Documento informativo

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2010-2011
Documento informativo
Alicia Bárcena
Secretária-Executiva
Antonio Prado
Secretário-Executivo Adjunto
Osvaldo Kacef
Diretor da Divisão de Desenvolvimento Econômico
Ricardo Pérez
Diretor da Divisão de Documentos e Publicações
www.cepal.org/de
O Estudo econômico da América Latina e Caribe é um documento anual da Divisão de Desenvolvimento Econômico da
Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL). A elaboração da presente edição, 2010-2011, foi chefiada por
Osvaldo Kacef, diretor da Divisão, e a coordenação geral esteve a cargo de Jürgen Weller.
Nesta edição a Divisão de Desenvolvimento Econômico contou com a colaboração da Divisão de Estatística e
Projeções Econômicas, da Divisão de Comércio Internacional e Integração, das sedes sub-regionais da CEPAL na cidade do
México e em Port of Spain, e dos escritórios nacionais da Comissão em Bogotá, Brasília, Buenos Aires, Montevidéu e
Washington, D.C.
A primeira parte “A economia da América Latina e do Caribe em 2010-2011” foi escrita por Osvaldo Kacef, com
insumos preparados por Vianka Aliaga, Claudio Aravena, José Manuel Arroyo, Rodrigo Cárcamo, Fernando Cantú, Juan Pablo
Jiménez, Luis Felipe Jiménez, Cornelia Kaldewei, Sandra Manuelito, Ramón Pineda e Jürgen Weller. A segunda parte, “As
mudanças no financiamento externo e nos regimes macroeconomicos da região: efeitos heterogêneos dos choques externos e
políticas para enfrentá-los”, foi elaborada por Luis Felipe Jiménez e Sandra Manuelito. Para isso utilizou-se material preparado
pelos consultores Ricardo Carneiro, Roberto Fruskel e Roberto Zahler, assim como insumos preparados por funcionários da
Divisão de Desenvolvimento Econômico e outros participantes de um workshop realizado em abril de 2011 em Santiago. O
Ministério Federal de Cooperação Econômica e Desenvolvimento da Alemanha e a Agência Alemã de Cooperação Internacional
(GIZ) colaboraram com o financiamento desta capacitação.
As notas sobre os países baseiam-se em estudos realizados pelos seguintes expertos: Martín Abeles (Argentina), Olga
Lucía Acosta e Alejandra Corchuelo (Colômbia), Dillon Alleyne (Guiana e Jamaica), Claudio Aravena (Equador), José Manuel
Arroyo (Paraguai), Rodrigo Cárcamo (Venezuela (República Bolivariana da)), Álvaro Fuentes (Uruguai), Juan Alberto Fuentes
(Cuba), Randolph Gilbert (Haiti), Michael Hendrickson (Bahamas e Belize), Luis Felipe Jiménez (Chile), Beverly Lugay (União
Monetária do Caribe Oriental), Sandra Manuelito (Peru), Rodolfo Minzer (Panamá), Carlos Mussi (Brasil), Ramón Padilla (Costa
Rica e México), Benjamin Rae (Bolívia (Estado Plurinacional da)), Juan Carlos Rivas (Guatemala), Kelvin Sargeant (Barbados,
Suriname e Trinidad e Tobago), Francisco Villarreal (El Salvador e República Dominicana) e Willy Zapata (Honduras e
Nicarágua). As notas dos países do Caribe foram revisadas por Benjamin Rae.
Claudio Aravena, Fernando Cantú e Sandra Manuelito realizaram as projeções econômicas. O processamento e a
apresentação da informação estatística estiveram a cargo de Alejandra Acevedo, Vianka Aliaga, Leandro Cabello, Jazmín Chiu,
Diana Fajardo, Rodrigo Heresi, Isabel López e Damián Vergara.
Notas
Nos quadros da presente publicação foram empregados os seguintes sinais:
Três pontos (…) indicam que os dados faltam, não constam por separado ou não estão disponíveis.
Um traço (-) indica que a quantidade é nula ou desprezível.
A vírgula (,) se usa para separar os decimais.
A palavra “dólares” se refere a dólares dos Estados Unidos, salvo quando indicado em contrário.
2011-287
3
ÍNDICE
Página
Apresentação ....................................................................................................................................
Resumo executivo .............................................................................................................................
7
9
Capítulo I
Panorama regional ...........................................................................................................................
A. Introdução ................................................................................................................................
B.
Economia internacional ............................................................................................................
1. O contexto financeiro internacional e seu efeito sobre as economias da região................
C.
Aspectos destacados da evolução recente das economias da América Latina e do Caribe ......
1. Os agregados macroeconômicos .......................................................................................
2. O mercado de trabalho e os salários ..................................................................................
3. A inflação ..........................................................................................................................
4. As contas externas .............................................................................................................
D. As políticas macroeconômicas .................................................................................................
1. A política monetária e a cambial .......................................................................................
2. A política fiscal..................................................................................................................
3. Balanço e perspectivas ......................................................................................................
11
11
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18
21
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31
44
44
50
58
Apêndice estatístico..........................................................................................................................
67
Quadros
Quadro I.1
Quadro I.2
Quadro I.3
Quadro I.4
Quadro I.5
Quadro I.6
Gráficos
Gráfico I.1
Gráfico I.2
Gráfico I.3
Gráfico I.4
América Latina: mudança de prêmios por risco de incumprimento de
crédito a cinco anos, 2007-2011 ..............................................................................
América Latina (países selecionados): elasticidade do emprego
assalariado e do emprego assalariado formal em relação
ao produto, 2010 ......................................................................................................
América Latina e Caribe: variação em 12 meses do índice de preços ao
consumidor (IPC), do grupo de alimentos e bebidas e dos demais
grupos de produtos, de maio de 2010 a maio de 2011 .............................................
América Latina: taxas de variação interanual do comércio internacional
segundo principais grupos de produtos, 2008-2011.................................................
América Latina (19 países): fluxos financeiros externos, 2007-2010......................
América Latina e Caribe: indicadores fiscais do governo central............................
América Latina e Caribe: taxas de crescimento do PIB, 2011.................................
Taxas de crescimento da economia mundial, 2009-2012 ........................................
América Latina: taxas de variação dos componentes do gasto em relação
à igual trimestre do ano anterior, 2008-2011 ...........................................................
América Latina: taxas de variação anual da formação bruta de
capital fixo, 2004-2010 ............................................................................................
15
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54
11
13
20
20
4
Gráfico I.5
Gráfico I.6
Gráfico I.7
Gráfico I.8
Gráfico I.9
Gráfico I.10
Gráfico I.11
Gráfico I.12
Gráfico I.13
Gráfico I.14
Gráfico I.15
Gráfico I.16
Gráfico I.17
Gráfico I.18
Gráfico I.19
Gráfico I.20
Gráfico I.21
Gráfico I.22
Gráfico I.23
Gráfico I.24
Gráfico I.25
Gráfico I.26
Gráfico I.27
Gráfico I.28
Gráfico I.29
Gráfico I.30
Gráfico I.31
América Latina (9 países): taxa global de participação e taxa de ocupação,
média móvel de quatro trimestres, do primeiro trimestre de 2008
ao primeiro trimestre de 2011 ..................................................................................
América Latina (países selecionados): variação do salário médio real no
setor formal e do salário mínimo real, 2009-2010 ...................................................
América Latina e Caribe: taxas de variação interanual do emprego, segundo
categoria de ocupação e ramo de atividade econômica, 2009 e 2010 ......................
América Latina e Caribe: taxas de variação em 12 meses do índice de
preços ao consumidor, do item alimentos e bebidas e dos demais
componentes, dezembro de 2009-dezembro de 2010 ..............................................
América Latina: taxas de variação em 12 meses do índice de preços
ao consumidor (IPC) e da inflação correspondente, 2007-2011 ..............................
América Latina e Caribe: taxas de variação do IPC em 12 meses
em média simples, 2007-2011 .................................................................................
América Latina: estrutura da conta corrente, 2006-2011 .........................................
América Latina: exportações totais segundo o destino, 2006-2011 .........................
América Latina: projeção da taxa de variação do valor das exportações
segundo contribuição de volume e preço, 2011 .......................................................
América Latina: projeção da taxa de variação do valor das importações
segundo contribuição de volume e preço, 2011 .......................................................
América Latina e Caribe: taxa de variação interanual das chegadas
de turistas internacionais, 2009-2011 ......................................................................
América Latina e Caribe: índices de preços dos produtos básicos
e manufaturados, 2007-2011....................................................................................
América Latina: variação dos termos de troca, 2009-2011 .....................................
América Latina e Caribe (9 países): variação trimestral interanual
das remessas de trabalhadores emigrados, 2009-2011.............................................
América do Sul e México: saldo da conta corrente e composição
do financiamento externo, 2000-2010 .....................................................................
América Central, Haiti e República Dominicana: saldo em conta
corrente e composição do financiamento externo, 2000-2010.................................
Caribe: saldo da conta corrente e composição do financiamento externo,
2000-2010 .....................................................................................................................
América Latina: emissões de bônus externos e risco-país, 2004-2011 ....................
América Latina e Caribe: evolução da dívida externa bruta, 2000-2010 .................
América Latina e Caribe (países selecionados): taxas de política
monetária, 2008-2011 ..............................................................................................
América Latina e Caribe (países selecionados): evolução de alguns agregados
monetários, 2008-2010 ............................................................................................
América Latina (países selecionados): evolução do crédito total em
termos reais, 2008-2010 ...........................................................................................
América Latina e Caribe (países selecionados): variação da taxa de câmbio
real efetiva, maio de 2011 em comparação com o período 1990-2009 ...................
América Latina e Caribe (19 países): variação do espaço fiscal (receita, gasto
e dívida do governo central), 2003-2007 e 2007-2010 ............................................
América Latina e Caribe: evolução das contas públicas, 2000-2010.......................
América Latina (19 países): contribuição das variações da receita e dos
gastos à variação do resultado global, 2009-2010 ...................................................
América Latina e Caribe (19 países): receitas do governo central, 1990-2011 .......
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5
Gráfico I.32
Gráfico I.33
Gráfico I.34
Gráfico I.35
Requadros
Requadro I.1
Requadro I.2
Requadro I.3
América Latina (países selecionados): evolução da arrecadação tributária
em termos reais, sem seguridade social, 2009-2011 ................................................
América Latina: gastos do governo central, 1990-2011 ..........................................
América Latina: fluxos de capitais e termos de troca, 1980-2011 ...........................
América Latina e Caribe: crescimento do PIB, 2012...............................................
56
57
64
65
Possíveis efeitos para a América Latina e o Caribe do terremoto
e tsunami ocorridos no Japão ...................................................................................
A evolução da produtividade do trabalho ................................................................
Tendência da conta corrente na América Latina......................................................
17
25
60
7
APRESENTAÇÃO
A edição número 63 do Estudo econômico da América Latina e Caribe corresponde ao biênio 2010-2011,
período durante o qual a região da América Latina e Caribe se manteve na senda da reativação de suas
economias após a crise financeira e econômica global que golpeou a região na segunda metade de 2008 e
em 2009. Esta reativação, apoiada por uma recuperação com características inéditas na economia mundial
e pelas políticas macroeconômicas aplicadas na própria região, iniciou-se no segundo semestre de 2009 e
mostrou um dinamismo inesperado no ano 2010. Em 2011 a recuperação persistiu, embora o crescimento
econômico tenha se desacelerado por razões tanto externas quanto internas.
Na primeira parte deste Estudo econômico se analisam as características da reativação e os fatores
que explicam sua fortaleza inicial, assim como sua posterior moderação. Destacam-se as diferenças entre
os países e as sub-regiões, além dos obstáculos que encontram no contexto de uma economia com
abundante liquidez e altos preços dos principais produtos básicos. Mostra-se como a reativação se
expressou na evolução da atividade econômica, nos mercados de trabalho e no setor externo, e se examina
como as políticas macroeconômicas se ajustaram aos desafios que surgiram no contexto posterior à crise.
Por outro lado, se enfatiza a incerteza que caracteriza a economia mundial, os fatores de risco aí gerados
para o crescimento da região e os fatores internos que permitem projetar outra, ainda que moderada,
desaceleração do crescimento para o ano 2012. Esta primeira parte do Estudo se apoia em um extenso
anexo estatístico.
Na segunda parte deste Estudo econômico se analisam com detalhe os desafios que apresenta um
contexto de elevada liquidez nos mercados financeiros internacionais e altos preços dos produtos básicos
mais importantes. Destacam-se os contrastes que implica este contexto externo para países que se
caracterizam por marcadas diferenças nas pautas de seu comércio exterior assim como o grau de sua
vinculação com os mercados financeiros internacionais e a profundidade de seus sistemas financeiros
internos. Revisam-se os instrumentos macroeconômicos à disposição dos formuladores de política neste
contexto e se discutem suas vantagens e desvantagens, tanto para enfrentar os obstáculos de curto prazo
quanto do ponto de vista do desenvolvimento sustentado de longo prazo.
Finalmente, analisa-se a conjuntura dos países da América Latina e do Caribe em 2010 e no
primeiro semestre de 2011. As notas de cada país são acompanhadas por quadros que mostram a evolução
dos principais indicadores econômicos. Estas notas, como o anexo estatístico específico para cada país,
encontram-se publicadas no CD-ROM que se adjunta à versão impressa, assim como na página web da
CEPAL (www.cepal.org). Os quadros do anexo estatístico permitem visualizar rapidamente a informação
dos últimos anos e criar quadros em páginas eletrônicas. Neste disco encontram-se também as versões
eletrônicas da primeira e da segunda parte.
A data limite para a atualização da informação estatística da presente publicação foi 30 de junho
de 2011.
9
RESUMO EXECUTIVO
Logo após a contração observada em 2009, o PIB da América Latina e Caribe cresceu 5,9% em 2010,
embora, como característico da região, se evidencie uma grande heterogeneidade ao avaliar o
desempenho específico dos países. Este comportamento do PIB esteve impulsionado por um elevado
dinamismo da demanda interna, tanto do consumo como do investimento, assim como pelo aumento da
demanda de origem externa. Quanto à demanda interna, o crescimento do consumo privado (5,9%)
sustentou-se na melhoria dos indicadores do trabalho, tanto em termos de emprego como de salários, nas
melhores expectativas em relação ao desempenho da economia, no aumento do crédito para o setor
privado e, em alguns países, na recuperação das remessas de emigrantes. O consumo público, por sua vez,
expandiu-se a taxas mais moderadas (3,9%) e o investimento aumentou 14,5%, destacando-se o
dinamismo em máquinas e equipamentos. Em relação à demanda externa, o crescimento das exportações
de bens e serviços foi particularmente notável nos países do MERCOSUL, El Salvador, México,
Nicarágua e na República Dominicana, cujas taxas de expansão foram superiores a 10%. Ao mesmo
tempo, o mencionado elevado dinamismo da demanda interna regional (7,5%) induziu uma alta, superior
a 10%, das importações de bens e serviços a preços constantes.
Para 2011 a CEPAL projeta uma taxa de crescimento do PIB regional de 4,7%, o que implica um
aumento de 3,6% no PIB por habitante. Este crescimento será o resultado da consolidação da recuperação
que as economias da América Latina e do Caribe iniciaram na segunda metade de 2009. Contudo, a perda
paulatina do dinamismo da economia internacional e, em alguns casos, a retirada gradual das políticas
públicas adotadas na região para enfrentar a crise, contribuiriam para explicar a desaceleração do
crescimento em relação ao observado em 2010. Também, e ainda que esteja previsto um contexto externo
menos favorável e um entorno interno caracterizado por tensões quanto à evolução de algumas variáveis
macroeconômicas que definem complexos dilemas de política para as autoridades econômicas dos países
da região, espera-se um crescimento regional de 4,1% para 2012, equivalente a um aumento de 3,0% do
produto por habitante.
A evolução da atividade das economias da América Latina e do Caribe no futuro próximo se
baseia, em grande medida, no impulso do consumo privado, associado, por sua vez, aos melhores
indicadores de trabalho e ao aumento do crédito. Ao mesmo tempo, as expectativas favoráveis em relação
à evolução da demanda interna e ao esgotamento da capacidade produtiva ociosa, em um contexto de
maior disponibilidade de crédito, estão impulsionando um aumento do investimento.
De igual forma, a sustentação do crescimento e a consequente maior capacidade de geração de
emprego das economias da região antecipam uma nova redução da taxa de desemprego, que em 2011 se
projeta entre 6,7 e 7,0%, com o que a taxa de desemprego alcançaria níveis inferiores aos existentes antes
da crise. Além disso, a evolução do emprego assalariado formal em uma série de países, que na primeira
parte de 2011 estaria aumentando sua participação no emprego total, indica melhora da qualidade dos
postos de trabalho criados. Este contexto de crescimento e de melhoria (quantitativa e qualitativa) dos
indicadores laborais permite augurar um novo avance nos indicadores de pobreza.
Por outro lado, o aumento dos preços dos produtos básicos, e em especial dos alimentos e dos
combustíveis, no âmbito de um significativo crescimento da demanda interna, pressiona a alta a taxa de
inflação e tem começado a colocar os bancos centrais da região frente ao renovado dilema de priorizar a
estabilidade de preços ou tratar de defender em alguma medida a competitividade dos setores produtores
de bens exportáveis e substitutivos de importações, em um momento em que a combinação de uma
elevada liquidez internacional e da solidez de algumas economias latino-americanas, somada em vários
10
países à maciça entrada de divisas causada pelos altos preços dos produtos básicos de exportação e pelo
renovado apetite dos investidores estrangeiros por realizar investimentos nos países emergentes, traduz-se
em uma forte pressão à apreciação das moedas locais.
A situação descrita apresenta uma série de riscos e dificuldades tanto no curto prazo como no
médio e longo prazo. Por um lado, a maior entrada de fluxos financeiros estaria aumentando a
vulnerabilidade da região a movimentos de capitais especulativos, com o agravante de que a magnitude
dos recursos envolvidos poderia exceder a capacidade dos sistemas financeiros, dando origem a bolhas
nos preços dos ativos financeiros e nos mercados imobiliários. Em um horizonte além do curto prazo, a
apreciação da taxa de câmbio real pode afetar o componente externo da demanda de bens, especialmente
em um cenário de perda de dinamismo do comércio mundial como o que pode derivar-se de uma
diminuição do crescimento das nações desenvolvidas como a projetada a meados de 2011. Assim, a
ocorrência simultânea de apreciações reais das moedas e de aumentos dos preços dos produtos básicos
operam como um incentivo para uma especialização intensiva em produção e exportação de produtos
primários, aumentando a vulnerabilidade das economias da região aos choques externos e possivelmente
gerando maior volatilidade nos agregados macroeconômicos internos, afetando negativamente a
capacidade das economias de crescer, gerar emprego produtivo e de reduzir a desigualdade.
Vale a pena reiterar que, embora os riscos não sejam iminentes, a situação deve ser considerada
com cautela, o que aconselha aproveitar a conjuntura favorável para fortalecer a posição externa da
região e gerar economias no setor público de modo a recuperar o espaço de políticas que se contraiu na
crise. Por outro lado, medidas como controles ou limitações quanto à entrada de capitais de curto prazo
também contribuiriam a diminuir a vulnerabilidade da economia. Estas recomendações, por outro lado,
são compatíveis com a necessidade de conter a apreciação cambial referida anteriormente. Neste sentido,
a reconstrução do espaço fiscal resulta de vital importância para os países da região, uma vez que
contribuiria não apenas para enfrentar os tradicionais desafios das políticas públicas (necessidade de
aumentar o investimento em capital físico e social), mas também a atender alguns desafios que surgem a
partir da evolução do cenário internacional. O incremento da poupança do setor público permitiria ter
uma política monetária menos contrativa e ajudaria a diminuir a tensão entre as estratégias antiinflacionárias e cambiais.
Na segunda parte do documento (na versão em espanhol) se analisam os desafios que emanam de
um contexto caracterizado por altos preços de produtos básicos e elevada liquidez que se inclina por
ativos latino-americanos. Os países latino-americanos e caribenhos que se encontram nesta situação têm a
oportunidade de aproveitar estes recursos para estimular o crescimento de longo prazo, mas enfrentam
obstáculos como maior pressão inflacionária, perda de competitividade por processos de apreciação de
suas moedas e ameaça de “reprimarização” de sua estrutura produtiva.
