2010-2011 Documento informativo Alicia Bárcena Secretária-Executiva Antonio Prado Secretário-Executivo Adjunto Osvaldo Kacef Diretor da Divisão de Desenvolvimento Econômico Ricardo Pérez Diretor da Divisão de Documentos e Publicações www.cepal.org/de O Estudo econômico da América Latina e Caribe é um documento anual da Divisão de Desenvolvimento Econômico da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL). A elaboração da presente edição, 2010-2011, foi chefiada por Osvaldo Kacef, diretor da Divisão, e a coordenação geral esteve a cargo de Jürgen Weller. Nesta edição a Divisão de Desenvolvimento Econômico contou com a colaboração da Divisão de Estatística e Projeções Econômicas, da Divisão de Comércio Internacional e Integração, das sedes sub-regionais da CEPAL na cidade do México e em Port of Spain, e dos escritórios nacionais da Comissão em Bogotá, Brasília, Buenos Aires, Montevidéu e Washington, D.C. A primeira parte “A economia da América Latina e do Caribe em 2010-2011” foi escrita por Osvaldo Kacef, com insumos preparados por Vianka Aliaga, Claudio Aravena, José Manuel Arroyo, Rodrigo Cárcamo, Fernando Cantú, Juan Pablo Jiménez, Luis Felipe Jiménez, Cornelia Kaldewei, Sandra Manuelito, Ramón Pineda e Jürgen Weller. A segunda parte, “As mudanças no financiamento externo e nos regimes macroeconomicos da região: efeitos heterogêneos dos choques externos e políticas para enfrentá-los”, foi elaborada por Luis Felipe Jiménez e Sandra Manuelito. Para isso utilizou-se material preparado pelos consultores Ricardo Carneiro, Roberto Fruskel e Roberto Zahler, assim como insumos preparados por funcionários da Divisão de Desenvolvimento Econômico e outros participantes de um workshop realizado em abril de 2011 em Santiago. O Ministério Federal de Cooperação Econômica e Desenvolvimento da Alemanha e a Agência Alemã de Cooperação Internacional (GIZ) colaboraram com o financiamento desta capacitação. As notas sobre os países baseiam-se em estudos realizados pelos seguintes expertos: Martín Abeles (Argentina), Olga Lucía Acosta e Alejandra Corchuelo (Colômbia), Dillon Alleyne (Guiana e Jamaica), Claudio Aravena (Equador), José Manuel Arroyo (Paraguai), Rodrigo Cárcamo (Venezuela (República Bolivariana da)), Álvaro Fuentes (Uruguai), Juan Alberto Fuentes (Cuba), Randolph Gilbert (Haiti), Michael Hendrickson (Bahamas e Belize), Luis Felipe Jiménez (Chile), Beverly Lugay (União Monetária do Caribe Oriental), Sandra Manuelito (Peru), Rodolfo Minzer (Panamá), Carlos Mussi (Brasil), Ramón Padilla (Costa Rica e México), Benjamin Rae (Bolívia (Estado Plurinacional da)), Juan Carlos Rivas (Guatemala), Kelvin Sargeant (Barbados, Suriname e Trinidad e Tobago), Francisco Villarreal (El Salvador e República Dominicana) e Willy Zapata (Honduras e Nicarágua). As notas dos países do Caribe foram revisadas por Benjamin Rae. Claudio Aravena, Fernando Cantú e Sandra Manuelito realizaram as projeções econômicas. O processamento e a apresentação da informação estatística estiveram a cargo de Alejandra Acevedo, Vianka Aliaga, Leandro Cabello, Jazmín Chiu, Diana Fajardo, Rodrigo Heresi, Isabel López e Damián Vergara. Notas Nos quadros da presente publicação foram empregados os seguintes sinais: Três pontos (…) indicam que os dados faltam, não constam por separado ou não estão disponíveis. Um traço (-) indica que a quantidade é nula ou desprezível. A vírgula (,) se usa para separar os decimais. A palavra “dólares” se refere a dólares dos Estados Unidos, salvo quando indicado em contrário. 2011-287 3 ÍNDICE Página Apresentação .................................................................................................................................... Resumo executivo ............................................................................................................................. 7 9 Capítulo I Panorama regional ........................................................................................................................... A. Introdução ................................................................................................................................ B. Economia internacional ............................................................................................................ 1. O contexto financeiro internacional e seu efeito sobre as economias da região................ C. Aspectos destacados da evolução recente das economias da América Latina e do Caribe ...... 1. Os agregados macroeconômicos ....................................................................................... 2. O mercado de trabalho e os salários .................................................................................. 3. A inflação .......................................................................................................................... 4. As contas externas ............................................................................................................. D. As políticas macroeconômicas ................................................................................................. 1. A política monetária e a cambial ....................................................................................... 2. A política fiscal.................................................................................................................. 3. Balanço e perspectivas ...................................................................................................... 11 11 12 14 18 18 21 28 31 44 44 50 58 Apêndice estatístico.......................................................................................................................... 67 Quadros Quadro I.1 Quadro I.2 Quadro I.3 Quadro I.4 Quadro I.5 Quadro I.6 Gráficos Gráfico I.1 Gráfico I.2 Gráfico I.3 Gráfico I.4 América Latina: mudança de prêmios por risco de incumprimento de crédito a cinco anos, 2007-2011 .............................................................................. América Latina (países selecionados): elasticidade do emprego assalariado e do emprego assalariado formal em relação ao produto, 2010 ...................................................................................................... América Latina e Caribe: variação em 12 meses do índice de preços ao consumidor (IPC), do grupo de alimentos e bebidas e dos demais grupos de produtos, de maio de 2010 a maio de 2011 ............................................. América Latina: taxas de variação interanual do comércio internacional segundo principais grupos de produtos, 2008-2011................................................. América Latina (19 países): fluxos financeiros externos, 2007-2010...................... América Latina e Caribe: indicadores fiscais do governo central............................ América Latina e Caribe: taxas de crescimento do PIB, 2011................................. Taxas de crescimento da economia mundial, 2009-2012 ........................................ América Latina: taxas de variação dos componentes do gasto em relação à igual trimestre do ano anterior, 2008-2011 ........................................................... América Latina: taxas de variação anual da formação bruta de capital fixo, 2004-2010 ............................................................................................ 15 24 30 34 44 54 11 13 20 20 4 Gráfico I.5 Gráfico I.6 Gráfico I.7 Gráfico I.8 Gráfico I.9 Gráfico I.10 Gráfico I.11 Gráfico I.12 Gráfico I.13 Gráfico I.14 Gráfico I.15 Gráfico I.16 Gráfico I.17 Gráfico I.18 Gráfico I.19 Gráfico I.20 Gráfico I.21 Gráfico I.22 Gráfico I.23 Gráfico I.24 Gráfico I.25 Gráfico I.26 Gráfico I.27 Gráfico I.28 Gráfico I.29 Gráfico I.30 Gráfico I.31 América Latina (9 países): taxa global de participação e taxa de ocupação, média móvel de quatro trimestres, do primeiro trimestre de 2008 ao primeiro trimestre de 2011 .................................................................................. América Latina (países selecionados): variação do salário médio real no setor formal e do salário mínimo real, 2009-2010 ................................................... América Latina e Caribe: taxas de variação interanual do emprego, segundo categoria de ocupação e ramo de atividade econômica, 2009 e 2010 ...................... América Latina e Caribe: taxas de variação em 12 meses do índice de preços ao consumidor, do item alimentos e bebidas e dos demais componentes, dezembro de 2009-dezembro de 2010 .............................................. América Latina: taxas de variação em 12 meses do índice de preços ao consumidor (IPC) e da inflação correspondente, 2007-2011 .............................. América Latina e Caribe: taxas de variação do IPC em 12 meses em média simples, 2007-2011 ................................................................................. América Latina: estrutura da conta corrente, 2006-2011 ......................................... América Latina: exportações totais segundo o destino, 2006-2011 ......................... América Latina: projeção da taxa de variação do valor das exportações segundo contribuição de volume e preço, 2011 ....................................................... América Latina: projeção da taxa de variação do valor das importações segundo contribuição de volume e preço, 2011 ....................................................... América Latina e Caribe: taxa de variação interanual das chegadas de turistas internacionais, 2009-2011 ...................................................................... América Latina e Caribe: índices de preços dos produtos básicos e manufaturados, 2007-2011.................................................................................... América Latina: variação dos termos de troca, 2009-2011 ..................................... América Latina e Caribe (9 países): variação trimestral interanual das remessas de trabalhadores emigrados, 2009-2011............................................. América do Sul e México: saldo da conta corrente e composição do financiamento externo, 2000-2010 ..................................................................... América Central, Haiti e República Dominicana: saldo em conta corrente e composição do financiamento externo, 2000-2010................................. Caribe: saldo da conta corrente e composição do financiamento externo, 2000-2010 ..................................................................................................................... América Latina: emissões de bônus externos e risco-país, 2004-2011 .................... América Latina e Caribe: evolução da dívida externa bruta, 2000-2010 ................. América Latina e Caribe (países selecionados): taxas de política monetária, 2008-2011 .............................................................................................. América Latina e Caribe (países selecionados): evolução de alguns agregados monetários, 2008-2010 ............................................................................................ América Latina (países selecionados): evolução do crédito total em termos reais, 2008-2010 ........................................................................................... América Latina e Caribe (países selecionados): variação da taxa de câmbio real efetiva, maio de 2011 em comparação com o período 1990-2009 ................... América Latina e Caribe (19 países): variação do espaço fiscal (receita, gasto e dívida do governo central), 2003-2007 e 2007-2010 ............................................ América Latina e Caribe: evolução das contas públicas, 2000-2010....................... América Latina (19 países): contribuição das variações da receita e dos gastos à variação do resultado global, 2009-2010 ................................................... América Latina e Caribe (19 países): receitas do governo central, 1990-2011 ....... 21 22 23 28 29 31 32 33 35 35 36 37 38 39 40 41 42 43 43 45 47 49 50 51 52 53 56 5 Gráfico I.32 Gráfico I.33 Gráfico I.34 Gráfico I.35 Requadros Requadro I.1 Requadro I.2 Requadro I.3 América Latina (países selecionados): evolução da arrecadação tributária em termos reais, sem seguridade social, 2009-2011 ................................................ América Latina: gastos do governo central, 1990-2011 .......................................... América Latina: fluxos de capitais e termos de troca, 1980-2011 ........................... América Latina e Caribe: crescimento do PIB, 2012............................................... 56 57 64 65 Possíveis efeitos para a América Latina e o Caribe do terremoto e tsunami ocorridos no Japão ................................................................................... A evolução da produtividade do trabalho ................................................................ Tendência da conta corrente na América Latina...................................................... 17 25 60 7 APRESENTAÇÃO A edição número 63 do Estudo econômico da América Latina e Caribe corresponde ao biênio 2010-2011, período durante o qual a região da América Latina e Caribe se manteve na senda da reativação de suas economias após a crise financeira e econômica global que golpeou a região na segunda metade de 2008 e em 2009. Esta reativação, apoiada por uma recuperação com características inéditas na economia mundial e pelas políticas macroeconômicas aplicadas na própria região, iniciou-se no segundo semestre de 2009 e mostrou um dinamismo inesperado no ano 2010. Em 2011 a recuperação persistiu, embora o crescimento econômico tenha se desacelerado por razões tanto externas quanto internas. Na primeira parte deste Estudo econômico se analisam as características da reativação e os fatores que explicam sua fortaleza inicial, assim como sua posterior moderação. Destacam-se as diferenças entre os países e as sub-regiões, além dos obstáculos que encontram no contexto de uma economia com abundante liquidez e altos preços dos principais produtos básicos. Mostra-se como a reativação se expressou na evolução da atividade econômica, nos mercados de trabalho e no setor externo, e se examina como as políticas macroeconômicas se ajustaram aos desafios que surgiram no contexto posterior à crise. Por outro lado, se enfatiza a incerteza que caracteriza a economia mundial, os fatores de risco aí gerados para o crescimento da região e os fatores internos que permitem projetar outra, ainda que moderada, desaceleração do crescimento para o ano 2012. Esta primeira parte do Estudo se apoia em um extenso anexo estatístico. Na segunda parte deste Estudo econômico se analisam com detalhe os desafios que apresenta um contexto de elevada liquidez nos mercados financeiros internacionais e altos preços dos produtos básicos mais importantes. Destacam-se os contrastes que implica este contexto externo para países que se caracterizam por marcadas diferenças nas pautas de seu comércio exterior assim como o grau de sua vinculação com os mercados financeiros internacionais e a profundidade de seus sistemas financeiros internos. Revisam-se os instrumentos macroeconômicos à disposição dos formuladores de política neste contexto e se discutem suas vantagens e desvantagens, tanto para enfrentar os obstáculos de curto prazo quanto do ponto de vista do desenvolvimento sustentado de longo prazo. Finalmente, analisa-se a conjuntura dos países da América Latina e do Caribe em 2010 e no primeiro semestre de 2011. As notas de cada país são acompanhadas por quadros que mostram a evolução dos principais indicadores econômicos. Estas notas, como o anexo estatístico específico para cada país, encontram-se publicadas no CD-ROM que se adjunta à versão impressa, assim como na página web da CEPAL (www.cepal.org). Os quadros do anexo estatístico permitem visualizar rapidamente a informação dos últimos anos e criar quadros em páginas eletrônicas. Neste disco encontram-se também as versões eletrônicas da primeira e da segunda parte. A data limite para a atualização da informação estatística da presente publicação foi 30 de junho de 2011. 9 RESUMO EXECUTIVO Logo após a contração observada em 2009, o PIB da América Latina e Caribe cresceu 5,9% em 2010, embora, como característico da região, se evidencie uma grande heterogeneidade ao avaliar o desempenho específico dos países. Este comportamento do PIB esteve impulsionado por um elevado dinamismo da demanda interna, tanto do consumo como do investimento, assim como pelo aumento da demanda de origem externa. Quanto à demanda interna, o crescimento do consumo privado (5,9%) sustentou-se na melhoria dos indicadores do trabalho, tanto em termos de emprego como de salários, nas melhores expectativas em relação ao desempenho da economia, no aumento do crédito para o setor privado e, em alguns países, na recuperação das remessas de emigrantes. O consumo público, por sua vez, expandiu-se a taxas mais moderadas (3,9%) e o investimento aumentou 14,5%, destacando-se o dinamismo em máquinas e equipamentos. Em relação à demanda externa, o crescimento das exportações de bens e serviços foi particularmente notável nos países do MERCOSUL, El Salvador, México, Nicarágua e na República Dominicana, cujas taxas de expansão foram superiores a 10%. Ao mesmo tempo, o mencionado elevado dinamismo da demanda interna regional (7,5%) induziu uma alta, superior a 10%, das importações de bens e serviços a preços constantes. Para 2011 a CEPAL projeta uma taxa de crescimento do PIB regional de 4,7%, o que implica um aumento de 3,6% no PIB por habitante. Este crescimento será o resultado da consolidação da recuperação que as economias da América Latina e do Caribe iniciaram na segunda metade de 2009. Contudo, a perda paulatina do dinamismo da economia internacional e, em alguns casos, a retirada gradual das políticas públicas adotadas na região para enfrentar a crise, contribuiriam para explicar a desaceleração do crescimento em relação ao observado em 2010. Também, e ainda que esteja previsto um contexto externo menos favorável e um entorno interno caracterizado por tensões quanto à evolução de algumas variáveis macroeconômicas que definem complexos dilemas de política para as autoridades econômicas dos países da região, espera-se um crescimento regional de 4,1% para 2012, equivalente a um aumento de 3,0% do produto por habitante. A evolução da atividade das economias da América Latina e do Caribe no futuro próximo se baseia, em grande medida, no impulso do consumo privado, associado, por sua vez, aos melhores indicadores de trabalho e ao aumento do crédito. Ao mesmo tempo, as expectativas favoráveis em relação à evolução da demanda interna e ao esgotamento da capacidade produtiva ociosa, em um contexto de maior disponibilidade de crédito, estão impulsionando um aumento do investimento. De igual forma, a sustentação do crescimento e a consequente maior capacidade de geração de emprego das economias da região antecipam uma nova redução da taxa de