VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 Transformações ambientais no município de Ilhéus: Uma análise da Vulnerabilidade Social (VS)1 Ednice de Oliveira Fontes Profa.Adjunto - DCAA/UESC.- Pesquisadora da FAPESB E-mail: [email protected] Telynisson Pereira Souza Mestrando – PRODEMA/ UESC. E bolsista CNPQ E-mail: [email protected] RESUMO No contexto da urbanização brasileira, desde seus primórdios, nota-se que os espaços foram ocupados de modo a refletir as desigualdades sociais presentes na estrutura da nossa sociedade. Moysés (2007), afirma que o processo de urbanização, a globalização, as redefinições de apropriação e propriedade do capital e predomínio de corporações financeiras internacionais, acirram e aceleram a desigualdade socioespacial, que podem ser percebidas através de análise e estudos dos processos naturais e socioambientais. A partir deste pressuposto objetiva-se realizar uma análise crítica da realidade socioespacial e ambiental do município de Ilhéus por meio da análise de Vulnerabilidade Social (Nahas, 2005). A base teórica do estudo é a análise sistêmica na Geografia, que nasce do esforço de teorização sobre o meio natural, o mais simples e global, com suas estruturas e seus mecanismos, mais ou menos modificados pelas ações humanas, mas independendo fenômeno direto e nãocontrolado, pois segundo Bertrand e Beroutchachvili (1978), essa construção só é possível a partir da mensuração. Para a realização deste trabalho, tomou-se como base algumas variáveis de infraestrutura municipal (abastecimento de água, saneamento, esgotamento sanitário e limpeza urbana) e características ambientais de uso e ocupação do solo. Os resultados conseguidos até o presente, demonstram a necessidade de assegurar propostas do Poder público que visem solucionar as transformações ambientais que vem ocorrendo no município de Ilhéus, principalmente as que dizem respeito aos aspectos do saneamento básico, que muitas vezes não reproduz os dados quantitativos. 1 O titulo do trabalho foi ajustado para atender melhor a temática do evento. Este trabalho é parte integrante do projeto de Pesquisa intitulado; Impactos ambientais urbanos nas cidades de Ilhéus e Itabuna – Ba. Aprovado pela FAPESB Edital 05/2007. 1 Tema 3 – Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais 1. INTRODUÇÃO A intensificação da urbanização na ultima etapa da modernidade gerou inúmeros problemas relacionados à qualidade e condições de vida humana nas cidades. No contexto da urbanização brasileira, desde seus primórdios, nota-se que os espaços foram ocupados de modo a refletir as desigualdades sociais presentes na estrutura da nossa sociedade, este “padrão” de ocupação dos espaços continua a aumentar nos dias atuais, como afirma Moysés (2007), o processo de urbanização, a globalização, as redefinições de apropriação e propriedade do capital e predomínio de corporações financeiras internacionais, acirram e aceleram a desigualdade socioespacial. Entendendo, assim como Carlos (2005), o espaço geográfico não apenas como palco da atividade humana, mas como produto concreto das relações sociais nele estabelecidas, buscar-se-á analisar a realidade socioespacial e ambiental do município de Ilhéus resultado das relações antrópicas. A partir da pergunta: Quais são as maiores carências sociais e de infra-estrutura no município de Ilhéus? Sabe-se que, as transformações ambientais ocorrem tanto no meio urbano como no meio rural. Atualmente a realidade sócio-ambiental de uma grande parcela da população esta marcada pelas dimensões da exclusão, do agravo, do risco, da falta de informação e de canais de participação destas populações nas decisões da gestão pública. Assim, a crise ambiental, pela qual passa o mundo globalizado, representa um tema propicio para colocar em debate a necessidade