As economias da região dispõem de uma série de instrumentos para conter os efeitos negativos
deste contexto internacional que, além de terem custos associados, não têm efetividade assegurada e
podem gerar efeitos secundários não desejados. Neste contexto o desafio para os encarregados da
formulação de políticas consiste em conceber a adequada combinação de instrumentos que considere as
características específicas da inserção comercial e financeira de cada país para criar um entorno favorável
ao investimento, ao emprego e à melhora do bem-estar da população em geral.
11
Capítulo I
PANORAMA REGIONAL
A. INTRODUÇÃO
A CEPAL projeta para 2011 uma taxa de crescimento do PIB regional de 4,7%, que implica um aumento
de 3,6% no PIB por habitante. Este crescimento é o resultado da continuidade da recuperação que as
economias da América Latina e Caribe iniciaram na segunda metade de 2009, embora a perda paulatina
de dinamismo da economia internacional, somada à retirada gradual de algumas das políticas
implementadas na região para enfrentar a crise, tenha contribuído a desacelerar o crescimento. Pelas
razões mais adiante analisadas, cabe esperar que a região continue crescendo, mesmo em um contexto
global menos favorável e com tensões relativas à evolução de algumas variáveis macroeconômicas que
dão origem a complexos dilemas de política para as autoridades econômicas dos países da região. Para o
próximo ano se espera um crescimento regional de cerca de 4,1%, equivalente a um aumento de 3,0% do
produto por habitante.
No gráfico I.1 mostra-se que, como ocorrido nos últimos anos, as maiores taxas de crescimento
são observadas na América do Sul, com uma taxa projetada de 5,1% para 2011. Espera-se que a subregião centro-americana em seu conjunto, onde se destaca o sustentado crescimento do Panamá, cresça
4,3% e as economias do Caribe 1,9%.
Gráfico I.1
AMÉRICA LATINA E CARIBE: TAXAS DE CRESCIMENTO DO PIB, 2011 a
(Em porcentagens)
Panamá
8,5
Argentina
8,3
Haiti
8,0
Peru
7,1
Uruguai
6,8
Equador
6,4
Chile
6,3
Paraguai
5,7
Colômbia
5,3
Bolívia (Est. Plur. da)
5,3
América do Sul (10 países)
5,1
Rep. Dominicana
5,0
América Latina e Caribe
4,7
Venezuela (Rep. Bol. da)
4,5
América Central (9 países)
4,3
Guatemala
4,0
Nicarágua
4,0
México
4,0
Brasil
4,0
Costa Rica
3,2
Cuba
3,1
Honduras
3,0
El Salvador
2,5
Caribe
1,9
0
1
2
3
4
5
6
7
8
Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em dados oficiais.
a
Dados preliminares.
9
12
O crescimento das economias da América Latina e do Caribe em 2011 se baseia, em grande
medida, em um impulso do consumo privado, que obedece à melhoria dos indicadores de trabalho e ao
aumento do crédito. Ao mesmo tempo, o esgotamento da capacidade produtiva ociosa, originado na
sustentação da demanda interna, em um contexto de maior disponibilidade de crédito está ocasionando
um aumento do investimento que, desta forma, recupera os níveis alcançados antes da crise.
Também o crescimento sustentado está repercutindo em forma positiva na capacidade de criação
de emprego das economias da região e isto permite esperar uma nova redução da taxa de desemprego, que
se projeta entre 6,7 e 7%. Deste modo, a taxa de desemprego poderia situar-se abaixo dos níveis prévios à
crise, no âmbito de uma melhoria da qualidade dos postos de trabalho criados, como sugere o aumento da
participação do emprego assalariado formal no emprego total, que se observa em uma série de países na
primeira parte de 2011. A continuidade do crescimento e a melhora (quantitativa e qualitativa) dos
indicadores de trabalho permitem augurar uma nova queda dos indicadores de pobreza.
A subida dos preços internacionais de alimentos e combustíveis, no contexto de aumento da
demanda interna tem propiciado o surgimento de pressões inflacionárias. Como consequência, se aprecia
um relativo endurecimento da política monetária em vários países da região, que tende a incrementar o
diferencial entre as taxas de juros internas e as internacionais, o que, em uma conjuntura caracterizada por
uma enorme liquidez internacional, pressiona em direção à apreciação das moedas regionais. Os países da
região continuam incrementando suas reservas internacionais, mas este aumento já não responde tanto ao
saldo em conta corrente (que na maioria dos países é crescentemente deficitário), mas ao resultado da
conta financeira e, em especial, das operações de menor prazo relativo.
Considerando a importância destes temas, tanto para a administração da política macroeconômica
de curto prazo como para a alocação de recursos e a definição dos padrões de especialização produtiva, os
capítulos conceituais deste documento se dedicam à análise da política macroeconômica e, em particular,
de suas consequências sobre a paridade cambial, sob diferentes modalidades de inserção na economia
internacional. O restante deste capítulo está estruturado do seguinte modo: na seção B se analisa a
situação que a economia internacional atravessa; na seção C se estuda o comportamento dos principais
agregados macroeconômicos internos e externos, enquanto a seção D se dedica a analisar as políticas
macroeconômicas e os desafios que a região enfrenta neste sentido, assim como a avaliar as perspectivas
quanto ao crescimento econômico.
B. ECONOMIA INTERNACIONAL
O produto mundial se recupera mais lentamente que o esperado dos efeitos da crise financeira global, o
que obrigou a revisar as estimativas sobre a evolução do nível de atividade global. Para 2011 se projeta
um crescimento de 3,3% e para 2012 se estima um crescimento de 3,6%1. O escasso dinamismo
observado na economia mundial e especialmente nos países mais desenvolvidos está indubitavelmente
ligado às dificuldades desses mercados financeiros, associadas, entre outros fatores, à redução do
endividamento das famílias, às debilidades do mercado imobiliário e aos problemas em relação às dívidas
soberanas de alguns países europeus. Ao mesmo tempo, a crescente preocupação pela sustentabilidade da
dívida pública das mencionadas economias está ocasionando um viés crescentemente austero nas finanças
públicas, o que agrega outro elemento negativo às perspectivas de crescimento.
1
Veja Nações Unidas, World Economic Situation and Prospects. Monthly Briefing, Nº 32, Nova York,
Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais (DAES), junho de 2011.
13
Gráfico I.2
TAXAS DE CRESCIMENTO DA ECONOMIA MUNDIAL, 2009-2012
(Em porcentagens)
8
7,4
6,2
6,2
5,9
6
4,7
3,9
4
4,1
3,6
3,3
2,5
2,4
2,0
2,4
2011 a
2012 b
2
0
-2
-2,1
-2,1
-4
-3,7
-6
2009
Mundo
2010
Países desenvolvidos
Países em desenvolvimento
América Latina e Caribe
Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em dados oficiais.
a
Dados preliminares.
b
Projeções.
Espera-se uma taxa de crescimento de 2% para o conjunto de economias desenvolvidas durante
2011, que poderia incrementar-se a 2,4% em 2012. Pelas razões antes mencionadas, prevê-se uma frágil
recuperação da economia estadunidense, cuja taxa de crescimento se projeta em 2,6% para 2011 (2,8% em
2012). A economia japonesa, severamente afetada pelo terremoto, maremoto e pelos problemas associados à
geração de energia nuclear, se recuperará muito lentamente, pelo que se estima que a taxa de crescimento de
2011 se situará em 0,7% (2,8% em 2012). Na Europa, no entanto, se observa uma grande disparidade
quanto às perspectivas de crescimento. Por conseguinte, com base em um crescimento projetado para o
agregado regional de 1,85% em 2011 (1,9% para 2012), se espera que a Alemanha e os países nórdicos
cresçam mais que a média, enquanto os países mais severamente afetados por problemas de dívida soberana
e de índole fiscal continuem atravessando um período de baixo crescimento ou de recessão.
As economias em desenvolvimento liderarão o crescimento global, com 6,2% de crescimento
estimado em 2011 (6,2% em 2012). Dentro deste grupo, se destaca o crescimento estimado para a China
(9,1% em 2011 e 8,9% em 2012) e a Índia (8,1% em 2011 e 8,2% em 2012), em um contexto de
crescimento generalizado superior às taxas médias esperadas para a economia mundial.
14
1. O contexto financeiro internacional e seu efeito
sobre as economias da região
Ao longo de 2010, vieram se intensificando os problemas de um grupo de países (Espanha, Grécia,
Irlanda, Itália e Portugal) caracterizados por posições fiscais estruturalmente deficitárias e níveis de
poupança privada muito baixos, situação que gerou um aumento contínuo da dívida pública e um déficit
sustentado em conta corrente2. Esta situação derivou em uma série de episódios críticos na Grécia, Irlanda
e Islândia, cujo processo de resgate requereu a criação de uma instituição especial (o Fundo Europeu de
Estabilidade Financeira (FEEF)), assim como a participação do Fundo Monetário Internacional (FMI), do
Banco Central Europeu (BCE) e de governos de países em melhor situação financeira. Estas turbulências
também afetaram outros países de menor tamanho da zona do euro (os denominados países periféricos) e
países europeus que não pertencem a essa zona.
Ao mesmo tempo, nos Estados Unidos se adotaram medidas monetárias para permitir um
saneamento ordenado das carteiras de empréstimos de qualidade inferior e do sistema financeiro em geral,
que havia sido afetado pela recessão derivada da crise financeira. Em consequência, em 2010 começou a
serem observados alguns sintomas de melhoria na economia desse país, embora a lentidão da recuperação
tenha determinado que a Reserva Federal dos Estados Unidos mantivesse a taxa de referência da política
monetária em níveis historicamente baixos. O Japão, por seu lado, afetado por uma estagnação que tem
durado vários anos, durante 2010 manteve uma política monetária orientada à recuperação de sua
economia, com taxas de juros muito baixas.
Em contraste com este panorama, os países emergentes mostraram uma pronta recuperação da
crise e muitos deles o fizeram com baixos níveis de endividamento público e sistemas financeiros
solventes, pelo que sua posição relativa comparada com as economias desenvolvidas aparecia claramente
fortalecida. Isto se expressou em menores riscos percebidos na região em relação aos países
desenvolvidos, antes considerados mais sólidos.
O resultado deste conjunto de fatores foi uma expansão da liquidez global, que se expressou
numa perda de valor das principais moedas de reserva, em especial do dólar3. Em contrapartida, se
registrou um incremento dos fluxos financeiros em direção à região, incluindo o investimento estrangeiro
direto (IED), e uma apreciação real e nominal, em alguns casos, das moedas locais.
Não obstante, esse não foi o único choque externo que afetou a região. O dinamismo das
economias emergentes traduziu-se em uma renovada fortaleza da demanda de produtos básicos, que gerou
uma alta dos preços dos metais, dos hidrocarbonetos e dos alimentos reforçada pela perda de valor das
principais moedas de reserva. Deste modo, se exacerbaram as pressões para a apreciação das moedas dos
países que são exportadores líquidos destes bens, ao mesmo tempo em que se incrementavam as pressões
inflacionárias.
2
3
O caso mais grave foi o da Grécia, com altos níveis de endividamento público, déficit fiscal estrutural de 12,5%
do PIB e déficit em conta corrente externa próximo a 14% do PIB. Veja as medições da posição fiscal estrutural
e da conta corrente destes países na base de dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), World Economic
Outlook Database, abril de 2010.
No caso da zona do euro, decidiu-se esterilizar os efeitos monetários das intervenções, tendo como prioridade
melhorar a liquidez dos ativos bancários mais que estimular a demanda agregada. Consequentemente, essa
moeda mostrou menor debilidade que o dólar.
15
Quadro I.1
AMÉRICA LATINA: MUDANÇA DE PRÊMIOS POR RISCO DE INCUMPRIMENTO
DE CRÉDITO A CINCO ANOS, 2007-2011 a
(Em pontos básicos)
Primeiro semestre de 2007
Segundo semestre de 2007
Primeiro semestre de 2008
Segundo semestre de 2008
Primeiro semestre de 2009
Segundo semestre de 2009
2010
Janeiro
Fevereiro
Março
Abril
Maio
Junho
Julho
Agosto
Setembro
Outubro
Novembro
Dezembro
2011
Janeiro
Fevereiro
Março
Abril
Maio
Argentina
Brasil
Chile
Colômbia
México
Panamá
Peru
208,1
429,3
574,6
2 454,1
3 001,1
1 230,2
81,0
100,2
130,0
231,0
285,4
131,2
15,0
24,1
60,3
146,2
188,8
76,0
94,9
133,1
170,7
247,5
329,1
160,1
37,6
58,9
106,4
215,7
320,8
158,2
72,7
112,0
154,6
245,1
331,8
151,8
78,3
109,2
128,9
231,4
307,1
138,0
Venezuela
(República
Bolivariana da)
190,1
410,6
576,7
1 575,9
1 956,1
1 149,3
1 027,4
1 150,6
902,8
850,4
1 212,3
986,9
793,6
945,7
750,5
625,1
735,0
601,9
144,0
130,2
130,5
123,7
135,8
139,9
116,9
131,5
115,9
99,8
123,4
111,3
76,7
74,2
82,9
84,2
103,4
104,5
77,9
77,9
73,9
67,9
93,6
84,4
168,2
157,0
150,1
146,2
163,4
152,2
123,8
137,8
117,8
100,3
125,7
112,7
150,3
126,8
116,2
115,1
133,6
137,5
116,9
143,8
122,0
105,8
125,8
113,6
155,6
141,9
126,6
115,6
129,4
135,0
108,5
114,1
112,2
94,1
115,6
98,7
145,4
131,6
127,8
121,5
135,2
136,5
109,3
116,3
120,5
107,3
131,8
113,0
1 020,1
1 026,9
927,9
899,7
1 431,0
1 367,6
1 040,3
1 267,8
1 133,0
1 073,5
1 268,8
1 015,9
625,0
658,0
591,8
586,8
602,8
118,9
118,0
111,2
105,4
104,1
82,2
78,4
61,3
59,4
67,9
120,0
119,9
108,5
100,2
100,5
122,0
114,5
105,4
98,5
102,9
107,2
104,2
90,8
84,2
84,3
112,7
113,3
137,8
154,5
132,9
1 045,1
1 122,3
1 015,3
1 023,1
1 110,4
Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras oficiais.
a
Os dados de 2011 correspondem aos primeiros cinco meses.
Durante 2011 esta complexa conjuntura externa se mantém, com indícios inclusive de um
possível agravamento. Nos Estados Unidos, a prioridade continua sendo a recuperação dos níveis do
produto e do emprego, considerada também uma das condições necessárias para o saneamento do sistema
financeiro. Além disso, o entorno de baixas expectativas inflacionárias tem permitido às autoridades
monetárias assinalar que no prazo imediato e até meados de 2012 não esteja prevista uma retirada do
estímulo monetário4. Embora as autoridades fiscais se encontrem em um prolongado processo de
negociação para a redução do déficit, não se antecipam ajustes tão pronunciados como os adotados pelos
países europeus. Em consequência, cabe esperar que a liquidez global originada nos Estados Unidos se
mantenha no segundo semestre de 2011. Na Europa, e na zona do euro em particular, o foco da política
macroeconômica aplicada até este momento é muito diferente. À diferença do ocorrido nos Estados
Unidos, as consequências monetárias das medidas destinadas a atender a crise financeira foram em sua
maioria esterilizadas. Além disso, o BCE iniciou em abril de 2011 um processo de aumento de taxas,
4
A necessidade de manter os estímulos monetários até que a economia mostre sinais mais claros de recuperação
tem sido defendida com inusitado rigor por Paul Krugman, “Inflation and economic Hooliganism”, New York
Times, 11 de maio de 2011.
16
devido à elevação das expectativas inflacionárias. As projeções indicam que os níveis de inflação estarão
situados em torno de 3%, o que excede a meta de 2% anual estabelecida por este banco, pelo que não se
espera uma mudança na orientação da estratégia da entidade no curto prazo.
A política fiscal na zona do euro, por sua vez, privilegia a recuperação da solvência como prérequisito da reativação econômica, embora no curto prazo estes ajustes orçamentários tenham efeitos
recessivos. As crescentes dúvidas sobre a sustentabilidade da dívida de vários países levaram à
implementação de drásticas medidas de corte de gastos, supondo que, no médio prazo, a confiança na
estabilidade e na solvência pública estimularia o investimento e o emprego. Não obstante, os problemas
relativos à sustentabilidade da dívida pública nos países mais comprometidos não estão solucionados.
Em especial, se destaca o caso da Grécia, que voltou a ser fonte de incertezas ao constatar-se que
as medidas adotadas para cumprir as metas fiscais comprometidas no plano estabelecido com o FMI, o
BCE e o FEEF não surtirão o efeito desejado em termos de redução do déficit, pelo que o desembolso dos
fundos contemplados na etapa posterior estaria em risco. Deste modo, tanto as autoridades desse país
quanto expertos em finanças internacionais têm indicado a necessidade de reestruturar a dívida (isto é,
reduzir o valor atual da dívida em poder dos credores), a fim de diminuir a carga do serviço da dívida e
aumentar as probabilidades de cumprimento, evitando assim o círculo vicioso derivado de uma contração
fiscal com efeitos recessivos no curto prazo, que agravaria o déficit interno. Os problemas que esta
proposta determina para o patrimônio do BCE (um dos credores após o processo de resgate), assim como
o temor sobre o contágio de outros países sobre-endividados postergam a implementação de uma solução
deste tipo.
No imediato, apesar de que a política monetária do BCE pudesse fortalecer o euro, a falta de
resolução dos problemas de dívida soberana causa uma grande incerteza sobre o futuro desta zona, que
continuará incentivando o fluxo de recursos financeiros a zonas mais seguras e rentáveis do mercado
financeiro global. O rebaixamento na qualificação da dívida soberana de alguns destes países no segundo
trimestre de 2011 favorece ainda mais a possível saída de recursos financeiros desta área.
No Japão, as implicações dos desastres naturais sobre o nível de atividade e do gasto público
afetaram negativamente a qualidade da dívida soberana. Ao mesmo tempo, as autoridades econômicas
mantêm os objetivos de evitar a apreciação da moeda e estimular a recuperação, pelo que se espera que a
política monetária continue orientada a aumentar a liquidez.
Deste modo, há uma tendência a ver-se consolidado um panorama global com acentuados
contrastes entre as políticas macroeconômicas adotadas em centros econômico-financeiros decisivos. Isso
permite antecipar um cenário de sustentada afluência de recursos financeiros aos países emergentes, com
as conseguintes tendências à apreciação real das moedas, elevados preços dos produtos básicos e
crescentes pressões inflacionárias. No entanto, prevalecem incertezas, particularmente em relação à
sustentabilidade da dívida pública de alguns países europeus altamente endividados, assim como quanto
ao momento em que os Estados Unidos alcançarão um ritmo de recuperação econômica que permita
mudanças em sua política monetária.
17
Requadro I.1
POSSÍVEIS EFEITOS PARA A AMÉRICA LATINA E O CARIBE DO TERREMOTO
E TSUNAMI OCORRIDOS NO JAPÃO
Como sucedido em desastres naturais anteriores, o terremoto e maremoto (tsunami) ocorridos em 11 de março de
2011 no Japão terão repercussões econômicas profundas e duradouras no âmbito local, mas seus efeitos para a
economia mundial serão de menor duração. Mesmo assim, embora a atividade econômica das zonas afetadas
represente uma fração inferior a 4% da economia japonesa, a destruição de parte da capacidade de geração elétrica
teve consequências sistêmicas que influem no conjunto da economia do Japão.
