VENDE-SE UMA REGIÃO: O MARKETING TERRITORIAL PÚBLICO E PRIVADO DO LITORAL NORTE DA BAHIA Sylvio Bandeira de Mello e Silva1 Silvana Sá de Carvalho2 RESUMO: O Litoral Norte do Estado da Bahia tem tido, nas últimas décadas, um forte crescimento do turismo, inclusive associado a residências secundárias. O dinamismo recente tem encontrado no marketing territorial uma poderosa ferramenta, envolvendo os setores público e privado. Assim, o objetivo deste trabalho é o de analisar o marketing territorial da região através de uma pesquisa na internet sobre os terrenos acima de 1 ha postos à venda, entre abril e junho de 2010. Neste período, foram encontrados 87 anúncios de grandes terrenos à venda, a maioria localizada em Camaçari e Mata de São João, onde ocorreu o maior crescimento do turismo e das residências secundárias. Os anúncios são publicados em português, inglês e espanhol e já envolvem 155 milhões de m². Alguns terrenos têm 13, 15 ou até 18 milhões de m² e abrangem uma extensão litorânea de 75 km, ou seja, cerca de 40% de todo o litoral. Alguns terrenos apresentam 8, 12 ou 13 km de extensão litorânea. O trabalho discute a crescente apropriação do território por estrangeiros e a forma de ocupação contínua do litoral, dificultando o acesso às praias, o que contraria a legislação brasileira. Estes problemas são agravados pela ausência de um planejamento territorial no Litoral Norte da Bahia. PALAVRAS-CHAVE: Marketing territorial; Litoral Norte; Bahia. 1 Professor do Mestrado em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Social/UCSAL. Pesquisador/CNPq. Email: [email protected] 2 Professora do Mestrado em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Social/UCSAL. E-mail: [email protected] Número de ISBN: 978-85-61693-03-9 1 1. INTRODUÇÃO O Litoral Norte do Estado da Bahia está passando por muito grandes e rápidas transformações desde meados dos anos 1970, com a inauguração da chamada Estrada de Coco (BA-099), prolongada em 1993 até a divisa de Sergipe com o significativo nome de Linha Verde (Figura 1). Figura 1 – Litoral Norte da Bahia – Estrada do Côco e Linha Verde Fonte: DERBA, 2007 e SEI, 2006 Elaboração: Carvalho, S.S. Número de ISBN: 978-85-61693-03-9 2 Com isso, toda a região, com seus recursos naturais, cênicos e culturais, passou a ser facilmente acessível à metrópole de Salvador o que possibilitou a intensa transformação da região, passando de um “deserto” [humano] (SANTOS, 1958, p.155) a um “território de enclaves” turísticos, recreacionais, de lazer e de residências secundárias (SILVA; SILVA; CARVALHO, 2008, p.189; SILVA; CARVALHO, 2010). O dinamismo recente e atual tem encontrado no marketing territorial uma poderosa ferramenta, envolvendo os setores público e privado, com abrangência multi-escalar (regional, nacional e internacional). Assim, o objetivo deste trabalho é o de analisar o marketing territorial do Litoral Norte da Bahia, priorizando o que é executado com os recursos da internet por agências públicas e privadas. A análise permitirá avaliar se efetivamente o “litoral do nosso país é um bem público” e que é “preciso mantê-lo na mão do seu verdadeiro dono: o povo brasileiro”, conforme veicula um recente anúncio (Figura 2) dos Ministérios do Meio Ambiente e do Planejamento na imprensa nacional (A Tarde, Salvador, 24.06.2010, p. A9). Neste mesmo comunicado, consta que o litoral brasileiro é um verdadeiro patrimônio natural e seu uso pelo cidadão está assegurado em lei. Por isso, o Governo Federal criou o Projeto Orla, que tem o objetivo de preservar e organizar nossa faixa litorânea. Caso você se sinta impedido de utilizar a praia por construções, quiosques ou qualquer outro tipo de empreendimento que esteja sendo erguido na orla marítima, entre em contato com a gente. (A