de compromissos com investimentos em infra-estrutura, mudanças institucionais e uma participação mais efetiva da população dos municípios na gestão pública. A produção/reprodução do espaço deriva da necessidade de sobrevivência da sociedade. É a partir do momento em que se inicia a utilização dos recursos oferecidos pela natureza, que ocorre à intervenção antrópica na mesma, resultando com isso na transformação da Primeira Natureza em Segunda Natureza (AMORIM, 2007). É neste contexto que os estudos ambientais aplicados devem atender as relações das sociedades humanas de um determinado território como o meio natural. Para Ross (2001), a natureza é vista como recurso que serve como um suporte para a sobrevivência humana. Sendo assim, Amorim (2007) entende como pressuposto da pesquisa ambiental a analise das sociedades humanas através do seu modo de produção, consumo, padrão sócio-cultural e o modo como se apropriam e usam os recursos naturais. Nesta perspectiva, entende-se que os estudos ambientais de abordagem geográfica têm sempre como referencial uma determinada sociedade (comunidade) que vive em 2 VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 um determinado território (município, país, estado, região, lugarejo, e outros), onde desenvolvem atividades, com maior ou menor grau de complexidade, em função da intensidade dos vínculos internos e externos que mantém no plano cultural, social e econômico (Ross apud Amorim 2007, p. 5). 2. BASE TEÓRICA-METODOLÓGICA A base teórica-metodológica do estudo, é a análise sistêmica na Geografia, que nasce do esforço de teorização sobre o meio natural, o mais simples e global, com suas estruturas e seus mecanismos, mais ou menos modificados pelas ações humanas, mas independentes do fenômeno direto e não-controlado, pois segundo Bertrand e Beroutchachvili (1978), essa construção só é possível a partir da mensuração. Segundo Oliveira e Amorim (2007), as relações estabelecidas entre o homem e a natureza vêm se ampliando e tornando-se, ao longo do tempo, necessária à criação de técnicas cada vez mais sofisticadas e complexas. Estas relações estão intimamente relacionadas às necessidades da sociedade de produção de bens de consumo materiais e desenvolvimento cultural, o que, na maioria dos casos, tem levado a constantes crises entre sociedade e natureza, que resultam em transformações ambientais, por vezes catastróficas, quando, por exemplo, a natureza atinge seu limiar de equilíbrio dinâmico. Assim, para Rodriguez; Silva e Cavalcanti (2002, p. 41-42), a concepção sistêmica consiste em uma abordagem em que qualquer diversidade da realidade estudada (objetos, propriedades, fenômenos, relações, problemas, situações e etc) pode-se considerar como uma unidade (um sistema) regulada em um ou outro grau que se manifesta mediante algumas categorias sistêmicas, tais como: estrutura, elemento, meio, relações, intensidade etc (...) Desta forma, pode-se definir como um sistema ao conjunto de elementos que se encontram em uma relação entre si, e que formam uma determinada unidade e integridade. É neste contexto que entendeu-se ser a analise sistêmica, a mais apropriada para o estudo em questão, visto que, esta nos permite transcender as fronteiras disciplinares e conceituais da teoria cartesiana e reducionista, através da analise em separada ou em conjunto dos sistemas ambientais e dos antrópicos, com vistas a apreender a organização espacial em sua totalidade como propõe Santos (1997). Mendonça (2002, p. 126) em sua análise sobre a complexidade das relações sociais e da sociedade com o território e o meio ambiente na contemporaneidade, observa que “o termo sócio aparece, então atrelado ao termo ambiental, para enfatizar o 3 Tema 3 – Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais necessário envolvimento da sociedade enquanto sujeito, elemento, parte fundamental dos problemas relativos à problemática ambiental contemporânea”. Percebe-se, na atualidade que a maior parte do debate ambiental contemporâneo tem se concentrado nas questões globais que ameaçam o planeta e os grandes ecossistemas, deixando num plano secundário os efeitos diversos da degradação ambiental no contexto do município. 