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SOCIOLOGIA – 2º ANO – ENSINO MÉDIO
Consciência individual e consciência coletiva: a
relação indivíduo/sociedade
Na frase abaixo você verá uma famosa definição de fato social dada por Durkheim.
Ela resume muito bem essas três características.
“Fato social é toda maneira de fazer, pensar ou sentir, fixada ou não, suscetível de
exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior: ou então, que é geral no âmbito
de uma dada sociedade tendo, ao mesmo tempo, uma existência própria,
independente de suas manifestações individuais.”
Como se pode notar, a definição de fato social está diretamente relacionada àquilo
que ocorre na coletividade, e não com as 'manifestações individuais'. Se você leu
atentamente as características dele, certamente observou que, para Durkheim,
existem dois tipos distintos de consciência: a individual e a coletiva.
A consciência individual seria aquela própria de cada indivíduo; refere-se ao nosso
modo particular de pensar e enxergar o mundo ao redor. Ela está relacionada às
nossas características psíquicas e, sendo assim, é posta por Durkheim como objeto de
estudo da Psicologia, em nada interessando à Sociologia.
Já a consciência coletiva é aquela que gera o fato social, estando, portanto,
diretamente ligada aos interesses sociológicos. Ela não se baseia no que pensa este
ou aquele indivíduo, pois não está relacionada às manifestações individuais.
A consciência coletiva está espalhada por toda a sociedade e, desse modo, seria o seu
psíquico, determinando sua moral, suas regras, estabelecendo o que é 'certo', 'imoral'
ou 'criminoso' e dizendo aos indivíduos como eles devem pensar e agir diante da
coletividade.
Durkheim não nega que a sociedade é formada por indivíduos e que cada um possui
sua própria consciência, mas postula que a consciência coletiva é capaz de coagir as
consciências individuais, levando as pessoas a agirem de acordo com o que quer a
sociedade. Ela é externa aos indivíduos e está acima deles.
Alguns dos críticos de Durkheim vão argumentar que há um contrassenso nessa
teoria. Pois, se a sociedade é formada por indivíduos, a consciência coletiva nada
mais é que o resultado da vontade dos indivíduos que formam essa sociedade. Sendo
assim, como ela poderia ser externa e independente deles?
Durkheim responde a essa questão da seguinte forma: a consciência coletiva nada
mais é do que 'o conjunto das crenças e sentimentos comuns à média dos membros
de uma sociedade' que, ao se unirem, formam esse 'sistema com vida própria' e que
torna-se independente dos próprios indivíduos que ajudaram a formá-la.
É dessa consciência coletiva que emanam os fatos sociais, o qual ocorre no todo e
não nas partes. Temos, assim, um objeto de estudo específico para a Sociologia e que
não se confunde com aqueles estudados pela Psicologia e pela Biologia.
Em resumo, a Sociologia de Durkheim segue um caminho específico: estudar, através
dos fatos sociais, o coletivo, dando pistas para o entendimento das questões
individuais.
Fato Social Normal e Patológico
Estamos constantemente cercados por fatores coercitivos e a maioria deles estão tão perfeita e
profundamente impregnados em nossas vidas que acabamos agindo de acordo com suas normas
sem ao menos raciocinar o motivo. Durkheim, em seu livro "As Regras do Método Sociológico", nos
conceitua o que é um fato social, que, para ele, são maneiras de pensar e agir que pensamos
elaborar por nós mesmos, porém são exteriores a nós. Por esse motivo, o fato social é por
excelência, um dos maiores fatores coercitivos que regulamentam nossa vida social.
Durkheim vai ainda mais além dessa conceituação, ele nos afirma que existem duas formas de
fato social, o normal e o patológico. Para ele, a diferença entre eles é dada de acordo com que
determinado fato se apresenta em sociedades consideradas no mesmo estado de evolução (teoria
definida por Comte). Continuando seu raciocínio, Durkheim afirma que se um fato é comum em
várias sociedades no mesmo estado, ele é normal, mas, se esse fato é algo que vai além e
desestabiliza a ordem social, pode-se afirmar que ele é patológico.
Como exemplo de fatos sociais considerados normais em sociedades como a nossa, de acordo
com a teoria durkheiminiana podemos citar as festas, comemorações sociais, ir à escola, se
relacionar com os amigos e, infelizmente, alguns fatos negativos, como a corrupção e a ocorrência
de alguns assassinatos e estupros, por exemplo. Isso nos mostra uma ideia de não valoração, pois
Durkheim não criou esse sistema de classificação baseado em efeitos positivos ou negativos que
eles causam na sociedade, o que explica o motivo de se considerar "normal" a ocorrência de alguns
estupros e assassinatos em nossa sociedade. Devido a essa conceituação podemos considerar o
fato social de Durkheim algo bastante polêmico e algumas vezes considerado como modelo
ultrapassado.
Ao analisarmos os fatos considerados patológicos, devemos levar em consideração dois
critérios: o da exclusividade e o da incidência. Por exemplo, se um crime se tornar muito comum
em uma sociedade e desestabilizar sua ordem, como o número de assassinatos causados por
policiais no Brasil, que vai além dos números que ocorrem países com a mesma forma de governo,
costumes e economia. Mas uma questão interessante é: seria o terrorismo e o Estado Islâmico (EI)
fatos sociais normais ou patológicos?
O terrorismo é uma prática que ficou relacionada ao movimento islâmico e sua sociedade.
Todavia, essa prática, que já causou milhões de vítimas, não foi utilizada apenas pelos
muçulmanos. Se analisarmos o terrorismo do EI hoje, veremos que ele é patológico, pois desafia a
ordem da própria sociedade que possui os membros que o pratica e como justificativa dessa
afirmação, podemos citar as milícias cristãs, como a criada pelo Movimento Democrático Assírio,
para combater os jihadistas. Portanto, ao analisarmos o terrorismo do EI com a teoria
dukheiminiana, percebemos que ele é algo patológico, por partes da sociedade se levantarem
contra ele, desestabilizando a ordem, mas se fizéssemos essa análise de acordo com o senso
comum, muito provavelmente chegaríamos a conclusão que é normal essa prática na sociedade
em que se está inserida por relacionarmos atos terroristas com essa sociedade.
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