Tarde, 24.06.2010, p.A9) Figura 2 – Informação oficial sobre a apropriação do litoral brasileiro Número de ISBN: 978-85-61693-03-9 3 Fonte: A TARDE, Salvador, 24.06.2010, p. A9 A pesquisa permitirá avaliar, portanto, se não há uma discrepância entre o discurso oficial e a prática, em boa parte incentivada por recursos públicos. A questão básica é a de saber que tipo de região está sendo produzida pelo marketing territorial, apoiada em uma determinada imagem que deve ser vendida, e quais são os principais impactos esperados, como resultado das ações públicas e privadas, para os próximos anos. 2. MARKETING E TERRITÓRIO A área de marketing (palavra inglesa plenamente adotada em língua portuguesa e em várias outras línguas) é uma área de estudos e de aplicação da Administração. Um de seus principais autores, Philip Kotler, junto com Kevin Lane Keller, assim definem marketing: “é um processo social pelo qual indivíduos e grupos obtém o que necessitam e desejam por meio da criação, da oferta e da livre troca de produtos e serviços de valor com outros” (KOTLER; KELLER, 2006, p.4). Os mesmos autores citam a definição de marketing pela American Marketing Association: o marketing é uma função organizacional e um conjunto de processos que envolvem a criação, a comunicação e a entrega de valor para os clientes, bem como a administração do relacionamento com eles, de modo que beneficie a organização e seu público interessado. (KOTLER; KELLER, 2006, p.4) É significativo observar que a Economia e a Geografia se preocuparam com a análise da estrutura dos mercados (onde o marketing se realiza), especialmente no amplo conjunto da chamada teoria locacional, o que sinaliza um forte potencial de interação com a Administração. O marketing viabiliza, desta forma, a troca que se processa entre o agente econômico que oferece um determinado bem ou serviço e o consumidor que precisa do bem ou do serviço. Em termos resumidos, a análise do marketing (KOTLER; KELLER, 2006, p.17) ressalta classicamente quatro ferramentas básicas do vendedor, os chamados quatro Ps: produto (product), preço (price), praça (place) e promoção (promotion). Kotler e Keller acrescentam mais quatro Cs do cliente, com base em Robert Lauterborn (1990): cliente Número de ISBN: 978-85-61693-03-9 4 (client), custo (cost), conveniência (convenience) e comunicação (communication ). Uma das ferramentas destaca claramente a questão territorial, o lugar (a praça) onde a troca é efetivada, isto é, o mercado do ponto de vista geográfico-econômico. Já o produto refere-se ao que pode ser oferecido para ser consumido ou utilizado pelo mercado, envolvendo bens, serviços, eventos, experiências, pessoas, lugares, propriedades, organizações, informação e idéias. Portanto, envolve também um território, com destaque para os lugares e propriedades. Ou seja, o território aqui é um recurso que passa a ser vendido como produto (mercadoria) através do marketing, gerando a expressão marketing territorial (ou marketing de lugares). Kotler e Keller falam ainda que “cidades, estados, regiões e países inteiros competem ativamente para atrair turistas, fábricas, sedes de empresas e novos moradores” (2006, p.6; ver também KOTLER; REIN; HAIDER, 1993). Antes, a socióloga Carola Scholz havia produzido um trabalho crítico sobre a relação entre marketing urbano e desenvolvimento urbano, considerando que foi o marketing que acabou por transformar a cidade de Frankfurt/Alemanha, a partir de 1977, em um dos mais importantes centros econômicos e financeiros da Europa e do mundo, com o ponta-a-pé inicial dado pela Prefeitura. Assim, foi definida uma identidade corporativa para Frankfurt, sendo a mesma tratada como cidadeempresa (SCHOLZ, 1989). Isto se refletiu na opção pela implantação de uma