2.1. Área de estudo O município de Ilhéus está localizado na região sul da Bahia, possui as coordenadas geográficas -39,1° W e -14,9° S (Figura 1). Segundo estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística- IBGE (2007) o município possui 220.144 hab, em uma extensão de 1.841 km2 . De acordo com o PNUD (2000) apresenta um IDH de 0,70, no entanto segundo o IBGE (2003) 47,34% da sua população vive na pobreza. Figura 1 – Localização do município de Ilhéus Fonte:BGE, SIDRA 2009. Elaborado por Cristiano Marcelo Souza, (Laboratório de Análise e Planejamento Ambiental, 2010. 4 VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 2.2. Metodologia Para alcançar os objetivos propostos, para esta etapa do trabalho, na pesquisa foram utilizados os seguintes procedimentos metodológicos: 1) Levantamentos e análises documentais e bibliográficas, em gabinete. Também foi feito um reconhecimento de campo e elaborado o mapa base para o planejamento das missões de campo e escolha das variáveis para realização da análise e mensuração das transformações ambientais. 2) Posteriormente foram realizados os trabalhos de coleta e sistematização dos dados nas diversas fontes disponíveis (IBGE, SEI e MUNINET). A dimensão abordada para o presente trabalho foi à ambiental, a partir de cinco indicadores que avaliam o acesso social aos bens e recursos do meio urbano e rural. 3) E por fim, estão sendo realizados os trabalhos de gabinete2 para o tratamento qualiquantitativo das informações, através do software Microsoft Office Excel e demais programas estatísticos, bem como o software ArcGis 9.3, para o mapeamento dos pontos onde foram encontrados os problemas ambientais mais graves que expressam uma certa vulnerabilidade social. 3. RESULTADOS E DISCUSSSÕES Segundo Moisés (2009, p. 189) o pensamento completo nos convida a “meditar sobre a complexidade paradoxal da ciência (...) ao mesmo tempo subjetiva e objetivante, distante e interior, estranha e íntima, periférica e central, epifenomenal e essencial” (MORIN, 1996, p.16), e buscar compreender como a complexidade se oculta na simplificação que não tem incertezas, caos, organizações, desorganizações. A análise dos padrões recentes de redistribuição espacial da população demonstra que o Brasil é um país essencialmente urbano. Realidade que não se mostra diferente no município de Ilhéus, no qual segundo os dados do IBGE (2000) cerca de 72,98 % da população é urbana, esta situação vem se acentuando no município em decorrência da crise da lavoura cacaueira desde meados dos anos 80. Estes números nos dá uma dimensão do significado das transformações ambientais que vem ocorrendo no município de Ilhéus (figura 2). 2 Este trabalho esta em fase de conclusão, visto que o prazo final para envio do artigo para o VI Seminário Latino Americano e II Seminário Ibero Americano de Geografia Física é dia 31/03/2010 vide endereço: http://www.uc.pt/fluc/cegot/VISLAGF/normas/ 5 Tema 3 – Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais 250.000 200.000 150.000 100.000 50.000 0 Total Urbana 2008 2000 1991 Figura 2 – População Total e Urbana do Município de Ilhéus. Fonte: IBGE, 2008, 2000 e 1991. (Os dados urbanos de 2008, não foram divulgados) Segundo Barbosa (2009), Com o fim da fase áurea, e posterior crise da lavoura cacaueira, a estrutura espacial do município tornou-se reflexo dos problemas econômicos e sociais da região, houve perda da população rural