desemprego, que em 2011 se projeta entre 6,7 e 7,0%, com o que a taxa de desemprego alcançaria níveis inferiores aos existentes antes da crise. Além disso, a evolução do emprego assalariado formal em uma série de países, que na primeira parte de 2011 estaria aumentando sua participação no emprego total, indica melhora da qualidade dos postos de trabalho criados. Este contexto de crescimento e de melhoria (quantitativa e qualitativa) dos indicadores laborais permite augurar um novo avance nos indicadores de pobreza. Por outro lado, o aumento dos preços dos produtos básicos, e em especial dos alimentos e dos combustíveis, no âmbito de um significativo crescimento da demanda interna, pressiona a alta a taxa de inflação e tem começado a colocar os bancos centrais da região frente ao renovado dilema de priorizar a estabilidade de preços ou tratar de defender em alguma medida a competitividade dos setores produtores de bens exportáveis e substitutivos de importações, em um momento em que a combinação de uma elevada liquidez internacional e da solidez de algumas economias latino-americanas, somada em vários 10 países à maciça entrada de divisas causada pelos altos preços dos produtos básicos de exportação e pelo renovado apetite dos investidores estrangeiros por realizar investimentos nos países emergentes, traduz-se em uma forte pressão à apreciação das moedas locais. A situação descrita apresenta uma série de riscos e dificuldades tanto no curto prazo como no médio e longo prazo. Por um lado, a maior entrada de fluxos financeiros estaria aumentando a vulnerabilidade da região a movimentos de capitais especulativos, com o agravante de que a magnitude dos recursos envolvidos poderia exceder a capacidade dos sistemas financeiros, dando origem a bolhas nos preços dos ativos financeiros e nos mercados imobiliários. Em um horizonte além do curto prazo, a apreciação da taxa de câmbio real pode afetar o componente externo da demanda de bens, especialmente em um cenário de perda de dinamismo do comércio mundial como o que pode derivar-se de uma diminuição do crescimento das nações desenvolvidas como a projetada a meados de 2011. Assim, a ocorrência simultânea de apreciações reais das moedas e de aumentos dos preços dos produtos básicos operam como um incentivo para uma especialização intensiva em produção e exportação de produtos primários, aumentando a vulnerabilidade das economias da região aos choques externos e possivelmente gerando maior volatilidade nos agregados macroeconômicos internos, afetando negativamente a capacidade das economias de crescer, gerar emprego produtivo e de reduzir a desigualdade. Vale a pena reiterar que, embora os riscos não sejam iminentes, a situação deve ser considerada com cautela, o que aconselha aproveitar a conjuntura favorável para fortalecer a posição externa da região e gerar economias no setor público de modo a recuperar o espaço de políticas que se contraiu na crise. Por outro lado, medidas como controles ou limitações quanto à entrada de capitais de curto prazo também contribuiriam a diminuir a vulnerabilidade da economia. Estas recomendações, por outro lado, são compatíveis com a necessidade de conter a apreciação cambial referida anteriormente. Neste sentido, a reconstrução do espaço fiscal resulta de vital importância para os países da região, uma vez que contribuiria não apenas para enfrentar os tradicionais desafios das políticas públicas (necessidade de aumentar o investimento em capital físico e social), mas também a atender alguns desafios que surgem a partir da evolução do cenário internacional. O incremento da poupança do setor público permitiria ter uma política monetária menos contrativa e ajudaria a diminuir a tensão entre as estratégias antiinflacionárias e cambiais. Na segunda parte do documento (na versão em espanhol) se analisam os desafios que emanam de um contexto caracterizado por altos preços de produtos básicos e elevada liquidez que se inclina por ativos latino-americanos. Os países latino-americanos e caribenhos que se encontram nesta situação têm a oportunidade de aproveitar estes recursos para estimular o crescimento de longo prazo, mas enfrentam obstáculos como maior pressão inflacionária, perda de competitividade por processos de apreciação de suas moedas e ameaça de “reprimarização” de sua estrutura produtiva. As economias da região dispõem de uma série de instrumentos para conter os efeitos negativos deste contexto internacional que, além de terem custos associados, não têm efetividade assegurada e podem gerar efeitos secundários não desejados. Neste contexto o desafio para os encarregados da formulação de políticas consiste em conceber a adequada combinação de instrumentos que considere as características específicas da inserção comercial e financeira de cada país para criar um entorno favorável ao investimento, ao emprego e à melhora do bem-estar da população em geral. 11 Capítulo I PANORAMA REGIONAL A. INTRODUÇÃO A CEPAL projeta para 2011 uma taxa de crescimento do PIB regional de 4,7%, que implica um aumento de 3,6% no PIB por habitante. Este crescimento é o resultado da continuidade da recuperação que as economias da América Latina e Caribe iniciaram na segunda metade de 2009, embora a perda paulatina de dinamismo da economia internacional, somada à retirada gradual de algumas das políticas implementadas na região para enfrentar a crise, tenha contribuído a desacelerar o crescimento. Pelas razões mais adiante analisadas, cabe esperar que a região continue crescendo, mesmo em um contexto global menos favorável e com tensões relativas à evolução de algumas variáveis macroeconômicas que dão origem a complexos dilemas de política para as autoridades econômicas dos países da região. Para o próximo ano se espera um crescimento regional de cerca de 4,1%, equivalente a um aumento de 3,0% do produto por habitante. No gráfico I.1 mostra-se que, como ocorrido nos últimos anos, as maiores taxas de crescimento são observadas na América do Sul, com uma taxa projetada de 5,1% para 2011. Espera-se que a subregião centro-americana em seu conjunto, onde se destaca o sustentado crescimento do Panamá, cresça 4,3% e as economias do Caribe 1,9%. Gráfico I.1 AMÉRICA LATINA E CARIBE: TAXAS DE CRESCIMENTO DO PIB, 2011 a (Em porcentagens) Panamá 8,5 Argentina 8,3 Haiti 8,0 Peru 7,1 Uruguai 6,8 Equador 6,4 Chile 6,3 Paraguai 5,7 Colômbia 5,3 Bolívia (Est. Plur. da) 5,3 América do Sul (10 países) 5,1 Rep. Dominicana 5,0 América Latina e Caribe 4,7 Venezuela (Rep. Bol. da) 4,5 América Central (9 países) 4,3 Guatemala 4,0 Nicarágua 4,0 México 4,0 Brasil 4,0 Costa Rica 3,2 Cuba 3,1 Honduras 3,0 El Salvador 2,5 Caribe 1,9 0 1 2 3 4 5 6 7 8 Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em dados oficiais. a Dados preliminares. 9 12 O crescimento das economias da América Latina e do Caribe em 2011 se baseia, em grande medida, em um impulso do consumo privado, que obedece à melhoria dos indicadores de trabalho e ao aumento do crédito. Ao mesmo tempo, o esgotamento da capacidade produtiva ociosa, originado na sustentação da demanda interna, em um contexto de maior disponibilidade de crédito está ocasionando um aumento do investimento que, desta forma, recupera os níveis alcançados antes da crise. Também o crescimento sustentado está repercutindo em forma positiva na capacidade de criação de emprego das economias da região e isto permite esperar uma nova redução da taxa de desemprego, que se projeta entre 6,7 e 7%. Deste modo, a taxa de desemprego poderia situar-se abaixo dos níveis prévios à crise, no âmbito de uma melhoria da qualidade dos postos de trabalho criados, como sugere o aumento da participação do emprego assalariado formal no emprego total, que se observa em uma série de países na primeira parte de 2011. A continuidade do crescimento e a melhora (quantitativa e qualitativa) dos indicadores de trabalho permitem augurar uma nova queda dos indicadores de pobreza. A subida dos preços internacionais de alimentos e combustíveis, no contexto de aumento da demanda interna tem propiciado o surgimento de pressões inflacionárias. Como consequência, se aprecia um relativo endurecimento da política monetária em vários países da região, que tende a incrementar o diferencial entre as taxas de juros internas e as internacionais, o que, em uma conjuntura caracterizada por uma enorme liquidez internacional, pressiona em direção à apreciação das moedas regionais. Os países da região continuam incrementando suas reservas internacionais, mas este aumento já não responde tanto ao saldo em conta corrente (que na maioria dos países é crescentemente deficitário), mas ao resultado da conta financeira e, em especial, das operações de menor prazo relativo. Considerando a importância destes temas, tanto para a administração da política macroeconômica de curto prazo como para a alocação de recursos e a definição dos padrões de especialização produtiva, os capítulos conceituais deste documento se dedicam à análise da política macroeconômica e, em particular, de suas consequências sobre a paridade cambial, sob diferentes modalidades de inserção na economia internacional. O restante deste capítulo está estruturado do seguinte modo: na seção B se analisa a situação que a economia internacional atravessa; na seção C se estuda o comportamento dos principais agregados macroeconômicos internos e externos, enquanto a seção D se dedica a analisar as políticas macroeconômicas e os desafios que a região enfrenta neste sentido, assim como a avaliar as perspectivas quanto ao crescimento econômico. B. ECONOMIA INTERNACIONAL O produto mundial se recupera mais lentamente que o esperado dos efeitos da crise financeira global, o que obrigou a revisar as estimativas sobre a evolução do nível de atividade global. Para 2011 se projeta um crescimento de 3,3% e para 2012 se estima um crescimento de 3,6%1. O escasso dinamismo observado na economia mundial e especialmente nos países mais desenvolvidos está indubitavelmente ligado às dificuldades desses mercados financeiros, associadas, entre outros fatores, à redução do endividamento das famílias, às debilidades do mercado imobiliário e aos problemas em relação às dívidas soberanas de alguns países europeus. Ao mesmo tempo, a crescente preocupação pela sustentabilidade da dívida pública das mencionadas economias está ocasionando um viés crescentemente austero nas finanças públicas, o que agrega outro elemento negativo às perspectivas de crescimento. 1 Veja Nações Unidas, World Economic Situation and Prospects. Monthly Briefing, Nº 32, Nova York, Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais (DAES), junho de 2011. 13 Gráfico I.2 TAXAS DE CRESCIMENTO DA ECONOMIA MUNDIAL, 2009-2012 (Em porcentagens) 8 7,4 6,2 6,2 5,9 6 4,7 3,9 4 4,1 3,6 3,3 2,5 2,4 2,0 2,4 2011 a 2012 b 2 0 -2 -2,1 -2,1 -4 -3,7 -6 2009 Mundo 2010 Países desenvolvidos Países em desenvolvimento América Latina e Caribe Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em dados oficiais. a Dados preliminares. b Projeções. Espera-se uma taxa de crescimento de 2% para o conjunto de economias desenvolvidas durante 2011, que poderia incrementar-se a 2,4% em 2012. Pelas razões antes mencionadas, prevê-se uma frágil recuperação da economia estadunidense, cuja taxa de crescimento se projeta em 2,6% para 2011 (2,8% em 2012). A economia japonesa, severamente afetada pelo terremoto, maremoto e pelos problemas associados à geração de energia nuclear, se recuperará muito lentamente, pelo que se estima que a taxa de crescimento de 2011 se situará em 0,7% (2,8% em 2012). Na Europa, no entanto, se observa uma grande disparidade quanto às perspectivas de crescimento. Por conseguinte, com base em um crescimento projetado para o agregado regional de 1,85% em 2011 (1,9% para 2012), se espera que a Alemanha e os países nórdicos cresçam mais que a média, enquanto os países mais severamente afetados por problemas de dívida soberana e de índole fiscal continuem atravessando um período de baixo crescimento ou de recessão. As economias em desenvolvimento liderarão o crescimento global, com 6,2% de crescimento estimado em 2011 (6,2% em 2012). Dentro deste grupo, se destaca o crescimento estimado para a China (9,1% em 2011 e 8,9% em 2012) e a Índia (8,1% em 2011 e 8,2% em 2012), em um contexto de crescimento generalizado superior às taxas médias esperadas para a economia mundial. 14 1. O contexto financeiro internacional e seu efeito sobre as economias da região Ao longo de 2010, vieram se intensificando os problemas de um grupo de países (Espanha, Grécia, Irlanda, Itália e Portugal) caracterizados por posições fiscais estruturalmente deficitárias e níveis de poupança privada muito baixos, situação que gerou um aumento contínuo da dívida pública e um déficit sustentado em conta corrente2. Esta situação derivou em uma série de episódios críticos na Grécia, Irlanda e Islândia, cujo processo de resgate requereu a criação de uma instituição especial (o Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF)), assim como a participação do Fundo Monetário Internacional (FMI), do Banco Central Europeu (BCE) e de governos de países em melhor situação financeira. Estas turbulências também afetaram outros países de menor tamanho da zona do euro (os denominados países periféricos) e países europeus que não pertencem a essa zona. Ao mesmo tempo, nos Estados Unidos se adotaram medidas monetárias para permitir um saneamento ordenado das carteiras de empréstimos de qualidade inferior e do sistema financeiro em geral, que havia sido afetado pela recessão derivada da crise financeira. Em consequência, em 2010 começou a serem observados alguns sintomas de melhoria na economia desse país, embora a lentidão da recuperação tenha determinado que a Reserva Federal dos Estados Unidos mantivesse a taxa de referência da política monetária em níveis historicamente baixos. O Japão, por seu lado, afetado por uma estagnação que tem durado vários anos, durante 2010 manteve uma política monetária orientada à recuperação de sua economia, com taxas de juros muito baixas. Em contraste com este panorama, os países emergentes mostraram uma pronta recuperação da crise e muitos deles o fizeram com baixos níveis de endividamento público e sistemas financeiros solventes, pelo que sua posição relativa comparada com as economias desenvolvidas aparecia claramente fortalecida. Isto se expressou em menores riscos percebidos na região em relação aos países desenvolvidos, antes considerados mais sólidos. O resultado deste conjunto de fatores foi uma expansão da liquidez global, que se expressou numa perda de valor das principais moedas de reserva, em especial do dólar3. Em contrapartida, se registrou um incremento dos fluxos financeiros em direção à região, incluindo o investimento estrangeiro direto (IED), e uma apreciação real e nominal, em alguns casos, das moedas locais. Não obstante, esse não foi o único choque externo que afetou a região. O dinamismo das economias emergentes traduziu-se em uma renovada fortaleza da demanda de produtos básicos, que gerou uma alta dos preços dos metais, dos hidrocarbonetos e dos alimentos reforçada pela perda de valor das principais moedas de reserva. Deste modo, se exacerbaram as pressões para a apreciação das moedas dos países que são exportadores líquidos destes bens, ao mesmo tempo em que se incrementavam as pressões inflacionárias. 2 3 O caso mais grave foi o da Grécia, com altos níveis de endividamento público, déficit fiscal estrutural de 12,5% do PIB e déficit em conta corrente externa próximo a 14% do PIB. Veja as medições da posição fiscal estrutural e da conta corrente destes países na base de dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), World Economic Outlook Database, abril de 2010. No caso da zona do euro, decidiu-se esterilizar os efeitos monetários das intervenções, tendo como prioridade melhorar a liquidez dos ativos bancários mais que estimular a demanda agregada. Consequentemente, essa moeda mostrou menor debilidade que o dólar. 15 Quadro I.1 AMÉRICA LATINA: MUDANÇA DE PRÊMIOS POR RISCO DE INCUMPRIMENTO DE CRÉDITO A CINCO ANOS, 2007-2011 a (Em pontos básicos) Primeiro semestre de 2007 Segundo semestre de 2007 Primeiro semestre de 2008 Segundo semestre de 2008 Primeiro semestre de 2009 Segundo semestre de 2009 2010 Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro 2011 Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Argentina Brasil Chile Colômbia México Panamá Peru 208,1 429,3 574,6 2 454,1 3 001,1 1 230,2 81,0 100,2 130,0 231,0 285,4 131,2 15,0 24,1 60,3 146,2 188,8 76,0 94,9 133,1 170,7 247,5 329,1 160,1 37,6 58,9 106,4 215,7 320,8 158,2 72,7 112,0 154,6 245,1 331,8 151,8 78,3 109,2 128,9 231,4 307,1 138,0 Venezuela (República Bolivariana da) 190,1 410,6 576,7 1 575,9 1 956,1 1 149,3 1 027,4 1 150,6 902,8 850,4 1 212,3 986,9 793,6 945,7 750,5 625,1 735,0 601,9 144,0 130,2 130,5 123,7 135,8 139,9 116,9 131,5 115,9 99,8 123,4 111,3 76,7 74,2 82,9 84,2 103,4 104,5 77,9 77,9 73,9 67,9 93,6 84,4 168,2 157,0 150,1 146,2 163,4 152,2 123,8 137,8 117,8 100,3 125,7 112,7 150,3 126,8 116,2 115,1 133,6 137,5 116,9 143,8 122,0 105,8 125,8 113,6 155,6 141,9 126,6 115,6 129,4 135,0 108,5 114,1 112,2 94,1 115,6 98,7 145,4 131,6 127,8 121,5 135,2 136,5 109,3 116,3 120,5 107,3 131,8 113,0 1 020,1 1 026,9 927,9 899,7 1 431,0 1 367,6 1 040,3 1 267,8 1 133,0 1 073,5 1 268,8 1 015,9 625,0 658,0 591,8 586,8 602,8 118,9 118,0 111,2 105,4 104,1 82,2 78,4 61,3 59,4 67,9 120,0 119,9 108,5 100,2 100,5 122,0 114,5 105,4 98,5 102,9 107,2 104,2 90,8 84,2 84,3 112,7 113,3 137,8 154,5 132,9 1 045,1 1 122,3 1 015,3 1 023,1 1 110,4 Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras oficiais. a Os dados de 2011 correspondem aos primeiros cinco meses. Durante 2011 esta complexa conjuntura externa se mantém, com indícios inclusive de um possível agravamento. Nos Estados Unidos, a prioridade continua sendo a recuperação dos níveis do produto e do emprego, considerada também uma das condições necessárias para o saneamento do sistema financeiro. Além disso, o entorno de baixas expectativas inflacionárias tem permitido às autoridades monetárias assinalar que no prazo imediato e até meados de 2012 não esteja prevista uma retirada do estímulo monetário4. Embora as autoridades fiscais se encontrem em um prolongado processo de negociação para a redução do déficit, não se antecipam ajustes tão pronunciados como os adotados pelos países europeus. Em consequência, cabe esperar que a liquidez global originada nos Estados Unidos se mantenha no segundo semestre de 2011. Na Europa, e na zona do euro em particular, o foco da política macroeconômica aplicada até este momento é muito diferente. À diferença do ocorrido nos Estados Unidos, as consequências monetárias das medidas destinadas a atender a crise financeira foram em sua maioria esterilizadas. Além disso, o BCE iniciou em abril de 2011 um processo de aumento de taxas, 4 A necessidade de manter os estímulos monetários até que a economia mostre sinais mais claros de recuperação tem sido defendida com inusitado rigor por Paul Krugman, “Inflation and economic Hooliganism”, New York Times, 11 de maio de 2011. 