A experiência com o terremoto ocorrido em Kobe em 1995 mostrou a rápida capacidade de recuperação da
economia japonesa. Ainda que no curto prazo tenha havido uma significativa queda da produção, os esforços de
reconstrução rapidamente impulsionaram a recuperação da atividade e em um prazo relativamente breve se
restauraram a infraestrutura e as moradias destruídas. No caso atual, o fenômeno natural foi muito mais intenso que
o de 1995 e mesmo prevendo que depois de um período de contração ocorrerá a retomada da atividade econômica, o
tsunami e a conseguinte deterioração das centrais elétricas nucleares ameaçam com postergar esta dinâmica e
poderiam causar efeitos mais extensos sobre a produção. De fato, a redução da capacidade de geração de
eletricidade, não só nas instalações diretamente afetadas, mas também naquelas fechadas preventivamente ante a alta
probabilidade de novos fenômenos sísmicos num prazo imediato, tem provocado efeitos negativos nas demais
indústrias, sobretudo no setor automobilístico, em autopeças, eletrônica e em produção de semicondutores. Em
vários casos o suprimento de insumos foi interrompido temporariamente, afetando tanto a produção do país quanto a
de outros países integrantes das cadeias globais de produção em que o Japão assume um papel fundamental. As
estimativas indicam que por causa destes fatores o nível de produto poderia contrair-se entre 1 e 3%, para voltar a
um nível levemente positivo em 2012. Em consequência disso, o crescimento global em 2011 será reduzido em meio
ponto percentual.
As implicações para a América Latina e o Caribe, como em crises externas prévias, serão transmitidas por
canais comerciais e financeiros.
No plano comercial, é muito provável que num prazo imediato a interrupção da operação normal nos canais
de transporte e distribuição e a contração da atividade econômica interna do Japão se traduzam em menores
importações, mas no médio prazo, à medida que prime o esforço de reconstrução, as importações de matérias-primas
e combustíveis deveriam recuperar-se. A região da América Latina e Caribe dirigiu ao Japão cerca de 3,6 e 3,8% de
suas exportações em 2008 e 2009 respectivamente, ou seja, um valor que poderia ser considerado baixo. As
exportações do Chile, Bolívia (Estado Plurinacional da) e do Peru com destino ao Japão superam a média regional,
porém num ambiente de dinamismo da demanda em nível global e ao tratar-se de minérios e hidrocarbonetos, seria
possível redirecioná-las a outros mercados, compensando a redução da demanda do Japão. Em valores absolutos, o
Brasil e o Chile são os principais exportadores regionais ao Japão, seguidos pelo Peru, México e pela Argentina. No
âmbito dos serviços, a região registra uma baixa participação das exportações dirigidas ao Japão. Em particular, é
baixa a participação do turismo de origem japonês nas exportações de serviços turísticos dos países do Caribe.
Por outro lado, o investimento estrangeiro direto que chega à região proveniente do Japão em 2010
alcançou 3% do total e recentemente tem adquirido algum significado no Brasil (5% do total), como também no
Chile e no Peru em anos anterioresa. Historicamente o IED tem sido orientado a áreas de recursos minerais (Brasil,
Chile, Peru) e nos últimos tempos também à provisão de serviços financeiros (Brasil). A orientação de longo prazo
das motivações deste investimento não permite prever uma mudança radical devida ao terremoto no Japão.
No que se refere aos efeitos sobre o investimento em carteira e outros fluxos de caráter financeiro que
chegam à região como consequência do terremoto no Japão, as análises indicam uma possível intensificação das
tendências prévias, que se expressam em algumas incertezas quanto ao curso futuro da dívida pública no Japão e nos
Estados Unidos, e a exigência de maiores rendimentos (taxas de juros implícitas) aos títulos financeiros, o que
afetaria o custo do financiamento para a região.
18
Requadro I.1 (conclusão)
Certamente o Japão tem experimentado um contínuo aumento de sua dívida pública, como resultado de
sustentados déficits e baixo ou nulo crescimento econômico, o que tem se traduzido em um escasso incremento de
sua receita tributária. Em termos brutos a dívida pública alcança magnitudes próximas a 225% do PIB, embora
quando se desconta a porção detida pelos organismos governamentais se reduza a 100% do PIB, cifra comparável
com a de outros países desenvolvidos. No entanto, à diferença de outros países, a maior parte da dívida pública do
Japão está em mãos de seus próprios residentes. Mesmo assim, as tendências indicam uma deterioração no curto
prazo, devido a uma perda de receita tributável que poderia ser atribuída à projetada redução dos níveis de atividade
e ao maior gasto público destinado à reconstrução. Por outro lado, no médio e longo prazo, o contínuo
envelhecimento da população continuará pressionando o ritmo de gasto em pensões e saúde. Estes fatores levaram
as agências qualificadoras de risco a rebaixar a perspectiva da qualidade da dívida soberana do Japão.
Depois da China, o Japão é o principal possuidor da dívida dos Estados Unidos. Inicialmente estimou-se que
os possuidores privados venderiam parte destes ativos para financiar a reconstrução e cobrir os seguros comprometidos
por parte das companhias de seguros que mantêm esses bônus. Em consequência, nas primeiras semanas após o sismo
observou-se uma apreciação do yen, que teve de ser compensada por meio da intervenção dos bancos centrais do
Grupo dos Sete (G-7). Contudo, as análises, indicam que as companhias de seguros dispõem de recursos correntes
suficientes (fluxo de prêmios) para fazer frente aos pagamentos correspondentes ao terremoto, pelo que a liquidação de
ativos financeiros seria em escala inferior à antecipada inicialmente. No médio prazo, por sua vez, o envelhecimento da
população do Japão permite projetar uma tendência ao consumo da poupança, e, em consequência, a uma menor
demanda de ativos financeiros, dentre eles bônus do Tesouro dos Estados Unidos, pressionando ao aumento do custo
financeiro da dívida em nível global. O resultado final dependerá de um conjunto de fatores relativos às finanças
públicas globais, que no curto e médio prazo, em especial no caso dos países desenvolvidos, continuarão afetadas
negativamente pelas medidas adotadas para enfrentar a recente crise financeira global.
Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL).
a
Veja CEPAL, La inversión extranjera directa en América Latina y el Caribe, 2010, Santiago do Chile, 2011.
C. ASPECTOS DESTACADOS DA EVOLUÇÃO RECENTE DAS ECONOMIAS
DA AMÉRICA LATINA E DO CARIBE
1. Os agregados macroeconômicos
O PIB regional cresceu 5,9% em 2010, embora com grande heterogeneidade quanto ao desempenho dos
países. Os maiores crescimentos foram os dos membros do Mercado Comum do Sul (MERCOSUL)
—Argentina (9,2%), Brasil (7,5%), Paraguai (15,0%) e Uruguai (8,5%)—, além do Panamá (7,5%), Peru
(8,8%) e da República Dominicana (7,8%). No entanto, o Haiti (-5,1%) e a Venezuela (República
Bolivariana da) (-1,4%) registraram quedas do PIB devidas, no primeiro caso, ao efeito negativo que o
terremoto, que afetou o país em janeiro de 2010, teve na atividade econômica. No caso da Venezuela
(República Bolivariana da), a queda do PIB obedeceu à redução da demanda interna, derivada da perda de
receitas do governo por exportações de petróleo e do racionamento elétrico estabelecido no primeiro
semestre por causa da intensa seca.
Por sub-regiões, a América do Sul registrou um crescimento de 6,4% enquanto a América Central
mostrou uma expansão de 4%5. Os países do Caribe, por sua vez, cresceram 0,4%, destacando-se a queda
do PIB da Jamaica (-1,3%), a estagnação de Barbados (0,3%) e o baixo dinamismo de Trinidad e Tobago
(2,5%), economias que representam cerca de 70% do PIB dessa sub-região.
5
Este cálculo inclui Costa Rica, Cuba, El Salvador, Guatemala, Haiti, Honduras, Nicarágua, Panamá e República
Dominicana.
19
O crescimento do PIB esteve impulsionado pelo elevado dinamismo da demanda interna, tanto
em matéria de consumo quanto de investimento, e também pelo aumento da demanda externa. O
crescimento do consumo privado (6,0%) deveu-se à melhoria dos indicadores de trabalho em termos de
emprego e salários, às melhores expectativas sobre o desempenho das economias, ao aumento do crédito
ao setor privado e, em alguns países, à recuperação das remessas de emigrantes, enquanto o consumo
público expandiu-se a taxas mais moderadas (3,9%). O investimento aumentou 14,3%, destacando-se o
dinamismo do setor de máquinas e equipamentos. Como porcentagem do PIB, a formação bruta de
capital fixo aumentou de 20,3% em 2009 para 21,4% em 2010, ainda inferior ao crescimento de 22,1%
registrado em 2008.
O desempenho das exportações de bens e serviços foi particularmente destacado nos países do
MERCOSUL, El Salvador, México, Nicarágua e na República Dominicana, onde se expandiram a taxas
superiores a 10%. Ao mesmo tempo, o elevado dinamismo da demanda interna regional (7,5%) refletiu-se
no aumento das importações de bens e serviços que, a preços constantes, cresceram a taxas superiores a
10%, destacando-se o aumento das importações de bens de capital e de bens de consumo duráveis, em
particular, de automóveis.
Dentre os setores da atividade econômica, destacou-se o desempenho do comércio, dos serviços
financeiros, dos serviços a empresas e do setor de transporte e comunicações, que cresceram em forma
generalizada. Em contraste, no setor produtivo alguns segmentos como a mineração, a indústria e a
agricultura tiveram desempenhos heterogêneos. O setor agrícola registrou crescimentos importantes nos
países do MERCOSUL, devidos às boas colheitas obtidas graças à normalização das condições
climáticas. A atividade de extração mineral cresceu no Brasil, Colômbia (em ambos os casos, devido ao
aumento da produção de petróleo) e na Bolívia (Estado Plurinacional da) (pela produção de gás natural).
Contudo, a atividade industrial expandiu-se a taxas mais elevadas que a média na Argentina, Brasil,
Colômbia, México e no Peru.
A renda nacional bruta disponível da região incrementou-se 7,6%, graças à melhora, em média,
dos termos de troca e à recuperação das entradas de remessas de emigrantes6.
Em dólares correntes, o investimento aumentou para 21,6% do PIB, de 19,8% do PIB registrado
em 2009. A pesar de o crescimento do consumo privado, medido em porcentagem do PIB, a poupança
nacional também ter aumentado (de 19,5% em 2009 para 20,5% em 2010), a poupança externa aumentou
para 1,2% do PIB. Os dados disponíveis indicam que a atividade econômica tem mantido seu dinamismo
na primeira metade de 2011. Em vários países, as taxas de crescimento do primeiro trimestre de 2011
mantêm-se em níveis similares aos registrados ao longo de 2010 e se projeta uma taxa regional de
crescimento do PIB em 4,7% para 2011.
6
Como porcentagem do PIB, o ganho derivado dos termos de intercâmbio em 2010 situou-se em 3,4%. Os países
exportadores de petróleo, assim como os de minerais e metais, foram os mais beneficiados e em quase todos os
países da América Central (Costa Rica, El Salvador, Honduras, Panamá e República Dominicana) o efeito dos
termos de intercâmbio foi negativo.
20
Gráfico I.3
AMÉRICA LATINA: TAXAS DE VARIAÇÃO DOS COMPONENTES DO GASTO EM RELAÇÃO
AO MESMO TRIMESTRE DO ANO ANTERIOR, 2008-2011 a
(Em porcentagens e em dólares constantes de 2005)
35
35
30
30
25
25
20
20
15
15
10
10
5
5
0
0
-5
-5
-10
-10
-15
-15
-20
-20
-25
-25
I
II
III
IV
I
2008
II
III
IV
I
2009
II
III
IV
2010
I
2011
Consumo privado
Consumo do governo geral
Formação bruta de capital fixo
Exportações de bens e serviços
Importações de bens e serviços
PIB
Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em dados oficiais dos países.
a
Os dados de 2011 correspondem ao primeiro trimestre.
Gráfico I.4
AMÉRICA LATINA: TAXAS DE VARIAÇÃO ANUAL DA FORMAÇÃO BRUTA
DE CAPITAL FIXO, 2004-2010
(Em dólares constantes de 2005)
15
10
5
0
-5
-10
-15
2004
2005
2006
Construção
2007
2008
2009
2010
Máquinas e equipamentos
Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em dados oficiais dos países.
21
2. O mercado de trabalho e os salários
A reativação do nível de atividade registrada em 2010 incidiu em um aumento da taxa de ocupação de
0,6 pontos percentuais, alcançando assim um novo máximo histórico, de 54,9%7. Como pode ser
observado no gráfico I.5, a taxa de ocupação começou uma vigorosa recuperação a partir do primeiro
trimestre de 2010, embora não tenha sido um comportamento geral, já que de 14 países com dados
comparáveis, só 8 países registraram aumento deste indicador: Argentina, Bolívia (Estado Plurinacional
da), Brasil, Colômbia, Nicarágua, Peru, República Dominicana e Uruguai.
Outra variável cujo comportamento mudou radicalmente em 2010 foi a taxa de participação, que
registrou um incremento de 0,3 pontos percentuais. Dado que em muitos países a oferta de trabalho
mostra um comportamento pró-cíclico, pode-se interpretar que a percepção de mais opções de trabalho
surgida no âmbito da reativação econômica incidiu neste incremento. Como mostrado no gráfico I.5, o
repontar da participação começou a ser observado no quarto trimestre de 2009 e foi mantido até o quarto
trimestre de 2010, mas registrou uma leve queda na primeira parte de 2011, que poderia refletir uma
redução da oferta de trabalho para os jovens8.
Gráfico I.5
AMÉRICA LATINA (9 PAÍSES): TAXA GLOBAL DE PARTICIPAÇÃO E TAXA DE OCUPAÇÃO,
MÉDIA MÓVEL DE QUATRO TRIMESTRES, DO PRIMEIRO TRIMESTRE DE 2008
AO PRIMEIRO TRIMESTRE DE 2011 a
(Em porcentagens)
60,0
55,6
59,9
55,4
59,8
55,2
59,7
55,0
59,6
54,8
59,5
54,6
59,4
54,4
59,3
54,2
Trim 1
Trim 2
Trim 3
2008
Trim 4
Trim 1
Trim 2
Trim 3
2009
Taxa global de participação (eixo esquerdo)
Trim 4
Trim 1
Trim 2
Trim 3
Trim 4
Trim 1 b
2010
2011
Taxa de ocupação (eixo direito)
Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em dados oficiais dos países.
a
Os dados de cada trimestre representam o valor médio do ano móvel (quatro trimestres) que termina nesse trimestre.
b
Os dados de 2011 são preliminares.
7
8
À diferença da série publicada anteriormente, esta taxa regional foi calculada utilizando os dados de ocupação
em nível nacional em todos os casos em que esta informação esteja disponível.
Durante 2010, em vários países (dentre eles, Argentina, Brasil, Colômbia e Venezuela (República Bolivariana
da)) a participação laboral dos jovens caiu mais ou subiu menos que a dos adultos, o que pode ser devido à
tendência de longo prazo a incrementar a permanência dos jovens no sistema educativo.
22
Em 2010, a aceleração do incremento da oferta de trabalho atenuou o efeito do aumento do nível
de ocupação na taxa de desemprego urbano, que caiu de 8,1% para 7,3% e retornou ao nível de 2008, o
mais baixo dos últimos 20 anos. Em termos absolutos, o número de ocupados nas zonas urbanas da região
aumentou em 6,4 milhões em 2010 enquanto o número de desempregados reduziu-se em 1 milhão de
pessoas, o que significa um total de 17,1 milhões de desempregados urbanos. O aumento da demanda
laboral, que reflete o incremento da taxa de ocupação, também influiu na diminuição das taxas
de subemprego.
No âmbito da reativação econômica de 2010, os salários reais, por sua vez, continuaram
crescendo, embora a taxas inferiores às observadas em 2009, dado o ressurgimento da inflação (veja o
gráfico I.6)9. Considerando um incremento de 2,8% no número de ocupados e um aumento médio real dos
rendimentos do trabalho estimado em 2,6% (média ponderada), a massa dos rendimentos do trabalho teria
subido cerca de 5,5%, o que teria sido um importante fator de impulso da demanda interna10.
Gráfico I.6
AMÉRICA LATINA (PAÍSES SELECIONADOS): VARIAÇÃO DO SALÁRIO MÉDIO REAL
NO SETOR FORMAL E DO SALÁRIO MÍNIMO REAL, 2009-2010
(Em porcentagens)
8
6
4
2
0
-2
-4
-6
Salário médio
Venezuela
(Rep. Bol. da)
Uruguai
Peru
Paraguai
Panamá
Nicarágua
México
Guatemala
Costa Rica
Colômbia
Chile
Brasil
-8
Salário mínimo
Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras oficiais.
9
10
Os salários mínimos cresceram levemente, menos de 2% em termos reais, para a mediana das variações de 19
países, depois de ter-se expandido significativamente no ano anterior (veja o quadro A-26), embora com maior
dispersão, que reflete diferenças nas políticas de renda dos países.
Para alguns países, nesta estimativa se consideram medições mais amplas que as apresentadas no gráfico I.6 e no
quadro A-25, que se referem a salários do setor formal.
23
Os diferentes ritmos de crescimento da atividade econômica observados em 2010 derivaram em
taxas de geração de emprego muito variadas em nível sub-regional. No conjunto de países sulamericanos, a taxa de ocupação (média simples de sete países com dados comparáveis) subiu
0,4 pontos percentuais, enquanto no México e na América Central (média de seis países) se contraiu
0,2 pontos percentuais e no Caribe (três países) caiu 1,3 pontos percentuais.
Também foi observada maior geração de emprego assalariado (veja o gráfico I.7), enquanto o
crescimento do emprego por conta própria se desacelerou. Dentre os países nos quais houve um
aumento da participação do emprego assalariado no emprego total, destacam-se os casos da Argentina,
Brasil, Costa Rica, Equador e Panamá, enquanto no Brasil, Chile, Nicarágua e no Uruguai, se
observaram elevadas taxas de crescimento do emprego assalariado formal. No que diz respeito à
evolução setorial do emprego, embora o número de ocupados em atividades terciárias e na agricultura
tenha continuado crescendo, o traço característico de 2010 foi a recuperação do emprego na indústria
de manufaturas e na construção.
Gráfico I.7
AMÉRICA LATINA E CARIBE: TAXAS DE VARIAÇÃO INTERANUAL DO EMPREGO, SEGUNDO
CATEGORIA DE OCUPAÇÃO E RAMO DE ATIVIDADE ECONÔMICA, 2009 E 2010
(Em porcentagens)
Total
Setor agropecuário
Indústria de manufaturas
Construção
Comércio
Serviços básicos
Serviços financeiros
Outros serviços
Outros ramos de atividade
Assalariados
Serviço doméstico
Trabalhadores autônomos
Trabalhadores não remunerados
Outras categorias
Total
-4
-2
0
2009
2
4
2010 a
Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em dados oficiais dos países.
a
Dados preliminares.
24
A elasticidade do emprego assalariado em relação ao produto foi de 0,56 para a média de oito
países com informação, o que determinou que a geração de emprego fosse acompanhada por um
incremento significativo da produtividade média do trabalho (veja o quadro I.2). No caso da elasticidade
do emprego formal em relação ao produto, esta foi ainda mais elevada, alcançando para a média de 10
países um valor de 0,83.
Quadro I.2
AMÉRICA LATINA (PAÍSES SELECIONADOS): ELASTICIDADE DO EMPREGO ASSALARIADO
E DO EMPREGO ASSALARIADO FORMAL EM RELAÇÃO AO PIB, 2010
Brasil
Chile
Elasticidade do emprego assalariado
em relação ao PIB
Elasticidade do emprego assalariado
formal em relação ao PIB
0,57
0,81
…
1,17
Colômbia
0,60
1,03
Costa Rica
0,88
0,78
Equador
0,86
1,34
...
0,65
México
0,34
0,72
Panamá
0,47
0,64
Peru
0,25
0,48
República Dominicana
0,50
...
...
0,66
Guatemala
Uruguai
Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em dados oficiais dos países.