e crescimento da população urbana, ou seja, a força de trabalho centrada então na zona rural migrou para a cidade impelida pelo desemprego que se abateu nas grandes fazendas produtoras do cacau. Tal fato foi responsável pela intensa expansão urbana que a cidade sofreu resultando em ocupações espontâneas em áreas de acentuada declividade. Andrade (2003, p. 21) em sua obra sobre o passado e o presente da cidade de Ilhéus, salienta que foi entre o fim da década de 1980 até meados da década de 1990, que o fluxo migratório decorrente da grave crise provocou uma elevação do índice populacional de Ilhéus, em razão de possuir uma infraestrutura social maior que as demais cidades da zona do cacau. As figuras 3 e 4, expressam o quanto a cidade se expandiu entre 1973 e 2008. Entretanto, a cidade não dispunha de condições físicosanitárias, oferta de serviços e emprego para oferecer a toda essa massa de imigrantes, em razão da crise do cacau. Outro agravante para o município é que a grande maioria dos lavradores não possuía qualificação profissional. Desta forma, a cidade teve sua área periférica invadida ocupada de modo desordenado e na maioria dos casos por habitações subnormais. 6 VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 Figuras 3 e 4 – Expansão da área urbana de urbana de Ilhéus 1973 e 2008. Fonte: Google Earth, 2009 e CEPLAC, 1973. O que de fato se mostra inovador, nesta análise, e de modo geral nos estudos que visam analisar transformações e/ou impactos ambientais, é o tratamento destas questões de forma integrada e sistêmica, tendo a dinâmica, local como eixo de referência. Na Tabela 1, observa-se que cerca de 75,74% dos domicílios do município encontram-se na área urbana. Vale destacar, que a área rural do município conta com dez distritos que juntos abrigam 24,26% dos domicílios da zona rural. Tabela 1 – Domicílios particulares/permanentes e número de moradores no município de Ilhéus Ano Referência 20003 Domicílios Moradores 54.031 215.258 Urbana 40.923 159.548 Rural 13.108 55.710 Total Fonte: IBGE, 2000, SIDRA - Pesquisa Nacional de Saneamento Básico: http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/tabela/protabl.asp?c=1437&z=cd&o=4&i=P 3 Os dados trabalhados se referem aos dados oficiais do ultimo censo demográfico realizado no Brasil. O próximo esta previsto para começar no corrente ano (2010). 7 Tema 3 – Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais Embora os indicadores de saneamento básico, mostrem uma expansão da década de 90, ainda refletem um quadro de precariedade e distribuição desigual no município em questão. Em 2000, cerca de 54,93% da população do município tinha acesso ao abastecimento de água no interior do seu domicilio, 44,11% possuíam instalações sanitárias ligadas a rede geral de esgoto e pluvial, e 64,14% tinham serviço de coleta de lixo. Com base nos dados, percebe-se que a distribuição desses serviços é muito desigual entre áreas urbanas e rurais. Ao analisar os números, quanto ao acesso ao abastecimento de água no meio urbano este atingia 97,10%, enquanto na área rural o abastecimento chega a apenas 2,89% dos domicílios. Os números das instalações sanitárias ligadas a rede geral, mostram uma grande distancia entre área urbana 98,16% e apenas 1,83% na área rural. O lixo em 2000, era coletado em 97,74% dos domicílios urbanos e em cerca de 2,25% da zona rural. Nos bairros e/ou distritos onde a cobertura por rede pública é mais precária, a maior parte da população tem abastecimento sem canalização interna em rede geral, poço ou nascente, captação de água em rios, córregos, cisternas, e outros. Conforme mostra a tabela 2, apenas 54,93% da população do município tem acesso ao abastecimento de seus domicílios por abastecimento de água na rede geral, em pelo menos um dos cômodos da sua casa. Tabela 