inglês (caixa baixa) e entre colchetes. Nome(s) completo(s) do(s) autor(es). Em nota de roda pé a(s) credencial(is) e local de atividade do(s) autor(es) (espaço 1,5 cm), email para correspondência. Resumo indicativo em português, de acordo com as normas da Revista do CCS, com até 100 palavras, em espaço 1,5. Palavras-chave - palavras ou expressões que identifiquem o artigo. Para determinação das palavras-chave consultar a lista de “Descritores em Ciências da Saúde – DECS-LILACS”, elaborada pela BIREME e/ou “Medical Subject Heading – Comprehensive Medline”. Texto – incluindo ilustrações (quadros, fotos, modelos, mapas, desenhos, gravuras, esquemas, gráficos e tabelas), com seus respectivos títulos e fontes (quando houver). Exceto gráficos e tabelas, todas as ilustrações deverão ser designadas como figuras. As despesas com os fotolitos de figuras somente coloridas serão de responsabilidade dos autores Abstract – tradução do resumo em inglês, em espaço 1,5 cm. Keywords – tradução das palavraschave para o inglês. As referências (Normas de Vancouver) no texto deverão ser numeradas consecutivamente de forma crescente e na ordem que aparecem no texto pela primeira vez, identificando assim os autores SOMENTE POR NÚMEROS. A numeração, no texto, portanto deve ser em ORDEM CRESCENTE e SOBRESCRITO. NÃO LISTAR OS NOMES DOS AUTORES NO TEXTO. No setor de referências: (Normas de Vancouver) A listagem de referências deverá seguir a mesma ORDEM NUMÉRICACRESCENTE do texto. NÃO COLOCAR OS AUTORES EM ORDEM ALFABÉTICA. EXEMPLOS DE REFERÊNCIAS A) Artigos de revistas 1. Artigo padrão de revista: Listar os primeiros seis autores seguido por et al. Vega KJ, Pina I, Krevsky B. Heart transplantation is associated with an increased risk for pancreatobiliary disease. Ann Intern Med 1996;124:980-3. Mais do que seis autores: Parkin DM, Clayton D, Black RJ, Masuyer E, Friedl HP, Ivanov E, et al. Childhood-leukaemia in Europe after Chernobyl: 5 year follow-up. Br J Cancer 1996;73:1006-12. 2. Organização como autor: The Cardiac Society of Australia and New Zealand. Clinical exercise stress testing. Safety and performance guidelines. Med J Aust 1996;164:282-4. 3. Sem menção de autor: Cancer in South Africa [editorial]. S Afr Med J 1994;84:15. 4. Volume com suplemento: Shen HM, Zhang QF. Risk assessment of nickel carcinogenicity and occupational lung cancer. Environ Health Perspect 1994;102 Suppl 1:275-82. 5. Número com suplemento: Payne DK, Sullivan MD, Massie MJ. Women's psychological reactions to breast cancer. Semin Oncol 1996;23(1 Suppl 2):8997. 6. Volume com parte: Ozben T, Nacitarhan S, Tuncer N. Plasma and urine sialic acid in non-insulin dependent diabetes mellitus. Ann Clin Biochem 1995;32(Pt 3):303-6. 7. Número com parte: Poole GH, Mills SM. One hundred consecutive cases of flap lacerations of the leg in ageing patients. N Z Med J 1994;107(986 Pt 1):377-8. 8. Número sem menção de volume: Turan I, Wredmark T, Fellander-Tsai L. Arthroscopic ankle arthrodesis in rheumatoid arthritis. Clin Orthop 1995;(320):110-4. 9. Sem menção de número nem de volume: 94 Normas de Publicação Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 93-96, jan./jun. 2012 Browell DA, Lennard TW. Immunologic status of the cancer patient and the effects of blood transfusion on antitumor responses. Curr Opin Gen Surg 1993:325-33. 10. Paginação em numeração romana: Fisher GA, Sikic BI. Drug resistance in clinical oncology and hematology. Introduction. Hematol Oncol Clin North Am 1995 Apr;9(2):xi-xii. 11. Indicação do tipo de artigo, se necessário: Enzensberger W, Fischer PA. Metronome in Parkinson's disease [carta]. Lancet 1996;347:1337. Clement J, De Bock R. Hematological complications of hantavirus nephropathy (HVN) [resumo]. Kidney Int 1992;42:1285. 12. Artigo contendo retratação: Garey CE, Schwarzman AL, Rise ML, Seyfried TN. Ceruloplasmin gene defect associated with epilepsy in EL mice [retractação de Garey CE, Schwarzman AL, Rise ML, Seyfried TN. In: Nat Genet 1994;6:426-31]. Nat Genet 1995;11:104. 13. Artigo retratado: Liou GI, Wang M, Matragoon S. Precocious IRBP gene expression during mouse development [retractado em Invest Ophthalmol Vis Sci 1994;35:3127]. Invest Ophthalmol Vis Sci 1994;35:1083-8. 14. Artigo com erratum publicado: Hamlin JA, Kahn AM. Herniography in symptomatic patients following inguinal hernia repair [erratum publicado encontra-se em West J Med 1995;162:278]. West J Med 1995;162:28-31. B- Livros e outras monografias 1. Autor(es) individual: Ringsven MK, Bond D. Gerontology and leadership skills for nurses. 2nd ed. Albany (NY): Delmar Publishers; 1996. 2. Editor(es), compilador, como autor: Norman IJ, Redfern SJ, editors. Mental health care for elderly people. New York: Churchill Livingstone; 1996. 