16 devido à elevação das expectativas inflacionárias. As projeções indicam que os níveis de inflação estarão situados em torno de 3%, o que excede a meta de 2% anual estabelecida por este banco, pelo que não se espera uma mudança na orientação da estratégia da entidade no curto prazo. A política fiscal na zona do euro, por sua vez, privilegia a recuperação da solvência como prérequisito da reativação econômica, embora no curto prazo estes ajustes orçamentários tenham efeitos recessivos. As crescentes dúvidas sobre a sustentabilidade da dívida de vários países levaram à implementação de drásticas medidas de corte de gastos, supondo que, no médio prazo, a confiança na estabilidade e na solvência pública estimularia o investimento e o emprego. Não obstante, os problemas relativos à sustentabilidade da dívida pública nos países mais comprometidos não estão solucionados. Em especial, se destaca o caso da Grécia, que voltou a ser fonte de incertezas ao constatar-se que as medidas adotadas para cumprir as metas fiscais comprometidas no plano estabelecido com o FMI, o BCE e o FEEF não surtirão o efeito desejado em termos de redução do déficit, pelo que o desembolso dos fundos contemplados na etapa posterior estaria em risco. Deste modo, tanto as autoridades desse país quanto expertos em finanças internacionais têm indicado a necessidade de reestruturar a dívida (isto é, reduzir o valor atual da dívida em poder dos credores), a fim de diminuir a carga do serviço da dívida e aumentar as probabilidades de cumprimento, evitando assim o círculo vicioso derivado de uma contração fiscal com efeitos recessivos no curto prazo, que agravaria o déficit interno. Os problemas que esta proposta determina para o patrimônio do BCE (um dos credores após o processo de resgate), assim como o temor sobre o contágio de outros países sobre-endividados postergam a implementação de uma solução deste tipo. No imediato, apesar de que a política monetária do BCE pudesse fortalecer o euro, a falta de resolução dos problemas de dívida soberana causa uma grande incerteza sobre o futuro desta zona, que continuará incentivando o fluxo de recursos financeiros a zonas mais seguras e rentáveis do mercado financeiro global. O rebaixamento na qualificação da dívida soberana de alguns destes países no segundo trimestre de 2011 favorece ainda mais a possível saída de recursos financeiros desta área. No Japão, as implicações dos desastres naturais sobre o nível de atividade e do gasto público afetaram negativamente a qualidade da dívida soberana. Ao mesmo tempo, as autoridades econômicas mantêm os objetivos de evitar a apreciação da moeda e estimular a recuperação, pelo que se espera que a política monetária continue orientada a aumentar a liquidez. Deste modo, há uma tendência a ver-se consolidado um panorama global com acentuados contrastes entre as políticas macroeconômicas adotadas em centros econômico-financeiros decisivos. Isso permite antecipar um cenário de sustentada afluência de recursos financeiros aos países emergentes, com as conseguintes tendências à apreciação real das moedas, elevados preços dos produtos básicos e crescentes pressões inflacionárias. No entanto, prevalecem incertezas, particularmente em relação à sustentabilidade da dívida pública de alguns países europeus altamente endividados, assim como quanto ao momento em que os Estados Unidos alcançarão um ritmo de recuperação econômica que permita mudanças em sua política monetária. 17 Requadro I.1 POSSÍVEIS EFEITOS PARA A AMÉRICA LATINA E O CARIBE DO TERREMOTO E TSUNAMI OCORRIDOS NO JAPÃO Como sucedido em desastres naturais anteriores, o terremoto e maremoto (tsunami) ocorridos em 11 de março de 2011 no Japão terão repercussões econômicas profundas e duradouras no âmbito local, mas seus efeitos para a economia mundial serão de menor duração. Mesmo assim, embora a atividade econômica das zonas afetadas represente uma fração inferior a 4% da economia japonesa, a destruição de parte da capacidade de geração elétrica teve consequências sistêmicas que influem no conjunto da economia do Japão. A experiência com o terremoto ocorrido em Kobe em 1995 mostrou a rápida capacidade de recuperação da economia japonesa. Ainda que no curto prazo tenha havido uma significativa queda da produção, os esforços de reconstrução rapidamente impulsionaram a recuperação da atividade e em um prazo relativamente breve se restauraram a infraestrutura e as moradias destruídas. No caso atual, o fenômeno natural foi muito mais intenso que o de 1995 e mesmo prevendo que depois de um período de contração ocorrerá a retomada da atividade econômica, o tsunami e a conseguinte deterioração das centrais elétricas nucleares ameaçam com postergar esta dinâmica e poderiam causar efeitos mais extensos sobre a produção. De fato, a redução da capacidade de geração de eletricidade, não só nas instalações diretamente afetadas, mas também naquelas fechadas preventivamente ante a alta probabilidade de novos fenômenos sísmicos num prazo imediato, tem provocado efeitos negativos nas demais indústrias, sobretudo no setor automobilístico, em autopeças, eletrônica e em produção de semicondutores. Em vários casos o suprimento de insumos foi interrompido temporariamente, afetando tanto a produção do país quanto a de outros países integrantes das cadeias globais de produção em que o Japão assume um papel fundamental. As estimativas indicam que por causa destes fatores o nível de produto poderia contrair-se entre 1 e 3%, para voltar a um nível levemente positivo em 2012. Em consequência disso, o crescimento global em 2011 será reduzido em meio ponto percentual. As implicações para a América Latina e o Caribe, como em crises externas prévias, serão transmitidas por canais comerciais e financeiros. No plano comercial, é muito provável que num prazo imediato a interrupção da operação normal nos canais de transporte e distribuição e a contração da atividade econômica interna do Japão se traduzam em menores importações, mas no médio prazo, à medida que prime o esforço de reconstrução, as importações de matérias-primas e combustíveis deveriam recuperar-se. A região da América Latina e Caribe dirigiu ao Japão cerca de 3,6 e 3,8% de suas exportações em 2008 e 2009 respectivamente, ou seja, um valor que poderia ser considerado baixo. As exportações do Chile, Bolívia (Estado Plurinacional da) e do Peru com destino ao Japão superam a média regional, porém num ambiente de dinamismo da demanda em nível global e ao tratar-se de minérios e hidrocarbonetos, seria possível redirecioná-las a outros mercados, compensando a redução da demanda do Japão. Em valores absolutos, o Brasil e o Chile são os principais exportadores regionais ao Japão, seguidos pelo Peru, México e pela Argentina. No âmbito dos serviços, a região registra uma baixa participação das exportações dirigidas ao Japão. Em particular, é baixa a participação do turismo de origem japonês nas exportações de serviços turísticos dos países do Caribe. Por outro lado, o investimento estrangeiro direto que chega à região proveniente do Japão em 2010 alcançou 3% do total e recentemente tem adquirido algum significado no Brasil (5% do total), como também no Chile e no Peru em anos anterioresa. Historicamente o IED tem sido orientado a áreas de recursos minerais (Brasil, Chile, Peru) e nos últimos tempos também à provisão de serviços financeiros (Brasil). A orientação de longo prazo das motivações deste investimento não permite prever uma mudança radical devida ao terremoto no Japão. No que se refere aos efeitos sobre o investimento em carteira e outros fluxos de caráter financeiro que chegam à região como consequência do terremoto no Japão, as análises indicam uma possível intensificação das tendências prévias, que se expressam em algumas incertezas quanto ao curso futuro da dívida pública no Japão e nos Estados Unidos, e a exigência de maiores rendimentos (taxas de juros implícitas) aos títulos financeiros, o que afetaria o custo do financiamento para a região. 18 Requadro I.1 (conclusão) Certamente o Japão tem experimentado um contínuo aumento de sua dívida pública, como resultado de sustentados déficits e baixo ou nulo crescimento econômico, o que tem se traduzido em um escasso incremento de sua receita tributária. Em termos brutos a dívida pública alcança magnitudes próximas a 225% do PIB, embora quando se desconta a porção detida pelos organismos governamentais se reduza a 100% do PIB, cifra comparável com a de outros países desenvolvidos. No entanto, à diferença de outros países, a maior parte da dívida pública do Japão está em mãos de seus próprios residentes. Mesmo assim, as tendências indicam uma deterioração no curto prazo, devido a uma perda de receita tributável que poderia ser atribuída à projetada redução dos níveis de atividade e ao maior gasto público destinado à reconstrução. Por outro lado, no médio e longo prazo, o contínuo envelhecimento da população continuará pressionando o ritmo de gasto em pensões e saúde. Estes fatores levaram as agências qualificadoras de risco a rebaixar a perspectiva da qualidade da dívida soberana do Japão. Depois da China, o Japão é o principal possuidor da dívida dos Estados Unidos. Inicialmente estimou-se que os possuidores privados venderiam parte destes ativos para financiar a reconstrução e cobrir os seguros comprometidos por parte das companhias de seguros que mantêm esses bônus. Em consequência, nas primeiras semanas após o sismo observou-se uma apreciação do yen, que teve de ser compensada por meio da intervenção dos bancos centrais do Grupo dos Sete (G-7). Contudo, as análises, indicam que as companhias de seguros dispõem de recursos correntes suficientes (fluxo de prêmios) para fazer frente aos pagamentos correspondentes ao terremoto, pelo que a liquidação de ativos financeiros seria em escala inferior à antecipada inicialmente. No médio prazo, por sua vez, o envelhecimento da população do Japão permite projetar uma tendência ao consumo da poupança, e, em consequência, a uma menor demanda de ativos financeiros, dentre eles bônus do Tesouro dos Estados Unidos, pressionando ao aumento do custo financeiro da dívida em nível global. O resultado final dependerá de um conjunto de fatores relativos às finanças públicas globais, que no curto e médio prazo, em especial no caso dos países desenvolvidos, continuarão afetadas negativamente pelas medidas adotadas para enfrentar a recente crise financeira global. Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL). a Veja CEPAL, La inversión extranjera directa en América Latina y el Caribe, 2010, Santiago do Chile, 2011. C. ASPECTOS DESTACADOS DA EVOLUÇÃO RECENTE DAS ECONOMIAS DA AMÉRICA LATINA E DO CARIBE 1. Os agregados macroeconômicos O PIB regional cresceu 5,9% em 2010, embora com grande heterogeneidade quanto ao desempenho dos países. Os maiores crescimentos foram os dos membros do Mercado Comum do Sul (MERCOSUL) —Argentina (9,2%), Brasil (7,5%), Paraguai (15,0%) e Uruguai (8,5%)—, além do Panamá (7,5%), Peru (8,8%) e da República Dominicana (7,8%). No entanto, o Haiti (-5,1%) e a Venezuela (República Bolivariana da) (-1,4%) registraram quedas do PIB devidas, no primeiro caso, ao efeito negativo que o terremoto, que afetou o país em janeiro de 2010, teve na atividade econômica. No caso da Venezuela (República Bolivariana da), a queda do PIB obedeceu à redução da demanda interna, derivada da perda de receitas do governo por exportações de petróleo e do racionamento elétrico estabelecido no primeiro semestre por causa da intensa seca. Por sub-regiões, a América do Sul registrou um crescimento de 6,4% enquanto a América Central mostrou uma expansão de 4%5. Os países do Caribe, por sua vez, cresceram 0,4%, destacando-se a queda do PIB da Jamaica (-1,3%), a estagnação de Barbados (0,3%) e o baixo dinamismo de Trinidad e Tobago (2,5%), economias que representam cerca de 70% do PIB dessa sub-região. 5 Este cálculo inclui Costa Rica, Cuba, El Salvador, Guatemala, Haiti, Honduras, Nicarágua, Panamá e República Dominicana. 19 O crescimento do PIB esteve impulsionado pelo elevado dinamismo da demanda interna, tanto em matéria de consumo quanto de investimento, e também pelo aumento da demanda externa. O crescimento do consumo privado (6,0%) deveu-se à melhoria dos indicadores de trabalho em termos de emprego e salários, às melhores expectativas sobre o desempenho das economias, ao aumento do crédito ao setor privado e, em alguns países, à recuperação das remessas de emigrantes, enquanto o consumo público expandiu-se a taxas mais moderadas (3,9%). O investimento aumentou 14,3%, destacando-se o dinamismo do setor de máquinas e equipamentos. Como porcentagem do PIB, a formação bruta de capital fixo aumentou de 20,3% em 2009 para 21,4% em 2010, ainda inferior ao crescimento de 22,1% registrado em 2008. O desempenho das exportações de bens e serviços foi particularmente destacado nos países do MERCOSUL, El Salvador, México, Nicarágua e na República Dominicana, onde se expandiram a taxas superiores a 10%. Ao mesmo tempo, o elevado dinamismo da demanda interna regional (7,5%) refletiu-se no aumento das importações de bens e serviços que, a preços constantes, cresceram a taxas superiores a 10%, destacando-se o aumento das importações de bens de capital e de bens de consumo duráveis, em particular, de automóveis. Dentre os setores da atividade econômica, destacou-se o desempenho do comércio, dos serviços financeiros, dos serviços a empresas e do setor de transporte e comunicações, que cresceram em forma generalizada. Em contraste, no setor produtivo alguns segmentos como a mineração, a indústria e a agricultura tiveram desempenhos heterogêneos. O setor agrícola registrou crescimentos importantes nos países do MERCOSUL, devidos às boas colheitas obtidas graças à normalização das condições climáticas. A atividade de extração mineral cresceu no Brasil, Colômbia (em ambos os casos, devido ao aumento da produção de petróleo) e na Bolívia (Estado Plurinacional da) (pela produção de gás natural). Contudo, a atividade industrial expandiu-se a taxas mais elevadas que a média na Argentina, Brasil, Colômbia, México e no Peru. A renda nacional bruta disponível da região incrementou-se 7,6%, graças à melhora, em média, dos termos de troca e à recuperação das entradas de remessas de emigrantes6. Em dólares correntes, o investimento aumentou para 21,6% do PIB, de 19,8% do PIB registrado em 2009. A pesar de o crescimento do consumo privado, medido em porcentagem do PIB, a poupança nacional também ter aumentado (de 19,5% em 2009 para 20,5% em 2010), a poupança externa aumentou para 1,2% do PIB. Os dados disponíveis indicam que a atividade econômica tem mantido seu dinamismo na primeira metade de 2011. Em vários países, as taxas de crescimento do primeiro trimestre de 2011 mantêm-se em níveis similares aos registrados ao longo de 2010 e se projeta uma taxa regional de crescimento do PIB em 4,7% para 2011. 6 Como porcentagem do PIB, o ganho derivado dos termos de intercâmbio em 2010 situou-se em 3,4%. Os países exportadores de petróleo, assim como os de minerais e metais, foram os mais beneficiados e em quase todos os países da América Central (Costa Rica, El Salvador, Honduras, Panamá e República Dominicana) o efeito dos termos de intercâmbio foi negativo. 20 Gráfico I.3 AMÉRICA LATINA: TAXAS DE VARIAÇÃO DOS COMPONENTES DO GASTO EM RELAÇÃO AO MESMO TRIMESTRE DO ANO ANTERIOR, 2008-2011 a (Em porcentagens e em dólares constantes de 2005) 35 35 30 30 25 25 20 20 15 15 10 10 5 5 0 0 -5 -5 -10 -10 -15 -15 -20 -20 -25 -25 I II III IV I 2008 II III IV I 2009 II III IV 2010 I 2011 Consumo privado Consumo do governo geral Formação bruta de capital fixo Exportações de bens e serviços Importações de bens e serviços PIB Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em dados oficiais dos países. a Os dados de 2011 correspondem ao primeiro trimestre. Gráfico I.4 AMÉRICA LATINA: TAXAS DE VARIAÇÃO ANUAL DA FORMAÇÃO BRUTA DE CAPITAL FIXO, 2004-2010 (Em dólares constantes de 2005) 15 10 5 0 -5 -10 -15 2004 2005 2006 Construção 2007 2008 2009 2010 Máquinas e equipamentos Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em dados oficiais dos países. 21 2. O mercado de trabalho e os salários A reativação do nível de atividade registrada em 2010 incidiu em um aumento da taxa de ocupação de 0,6 pontos percentuais, alcançando assim um novo máximo histórico, de 54,9%7. Como pode ser observado no gráfico I.5, a taxa de ocupação começou uma vigorosa recuperação a partir do primeiro trimestre de 2010, embora não tenha sido um comportamento geral, já que de 14 países com dados comparáveis, só 8 países registraram aumento deste indicador: Argentina, Bolívia (Estado Plurinacional da), Brasil, Colômbia, Nicarágua, Peru, República Dominicana e Uruguai. Outra variável cujo comportamento mudou radicalmente em 2010 foi a taxa de participação, que registrou um incremento de 0,3 pontos percentuais. Dado que em muitos países a oferta de trabalho mostra um comportamento pró-cíclico, pode-se interpretar que a percepção de mais opções de trabalho surgida no âmbito da reativação econômica incidiu neste incremento. Como mostrado no gráfico I.5, o repontar da participação começou a ser observado no quarto trimestre de 2009 e foi mantido até o quarto trimestre de 2010, mas registrou uma leve queda na primeira parte de 2011, que poderia refletir uma redução da oferta de trabalho para os jovens8. Gráfico I.5 AMÉRICA LATINA (9 PAÍSES): TAXA GLOBAL DE PARTICIPAÇÃO E TAXA DE OCUPAÇÃO, MÉDIA MÓVEL DE QUATRO TRIMESTRES, DO PRIMEIRO TRIMESTRE DE 2008 AO PRIMEIRO TRIMESTRE DE 2011 a (Em porcentagens) 60,0 55,6 59,9 55,4 59,8 55,2 59,7 55,0 59,6 54,8 59,5 54,6 59,4 54,4 59,3 54,2 Trim 1 Trim 2 Trim 3 2008 Trim 4 Trim 1 Trim 2 Trim 3 2009 Taxa global de participação (eixo esquerdo) Trim 4 Trim 1 Trim 2 Trim 3 Trim 4 Trim 1 b 2010 2011 Taxa de ocupação (eixo direito) Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em dados oficiais dos países. a Os dados de cada trimestre representam o valor médio do ano móvel (quatro trimestres) que termina nesse trimestre. b Os dados de 2011 são preliminares. 7 8 À diferença da série publicada anteriormente, esta taxa regional foi calculada utilizando os dados de ocupação em nível nacional em todos os casos em que esta informação esteja disponível. Durante 2010, em vários países (dentre eles, Argentina, Brasil, Colômbia e Venezuela (República Bolivariana da)) a participação laboral dos jovens caiu mais ou subiu menos que a dos adultos, o que pode ser devido à tendência de longo prazo a incrementar a permanência dos jovens no sistema educativo. 