2 - Domicílios particulares permanentes com abastecimento de água na rede geral canalizada em pelo menos um cômodo Ano Referência 2000 Total Abastecimento de Água Urbana Rural Domicílios Moradores 29.680 215.258 28.820 159.548 860 55.710 Fonte: Fonte: IBGE, SIDRA - Pesquisa Nacional de Saneamento Básico: http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/tabela/protabl.asp?c=1442&z=cd&o=4&i=P Pesquisa do IBGE, com base no censo demográfico de 2000, revela que mais de 2 milhões de baianos vivem sem nenhuma destinação adequada para suas excretas. São 480 mil domicílios rurais na Bahia que não dispõem de nenhum tipo de esgotamento sanitário, destes cerca de menos de 1% se encontram no município de Ilhéus. Outros 550 mil domicílios do Estado têm seus dejetos lançados inadequadamente em rios, riachos, valas e mar. Além das comunidades rurais, cerca de 20% dos domicílios urbanos lançam os dejetos em rios e riachos. Esses dados 8 VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 demonstram que 29,2% dos domicílios baianos não têm nenhum tipo de esgotamento sanitário ou lançam dejetos inadequadamente no meio ambiente. Em pelo menos 350 cidades do interior da Bahia os esgotos são lançados em redes ditas “pluviais” que na realidade são redes de esgotos com sistemas unitários (água de chuva e esgotos na mesma rede) sem nenhum tratamento ao serem lançadas nos corpos d’água. A Bahia, é um dos estados da federação que tem na população das cidades do interior os menores índices de saneamento básico do país, sobretudo no que se refere a esgotamento sanitário com tratamento. Vide a situação do município de Ilhéus na tabela 3. Tabela 3 - Domicílios particulares permanentes e tipo do esgotamento sanitário (Rede geral de esgoto ou pluvial) Ano Referência 2000 Total Rede geral de esgoto ou pluvial Urbana Rural Domicílios Moradores 23.832 92.019 23.394 90.420 438 1.599 Fonte: IBGE, SIDRA - Pesquisa Nacional de Saneamento Básico: http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/tabela/protabl.asp?c=1437&z=cd&o=4&i=P Segundo Jacobi (2004), as condições precárias de habitações em favelas e loteamentos periféricos aumentam o déficit de infraestutura urbana; sua localização em áreas criticas de risco e barrancos multiplicam as condições predatórias à urbanização existente e seu impacto de degradação ambiental. Esta situação é percebida na cidade de Ilheus, vide figura 5 e 6. 5) 6) Figuras 5 e 6 – Ocupação de encostas e áreas de risco. Fonte: Barbosa, 2009. 9 Tema 3 – Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais Tabela 4 - Domicílios particulares permanentes por situação e destino do lixo coletado Ano Referência 2000 Domicílios % 34.660 100 33.878 97,74 782 2,26 Total Lixo Coletado Urbana Rural Fonte: IBGE, SIDRA - Pesquisa Nacional de Saneamento Básico: http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/tabela/protabl.asp?c=1442&z=cd&o=4&i=P A concentração da riqueza na cidade acompanha o aumento da miséria (FARIAS & LAPA, 1992) (vide tabela 5). Segundo Carvalho (1999, p.48) “a conseqüência desse processo é o surgimento de uma cidade fragmentada em blocos formais, que têm base na produção capitalista, e blocos informais, que têm base na produção espontânea”. Na visão de Spósito (1997), as áreas mais afastadas e densamente povoadas, ficam entregues ao descaso do poder público. Percebe-se que estes problemas se reproduzem pelo país nas áreas mais carentes e periféricas dos municípios e das cidades, em Ilheus a situação não é diferente, conforme pode ser visto mesmo que modo ainda localizado nas figuras 5 e 6. Tabela 5 – Resumo das variáveis utilizadas na análise INDICADORES % de domicílios com esgotamento sanitário não adequado % de domicílios sem banheiro nem sanitário % responsáveis por domicílios com renda até 1 salário mínimo % responsáveis por domicílios com renda até 2 salários mínimos % responsáveis por domicílio com menos de 4 anos de estudo % de mulheres responsáveis por domicilio analfabetas PERCENTUAL (%) 54.031 (TOTAL) 30.199 55,89% 9.569 17,71% 20.360 37,68% 11.069 20,49% 26.519 49,08% 3.594 6,65% FONTE IBGE, Censo Demográfico 2000 IBGE, Censo Demográfico 2000 IBGE, Censo Demográfico 2000 IBGE, Censo Demográfico 2000 IBGE, Censo Demográfico 2000 IBGE, Censo Demográfico 2000 Fonte: FONTES, Ednice 2010, com base nos dados do IBGE, 2000. 