ÉMILE DURKHEIM (1858-1917) O Estado como o cérebro social, como o órgão que está encarregue de representar o corpo social no seu conjunto e de o dirigir. É que toda a vida do Estado propriamente dito passa-se não em acções exteriores, em movimentos, mas em deliberações, isto é, em representações. Um normalien agregado em filosofia e doutor em Letras, aluno de Fustel de Coulanges e Boutroux. Apresenta como tese, em 1893, La Division du Travail Social, de 1893 e, dois anos depois, emite Les Regles de la Méthode Sociologique, onde pretende, na senda do método positivista, estender o chamado racionalismo científico a toda a conduta humana. Professor em Bordéus e, depois de 1902, na Sorbonne, em Paris, cria em 1898 L’Année Sociologique, onde tem o sobrinho Marcel Mauss como principal colaborador. Acredita na sociologia como o estudo estatístico dos factos sociais e, almejando descobrir leis sociológicas, exclui o estudo da política do campo da sociologia, dado que as coisas políticas (dava o exemplo das guerras, das intrigas dos cours e das assembleias, bem como dos actos dos homens de Estado), porque ne sont jamais semblables à elles-mêmes: on ne peut donc que les raconter, et, à tort ou à raison, elles semblent ne procéder d’aucune loi définie (...) En tout cas, si ces lois existent, elles sont des plus difficieles à découvrir. Salienta que consciência colectiva é que gera consciências individuais: o que existe nas consciências individuais deve ser atribuído às pressões sociais, até porque a única liberdade do indivíduo é a de individualizar em si a consciência colectiva. Porque les faits sociaux consistent en des manières d'agir, de penser et de sentir extérieures à l'individu et qui sont doués d'un pouvoir de coercition en vertu duquel ils 'opposent à lui [...] Un fait social se reconnaît au pouvoir de coercition externe qu'il exerce ou est susceptible d'exercer sur les individus. Porque l'organe est indépendant de la fonction, porque les causes qui le font être sont indépendantes des fins qu'il sert. Vem considerar que as estruturas da sociedade podem mudar de função e que uma dinâmica divisão do trabalho implica o aparecimento de novas estruturas e, consequentemente, de novas formas de poder. Numa amálgama de hegelianismo e organicismo, conforme a expressão de Bertrand de Jouvenel, e procurando superar a incapacidade demonstrada pelo demoliberalismo da época em que viveu face à pressão dos grupos intermediários, entende o Estado como o cérebro social, como o órgão que está encarregue de representar o corpo social no seu conjunto e de o dirigir. É que toda a vida do Estado propriamente dito passa-se não em acções exteriores, em movimentos, mas em deliberações, isto é, em representações. O Estado surge, pois, como um mecanismo de comunicação e de transmissão de informações, constituindo um instrumento neutro e funcional, claramente separado da sociedade. Assinala que quanto mais as sociedades se desenvolvem, mais o Estado se desenvolve; as suas funções tornam-se cada vez mais numerosas, penetram, além disso, todas as outras funções sociais que o mesmo concentra e unifica por isso mesmo. Os progressos da centralização são paralelos aos da civilização. Assim, refere que o Estado estende progressivamente sobre toda a superfície do território uma rede cada vez mais apertada e complexa de ramificações que se substituem aos órgãos locais pré-existentes ou os assimilam. •De la Division du Travail Social , Paris, Alcan, 1893 cfr. trad. port., A Divisão Social do Trabalho, 2 vols., Lisboa, Editorial Presença, 1977. •Les Règles de la Méthode Sociologique, Paris, Alcan, 1895 cfr. trad. port., Lisboa, Editorial Presença, 1980. •Le Socialisme. Sa Définition, ses Débuts. La Doctrine Saint-Simonienne curso de 1895-1896. Paris, Alcan, 1928. Publicada por Marcel Mauss. Ver Paris, Rets, 1978. •Le Suicide.Étude Sociologique, Paris, Alcan, 1897. •Les Formes Élémentaires de la Vie Réligieuse, Paris, Alcan, 1912. •Éducation et Sociologie, Paris, Alcan, 1922. •Sociologie et Philosophie, Paris, Alcan, 1925. •L'Évolution Pédagogique en France, Paris, PUF, 1933. •Leçons de Sociologie. Physique des Moeurs et du Droit, Paris, PUF, 1950. 1893 Division (De la) du Travail Social Aron, Raymond, Les Étapes de la Pensée Sociologique, Paris, Éditions Gallimard, 1967, pp. 317 segs.; Giddens, Anthony, Durkheim on Politics and the State, Stanford, Stanford University Press, 1986; Lacroix, Bernard, «Dinâmica Social e Subordinação relativa do Político segundo E. Durkheim», in Boletim da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, LII, 1977, pp. 311-334; - Durkheim et le Politique, Paris, Presses de la Fondation Nationale des Sciences Politique, 1981; - «Durkheim», Châtelet (DOP), pp. 213 segs.; Lukes, Stephen, Emile Durkheim. His Life and Work, Londres, Penguin Books, 1973; Silva, Augusto Santos, Entre a Razão e o Sentido. Durkheim, Weber e a Teoria das Ciências Sociais, Porto, Edições Afrontamento, 1988. Gonçalves (ITS), pp. 344 segs; Maltez (ESPE, 1991), II, pp. 148 segs; Moncada (FDE), I, pp. 371 segs; Silva, Augusto, «Durkheim», in Logos, 1, cols. 1497-1501.