área central de negócios com enormes arranha-céus, a única cidade com esse perfil, mais americano que europeu, em toda a Alemanha. A crescente integração entre marketing e território se dá, nas duas últimas décadas, no contexto da expansão das discussões sobre território/territorialização/desterritorialização (HAESBAERT, 2009) que, por sua vez, podem ser assumidas como um resultado do crescimento do que se convencionou chamar de globalização (SILVA; SILVA, 2006). Com efeito, os processos de globalização, ao exacerbar os mecanismos de integração na escala global causaram grandes transformações, muitas delas negativas para um bom número de territórios o que provocou, em numerosos casos, importantes reações, visando o fortalecimento dos mesmos. A competição entre os territórios passou a ser global o que colocou novos desafios para o marketing, inclusive o marketing territorial, em diferentes escalas e contextos. Como diz Harvey (2005, p.87): A competição entre territórios (estados, regiões ou cidades) sobre quem tem o melhor modelo para o desenvolvimento econômico ou o melhor clima de Número de ISBN: 978-85-61693-03-9 5 negócios, foi relativamente insignificante nos anos 1950 e 1960. Competição deste tipo cresceu nos sistemas mais fluidos e abertos das relações comerciais estabelecidas após 1970. O progresso geral da neoliberalização tem sido, assim, crescentemente impelida através de mecanismos do desigual desenvolvimento geográfico. No Brasil, essa competição serviu para cunhar, nas últimas décadas, a expressão “guerra dos lugares”, como resultado da busca por melhores incentivos fiscais e outras vantagens oferecidas para a localização de empresas (SANTOS; SILVEIRA, 2001, p.112116). Basicamente, o território pode ser entendido como um espaço físico, identificado por determinados elementos, destacadamente pela presença de relações de poder ou um campo de forças, segundo Raffestin (1993), endógenas e exógenas, responsáveis pela sua estrutura e funcionamento. A questão territorial ressalta, portanto, e isto desde a clássica contribuição de Friedrich Ratzel (1923 [1897]), o componente político, uma das razões que explica o seu crescente uso, superando recentemente o emprego do termo região. 3. MARKETING TERRITORIAL NO LITORAL NORTE DA BAHIA Para analisar o marketing territorial do Litoral Norte da Bahia optou-se por uma pesquisa na internet sobre os grandes terrenos postos à venda em sites de classificados ou sites de grandes corretoras. As buscas por terrenos, acima de 1 ha, na internet aconteceu entre abril e junho de 2010. A maioria dos sites é escrita em mais de duas línguas, ou seja, além do português, o inglês e o espanhol, o que mostra a intenção de encontrar possíveis investidores no exterior. É importante notar que a busca por esses terrenos não se esgotou neste período, ou seja, existem ainda, provavelmente, mais terrenos nesse perfil sendo vendidos nesta área, nesta época. Nesse período foram encontrados 87 anúncios de terrenos à venda no Litoral Norte da Bahia, que corresponde aos municípios de Lauro de Freitas, Camaçari, Mata de São João, Entre Rios, Esplanada, Conde e Jandaíra. Como é mostrado na figura 3, o único município que não apresenta terreno à venda no litoral é Lauro de Freitas, o que pode ser explicado pela forte urbanização que aconteceu nas Número de ISBN: 978-85-61693-03-9 6 últimas décadas nessa área, integrando, inclusive, a cidade de Lauro de Freitas à Salvador, atualmente consideradas um continuum urbano. O gráfico mostra também que a maior parte dos terrenos à venda encontra-se em Mata de São João e Camaçari, municípios que mais fortemente estão passando pelo processo de metropolização turística com a construção de enormes resorts associados a condomínios de segunda