22 Em 2010, a aceleração do incremento da oferta de trabalho atenuou o efeito do aumento do nível de ocupação na taxa de desemprego urbano, que caiu de 8,1% para 7,3% e retornou ao nível de 2008, o mais baixo dos últimos 20 anos. Em termos absolutos, o número de ocupados nas zonas urbanas da região aumentou em 6,4 milhões em 2010 enquanto o número de desempregados reduziu-se em 1 milhão de pessoas, o que significa um total de 17,1 milhões de desempregados urbanos. O aumento da demanda laboral, que reflete o incremento da taxa de ocupação, também influiu na diminuição das taxas de subemprego. No âmbito da reativação econômica de 2010, os salários reais, por sua vez, continuaram crescendo, embora a taxas inferiores às observadas em 2009, dado o ressurgimento da inflação (veja o gráfico I.6)9. Considerando um incremento de 2,8% no número de ocupados e um aumento médio real dos rendimentos do trabalho estimado em 2,6% (média ponderada), a massa dos rendimentos do trabalho teria subido cerca de 5,5%, o que teria sido um importante fator de impulso da demanda interna10. Gráfico I.6 AMÉRICA LATINA (PAÍSES SELECIONADOS): VARIAÇÃO DO SALÁRIO MÉDIO REAL NO SETOR FORMAL E DO SALÁRIO MÍNIMO REAL, 2009-2010 (Em porcentagens) 8 6 4 2 0 -2 -4 -6 Salário médio Venezuela (Rep. Bol. da) Uruguai Peru Paraguai Panamá Nicarágua México Guatemala Costa Rica Colômbia Chile Brasil -8 Salário mínimo Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras oficiais. 9 10 Os salários mínimos cresceram levemente, menos de 2% em termos reais, para a mediana das variações de 19 países, depois de ter-se expandido significativamente no ano anterior (veja o quadro A-26), embora com maior dispersão, que reflete diferenças nas políticas de renda dos países. Para alguns países, nesta estimativa se consideram medições mais amplas que as apresentadas no gráfico I.6 e no quadro A-25, que se referem a salários do setor formal. 23 Os diferentes ritmos de crescimento da atividade econômica observados em 2010 derivaram em taxas de geração de emprego muito variadas em nível sub-regional. No conjunto de países sulamericanos, a taxa de ocupação (média simples de sete países com dados comparáveis) subiu 0,4 pontos percentuais, enquanto no México e na América Central (média de seis países) se contraiu 0,2 pontos percentuais e no Caribe (três países) caiu 1,3 pontos percentuais. Também foi observada maior geração de emprego assalariado (veja o gráfico I.7), enquanto o crescimento do emprego por conta própria se desacelerou. Dentre os países nos quais houve um aumento da participação do emprego assalariado no emprego total, destacam-se os casos da Argentina, Brasil, Costa Rica, Equador e Panamá, enquanto no Brasil, Chile, Nicarágua e no Uruguai, se observaram elevadas taxas de crescimento do emprego assalariado formal. No que diz respeito à evolução setorial do emprego, embora o número de ocupados em atividades terciárias e na agricultura tenha continuado crescendo, o traço característico de 2010 foi a recuperação do emprego na indústria de manufaturas e na construção. Gráfico I.7 AMÉRICA LATINA E CARIBE: TAXAS DE VARIAÇÃO INTERANUAL DO EMPREGO, SEGUNDO CATEGORIA DE OCUPAÇÃO E RAMO DE ATIVIDADE ECONÔMICA, 2009 E 2010 (Em porcentagens) Total Setor agropecuário Indústria de manufaturas Construção Comércio Serviços básicos Serviços financeiros Outros serviços Outros ramos de atividade Assalariados Serviço doméstico Trabalhadores autônomos Trabalhadores não remunerados Outras categorias Total -4 -2 0 2009 2 4 2010 a Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em dados oficiais dos países. a Dados preliminares. 24 A elasticidade do emprego assalariado em relação ao produto foi de 0,56 para a média de oito países com informação, o que determinou que a geração de emprego fosse acompanhada por um incremento significativo da produtividade média do trabalho (veja o quadro I.2). No caso da elasticidade do emprego formal em relação ao produto, esta foi ainda mais elevada, alcançando para a média de 10 países um valor de 0,83. Quadro I.2 AMÉRICA LATINA (PAÍSES SELECIONADOS): ELASTICIDADE DO EMPREGO ASSALARIADO E DO EMPREGO ASSALARIADO FORMAL EM RELAÇÃO AO PIB, 2010 Brasil Chile Elasticidade do emprego assalariado em relação ao PIB Elasticidade do emprego assalariado formal em relação ao PIB 0,57 0,81 … 1,17 Colômbia 0,60 1,03 Costa Rica 0,88 0,78 Equador 0,86 1,34 ... 0,65 México 0,34 0,72 Panamá 0,47 0,64 Peru 0,25 0,48 República Dominicana 0,50 ... ... 0,66 Guatemala Uruguai Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em dados oficiais dos países. Neste começo de 2011, a região em conjunto tem mantido um elevado dinamismo na geração de emprego e na redução do desemprego. Para a média ponderada de nove países, a taxa de ocupação continua crescendo de maneira significativa, 0,4 pontos percentuais em comparação interanual. Ainda que seja uma taxa inferior à alcançada no repontar ocorrido após a crise, uma vez que a taxa de participação caiu levemente, este aumento tem um efeito marcante na taxa de desemprego que, no grupo de países para os quais se dispõe de informação, diminuiu 0,7%. Cabe assinalar que o incremento do emprego está relacionado com o dinamismo da geração de emprego formal. Para o total do ano prevê-se uma nova queda da taxa de desemprego urbano regional, que poderia baixar de 7,3% para uma faixa entre 6,7 e 7,0%. No primeiro semestre de 2011, os salários reais continuaram crescendo a taxas similares às de 2010, já que, embora seja observado um aumento da taxa de inflação causado especialmente pelas subidas de preços dos alimentos e dos combustíveis, isto ocorre num contexto de elevada demanda laboral, taxas de desemprego decrescentes, escassez específica de trabalhadores especializados e de incrementos da produtividade no trabalho. 25 Requadro I.2 A EVOLUÇÃO DA PRODUTIVIDADE DO TRABALHO Uma característica do desenvolvimento econômico da América Latina e do Caribe durante os anos oitenta e noventa foi que a região não avançou na redução das marcadas brechas de produtividade da mão de obra em relação a países mais desenvolvidos. No início da década de 2000 esta brecha inclusive novamente se ampliou, tanto em comparação com os países membros da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) como com a média mundial (veja o gráfico 1). Esta situação mudou a partir de 2004, quando a produtividade laboral média da região começou a crescer a taxas similares às do mundo em seu conjunto e superiores às da OCDE. Gráfico 1 AMÉRICA LATINA E CARIBE PAÍSES MIEMBROS DE LA OCDE Y MUNDO: EVOLUÇÃO DE LA PRODUTIVIDADE DO TRABALHO (Índice 1995=100) 140 130 120 110 100 90 80 1995 1996 1997 1998 1999 2000 América Latina e Caribe Fonte: 2001 2002 2003 Mundo 2004 2005 2006 2007 2008 OCDE Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em Organização Internacional do Trabalho (OIT), Key Indicators of the Labour Market (KILM) e séries do PIB do Banco Mundial. Independentemente das diferenças nos níveis de produtividade laboral entre os países da região, observa-se que, embora o repontar da produtividade laboral tenha sido um fenômeno bem generalizado na região, o desempenho é díspar. Primeiro, enquanto no início da década a maioria dos países registrou a estagnação de sua produtividade laboral média, alguns sofreram quedas acentuadas. A partir de 2004 —em alguns casos já antes disso— o repontar da produtividade foi generalizado, embora com diferenças em relação à sua taxa de crescimento. O impacto da crise de 2009 na produtividade média novamente foi diferenciado e nos casos da Colômbia, México e Venezuela (República Bolivariana da) a queda foi mais forte que em outros países. A reativação de 2010 teve um impacto favorável —ainda que outra vez diferenciado— na produtividade. De fato, o Brasil e o Peru conseguiram superar o nível alcançado antes da crise, enquanto em outros países a recuperação foi menor ou ainda não ocorreu. Analisando a evolução da produtividade laboral por ramos de atividade, se observa que os dois ramos do setor primário —agricultura, pesca, caça e silvicultura e minas e pedreiras—, que costumam registrar a menor e a maior produtividade laboral, respectivamente, também representam os dos extremos em termos das variações recentes. A primeira alcança um forte incremento, a segunda um marcado descenso de sua produtividade média. No caso do setor agropecuário, continua assim uma tendência de longo prazo baseada ao mesmo tempo na expansão de uma agricultura comercial parcialmente pouco intensiva em mão de obra e na queda da participação econômica dos pequenos produtores com baixa produtividade laboral média no emprego. A queda da produtividade laboral na mineração poderia ser devida em parte à incorporação de jazidas de menores rendimentos no contexto de elevados preços de muitos minerais. 26 Requadro I.2 (continuação) Nos demais ramos de atividade se destacam os maiores ganhos de produtividade da indústria de manufaturas que foram interrompidos —como no caso dos outros ramos— pela crise de 2009. Dos ramos do setor terciário destaca-se o comportamento volátil do comércio que reflete o seu papel como “empregador de última instância” em momentos de crise, papel que cumpre devido às baixas barreiras de entrada. Em consequência, no início da década passada —no contexto de baixo crescimento econômico—, sua produtividade laboral média cai vertiginosamente. No período posterior de maior crescimento, a dinâmica demanda interna gera uma importante expansão da atividade setorial, que se vê interrompida por uma nova forte contração em 2009. Gráfico 2 AMÉRICA LATINA (7 PAÍSES): EVOLUÇÃO DA PRODUTIVIDADE LABORAL (Índice 2000=100) 150 140 130 120 110 100 90 80 70 2000 2001 2002 2003 Brasil México 2004 Chile Peru 2005 2006 2007 Colômbia Venezuela (Rep. Bol. da) 2008 2009 2010 Costa Rica Região Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras oficiais. Gráfico 3 AMÉRICA LATINA (7 PAÍSES): EVOLUÇÃO DA PRODUTIVIDADE DO TRABALHO POR RAMO DE ATIVIDADE (Índice 2000=100) A. Região B. Região sem agricultura e mineração 160 115 150 110 140 130 105 120 110 100 100 90 95 80 90 70 2000 2001 2002 2003 Agricultura Minas e pedreiras Manufacturas Comércio, hotéis e restaurantes 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Construção Suprimento de serviços básicos, transporte, armazenagem e comunicações Setor financeiro Serviços públicos e comunitários 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 Manufaturas Suprimento de serviços básicos, transporte, armazenagem e comunicações Comércio, hotéis e restaurantes Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras oficiais. 2007 2008 2009 2010 Construção Setor financeiro Serviços públicos e comunitários 27 Requadro I.2 (conclusão) Cabe assinalar que o repontar da produtividade laboral a partir de 2004 não se expressou da mesma forma nos salários reais do setor formal, que na maioria dos países cresceram a taxas inferiores a da produtividade. Isto teria incidido numa piora da distribuição funcional de renda e numa redução do custo laboral unitário. No entanto, cabe observar que em muitos países a redução dos custos do trabalho em moeda nacional foi compensada pela apreciação cambial, que incrementou os custos do trabalho medidos em outras moedas. Entre os países que se caracterizam por redução dos custos laborais unitários em moeda nacional, mas que viram aumentados estes custos quando expressados em dólares destacam-se o Brasil, a Colômbia e a Costa Rica. Gráfico 4 AMÉRICA LATINA (7 PAÍSES): EVOLUÇÃO DO QUOCIENTE ENTRE O ÍNDICE DE SALÁRIO MÉDIO REAL DO SETOR FORMAL E O ÍNDICE DE PRODUTIVIDADE LABORAL (Índice 2000=100) 120 110 100 90 80 70 60 2000 2001 2002 2003 Brasil México 2004 Chile Peru 2005 2006 2007 Colômbia Venezuela (Rep. Bol. da) 2008 2009 2010 Costa Rica Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras oficiais. Gráfico 5 AMÉRICA LATINA (7 PAÍSES): EVOLUÇÃO DO QUOCIENTE ENTRE O ÍNDICE DE SALÁRIO MÉDIO REAL DO SETOR FORMAL E O ÍNDICE DE PRODUTIVIDADE DO TRABALHO, AJUSTADO PELA TAXA DE CÂMBIO EM RELAÇÃO AO DÓLAR (Índice 2000=100) 160 140 120 100 80 60 40 2000 2001 2002 2003 Brasil México 2004 Chile Peru 2005 2006 2007 Colômbia Venezuela (Rep. Bol. da) 2008 2009 2010 Costa Rica Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras oficiais. 28 3. A inflação Em 2010 a inflação regional (medida pelo índice de preços ao consumidor (IPC)) foi de 6,5% (média ponderada). A Argentina, Jamaica, Trinidad e Tobago e a Venezuela (República Bolivariana da) registraram inflações superiores a 10%, sendo este último país o que registrou a taxa mais elevada da região (27,4%). O aumento da inflação em relação a 2009 foi generalizado, com exceção do Equador, e obedeceu, em grande medida, ao aumento dos preços do item alimentos e bebidas em quase todos os países. Gráfico I.8 AMÉRICA LATINA E CARIBE: TAXAS DE VARIAÇÃO EM 12 MESES DO ÍNDICE DE PREÇOS AO CONSUMIDOR, DO ITEM ALIMENTOS E BEBIDAS E DOS DEMAIS COMPONENTES, DEZEMBRO DE 2009-DEZEMBRO DE 2010 América Latina e Caribe Venezuela (Rep. Bol. da) Uruguai Trinidad e Tobago Suriname Rep. Dominicana Peru Paraguai Panamá Nicarágua México Jamaica Honduras Haiti Guatemala El Salvador Equador Costa Rica Colômbia Chile Brasil Bolívia (Est. Plur. da) Argentina 0 5 Demais componentes 10 15 20 Alimentos e bebidas 25 30 35 Índice de preços ao consumidor Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em dados oficiais dos países. Em 2011 a inflação tem mantido sua tendência de alta, impulsionada fundamentalmente pelas subidas dos preços do item alimentos e bebidas, embora se aprecie também um aumento de preços dos combustíveis e dos serviços de transporte, e em alguns casos, do suprimento de serviços básicos domiciliares. Por outro lado, começaram a ser observados incrementos da inflação subjacente, no 29 contexto do elevado dinamismo da demanda interna. Em maio de 2011 a inflação subjacente dos últimos 12 meses alcança 5,6%, depois de haver se situado ligeiramente acima de 5% ao longo de 2010. Também se aprecia uma alta generalizada dos preços ao produtor que, com exceção da Venezuela (República Bolivariana da), mostram taxas de crescimento muito superiores às taxas de variação do IPC. Gráfico I.9 AMÉRICA LATINA: TAXAS DE VARIAÇÃO EM 12 MESES DO ÍNDICE DE PREÇOS AO CONSUMIDOR (IPC) E DA INFLAÇÃO CORRESPONDENTE, 2007-2011 a (Em porcentagens) 14 12 10 8 6 4 2 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai 0 2007 2008 IPC 2009 2010 2011 Inflação correspondente Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em dados oficiais dos países. a Os dados de 2011 correspondem aos primeiros cinco meses. Em termos sub-regionais, cabe destacar que os países do Caribe que dispõem de dados apresentaram taxas de inflação relativamente elevadas, enquanto os países da América Central registram taxas de inflação inferiores à média regional, como o México que, além disso, mostra uma desaceleração desde fins de 2010. Para 2011 estima-se que a inflação regional rondará 7,5%. 30 Quadro I.3 AMÉRICA LATINA E CARIBE: VARIAÇÃO EM 12 MESES DO ÍNDICE DE PREÇOS AO CONSUMIDOR (IPC), DO GRUPO DE ALIMENTOS E BEBIDAS E DOS DEMAIS GRUPOS DE PRODUTOS, DE MAIO DE 2010 A MAIO DE 2011 (Em porcentagens) Variações em 12 meses (maio de 2010) Argentina Variações em 12 meses (maio de 2011) IPC IPC dos alimentos IPC dos demais produtos 9,9 15,1 8,1 Argentina IPC dos alimentos IPC dos demais produtos 9,7 8,0 10,7 6,9 IPC Bolívia (Estado Plurinacional da) 1,4 1,7 1,1 Bolívia (Estado Plurinacional da) 11,3 16,9 Brasil 5,2 6,8 4,1 Brasil 6,6 8,2 5,4 Chile 1,5 1,7 1,2 Chile 3,3 5,3 1,8 Colômbia 2,1 1,0 2,5 Colômbia 3,0 3,6 2,8 Costa Rica 6,2 4,9 6,9 Costa Rica 4,8 6,0 4,2 Equador 3,2 4,0 2,9 Equador 4,2 6,4 3,2 El Salvador -0,1 -2,2 1,6 El Salvador 6,7 9,9 5,2 Guatemala 3,5 1,7 4,4 Guatemala 6,4 11,0 4,2 Haiti (janeiro) 6,1 3,7 8,8 Haiti (janeiro) 3,7 4,9 2,5 Honduras (abril) 4,2 -0,4 6,4 Honduras (abril) 7,3 7,1 7,4 Jamaica 9,5 14,2 6,2 Jamaica 14,1 10,0 17,2 México 3,9 1,8 4,3 México 3,2 5,2 2,5 Nicarágua 5,4 2,2 6,6 Nicarágua 8,7 8,2 8,9 Panamá 3,2 2,7 3,4 Panamá 6,4 6,1 6,6 Paraguai 4,5 2,3 1,8 Paraguai 10,2 18,1 6,5 Peru 1,0 1,7 0,8 Peru 3,1 4,6 2,1 República Dominicana 7,9 5,8 8,7 República Dominicana Suriname 7,4 9,2 6,0 Suriname Trinidad e Tobago 9,6 19,4 7,4 Uruguai 7,1 6,0 6,9 Venezuela (República Bolivariana da) América Latina (média simples) 32,0 6,1 44,7 6,7 26,8 5,7 8,0 7,4 8,3 20,3 20,0 20,5 Trinidad e Tobago 3,9 8,2 3,0 Uruguai 8,5 11,1 6,7 24,8 22,1 26,0 8,1 9,5 7,4 Venezuela (República Bolivariana da) América Latina (média simples) Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em dados oficiais dos países. 31 Gráfico I.10 AMÉRICA LATINA E CARIBE: TAXAS DE VARIAÇÃO DO IPC EM 12 MESES EM MÉDIA SIMPLES, 2007-2011 a (Em porcentagens) 25 20 15 10 5 0 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai -5 2007 América do Sul América Central 2008 2009 América do Sul sem Venezuela (Rep. Bol. da) Caribe b 2010 2011 México América Latina Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em dados oficiais dos países. a Os dados de 2011 correspondem aos primeiros cinco meses. b Os dados do Caribe correspondem a Jamaica, Trinidad e Tobago e Suriname. 4. As contas externas a) A conta corrente do balanço de pagamentos Em 2010 a conta corrente da América Latina registrou um déficit equivalente a 1,2% do PIB regional, superior ao déficit de 0,4% observado em 2009 (veja o gráfico I.11). Embora os resultados das balanças de serviços e de rendas tenham se mantido estáveis, a diminuição em termos relativos da balança de transferências unilaterais e, sobretudo, a diminuição do superávit comercial, que passou de 1,5% do PIB em 2009 a 1,0% em 2010, provocaram a deterioração das contas externas da América Latina. O maior crescimento das importações em relação às exportações foi provocado pelo crescimento da demanda interna e pela apreciação cambial ocorrida na maioria dos países da região. O aumento do déficit em conta corrente deveu-se tanto a um déficit consideravelmente maior nos países do MERCOSUL e da América Central como a uma redução do superávit dos países exportadores de minerais (Chile e Peru). O Caribe, pelo contrário, obteve um melhor resultado externo, que obedece a um aumento do superávit em Trinidad e Tobago, associado ao maior preço do petróleo, um significativo incremento do superávit no Suriname, devido à subida de preço dos metais e a uma redução do déficit na Jamaica. 