BORO EM RABANETE CULTIVADO EM SOLOS DE VÁRZEA: PRODUÇÃO DE MATÉRIA SECA, NÍVEIS CRÍTICOS NO SOLO E NA PLANTA1 WATSON ROGÉRIO DE AZEVEDO2 VALDEMAR FAQUIN3 ANTONIO EDUARDO FURTINI NETO3 RESUMO – Avaliaram-se a resposta das plantas de rabanete (Raphanus sativus L., cv. Vermelho Redondo Precoce) e os níveis críticos inferior e superior, para a planta e solos, à aplicação de boro em solos de várzea da região de Lavras (MG). Amostras de solos Aluvial (A), Glei Pouco Húmico (GP), Glei Húmico (GH) e Orgânico artificialmente drenado (O) foram coletadas na camada de 0-20cm, peneiradas e colocadas em vasos de três dm3. Cada vaso recebeu calagem com CaCO3 e MgCO3 p.a. e adubação básica com macro e micronutrientes. Foram aplicadas seis doses de B (0; 0,25; 0,50; 1,50; 3,00 e 6,00 mg dm-3) e os vasos foram incubados por 30 dias, com o teor de água mantido a 60% do volume total de poros. Após o período de incubação, foi determinado o teor de B nas amostras pelo método da “água quente” e cultivadas 4 plantas de rabanete por vaso durante 28 dias. As plantas foram colhidas para avaliação dos teores de B na parte aérea e na massa seca da raiz. O experimento foi conduzido em esquema fatorial inteiramente casualizado 4 x 6, com quatro repetições. A produção de matéria seca das raízes foi máxima com as doses 0,91; 1,43; 1,80 e 1,94 mg dm-3 de B referentes aos solos A, O, GP e GH, respectivamente. Nos solos, os níveis críticos inferiores foram: 0,46 (O); 0,61 (GP); 0,69 (A) e 0,86mg dm-3 (GH); os limites superiores foram: 2,11 (GH); 2,16 (A); 2,34 (O) e 3,03mg dm-3 (GP). Na parte aérea, os níveis críticos inferiores foram de 13,89 (A); 20,56 (O); 27,81 (GP) e 29,47mg kg-1 (GH) e os superiores, de 57,12 (A); 63,62 (GH); 73,38 (GP) e 81,85mg kg-1 (O). TERMOS PARA INDEXAÇÃO: boro, solo de várzea, nível crítico, rabanete, Raphanus sativus BORON ON RADISH PLANT (Raphanus sativus L.) CULTIVATED IN LOWLAND SOILS: DRIED MATTER YIELD AND CRITICAL LEVELS IN SOILS AND PLANT ABSTRACT - This study evaluated the response of radish plant (Raphanus sativus L.) and the lower and upper critical levels for the plant and soils to B doses in lowland soils of Lavras (MG). Samples of Alluvial Soil (A), Low Humic Gley (HGP), Humic Gley (HGH) and artificially drained Bog Soil (O) were collected to 0-20 cm deep sieved and added to 3 dm3 pots. Each pot received lime with pure CaCO3 and MgCO3 and fertilized with macro and micronutrients. Six doses of B were added to the pots (0, 0.25, 0.50, 1.50, 3.0 and 6.0 mg dm-3) incubated during 30 days at 60 % total pore volume contend. After the incubation, it was measured the amount of B of each sample, by the “hot water” method, and 4 radish plants were cultivated in each pot for 28 days. The plants were harvested in order to measure the amount of B and dry mass of root. The experiment was carried out in a 4x6 completely randomized factorial design, with 4 replicates. The dried matter yield of root was maximal with 0.91; 1.43; 1.80; and 1.94 mg dm-3 of boron to A, O, HGP and HGH soil, respectively. The lower critical levels for soil were 0.46 (O); 0.61 (HGP); 0.69 (A) and 0.86 mg dm-3 1. Parte da Dissertação de Mestrado do primeiro autor– Departamento de Ciência do Solo/UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS. 2. Engenheiro Agrônomo MS, Departamento de Ciência do Solo, UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS, Caixa Postal 62, 37200-000 Lavras (MG) E-mail: [email protected] 3. Professor do Departamento de Ciência do