Neste começo de 2011, a região em conjunto tem mantido um elevado dinamismo na geração de
emprego e na redução do desemprego. Para a média ponderada de nove países, a taxa de ocupação continua
crescendo de maneira significativa, 0,4 pontos percentuais em comparação interanual. Ainda que seja uma
taxa inferior à alcançada no repontar ocorrido após a crise, uma vez que a taxa de participação caiu
levemente, este aumento tem um efeito marcante na taxa de desemprego que, no grupo de países para os
quais se dispõe de informação, diminuiu 0,7%. Cabe assinalar que o incremento do emprego está
relacionado com o dinamismo da geração de emprego formal. Para o total do ano prevê-se uma nova queda
da taxa de desemprego urbano regional, que poderia baixar de 7,3% para uma faixa entre 6,7 e 7,0%.
No primeiro semestre de 2011, os salários reais continuaram crescendo a taxas similares às de
2010, já que, embora seja observado um aumento da taxa de inflação causado especialmente pelas subidas
de preços dos alimentos e dos combustíveis, isto ocorre num contexto de elevada demanda laboral, taxas
de desemprego decrescentes, escassez específica de trabalhadores especializados e de incrementos da
produtividade no trabalho.
25
Requadro I.2
A EVOLUÇÃO DA PRODUTIVIDADE DO TRABALHO
Uma característica do desenvolvimento econômico da América Latina e do Caribe durante os anos oitenta e
noventa foi que a região não avançou na redução das marcadas brechas de produtividade da mão de obra em
relação a países mais desenvolvidos. No início da década de 2000 esta brecha inclusive novamente se ampliou,
tanto em comparação com os países membros da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OCDE) como com a média mundial (veja o gráfico 1). Esta situação mudou a partir de 2004, quando a
produtividade laboral média da região começou a crescer a taxas similares às do mundo em seu conjunto e
superiores às da OCDE.
Gráfico 1
AMÉRICA LATINA E CARIBE PAÍSES MIEMBROS DE LA OCDE Y MUNDO: EVOLUÇÃO
DE LA PRODUTIVIDADE DO TRABALHO
(Índice 1995=100)
140
130
120
110
100
90
80
1995
1996
1997
1998
1999
2000
América Latina e Caribe
Fonte:
2001
2002
2003
Mundo
2004
2005
2006
2007
2008
OCDE
Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em Organização Internacional do Trabalho (OIT),
Key Indicators of the Labour Market (KILM) e séries do PIB do Banco Mundial.
Independentemente das diferenças nos níveis de produtividade laboral entre os países da região, observa-se
que, embora o repontar da produtividade laboral tenha sido um fenômeno bem generalizado na região, o
desempenho é díspar. Primeiro, enquanto no início da década a maioria dos países registrou a estagnação de sua
produtividade laboral média, alguns sofreram quedas acentuadas. A partir de 2004 —em alguns casos já antes
disso— o repontar da produtividade foi generalizado, embora com diferenças em relação à sua taxa de crescimento.
O impacto da crise de 2009 na produtividade média novamente foi diferenciado e nos casos da Colômbia, México e
Venezuela (República Bolivariana da) a queda foi mais forte que em outros países. A reativação de 2010 teve um
impacto favorável —ainda que outra vez diferenciado— na produtividade. De fato, o Brasil e o Peru conseguiram
superar o nível alcançado antes da crise, enquanto em outros países a recuperação foi menor ou ainda não ocorreu.
Analisando a evolução da produtividade laboral por ramos de atividade, se observa que os dois ramos do
setor primário —agricultura, pesca, caça e silvicultura e minas e pedreiras—, que costumam registrar a menor e a
maior produtividade laboral, respectivamente, também representam os dos extremos em termos das variações
recentes. A primeira alcança um forte incremento, a segunda um marcado descenso de sua produtividade média.
No caso do setor agropecuário, continua assim uma tendência de longo prazo baseada ao mesmo tempo na
expansão de uma agricultura comercial parcialmente pouco intensiva em mão de obra e na queda da participação
econômica dos pequenos produtores com baixa produtividade laboral média no emprego. A queda da
produtividade laboral na mineração poderia ser devida em parte à incorporação de jazidas de menores
rendimentos no contexto de elevados preços de muitos minerais.
26
Requadro I.2 (continuação)
Nos demais ramos de atividade se destacam os maiores ganhos de produtividade da indústria de
manufaturas que foram interrompidos —como no caso dos outros ramos— pela crise de 2009. Dos ramos do setor
terciário destaca-se o comportamento volátil do comércio que reflete o seu papel como “empregador de última
instância” em momentos de crise, papel que cumpre devido às baixas barreiras de entrada. Em consequência, no
início da década passada —no contexto de baixo crescimento econômico—, sua produtividade laboral média cai
vertiginosamente. No período posterior de maior crescimento, a dinâmica demanda interna gera uma importante
expansão da atividade setorial, que se vê interrompida por uma nova forte contração em 2009.
Gráfico 2
AMÉRICA LATINA (7 PAÍSES): EVOLUÇÃO DA PRODUTIVIDADE LABORAL
(Índice 2000=100)
150
140
130
120
110
100
90
80
70
2000
2001
2002
2003
Brasil
México
2004
Chile
Peru
2005
2006
2007
Colômbia
Venezuela
(Rep. Bol. da)
2008
2009
2010
Costa Rica
Região
Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras oficiais.
Gráfico 3
AMÉRICA LATINA (7 PAÍSES): EVOLUÇÃO DA PRODUTIVIDADE DO TRABALHO
POR RAMO DE ATIVIDADE
(Índice 2000=100)
A. Região
B. Região sem agricultura e mineração
160
115
150
110
140
130
105
120
110
100
100
90
95
80
90
70
2000
2001
2002
2003
Agricultura
Minas e pedreiras
Manufacturas
Comércio, hotéis
e restaurantes
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
Construção
Suprimento de serviços básicos, transporte,
armazenagem e comunicações
Setor financeiro
Serviços públicos e comunitários
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
Manufaturas
Suprimento de serviços básicos, transporte,
armazenagem e comunicações
Comércio, hotéis e restaurantes
Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras oficiais.
2007
2008
2009
2010
Construção
Setor financeiro
Serviços públicos e
comunitários
27
Requadro I.2 (conclusão)
Cabe assinalar que o repontar da produtividade laboral a partir de 2004 não se expressou da mesma forma
nos salários reais do setor formal, que na maioria dos países cresceram a taxas inferiores a da produtividade. Isto
teria incidido numa piora da distribuição funcional de renda e numa redução do custo laboral unitário.
No entanto, cabe observar que em muitos países a redução dos custos do trabalho em moeda nacional foi
compensada pela apreciação cambial, que incrementou os custos do trabalho medidos em outras moedas. Entre os
países que se caracterizam por redução dos custos laborais unitários em moeda nacional, mas que viram aumentados
estes custos quando expressados em dólares destacam-se o Brasil, a Colômbia e a Costa Rica.
Gráfico 4
AMÉRICA LATINA (7 PAÍSES): EVOLUÇÃO DO QUOCIENTE ENTRE O ÍNDICE DE SALÁRIO MÉDIO
REAL DO SETOR FORMAL E O ÍNDICE DE PRODUTIVIDADE LABORAL
(Índice 2000=100)
120
110
100
90
80
70
60
2000
2001
2002
2003
Brasil
México
2004
Chile
Peru
2005
2006
2007
Colômbia
Venezuela
(Rep. Bol. da)
2008
2009
2010
Costa Rica
Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras oficiais.
Gráfico 5
AMÉRICA LATINA (7 PAÍSES): EVOLUÇÃO DO QUOCIENTE ENTRE O ÍNDICE DE SALÁRIO MÉDIO
REAL DO SETOR FORMAL E O ÍNDICE DE PRODUTIVIDADE DO TRABALHO, AJUSTADO
PELA TAXA DE CÂMBIO EM RELAÇÃO AO DÓLAR
(Índice 2000=100)
160
140
120
100
80
60
40
2000
2001
2002
2003
Brasil
México
2004
Chile
Peru
2005
2006
2007
Colômbia
Venezuela
(Rep. Bol. da)
2008
2009
2010
Costa Rica
Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras oficiais.
28
3. A inflação
Em 2010 a inflação regional (medida pelo índice de preços ao consumidor (IPC)) foi de 6,5% (média
ponderada). A Argentina, Jamaica, Trinidad e Tobago e a Venezuela (República Bolivariana da) registraram
inflações superiores a 10%, sendo este último país o que registrou a taxa mais elevada da região (27,4%). O
aumento da inflação em relação a 2009 foi generalizado, com exceção do Equador, e obedeceu, em grande
medida, ao aumento dos preços do item alimentos e bebidas em quase todos os países.
Gráfico I.8
AMÉRICA LATINA E CARIBE: TAXAS DE VARIAÇÃO EM 12 MESES DO ÍNDICE DE PREÇOS
AO CONSUMIDOR, DO ITEM ALIMENTOS E BEBIDAS E DOS DEMAIS COMPONENTES,
DEZEMBRO DE 2009-DEZEMBRO DE 2010
América Latina e Caribe
Venezuela (Rep. Bol. da)
Uruguai
Trinidad e Tobago
Suriname
Rep. Dominicana
Peru
Paraguai
Panamá
Nicarágua
México
Jamaica
Honduras
Haiti
Guatemala
El Salvador
Equador
Costa Rica
Colômbia
Chile
Brasil
Bolívia (Est. Plur. da)
Argentina
0
5
Demais componentes
10
15
20
Alimentos e bebidas
25
30
35
Índice de preços ao consumidor
Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em dados oficiais dos países.
Em 2011 a inflação tem mantido sua tendência de alta, impulsionada fundamentalmente pelas
subidas dos preços do item alimentos e bebidas, embora se aprecie também um aumento de preços
dos combustíveis e dos serviços de transporte, e em alguns casos, do suprimento de serviços
básicos domiciliares. Por outro lado, começaram a ser observados incrementos da inflação subjacente, no
29
contexto do elevado dinamismo da demanda interna. Em maio de 2011 a inflação subjacente dos últimos
12 meses alcança 5,6%, depois de haver se situado ligeiramente acima de 5% ao longo de 2010. Também
se aprecia uma alta generalizada dos preços ao produtor que, com exceção da Venezuela (República
Bolivariana da), mostram taxas de crescimento muito superiores às taxas de variação do IPC.
Gráfico I.9
AMÉRICA LATINA: TAXAS DE VARIAÇÃO EM 12 MESES DO ÍNDICE DE PREÇOS
AO CONSUMIDOR (IPC) E DA INFLAÇÃO CORRESPONDENTE, 2007-2011 a
(Em porcentagens)
14
12
10
8
6
4
2
Jan
Fev
Mar
Abr
Mai
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov
Dez
Jan
Fev
Mar
Abr
Mai
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov
Dez
Jan
Fev
Mar
Abr
Mai
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov
Dez
Jan
Fev
Mar
Abr
Mai
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov
Dez
Jan
Fev
Mar
Abr
Mai
0
2007
2008
IPC
2009
2010
2011
Inflação correspondente
Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em dados oficiais dos países.
a
Os dados de 2011 correspondem aos primeiros cinco meses.
Em termos sub-regionais, cabe destacar que os países do Caribe que dispõem de dados
apresentaram taxas de inflação relativamente elevadas, enquanto os países da América Central registram
taxas de inflação inferiores à média regional, como o México que, além disso, mostra uma desaceleração
desde fins de 2010. Para 2011 estima-se que a inflação regional rondará 7,5%.
30
Quadro I.3
AMÉRICA LATINA E CARIBE: VARIAÇÃO EM 12 MESES DO ÍNDICE DE PREÇOS AO
CONSUMIDOR (IPC), DO GRUPO DE ALIMENTOS E BEBIDAS E DOS DEMAIS
GRUPOS DE PRODUTOS, DE MAIO DE 2010 A MAIO DE 2011
(Em porcentagens)
Variações em 12 meses
(maio de 2010)
Argentina
Variações em 12 meses
(maio de 2011)
IPC
IPC dos
alimentos
IPC dos
demais
produtos
9,9
15,1
8,1
Argentina
IPC dos
alimentos
IPC dos
demais
produtos
9,7
8,0
10,7
6,9
IPC
Bolívia
(Estado Plurinacional da)
1,4
1,7
1,1
Bolívia
(Estado Plurinacional da)
11,3
16,9
Brasil
5,2
6,8
4,1
Brasil
6,6
8,2
5,4
Chile
1,5
1,7
1,2
Chile
3,3
5,3
1,8
Colômbia
2,1
1,0
2,5
Colômbia
3,0
3,6
2,8
Costa Rica
6,2
4,9
6,9
Costa Rica
4,8
6,0
4,2
Equador
3,2
4,0
2,9
Equador
4,2
6,4
3,2
El Salvador
-0,1
-2,2
1,6
El Salvador
6,7
9,9
5,2
Guatemala
3,5
1,7
4,4
Guatemala
6,4
11,0
4,2
Haiti (janeiro)
6,1
3,7
8,8
Haiti (janeiro)
3,7
4,9
2,5
Honduras (abril)
4,2
-0,4
6,4
Honduras (abril)
7,3
7,1
7,4
Jamaica
9,5
14,2
6,2
Jamaica
14,1
10,0
17,2
México
3,9
1,8
4,3
México
3,2
5,2
2,5
Nicarágua
5,4
2,2
6,6
Nicarágua
8,7
8,2
8,9
Panamá
3,2
2,7
3,4
Panamá
6,4
6,1
6,6
Paraguai
4,5
2,3
1,8
Paraguai
10,2
18,1
6,5
Peru
1,0
1,7
0,8
Peru
3,1
4,6
2,1
República Dominicana
7,9
5,8
8,7
República Dominicana
Suriname
7,4
9,2
6,0
Suriname
Trinidad e Tobago
9,6
19,4
7,4
Uruguai
7,1
6,0
6,9
Venezuela
(República Bolivariana da)
América Latina
(média simples)
32,0
6,1
44,7
6,7
26,8
5,7
8,0
7,4
8,3
20,3
20,0
20,5
Trinidad e Tobago
3,9
8,2
3,0
Uruguai
8,5
11,1
6,7
24,8
22,1
26,0
8,1
9,5
7,4
Venezuela
(República Bolivariana da)
América Latina
(média simples)
Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em dados oficiais dos países.
31
Gráfico I.10
AMÉRICA LATINA E CARIBE: TAXAS DE VARIAÇÃO DO IPC EM 12 MESES
EM MÉDIA SIMPLES, 2007-2011 a
(Em porcentagens)
25
20
15
10
5
0
Jan
Fev
Mar
Abr
Mai
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov
Dez
Jan
Fev
Mar
Abr
Mai
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov
Dez
Jan
Fev
Mar
Abr
Mai
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov
Dez
Jan
Fev
Mar
Abr
Mai
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov
Dez
Jan
Fev
Mar
Abr
Mai
-5
2007
América do Sul
América Central
2008
2009
América do Sul sem Venezuela (Rep. Bol. da)
Caribe b
2010
2011
México
América Latina
Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em dados oficiais dos países.
a
Os dados de 2011 correspondem aos primeiros cinco meses.
b
Os dados do Caribe correspondem a Jamaica, Trinidad e Tobago e Suriname.
4. As contas externas
a)
A conta corrente do balanço de pagamentos
Em 2010 a conta corrente da América Latina registrou um déficit equivalente a 1,2% do PIB
regional, superior ao déficit de 0,4% observado em 2009 (veja o gráfico I.11). Embora os resultados das
balanças de serviços e de rendas tenham se mantido estáveis, a diminuição em termos relativos da balança
de transferências unilaterais e, sobretudo, a diminuição do superávit comercial, que passou de 1,5% do
PIB em 2009 a 1,0% em 2010, provocaram a deterioração das contas externas da América Latina. O
maior crescimento das importações em relação às exportações foi provocado pelo crescimento da
demanda interna e pela apreciação cambial ocorrida na maioria dos países da região.
O aumento do déficit em conta corrente deveu-se tanto a um déficit consideravelmente maior
nos países do MERCOSUL e da América Central como a uma redução do superávit dos países
exportadores de minerais (Chile e Peru). O Caribe, pelo contrário, obteve um melhor resultado externo,
que obedece a um aumento do superávit em Trinidad e Tobago, associado ao maior preço do petróleo,
um significativo incremento do superávit no Suriname, devido à subida de preço dos metais e a uma
redução do déficit na Jamaica.
32
Gráfico I.11
AMÉRICA LATINA: ESTRUTURA DA CONTA CORRENTE, 2006-2011 a
(Em porcentagens do PIB)
4
3
2
1
0
-1
-2
-3
2006
2007
2008
2009
2010
Saldo da conta corrente
Balança comercial
Balança de serviços
Conta capital
2011
Balanço de transferências unilaterais
Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em dados oficiais dos países.
a
Não inclui dados de Cuba. Os dados de 2011 são projeções.
Para 2011 espera-se um aumento moderado do déficit em conta corrente da América Latina, que
se situará em 1,5% do PIB. A subida de preços dos principais produtos de exportação, somada à
desaceleração do ritmo de crescimento das importações, permite esperar um superávit comercial estável
de cerca de 1% do PIB regional. Contudo, um maior déficit da balança de serviços e uma diminuição do
excedente da balança de transferências unilaterais ocasionarão o incremento do déficit em conta corrente
assinalado. Esta deterioração será generalizada, com exceção dos países exportadores de hidrocarbonetos.
No Caribe, ao contrário, se projeta um maior superávit em conta corrente, associado ao aumento dos
preços internacionais dos produtos básicos e à contínua recuperação das entradas por remessas e turismo,
embora o saldo médio esconda o fato de que quase todos os países desta sub-região apresentem déficit em
suas contas externas.
i)
A balança de bens e serviços
A demanda externa de bens produzidos na região começou uma recuperação sustentada no
segundo trimestre de 2009, como pode ser observado no gráfico I.12, embora nos Estados Unidos e na
União Europeia ainda não tenha alcançado os níveis prévios à crise. Em contraste, as exportações para a
China e aos demais países da Ásia no final de 2010 superavam em 12 e 28%, respectivamente, os níveis
de meados de 2008. Estima-se que as exportações aos Estados Unidos no segundo trimestre de 2011
alcançariam o nível existente antes da crise, enquanto as dirigidas à União Europeia o fariam somente no
começo de 2012.
33
Gráfico I.12
AMÉRICA LATINA: EXPORTAÇÕES TOTAIS SEGUNDO O DESTINO, 2006-2011 a
(Em milhões de dólares)
120 000
50 000
45 000
100 000
40 000
35 000
80 000
30 000
60 000
25 000
20 000
40 000
15 000
10 000
20 000
5 000
0
0
I
II
III
IV
I
2006
União Europeia
II
III
2007
IV
I
II
III
IV
2008
Outros países da Ásia
I
II
III
IV
2009
China
I
II
III
2010
IV
I
II
III
IV
2011
Estados Unidos (eixo direito)
Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em dados oficiais dos países.
a
Não inclui dados de Cuba. Os dados de 2011 são projeções.
Com base no ritmo de crescimento da demanda externa, para a América Latina se estima para
2011 um aumento de 26,9% nas exportações, devido a um incremento de preços (16,6%) e de volume
(8,8%). Novamente serão os produtos derivados da mineração e do petróleo os que aumentarão com
maior velocidade, chegando a alcançar uma taxa de variação de 39,3%, um pouco superior à observada
em 2010. Os produtos agrícolas e agropecuários e os manufaturados, por sua vez, crescerão este ano a
taxas levemente inferiores (18,9% e 21,8%, respectivamente) (veja o quadro I.4).
O comportamento das importações em 2011 será muito similar ao das exportações: estima-se que
crescerão 27,6%, cerca de três pontos percentuais menos que em 2010. Em 2011 será mantida a tendência
à acentuada expansão das importações de combustíveis e de bens de consumo, com um crescimento
estimado de 44,2% e 29,4%, respectivamente. O maior aumento das importações em comparação com as
exportações em 2010 trouxe consigo uma diminuição de 13% no superávit da balança comercial da
América Latina, com o que o superávit rondou 50 bilhões de dólares. Em 2011, frente a taxas de
crescimento similares para exportações e importações, a balança comercial mostrará um aumento do
superávit, que estará situado em torno de 57,5 bilhões de dólares.