32 Gráfico I.11 AMÉRICA LATINA: ESTRUTURA DA CONTA CORRENTE, 2006-2011 a (Em porcentagens do PIB) 4 3 2 1 0 -1 -2 -3 2006 2007 2008 2009 2010 Saldo da conta corrente Balança comercial Balança de serviços Conta capital 2011 Balanço de transferências unilaterais Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em dados oficiais dos países. a Não inclui dados de Cuba. Os dados de 2011 são projeções. Para 2011 espera-se um aumento moderado do déficit em conta corrente da América Latina, que se situará em 1,5% do PIB. A subida de preços dos principais produtos de exportação, somada à desaceleração do ritmo de crescimento das importações, permite esperar um superávit comercial estável de cerca de 1% do PIB regional. Contudo, um maior déficit da balança de serviços e uma diminuição do excedente da balança de transferências unilaterais ocasionarão o incremento do déficit em conta corrente assinalado. Esta deterioração será generalizada, com exceção dos países exportadores de hidrocarbonetos. No Caribe, ao contrário, se projeta um maior superávit em conta corrente, associado ao aumento dos preços internacionais dos produtos básicos e à contínua recuperação das entradas por remessas e turismo, embora o saldo médio esconda o fato de que quase todos os países desta sub-região apresentem déficit em suas contas externas. i) A balança de bens e serviços A demanda externa de bens produzidos na região começou uma recuperação sustentada no segundo trimestre de 2009, como pode ser observado no gráfico I.12, embora nos Estados Unidos e na União Europeia ainda não tenha alcançado os níveis prévios à crise. Em contraste, as exportações para a China e aos demais países da Ásia no final de 2010 superavam em 12 e 28%, respectivamente, os níveis de meados de 2008. Estima-se que as exportações aos Estados Unidos no segundo trimestre de 2011 alcançariam o nível existente antes da crise, enquanto as dirigidas à União Europeia o fariam somente no começo de 2012. 33 Gráfico I.12 AMÉRICA LATINA: EXPORTAÇÕES TOTAIS SEGUNDO O DESTINO, 2006-2011 a (Em milhões de dólares) 120 000 50 000 45 000 100 000 40 000 35 000 80 000 30 000 60 000 25 000 20 000 40 000 15 000 10 000 20 000 5 000 0 0 I II III IV I 2006 União Europeia II III 2007 IV I II III IV 2008 Outros países da Ásia I II III IV 2009 China I II III 2010 IV I II III IV 2011 Estados Unidos (eixo direito) Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em dados oficiais dos países. a Não inclui dados de Cuba. Os dados de 2011 são projeções. Com base no ritmo de crescimento da demanda externa, para a América Latina se estima para 2011 um aumento de 26,9% nas exportações, devido a um incremento de preços (16,6%) e de volume (8,8%). Novamente serão os produtos derivados da mineração e do petróleo os que aumentarão com maior velocidade, chegando a alcançar uma taxa de variação de 39,3%, um pouco superior à observada em 2010. Os produtos agrícolas e agropecuários e os manufaturados, por sua vez, crescerão este ano a taxas levemente inferiores (18,9% e 21,8%, respectivamente) (veja o quadro I.4). O comportamento das importações em 2011 será muito similar ao das exportações: estima-se que crescerão 27,6%, cerca de três pontos percentuais menos que em 2010. Em 2011 será mantida a tendência à acentuada expansão das importações de combustíveis e de bens de consumo, com um crescimento estimado de 44,2% e 29,4%, respectivamente. O maior aumento das importações em comparação com as exportações em 2010 trouxe consigo uma diminuição de 13% no superávit da balança comercial da América Latina, com o que o superávit rondou 50 bilhões de dólares. Em 2011, frente a taxas de crescimento similares para exportações e importações, a balança comercial mostrará um aumento do superávit, que estará situado em torno de 57,5 bilhões de dólares. A expansão das exportações em 2010 em relação ao ano anterior foi maior nos países exportadores de minerais (31,7%), no México (29,9%) e nos membros do MERCOSUL (29,8%). Nos países exportadores de hidrocarbonetos o aumento foi de 18%; enquanto na América Central e nos países do Caribe foram registrados incrementos de 12,3% e 11,1%, respectivamente. No México e na América Central a expansão deveu-se principalmente ao maior volume exportado enquanto nos demais países o principal fator foi o preço. 34 Quadro I.4 AMÉRICA LATINA: TAXAS DE VARIAÇÃO INTERANUAL DO COMÉRCIO INTERNACIONAL SEGUNDO PRINCIPAIS GRUPOS DE PRODUTOS, 2008-2011 a (Em porcentagens) A. Exportações 2008 2009 2010 2011 Produtos agrícolas e agropecuários 20,5 -9,1 21,3 18,9 Mineração e petróleo 23,9 -28,7 37,3 39,3 Manufaturas 10,8 -20,6 23,1 21,8 Total de exportações 15,8 -21,9 27,0 26,9 21,3 -17,9 23,5 21,2 B. Importações Bens de capital Bens intermediários 16,7 -24,1 29,9 25,6 Bens de consumo 20,4 -21,1 32,3 29,5 Combustíveis 47,3 -40,9 44,8 44,2 Total de importações 21,4 -24,7 30,7 27,6 Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras oficiais. a Não inclui dados de Cuba. Os dados de 2011 são projeções. Nos gráficos I.13 e I.14 mostra-se a projeção do comércio internacional por sub-região. Como se pode observar, a recuperação tanto das exportações quanto das importações já é integral para todos os países. A variação dos preços será a principal causa do aumento do comércio nos países exportadores de produtos de mineração e de hidrocarbonetos e, em menor escala, no MERCOSUL. No México e nos países da América Central, que comercializam principalmente manufaturas e estão orientados aos mercados desenvolvidos, serão registrados menores incrementos do valor exportado, ainda que se espere que a repartição entre volume e preço seja mais equilibrada. Dada a elevada participação das manufaturas nas importações, o seu crescimento está fortemente associado ao de volume, enquanto o comportamento por sub-região é mais homogêneo que o das exportações. A recuperação do comércio regional em 2010 trouxe consigo a expansão dos serviços baseados em transporte. Assim, o maior aumento das importações de bens em relação às exportações refletiu-se em forma paralela na balança de serviços. Também o crescimento econômico e a apreciação cambial provocaram que o incremento da importação de serviços por viagens superasse amplamente o das exportações; isto foi particularmente notório no caso do Brasil. Em consequência, em 2010 o déficit da balança de serviços cresceu 45% em relação a 2009 para a região em conjunto e situou-se em cerca de 50 bilhões de dólares. No gráfico I.15 se observa a evolução das chegadas de turistas internacionais e se pode ver a grande recuperação ocorrida em 2010 em todas as sub-regiões, após as quedas registradas em 2009. Todos os países se beneficiaram do aumento da chegada de turistas, em particular, os da América do Sul, onde o número elevou-se em 10,4%, apesar de ter sido a sub-região cujo turismo em 2009 foi menos golpeado pela crise internacional. O México, principal destino turístico da região, em 2010 recebeu cerca de 22 milhões de visitantes (4,4% mais que em 2009), apenas 1 milhão menos que o registrado por todos os países de América do Sul e 2 milhões a mais do registrado no Caribe. A preocupação da região por melhorar a acessibilidade e a infraestrutura ligada ao turismo, as melhoras em matéria de segurança para o turista em alguns países, a intensa promoção internacional de alguns destinos e as melhores perspectivas da economia mundial permitem prever a continuidade do crescimento deste setor. Os dados de abril de 2011 mostram esta perspectiva positiva, como observado no gráfico I.15. 35 Gráfico I.13 AMÉRICA LATINA: PROJEÇÃO DA TAXA DE VARIAÇÃO DO VALOR DAS EXPORTAÇÕES SEGUNDO CONTRIBUIÇÃO DE VOLUME E PREÇO, 2011 a (Em porcentagens) América Latina 9,3 América do Sul 10,0 MERCOSUL 17,6 23,7 12,0 Chile e Peru 21,5 9,2 Bolívia (Est. Plur. da), Colômbia, Equador e Venezuela (Rep. Bol. da) 29,6 7,0 23,2 América Central 8,4 México 8,2 0 7,0 8,6 5 10 15 20 25 Volume 30 35 40 Preço Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em dados oficiais dos países. a Não inclui dados de Cuba. Gráfico I.14 AMÉRICA LATINA: PROJEÇÃO DA TAXA DE VARIAÇÃO DO VALOR DAS IMPORTAÇÕES SEGUNDO CONTRIBUIÇÃO DE VOLUME E PREÇO, 2011 a (Em porcentagens) América Latina 10,8 16,8 América do Sul 12,9 21,6 MERCOSUL 13,5 22,7 Chile e Peru 13,0 22,1 Bolívia (Est. Plur. da), Colômbia, Equador e Venezuela (Rep. Bol. da) 11,5 18,4 América Central 10,5 9,2 México 7,7 12,0 0 5 10 15 20 Volume 25 30 35 40 Preço Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em dados oficiais dos países. a Não inclui dados de Cuba. 36 Gráfico I.15 AMÉRICA LATINA E CARIBE: TAXA DE VARIAÇÃO INTERANUAL DAS CHEGADAS DE TURISTAS INTERNACIONAIS, 2009-2011 a (Em porcentagens) América do Sul América Central Caribe México -10 -5 2009 0 5 2010 10 15 20 Janeiro-abril de 2011 Fonte: a ii) Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras da Organização Mundial do Turismo (OMT). Os dados de 2011 correspondem aos primeiros dois meses. Os preços internacionais e os termos de troca Os preços dos produtos básicos de exportação mostraram incrementos significativos durante 2010 (salvo contadas exceções como o arroz e a farinha de soja). Entre os produtos agropecuários, os preços dos alimentos aumentaram 9,9%; os das bebidas tropicais (café, chá e cacau), 25,4%, e as matérias-primas de silvicultura e agropecuária, 41,6%. O subgrupo de óleos e sementes oleaginosas apresentou uma dinâmica mais moderada ao crescer apenas 3,5%. Por outro lado, os preços dos minerais e metais subiram 29,3% e os dos produtos energéticos 27,9%. Os preços das manufaturas sofreram o contágio desta tendência de alta e também subiram, particularmente a partir dos últimos meses de 2010. Como pode ser observado no gráfico I.16, os preços dos produtos básicos recuperaram o terreno perdido durante a crise internacional e inclusive, com exceção dos energéticos e dos óleos e sementes oleaginosas, superaram os máximos observados em 2008. De fato, o índice de preços dos alimentos publicado pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) alcançou seu máximo histórico em fevereiro de 2011. Dentre as causas para estes aumentos existem fatores relacionados tanto com a oferta como com a demanda. Alguns exemplos dos primeiros são: i) as condições climáticas adversas, que tiveram impacto na produção de café na América Central e na América do Sul; ii) a seca na Federação Russa, que afetou os preços do trigo e seus substitutos; iii) a crise pós-eleitoral na Costa do Marfim, que impulsionou os preços do cacau, e iv) a instabilidade política no 37 Oriente Médio, que influiu no aumento dos preços de petróleo e seus derivados. Entre os fatores relativos à demanda, se encontram a recuperação da economia mundial e o aumento da demanda destes bens por parte da China, da Índia e dos demais países emergentes. Espera-se que esta tendência de alta continue durante 2011, embora com menor intensidade que em 2010. Isto se deve, parcialmente, à moderação da demanda devido à conclusão de uma fase de recomposição de estoques e à redução do ritmo de crescimento mundial, e por outra parte, a uma resposta da oferta ante os maiores preços e condições climáticas mais favoráveis. Esta mudança já começa a ser observada no menor dinamismo dos preços dos alimentos e dos produtos agropecuários. O efeito destas tendências nos termos de troca da região foi desigual, como mostrado no gráfico I.17. Em 2010 os países exportadores de minerais e metais (Chile e Peru) e de hidrocarbonetos (Bolívia (Estado Plurinacional da), Colômbia, Equador e Venezuela (República Bolivariana da)) foram os mais beneficiados pela subida de preços de suas exportações, seguidos pelos países membros do MERCOSUL. O México, ao ser principalmente um exportador de bens manufaturados, teve um ganho menor, enquanto os países da América Central, importadores líquidos de alimentos e de produtos energéticos, sofreram uma deterioração dos termos de troca. Em geral, a América Latina registrou uma melhora de 8,1% nos termos de troca em 2010. Gráfico I.16 AMÉRICA LATINA E CARIBE: ÍNDICES DE PREÇOS DOS PRODUTOS BÁSICOS E MANUFATURADOS, 2007-2011 a (Índice: 2000=100, média móvel de três meses) 440 390 340 290 240 190 140 2007 2008 Alimentos Matérias-primas de silvicultura e agropecuária Manufaturas Fonte: a 2009 Bebidas tropicais Minérios e metais 2010 Abr Jan Out Jul Abr Jan Out Jul Abr Jan Out Jul Abr Jan Out Jul Abr Jan 90 2011 Óleos e sementes oleaginosas Energia Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras oficiais da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) e de Netherlands Bureau for Economic Analysis (CPB). A ponderação dos grupos de produtos básicos foi calculada segundo a participação nas exportações da América Latina. 38 Gráfico I.17 AMÉRICA LATINA: VARIAÇÃO DOS TERMOS DE TROCA, 2009-2011 a (Em porcentagens) 25 20 15 10 5 0 -5 -10 -15 -20 -25 América Latina MERCOSUL Chile e Peru 2009 Bolívia (Est. Plur. da), Colômbia, Equador e Venezuela (Rep. Bol. da) 2010 América Central México 2011 Fonte: a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras oficiais da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD); Fundo Monetário Internacional (FMI); Banco Mundial e Bloomberg. Não inclui dados de Cuba. Dados preliminares para 2009 e 2010 e projeções para 2011. No curto prazo, esta tendência dos termos de troca da região será mantida, embora geralmente a taxas más moderadas que em 2010. Os subgrupos de países que apresentarão um maior aumento serão outra vez os exportadores de minerais e de hidrocarbonetos; isto repercutirá em sentido inverso na América Central, sub-região que sofrerá uma nova perda em seus termos de troca. Para a região da América Latina e do Caribe se projeta uma variação positiva de 6,2% em 2011. iii) Os balanços de serviços de capital e de transferências unilaterais Apesar de que o déficit do balanço de serviços de capital da América Latina tenha aumentado de 98.100 milhões de dólares em 2009 para 114.600 milhões em 2010, o seu tamanho relativo diminuiu levemente (ao passar de -2,5% do PIB em 2009 para -2,4% em 2010) devido ao crescimento econômico observado na região. O aumento absoluto do saldo negativo obedece principalmente às maiores saídas de lucros e dividendos, ante a subida dos preços internacionais dos produtos básicos, e ao maior pagamento de juros11. Em 2011 espera-se a manutenção da tendência de aumento do déficit deste balanço em termos absolutos, devido às contínuas subidas dos preços dos produtos básicos de exportação da região e ao dinamismo econômico, embora em termos relativos se projete um déficit estável em torno a 2,4% do PIB regional. 11 Cabe destacar que 90% do aumento do déficit estiveram concentrando em apenas quatro países: Brasil, Chile, Colômbia e Peru; os demais países apresentaram mudanças negativas menores e inclusive melhoras na balança de serviços de capital. 39 Depois de uma queda significativa em 2009, a tendência das remessas dos trabalhadores emigrados começou a mudar a partir do início de 2010, como pode ser observado no gráfico I.18. Com exceção da Colômbia, Equador e da República Dominicana, todos os países que aparecem no gráfico terminaram o ano com uma taxa de variação positiva. Estes crescimentos, contudo, foram moderados e os níveis das entradas de remessas familiares estão longe de alcançar os máximos observados antes da crise. A principal causa é a lenta recuperação dos mercados de trabalho nos países desenvolvidos, particularmente nos Estados Unidos e na Espanha, principais receptores dos migrantes latino-americanos e caribenhos. A evolução esperada no mercado de trabalho destes países permite projetar uma taxa de crescimento moderada durante 2011. Gráfico I.18 AMÉRICA LATINA E CARIBE (9 PAÍSES): VARIAÇÃO TRIMESTRAL INTERANUAL DAS REMESSAS DE TRABALHADORES EMIGRADOS, 2009-2011 a (Em porcentagens) 15 10 5 0 -5 - 10 - 15 - 20 - 25 - 30 I II III IV I 2009 II III IV 2010 Colômbia Guatemala Equador El Salvador Jamaica México Rep. Dominicana Nicarágua I 2011 Honduras Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras oficiais. a Os dados de 2011 correspondem ao primeiro trimestre. Além da evolução das remessas descrita anteriormente, o balanço de transferências unilaterais da América Latina registrou um aumento de 80% e 118% no crédito de transferências para o Haiti e o Chile, respectivamente, associado a entradas de doações e de ajuda oficial recebidas depois dos sismos que afetaram ambos os países12. O superávit do balanço de transferências se reduziu de 1,5% do PIB em 2009 a 1,2% em 2010, apesar da melhora observada em valores absolutos. Para 2011 se estima um superávit equivalente a 1,0% do PIB regional. 12 Além disso, observou-se uma diminuição de 58% no crédito por transferências unilaterais na Argentina, ocasionada pelo registro dos direitos especiais de saque por parte do FMI, no terceiro trimestre de 2009, como transferência corrente, fato que não se repetiu em 2010. 40 b) A conta capital e financeira Durante 2010, as condições financeiras externas caracterizadas por uma elevada liquidez global e pelo aumento, significativo em alguns casos, dos influxos líquidos de investimento na região determinaram novamente um saldo global positivo do balanço de pagamentos, com a consequente acumulação de reservas internacionais, que alcançaram um nível equivalente a 16% do PIB regional. Não obstante, esta situação tende a dissimular um panorama relativamente heterogêneo. Como pode ser apreciado no gráfico I.19, desde 2007 a América do Sul e o México têm experimentado um acentuado aumento dos influxos líquidos de IED e dos investimentos em carteira, com exceção do ano 2008, ano do estalo da crise financeira global. Além disso, no transcurso de 2010 o investimento líquido em carteira chegou a 109.157 milhões de dólares, superando pela primeira vez e amplamente o IED líquido, que alcançou 59.995 milhões de dólares. No gráfico também se aprecia o papel do aumento de reservas como fator de absorção de liquidez externa, o que obedece aos objetivos em matéria cambial de vários países desta sub-região. Gráfico I.19 AMÉRICA DO SUL E MÉXICO: SALDO DA CONTA CORRENTE E COMPOSIÇÃO DO FINANCIAMENTO EXTERNO, 2000-2010 (Em porcentagens do PIB) 5 5 4 4 3 3 2 2 1 1 0 0 -1 -1 -2 -2 -3 -3 -4 -4 -5 -5 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Investimento direto líquido Investimento em carteira líquido Passivos líquidos de outros investimentos Erros e omissões Ativos de reserva Saldo em conta corrente Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras oficiais. Em contraste, no caso dos países da América Central, incluindo o Haiti e a República Dominicana, a situação é muito diferente. O IED líquido é o principal componente dos influxos positivos na conta financeira, enquanto o investimento em carteira não é significativo. O segundo componente em importância são os passivos líquidos de outros investimentos, que apresentam os efeitos dos influxos transfronteiriços, sobretudo de depósitos, créditos bancários e dívida bancária. Estes fluxos foram os que mostraram um incremento significativo em 2010, para financiar, junto com o IED líquido relativamente estável, o aumento do déficit em conta corrente durante o ano. 41 Gráfico I.20 AMÉRICA CENTRAL, HAITI E REPÚBLICA DOMINICANA: SALDO EM CONTA CORRENTE E COMPOSIÇÃO DO FINANCIAMENTO EXTERNO, 2000-2010 (Em porcentagens do PIB) 10 10 8 8 6 6 4 4 2 2 0 0 -2 -2 -4 -4 -6 -6 -8 -8 -10 -10 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Investimento direto líquido Investimento em carteira líquido Passivos líquidos de outros investimentos Erros e omissões Ativos de reserva Saldo em conta corrente Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras oficiais. Este fato se destaca ainda mais no caso dos países do Caribe, onde o IED líquido é praticamente o único componente positivo da conta financeira, enquanto os fluxos, principalmente os de caráter bancário, representados pelos passivos líquidos de outros investimentos, mostram um comportamento muitas vezes negativo. Em suma, o IED líquido continua em sua tendência de longo prazo, com incrementos sustentados que não foram especialmente afetados pela crise financeira de 2008. Nos últimos anos e especialmente em 2010, o investimento em carteira tem constituído um componente crescente da conta financeira da América Latina e do Caribe, fenômeno vinculado ao significativo incremento da liquidez mundial, resultante da reação dos governos dos países desenvolvidos para enfrentar a crise financeira global e do menor risco relativo existente na região, especialmente no Brasil, Colômbia, México e Peru. Estes países exibem os maiores influxos líquidos de IED, investimento em carteira e de outros passivos de investimento, o que contribui para explicar sua elevada acumulação de reservas, assim como os esforços empreendidos na maioria deles para evitar a apreciação das moedas. O Chile se distingue entre os países receptores de IED, porque nesse período o seu investimento líquido em ações é negativo, fato associado à diversificação de seus fundos de pensões a aplicações no exterior e à acumulação no estrangeiro dos recursos de seus fundos soberanos, graças ao alto preço do cobre. 