residência, ambos voltados para o mercado nacional e internacional. Figura 3 – Anúncios de grandes terrenos à venda no Litoral Norte da Bahia – abr./jun. de 2010 Fonte: Pesquisa na Internet. abr./jun. 2010 Dos anúncios de terrenos coletados, foram registrados dados sobre a área, a extensão litorânea e o valor dos terrenos, sendo que nem todos os anúncios apresentavam preços. Quanto à área, a totalidade dos anúncios soma 155.226.311 m², sendo que alguns terrenos apresentaram área com 13, 15 e até 18 milhões de m². A área total oferecida equivale a quase três vezes a área do município de Lauro de Freitas. A figura 4 mostra o tamanho das áreas totais dos terrenos postos à venda no período da pesquisa: Número de ISBN: 978-85-61693-03-9 7 Figura 4 – Áreas de grandes terrenos à venda no Litoral Norte da Bahia – abr./jun. de 2010 70.000.000 60.000.000 Área (m²) 50.000.000 40.000.000 30.000.000 20.000.000 10.000.000 0 Camaçari Mata de São João Entre Rios Esplanada Conde Jandaíra Municípios do Litoral Norte Fonte: Pesquisa na Internet. abr./jun. 2010 No mapa abaixo (Figura 5) é indicada a localização mais detalhada destes terrenos e suas áreas correspondentes, ressaltando melhor a dimensão espacial: Número de ISBN: 978-85-61693-03-9 8 Figura 5 – Localização e áreas de grandes terrenos à venda no Litoral Norte da Bahia – abr./jun. de 2010 Fonte: Pesquisa na Internet. abr./jun. 2010 Elaboração: Carvalho, S.S. O dado apresentado sobre a soma de todas as extensões litorâneas dos anúncios de terrenos pesquisados equivale a mais de 75 km. Existem grandes áreas sendo vendidas com extensões litorâneas de 8, 12 e 13 km. É um dado preocupante, considerando que a pesquisa Número de ISBN: 978-85-61693-03-9 9 não abarcou a totalidade dos terrenos litorâneos atualmente à venda e que essa extensão equivale a cerca de 40% de todo litoral e não avaliou a área já vendida. A figura 6 mostra a extensão litorânea total dos terrenos à venda no período da pesquisa juntamente com a extensão litorânea dos municípios. Percebe-se que, em alguns municípios, a extensão litorânea de terras à venda é mais da metade ou quase a metade da extensão litorânea do município. Ou seja, são áreas rurais (a maioria fazendas de côco, com população rarefeita) que estão prestes a serem ocupadas por grandes empreendimentos que, provavelmente, não vão garantir o acesso ao cidadão comum, como é de costume nos atuais empreendimentos desse tipo no Litoral Norte da Bahia. Figura 6 – Extensão litorânea de grandes terrenos à venda no Litoral Norte da Bahia abr./jun. de 2010 200.000 180.000 160.000 140.000 Metros 120.000 100.000 80.000 60.000 40.000 20.000 0 Camaçari Mata de São Entre Rios João Extensão litorânea dos terrenos Esplanada Conde Jandaíra Extensão total Extensão litorânea dos municípios Fonte: Pesquisa na Internet. abr./jun. 2010 Quanto ao preço, os valores variam muito e são apresentados tanto em reais, como em dólares e euros, o que confirma mais ainda a que mercado se destinam esses anúncios – o mercado globalizado. A maior parte dos anúncios, cerca de 63%, apresenta o preço dos terrenos, o restante informa que o preço será fornecido somente sob consulta. A média de Número de ISBN: 978-85-61693-03-9 10 preços ficou em R$ 92,07/m², o menor valor encontrado foi R$ 3,00/m² e o maior valor foi R$ 600,00/m². Os preços variam de acordo com a localização, com a existência ou não de alguma infra-estrutura e com a existência de algum licenciamento ambiental prévio. A seguir, alguns destaques sobre as características e a imagem do território são apresentados: boa parte dos anúncios mostra a proximidade de Salvador e de seu Aeroporto Internacional, ressaltando a facilidade para quem chega por via aérea e quer se dirigir diretamente ao equipamento turístico a