XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro. A CONCORDÂNCIA DE GÊNERO EM CONSTRUÇÕES PREDICATIVAS COM O VERBO “SER” Alane Luma Santana Siqueira1, Adeilson Pinheiro Sedrins2 Introdução A concordância nominal de número no Português Brasileiro (doravante PB) é bem diversa. Essa língua permite que haja um morfema que indique pluralidade em todos os elementos do sintagma nominal (ex.: (1) As meninas bonitas); em alguns dos elementos (ex.: (2) As meninas bonita), ou então em apenas um dos elementos (ex.: (3) As menina bonita). Uma língua como o Inglês, por exemplo, só apresenta morfologia de número em um de seus constituintes, que é o nome (ex.: (5) The beautiful girls). De acordo com Costa & Silva (2006), o Português Europeu (PE) só permite uma maneira de ocorrência em relação a esse tipo de concordância, aquela em que todos os seus elementos apresentam o morfema de plural (ex.: as meninas bonitas). Um dado como (1) segue o preceito estabelecido pelo compêndio gramatical, ao contrário de dados como (2) e (3). No entanto, apesar de haver uma gama de possibilidades de indicar pluralidade no PB, não há um “caos” linguístico. Assim, dados como “a menina bonitas”, “a meninas bonita”, “as menina bonitas” não são possíveis, isto é, são agramaticais. Se compararmos os dados de concordância de número com os de concordância de gênero no PB, percebemos que este último não apresenta a mesma diversidade de escolha pelo falante, observe: (6) a. ok a menina bonita; b. * o menina bonito; c. * o menina bonita; d. * menina bonito. Perceba que a concordância de gênero é uniforme nesse tipo de sintagma. Assim, todos os elementos precisam vir marcados com o mesmo traço de gênero, isto é, se um elemento possuir traço [+feminino], os demais devem estar marcados com o mesmo traço. Se um tiver o traço [+masculino], o restante deve vir marcado exatamente com o traço [+masculino]. No entanto, em construções predicativas adjetivais cujo sujeito é um nome nu (ou seja, sem determinante), a concordância de gênero ora é observada (e.: (7) ok Atriz é vaidosa (* atriz é vaidosa)), ora não (ex.: (8) ok Água é bom. Neste último caso, temos uma concordância default) Alguns teóricos formalistas, mais especificamente da vertente da Teoria Gerativa, têm tentado explicar o fenômeno da concordância tanto postulando a existência de categorias funcionais (RITTER, 1992, por exemplo), como também a partir de teorias de valoração de traços, dispensando a existência de categorias funcionais (CHOMSKY, 1999; FRAMPTON & GUTMANN, 2000; MAGALHÃES, 2004; PESETSKY & TORREGO, 2007, por exemplo). A partir do que foi dito, a proposta deste trabalho é desenvolver uma discussão sobre a concordância de gênero em construções predicativas adjetivais com o verbo “ser”, observando se é ou não necessário assumir para o PB a existência de categorias funcionais, a fim de acomodar o padrão de concordância nessa língua. Material e métodos O modelo teórico que orienta nossa pesquisa é a Teoria Gerativa Chomskyana, em sua versão minimalista (CHOMSKY, 1995), que defende que todo falante nativo de uma língua possui um dispositivo inato que faz com que ele seja capaz de adquirir a linguagem. Assim, se não possuir nenhuma deficiência, é plenamente competente para fazer distinções entre o que pertence ou não a sua língua materna, ou seja, o que é gramatical ou agramatical. Dessa maneira, os dados do PB tomados para análise são dados de introspecção. O estudo pretendido foi realizado conforme o método de abordagem abdutivo. Resultados e Discussão Duek (2012) aponta uma correspondência, para o PB, entre o tipo de gênero do nome (se natural ou arbitrário) e o padrão de concordância nominal que o nome nu pode estabelecer com o predicativo. De acordo com a autora, nomes com gênero natural apresentam uma concordância obrigatória (ex.: Atriz é vaidos-a / *Atriz é vaidos-o). Já em nomes com gênero arbitrário, a realização da marca de concordância de gênero no predicativo não é verificada, ex.: Maça é gostoso/ *Maça é gostosa. Wechsler e Zlatic (2000), por sua vez, propõem uma distinção de traços de concordância que operam entre a concordância interna e a concordância externa ao sintagma nominal. Segundo a proposta