A expansão das exportações em 2010 em relação ao ano anterior foi maior nos países
exportadores de minerais (31,7%), no México (29,9%) e nos membros do MERCOSUL (29,8%). Nos
países exportadores de hidrocarbonetos o aumento foi de 18%; enquanto na América Central e nos países
do Caribe foram registrados incrementos de 12,3% e 11,1%, respectivamente. No México e na América
Central a expansão deveu-se principalmente ao maior volume exportado enquanto nos demais países o
principal fator foi o preço.
34
Quadro I.4
AMÉRICA LATINA: TAXAS DE VARIAÇÃO INTERANUAL DO COMÉRCIO INTERNACIONAL
SEGUNDO PRINCIPAIS GRUPOS DE PRODUTOS, 2008-2011 a
(Em porcentagens)
A. Exportações
2008
2009
2010
2011
Produtos agrícolas e agropecuários
20,5
-9,1
21,3
18,9
Mineração e petróleo
23,9
-28,7
37,3
39,3
Manufaturas
10,8
-20,6
23,1
21,8
Total de exportações
15,8
-21,9
27,0
26,9
21,3
-17,9
23,5
21,2
B. Importações
Bens de capital
Bens intermediários
16,7
-24,1
29,9
25,6
Bens de consumo
20,4
-21,1
32,3
29,5
Combustíveis
47,3
-40,9
44,8
44,2
Total de importações
21,4
-24,7
30,7
27,6
Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras oficiais.
a
Não inclui dados de Cuba. Os dados de 2011 são projeções.
Nos gráficos I.13 e I.14 mostra-se a projeção do comércio internacional por sub-região. Como se
pode observar, a recuperação tanto das exportações quanto das importações já é integral para todos os
países. A variação dos preços será a principal causa do aumento do comércio nos países exportadores de
produtos de mineração e de hidrocarbonetos e, em menor escala, no MERCOSUL. No México e nos
países da América Central, que comercializam principalmente manufaturas e estão orientados aos
mercados desenvolvidos, serão registrados menores incrementos do valor exportado, ainda que se espere
que a repartição entre volume e preço seja mais equilibrada. Dada a elevada participação das manufaturas
nas importações, o seu crescimento está fortemente associado ao de volume, enquanto o comportamento
por sub-região é mais homogêneo que o das exportações.
A recuperação do comércio regional em 2010 trouxe consigo a expansão dos serviços baseados em
transporte. Assim, o maior aumento das importações de bens em relação às exportações refletiu-se em forma
paralela na balança de serviços. Também o crescimento econômico e a apreciação cambial provocaram que
o incremento da importação de serviços por viagens superasse amplamente o das exportações; isto foi
particularmente notório no caso do Brasil. Em consequência, em 2010 o déficit da balança de serviços
cresceu 45% em relação a 2009 para a região em conjunto e situou-se em cerca de 50 bilhões de dólares.
No gráfico I.15 se observa a evolução das chegadas de turistas internacionais e se pode ver a
grande recuperação ocorrida em 2010 em todas as sub-regiões, após as quedas registradas em 2009.
Todos os países se beneficiaram do aumento da chegada de turistas, em particular, os da América do Sul,
onde o número elevou-se em 10,4%, apesar de ter sido a sub-região cujo turismo em 2009 foi menos
golpeado pela crise internacional. O México, principal destino turístico da região, em 2010 recebeu cerca
de 22 milhões de visitantes (4,4% mais que em 2009), apenas 1 milhão menos que o registrado por todos
os países de América do Sul e 2 milhões a mais do registrado no Caribe. A preocupação da região por
melhorar a acessibilidade e a infraestrutura ligada ao turismo, as melhoras em matéria de segurança para o
turista em alguns países, a intensa promoção internacional de alguns destinos e as melhores perspectivas
da economia mundial permitem prever a continuidade do crescimento deste setor. Os dados de abril de
2011 mostram esta perspectiva positiva, como observado no gráfico I.15.
35
Gráfico I.13
AMÉRICA LATINA: PROJEÇÃO DA TAXA DE VARIAÇÃO DO VALOR DAS EXPORTAÇÕES
SEGUNDO CONTRIBUIÇÃO DE VOLUME E PREÇO, 2011 a
(Em porcentagens)
América Latina
9,3
América do Sul
10,0
MERCOSUL
17,6
23,7
12,0
Chile e Peru
21,5
9,2
Bolívia (Est. Plur. da),
Colômbia, Equador e
Venezuela (Rep. Bol. da)
29,6
7,0
23,2
América Central
8,4
México
8,2
0
7,0
8,6
5
10
15
20
25
Volume
30
35
40
Preço
Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em dados oficiais dos países.
a
Não inclui dados de Cuba.
Gráfico I.14
AMÉRICA LATINA: PROJEÇÃO DA TAXA DE VARIAÇÃO DO VALOR DAS IMPORTAÇÕES
SEGUNDO CONTRIBUIÇÃO DE VOLUME E PREÇO, 2011 a
(Em porcentagens)
América Latina
10,8
16,8
América do Sul
12,9
21,6
MERCOSUL
13,5
22,7
Chile e Peru
13,0
22,1
Bolívia (Est. Plur. da),
Colômbia, Equador e
Venezuela (Rep. Bol. da)
11,5
18,4
América Central
10,5
9,2
México
7,7
12,0
0
5
10
15
20
Volume
25
30
35
40
Preço
Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em dados oficiais dos países.
a
Não inclui dados de Cuba.
36
Gráfico I.15
AMÉRICA LATINA E CARIBE: TAXA DE VARIAÇÃO INTERANUAL DAS CHEGADAS
DE TURISTAS INTERNACIONAIS, 2009-2011 a
(Em porcentagens)
América do Sul
América Central
Caribe
México
-10
-5
2009
0
5
2010
10
15
20
Janeiro-abril de 2011
Fonte:
a
ii)
Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras da Organização Mundial do
Turismo (OMT).
Os dados de 2011 correspondem aos primeiros dois meses.
Os preços internacionais e os termos de troca
Os preços dos produtos básicos de exportação mostraram incrementos significativos durante 2010
(salvo contadas exceções como o arroz e a farinha de soja). Entre os produtos agropecuários, os preços
dos alimentos aumentaram 9,9%; os das bebidas tropicais (café, chá e cacau), 25,4%, e as matérias-primas
de silvicultura e agropecuária, 41,6%. O subgrupo de óleos e sementes oleaginosas apresentou uma
dinâmica mais moderada ao crescer apenas 3,5%. Por outro lado, os preços dos minerais e metais subiram
29,3% e os dos produtos energéticos 27,9%. Os preços das manufaturas sofreram o contágio desta
tendência de alta e também subiram, particularmente a partir dos últimos meses de 2010.
Como pode ser observado no gráfico I.16, os preços dos produtos básicos recuperaram o terreno
perdido durante a crise internacional e inclusive, com exceção dos energéticos e dos óleos e sementes
oleaginosas, superaram os máximos observados em 2008. De fato, o índice de preços dos alimentos
publicado pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) alcançou seu
máximo histórico em fevereiro de 2011. Dentre as causas para estes aumentos existem fatores
relacionados tanto com a oferta como com a demanda. Alguns exemplos dos primeiros são: i) as
condições climáticas adversas, que tiveram impacto na produção de café na América Central e na
América do Sul; ii) a seca na Federação Russa, que afetou os preços do trigo e seus substitutos; iii) a crise
pós-eleitoral na Costa do Marfim, que impulsionou os preços do cacau, e iv) a instabilidade política no
37
Oriente Médio, que influiu no aumento dos preços de petróleo e seus derivados. Entre os fatores relativos
à demanda, se encontram a recuperação da economia mundial e o aumento da demanda destes bens por
parte da China, da Índia e dos demais países emergentes. Espera-se que esta tendência de alta continue
durante 2011, embora com menor intensidade que em 2010. Isto se deve, parcialmente, à moderação da
demanda devido à conclusão de uma fase de recomposição de estoques e à redução do ritmo de
crescimento mundial, e por outra parte, a uma resposta da oferta ante os maiores preços e condições
climáticas mais favoráveis. Esta mudança já começa a ser observada no menor dinamismo dos preços dos
alimentos e dos produtos agropecuários. O efeito destas tendências nos termos de troca da região foi
desigual, como mostrado no gráfico I.17. Em 2010 os países exportadores de minerais e metais (Chile e
Peru) e de hidrocarbonetos (Bolívia (Estado Plurinacional da), Colômbia, Equador e Venezuela
(República Bolivariana da)) foram os mais beneficiados pela subida de preços de suas exportações,
seguidos pelos países membros do MERCOSUL. O México, ao ser principalmente um exportador de bens
manufaturados, teve um ganho menor, enquanto os países da América Central, importadores líquidos de
alimentos e de produtos energéticos, sofreram uma deterioração dos termos de troca. Em geral, a América
Latina registrou uma melhora de 8,1% nos termos de troca em 2010.
Gráfico I.16
AMÉRICA LATINA E CARIBE: ÍNDICES DE PREÇOS DOS PRODUTOS BÁSICOS
E MANUFATURADOS, 2007-2011 a
(Índice: 2000=100, média móvel de três meses)
440
390
340
290
240
190
140
2007
2008
Alimentos
Matérias-primas de silvicultura e agropecuária
Manufaturas
Fonte:
a
2009
Bebidas tropicais
Minérios e metais
2010
Abr
Jan
Out
Jul
Abr
Jan
Out
Jul
Abr
Jan
Out
Jul
Abr
Jan
Out
Jul
Abr
Jan
90
2011
Óleos e sementes oleaginosas
Energia
Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras oficiais da Conferência das Nações
Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) e de Netherlands Bureau for Economic Analysis (CPB).
A ponderação dos grupos de produtos básicos foi calculada segundo a participação nas exportações da América Latina.
38
Gráfico I.17
AMÉRICA LATINA: VARIAÇÃO DOS TERMOS DE TROCA, 2009-2011 a
(Em porcentagens)
25
20
15
10
5
0
-5
-10
-15
-20
-25
América Latina
MERCOSUL
Chile e Peru
2009
Bolívia (Est. Plur. da),
Colômbia, Equador
e Venezuela
(Rep. Bol. da)
2010
América Central
México
2011
Fonte:
a
Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras oficiais da Conferência das
Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD); Fundo Monetário Internacional (FMI); Banco
Mundial e Bloomberg.
Não inclui dados de Cuba. Dados preliminares para 2009 e 2010 e projeções para 2011.
No curto prazo, esta tendência dos termos de troca da região será mantida, embora geralmente a
taxas más moderadas que em 2010. Os subgrupos de países que apresentarão um maior aumento serão
outra vez os exportadores de minerais e de hidrocarbonetos; isto repercutirá em sentido inverso na
América Central, sub-região que sofrerá uma nova perda em seus termos de troca. Para a região da
América Latina e do Caribe se projeta uma variação positiva de 6,2% em 2011.
iii)
Os balanços de serviços de capital e de transferências unilaterais
Apesar de que o déficit do balanço de serviços de capital da América Latina tenha aumentado de
98.100 milhões de dólares em 2009 para 114.600 milhões em 2010, o seu tamanho relativo diminuiu
levemente (ao passar de -2,5% do PIB em 2009 para -2,4% em 2010) devido ao crescimento econômico
observado na região. O aumento absoluto do saldo negativo obedece principalmente às maiores saídas de
lucros e dividendos, ante a subida dos preços internacionais dos produtos básicos, e ao maior pagamento
de juros11. Em 2011 espera-se a manutenção da tendência de aumento do déficit deste balanço em termos
absolutos, devido às contínuas subidas dos preços dos produtos básicos de exportação da região e ao
dinamismo econômico, embora em termos relativos se projete um déficit estável em torno a 2,4% do
PIB regional.
11
Cabe destacar que 90% do aumento do déficit estiveram concentrando em apenas quatro países: Brasil, Chile,
Colômbia e Peru; os demais países apresentaram mudanças negativas menores e inclusive melhoras na balança
de serviços de capital.
39
Depois de uma queda significativa em 2009, a tendência das remessas dos trabalhadores
emigrados começou a mudar a partir do início de 2010, como pode ser observado no gráfico I.18. Com
exceção da Colômbia, Equador e da República Dominicana, todos os países que aparecem no gráfico
terminaram o ano com uma taxa de variação positiva. Estes crescimentos, contudo, foram moderados e os
níveis das entradas de remessas familiares estão longe de alcançar os máximos observados antes da crise.
A principal causa é a lenta recuperação dos mercados de trabalho nos países desenvolvidos,
particularmente nos Estados Unidos e na Espanha, principais receptores dos migrantes latino-americanos
e caribenhos. A evolução esperada no mercado de trabalho destes países permite projetar uma taxa de
crescimento moderada durante 2011.
Gráfico I.18
AMÉRICA LATINA E CARIBE (9 PAÍSES): VARIAÇÃO TRIMESTRAL INTERANUAL
DAS REMESSAS DE TRABALHADORES EMIGRADOS, 2009-2011 a
(Em porcentagens)
15
10
5
0
-5
- 10
- 15
- 20
- 25
- 30
I
II
III
IV
I
2009
II
III
IV
2010
Colômbia
Guatemala
Equador
El Salvador
Jamaica
México
Rep. Dominicana
Nicarágua
I
2011
Honduras
Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras oficiais.
a
Os dados de 2011 correspondem ao primeiro trimestre.
Além da evolução das remessas descrita anteriormente, o balanço de transferências unilaterais da
América Latina registrou um aumento de 80% e 118% no crédito de transferências para o Haiti e o Chile,
respectivamente, associado a entradas de doações e de ajuda oficial recebidas depois dos sismos que
afetaram ambos os países12. O superávit do balanço de transferências se reduziu de 1,5% do PIB em 2009
a 1,2% em 2010, apesar da melhora observada em valores absolutos. Para 2011 se estima um superávit
equivalente a 1,0% do PIB regional.
12
Além disso, observou-se uma diminuição de 58% no crédito por transferências unilaterais na Argentina,
ocasionada pelo registro dos direitos especiais de saque por parte do FMI, no terceiro trimestre de 2009, como
transferência corrente, fato que não se repetiu em 2010.
40
b)
A conta capital e financeira
Durante 2010, as condições financeiras externas caracterizadas por uma elevada liquidez global e
pelo aumento, significativo em alguns casos, dos influxos líquidos de investimento na região
determinaram novamente um saldo global positivo do balanço de pagamentos, com a consequente
acumulação de reservas internacionais, que alcançaram um nível equivalente a 16% do PIB regional.
Não obstante, esta situação tende a dissimular um panorama relativamente heterogêneo. Como
pode ser apreciado no gráfico I.19, desde 2007 a América do Sul e o México têm experimentado um
acentuado aumento dos influxos líquidos de IED e dos investimentos em carteira, com exceção do ano
2008, ano do estalo da crise financeira global. Além disso, no transcurso de 2010 o investimento líquido
em carteira chegou a 109.157 milhões de dólares, superando pela primeira vez e amplamente o IED
líquido, que alcançou 59.995 milhões de dólares. No gráfico também se aprecia o papel do aumento de
reservas como fator de absorção de liquidez externa, o que obedece aos objetivos em matéria cambial de
vários países desta sub-região.
Gráfico I.19
AMÉRICA DO SUL E MÉXICO: SALDO DA CONTA CORRENTE E
COMPOSIÇÃO DO FINANCIAMENTO EXTERNO, 2000-2010
(Em porcentagens do PIB)
5
5
4
4
3
3
2
2
1
1
0
0
-1
-1
-2
-2
-3
-3
-4
-4
-5
-5
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
Investimento direto líquido
Investimento em carteira líquido
Passivos líquidos de outros investimentos
Erros e omissões
Ativos de reserva
Saldo em conta corrente
Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras oficiais.
Em contraste, no caso dos países da América Central, incluindo o Haiti e a República
Dominicana, a situação é muito diferente. O IED líquido é o principal componente dos influxos positivos
na conta financeira, enquanto o investimento em carteira não é significativo. O segundo componente em
importância são os passivos líquidos de outros investimentos, que apresentam os efeitos dos influxos
transfronteiriços, sobretudo de depósitos, créditos bancários e dívida bancária. Estes fluxos foram os que
mostraram um incremento significativo em 2010, para financiar, junto com o IED líquido relativamente
estável, o aumento do déficit em conta corrente durante o ano.
41
Gráfico I.20
AMÉRICA CENTRAL, HAITI E REPÚBLICA DOMINICANA: SALDO EM CONTA
CORRENTE E COMPOSIÇÃO DO FINANCIAMENTO EXTERNO, 2000-2010
(Em porcentagens do PIB)
10
10
8
8
6
6
4
4
2
2
0
0
-2
-2
-4
-4
-6
-6
-8
-8
-10
-10
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
Investimento direto líquido
Investimento em carteira líquido
Passivos líquidos de outros investimentos
Erros e omissões
Ativos de reserva
Saldo em conta corrente
Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras oficiais.
Este fato se destaca ainda mais no caso dos países do Caribe, onde o IED líquido é praticamente
o único componente positivo da conta financeira, enquanto os fluxos, principalmente os de caráter
bancário, representados pelos passivos líquidos de outros investimentos, mostram um comportamento
muitas vezes negativo.
Em suma, o IED líquido continua em sua tendência de longo prazo, com incrementos sustentados
que não foram especialmente afetados pela crise financeira de 2008. Nos últimos anos e especialmente em
2010, o investimento em carteira tem constituído um componente crescente da conta financeira da
América Latina e do Caribe, fenômeno vinculado ao significativo incremento da liquidez mundial,
resultante da reação dos governos dos países desenvolvidos para enfrentar a crise financeira global e do
menor risco relativo existente na região, especialmente no Brasil, Colômbia, México e Peru. Estes países
exibem os maiores influxos líquidos de IED, investimento em carteira e de outros passivos de
investimento, o que contribui para explicar sua elevada acumulação de reservas, assim como os esforços
empreendidos na maioria deles para evitar a apreciação das moedas. O Chile se distingue entre os países
receptores de IED, porque nesse período o seu investimento líquido em ações é negativo, fato associado à
diversificação de seus fundos de pensões a aplicações no exterior e à acumulação no estrangeiro dos
recursos de seus fundos soberanos, graças ao alto preço do cobre.
42
Gráfico I.21
CARIBE: SALDO DA CONTA CORRENTE E COMPOSIÇÃO
DO FINANCIAMENTO EXTERNO, 2000-2010 a
(Em porcentagens do PIB)
15
15
10
10
5
5
0
0
-5
-5
-10
-10
-15
-15
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
Investimento direto líquido
Investimento em carteira líquido
Passivos líquidos de outros investimentos
Erros e omissões
Ativos de reserva
Saldo em conta corrente
Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras oficiais.
a
Incluem dados dos seguintes países: Antígua e Barbuda, Bahamas, Barbados, Belize, Dominica, Granada, Guiana, Jamaica,
São Cristóvão e Névis, Santa Lúcia, São Vicente e Granadinas, Suriname e Trinidad e Tobago.
A região continua tendo acesso aos mercados de capitais internacionais e mostra níveis de risco
que, embora superem os anteriores à crise financeira global, são substancialmente inferiores aos de outras
regiões. Como destacado no gráfico I.22, as emissões de bônus externos por parte de entidades privadas,
especialmente bancos, têm apresentado continuidade em frequência e em volume tanto em 2010 como no
decorrer de 2011, tendência inversa à apresentada pelas emissões soberanas. O último se relaciona com o
processo de redução do endividamento público externo que a região vem apresentando há anos.
A região continua apresentando uma sólida situação financeira externa, que se expressa na
continuidade dos fluxos financeiros recebidos, no acesso aos mercados financeiros e nos níveis
historicamente altos de reservas internacionais. Não obstante, persistem situações que devem ser
analisadas com cuidado. Como se aprecia no gráfico I.23, o peso da dívida externa como porcentagem do
PIB na América do Sul e no México reduziu-se drasticamente como resultado dos processos de
crescimento e dos superávits fiscais e externos ocorridos durante os anos anteriores à crise financeira
global. No caso da América Central, a diminuição do endividamento como proporção do PIB, embora
acentuada, é menos intensa, o que está vinculado, por um lado, aos programas de redução de dívida
(como a Iniciativa para a redução da dívida dos países pobres muito endividados (PPME)) e, por outro, às
condições financeiras mais difíceis e a um ritmo de crescimento mais lento. Em contraste, nos países do
Caribe (neste caso sem incluir Trinidad e Tobago) observa-se o repontar do nível relativo de
endividamento externo a partir da crise financeira global. Isto reflete também a deterioração das
condições financeiras que esta sub-região tem enfrentado desde então e que se expressa em menores
influxos líquidos de IED e reduzidos saldos em conta corrente (veja o gráfico I.21).