ser implantado: Localização: Litoral Norte do Estado da Bahia. A 45km. do aeroporto internacional de Salvador da Bahia, com tráfico consolidado de voos charters. (Disponível em: www.invertirenbrasil.com/po/areadeplaya Acesso em: 17 jun. 2010) a grande maioria dos anúncios faz um apelo à natureza ainda preservada e sua diversidade com acesso a vários tipos de ambientes naturais: Área de 67 hectares localizada no distrito de Abrantes na Fazenda Caritingui. Situada a 20 km de Salvador e a 15 km do Aeroporto, possui mananciais de mata atlântica preservada, restinga e dunas, sendo banhada pelo rio Capivara. Relevo plano com fauna e flora em equilíbrio. (Disponível em: www.bahia.com.br. Acesso em: 26 mai. 2010) o Governo do Estado da Bahia apresenta em um site (que aparentemente não é governamental) informações úteis sobre turismo com guias e roteiros turísticos e uma sessão para investidores interessados na Bahia. Informações ao Investidor - Veja como realizar investimentos turísticos na Bahia. Confira nossas zonas turísticas e faça download do “Guia do Investidor”. Oportunidades de investimento. Busque em nossos classificados as áreas ou empreendimentos disponíveis para venda. (Disponível em: www.bahia.com.br. Acesso em: 26 mai. 2010) Esse site tem uma sessão de classificados com uma lista de anúncios, mais precisamente 89, que se referem à áreas turísticas de todos o Estado da Bahia, inclusive o Litoral Sul, a Baía de Todos os Santos e o Recôncavo. Dentre estes, um terço se refere a grandes áreas localizadas no Litoral Norte. No anúncio, apesar de estar localizado em um site ligado ao governo, aparece o contato do corretor que vende o terreno. Número de ISBN: 978-85-61693-03-9 11 alguns anúncios mostram que as áreas possuem licenciamento para implantação de projetos: Área com 40 ha, sendo já aprovados para projetos turísticos e 20 ha com lagoas, com 950m de praia, localizado no Sítio do Conde, possuindo 5.000 coqueiros em produção, energia elétrica e benfeitorias. Área destinada à venda ou parceria para negócios turísticos. (Disponível em: www.bahia.com.br. Acesso em: 26 mai. 2010) outros anúncios enfatizam a proximidade dos terrenos à venda de áreas com construção de grandes empreendimentos imobiliários: Seja dono de um gigantesco paraíso - entre o céu, o mar e a terra - numa das mais lindas praias do litoral norte da Bahia. São 9.480.000 m2 de área plana, repleta de coqueiros, em Curumaí(entre Massarandupió e Subaúma), sendo que 2,5 km de frente para o mar. Apenas R$ 5,28 o m2. O terreno é ideal para a construção de grandes complexos hoteleiros e turísticos, condomínios de alto padrão, resortes de luxo e mansões cinematográficas, num dos espaços mais belos e cobiçados da Costa dos Coqueiros, às margens da Linha Verde, primeira rodovia ecológica do Brasil. Agora, nas imediações, começam a ser construídos dois gigantescos empreendimentos imobiliários, sendo um em Massarandupió e outro em Baixios, o que transformará a região no maior pólo turístico da América do Sul e um dos mais belos do mundo. Oportunidade rara para que empresas da construção civil tornem realidade projetos que antes pareciam apenas sonhos. (Disponível em: www.anunciosparatodos.com/anuncio/1246913070/Mega+Terreno+para+Pr ojeto+Ambicioso+-+Bahia+-+Brasil.