IV Seminário de Iniciação Científica www.prp.ueg.br www.ueg.br ASPECTOS DE ECOLOGIA ALIMENTAR DE Athene cunicularia (STRIGIFORMES) EM DUAS ÁREAS NO ESTADO DE GOIÁS (UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS E UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS). Abner Figueiredo Neto1,4, Larissa Martins Monteiro Alves4 , Priscila Lemes de Azevedo Silva2,4, Anamaria Achtschin Ferreira3,4, 1Voluntário de Iniciação Científica PIVIC/UEG,2 Bolsista PIBIC/CNPq, 3 Pesquisadora orientadora, 4 Curso de Ciências Biológicas, Unidade Universitária de Ciências Exatas e Tecnológicas Resumo Athene cunicularia (coruja buraqueira) vive em campos, pastagem e, em ambientes urbanos, ocupando o topo da cadeia alimentar. Pode ocupar buracos construídos por outras espécies podendo utilizá- los em anos subseqüentes. A coruja buraqueira possui uma dieta bastante diversificada composta por insetos, anfíbios, répteis, pequenos pássaros e mamíferos. Regurgitos são compostos por pêlos, ossos, exoesqueletos de invertebrados e outras partes que não são digeridas. Através da análise dos regurgitos, é possível inferir a disponibilidade de presas através da estimativa da variedade de itens. O objetivo deste estudo é descrever o comportamento alimentar de A. cunicularia e compará- los em duas áreas de pastagens no estado de Goiás. Foram amostradas duas áreas, uma em Goiânia, na Universidade Federal de Goiás (UFG) e a outra, em Anápolis, na Universidade Estadual de Goiás (UEG). A biomassa (g), comprimento (mm) e largura (mm) foram medidos para cada regurgito que posteriormente foram desidratados (50º - 60º), tratados com NaOH (10%) e posteriormente triados e identificados. A média do comprimento de todas pelotas coletadas foi 30,5mm já a da largura 14,2mm e a do peso 1,33g. A área da UEG apresentou maior presença de vertebrados (33%), representada pela Ordem Rodentia. Invertebrados, apresentaram maior abundância, em ambas as áreas, representada pelas Ordens: Orthoptera, Hymenoptera e Coleóptera principalmente Scarabaeidae e Carabaiedae. Palavras – chave: Athene cunicularia, regurgitos, comportamento alimentar. Introdução A ordem Strigiformes é composta por duas famílias Tytonidae e Strigidae, sendo a espécie Athene cunicularia, pertencente a esta última, encontra-se distribuída em todos continentes, com exceção da Antártica e representada desde o pleistoceno do Brasil (Sick 1997). 231 IV Seminário de Iniciação Científica www.ueg.br www.prp.ueg.br De acordo com Sick (1997) Athene cunicularia, pode ser encontrada da Terra do Fogo ao Canadá, é de ampla distribuição no Brasil, vive em campos, pastagem e, em ambientes urbanos, ocupando o topo da cadeia alimentar (Norell 1997; Teixeira 2000). Sua distribuição é muito influenciada pela estrutura e a qualidade do seu hábitat, porém pouco se sabe de como tais características influenciam ou até se as paisagens afetam nessa distribuição (Villarrel et al. 2005). A coruja buraqueira, como é conhecida popularmente, possui hábitos diurnos e crepusculares, podendo ocupar buracos construídos por outras espécies, podendo utilizá- los em anos subseqüentes. Na maioria das vezes, é atraída por tocas de tatu e principalmente por cupinzeiros, criando um espécie de galeria horizontal que irá servir de ninho (Sick 1997; Desmond et al.1996; Rodriguez-Estrella; Ortega-Rubio 1993). A escolha do ninho também pode estar relacionada com a disponibilidade de alimento e risco de predação (Martha et al 1996). Ultimamente, várias técnicas têm sido empregadas para avaliar o comportamento alimentar de aves de rapina. Um dos primeiros métodos utilizados foi a análise do conteúdo estomacal (Moojen et al., 1941; Schubart et al., 1965), porém, além do abate do rapineiro, o estômago poderia estar vazio, não sendo possível predizer sua dieta (Wheelwright, 86). As aves de rapina fazem egestão de pelotas, que são compostas por pêlos, ossos, exoesqueletos de invertebrados e outras partes não digeridas, compactadas no estômago e regurgitada. Através da análise dos regurgitos, é possível inferir a disponibilidade de presas através da estimativa da variedade de itens (Motta-Junior e Talamoni 1996; Sick 1997). O conhecimento a cerca das relações tróficas de avifauna são relevantes, pois podem fornecer subsídios sobre o estado de conservação de seus hábitats, embora as corujas buraqueiras tenham ampla plasticidade alimentar. É possível, ainda, conhecer o seu nicho trófico através do seu comportamento alimentar. Assim, o objetivo deste estudo é descrever o comportamento alimentar de