43
Gráfico I.22
AMÉRICA LATINA: EMISSÕES DE BÔNUS EXTERNOS E RISCO-PAÍS, 2004-2011 a
(Em milhões de dólares e pontos básicos)
900
25 000
800
20 000
700
15 000
500
400
10 000
Milhões de dólares
Pontos básicos
600
300
200
5 000
Dívida quase soberana
(eixo direito)
2008
Dívida soberana
(eixo direito)
2009
Dívida privada
(eixo direito)
2010
2011
Abr
Jan
Jul
Out
Abr
Jan
Jul
Out
Abr
Jan
Jul
Out
2007
Jul
2006
Abr
Jan
Jul
Out
Abr
Jan
Jul
Out
2005
Out
Jan
Abr
2004
Abr
Jan
Jul
Out
Abr
0
Jan
100
0
EMBI da América Latina
(eixo esquerdo)
Fonte:
a
Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras de Latin Finance Bonds
Database, JP Morgan e Merryl Lynch.
Não inclui dados de Cuba. Os dados de 2011 correspondem aos primeiros quatro meses.
Gráfico I.23
AMÉRICA LATINA E CARIBE: EVOLUÇÃO DA DÍVIDA EXTERNA BRUTA, 2000-2010 a
(Em porcentagens do PIB)
60
50
40
30
20
10
0
2000
2001
2002
2003
2004
2005
América Central, Haiti e Rep. Dominicana
América do Sul (10 países e México)
2006
2007
2008
2009
2010
Caribe (sem incluir Trinidad e Tobago)
Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras oficiais.
a
Não inclui dados de Cuba.
44
Quadro I.5
AMÉRICA LATINA (19 PAÍSES): FLUXOS FINANCEIROS EXTERNOS, 2007-2010
(Em milhões de dólares)
Venezuela (República Bolivariana da)
Haiti
Paraguai
Equador
Bolívia (Estado Plurinacional da)
Nicarágua
Guatemala
El Salvador
Honduras
Uruguai
Costa Rica
Panamá
República Dominicana
Colômbia
Argentina
Peru
Chile
México
Brasil
América Latina (19 países)
Investimento
estrangeiro
direto líquido
-8 679
142
1 097
1 683
1 946
1 950
2 694
2 723
3 255
5 950
6 449
8 230
8 329
20 784
21 850
23 904
28 234
59 266
125 071
314 877
Investimento
líquido em
carteira
17 729
0
0
-3 778
-301
0
-229
651
-8
-696
488
-1 556
649
-18
4 651
6 690
-42 921
69 925
162 817
214 145
Passivos líquidos
de outros
investimentos
-88 407
-178
1 617
44
-1 278
777
2 144
-1 278
-202
-6
841
1 214
4 448
14 179
-38 000
2 323
5 749
-27 016
-2 547
-125 576
Total
-79 357
-35
2 714
-2 051
366
2 727
4 609
2 096
3 045
5 248
7 778
7 889
13 426
34 945
-11 498
32 918
-8 939
102 225
285 342
403 446
Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras oficiais.
D. AS POLÍTICAS MACROECONÔMICAS
1. A política monetária e a cambial
As condições financeiras internacionais e o comportamento dos preços dos produtos básicos, em especial
dos alimentos e da energia, começaram a complicar a gestão da política monetária e cambial da América
Latina e do Caribe a partir da segunda metade de 2010. Por um lado, as maiores pressões inflacionárias e
o crescimento da demanda agregada interna têm provocado que em alguns países fossem tomadas
medidas para tentar restringir as condições monetárias e creditícias estabelecidas inicialmente para paliar
os efeitos da crise, que prevalecem na maioria dos casos. Por outro lado, a elevada liquidez que
caracteriza os mercados financeiros internacionais e a consequente entrada de capitais na região tem
propiciado um fortalecimento das moedas locais e uma deterioração da competitividade dos setores
produtores de bens transáveis.
Deste modo, os responsáveis pela política monetária e cambial da região se enfrentam à
necessidade de garantir a estabilidade dos preços, mas, por outro lado, tentar evitar que a apreciação
cambial introduza um forte viés no processo de alocação de recursos a favor da produção de bens não
transáveis, o que dificultaria a diversificação do setor de manufaturas da região. A resolução deste dilema
está relacionado com a administração da taxa de juros, a intervenção no mercado cambial —em geral
combinada com operações de mercado aberto que procuram esterilizar o efeito monetário da compra de
divisas— e o uso de instrumentos (fiscais, cambiais, monetários e financeiros) até pouco tempo atrás
45
considerados pouco convencionais, para tratar de restringir ou desestimular a entrada de capitais. Apesar
das mudanças registradas nas taxas de política, a linha de ação da política monetária durante 2010 e no
primeiro semestre de 2011 pode ser caracterizada como expansiva. O nível das taxas de juros de
referência e o crescimento dos principais agregados monetários continuam propiciando um importante
aumento do crédito na região, estimulando o crescimento da demanda interna agregada. No entanto, como
mencionado anteriormente, desde meados de 2010 alguns bancos centrais da região incrementaram a taxa
de referência da política monetária, em resposta ao surgimento de pressões inflacionárias, em particular
de origem externa, relacionadas com a subida dos preços dos alimentos e da energia nos mercados
internacionais. No gráfico I.24.A mostra-se o incremento das taxas de referência efetuado por oito bancos
centrais da região desde meados de 2010. No gráfico também fica evidente que, apesar dos aumentos, os
níveis alcançados pelas taxas de política nestes países distam dos registrados em 2008. Por outro lado, no
gráfico I.24.B pode-se observar que seis bancos centrais da região mantiveram suas taxas em níveis
baixos, similares aos estabelecidos durante a crise, e que outros quatro continuaram reduzindo as taxas de
referência durante 2010 e no transcurso de 2011 (veja o gráfico I.24.C).
Gráfico I.24
AMÉRICA LATINA E CARIBE (PAÍSES SELECIONADOS): TAXAS DE POLÍTICA
MONETÁRIA, 2008-2011
(Em porcentagens)
A. Aumentos de taxas
16
14
12
10
8
6
4
2
2008
2009
Brasil
Chile
2010
Colômbia
Paraguai
Peru
Uruguai
Jan
Mar
Nov
Set
Jul
Mai
Mar
Jan
Nov
Set
Jul
Mai
Mar
Jan
Nov
Set
Jul
Mai
Mar
Jan
0
2011
46
Gráfico I.24 (conclusão)
B. Taxas estáveis
16
14
12
10
8
6
4
2
2008
2009
Argentina
México
2010
Bolívia (Est. Plur. da)
Venezuela (Rep. Bol. da)
Mar
Ene
Nov
Sep
Jul
Mai
Mar
Jan
Nov
Sep
Jul
Mai
Mar
Jan
Nov
Sep
Jul
Mai
Mar
Jan
0
2011
Dominica
Honduras
C. Taxas em queda
18
16
14
12
10
8
6
4
2
2008
Costa Rica
2009
Guiana
2010
Jamaica
Trinidad e Tobago
Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras oficiais.
Jan
Mar
Nov
Set
Jul
Mai
Mar
Jan
Nov
Set
Jul
Mai
Mar
Jan
Nov
Set
Jul
Mai
Mar
Jan
0
2011
47
Em geral, o manejo das taxas de juros de referência por parte dos bancos centrais da América
Latina e do Caribe tem se traduzido em pequenas modificações das taxas de juros ativas nominais e,
dados os níveis de inflação esperados, tem significado reduções das taxas de juros ativas em termos reais.
A dinâmica dos principais agregados, por sua vez, reflete o caráter expansivo da política monetária e os
esforços recentes para moderar seus efeitos sobre a demanda agregada. Deste modo, em um grande
número de países da região a base monetária expressada em termos reais experimentou um crescimento
positivo durante 2010, embora em muitos casos esse crescimento tenha significado uma desaceleração em
relação ao aumento registrado em 2009. No caso do M1 e do M2, a evolução é similar à da base
monetária. No período já transcorrido de 2011, os agregados monetários continuam crescendo, mas a
taxas menores que as exibidas em 201013.
Gráfico I.25
AMÉRICA LATINA E CARIBE (PAÍSES SELECIONADOS): EVOLUÇÃO DE
ALGUNS AGREGADOS MONETÁRIOS, 2008-2010
(Em porcentagens)
A. Variação da base monetária em termos reais
Barbados
Panamá
Jamaica
Paraguai
Trinidad e Tobago
Rep. Dominicana
Venezuela (Rep. Bol. da)
El Salvador
Guatemala
Bolívia (Est. Plur. da)
Costa Rica
Mediana
Suriname
Equador
México
Média
Honduras
Nicarágua
Colômbia
Chile
Brasil
Argentina
Antígua e Barbuda
Peru
-0,2
13
-0,1
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
Apenas em 6 casos registrou-se diminuição da base monetária em termos reais, enquanto em 6 de outros 16
países que registraram crescimento, a taxa mostrou uma desaceleração. Dos 21 países que dispõem de
informação para o ano 2010 sobre o M1 em termos reais, só em 2 economias o agregado se contraiu em relação
ao nível alcançado em 2009, enquanto o crescimento se desacelerou em 7 países. No que se refere ao M2 real,
dos 20 países que dispõem de dados, apenas em 2 deles o agregado se reduziu, enquanto a desaceleração do
crescimento se evidenciou em 6 países.
48
Gráfico I.25 (conclusão)
B. Variação do agregado monetário M1 em termos reais
Barbados
Jamaica
Rep. Dominicana
Guatemala
Suriname
Brasil
Paraguai
Honduras
Guiana
Venezuela (Rep. Bol. da)
Média
Mediana
México
Equador
Colômbia
Costa Rica
Chile
Nicarágua
El Salvador
Argentina
Uruguai
Bolívia (Est. Plur. da)
Peru
-0,15
-0,1
-0,05
0
0,05
De dezembro de 2008 a dezembro de 2009
0,1
0,15
0,2
0,25
0,3
De dezembro de 2009 a dezembro de 2010
Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras oficiais.
O crédito evidenciou um importante crescimento durante 2010 em termos reais. Dos 13 países
que dispõem de informação, a evolução desta variável foi positiva e se acelerou em 9 países, caindo
apenas em 4 casos (veja o gráfico I.26). Esta dinâmica reflete em parte as medidas tomadas pelo sistema
bancário público para estimular o crédito e paliar os efeitos da crise nas economias da região, e o trabalho
das autoridades monetárias para promover condições apropriadas de liquidez a fim de estimular a
demanda agregada. O crédito de origem pública cresceu desde meados de 2008, quando as consequências
da crise começaram a ser palpáveis na região, em especial, na dinâmica do crédito outorgado por
instituições financeiras privadas, que registrou uma contração em 2009. Quanto ao destino do crédito, o
crescimento registrado em 2010 foi bem generalizado e incluiu os setores industriais e comerciais, assim
como as operações com garantia hipotecária e o consumo em geral. No primeiro trimestre de 2011, o
crédito seguiu mostrando um crescimento vigoroso, em especial no que diz respeito aos empréstimos
orientados ao consumo, que aumentou sua participação no crédito total.
Por outro lado, como assinalado anteriormente, a abundante liquidez internacional e suas
repercussões nos mercados monetários da região desencadearam pressões à apreciação das moedas e,
para tentar atenuar esta tendência, em alguns países se adotaram medidas com vista a restringir a
mobilidade dos capitais. Estas medidas têm sido acompanhadas por outras, como acumulação de
reservas internacionais por parte dos bancos centrais, pagamento antecipado da dívida externa por parte
do fisco e aumento das facilidades para que os agentes financeiros e não financeiros nacionais (como,
por exemplo, agências de fundos de pensões, empresas públicas e outras) mantenham parte de seus
ativos externos no exterior.
49
Gráfico I.26
AMÉRICA LATINA (PAÍSES SELECIONADOS): EVOLUÇÃO DO CRÉDITO
TOTAL EM TERMOS REAIS, 2008-2010
(Em porcentagens de variação)
El Salvador
Costa Rica
Venezuela (Rep. Bol. da)
Guatemala
México
Chile
Uruguai
Brasil
Colômbia
Peru
Argentina
Equador
Paraguai
-20
-15
-10
-5
0
2008-2009
5
10
15
20
25
30
35
2009-2010
Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras oficiais.
Desta forma, durante 2010 todos os países não dolarizados da América Latina e do Caribe, exceto
o Uruguai e a Venezuela (República Bolivariana da), acumularam reservas internacionais que, na maioria
dos casos, alcançaram no final de 2010 uma porcentagem do PIB superior inclusive à registrada em 2007,
antes da crise financeira internacional. Nos primeiros meses de 2011, os bancos centrais da região
continuaram acumulando reservas e, em alguns países, se acentuaram as medidas de intervenção no
mercado cambial, destacando-se o caso do Brasil. Ante a forte apreciação nominal do real e em paralelo
com várias medidas destinadas a restringir a entrada de capitais, o Banco Central do Brasil adquiriu
31.700 milhões de dólares de reservas nos quatro primeiros meses do ano, 273% a mais que no mesmo
período de 2010. Outros países que intervieram ativamente no mercado cambial durante os primeiros
meses de 2011 foram a Argentina, Chile, Colômbia e a Costa Rica. O Peru, à diferença do sucedido em
grande parte de 2010, em março e abril diminuiu suas reservas em 1.000 milhões de dólares devido à
volatilidade gerada pelo processo eleitoral na taxa de câmbio nominal.
Apesar dos esforços realizados, 11 países da região registraram apreciações nominais em 2010 e
nos primeiros meses de 2011, entre os que se destacam os casos do Brasil, Colômbia, Uruguai e, em
menor medida, do Chile, Costa Rica, México e Peru. Como resultado da evolução da taxa de câmbio
nominal e no contexto de aumento das pressões inflacionárias, a taxa de câmbio real efetiva extrarregional
da América Latina e Caribe caiu 3,5% entre 2009 e 2010. A queda da taxa de câmbio real foi
generalizada. Na América do Sul, nesse período registrou-se uma diminuição de 2,6% em média, que se
eleva a 7% ao não incluir a Venezuela (República Bolivariana da) no cálculo, enquanto na América
Central, México e no Caribe a diminuição foi de 4,5%. Durante os quatro primeiros meses de 2011, a taxa
50
de câmbio efetiva extrarregional média da América Latina e Caribe quase não se modificou em relação ao
valor registrado em dezembro de 2010. A média da América do Sul diminuiu 1,4%, enquanto a da
América Central, México e do Caribe aumentou 1% nesse período.
Gráfico I.27
AMÉRICA LATINA E CARIBE (PAÍSES SELECIONADOS): VARIAÇÃO DA TAXA
DE CÂMBIO REAL EFETIVA, MAIO DE 2011 EM COMPARAÇÃO
COM O PERÍODO 1990-2009
(Em porcentagens)
Venezuela (Rep. Bol. da)
Brasil
Colômbia
Guatemala
Paraguai
Honduras
Uruguai
Jamaica
Costa Rica
Trinidad e Tobago
Chile
Equador
El Salvador
México
Bolívia (Est. Plur. da)
Rep. Dominicana
Peru
Panamá
Nicarágua
Argentina
-40
-30
-20
-10
0
10
20
30
40
50
Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras oficiais.
Em abril de 2011 a taxa de câmbio real efetiva total se encontrava mais de 20% abaixo
(apreciação) da registrada durante os últimos 20 anos no Brasil, Colômbia, Guatemala, Paraguai, Trinidad
e Tobago e Venezuela (República Bolivariana da), e era mais de 10% inferior a essa média de longo
prazo na Costa Rica, Honduras, Jamaica e no Uruguai. No caso da Venezuela (República Bolivariana da),
a elevada inflação que o país continua experimentando tem compensado parcialmente as desvalorizações
implícitas de janeiro de 2010 e janeiro de 2011.
2. A política fiscal
Após o ativismo fiscal que os países da região adotaram em 2009, o ano de 2010 tem se caracterizado
por duas tendências que deram forma aos resultados. Por um lado, registrou-se um aumento dos
recursos, determinado principalmente pelo crescimento do nível de atividade e, no caso dos países
especializados em produção e exportação de bens com uso intensivo de recursos naturais, pelo efeito da
recuperação dos preços dos produtos básicos. Pelo lado dos gastos, observou-se alguma preocupação
por moderar o impulso que as políticas públicas exercem na demanda, embora com bastante
51
heterogeneidade em nível de países. Esta evolução está permitindo melhorar os resultados fiscais em
média, pelo que se estima que para 2011 a região volte a ter um resultado primário próximo ao
equilíbrio (-0,1% do PIB).
Além desta recuperação das contas públicas no último ano, deve-se enfatizar que o espaço de
política fiscal resultante da combinação das receitas, dos gastos e da dívida pública viu-se
significativamente reduzido durante a crise, como pode ser observado no gráfico I.28. Enquanto no
período 2003-2007 houve um grande aumento do espaço fiscal, derivado principalmente do incremento
das receitas e da redução da dívida, durante a crise, a expansão dos gastos e a diminuição das receitas
definiram uma contração deste espaço, que não foi revertida em 2010.
Gráfico I.28
AMÉRICA LATINA E CARIBE (19 PAÍSES): VARIAÇÃO DO ESPAÇO FISCAL
(RECEITA, GASTO E DÍVIDA DO GOVERNO CENTRAL),
2003-2007 E 2007-2010 a
Receita total (+)
Receita total (+)
Dívida (-)
Gasto total (-)
2003
2007
Dívida (-)
Gasto total (-)
2007
2010
Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras oficiais.
a
Os triângulos representam o espaço fiscal em forma diretamente proporcional às receitas disponíveis e inversamente
proporcional aos níveis de gasto e dívida.
No que se refere à evolução das contas públicas em 2010, em nível de governos centrais, o
desempenho fiscal da América Latina alcançou um déficit primário de 0,4% do PIB em média simples,
em comparação com um déficit de 1,1% para 2009 e ao considerar o resultado global (isto é, incluindo o
pagamento dos juros da dívida pública) se passa de um déficit de 2,9% a um de 2,0% do PIB. Em 2010,
50% dos países da América Latina analisados registraram superávit primário, enquanto 15 países (quase
80% do total) o haviam alcançado no período 2003-2008.
52
Gráfico I.29
AMÉRICA LATINA E CARIBE: EVOLUÇÃO DAS CONTAS PÚBLICAS, 2000-2010
(Em porcentagens do PIB)
25
4
20
3
15
2
1
5
0
0
-5
-1
Resultado primário
Receita e gastos
10
-10
-2
-15
-3
-20
-4
-25
2000
2001
Receita tributária
2002
2003
2004
Gasto de capital
2005
2006
Gasto corrente
2007
2008
2009
Outras receitas
2010 a
2011 b
Resultado primário
Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras oficiais.
a
Estimativa.
b
Projeção.
O desempenho médio das contas públicas na América Latina é o resultado de comportamentos
diferenciados nos países da região (veja o gráfico I.30). Como anteriormente assinalado, os países da
América do Sul (que cresceram mais que a média da região e que geralmente são exportadores de
produtos básicos) registraram um importante aumento das receitas tributarias (com exceção da Bolívia
(Estado Plurinacional da), Uruguai, e especialmente da Venezuela (República Bolivariana da)), que
causou grande parte da melhora das contas públicas. Na maioria dos casos, o incremento das receitas foi
acompanhado da diminuição do gasto corrente como porcentagem do PIB. As exceções a este
comportamento são a Argentina e a Venezuela (República Bolivariana da). No México e na América
Central, no entanto, a evolução das receitas fiscais é muito menos dinâmica e, em consequência disso, na
metade dos casos (Costa Rica, Guatemala, México e Panamá) se observa uma deterioração das contas
públicas, enquanto a outra metade registra melhoras (Cuba, El Salvador, Honduras, Nicarágua e
República Dominicana), embora de menor magnitude que as observadas na América do Sul e devidas
basicamente à redução dos gastos.