+ Acesso em: 10 jun. 2010) estão sendo anunciados também terrenos para construção comercial ou residencial de baixo custo, localizados em áreas menos privilegiadas, com o argumento de que com o desenvolvimento do turismo aumenta a demanda de lugares de comércio e de lugares nos quais possa ser construída habitação de baixo custo para receber população que vai atrás de novas oportunidades de trabalho ligadas ao turismo: Descrição geral: Área de 30 hectares ideal para construção comercial ou residencial. Possui quase 1,5 km da Linha Verde, principal rodovia do Litoral Norte do Estado. Localizado na entrada de Praia do Forte. Esta localização estratégica é ideal tanto para um negócio comercial como um posto de gasolina e serviços, quanto para condomínio de casas de baixo custo. Com o desenvolvimento do litoral Norte da Bahia, aumentaram as oportunidades de trabalho ligados à indústria do turismo. Isso tem aumentado a demanda por mão de obra e consequentemente a demanda por habitação de baixo custo. O preço por m2 é muito bom comparado aos semelhantes na região. Oferece perfeita oportunidade comercial e residencial ou simplesmente poderá ser desmembrado para venda dos lotes individualmente. Número de ISBN: 978-85-61693-03-9 12 (Disponível em: imoveisbrasilbahia.com.br/Property/Residential/forsale/Terreno-na-Linha-Verde/Bahia/PDF1110P. Acesso em: 29 jun. 2010) Em termos adicionais, é preciso também registrar que o Governo do Estado da Bahia participa, ao lado do Governo Federal e de outros estados da Federação, das grandes feiras internacionais de turismo onde a questão do imobiliário turístico tem especial destaque. Prevalece, portanto, a lógica do mercado. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Concluindo, é preciso voltar à mensagem do anúncio governamental inserido no início desse trabalho (Figura 2). A comunicação veicula duas idéias. Uma, através da foto, induz o leitor a pensar que as praias devem propiciar livre circulação, portanto, não deveriam existir construções nas praias ou muito próximas delas. Outra idéia, que é a central, é a de que o litoral deveria ser propriedade do povo brasileiro, por conseguinte, neste caso, o encarte “oportunidade única” deveria ser eliminado, como o é na figura. O problema do litoral brasileiro, particularmente no Nordeste, começa a se assemelhar à questão da compra de terras para uso agropecuário por estrangeiros. Também em recente artigo de jornal, o ex-Ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, discute o polêmico tema da desnacionalização do território nacional (conceito clássico de território), defendendo a idéia de que “é correto estabelecer regras claras para compra de terras por estrangeiros, sem proibilo” (RODRIGUES, 3.07.2010, p. B11). No caso das praias, a legislação existente garante o uso pelo cidadão brasileiro. Mas, persistiria um grave problema mesmo com as terras do Litoral Norte da Bahia sendo compradas exclusivamente por brasileiros nos moldes dos anúncios aqui analisados ou por outros meios de comercialização. É a questão da acessibilidade às praias por dentro do território e não pelas próprias praias. Com efeito, caso todo esse modelo de ocupação do território seja concretizado com dezenas de grandes empreendimentos de turismo, recreação e lazer e com milhares de residências secundárias, tudo isso extendido ao longo do litoral, bem próximo às praias, o visitante que chegaria pela rodovia encontraria verdadeiras barreiras físicas que sucessivamente impediriam sua passagem. Assim, se houver uma passagem (acesso público às praias), o próximo poderá estar a mais de uma dezena, ou até a algumas Número de ISBN: 978-85-61693-03-9 13 dezenas, de quilômetros de distância. Um modelo esquemático (Figura 7) ajuda a entender o problema. Figura 7 – Modelo esquemático sobre a ocupação futura do Litoral Norte da Bahia Elaboração: Carvalho, S.S. Isto é agravado, portanto, pela grande dimensão dos empreendimentos privados que estão sendo construídos e projetados e pela ausência de um planejamento territorial intermunicipal. Pelo contrário, o Governo do Estado da Bahia está, como vimos, estimulando ativamente a venda dos terrenos pela internet, além de não ter um abrangente plano diretor para o ordenamento do