arte e jóia: a representação pictórica da joalheria no renascimento

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ARTE E JÓIA: A REPRESENTAÇÃO PICTÓRICA DA JOALHERIA NO
RENASCIMENTO.
JEWEL AND ART: THE PICTORIAL REPRESENTATION OF THE
RENASCENCE JEWELRY
Thalita Fornaziero de Carvalho, Maria Antonia Benutti – Campus de Bauru – Faculdade de Arquitetura Artes e
Comunicação – Educação Artística – [email protected].
Palavras chaves: joalheria; renascimento; pintura.
Keywords: jewelry; renascence; picture.
1. INTRODUÇÃO
O período da história européia, compreendido entre os séculos XV e XVI, conhecido como
Renascimento, foi uma época de grandes transformações, na religião, na ciência e nas artes, sendo a
Itália o berço dessas novas idéias. O modo de ver o artista modificou-se e as artes plásticas antes,
excluída por ser considerada como arte menor (sem fundamentos teóricos), e caracterizada como um
“Trabalho Manual”, segundo as tradições de Platão, ganha espaço nesse seleto grupo, assim o artista
passa a ser visto também como um homem de idéias, e a arte ganha força como expressão criadora.
Em contra partida a arte joalheira sempre presente ao longo das sociedades mais expressivas, e
sendo uma das artes mais antigas existentes, objeto de desejo e almejada por várias gerações por conter
gemas e materiais preciosos, ainda carregava o peso de arte menor, por ser executada pelo artesão
(ourives), e servir aos nobres e ao ideal de embelezamento, status e poder. No entanto essa arte
atravessou milênios, o que resultou no aperfeiçoamento das técnicas, para transformar esses materiais
em ornamentos pessoais e em peças de elevado valor artístico, resultando no avanço da tecnologia e
atingindo perfeições surpreendentes ao longo da história das civilizações.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E OBJETIVOS
2.1 Fundamentação Teórica
Quando falamos em história da arte, verificamos o poder da representação exercida ao longo dos
séculos, a arte pictórica ou mimética, nos leva a conhecimentos e nos permite ter uma idéia de como as
sociedades que nos antecederam retratavam sua cultura, sua contemporaneidade. Podemos observar em
cada imagem, características que nos ajudem a reconhecer determinados estilos e fatos históricos.
Segundo Gola (2008, p.19) essas características se distinguem pela singularidade resultante da
combinação recíproca entre matéria, finalidade, forma, nível cultural, avanço técnico e tecnológico, e
traz consigo uma nova maneira de um povo conceber e criar em determinada época, e leva-nos a
perceber, que as artes e a arte decorativa comporta diferentes estilos, apesar de ser compreendida de
forma global.
A base econômica da renascença era baseada no capital dos novos ricos (mecenas), de acordo com
Gombrich (2008, p 247), ao final da idade média tudo mudou gradualmente, as cidades com seus
burgueses e mercadores, passaram a ser mais importantes do que os castelos dos barões, uma nova
sociedade começa a ser formada e através das corporações, inclusive a dos ourives, faziam ouvir sua
voz na administração local, empenhando-se para tornar a cidade mais bela e assim, gozar de sua
posição e privilégios.
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A expansão da mineração de prata, na Alemanha e em Bohemia, e a exploração de grandes
quantidades de pedras e de ouro que chegavam a Europa por meio da exploração dos colonizadores nas
Américas, ajudaram a classe média, especialmente os burgueses e as companhias a estabelecer uma
nova relação social e cultural. Nessa época foram criadas peças históricas decoradas com ouro, pedras
preciosas, esmaltes, cujo nível artístico é comparado aos da pintura e da escultura do mesmo período.
Artistas como, Benvenuto Cellini, Albrecht Dürer e Hans Holbien eram contratados pela nobreza (os
mecenas), para desenhar peças de inigualável técnica de esmaltação, gravação e cravação para a época.
Nesse momento, foram dados novos significados ao desenho clássico, como clareza, contrates e
harmonia. Através da moderação ou equilíbrio desses contrastes, a relação das formas adquiriu um
senso de proporção.
For much of the silverware, the actual usablility became secondary.
Virtuosity of form and technique as well as the subjects represented became more and
more elaborate. Now, more than ever, artisans served the representational cravings of
the commissioners. With the intellectual demands of the latter, the craftsmem were
viewed more artists. A few prominent goldsmiths, such as Benvenuto Cellini and
Wenzel Jamnitzer, gained fame far beyond their own countries. In Germany,
Nuremberg was the leading city for goldsmithing; more than 720 masters can be
documented here during the sixteenth and seventeenth centuries.
(SCHADT, 1996, p. 109)
2.2 Objetivos
Criar um repertório crítico e minucioso através das obras renascentistas, e um aprofundamento
da história, características e peculiaridades do movimento renascentista para assim estabelecer uma
análise comparativa entre a produção joalheira da mesma época, também por meio de sua história e
principais características. Estabelecer através das imagens renascentistas a história da joalheria,
relacionando a linguagem artística e social e ressaltar a possível influência da produção artística na
produção joalheira.