A recuperação econômica de 2010 permitiu que a região chegasse a uma arrecadação tributária
média de 14,9% do PIB, porém ainda inferior ao máximo histórico de 15,1% alcançado em 2007.
A metade dos países já pôde retornar aos níveis de arrecadação prévios à crise de 2008 e 2009, embora
existam claras diferenças da evolução que as receitas tributárias tiveram no período 2007-2010.
53
Gráfico I.30
AMÉRICA LATINA (19 PAÍSES): CONTRIBUIÇÃO DAS VARIAÇÕES DA RECEITA E DOS
GASTOS À VARIAÇÃO DO RESULTADO GLOBAL, 2009-2010 a
(Em porcentagens do PIB)
5
4
3
2
1
0
-1
-2
-3
Contribuição da variação do gasto total
Contribuição da variação do gasto de capital
Contribuição da variação da receita proveniente
de produtos básicos d
Chile
a
Honduras
Brasil
a
Cuba
Equador
a
Venezuela (Rep. Bol. da)
Peru
a
Paraguai
Nicarágua
Bolivia (Est. Plur. da) C
Rep. Dominicana b
El Salvador
Haiti
Argentina
Uruguai
Colômbia
Guatemala
México
Panamá
Costa Rica
-4
Contribuição da variação de outras receitas
Contribuição da variação do gasto corrente
Contribuição da variação da receita tributária
Variação do resultado fiscal
Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras oficiais.
a
O gasto total não inclui a concessão líquida de empréstimos.
b
O resultado global inclui a discrepância estatística.
c
Governo geral.
d
Considera tanto a receita tributária como a não tributária provenientes da exploração de produtos básicos.
Ao revisar a evolução trimestral dos recursos tributários de alguns países da região entre 2009 e
2011, observa-se que a partir do quarto trimestre de 2009 houve uma recuperação generalizada que se
torna mais forte nos três primeiros trimestres de 2010 e se desacelera a partir do quarto trimestre de 2010,
com exceção da Argentina e da Colômbia.
Durante 2010, o gasto fiscal se reduziu quase meio ponto do PIB, em um contexto onde 13 dos
20 países analisados diminuíram seus gastos. Quase todos os países da região reduziram seus gastos
correntes e aumentaram seus gastos de capital. A média regional mostra em gastos correntes uma redução
de 0,5 pontos do PIB e um incremento dos gastos de capital de quase 0,2 pontos do PIB. O gasto primário
corrente caiu aproximadamente 0,3 pontos do PIB.
4,8
1,7
0,1
1,4
2,1
4,5
República Dominicana
Uruguai
Venezuela
(República Bolivariana da)
3,1
-1,9
3,6
1,8
3,4
Peru
3,4
0,0
-0,2
-1,9
-1,0
-0,3
1,8
0,3
-5,5
2,4
0,6
Paraguai
1,9
4,6
Panamá
-0,5
México
Nicarágua
-2,4
Honduras
2,3
El Salvador
0,0
1,9
Equador
-1,3
-1,8
Cuba
Haiti
3,7
Costa Rica
Guatemala
8,8
0,8
Colômbia
0,8
2,4
3,5
2,2
Chile
2,8
2,7
Argentina
Bolívia
(Estado Plurinacional da) d
Brasil
2,0
1,4
Caribe c
1,3
1,2
1,8
2,2
2008
América Latina e
Caribe c
América Latina c
2007
-3,7
1,3
-1,6
-0,4
0,7
1,4
-0,9
-0,5
-5,5
-0,8
-1,7
-1,2
-4,2
-3,8
-1,3
-1,1
-4,0
0,4
1,3
1,4
-0,6
-1,0
-1,1
2009
Resultado primário
-2,4
1,2
-0,6
1,1
1,8
0,1
0,5
-1,2
-3,8
-0,1
-1,8
-0,4
-2,1
-2,1
-3,1
-1,1
0,1
1,4
2,2
1,5
…
…
-0,4
2010
3,0
-1,6
0,1
1,8
1,0
1,2
0,4
-1,9
-3,1
-1,6
-1,4
-0,2
-0,1
-3,2
0,6
-2,7
8,2
2,3
-1,9
0,6
-2,0
-0,8
0,2
2007
-1,2
-1,1
-3,5
2,2
2,5
0,3
-1,2
-1,6
-2,5
-1,3
-1,6
-0,6
-1,1
-6,9
0,2
-2,3
4,3
0,0
-1,2
0,7
-2,1
-1,3
-0,5
2008
-5,1
-1,5
-3,5
-1,7
0,1
-1,5
-2,3
-2,2
-6,2
-1,3
-3,1
-3,7
-5,1
-4,8
-3,4
-4,1
-4,5
-1,1
-3,5
-0,8
-4,0
-3,4
-2,9
2009
Resultado global
-3,7
-1,1
-2,5
0,0
1,4
-2,7
-1,0
-2,7
-4,8
-0,6
-3,3
-2,7
-3,0
-3,4
-5,3
-3,8
-0,4
-0,1
-1,0
-0,1
…
…
-2,0
2010
24,1
57,8
20,4
30,1
26,0
60,3
69,5
20,6
28,7
36,2
21,7
37,7
29,5
…
33,3
37,5
5,3
49,6
31,0
63,6
79,7
53,7
35,9
2006
19,1
49,0
18,4
26,2
18,6
52,3
42,7
20,9
17,4
33,6
21,3
34,9
27,7
…
27,6
32,9
4,1
37,1
30,7
55,7
72,6
47,3
30,0
2007
14,2
47,7
24,4
24,1
15,9
44,8
38,2
24,4
20,1
42,3
20,1
34,4
22,9
…
24,9
33,2
5,2
34,0
24,0
48,5
71,8
46,1
28,6
2008
18,4
43,6
28,0
23,4
16,1
44,9
43,6
28,1
24,5
34,4
23,0
42,6
18,2
…
27,5
34,7
6,2
34,5
29,3
48,5
79,3
49,1
30,0
2009
Governo central
18,4
38,7
28,2
21,3
15,5
46,0
44,5
27,5
30,0
20,5
24,2
43,0
22,4
…
29,6
34,8
9,2
34,5
27,6
45,1
…
…
29,5
2010
24,1
61,1
…
31,3
27,6
61,0
70,0
22,6
30,0
38,7
21,9
39,9
32,0
…
38,4
47,4
10,6
52,4
47,0
76,3
…
…
40,7
2006
Dívida pública a
Quadro I.6
AMÉRICA LATINA E CARIBE: INDICADORES FISCAIS DO GOVERNO CENTRAL
(Em porcentagens do PIB a preços correntes)
54
19,1
52,2
19,0
27,2
22,2
52,9
43,5
22,7
18,3
35,9
21,6
37,0
30,2
…
31,8
43,8
9,1
40,0
45,1
66,7
…
…
33,6
2007
14,2
51,1
25,3
24,5
19,2
45,4
39,3
26,9
19,0
44,5
20,4
36,9
25,0
…
29,9
42,6
12,0
36,8
38,5
57,8
…
…
32,1
2008
SPNF b
18,4
47,7
28,6
23,8
18,8
45,6
44,8
34,9
22,9
35,0
23,3
45,2
19,6
…
34,1
44,8
12,9
37,6
42,8
57,7
…
…
33,6
2009
18,4
42,6
29,2
21,7
16,3
46,7
45,6
34,0
25,4
20,9
23,7
45,6
23,5
…
36,2
45,9
15,8
38,1
40,7
52,0
…
…
32,8
2010
6,5
1,8
2,6
5,8
-3,7
-2,8
7,2
4,7
0,0
0,9
5,7
6,9
Granada
Guiana
Jamaica
São Cristóvão e Névis
São Vicente e
Granadinas
Santa Lúcia
Suriname
Trinidad e Tobago
5,4
-3,2
8,1
0,8
0,0
6,1
6,2
5,1
-2,8
-1,0
0,8
-4,0
-0,9
-7,8
2009
…
-5,6
2,2
-0,8
3,0
4,4
6,5
0,2
3,0
1,9
-2,4
0,4
1,3
2010
4,9
8,0
-2,0
-2,5
-1,9
-4,2
-4,5
-5,3
-0,9
-1,2
-1,6
-1,2
-5,6
2007
7,1
2,3
0,0
-0,6
-0,3
-7,4
-3,8
-5,0
-2,6
1,5
-5,1
-2,9
-5,9
2008
-6,0
3,7
-2,2
-2,6
-0,6
-11,1
-3,7
-5,0
-2,1
-2,9
-9,4
-3,2
-10,6
2009
Resultado global
…
-14,7
-0,6
-3,5
-4,2
-6,0
-3,0
-1,7
1,4
-1,5
-8,1
-2,8
-1,1
2010
16,8
37,0
65,3
62,3
149,5
55,9
155,3
87,5
81,2
93,5
79,0
32,8
90,5
2006
16,8
28,5
66,9
55,5
141,5
53,9
98,8
83,4
76,2
89,1
84,0
35,1
79,7
2007
14,5
25,2
64,8
58,1
134,5
48,7
103,7
79,3
70,5
83,1
88,0
36,6
80,1
2008
19,0
25,0
66,3
62,2
145,3
54,2
115,2
91,7
76,0
87,2
101,7
…
92,8
2009
Governo central
Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras oficiais.
a
Em 31 de dezembro de cada ano, aplicando a taxa de câmbio no final do período para a dívida externa.
b
Setor público não financeiro.
c
Média simples.
d
Governo geral.
e
Anos fiscais.
8,8
4,9
-2,1
-3,4
-0,7
0,7
-0,2
1,6
2,3
Barbados d
-3,2
-1,0
Dominica
0,6
2008
Resultado primário
Belize
-2,7
Bahamas
2007
Antigua e Barbuda
Caribe e
Quadro I.6 (conclusão)
55
…
21,0
71,7
63,8
156,3
64,7
…
93,0
72,4
98,3
…
…
82,6
2010
…
…
…
…
…
…
…
…
…
…
…
…
…
…
…
2007
…
…
…
…
…
…
…
…
…
…
…
2006
Dívida pública a
…
…
…
…
…
…
…
…
…
…
…
…
…
2008
SPNF b
…
…
…
…
…
…
…
…
…
…
…
…
…
2009
…
…
…
…
…
…
…
…
…
…
…
…
…
2010
56
Gráfico I.31
AMÉRICA LATINA E CARIBE (19 PAÍSES): RECEITAS DO GOVERNO CENTRAL, 1990-2011 a
(Em porcentagens do PIB)
20
18
16
14
12
10
8
6
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
Receita tributária
Outras receitas
Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras oficiais.
a
Os dados de 2011 são projeções.
Gráfico I.32
AMÉRICA LATINA (PAÍSES SELECIONADOS): EVOLUÇÃO DA ARRECADAÇÃO TRIBUTÁRIA
EM TERMOS REAIS, SEM SEGURIDADE SOCIAL, 2009-2011 a
(Em porcentagens de variação, t/t-4)
30
20
10
0
-10
-20
-30
-40
I
II
III
IV
I
2009
Argentina
II
III
IV
I
2010
Brasil
Chile
Colômbia
México b
2011
Peru
Uruguai
Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras oficiais.
a
Os dados de 2011 correspondem ao primeiro trimestre.
b
Inclui receitas tributárias não petrolíferas.
57
Gráfico I.33
AMÉRICA LATINA: GASTOS DO GOVERNO CENTRAL, 1990-2011 a
(Em porcentagens do PIB)
22
20
18
16
14
12
Gasto de capital
Juros
2011
2010
2009
2008
2007
2006
2005
2004
2003
2001
2002
2000
1999
1997
1998
1996
1995
1994
1993
1992
1991
8
1990
10
Gasto corrente primário
Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras oficiais.
a
Excluindo Cuba. Os dados de 2011 são projeções.
Desta forma, os níveis de gasto público da região no final de 2010 de 1,8 pontos percentuais do
PIB acima dos registrados em 2007. Estes incrementos resultaram da maior expansão dos gastos
primários (2,1 pontos do PIB), que compensou a redução dos gastos em pagamento de juros durante este
período (0,3 pontos do PIB). Dos 20 países analisados, 5 declaravam gastos superiores em 3 pontos do
PIB aos observados em 2007. Os países com maiores incrementos foram: Equador (9,5 pontos
percentuais do PIB), Argentina (5,3 pontos percentuais do PIB), Costa Rica (4,9 pontos percentuais do
PIB), Panamá (4,8 pontos percentuais do PIB) e Chile (4,7 pontos percentuais do PIB). No Brasil, Costa
Rica, Equador, Panamá e Uruguai se observaram diminuições mais acentuadas dos pagamentos de juros
da dívida, em torno a 1 ponto porcentual do PIB. De maneira inversa, a Bolívia (Estado Plurinacional da),
Honduras e a República Dominicana em 2010 incrementaram seus pagamentos por juros em 0,2, 0,3 e 0,6
pontos do PIB, respectivamente. O gasto corrente da região se elevou em média mais de 1 ponto
percentual do PIB, enquanto o pagamento de juros contraiu-se levemente, pelo que o gasto corrente
primário subiu 1,5 pontos do PIB.
Em suma, após a deterioração observada em 2009, os países da região estão lentamente
recompondo seu espaço fiscal por meio de uma melhoria em suas receitas, da manutenção do mesmo
nível de gasto em termos do PIB e de uma queda da relação entre a dívida e o PIB. Cabe destacar que as
estratégias a seguir para a ampliação do espaço fiscal serão diferentes para cada país. Em alguns casos as
autoridades deveriam centrar seus esforços em fortalecer suas débeis cargas tributárias, em outros países
com estruturas de arrecadação mais consolidadas os governos deveriam focar-se em moderar os aumentos
do gasto público corrente. No caso de alguns países do Caribe será preciso atender os recorrentes
problemas de sustentabilidade da dívida pública.
58
3. Balanço e perspectivas
De maneira generalizada, desde o segundo semestre de 2009 a região da América Latina e Caribe vem se
recuperando dos efeitos da crise global e continua crescendo a taxas relativamente elevadas para sua
história econômica, apoiando-se tanto na demanda interna como na externa. Espera-se que a região cresça
4,7% em 2011 e 4,1% em 2012, embora persista uma crescente incerteza derivada da conjuntura externa,
comentada mais adiante. O crescimento da economia mundial, especialmente dos países em
desenvolvimento, tem permitido uma melhora significativa dos termos de troca, sobretudo na maioria das
economias sul-americanas, em algumas economias do Caribe especializadas em produção e exportação de
produtos básicos e, em menor medida, no México. Contudo, na América Central e em quase todas as
economias do Caribe o efeito observado é o inverso, dada sua condição de importadores líquidos de
produtos básicos.
Também a elevada liquidez que caracteriza a economia mundial, junto com níveis de risco
relativamente baixos exibidos pela região, tem facilitado o acesso aos mercados financeiros
internacionais tanto do setor público como do privado e contribuído para uma elevada expansão do
crédito, que deu impulso à demanda interna em matéria de consumo e investimento. Este fator é outra
consequência da melhora dos indicadores do mercado de trabalho atrelada à recuperação das economias
e uma das principais causas do sustentado dinamismo que o consumo privado apresenta na América
Latina e no Caribe.
Tudo isto ocorre em um contexto no qual, embora alguns governos tenham anunciado o
desmantelamento das medidas implementadas para enfrentar a crise, há casos em que as políticas públicas
continuam tendo presença importante, o que fica evidenciado ao observar que o gasto público projetado
para 2011, como porcentagem do PIB, ainda estaria situado acima dos níveis prévios à crise, apesar de
que venham diminuindo desde 2009.
Por outro lado, o aumento dos preços dos produtos básicos, e em especial dos alimentos e dos
combustíveis, no marco de um significativo crescimento da demanda interna, pressiona a taxa de inflação
à alta e tem começado a colocar os bancos centrais da região frente ao renovado dilema de priorizar a
estabilidade dos preços ou tentar defender em alguma medida a competitividade dos setores produtores de
bens exportáveis e substitutivos de importações, em um momento em que a combinação de uma elevada
liquidez internacional e a solidez de algumas economias latino-americanas, somada a um revigorado
apetite dos capitais estrangeiros por ativos nos países emergentes, se traduz em uma forte pressão à
apreciação das moedas da América Latina e do Caribe.
Embora este tema seja tratado extensivamente na segunda parte deste documento, neste ponto não
se pode deixar de assinalar os desafios que esta situação implica do ponto de vista da formulação da
política macroeconômica. Em primeiro lugar, sabendo que a origem das recentes altas de preços é um
choque de oferta e que, no caso dos alimentos e dos combustíveis, se trata de bens cuja demanda é
relativamente inelástica, a política monetária perde eficácia como instrumento antiinflacionário, ainda que
cumpra o objetivo de reduzir as expectativas de incrementos de preços. Por outro lado, o aumento da taxa
de juros tende a elevar o diferencial entre as taxas internas dos países da região e as vigentes nos
mercados financeiros das economias desenvolvidas, o que aumenta a atração dos influxos de capitais e,
em consequência, as pressões para a apreciação nos mercados de divisas. A apreciação cambial tem um
efeito deflacionista cuja magnitude depende da proporção de bens comercializáveis que formam parte da
cesta de consumo familiar, pelo que alivia o problema inflacionário. Alem disso, no curto prazo a entrada
de capitais gera um aumento do crédito que permite sustentar a demanda interna e inclusive aliviar a
pobreza, dado que o consumo dos estratos mais pobres é intensivo em alimentos, cujo preço relativo se
59
espera que caia acompanhando a diminuição da taxa de câmbio real. Trata-se de uma estratégia
antiinflacionária aparentemente sem custos e por isso, em muitas ocasiões, é sedutor para as autoridades
econômicas permitir certo grau de apreciação da taxa de câmbio14.
Contudo, a situação encerra uma série de riscos e dificuldades tanto no curto prazo como da
perspectiva do crescimento. A região se torna vulnerável a movimentos de capitais especulativos, em
busca de ganhos de curtíssimo prazo, com o agravante que a magnitude dos recursos envolvidos excede a
capacidade dos sistemas financeiros e pode originar bolhas nos preços dos ativos financeiros e nos
mercados imobiliários15. Por outro lado, em qualquer momento os capitais podem retirar-se e gerar sérias
disrupções do crescimento, tema ao que se fará referência mais adiante.
Por outro lado, a queda da taxa de câmbio real pode afetar o componente externo da demanda
de bens, em especial em um cenário de perda de dinamismo do comércio mundial, como o que pode ser
gerado em consequência da possível diminuição do crescimento dos países desenvolvidos projetada
para meados de 2011. De fato, embora a situação diste de ser preocupante, mesmo no contexto de um
período muito favorável em relação à evolução dos termos de intercâmbio, o saldo em conta corrente
do balanço de pagamentos da região vem se deteriorando de modo sistemático desde 2006. Como
analisado no requadro 3, o déficit em conta corrente da região, estimado com base nos preços
internacionais de tendência, seria um pouco maior que o observado, mas seu financiamento não estaria
representando um problema.
A elevada liquidez internacional também pressiona as taxas de câmbio reais à baixa e os preços
dos produtos básicos à alta, e opera como um incentivo para a especialização intensiva em produção e
exportação de bens primários. Como assinalado, isto aumenta a vulnerabilidade das economias da região
aos choques externos e gera maior volatilidade dos agregados macroeconômicos internos, como o
investimento, o que afeta de maneira negativa a capacidade das economias de crescer, gerar emprego
produtivo e diminuir a desigualdade16.
As autoridades econômicas da região têm reagido aos complexos dilemas que a política
macroeconômica enfrenta nesta conjuntura implementando um conjunto de medidas que, em distintas
proporções, combinam intervenções parcialmente esterilizadas nos mercados de câmbio, controles de
diferentes tipos à entrada de capitais e regulamentações financeiras cujo objetivo é aumentar a demanda
ou diminuir a oferta de divisas nos mercados de ações, para aliviar as pressões sobre as cotações das
moedas. A efetividade do conjunto de medidas que se adote, no entanto, dependerá do contexto de
políticas macroeconômicas no qual esteja inserido. Por exemplo, como analisado mais adiante, estas
medidas aumentariam seu potencial se fossem acompanhadas, em forma coordenada, de uma política
fiscal orientada ao incremento da poupança do setor público, o que permitiria reduzir as pressões cambiais
e inflacionárias.