território. Por outro lado, os municípios e o Consórcio Inter-municipal da Costa dos Coqueiros (que abrange o Litoral Norte da Bahia) não estão ainda preocupados com a questão, como ficou demonstrado por Coelho (2010). Assim, tudo leva a crer que o impacto do marketing territorial será, dentro de poucos anos, altamente problemático para o Litoral Norte do Estado da Bahia, confirmando a discrepância entre o discurso oficial e a prática. Número de ISBN: 978-85-61693-03-9 14 REFERÊNCIAS AMJ Bahia Imóveis. Salvador, 2010. Disponível em: <http://amjbahiaimoveis.com >. Acesso em: 30 abr. 2010. BAHIA. Salvador, 2010. Disponível em: http://www.bahia.com.br. Acesso em: 26 mai. 2010. BRASIL, Governo Federal. O Litoral do nosso país é um bem público. Jornal A Tarde, Salvador, 24 jun. 2010. Caderno principal, p. A9. COELHO, P. B. Costa não só de Coqueiros. O Consórcio Intermunicipal da Costa dos Coqueiros no contexto do federalismo no Brasil. (Dissertação de Mestrado). Salvador: Universidade Católica do Salvador/Programa de Pós-Graduação em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Social, 2010. HAESBAERT, R. O mito da desterritorialização: do “fim dos territórios” à multiterritorialidade. 4.ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2009. HARVEY, D. A brief history of neoliberalism. Oxford: Oxford University Press, 2005. IBBI – Imóveis Bahia Brasil Internacional. Salvador, http://www.imoveisbrasilbahia.com.br. Acesso em: 29 jun. 2010. 2010. Disponível em: INVESTIR no Brasil: Real State & Beach Areas. Salvador, 2010. Disponível em: <http://www.inverstirnobrasil.com>. Acesso em: 16 jun. 2010. KOTLER, P.; KELLER, K. L. Administração de Marketing. 12.ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2006. KOTLER, P.; REIN, I. J.; HAIDER, D. Marketing places: attracting investment, industry and tourism to cities, states, nations. Nova York: Free Press, 1993. LAUTERBORN, R. New marketing litany: 4 P´s passe; C-words take over. Advertising Age, 1° out.1990, p.26. RAFFESTIN, C. Por uma Geografia do poder. São Paulo: Ática, 1993. RATZEL, F. Politische Geographie. 3. ed. München/Berlin: R. Oldenburg, 1923. RODRIGUES, R. A terra é nossa. Folha de São Paulo, São Paulo, 3 jul. 2010. Caderno Mercado, p. B11. Número de ISBN: 978-85-61693-03-9 15 SANTOS, M. Salvador e o deserto. Revista Brasileira dos Municípios, Rio de Janeiro, v.11, n.43/44, p.155-156, jul./dez.1958. SANTOS, M.; SILVEIRA, M. L. O Brasil: Território e sociedade no início do século XXI. Rio de Janeiro: Record, 2001. SCHOLZ, C. Frankfurt – eine Stadt wird verkauft. Stadtentwicklung und Stadtmarketing – Image am Beispiel Frankfurt. Frankfurt am Main: ISP Verlag, 1989. SILVA, S. B. de M.; SILVA, B. C. N.; CARVALHO, S. S. Metropolização e turismo no Litoral Norte de Salvador: de um deserto a um território de enclaves? In: CARVALHO, I.; PEREIRA, G. C. Como anda Salvador. 2. ed. Salvador: EDUFBA, 2008. p.189-212. SILVA, S. B. de M. e; CARVALHO, S. S. Transportes, acessibilidade e interação no litoral norte da Bahia: Uma contribuição à política territorial. In: XI Colóquio Internacional de Geocritica 2010. Anais... Buenos Aires: UBA, 2010. CARVALHO, S.S.; SILVA, S. B. de M. Cartografia da acessibilidade a equipamentos urbanos no litoral norte de salvador – um estudo com análise de proximidade (buffer). In: XXIV Congresso Brasileiro de Cartografia 2010. Anais... Aracaju: Sociedade Brasileira de Cartografia, 2010, 7p. SILVA, S. B. de M. e; SILVA, B. C. N. Estudos sobre globalização, território e Bahia. 2.ed. Salvador: Mestrado em Geografia da UFBA, 2006. SILVA, S. B. de M.; SILVA, B. C. N.; COELHO, A. S. Desequilíbrios e desigualdades regionais no Brasil e nos estados brasileiros. João Pessoa-PB: Ed. Grafset, 2008. Número de ISBN: 978-85-61693-03-9 16