desses autores, os NPs (nomes nus) possuiriam dois conjuntos de traços-phi: Concord (responsável pela concordância interna, sempre especificado para gênero, tanto para nomes de gênero natural quanto de gênero arbitrário) e Index (responsável pela concordância externa, podendo ou não estar valorado para gênero em nomes com gênero arbitrário). Duek, partindo da proposta de Wechsler e Zlatic, salienta que se a projeção NumP for concatenada a um nome nu com gênero arbitrário, o traço de gênero Index de NumP pode estabelecer uma relação de concordância com o traço de 1 Primeira Autora é Bolsista BIC- 1489-8.01/12 (FACEPE). Graduanda em Licenciatura Plena em Letras da Universidade Federal Rural de Pernambuco/ Unidade Acadêmica de Serra Talhada, fazenda Saco, s/n, Caixa Postal 063, Serra Talhada-PE. E-mail: [email protected]. 2 Segundo Autor é Orientador da pesquisa e Professor Adjunto do curso de Licenciatura Plena em Letras da Universidade Federal Rural de Pernambuco/ Unidade Acadêmica de Serra Talhada, fazenda Saco, s/n, Caixa Postal 063, Serra Talhada-PE. XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro. gênero de Concord em NP que está valorado e haver a concordância (figura 1). A partir do NumP, a concordância entre o predicativo e o nome nu seria permitida, no entanto, segundo Duek, teríamos uma leitura diferente (tabela 1). Os exemplos teriam a seguinte leitura: (9a) Tipos de banana; (9b) Quantidade de banana; (10a) Todo e qualquer tipo de professora é gostosa; (10b) A carne de professoras é gostosa. Em dados como (11a) [NP Maçãs] são gostosas, teríamos um NP com gênero arbitrário, mas não havendo concordância de gênero, já em (11b) * [NP Maçãs] são gostosos, teríamos um NP com gênero arbitrário, mas impossibilidade para a falta de concordância de gênero. Nesses dados em (11), o verbo está no plural, assim, podemos concluir que o verbo influencia na concordância de gênero nesse tipo de construção, pois como podemos ver nos exemplos acima, quando temos um verbo com o traço [+plural], a concordância é obrigatória. Como dito anteriormente, Duek propõe, para os nomes nus no singular, que se não houver um NumP, como é o caso de (11), o nome com gênero arbitrário não concordaria com o adjetivo predicativo, mas observamos que nos dados com o verbo no plural, a proposta de Duek não dá conta, ou seja, mesmo não tendo um NumP na estrutura, há uma concordância. Assim, parece haver uma relação entre a concordância verbal e a verificada com o predicativo, conforme salientamos anteriormente. No entanto, a análise da autora desconsidera construções no plural e não diz nada, por isso, sobre a concordância nesses contextos. Desse modo, é necessário investigarmos essa possível influência do verbo que tem o traço [+ plural]. Agradecimentos Agradeço à Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia de Pernambuco (FACEPE) pelo apoio financeiro. Referências CHOMSKY, N. The Minimalist Program. Cambridge, MA: MIT Press, 1995. CHOMSKY, N. Derivation by phase. In: MIT Occasional Papers in Linguistics. Cambridge, n. 18, 1999. COSTA, J.; SILVA, M. C. F. Notas sobre a concordância verbal e nominal em português. Estudos Linguísticos XXXV, p. 95-109, 2006. DUEK, Karen. Gender and Referentiality: Bare Singulars in Brazilian Portuguese. Workshop on Languages with Articles 2012, Paris. MAGALHÃES, T. M. V. A Valoração de Traços de Concordância dentro do DP. D.E.L.T.A, 2004, p. 149-170. PESETSKY, D. & TORREGO, E. The syntax of valuation and the interpretability of features. In: KARIMI, S.; SAMIIAN, V.; WILKINS, W. K. (eds.). Phrasal and Clausal Architecture: Syntactic Derivation and Interpretation. Amsterdam: John Benjamins, 2007. RITTER, Elisabeth. Cross-Linguistic Evidence for Number Phrase. Canadian Journal of Linguistics 37: 197-218 June 1992. WECHSLER, S.; ZLATIC, L. (2000). A theory of agreement and its application to Serbo-Croatian. Language 76. 759798. 103. XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro. Figura 1. Projeção NumP concatenada a um nome nu com gênero arbitrário Concordância (9) Muita banana é (10) Professora é a) Barata a) Gostosa Falta de concordância b) Barato b) Gostoso Tabela 1. Possibilidade para concordância com NumP na estrutura