14
15
16
Veja CEPAL, Balance Preliminar de las economías de América Latina y el Caribe, 2010 (LC/G.2480-P),
Santiago do Chile, dezembro de 2010.
Veja Nicolas Magud, Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff, “Capital controls: myth and reality. A portfolio
balance aproach”, NBER Working Papers, Nº WP11-7, Peterson Institute for International Economics, 2011.
Veja R. Frenkel e M. Rapetti, “Fragilidad externa o primarización: ¿cuál es la principal amenaza para América
Latina?”, Santiago do Chile, Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), 2011, inédito.
60
Requadro I.3
TENDÊNCIA DA CONTA CORRENTE NA AMÉRICA LATINA
A América Latina experimentou um superávit médio no período 2003-2007 de cerca de 1% do PIB em conta
corrente, situação sem precedentes em sua história. Com a chegada da crise financeira internacional no final de
2008, a região experimentou uma reversão da balança externa, apresentando em média um déficit de 0,8% do PIB
no período 2008-2010, sobretudo devido à deterioração de sua balança comercial. Dado que o período considerado
coincide com o persistente auge de preços das matérias-primas, que têm uma alta incidência na cesta regional de
exportações, cabe perguntar qual seria a situação do saldo da conta corrente, medido em preços de tendência das
matérias-primas.
Com este propósito, construiu-se uma matriz com os principais produtos primários exportados pelos países
latino-americanosa e seus respectivos preços internacionais. Os preços de tendência foram obtidos a través de médias
móveis de 10 anosb. A relação entre o preço de tendência e o preço efetivo corresponde ao fator de ajuste utilizado
sobre as partidas de exportaçõesc. Para manter a consistência, se ajustam tanto as exportações de bens primários
como as importações, estas últimas principalmente de petróleo e seus derivados. Da mesma forma, dado que existe
uma relação positiva e significativa entre as exportações de produtos básicos e as remessas de lucros de investimento
estrangeiro direto (débito), foi feito um ajuste nesta partida da conta de serviços de capital utilizando o mesmo fator
usado para as exportações.
Ademais, dado que o ajuste em exportações e importações não é simétrico, o saldo líquido no ajuste
comercial dará origem a um movimento idêntico no produto interno bruto (PIB) e, portanto, o saldo da conta
corrente em relação ao PIB ajustado deve ser obtido como proporção deste PIB “corrigido”. Também, dado que a
demanda de importações é uma função do produto, o ajuste sobre o PIB é coerente com um novo efeito sobre as
importações, que dependerá de sua elasticidade-rendad. Intuitivamente, se a região não houvesse desfrutado dos
altíssimos preços de exportação dos últimos anos, ou seja, se sua renda disponível tivesse sido muito menor, assim
como sua demanda de importaçõese.
No quadro 1 mostra-se a elasticidade-renda de longo prazo das importações obtidas para 10 países e um
agregado regional para a América Latina e o Caribe (19 países)f. As estimativas foram realizadas com dados anuais
no período 1980-2010. Observa-se uma importante dispersão nas elasticidades de longo prazo obtidas para cada
país, que flutuam entre 1,3 e 1,4 em países como Bolívia (Estado Plurinacional da), Chile e Peru, e cifras maiores
que 3 no Brasil e no México. O agregado para 19 países da região mostra uma elasticidade de 2,5.
No gráfico 1 mostram-se os resultados do ajuste para o agregado América Latina e Caribe (19 países). Em
nível regional, se observa um comportamento sustentável na balança externa, já que, medido a preços de tendência,
de qualquer modo a região teria registrado um leve superávit da conta corrente no período 2003-2007 (médio de
0,1% do PIB). Do mesmo modo, a reversão da balança externa durante a crise financeira internacional implicou um
déficit externo de tendência que alcançou um máximo de 1,9% do PIB em 2008 e de 1% em 2009, cifras
compatíveis com entradas líquidas de capitais sustentáveis para a região. Durante o período 2003-2010, a conta
capital regional apresentou em média um superávit (entradas líquidas) de 1,4% do PIB e, em particular, a entrada
líquida de IED foi em média 1,9% do PIB (carteira líquida: 0,5%; outro investimento líquido: -1%). Uma vez
superada a crise, em 2010, o saldo da conta corrente de tendência da América Latina foi um déficit de 1,8% do PIB
(déficit de 1,2% em termos efetivos), enquanto o saldo da conta capital alcançou 3,1% do PIB, com uma
participação do IED de 1,4% (carteira líquida: 2,2%; outro investimento líquido: -0,5%)g.
É claro que o resultado deste exercício é díspar em nível de países. No gráfico 2 se apresentam os
resultados específicos para um grupo selecionado. Para o ano 2010, dos quatro países que mostram superávits
efetivos em conta corrente, a Argentina (1% do PIB), Bolívia (Estado Plurinacional da) (4,6%), Chile (1,9%) e a
Venezuela (República Bolivariana da) (3,7%), todos eles, exceto a Bolívia (Estado Plurinacional da), na realidade
registram um déficit medido a preços de tendência (-0,1%, 1,2%, -1,6% y -0,2%, respectivamente). Os países que
registram as maiores brechas entre sua balança externa efetiva e corrigida são naturalmente os exportadores de
hidrocarbonetos, em especial aqueles com alta concentração deste item em sua cesta de exportações como
Venezuela (República Bolivariana da), Bolívia (Estado Plurinacional da), Colômbia e Equador. Nestes dois últimos
países, o déficit efetivo em conta corrente foi de 3% do PIB em 2010, que medido a preços de tendência alcançou
4,2% e 4,7% do PIB, respectivamente.
61
Requadro I.3 (continuação)
Os países exportadores de cobre, Chile e Peru, também registram uma grande brecha, sobretudo no período
2006-2007, quando o preço real do metal alcançou máximos históricos. O Brasil e o México, por seu lado, mostram
menores brechas entre a conta corrente efetiva e corrigida, principalmente devido a que sua cesta de exportações é
significativamente mais diversificada que a dos demais países analisados. Além disso, grande parte do ajuste à baixa
das exportações se vê compensado pela elevada elasticidade-renda estimada para ambos os países.
Peru
Uruguai
0,45***
0,83***
1,02***
LM(-2)
LPIB
LPIB(-1)
-0,43***
3,53***
3,72***
2,49***
3,02***
2,82***
-2,46 ***
-2,32 ***
-1,78***
-3,14***
-2,31***
1,76***
-0,34 ***
LTCR(-1)
-0,30***
-0,25 **
0,33*
-0,41**
-0,24**
0,24*
2,91***
-0,91***
0,35*
-0,77***
-0,16**
-0,20**
-0,45***
-0,50*
LTCR(-2)
2,36***
-2,36***
LPIB(-2)
LTCR
1,65***
0,97***
-0,14*
3,91***
2,89***
-4,34***
-2,46***
1,95**
-0,35**
0,15*
0,38***
América Latina
(19 países)
0,68***
Mexico
1,09***
Venezuela
(República
Bolivariana da)
0,78***
Equador
Colômbia
0,57***
Chile
LM(-1)
Brasil
Argentina
Bolívia (Estado
Plurinacional da)
Quadro 1
AMÉRICA LATINA E CARIBE: ESTIMATIVA DA ELASTICIDADE-RENDA DAS IMPORTAÇÕES
0,23*
-0,27**
-0,64*
Significativo a 1% (***), 5% (**) e 10% (*)
Elasticidade PIB
2,5
1,4
3,2
1,3
1,6
1,8
1,4
2,1
2,1
3,7
2,5
Elasticidade TCR
-0,8
-0,3
-1,4
-0,8
-0,1
-0,2
-0,3
-0,3
-0,7
-1,6
-0,7
Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL).
Gráfico 1
AMÉRICA LATINA E CARIBE (19 PAÍSES): CONTA CORRENTE A PREÇOS
DE TENDÊNCIA, 2000-2010
(Em porcentagens do PIB)
2
2
1
1
0
0
-1
-1
-2
-2
-3
-3
-4
-4
2000
2001
2002
2003
Efetiva
2004
2005
Correção 1
Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL).
2006
2007
2008
Correção 2
2009
2010
62
Requadro I.3 (conclusão)
Gráfico 2
AMÉRICA LATINA E CARIBE (19 PAÍSES): CONTA CORRENTE A PREÇOS DE TENDÊNCIA, 2000-2010
(Em porcentagens do PIB)
Argentina
Bolívia (Est. Plur. da)
Brasil
-2
-2
-4
-4
14
12
10
8
6
4
2
0
-2
-4
-6
-8
6
6
1
1
6
6
4
4
0
0
4
4
2
2
-1
-1
2
2
0
0
-2
-2
-2
-2
-4
-4
-6
-6
-8
2
2
1
1
0
0
-1
-1
Colômbia
2010
2009
2007
2008
2006
2005
-5
2003
-4
-5
2004
-4
2001
-3
2002
-2
-3
2000
-2
2010
2009
2007
2008
2006
2005
2003
Chile
2004
2001
2002
14
12
10
8
6
4
2
0
-2
-4
-6
-8
2000
2010
0
2009
2
0
2007
2
2008
4
2006
4
2005
6
2003
6
2004
8
2001
8
2002
10
2000
10
Equador
0
0
-2
-2
2010
2009
2008
2007
2005
2006
2003
1
0
0
-1
-1
2010
2009
2008
2007
2005
2006
2003
2004
-4
2002
-4
2001
-2
-3
2000
-2
-3
2010
2009
2008
México
Correção2
Correção1
Efetiva
2004
2002
2001
2000
2010
2009
2008
2007
2007
2005
2006
2003
2004
2002
2010
2009
2008
2007
2005
2006
2003
-8
2004
-6
-8
2002
-6
2001
-2
-4
2000
-2
2001
2005
2010
Venezuela (Rep. Bol. da)
-4
2000
2006
0
2003
0
2004
2
20
18
16
14
12
10
8
6
4
2
0
-2
-4
-6
1
2
20
18
16
14
12
10
8
6
4
2
0
-2
-4
-6
Peru
2002
4
2001
4
2000
-8
2009
-8
2008
-7
2007
-7
2005
-6
-8
2006
-4
-6
2003
-4
-6
2004
-5
-6
2002
-5
2001
-3
-4
2000
-3
-4
Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL).
Notes:
a
Os produtos considerados são trigo, milho, arroz, soja, cobre, ferro, aço, alumínio, prata, zinco, estanho, níquel, chumbo,
petróleo, carvão e gás natural.
b
Os resultados são similares utilizando o filtro de Hodrick-Prescott para os preços de tendência.
c
Note que este ajuste considera correções em preços e não em volumes.
d
A elasticidade-renda das importações se obtém de:
log
log
e
Certamente, seguindo esta consideração de equilíbrio geral, também poderíamos pensar em uma queda do consumo privado e
em outros efeitos. No entanto, aqui nos enfocamos em corrigir preferentemente as partidas que afetam a conta corrente.
f
A especificação estimada pelo método dos mínimos quadrados ordinários em cada caso corresponde a versões restringidas de:
log
g
log
log
log
~
0,
,
~
0,
Cabe assinalar que uma parte das entradas correspondentes a IED se refere a reinvestimento de lucros, e que o montante de
IED compatível com o cálculo do saldo em conta corrente de tendência seria inferior ao dado observado.
63
A situação descrita apresenta riscos que, sem dúvida, não impedirão que a região continue
crescendo ao longo de 2011 —embora a taxas que provavelmente irão convergindo de maneira gradual
para níveis mais próximos aos dos PIB potenciais— e que a conjuntura relativamente favorável se
prolongue até o ano 2012. Não obstante, isto está sujeito à forma como evoluam determinados elementos
dos que depende a resolução de algumas situações complexas, em especial nas economias desenvolvidas.
Em primeiro lugar, a recuperação da economia estadunidense é mais lenta que a esperada, como refletem
os dados do nível de atividade, além dos indicadores do mercado de trabalho e da evolução do mercado
imobiliário. A persistência de problemas em alguns bancos, o demorado processo de redução do
endividamento das famílias e a própria lentidão da recuperação constituem fatores que afetam a atividade
financeira e conspiram contra a estratégia de estimular a expansão via política monetária, ao mesmo
tempo em que o déficit e o elevado nível de endividamento restringem a capacidade da política fiscal17.
Neste contexto, cabe esperar que os estímulos monetários sejam mantidos enquanto a economia
dos Estados Unidos não seja reativada, o que contribui para reforçar a percepção relativamente pessimista
sobre o crescimento global e, ao mesmo tempo, aprofunda os dilemas de política econômica, antes
referidos, que as economias da região enfrentam.
O Japão, por seu lado, recuperando-se dos estragos causados pelo terremoto (veja o requadro I.1),
em 2011 crescerá muito pouco e em 2012 crescerá algo mais, dada a baixa base de comparação. Isso, no
marco de um prolongado período de relativa estagnação da economia japonesa, originada com a crise de
seu sistema bancário nos anos noventa e cuja solução tem sido demorada e incompleta.
Estas perspectivas pouco auspiciosas sobre o crescimento do nível de atividade das economias
desenvolvidas se completa com a situação encontrada na Europa, onde o foco do imediato tende a ser
colocado nas alternativas para solucionar o problema da dívida da Grécia. A experiência latinoamericana, assim como os níveis de endividamento alcançados e a severidade dos ajustes fiscais
necessários para recuperar a sustentabilidade da dívida pública, permite prever que será muito difícil
evitar uma profunda reestruturação, que também irá acompanhada de uma perda importante. Contudo, até
o momento, as autoridades europeias se resistem a esta redução da dívida, fundadas no temor de que uma
solução deste tipo tenha efeitos de contágio sobre as demais economias em problemas, que poderia incluir
não apenas Irlanda e Portugal, mas também a Espanha e a Itália, apesar da melhora relativa que estes
países tiveram recentemente18.
Cabe assinalar que, embora este temor não careça em absoluto de fundamento, se a história
econômica de nossa região é um bom espelho para a realidade europeia destes dias, a perda é inevitável,
mas é preferível fazê-la de maneira ordenada em vez de implementá-la sucumbindo à pressão dos
mercados, caso em que o efeito de contágio poderia ser mais grave e vir a transformar-se em um
problema sistêmico.
Do ponto de vista das economias emergentes, embora seguramente o panorama se apresente mais
aliviado, não se pode descartar que a crescente pressão inflacionária em países como China, Índia e
Federação Russa, por exemplo, exija um endurecimento relativo da política monetária que se traduza em
uma desaceleração do crescimento. Por outro lado, isto limita a capacidade destas economias para
sustentar um crescimento de sua demanda e contribuir assim a corrigir os desequilíbrios globais.
17
18
Veja James Mason e outros, Central Bank Watch: The Shifting Tides of Global Monetary Policy, Roubini Global
Economics (RGE), junho de 2011.
Veja Eduardo Levy Yeyati, “Grecia, entre la negación y la reprogramación inútil”, 20 de maio de 2011 [on-line]
http://yeyati.blogspot.com/.
64
Em conclusão, trata-se de uma soma de fatores, como a desaceleração do crescimento da
economia internacional, uma gradual diminuição da liquidez global, um aumento do componente de risco
dos ativos financeiros, especialmente (mas não exclusivo) de algumas dívidas soberanas europeias, que
pode terminar em um processo que costuma denominar-se “fuga para a qualidade”. Isto implicaria, como
já ocorrido na recente crise, um crescimento da demanda de ativos em dólares e uma súbita reversão dos
fluxos de capitais.
De qualquer modo, uma situação como a apresentada não parece iminente, embora a evolução do
problema das dívidas europeias possa acelerar os tempos. A notícia ruim é que a história econômica da
região da América Latina e Caribe mostra que as reversões do fluxo de capitais habitualmente não vêm
sozinhas, mas geralmente acompanhadas de uma queda dos preços internacionais dos produtos básicos e,
em consequência, de uma deterioração dos termos de intercâmbio da região, como pode ser visto no
gráfico I.34. Deve-se destacar, não obstante, que aquelas economias que são exportadoras líquidas de
produtos básicos e que estão recebendo importantes fluxos de capital, por exemplo, no México, são muito
mais vulneráveis a esta situação que a maioria das economias centro-americanas e do Caribe, que são
importadoras líquidas destes produtos e não têm acesso fluido aos mercados financeiros internacionais.
Fluxos financeiros privados
líquidos (eixo esquerdo)
Fluxos privados líquidos
em carteira (eixo esquerdo)
2005=100
2011
2010
2009
2008
2007
2006
2005
2004
2003
2002
80
2001
-4
2000
85
1999
-3
1998
90
1997
-2
1996
95
1995
-1
1994
100
1993
0
1992
105
1991
1
1990
110
1989
2
1988
115
1987
3
1986
120
1985
4
1984
125
1983
5
1982
130
1981
6
1980
Porcentagens do PIB
Gráfico I.34
AMÉRICA LATINA: FLUXOS DE CAPITAIS E TERMOS DE TROCA, 1980-2011 a
(Em porcentagens do PIB)
Termos de intercâmbio da cesta
2000-2009 (eixo direito)
Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras oficiais.
a
Os dados de 2011 são projeções.
Dado que é habitual que os processos caracterizados por saídas líquidas de capitais ocorram em
paralelo com uma queda dos termos de troca, um aprofundamento da deterioração da situação dos
mercados financeiros internacionais poderia ocasionar uma pressão nas contas externas da região, tanto na
conta corrente como na conta capital. Se, como poderia suceder, o panorama se completa com uma
desaceleração do crescimento e, portanto, do comércio, a recomendação mais prudente seria que as
65
economias da região se preparassem do melhor modo possível para adotar uma estratégia contracíclica em
um contexto de menor abundância de divisas.
Cabe reiterar que os riscos não são iminentes, mas a situação deve ser considerada com a devida
seriedade e a conjuntura favorável aproveitada para acumular reservas internacionais e fazer economias
no setor público, de modo a recuperar o espaço de políticas que se contraiu durante a crise. Por outro lado,
os controles ou limitações à entrada de capitais de curto prazo também contribuiriam para diminuir a
vulnerabilidade da economia. Estas recomendações são compatíveis com a necessidade de conter a
apreciação cambial mencionada anteriormente. Os instrumentos que as autoridades econômicas da região
têm à mão para defender, na medida do possível, os níveis de competitividade com objetivos de mais
longo prazo também poderiam contribuir para manter os equilíbrios macroeconômicos e limitar a
volatilidade, que tem caracterizado cronicamente a América Latina e o Caribe.
Neste sentido, a reconstrução do espaço fiscal é vital importância para os países da região, já que
contribuiria não apenas para enfrentar os tradicionais desafios das políticas públicas (a necessidade de
aumentar o investimento em capital físico e social), mas também para atender alguns dos desafios que se
apresentem a partir da evolução do cenário internacional. O incremento da poupança do setor público
permitiria adotar uma política monetária menos contrativa e contribuiria a reduzir a tensão entre as
estratégias antiinflacionárias e as cambiais.
Gráfico I.35
AMÉRICA LATINA E CARIBE: CRESCIMENTO DO PIB, 2012
(Em porcentagens)
Haiti
8,0
Panamá
6,0
Peru
5,5
Uruguai
4,5
Rep. Dominicana
4,5
Colômbia
4,5
Chile
4,5
Argentina
4,5
América do Sul (10 países)
4,2
América Latina e Caribe
4,1
Paraguai
4,0
Nicarágua
4,0
México
4,0
Equador
4,0
Brasil
4,0
Bolívia (Est. Plur. da)
4,0
América Central (9 países)
3,9
Venezuela (Rep. Bol. da)
3,5
Guatemala
3,5
Costa Rica
3,5
Honduras
3,0
Cuba
3,0
Caribe
2,6
El Salvador
2,5
0
1
2
3
4
5
6
7
Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras oficiais.
8
9
67
APÊNDICE ESTATÍSTICO
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