10 VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 Assim, os indicadores analisados permitem uma visão muito concreta da fragilidade do sistema, da exclusão social, dos riscos de saúde que afligem a população, notadamente mais carentes. Outra analise que pode ser feita, é como a distribuição da cobertura da rede de água pública é desigual, quando se comparam as condições de acesso da população das áreas urbanas e rurais do município de Ilhéus. Outro problema ambiental enfrentado pela população é a baixa qualidade do abastecimento de água do município. Durante o trabalho de campo realizado, observou-se uma deterioração constante do sistema, provocada pela ocupação irregular, por transações clandestinas de terras, pelo lançamento maciço de esgoto, pela destruição de matas ciliares, pelo assoreamento e depósito de lixo a céu aberto (Figura 7). Segundo Jacobi (2004, p. 179), a reflexão sobre as práticas sociais, em um contexto urbano marcado pela degradação permanente do meio ambiente e do seu ecossistema, não pode omitir a análise do determinante do processo, nem os atores envolvidos e as formas de organização social que aumentam o poder das ações alternativas de um novo desenvolvimento, em uma perspectiva de sustentabilidade. Figura 7 – Transformações ambientais encontrados na área urbana de Ilheús-Ba. Fonte: SILVA, 2009 11 Tema 3 – Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS As transformações ambientais no município de Ilhéus não decorrem de um simples desequilíbrio nas relações das populações urbana e rural com os componentes ambientais. Decorre antes de mais nada, de um complexo de problemas sociais, econômicos e políticos, cuja questão distributiva da renda assume papel central. Deste modo, tal fenômeno não pode ser dissociado das relações de produção e de trabalho, ou seja, das condições materiais de sobrevivência, que se manifestam intensamente na produção/reprodução do espaço . Diante do exposto nos resultados conseguidos até o presente, verifica-se que a necessidade de assegurar propostas do Poder público que visem solucionar as transformações ambientais que vem ocorrendo no município de Ilhéus, principalmente os que dizem respeito aos aspectos do saneamento básico, que muitas vezes não reproduz os dados quantitativos. Neste contexto, percebe-se que as soluções para essas transformações, dependem da superação de barreiras sócio-políticoinstitucionais, financeiros e administrativos. Assim, merece especial destaque os seguintes determinantes: a) o impacto negativo das políticas de ajuste quanto a continuidade de investimentos em infra-estrtutura de saneamento básico e de proteção ambiental, b) a desorganização e ainda indefinida reorientação do papel do estado e seu impacto sobre as instituições vinculadas ao planejamento e gestão de políticas intersetoriais, c) o sempre irresolúvel problema da descontinuidade administrativa, e d) o desajuste e a falta de definição de políticas intersetoriais, a compartimentalização do setor, e a sobreposição de competências entre os diversos níveis de governo no tocante aos serviços de controle e saneamento ambiental. 5. REFERÊNCIAS ANDRADE, Maria Palma.2003, Ilhéus: Passado e Presente, 2. ed. Ilhéus, Editus. AMORIM, Raul Reis. 2007, Análise geoambiental com ênfase aos setores de encostas da área urbana no município de São Vicente-SP, 2007. 