42 Gráfico I.21 CARIBE: SALDO DA CONTA CORRENTE E COMPOSIÇÃO DO FINANCIAMENTO EXTERNO, 2000-2010 a (Em porcentagens do PIB) 15 15 10 10 5 5 0 0 -5 -5 -10 -10 -15 -15 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Investimento direto líquido Investimento em carteira líquido Passivos líquidos de outros investimentos Erros e omissões Ativos de reserva Saldo em conta corrente Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras oficiais. a Incluem dados dos seguintes países: Antígua e Barbuda, Bahamas, Barbados, Belize, Dominica, Granada, Guiana, Jamaica, São Cristóvão e Névis, Santa Lúcia, São Vicente e Granadinas, Suriname e Trinidad e Tobago. A região continua tendo acesso aos mercados de capitais internacionais e mostra níveis de risco que, embora superem os anteriores à crise financeira global, são substancialmente inferiores aos de outras regiões. Como destacado no gráfico I.22, as emissões de bônus externos por parte de entidades privadas, especialmente bancos, têm apresentado continuidade em frequência e em volume tanto em 2010 como no decorrer de 2011, tendência inversa à apresentada pelas emissões soberanas. O último se relaciona com o processo de redução do endividamento público externo que a região vem apresentando há anos. A região continua apresentando uma sólida situação financeira externa, que se expressa na continuidade dos fluxos financeiros recebidos, no acesso aos mercados financeiros e nos níveis historicamente altos de reservas internacionais. Não obstante, persistem situações que devem ser analisadas com cuidado. Como se aprecia no gráfico I.23, o peso da dívida externa como porcentagem do PIB na América do Sul e no México reduziu-se drasticamente como resultado dos processos de crescimento e dos superávits fiscais e externos ocorridos durante os anos anteriores à crise financeira global. No caso da América Central, a diminuição do endividamento como proporção do PIB, embora acentuada, é menos intensa, o que está vinculado, por um lado, aos programas de redução de dívida (como a Iniciativa para a redução da dívida dos países pobres muito endividados (PPME)) e, por outro, às condições financeiras mais difíceis e a um ritmo de crescimento mais lento. Em contraste, nos países do Caribe (neste caso sem incluir Trinidad e Tobago) observa-se o repontar do nível relativo de endividamento externo a partir da crise financeira global. Isto reflete também a deterioração das condições financeiras que esta sub-região tem enfrentado desde então e que se expressa em menores influxos líquidos de IED e reduzidos saldos em conta corrente (veja o gráfico I.21). 43 Gráfico I.22 AMÉRICA LATINA: EMISSÕES DE BÔNUS EXTERNOS E RISCO-PAÍS, 2004-2011 a (Em milhões de dólares e pontos básicos) 900 25 000 800 20 000 700 15 000 500 400 10 000 Milhões de dólares Pontos básicos 600 300 200 5 000 Dívida quase soberana (eixo direito) 2008 Dívida soberana (eixo direito) 2009 Dívida privada (eixo direito) 2010 2011 Abr Jan Jul Out Abr Jan Jul Out Abr Jan Jul Out 2007 Jul 2006 Abr Jan Jul Out Abr Jan Jul Out 2005 Out Jan Abr 2004 Abr Jan Jul Out Abr 0 Jan 100 0 EMBI da América Latina (eixo esquerdo) Fonte: a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras de Latin Finance Bonds Database, JP Morgan e Merryl Lynch. Não inclui dados de Cuba. Os dados de 2011 correspondem aos primeiros quatro meses. Gráfico I.23 AMÉRICA LATINA E CARIBE: EVOLUÇÃO DA DÍVIDA EXTERNA BRUTA, 2000-2010 a (Em porcentagens do PIB) 60 50 40 30 20 10 0 2000 2001 2002 2003 2004 2005 América Central, Haiti e Rep. Dominicana América do Sul (10 países e México) 2006 2007 2008 2009 2010 Caribe (sem incluir Trinidad e Tobago) Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras oficiais. a Não inclui dados de Cuba. 44 Quadro I.5 AMÉRICA LATINA (19 PAÍSES): FLUXOS FINANCEIROS EXTERNOS, 2007-2010 (Em milhões de dólares) Venezuela (República Bolivariana da) Haiti Paraguai Equador Bolívia (Estado Plurinacional da) Nicarágua Guatemala El Salvador Honduras Uruguai Costa Rica Panamá República Dominicana Colômbia Argentina Peru Chile México Brasil América Latina (19 países) Investimento estrangeiro direto líquido -8 679 142 1 097 1 683 1 946 1 950 2 694 2 723 3 255 5 950 6 449 8 230 8 329 20 784 21 850 23 904 28 234 59 266 125 071 314 877 Investimento líquido em carteira 17 729 0 0 -3 778 -301 0 -229 651 -8 -696 488 -1 556 649 -18 4 651 6 690 -42 921 69 925 162 817 214 145 Passivos líquidos de outros investimentos -88 407 -178 1 617 44 -1 278 777 2 144 -1 278 -202 -6 841 1 214 4 448 14 179 -38 000 2 323 5 749 -27 016 -2 547 -125 576 Total -79 357 -35 2 714 -2 051 366 2 727 4 609 2 096 3 045 5 248 7 778 7 889 13 426 34 945 -11 498 32 918 -8 939 102 225 285 342 403 446 Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras oficiais. D. AS POLÍTICAS MACROECONÔMICAS 1. A política monetária e a cambial As condições financeiras internacionais e o comportamento dos preços dos produtos básicos, em especial dos alimentos e da energia, começaram a complicar a gestão da política monetária e cambial da América Latina e do Caribe a partir da segunda metade de 2010. Por um lado, as maiores pressões inflacionárias e o crescimento da demanda agregada interna têm provocado que em alguns países fossem tomadas medidas para tentar restringir as condições monetárias e creditícias estabelecidas inicialmente para paliar os efeitos da crise, que prevalecem na maioria dos casos. Por outro lado, a elevada liquidez que caracteriza os mercados financeiros internacionais e a consequente entrada de capitais na região tem propiciado um fortalecimento das moedas locais e uma deterioração da competitividade dos setores produtores de bens transáveis. Deste modo, os responsáveis pela política monetária e cambial da região se enfrentam à necessidade de garantir a estabilidade dos preços, mas, por outro lado, tentar evitar que a apreciação cambial introduza um forte viés no processo de alocação de recursos a favor da produção de bens não transáveis, o que dificultaria a diversificação do setor de manufaturas da região. A resolução deste dilema está relacionado com a administração da taxa de juros, a intervenção no mercado cambial —em geral combinada com operações de mercado aberto que procuram esterilizar o efeito monetário da compra de divisas— e o uso de instrumentos (fiscais, cambiais, monetários e financeiros) até pouco tempo atrás 45 considerados pouco convencionais, para tratar de restringir ou desestimular a entrada de capitais. Apesar das mudanças registradas nas taxas de política, a linha de ação da política monetária durante 2010 e no primeiro semestre de 2011 pode ser caracterizada como expansiva. O nível das taxas de juros de referência e o crescimento dos principais agregados monetários continuam propiciando um importante aumento do crédito na região, estimulando o crescimento da demanda interna agregada. No entanto, como mencionado anteriormente, desde meados de 2010 alguns bancos centrais da região incrementaram a taxa de referência da política monetária, em resposta ao surgimento de pressões inflacionárias, em particular de origem externa, relacionadas com a subida dos preços dos alimentos e da energia nos mercados internacionais. No gráfico I.24.A mostra-se o incremento das taxas de referência efetuado por oito bancos centrais da região desde meados de 2010. No gráfico também fica evidente que, apesar dos aumentos, os níveis alcançados pelas taxas de política nestes países distam dos registrados em 2008. Por outro lado, no gráfico I.24.B pode-se observar que seis bancos centrais da região mantiveram suas taxas em níveis baixos, similares aos estabelecidos durante a crise, e que outros quatro continuaram reduzindo as taxas de referência durante 2010 e no transcurso de 2011 (veja o gráfico I.24.C). Gráfico I.24 AMÉRICA LATINA E CARIBE (PAÍSES SELECIONADOS): TAXAS DE POLÍTICA MONETÁRIA, 2008-2011 (Em porcentagens) A. Aumentos de taxas 16 14 12 10 8 6 4 2 2008 2009 Brasil Chile 2010 Colômbia Paraguai Peru Uruguai Jan Mar Nov Set Jul Mai Mar Jan Nov Set Jul Mai Mar Jan Nov Set Jul Mai Mar Jan 0 2011 46 Gráfico I.24 (conclusão) B. Taxas estáveis 16 14 12 10 8 6 4 2 2008 2009 Argentina México 2010 Bolívia (Est. Plur. da) Venezuela (Rep. Bol. da) Mar Ene Nov Sep Jul Mai Mar Jan Nov Sep Jul Mai Mar Jan Nov Sep Jul Mai Mar Jan 0 2011 Dominica Honduras C. Taxas em queda 18 16 14 12 10 8 6 4 2 2008 Costa Rica 2009 Guiana 2010 Jamaica Trinidad e Tobago Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras oficiais. Jan Mar Nov Set Jul Mai Mar Jan Nov Set Jul Mai Mar Jan Nov Set Jul Mai Mar Jan 0 2011 47 Em geral, o manejo das taxas de juros de referência por parte dos bancos centrais da América Latina e do Caribe tem se traduzido em pequenas modificações das taxas de juros ativas nominais e, dados os níveis de inflação esperados, tem significado reduções das taxas de juros ativas em termos reais. A dinâmica dos principais agregados, por sua vez, reflete o caráter expansivo da política monetária e os esforços recentes para moderar seus efeitos sobre a demanda agregada. Deste modo, em um grande número de países da região a base monetária expressada em termos reais experimentou um crescimento positivo durante 2010, embora em muitos casos esse crescimento tenha significado uma desaceleração em relação ao aumento registrado em 2009. No caso do M1 e do M2, a evolução é similar à da base monetária. No período já transcorrido de 2011, os agregados monetários continuam crescendo, mas a taxas menores que as exibidas em 201013. Gráfico I.25 AMÉRICA LATINA E CARIBE (PAÍSES SELECIONADOS): EVOLUÇÃO DE ALGUNS AGREGADOS MONETÁRIOS, 2008-2010 (Em porcentagens) A. Variação da base monetária em termos reais Barbados Panamá Jamaica Paraguai Trinidad e Tobago Rep. Dominicana Venezuela (Rep. Bol. da) El Salvador Guatemala Bolívia (Est. Plur. da) Costa Rica Mediana Suriname Equador México Média Honduras Nicarágua Colômbia Chile Brasil Argentina Antígua e Barbuda Peru -0,2 13 -0,1 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 Apenas em 6 casos registrou-se diminuição da base monetária em termos reais, enquanto em 6 de outros 16 países que registraram crescimento, a taxa mostrou uma desaceleração. Dos 21 países que dispõem de informação para o ano 2010 sobre o M1 em termos reais, só em 2 economias o agregado se contraiu em relação ao nível alcançado em 2009, enquanto o crescimento se desacelerou em 7 países. No que se refere ao M2 real, dos 20 países que dispõem de dados, apenas em 2 deles o agregado se reduziu, enquanto a desaceleração do crescimento se evidenciou em 6 países. 48 Gráfico I.25 (conclusão) B. Variação do agregado monetário M1 em termos reais Barbados Jamaica Rep. Dominicana Guatemala Suriname Brasil Paraguai Honduras Guiana Venezuela (Rep. Bol. da) Média Mediana México Equador Colômbia Costa Rica Chile Nicarágua El Salvador Argentina Uruguai Bolívia (Est. Plur. da) Peru -0,15 -0,1 -0,05 0 0,05 De dezembro de 2008 a dezembro de 2009 0,1 0,15 0,2 0,25 0,3 De dezembro de 2009 a dezembro de 2010 Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras oficiais. O crédito evidenciou um importante crescimento durante 2010 em termos reais. Dos 13 países que dispõem de informação, a evolução desta variável foi positiva e se acelerou em 9 países, caindo apenas em 4 casos (veja o gráfico I.26). Esta dinâmica reflete em parte as medidas tomadas pelo sistema bancário público para estimular o crédito e paliar os efeitos da crise nas economias da região, e o trabalho das autoridades monetárias para promover condições apropriadas de liquidez a fim de estimular a demanda agregada. O crédito de origem pública cresceu desde meados de 2008, quando as consequências da crise começaram a ser palpáveis na região, em especial, na dinâmica do crédito outorgado por instituições financeiras privadas, que registrou uma contração em 2009. Quanto ao destino do crédito, o crescimento registrado em 2010 foi bem generalizado e incluiu os setores industriais e comerciais, assim como as operações com garantia hipotecária e o consumo em geral. No primeiro trimestre de 2011, o crédito seguiu mostrando um crescimento vigoroso, em especial no que diz respeito aos empréstimos orientados ao consumo, que aumentou sua participação no crédito total. Por outro lado, como assinalado anteriormente, a abundante liquidez internacional e suas repercussões nos mercados monetários da região desencadearam pressões à apreciação das moedas e, para tentar atenuar esta tendência, em alguns países se adotaram medidas com vista a restringir a mobilidade dos capitais. Estas medidas têm sido acompanhadas por outras, como acumulação de reservas internacionais por parte dos bancos centrais, pagamento antecipado da dívida externa por parte do fisco e aumento das facilidades para que os agentes financeiros e não financeiros nacionais (como, por exemplo, agências de fundos de pensões, empresas públicas e outras) mantenham parte de seus ativos externos no exterior. 49 Gráfico I.26 AMÉRICA LATINA (PAÍSES SELECIONADOS): EVOLUÇÃO DO CRÉDITO TOTAL EM TERMOS REAIS, 2008-2010 (Em porcentagens de variação) El Salvador Costa Rica Venezuela (Rep. Bol. da) Guatemala México Chile Uruguai Brasil Colômbia Peru Argentina Equador Paraguai -20 -15 -10 -5 0 2008-2009 5 10 15 20 25 30 35 2009-2010 Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras oficiais. Desta forma, durante 2010 todos os países não dolarizados da América Latina e do Caribe, exceto o Uruguai e a Venezuela (República Bolivariana da), acumularam reservas internacionais que, na maioria dos casos, alcançaram no final de 2010 uma porcentagem do PIB superior inclusive à registrada em 2007, antes da crise financeira internacional. Nos primeiros meses de 2011, os bancos centrais da região continuaram acumulando reservas e, em alguns países, se acentuaram as medidas de intervenção no mercado cambial, destacando-se o caso do Brasil. Ante a forte apreciação nominal do real e em paralelo com várias medidas destinadas a restringir a entrada de capitais, o Banco Central do Brasil adquiriu 31.700 milhões de dólares de reservas nos quatro primeiros meses do ano, 273% a mais que no mesmo período de 2010. Outros países que intervieram ativamente no mercado cambial durante os primeiros meses de 2011 foram a Argentina, Chile, Colômbia e a Costa Rica. O Peru, à diferença do sucedido em grande parte de 2010, em março e abril diminuiu suas reservas em 1.000 milhões de dólares devido à volatilidade gerada pelo processo eleitoral na taxa de câmbio nominal. Apesar dos esforços realizados, 11 países da região registraram apreciações nominais em 2010 e nos primeiros meses de 2011, entre os que se destacam os casos do Brasil, Colômbia, Uruguai e, em menor medida, do Chile, Costa Rica, México e Peru. Como resultado da evolução da taxa de câmbio nominal e no contexto de aumento das pressões inflacionárias, a taxa de câmbio real efetiva extrarregional da América Latina e Caribe caiu 3,5% entre 2009 e 2010. A queda da taxa de câmbio real foi generalizada. Na América do Sul, nesse período registrou-se uma diminuição de 2,6% em média, que se eleva a 7% ao não incluir a Venezuela (República Bolivariana da) no cálculo, enquanto na América Central, México e no Caribe a diminuição foi de 4,5%. Durante os quatro primeiros meses de 2011, a taxa 50 de câmbio efetiva extrarregional média da América Latina e Caribe quase não se modificou em relação ao valor registrado em dezembro de 2010. A média da América do Sul diminuiu 1,4%, enquanto a da América Central, México e do Caribe aumentou 1% nesse período. Gráfico I.27 AMÉRICA LATINA E CARIBE (PAÍSES SELECIONADOS): VARIAÇÃO DA TAXA DE CÂMBIO REAL EFETIVA, MAIO DE 2011 EM COMPARAÇÃO COM O PERÍODO 1990-2009 (Em porcentagens) Venezuela (Rep. Bol. da) Brasil Colômbia Guatemala Paraguai Honduras Uruguai Jamaica Costa Rica Trinidad e Tobago Chile Equador El Salvador México Bolívia (Est. Plur. da) Rep. Dominicana Peru Panamá Nicarágua Argentina -40 -30 -20 -10 0 10 20 30 40 50 Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras oficiais. Em abril de 2011 a taxa de câmbio real efetiva total se encontrava mais de 20% abaixo (apreciação) da registrada durante os últimos 20 anos no Brasil, Colômbia, Guatemala, Paraguai, Trinidad e Tobago e Venezuela (República Bolivariana da), e era mais de 10% inferior a essa média de longo prazo na Costa Rica, Honduras, Jamaica e no Uruguai. No caso da Venezuela (República Bolivariana da), a elevada inflação que o país continua experimentando tem compensado parcialmente as desvalorizações implícitas de janeiro de 2010 e janeiro de 2011. 