Athene cunicularia e compará- los em duas áreas de pastagens no estado de Goiás. Materiais e Métodos 232 IV Seminário de Iniciação Científica www.prp.ueg.br www.ueg.br As pelotas de A. cunicularia foram coletadas próximos a ninhos em duas áreas, sendo uma em Goiânia no Campus da Universidade Federal de Goiás (UFG) e a outra, em Anápolis, na Universidade Estadual de Goiás (UEG). Em campo foram aferidos comprimento (mm) e largura (mm) para cada pelota. Em laboratório foi medida a biomassa (g) e as pelotas foram desidratadas em estufa com temperaturas ent re 50 - 60°C, por um período de 24-36 horas. Posteriormente foram tratadas com solução de NaOH (10%) em média de quatro horas. Após a dissolução da parte orgânica o material é lavado, coado e em seguida triados para identificação (Granzinolli, 2003). Para determinar os itens alimentares ingeridos, o material foi analisado em laboratório, sob microscópio estereoscópico (lupa). Os artrópodes foram examinados com auxílio de pranchas e chaves taxonômicas presentes no Borror e DeLong (1988). Foi utilizada para comparação dos fragmentos de artrópodes a coleção de insetos conservado em álcool, assim como proposto por Rosemberg e Cooper (1990). Os itens alimentares presentes nos estômagos, normalmente, encontraram-se muito fragmentados, dificultando a contagem dos indivíduos. Em muitas ocasiões foram consultados experientes entomologistas. Depois de identificados, os fragmentos de artrópodes foram agrupados em ordens (insetos). Depois foi feita uma análise qualitativa comparando vertebrados e invertebrados, comparativamente nas duas áreas. Resultados e Discussão Foram analisados 35 regurgitos, sendo 23 da UFG e 12 da UEG. Na primeira área (UFG) foram amostrados 7 ninhos enquanto que na segunda área (UEG) 4 ninhos. Devido à fragmentação, não foi possível quantificar a abundância dos itens alimentares. Entretanto, devido à facilidade de identificação e a má digestão de, por exemplo, um élitro de Coleóptera, explica a presença desses itens nas amostras. Alguns indivíduos foram classificados somente até ordem devido ao alto nível de degradação. A média do comprimento das pelotas coletadas foi 30,5 mm. A da largura média foi de 14,2 mm e aquela da biomassa 1,33 g. A média específica de cada área estudada pode ser observada na tabela 1. Tabela 1 – Regurgitos da área da UFG Biomassa (g) Comprimento (mm) Largura (mm) UFG 1,3 28,9 13,67 Variação 0,42 a 3,91 19,3 a 45,5 9,3 a 17,0 233 IV Seminário de Iniciação Científica www.prp.ueg.br www.ueg.br UEG Variação 1,41 0,63 a 2,11 32,36 20,4 a 45,3 14,8 11,1 a 18,7 Nas análises preliminares, os invertebrados foram representados pelas Ordens Orthoptera, Hemyptera e Coleoptera. A Família Scarabaeidae (Coleoptera) foi a de maior representatividade, ocorrendo em 69% das amostras, fato que pode ser justificado pelo seu hábito de acumular estrume ao redor do ninho (Sick 1997). Os vertebrados foram representados pela Ordem Rodentia com 26% do total das amostras, sendo que 33% de ocorrência nos regurgitos na área da UEG. Em ambas áreas, apesar do itens alimentares terem sido diferentes, houve predominância de invertebrados na dieta corroborando com o trabalho Teixeira et al. (2000). As duas áreas apresentaram resultados bastante similares, possivelmente devido ao fato de ambas as áreas serem de pastagens e bastante antropizadas. Conclusão O estudo de dieta da A. cunicularia é importante para sua preservação e um maior conhecimento de seu nicho, forrageio e comportamento. Apesar da predominância de Coleoptera nas pelotas analisadas, a coruja-buraqueira possui uma dieta bastante diversificada sendo considerada generalista e podendo ocupar vários níveis tróficos, mostrando assim que tal espécie possui um nicho fundamental bastante amplo, possibilitando que essas sejam encontradas em diversos tipos de hábitats. Referencias Bibliográfica Borror, D.J.; DeLong, D.M.1988. Introdução ao Estudo dos Insetos. Edgard Blücher São Paulo.654p Grazinolli, M. A. M. Ecologia alimentar do gavião-do-rabo-branco Buteo albicaudatus (Falconiformes:Acciptridae) no município de Juiz de Fora, sudoeste do estado de Minas Gerais. Tese de Mestrado. Universidade de São Paulo (SP) 135p. 234 IV Seminário de Iniciação Científica www.ueg.br www.prp.ueg.br Martha, J.; Julie, A. 1996. Factors Influencing Burrowing Owl (Speotyto cunicularia) Nest Densities and Numbers in Western Nebraska. The American Midland Naturalist v136 p1438 Jl '96 Moojen, J.; Carvalho, J.C.; Lopes, H.S. 1941. 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