3. METODOLOGIA
Através de levantamento bibliográfico e imagético estabelecer uma análise comparativa entre os
movimentos joalheiros e artísticos que facilitem o entendimento cultural e estético do período,
passando por obras do Renascimento Italiano, a Renascença Setentrional, onde certos aspectos tornamse mais evidentes, e chegando ao maneirismo, pretende-se alcançar um repertório mais crítico e
minucioso, percebendo assim as peculiaridades ao longo de quase três séculos do movimento.
Por meio da leitura de imagens personificar a linguagem da pintura e a linguagem da jóia
através do comportamento social, político e tecnológico que contribuíram para a aquisição das
diferentes formas de produção artística da época. Determinar o emprego das técnicas e materiais
utilizados na confecção da jóia da renascença e seu estilo, comparando com imagens de reproduções de
jóias do período e a maneira como a jóia é atualmente produzida.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Na época Renascentista os homens tanto ou mais que as mulheres usavam jóias, pois era sinal de
status e riqueza como já vimos. Das regras das vestimentas, pode se dizer que correntes de ouro e prata
eram como medida do prestígio, tanto para homens quanto para mulheres. Em alguns casos, grandes e
pesadas correntes eram usadas ao mesmo tempo. Essas correntes consistiam tanto de anéis
massivos/densos/pesados ou de elos que eram chapados e virados para parecerem com lascas de
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madeira – “Hobelspankette” (Figura 1). Para as mulheres, colares de pérolas eram também muito
populares.
Figura 1. Hobelspankette, early 16th century Bayerisches Nationalmuseum, Munich (SCHADT, 1996).
Para ilustrar algumas das características e dos conceitos artísticos do retrato e da jóia durante o
renascimento do norte ou renascimento setentrional analisaremos um dos retratos que Hans Holbein fez
para a corte inglesa do monarca Henrique VIII (Figura 2).
Figura 2. Henrique VIII, Hans Holbein (1542), 219x166 cm. (MARTINDALE, 1966)
Diz Janson (1996, p.247), sobre Holbein, seu retrato do rei confere uma rigidez um equilíbrio,
mas seu objetivo é expressar a autoridade quase divina do soberano e absoluto: a pose imóvel, o ar de
inacessibilidade, a exibição de jóias reproduzidas com exatidão, e bordados em ouro – todos esses
elementos criam uma sensação avassaladora da presença implacável e dominadora do soberano.
Arnheim (1989) aponta a importância, da cor, luz e sombra, orientação, disposição e equilíbrio,
que são ressaltados através da genialidade de detalhes e realismo com que Holbeim executa a pintura e
possibilita-nos visualizar o estilo da jóia da época, assim como a utilização de técnicas de cravação
tanto nas pedras que envolvem suas mangas e abotoaduras como nos anéis em suas mãos. Um colar
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feito também com perolas, ouro e gemas preciosas envolve-o, o mesmo acontece no preenchimento nas
laterais de seu chapéu utilizando os mesmos materiais com variações no desenho.
5. CONCLUSÕES
Entender a nova forma de retratar com realismo e fidelidade iniciada pelo Mestre de Flémalle
(Robert Campin), no Gótico tardio e que talvez tenha sido um dos primeiros a explorar a técnica da
pintura a óleo, que depois veio a ser imortalizada pelos irmãos Hubert e Jan Van Eyck, conferindo ao
renascimento o caráter de genialidade, proporcionando ao período uma grande gama de obras que além
de se tornar referência para o mundo ocidental, serviu como um registro da sociedade vigente do século
XV e XVI é o primeiro passo para compreendermos a importância da arte como uma forma de registro,
documento de toda uma era.
Portanto é possível a partir das análises comparativas compreender como a história da arte serve
a história da joalheria, pois através de suas imagens nos concede acesso a fragmentos históricos que
nos ajuda a entender como a jóia renascentista foi concebida. Graças a esses “documentos imagéticos”
podemos ter uma idéia das características e do estilo da joalheria renascentista, já que muitas das peças
reais se perderam ao serem modificados ao longo dos tempos, servindo a outras técnicas, pois somente
o valor da gema é respeitado, pois o ouro pode ser derretido e utilizado para criar novos desenhos e
servir as novas concepções da sociedade vigente.
6. REFERÊNCIAS
ARNHEIN, R. Arte e Percepção Visual: uma psicologia da visão criadora. São Paulo; Edusp,
pioneira, 1989.
GOLA, Eliana. A jóia: História e Design. Editora Senac – São Paulo, 2008.
GOMBRICH, E. H. A história da Arte. 16ª ed. Tradução: Álvaro Cabral, Editora LTC, Rio de
Janeiro, 2008.
JANSON, H. W. e JANSON, A. F. Iniciação à história da Arte. 2ªed. Tradução: Jefferson Luiz
Camargo Martins Fontes – São Paulo, 1996.
MARTINDALE, Andrew. O mundo da arte: O Renascimento. Distribuição exclusiva: Livraria José
Olympio Editora S.A. – Rio de Janeiro, 1966.
SCHADT, HERMANN. Gold smiths´Art: 5000 years of jewelry and hollowware. Stuttgart, New
York: Arnoldsche, 1996.
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