2. A política fiscal Após o ativismo fiscal que os países da região adotaram em 2009, o ano de 2010 tem se caracterizado por duas tendências que deram forma aos resultados. Por um lado, registrou-se um aumento dos recursos, determinado principalmente pelo crescimento do nível de atividade e, no caso dos países especializados em produção e exportação de bens com uso intensivo de recursos naturais, pelo efeito da recuperação dos preços dos produtos básicos. Pelo lado dos gastos, observou-se alguma preocupação por moderar o impulso que as políticas públicas exercem na demanda, embora com bastante 51 heterogeneidade em nível de países. Esta evolução está permitindo melhorar os resultados fiscais em média, pelo que se estima que para 2011 a região volte a ter um resultado primário próximo ao equilíbrio (-0,1% do PIB). Além desta recuperação das contas públicas no último ano, deve-se enfatizar que o espaço de política fiscal resultante da combinação das receitas, dos gastos e da dívida pública viu-se significativamente reduzido durante a crise, como pode ser observado no gráfico I.28. Enquanto no período 2003-2007 houve um grande aumento do espaço fiscal, derivado principalmente do incremento das receitas e da redução da dívida, durante a crise, a expansão dos gastos e a diminuição das receitas definiram uma contração deste espaço, que não foi revertida em 2010. Gráfico I.28 AMÉRICA LATINA E CARIBE (19 PAÍSES): VARIAÇÃO DO ESPAÇO FISCAL (RECEITA, GASTO E DÍVIDA DO GOVERNO CENTRAL), 2003-2007 E 2007-2010 a Receita total (+) Receita total (+) Dívida (-) Gasto total (-) 2003 2007 Dívida (-) Gasto total (-) 2007 2010 Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras oficiais. a Os triângulos representam o espaço fiscal em forma diretamente proporcional às receitas disponíveis e inversamente proporcional aos níveis de gasto e dívida. No que se refere à evolução das contas públicas em 2010, em nível de governos centrais, o desempenho fiscal da América Latina alcançou um déficit primário de 0,4% do PIB em média simples, em comparação com um déficit de 1,1% para 2009 e ao considerar o resultado global (isto é, incluindo o pagamento dos juros da dívida pública) se passa de um déficit de 2,9% a um de 2,0% do PIB. Em 2010, 50% dos países da América Latina analisados registraram superávit primário, enquanto 15 países (quase 80% do total) o haviam alcançado no período 2003-2008. 52 Gráfico I.29 AMÉRICA LATINA E CARIBE: EVOLUÇÃO DAS CONTAS PÚBLICAS, 2000-2010 (Em porcentagens do PIB) 25 4 20 3 15 2 1 5 0 0 -5 -1 Resultado primário Receita e gastos 10 -10 -2 -15 -3 -20 -4 -25 2000 2001 Receita tributária 2002 2003 2004 Gasto de capital 2005 2006 Gasto corrente 2007 2008 2009 Outras receitas 2010 a 2011 b Resultado primário Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras oficiais. a Estimativa. b Projeção. O desempenho médio das contas públicas na América Latina é o resultado de comportamentos diferenciados nos países da região (veja o gráfico I.30). Como anteriormente assinalado, os países da América do Sul (que cresceram mais que a média da região e que geralmente são exportadores de produtos básicos) registraram um importante aumento das receitas tributarias (com exceção da Bolívia (Estado Plurinacional da), Uruguai, e especialmente da Venezuela (República Bolivariana da)), que causou grande parte da melhora das contas públicas. Na maioria dos casos, o incremento das receitas foi acompanhado da diminuição do gasto corrente como porcentagem do PIB. As exceções a este comportamento são a Argentina e a Venezuela (República Bolivariana da). No México e na América Central, no entanto, a evolução das receitas fiscais é muito menos dinâmica e, em consequência disso, na metade dos casos (Costa Rica, Guatemala, México e Panamá) se observa uma deterioração das contas públicas, enquanto a outra metade registra melhoras (Cuba, El Salvador, Honduras, Nicarágua e República Dominicana), embora de menor magnitude que as observadas na América do Sul e devidas basicamente à redução dos gastos. A recuperação econômica de 2010 permitiu que a região chegasse a uma arrecadação tributária média de 14,9% do PIB, porém ainda inferior ao máximo histórico de 15,1% alcançado em 2007. A metade dos países já pôde retornar aos níveis de arrecadação prévios à crise de 2008 e 2009, embora existam claras diferenças da evolução que as receitas tributárias tiveram no período 2007-2010. 53 Gráfico I.30 AMÉRICA LATINA (19 PAÍSES): CONTRIBUIÇÃO DAS VARIAÇÕES DA RECEITA E DOS GASTOS À VARIAÇÃO DO RESULTADO GLOBAL, 2009-2010 a (Em porcentagens do PIB) 5 4 3 2 1 0 -1 -2 -3 Contribuição da variação do gasto total Contribuição da variação do gasto de capital Contribuição da variação da receita proveniente de produtos básicos d Chile a Honduras Brasil a Cuba Equador a Venezuela (Rep. Bol. da) Peru a Paraguai Nicarágua Bolivia (Est. Plur. da) C Rep. Dominicana b El Salvador Haiti Argentina Uruguai Colômbia Guatemala México Panamá Costa Rica -4 Contribuição da variação de outras receitas Contribuição da variação do gasto corrente Contribuição da variação da receita tributária Variação do resultado fiscal Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras oficiais. a O gasto total não inclui a concessão líquida de empréstimos. b O resultado global inclui a discrepância estatística. c Governo geral. d Considera tanto a receita tributária como a não tributária provenientes da exploração de produtos básicos. Ao revisar a evolução trimestral dos recursos tributários de alguns países da região entre 2009 e 2011, observa-se que a partir do quarto trimestre de 2009 houve uma recuperação generalizada que se torna mais forte nos três primeiros trimestres de 2010 e se desacelera a partir do quarto trimestre de 2010, com exceção da Argentina e da Colômbia. Durante 2010, o gasto fiscal se reduziu quase meio ponto do PIB, em um contexto onde 13 dos 20 países analisados diminuíram seus gastos. Quase todos os países da região reduziram seus gastos correntes e aumentaram seus gastos de capital. A média regional mostra em gastos correntes uma redução de 0,5 pontos do PIB e um incremento dos gastos de capital de quase 0,2 pontos do PIB. O gasto primário corrente caiu aproximadamente 0,3 pontos do PIB. 4,8 1,7 0,1 1,4 2,1 4,5 República Dominicana Uruguai Venezuela (República Bolivariana da) 3,1 -1,9 3,6 1,8 3,4 Peru 3,4 0,0 -0,2 -1,9 -1,0 -0,3 1,8 0,3 -5,5 2,4 0,6 Paraguai 1,9 4,6 Panamá -0,5 México Nicarágua -2,4 Honduras 2,3 El Salvador 0,0 1,9 Equador -1,3 -1,8 Cuba Haiti 3,7 Costa Rica Guatemala 8,8 0,8 Colômbia 0,8 2,4 3,5 2,2 Chile 2,8 2,7 Argentina Bolívia (Estado Plurinacional da) d Brasil 2,0 1,4 Caribe c 1,3 1,2 1,8 2,2 2008 América Latina e Caribe c América Latina c 2007 -3,7 1,3 -1,6 -0,4 0,7 1,4 -0,9 -0,5 -5,5 -0,8 -1,7 -1,2 -4,2 -3,8 -1,3 -1,1 -4,0 0,4 1,3 1,4 -0,6 -1,0 -1,1 2009 Resultado primário -2,4 1,2 -0,6 1,1 1,8 0,1 0,5 -1,2 -3,8 -0,1 -1,8 -0,4 -2,1 -2,1 -3,1 -1,1 0,1 1,4 2,2 1,5 … … -0,4 2010 3,0 -1,6 0,1 1,8 1,0 1,2 0,4 -1,9 -3,1 -1,6 -1,4 -0,2 -0,1 -3,2 0,6 -2,7 8,2 2,3 -1,9 0,6 -2,0 -0,8 0,2 2007 -1,2 -1,1 -3,5 2,2 2,5 0,3 -1,2 -1,6 -2,5 -1,3 -1,6 -0,6 -1,1 -6,9 0,2 -2,3 4,3 0,0 -1,2 0,7 -2,1 -1,3 -0,5 2008 -5,1 -1,5 -3,5 -1,7 0,1 -1,5 -2,3 -2,2 -6,2 -1,3 -3,1 -3,7 -5,1 -4,8 -3,4 -4,1 -4,5 -1,1 -3,5 -0,8 -4,0 -3,4 -2,9 2009 Resultado global -3,7 -1,1 -2,5 0,0 1,4 -2,7 -1,0 -2,7 -4,8 -0,6 -3,3 -2,7 -3,0 -3,4 -5,3 -3,8 -0,4 -0,1 -1,0 -0,1 … … -2,0 2010 24,1 57,8 20,4 30,1 26,0 60,3 69,5 20,6 28,7 36,2 21,7 37,7 29,5 … 33,3 37,5 5,3 49,6 31,0 63,6 79,7 53,7 35,9 2006 19,1 49,0 18,4 26,2 18,6 52,3 42,7 20,9 17,4 33,6 21,3 34,9 27,7 … 27,6 32,9 4,1 37,1 30,7 55,7 72,6 47,3 30,0 2007 14,2 47,7 24,4 24,1 15,9 44,8 38,2 24,4 20,1 42,3 20,1 34,4 22,9 … 24,9 33,2 5,2 34,0 24,0 48,5 71,8 46,1 28,6 2008 18,4 43,6 28,0 23,4 16,1 44,9 43,6 28,1 24,5 34,4 23,0 42,6 18,2 … 27,5 34,7 6,2 34,5 29,3 48,5 79,3 49,1 30,0 2009 Governo central 18,4 38,7 28,2 21,3 15,5 46,0 44,5 27,5 30,0 20,5 24,2 43,0 22,4 … 29,6 34,8 9,2 34,5 27,6 45,1 … … 29,5 2010 24,1 61,1 … 31,3 27,6 61,0 70,0 22,6 30,0 38,7 21,9 39,9 32,0 … 38,4 47,4 10,6 52,4 47,0 76,3 … … 40,7 2006 Dívida pública a Quadro I.6 AMÉRICA LATINA E CARIBE: INDICADORES FISCAIS DO GOVERNO CENTRAL (Em porcentagens do PIB a preços correntes) 54 19,1 52,2 19,0 27,2 22,2 52,9 43,5 22,7 18,3 35,9 21,6 37,0 30,2 … 31,8 43,8 9,1 40,0 45,1 66,7 … … 33,6 2007 14,2 51,1 25,3 24,5 19,2 45,4 39,3 26,9 19,0 44,5 20,4 36,9 25,0 … 29,9 42,6 12,0 36,8 38,5 57,8 … … 32,1 2008 SPNF b 18,4 47,7 28,6 23,8 18,8 45,6 44,8 34,9 22,9 35,0 23,3 45,2 19,6 … 34,1 44,8 12,9 37,6 42,8 57,7 … … 33,6 2009 18,4 42,6 29,2 21,7 16,3 46,7 45,6 34,0 25,4 20,9 23,7 45,6 23,5 … 36,2 45,9 15,8 38,1 40,7 52,0 … … 32,8 2010 6,5 1,8 2,6 5,8 -3,7 -2,8 7,2 4,7 0,0 0,9 5,7 6,9 Granada Guiana Jamaica São Cristóvão e Névis São Vicente e Granadinas Santa Lúcia Suriname Trinidad e Tobago 5,4 -3,2 8,1 0,8 0,0 6,1 6,2 5,1 -2,8 -1,0 0,8 -4,0 -0,9 -7,8 2009 … -5,6 2,2 -0,8 3,0 4,4 6,5 0,2 3,0 1,9 -2,4 0,4 1,3 2010 4,9 8,0 -2,0 -2,5 -1,9 -4,2 -4,5 -5,3 -0,9 -1,2 -1,6 -1,2 -5,6 2007 7,1 2,3 0,0 -0,6 -0,3 -7,4 -3,8 -5,0 -2,6 1,5 -5,1 -2,9 -5,9 2008 -6,0 3,7 -2,2 -2,6 -0,6 -11,1 -3,7 -5,0 -2,1 -2,9 -9,4 -3,2 -10,6 2009 Resultado global … -14,7 -0,6 -3,5 -4,2 -6,0 -3,0 -1,7 1,4 -1,5 -8,1 -2,8 -1,1 2010 16,8 37,0 65,3 62,3 149,5 55,9 155,3 87,5 81,2 93,5 79,0 32,8 90,5 2006 16,8 28,5 66,9 55,5 141,5 53,9 98,8 83,4 76,2 89,1 84,0 35,1 79,7 2007 14,5 25,2 64,8 58,1 134,5 48,7 103,7 79,3 70,5 83,1 88,0 36,6 80,1 2008 19,0 25,0 66,3 62,2 145,3 54,2 115,2 91,7 76,0 87,2 101,7 … 92,8 2009 Governo central Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras oficiais. a Em 31 de dezembro de cada ano, aplicando a taxa de câmbio no final do período para a dívida externa. b Setor público não financeiro. c Média simples. d Governo geral. e Anos fiscais. 8,8 4,9 -2,1 -3,4 -0,7 0,7 -0,2 1,6 2,3 Barbados d -3,2 -1,0 Dominica 0,6 2008 Resultado primário Belize -2,7 Bahamas 2007 Antigua e Barbuda Caribe e Quadro I.6 (conclusão) 55 … 21,0 71,7 63,8 156,3 64,7 … 93,0 72,4 98,3 … … 82,6 2010 … … … … … … … … … … … … … … … 2007 … … … … … … … … … … … 2006 Dívida pública a … … … … … … … … … … … … … 2008 SPNF b … … … … … … … … … … … … … 2009 … … … … … … … … … … … … … 2010 56 Gráfico I.31 AMÉRICA LATINA E CARIBE (19 PAÍSES): RECEITAS DO GOVERNO CENTRAL, 1990-2011 a (Em porcentagens do PIB) 20 18 16 14 12 10 8 6 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 Receita tributária Outras receitas Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras oficiais. a Os dados de 2011 são projeções. Gráfico I.32 AMÉRICA LATINA (PAÍSES SELECIONADOS): EVOLUÇÃO DA ARRECADAÇÃO TRIBUTÁRIA EM TERMOS REAIS, SEM SEGURIDADE SOCIAL, 2009-2011 a (Em porcentagens de variação, t/t-4) 30 20 10 0 -10 -20 -30 -40 I II III IV I 2009 Argentina II III IV I 2010 Brasil Chile Colômbia México b 2011 Peru Uruguai Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras oficiais. a Os dados de 2011 correspondem ao primeiro trimestre. b Inclui receitas tributárias não petrolíferas. 57 Gráfico I.33 AMÉRICA LATINA: GASTOS DO GOVERNO CENTRAL, 1990-2011 a (Em porcentagens do PIB) 22 20 18 16 14 12 Gasto de capital Juros 2011 2010 2009 2008 2007 2006 2005 2004 2003 2001 2002 2000 1999 1997 1998 1996 1995 1994 1993 1992 1991 8 1990 10 Gasto corrente primário Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras oficiais. a Excluindo Cuba. Os dados de 2011 são projeções. Desta forma, os níveis de gasto público da região no final de 2010 de 1,8 pontos percentuais do PIB acima dos registrados em 2007. Estes incrementos resultaram da maior expansão dos gastos primários (2,1 pontos do PIB), que compensou a redução dos gastos em pagamento de juros durante este período (0,3 pontos do PIB). Dos 20 países analisados, 5 declaravam gastos superiores em 3 pontos do PIB aos observados em 2007. Os países com maiores incrementos foram: Equador (9,5 pontos percentuais do PIB), Argentina (5,3 pontos percentuais do PIB), Costa Rica (4,9 pontos percentuais do PIB), Panamá (4,8 pontos percentuais do PIB) e Chile (4,7 pontos percentuais do PIB). No Brasil, Costa Rica, Equador, Panamá e Uruguai se observaram diminuições mais acentuadas dos pagamentos de juros da dívida, em torno a 1 ponto porcentual do PIB. De maneira inversa, a Bolívia (Estado Plurinacional da), Honduras e a República Dominicana em 2010 incrementaram seus pagamentos por juros em 0,2, 0,3 e 0,6 pontos do PIB, respectivamente. O gasto corrente da região se elevou em média mais de 1 ponto percentual do PIB, enquanto o pagamento de juros contraiu-se levemente, pelo que o gasto corrente primário subiu 1,5 pontos do PIB. Em suma, após a deterioração observada em 2009, os países da região estão lentamente recompondo seu espaço fiscal por meio de uma melhoria em suas receitas, da manutenção do mesmo nível de gasto em termos do PIB e de uma queda da relação entre a dívida e o PIB. Cabe destacar que as estratégias a seguir para a ampliação do espaço fiscal serão diferentes para cada país. Em alguns casos as autoridades deveriam centrar seus esforços em fortalecer suas débeis cargas tributárias, em outros países com estruturas de arrecadação mais consolidadas os governos deveriam focar-se em moderar os aumentos do gasto público corrente. No caso de alguns países do Caribe será preciso atender os recorrentes problemas de sustentabilidade da dívida pública. 58 3. Balanço e perspectivas De maneira generalizada, desde o segundo semestre de 2009 a região da América Latina e Caribe vem se recuperando dos efeitos da crise global e continua crescendo a taxas relativamente elevadas para sua história econômica, apoiando-se tanto na demanda interna como na externa. Espera-se que a região cresça 4,7% em 2011 e 4,1% em 2012, embora persista uma crescente incerteza derivada da conjuntura externa, comentada mais adiante. O crescimento da economia mundial, especialmente dos países em desenvolvimento, tem permitido uma melhora significativa dos termos de troca, sobretudo na maioria das economias sul-americanas, em algumas economias do Caribe especializadas em produção e exportação de produtos básicos e, em menor medida, no México. Contudo, na América Central e em quase todas as economias do Caribe o efeito observado é o inverso, dada sua condição de importadores líquidos de produtos básicos. Também a elevada liquidez que caracteriza a economia mundial, junto com níveis de risco relativamente baixos exibidos pela região, tem facilitado o acesso aos mercados financeiros internacionais tanto do setor público como do privado e contribuído para uma elevada expansão do crédito, que deu impulso à demanda interna em matéria de consumo e investimento. Este fator é outra consequência da melhora dos indicadores do mercado de trabalho atrelada à recuperação das economias e uma das principais causas do sustentado dinamismo que o consumo privado apresenta na América Latina e no Caribe. Tudo isto ocorre em um contexto no qual, embora alguns governos tenham anunciado o desmantelamento das medidas implementadas para enfrentar a crise, há casos em que as políticas públicas continuam tendo presença importante, o que fica evidenciado ao observar que o gasto público projetado para 2011, como porcentagem do PIB, ainda estaria situado acima dos níveis prévios à crise, apesar de que venham diminuindo desde 2009. Por outro lado, o aumento dos preços dos produtos básicos, e em especial dos alimentos e dos combustíveis, no marco de um significativo crescimento da demanda interna, pressiona a taxa de inflação à alta e tem começado a colocar os bancos centrais da região frente ao renovado dilema de priorizar a estabilidade dos preços ou tentar defender em alguma medida a competitividade dos setores produtores de bens exportáveis e substitutivos de importações, em um momento em que a combinação de uma elevada liquidez internacional e a solidez de algumas economias latino-americanas, somada a um revigorado apetite dos capitais estrangeiros por ativos nos países emergentes, se traduz em uma forte pressão à apreciação das moedas da América Latina e do Caribe. Embora este tema seja tratado extensivamente na segunda parte deste documento, neste ponto não se pode deixar de assinalar os desafios que esta situação implica do ponto de vista da formulação da política macroeconômica. Em primeiro lugar, sabendo que a origem das recentes altas de preços é um choque de oferta e que, no caso dos alimentos e dos combustíveis, se trata de bens cuja demanda é relativamente inelástica, a política monetária perde eficácia como instrumento antiinflacionário, ainda que cumpra o objetivo de reduzir as expectativas de incrementos de preços. Por outro lado, o aumento da taxa de juros tende a elevar o diferencial entre as taxas internas dos países da região e as vigentes nos mercados financeiros das economias desenvolvidas, o que aumenta a atração dos influxos de capitais e, em consequência, as pressões para a apreciação nos mercados de divisas. A apreciação cambial tem um efeito deflacionista cuja magnitude depende da proporção de bens comercializáveis que formam parte da cesta de consumo familiar, pelo que alivia o problema inflacionário. Alem disso, no curto prazo a entrada de capitais gera um aumento do crédito que permite sustentar a demanda interna e inclusive aliviar a pobreza, dado que o consumo dos estratos mais pobres é intensivo em alimentos, cujo preço relativo se 59 espera que caia acompanhando a diminuição da taxa de câmbio real. Trata-se de uma estratégia antiinflacionária aparentemente sem custos e por isso, em muitas ocasiões, é sedutor para as autoridades econômicas permitir certo grau de apreciação da taxa de câmbio14. Contudo, a situação encerra uma série de riscos e dificuldades tanto no curto prazo como da perspectiva do crescimento. A região se torna vulnerável a movimentos de capitais especulativos, em busca de ganhos de curtíssimo prazo, com o agravante que a magnitude dos recursos envolvidos excede a capacidade dos sistemas financeiros e pode originar bolhas nos preços dos ativos financeiros e nos mercados imobiliários15. Por outro lado, em qualquer momento os capitais podem retirar-se e gerar sérias disrupções do crescimento, tema ao que se fará referência mais adiante. Por outro lado, a queda da taxa de câmbio real pode afetar o componente externo da demanda de bens, em especial em um cenário de perda de dinamismo do comércio mundial, como o que pode ser gerado em consequência da possível diminuição do crescimento dos países desenvolvidos projetada para meados de 2011. De fato, embora a situação diste de ser preocupante, mesmo no contexto de um período muito favorável em relação à evolução dos termos de intercâmbio, o saldo em conta corrente do balanço de pagamentos da região vem se deteriorando de modo sistemático desde 2006. Como analisado no requadro 3, o déficit em conta corrente da região, estimado com base nos preços internacionais de tendência, seria um pouco maior que o observado, mas seu financiamento não estaria representando um problema. A elevada liquidez internacional também pressiona as taxas de câmbio reais à baixa e os preços dos produtos básicos à alta, e opera como um incentivo para a especialização intensiva em produção e exportação de bens primários. Como assinalado, isto aumenta a vulnerabilidade das economias da região aos choques externos e gera maior volatilidade dos agregados macroeconômicos internos, como o investimento, o que afeta de maneira negativa a capacidade das economias de crescer, gerar emprego produtivo e diminuir a desigualdade16. As autoridades econômicas da região têm reagido aos complexos dilemas que a política macroeconômica enfrenta nesta conjuntura implementando um conjunto de medidas que, em distintas proporções, combinam intervenções parcialmente esterilizadas nos mercados de câmbio, controles de diferentes tipos à entrada de capitais e regulamentações financeiras cujo objetivo é aumentar a demanda ou diminuir a oferta de divisas nos mercados de ações, para aliviar as pressões sobre as cotações das moedas. A efetividade do conjunto de medidas que se adote, no entanto, dependerá do contexto de políticas macroeconômicas no qual esteja inserido. Por exemplo, como analisado mais adiante, estas medidas aumentariam seu potencial se fossem acompanhadas, em forma coordenada, de uma política fiscal orientada ao incremento da poupança do setor público, o que permitiria reduzir as pressões cambiais e inflacionárias. 