207f. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Geociências. AMORIM, R.R.; OLIVEIRA, R.C. 2007, Análise geoambiental das setores de encosta da área urbana de São Vicente-SP. Sociedade e Natureza. Ano 19, n. 37. 19-40 p.) 12 VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 BARBOSA, R. B. da S.; MORAES, M. E. B.; GOMES, R. L. 2009, Análise do processo de ocupação de uma área de risco. Morro Alto do Amparo Ilhéus – Ba: um estudo de caso. 2009, 40f. (Trabalho de Conclusão de Curso) – Departamento de Ciências Agrárias e Ambientais. Universidade Estadual de Santa Cruz, 2009. BERTRAND, G.; BEROUTCHACHVILI, N. 2002, Le géosystéme ou système territorial naturel (1978). Une géograpnie traversière: l’environment à travers territoires et temporalités. Paris: Éditions l’Arguments, p. 57-66. CARLOS, Ana Fani Alessandri. 2005, A cidade. São Paulo: Contexto. EMPRESA DE CONSULTORIA TÉCNICA LTDA. (ECONTEP). 2001, PEMAS – Plano Estratégico Municipal para Assentamentos Subnormais. Programa Habitar Brasil/BID. FARIAS, R. L.; LAPA, M. O. 1992, Planejamento urbano e saneamento básico: um estudo de caso do bairro Teotônio Vilela. 1992. 62f. Trabalho de Conclusão de Curso (Espacialização em Desenvolvimento e Gestão Ambiental) - Universidade Estadual de Santa Cruz, UESC, Ilhéus, Bahia. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica. SIDRA - Pesquisa Nacional de Saneamento Básico. Disponível em: http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/tabela/protabl.asp?c=1442&z=cd&o=4&i=P.Aces so em 16 de novembro de 2009. ILHÉUS. Prefeitura Municipal de Ilheus. 2002, Agenda 21 de Ilhéus: Ilhéus rumo ao século XXI. Bahia: Edimar. _______ 2001, Lei Orgânica do Município de Ilhéus, de 30 de março de 2001. Ilhéus: Gráfica Agora. _______ 1991, Lei nº 2.400, de 06 de agosto de 1991. Dispõe sobre o uso e ocupação do solo no município de Ilhéus. Jornal Oficial. 15/08/1991, pg 2. _______ 2006, Lei nº 3.265, de 29 de novembro de 2006. Dispõe sobre o Plano Diretor Participativo de Ilhéus e dá outras providências. Jornal Oficial. 04/12/2006, pág 2. _______ 2006, Política Habitacional Municipal de Ilhéus. Ilhéus. 13 Tema 3 – Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais JACOBI, Pedro. 2004, Imactos sociambientais urbanos – risco à busca de sustentabilidade. In: MENDONÇA, F. (Org). Impactos socioambientais urbanos. Curitiba: Ed. UFPR. P. 169-184. MORIN, Edgar. 1996, Epistemologia da Complexidade. In: SCHNITMAN, Dora Fried (org) Novos Paradigmas, Cultura e Subjetividade. Porto Alegre, Artes Médicas. MOREIRA, G. L.; Trevizan, S.D.P. 2005, O processo de (re)produção do espaço Urbano e as transformações territórioambientais: Um estudo de caso. Estudos Geográficos, Rio Claro, 3(2): 78-90, Dezembro (ISSN 1678—698X) www.rc.unesp.br/igce/grad/geografia/revista.htm NAHAS, Maria Inês Pedrosa. 2005, Banco de Metodologias de Sistemas de Indicadores. In: BRASIL, Ministério das Cidades. 2ª Conferência das Cidades: Política Nacional de Desenvolvimento Urbano, Desenvolvimento do Índice de Qualidade de Vida Urbana Brasil, Ministério das Cidades (Disponível em CDROM). RODRIGUES, Arlete Mosisés. 2009, A abordagem ambiental: questões para reflexão. GeoTextos, vol. 5, n. 1, pp 183-202 . RODRIGUEZ, J.M.M.;SILVA, E.D.; CAVALCANTI, A.P.B. 2002, Geoecologia da paisagem: uma visão geossistêmica da análise da análise ambiental. Fortaleza: EDUFC. SANTOS, M. 1997, A Natureza do Espaço. Técnica e Tempo. Razão e Emoção. 2º Edição. São Paulo: Hucitec. SILVA, N.; MORAES, M. E. B.; GOMES, R. L. 2009, Análise da ocupação subnormal em áreas de risco no morro do Alto da Legião – Ilhéus (Bahia). 13f. (Trabalho de Conclusão de Curso) – Departamento de Ciências Agrárias e Ambientais. Universidade Estadual de Santa Cruz. 14