3. Organização como autor e editor: Institute of Medicine (US). Looking at the future of the Medicaid program. Washington: The Institute; 1992. 4. Capítulo de um livro: Phillips SJ, Whisnant JP. Hypertension and stroke. In: Laragh JH, Brenner BM, editors. Hypertension: pathophysiology, diagnosis, and management. 2nd ed. New York: Raven Press; 1995. p. 465-78. 5. Livro de atos de conferência, congresso, encontro: Kimura J, Shibasaki H, editors. Recent advances in clinical neurophysiology. Proceedings of the 10th International Congress of EMG and Clinical Neurophysiology; 1995 Oct 15-19; Kyoto, Japan. Amsterdam: Elsevier; 1996. 6. Comunicação em conferência: Bengtsson S, Solheim BG. Enforcement of data protection, privacy and security in medical informatics. In: Lun KC, Degoulet P, Piemme TE, Rienhoff O, editors. MEDINFO 92. Proceedings of the 7th World Congress on Medical Informatics; 1992 Sep 6-10; Geneva, Switzerland. Amsterdam: North-Holland; 1992. p. 1561-5. 7. Relatório técnico ou científico: Publicado pela entidade financiadora ou patrocinadora: Smith P, Golladay K. Payment for durable medical equipment billed during skilled nursing facility stays. Final report. Dallas (TX): Dept. of Health and Human Services (US), Office of Evaluation and Inspections; 1994 Oct. Report No.: HHSIGOEI69200860. Publicado pela entidade executora: Field MJ, Tranquada RE, Feasley JC, editors. Health services research: work force and educational issues. Washington: National Academy Press; 1995. Contract No.: AHCPR282942008. Sponsored by the Agency for Health Care Policy and Research. 8. Dissertação: Kaplan SJ. Post-hospital home health care: the elderly's access and utilization [dissertação]. St. Louis (MO): Washington Univ.; 1995. 95 Normas de Publicação Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 31, n.1, p. 93-96, jan./jun. 2012 9. Patente: Larsen CE, Trip R, Johnson CR, inventors; Novoste Corporation, assignee. Methods for procedures related to the electrophysiology of the heart. US patent 5,529,067. 1995 Jun 25. C).Outras publicações 1. Artigo de jornal: Lee G. Hospitalizations tied to ozone pollution: study estimates 50,000 admissions annually. The Washington Post 1996 Jun 21;Sect. A:3 (col. 5). 2. Material audiovisual: HIV+/AIDS: the facts and the future [cassette video]. St. Louis (MO): MosbyYear Book; 1995 3. Texto legal: Legislação publicada Preventive Health Amendments of 1993, Pub. L. No. 103-183, 107 Stat. 2226 (Dec. 14, 1993). Legislação não promulgada: Medical Records Confidentiality Act of 1995, S. 1360, 104th Cong., 1st Sess. (1995). Code of Federal Regulations: Informed Consent, 42 C.F.R. Sect. 441.257 (1995). Audição: Increased Drug Abuse: the Impact on the Nation's Emergency Rooms: Hearings Before the Subcomm. on Human Resources and Intergovernmental Relations of the House Comm. on Government Operations, 103rd Cong., 1st Sess. (May 26, 1993). 4. Mapa: North Carolina. Tuberculosis rates per 100,000 population, 1990 [demographic map]. Raleigh: North Carolina Dept. of Environment, Health, and Natural Resources, Div. of Epidemiology; 1991. 5. Livro da Bíblia: The Holy Bible. King James version. Grand Rapids (MI): Zondervan Publishing House; 1995. Ruth 3:1-18. 6. Dicionário e referências semelhantes: Stedman's medical dictionary. 26th ed. Baltimore: Williams & Wilkins; 1995. Apraxia; p. 119-20. 7. Texto clássico: The Winter's Tale: act 5, scene 1, lines 1316. The complete works of William Shakespeare. London: Rex; 1973. B) Material não publicado 8. Aguardando publicação: Leshner AI. Molecular mechanisms of cocaine addiction. N Engl J Med. Em publicação 1996. Material electrónico C) Material eletrônico 9. Revista em formato eletrônico: Morse SS. Factors in the emergence of infectious diseases. Emerg Infect Dis [serial online] 1995 Jan-Mar [cited 1996 Jun 5]; 1(1):[24 ecrans]. Disponível em: URL: http://www.cdc.gov/ncidod/EID/eid.htm 10. Monografia em formato eletrônico: CDI, clinical dermatology illustrated [monografia em CD-ROM]. Reeves JRT, Maibach H. CMEA Multimedia Group, producers. 2nd ed . Version 2.0. San Diego: CMEA; 1995. 11. Ficheiro de computador: Hemodynamics III: the ups and downs of hemodynamics [programa de computador]. Version 2.2. Orlando (FL): Computerized Educational Systems; 1993. 10.O(s) autores deverão encaminhar o artigo para análise acompanhado de uma carta com os seguintes dizeres: (Cidade, data) À Comissão Editorial Revista de Ciências da Saúde Os autores abaixo assinados transferem come exclusividade, os direitos de publicação, na Revista de Ciências da Saúde do artigo intitulado: (escrever título do artigo) e garantem que o artigo é inédito e não está sendo avaliado ou foi publicado por outro periódico. (incluir nome completo de todos os autores, endereço postal, telefone, email, fax, e assinaturas respectivas). 96 97