14 15 16 Veja CEPAL, Balance Preliminar de las economías de América Latina y el Caribe, 2010 (LC/G.2480-P), Santiago do Chile, dezembro de 2010. Veja Nicolas Magud, Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff, “Capital controls: myth and reality. A portfolio balance aproach”, NBER Working Papers, Nº WP11-7, Peterson Institute for International Economics, 2011. Veja R. Frenkel e M. Rapetti, “Fragilidad externa o primarización: ¿cuál es la principal amenaza para América Latina?”, Santiago do Chile, Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), 2011, inédito. 60 Requadro I.3 TENDÊNCIA DA CONTA CORRENTE NA AMÉRICA LATINA A América Latina experimentou um superávit médio no período 2003-2007 de cerca de 1% do PIB em conta corrente, situação sem precedentes em sua história. Com a chegada da crise financeira internacional no final de 2008, a região experimentou uma reversão da balança externa, apresentando em média um déficit de 0,8% do PIB no período 2008-2010, sobretudo devido à deterioração de sua balança comercial. Dado que o período considerado coincide com o persistente auge de preços das matérias-primas, que têm uma alta incidência na cesta regional de exportações, cabe perguntar qual seria a situação do saldo da conta corrente, medido em preços de tendência das matérias-primas. Com este propósito, construiu-se uma matriz com os principais produtos primários exportados pelos países latino-americanosa e seus respectivos preços internacionais. Os preços de tendência foram obtidos a través de médias móveis de 10 anosb. A relação entre o preço de tendência e o preço efetivo corresponde ao fator de ajuste utilizado sobre as partidas de exportaçõesc. Para manter a consistência, se ajustam tanto as exportações de bens primários como as importações, estas últimas principalmente de petróleo e seus derivados. Da mesma forma, dado que existe uma relação positiva e significativa entre as exportações de produtos básicos e as remessas de lucros de investimento estrangeiro direto (débito), foi feito um ajuste nesta partida da conta de serviços de capital utilizando o mesmo fator usado para as exportações. Ademais, dado que o ajuste em exportações e importações não é simétrico, o saldo líquido no ajuste comercial dará origem a um movimento idêntico no produto interno bruto (PIB) e, portanto, o saldo da conta corrente em relação ao PIB ajustado deve ser obtido como proporção deste PIB “corrigido”. Também, dado que a demanda de importações é uma função do produto, o ajuste sobre o PIB é coerente com um novo efeito sobre as importações, que dependerá de sua elasticidade-rendad. Intuitivamente, se a região não houvesse desfrutado dos altíssimos preços de exportação dos últimos anos, ou seja, se sua renda disponível tivesse sido muito menor, assim como sua demanda de importaçõese. No quadro 1 mostra-se a elasticidade-renda de longo prazo das importações obtidas para 10 países e um agregado regional para a América Latina e o Caribe (19 países)f. As estimativas foram realizadas com dados anuais no período 1980-2010. Observa-se uma importante dispersão nas elasticidades de longo prazo obtidas para cada país, que flutuam entre 1,3 e 1,4 em países como Bolívia (Estado Plurinacional da), Chile e Peru, e cifras maiores que 3 no Brasil e no México. O agregado para 19 países da região mostra uma elasticidade de 2,5. No gráfico 1 mostram-se os resultados do ajuste para o agregado América Latina e Caribe (19 países). Em nível regional, se observa um comportamento sustentável na balança externa, já que, medido a preços de tendência, de qualquer modo a região teria registrado um leve superávit da conta corrente no período 2003-2007 (médio de 0,1% do PIB). Do mesmo modo, a reversão da balança externa durante a crise financeira internacional implicou um déficit externo de tendência que alcançou um máximo de 1,9% do PIB em 2008 e de 1% em 2009, cifras compatíveis com entradas líquidas de capitais sustentáveis para a região. Durante o período 2003-2010, a conta capital regional apresentou em média um superávit (entradas líquidas) de 1,4% do PIB e, em particular, a entrada líquida de IED foi em média 1,9% do PIB (carteira líquida: 0,5%; outro investimento líquido: -1%). Uma vez superada a crise, em 2010, o saldo da conta corrente de tendência da América Latina foi um déficit de 1,8% do PIB (déficit de 1,2% em termos efetivos), enquanto o saldo da conta capital alcançou 3,1% do PIB, com uma participação do IED de 1,4% (carteira líquida: 2,2%; outro investimento líquido: -0,5%)g. É claro que o resultado deste exercício é díspar em nível de países. No gráfico 2 se apresentam os resultados específicos para um grupo selecionado. Para o ano 2010, dos quatro países que mostram superávits efetivos em conta corrente, a Argentina (1% do PIB), Bolívia (Estado Plurinacional da) (4,6%), Chile (1,9%) e a Venezuela (República Bolivariana da) (3,7%), todos eles, exceto a Bolívia (Estado Plurinacional da), na realidade registram um déficit medido a preços de tendência (-0,1%, 1,2%, -1,6% y -0,2%, respectivamente). Os países que registram as maiores brechas entre sua balança externa efetiva e corrigida são naturalmente os exportadores de hidrocarbonetos, em especial aqueles com alta concentração deste item em sua cesta de exportações como Venezuela (República Bolivariana da), Bolívia (Estado Plurinacional da), Colômbia e Equador. Nestes dois últimos países, o déficit efetivo em conta corrente foi de 3% do PIB em 2010, que medido a preços de tendência alcançou 4,2% e 4,7% do PIB, respectivamente. 61 Requadro I.3 (continuação) Os países exportadores de cobre, Chile e Peru, também registram uma grande brecha, sobretudo no período 2006-2007, quando o preço real do metal alcançou máximos históricos. O Brasil e o México, por seu lado, mostram menores brechas entre a conta corrente efetiva e corrigida, principalmente devido a que sua cesta de exportações é significativamente mais diversificada que a dos demais países analisados. Além disso, grande parte do ajuste à baixa das exportações se vê compensado pela elevada elasticidade-renda estimada para ambos os países. Peru Uruguai 0,45*** 0,83*** 1,02*** LM(-2) LPIB LPIB(-1) -0,43*** 3,53*** 3,72*** 2,49*** 3,02*** 2,82*** -2,46 *** -2,32 *** -1,78*** -3,14*** -2,31*** 1,76*** -0,34 *** LTCR(-1) -0,30*** -0,25 ** 0,33* -0,41** -0,24** 0,24* 2,91*** -0,91*** 0,35* -0,77*** -0,16** -0,20** -0,45*** -0,50* LTCR(-2) 2,36*** -2,36*** LPIB(-2) LTCR 1,65*** 0,97*** -0,14* 3,91*** 2,89*** -4,34*** -2,46*** 1,95** -0,35** 0,15* 0,38*** América Latina (19 países) 0,68*** Mexico 1,09*** Venezuela (República Bolivariana da) 0,78*** Equador Colômbia 0,57*** Chile LM(-1) Brasil Argentina Bolívia (Estado Plurinacional da) Quadro 1 AMÉRICA LATINA E CARIBE: ESTIMATIVA DA ELASTICIDADE-RENDA DAS IMPORTAÇÕES 0,23* -0,27** -0,64* Significativo a 1% (***), 5% (**) e 10% (*) Elasticidade PIB 2,5 1,4 3,2 1,3 1,6 1,8 1,4 2,1 2,1 3,7 2,5 Elasticidade TCR -0,8 -0,3 -1,4 -0,8 -0,1 -0,2 -0,3 -0,3 -0,7 -1,6 -0,7 Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL). Gráfico 1 AMÉRICA LATINA E CARIBE (19 PAÍSES): CONTA CORRENTE A PREÇOS DE TENDÊNCIA, 2000-2010 (Em porcentagens do PIB) 2 2 1 1 0 0 -1 -1 -2 -2 -3 -3 -4 -4 2000 2001 2002 2003 Efetiva 2004 2005 Correção 1 Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL). 2006 2007 2008 Correção 2 2009 2010 62 Requadro I.3 (conclusão) Gráfico 2 AMÉRICA LATINA E CARIBE (19 PAÍSES): CONTA CORRENTE A PREÇOS DE TENDÊNCIA, 2000-2010 (Em porcentagens do PIB) Argentina Bolívia (Est. Plur. da) Brasil -2 -2 -4 -4 14 12 10 8 6 4 2 0 -2 -4 -6 -8 6 6 1 1 6 6 4 4 0 0 4 4 2 2 -1 -1 2 2 0 0 -2 -2 -2 -2 -4 -4 -6 -6 -8 2 2 1 1 0 0 -1 -1 Colômbia 2010 2009 2007 2008 2006 2005 -5 2003 -4 -5 2004 -4 2001 -3 2002 -2 -3 2000 -2 2010 2009 2007 2008 2006 2005 2003 Chile 2004 2001 2002 14 12 10 8 6 4 2 0 -2 -4 -6 -8 2000 2010 0 2009 2 0 2007 2 2008 4 2006 4 2005 6 2003 6 2004 8 2001 8 2002 10 2000 10 Equador 0 0 -2 -2 2010 2009 2008 2007 2005 2006 2003 1 0 0 -1 -1 2010 2009 2008 2007 2005 2006 2003 2004 -4 2002 -4 2001 -2 -3 2000 -2 -3 2010 2009 2008 México Correção2 Correção1 Efetiva 2004 2002 2001 2000 2010 2009 2008 2007 2007 2005 2006 2003 2004 2002 2010 2009 2008 2007 2005 2006 2003 -8 2004 -6 -8 2002 -6 2001 -2 -4 2000 -2 2001 2005 2010 Venezuela (Rep. Bol. da) -4 2000 2006 0 2003 0 2004 2 20 18 16 14 12 10 8 6 4 2 0 -2 -4 -6 1 2 20 18 16 14 12 10 8 6 4 2 0 -2 -4 -6 Peru 2002 4 2001 4 2000 -8 2009 -8 2008 -7 2007 -7 2005 -6 -8 2006 -4 -6 2003 -4 -6 2004 -5 -6 2002 -5 2001 -3 -4 2000 -3 -4 Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL). Notes: a Os produtos considerados são trigo, milho, arroz, soja, cobre, ferro, aço, alumínio, prata, zinco, estanho, níquel, chumbo, petróleo, carvão e gás natural. b Os resultados são similares utilizando o filtro de Hodrick-Prescott para os preços de tendência. c Note que este ajuste considera correções em preços e não em volumes. d A elasticidade-renda das importações se obtém de: log log e Certamente, seguindo esta consideração de equilíbrio geral, também poderíamos pensar em uma queda do consumo privado e em outros efeitos. No entanto, aqui nos enfocamos em corrigir preferentemente as partidas que afetam a conta corrente. f A especificação estimada pelo método dos mínimos quadrados ordinários em cada caso corresponde a versões restringidas de: log g log log log ~ 0, , ~ 0, Cabe assinalar que uma parte das entradas correspondentes a IED se refere a reinvestimento de lucros, e que o montante de IED compatível com o cálculo do saldo em conta corrente de tendência seria inferior ao dado observado. 63 A situação descrita apresenta riscos que, sem dúvida, não impedirão que a região continue crescendo ao longo de 2011 —embora a taxas que provavelmente irão convergindo de maneira gradual para níveis mais próximos aos dos PIB potenciais— e que a conjuntura relativamente favorável se prolongue até o ano 2012. Não obstante, isto está sujeito à forma como evoluam determinados elementos dos que depende a resolução de algumas situações complexas, em especial nas economias desenvolvidas. Em primeiro lugar, a recuperação da economia estadunidense é mais lenta que a esperada, como refletem os dados do nível de atividade, além dos indicadores do mercado de trabalho e da evolução do mercado imobiliário. A persistência de problemas em alguns bancos, o demorado processo de redução do endividamento das famílias e a própria lentidão da recuperação constituem fatores que afetam a atividade financeira e conspiram contra a estratégia de estimular a expansão via política monetária, ao mesmo tempo em que o déficit e o elevado nível de endividamento restringem a capacidade da política fiscal17. Neste contexto, cabe esperar que os estímulos monetários sejam mantidos enquanto a economia dos Estados Unidos não seja reativada, o que contribui para reforçar a percepção relativamente pessimista sobre o crescimento global e, ao mesmo tempo, aprofunda os dilemas de política econômica, antes referidos, que as economias da região enfrentam. O Japão, por seu lado, recuperando-se dos estragos causados pelo terremoto (veja o requadro I.1), em 2011 crescerá muito pouco e em 2012 crescerá algo mais, dada a baixa base de comparação. Isso, no marco de um prolongado período de relativa estagnação da economia japonesa, originada com a crise de seu sistema bancário nos anos noventa e cuja solução tem sido demorada e incompleta. Estas perspectivas pouco auspiciosas sobre o crescimento do nível de atividade das economias desenvolvidas se completa com a situação encontrada na Europa, onde o foco do imediato tende a ser colocado nas alternativas para solucionar o problema da dívida da Grécia. A experiência latinoamericana, assim como os níveis de endividamento alcançados e a severidade dos ajustes fiscais necessários para recuperar a sustentabilidade da dívida pública, permite prever que será muito difícil evitar uma profunda reestruturação, que também irá acompanhada de uma perda importante. Contudo, até o momento, as autoridades europeias se resistem a esta redução da dívida, fundadas no temor de que uma solução deste tipo tenha efeitos de contágio sobre as demais economias em problemas, que poderia incluir não apenas Irlanda e Portugal, mas também a Espanha e a Itália, apesar da melhora relativa que estes países tiveram recentemente18. Cabe assinalar que, embora este temor não careça em absoluto de fundamento, se a história econômica de nossa região é um bom espelho para a realidade europeia destes dias, a perda é inevitável, mas é preferível fazê-la de maneira ordenada em vez de implementá-la sucumbindo à pressão dos mercados, caso em que o efeito de contágio poderia ser mais grave e vir a transformar-se em um problema sistêmico. Do ponto de vista das economias emergentes, embora seguramente o panorama se apresente mais aliviado, não se pode descartar que a crescente pressão inflacionária em países como China, Índia e Federação Russa, por exemplo, exija um endurecimento relativo da política monetária que se traduza em uma desaceleração do crescimento. Por outro lado, isto limita a capacidade destas economias para sustentar um crescimento de sua demanda e contribuir assim a corrigir os desequilíbrios globais. 17 18 Veja James Mason e outros, Central Bank Watch: The Shifting Tides of Global Monetary Policy, Roubini Global Economics (RGE), junho de 2011. Veja Eduardo Levy Yeyati, “Grecia, entre la negación y la reprogramación inútil”, 20 de maio de 2011 [on-line] http://yeyati.blogspot.com/. 64 Em conclusão, trata-se de uma soma de fatores, como a desaceleração do crescimento da economia internacional, uma gradual diminuição da liquidez global, um aumento do componente de risco dos ativos financeiros, especialmente (mas não exclusivo) de algumas dívidas soberanas europeias, que pode terminar em um processo que costuma denominar-se “fuga para a qualidade”. Isto implicaria, como já ocorrido na recente crise, um crescimento da demanda de ativos em dólares e uma súbita reversão dos fluxos de capitais. De qualquer modo, uma situação como a apresentada não parece iminente, embora a evolução do problema das dívidas europeias possa acelerar os tempos. A notícia ruim é que a história econômica da região da América Latina e Caribe mostra que as reversões do fluxo de capitais habitualmente não vêm sozinhas, mas geralmente acompanhadas de uma queda dos preços internacionais dos produtos básicos e, em consequência, de uma deterioração dos termos de intercâmbio da região, como pode ser visto no gráfico I.34. Deve-se destacar, não obstante, que aquelas economias que são exportadoras líquidas de produtos básicos e que estão recebendo importantes fluxos de capital, por exemplo, no México, são muito mais vulneráveis a esta situação que a maioria das economias centro-americanas e do Caribe, que são importadoras líquidas destes produtos e não têm acesso fluido aos mercados financeiros internacionais. Fluxos financeiros privados líquidos (eixo esquerdo) Fluxos privados líquidos em carteira (eixo esquerdo) 2005=100 2011 2010 2009 2008 2007 2006 2005 2004 2003 2002 80 2001 -4 2000 85 1999 -3 1998 90 1997 -2 1996 95 1995 -1 1994 100 1993 0 1992 105 1991 1 1990 110 1989 2 1988 115 1987 3 1986 120 1985 4 1984 125 1983 5 1982 130 1981 6 1980 Porcentagens do PIB Gráfico I.34 AMÉRICA LATINA: FLUXOS DE CAPITAIS E TERMOS DE TROCA, 1980-2011 a (Em porcentagens do PIB) Termos de intercâmbio da cesta 2000-2009 (eixo direito) Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras oficiais. a Os dados de 2011 são projeções. Dado que é habitual que os processos caracterizados por saídas líquidas de capitais ocorram em paralelo com uma queda dos termos de troca, um aprofundamento da deterioração da situação dos mercados financeiros internacionais poderia ocasionar uma pressão nas contas externas da região, tanto na conta corrente como na conta capital. Se, como poderia suceder, o panorama se completa com uma desaceleração do crescimento e, portanto, do comércio, a recomendação mais prudente seria que as 65 economias da região se preparassem do melhor modo possível para adotar uma estratégia contracíclica em um contexto de menor abundância de divisas. Cabe reiterar que os riscos não são iminentes, mas a situação deve ser considerada com a devida seriedade e a conjuntura favorável aproveitada para acumular reservas internacionais e fazer economias no setor público, de modo a recuperar o espaço de políticas que se contraiu durante a crise. Por outro lado, os controles ou limitações à entrada de capitais de curto prazo também contribuiriam para diminuir a vulnerabilidade da economia. Estas recomendações são compatíveis com a necessidade de conter a apreciação cambial mencionada anteriormente. Os instrumentos que as autoridades econômicas da região têm à mão para defender, na medida do possível, os níveis de competitividade com objetivos de mais longo prazo também poderiam contribuir para manter os equilíbrios macroeconômicos e limitar a volatilidade, que tem caracterizado cronicamente a América Latina e o Caribe. Neste sentido, a reconstrução do espaço fiscal é vital importância para os países da região, já que contribuiria não apenas para enfrentar os tradicionais desafios das políticas públicas (a necessidade de aumentar o investimento em capital físico e social), mas também para atender alguns dos desafios que se apresentem a partir da evolução do cenário internacional. O incremento da poupança do setor público permitiria adotar uma política monetária menos contrativa e contribuiria a reduzir a tensão entre as estratégias antiinflacionárias e as cambiais. Gráfico I.35 AMÉRICA LATINA E CARIBE: CRESCIMENTO DO PIB, 2012 (Em porcentagens) Haiti 8,0 Panamá 6,0 Peru 5,5 Uruguai 4,5 Rep. Dominicana 4,5 Colômbia 4,5 Chile 4,5 Argentina 4,5 América do Sul (10 países) 4,2 América Latina e Caribe 4,1 Paraguai 4,0 Nicarágua 4,0 México 4,0 Equador 4,0 Brasil 4,0 Bolívia (Est. Plur. da) 4,0 América Central (9 países) 3,9 Venezuela (Rep. Bol. da) 3,5 Guatemala 3,5 Costa Rica 3,5 Honduras 3,0 Cuba 3,0 Caribe 2,6 El Salvador 2,5 0 1 2 3 4 5 6 7 Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em cifras oficiais. 8 9 67 APÊNDICE ESTATÍSTICO