Solo, UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS, Caixa Postal 37, 37200-000 Lavras (MG). Bolsista do CNPq. 8 (HGH), and the upper limits were 2.11 (HGH); 2.16 (A); 2.34 (O) and 3.03 mg dm-3 (HGP). The lower levels for shoot were 13.8 (A); 20.56 (O); 27.81 (HGP) and 29.47 mg kg-1 (HGH) with the upper limits of 57.12 (A); 63.62 (HGH); 73.38 (HGP) and 81.85 mg kg-1 (O). INDEX TERMS: boron, lowland soils, critical levels, radish, Raphanus sativus. INTRODUÇÃO MATERIAL E MÉTODOS A prática da adubação mineral com micronutrientes resulta em ganhos de produtividade das culturas implantadas em diversos solos brasileiros. Dentre eles, o B e o Zn são aqueles que mais têm limitado a produção das plantas em solos tropicais. Os solos de várzea com sua topografia favorável à mecanização, disponibilidade de água e novas tecnologias de drenagem, podem produzir duas ou mais colheitas anuais. Esses solos, no entanto, possuem elevada acidez e baixa disponibilidade de nutrientes. Estudos recentes, envolvendo a correção e a disponibilidade de nutrientes em solos de várzea do Sul de Minas Gerais, mostram baixa disponibilidade de N, P, K e B (Paula, 1995; Andrade, 1997; Mariano, 1998; Faquin et al., 1998). Tais fatos fazem com que a implantação de culturas nesses solos esteja atrelada a um programa de correção e adubação. As recomendações de adubação com B em solos de várzea, sob condições de drenagem, ainda são muito limitadas, tornando-se necessário determinar os níveis críticos desse micronutriente nesses solos e avaliar o estado nutricional das plantas. No Brasil, são poucas as informações sobre as classes de fertilidade do solo para o B. Raij et al. (1996) citam teores de B no solo entre 0-0,20 mg dm-3 como baixo, 0,21-0,60 mg dm-3 como médio e acima de 0,60 mg dm-3 como alto. Lopes e Carvalho (1988) descrevem como faixa crítica de B (água quente) teores entre 0,4 a 0,6 mg dm-3. Na planta, os teores adequados de B nas folhas de rabanete (Raphanus sativus L.) encontram-se em uma ampla faixa que varia de 25 a 125 mg kg-1 (Mills e Jones Jr., 1996). Segundo Raij et al. (1996), essa faixa está entre 25 a 175 mg kg-1. Cultivados em solos de várzea, o rabanete tem apresentado deficiência de B, o que infere na necessidade de maiores estudos sobre a adubação com esse micronutriente, visando à avaliação do seu comportamento no solo e na planta. Com o presente trabalho, objetivou-se avaliar a resposta do rabanete à aplicação de doses de B em solos de várzea e determinar os níveis críticos inferior e superior desse micronutriente nos solos e na planta. O experimento foi conduzido em casa-devegetação do Departamento de Ciência do Solo da Universidade Federal de Lavras, em amostras da camada superficial (0-20 cm) de quatro classes de solos de várzea representativos do Estado de Minas Gerais: Aluvial (A), Glei Pouco Húmico (GP), Glei Húmico (GH) e Orgânico artificialmente drenado (O). Os resultados das análises química, física e mineralógicas constam na Tabela 1. As análises granulométricas (areia, silte e argila), densidade de partículas, densidade do solo, superfície específica, caracterização química (pH em água, P, Ca, Mg, K, H + Al, Al e Zn) e matéria orgânica do solo foram determinadas conforme EMBRAPA (1997). O B foi extraído em água quente (Berger e Truog, 1939) e quantificado pelo método da Azometina-H (Wolf, 1974). As extrações de SiO2 , Al2 O3 , Fe2 O3 e TiO2 foram feitas por ataque sulfúrico, segundo Vettori (1969), com modificações propostas pela EMBRAPA (1997). A fração argila foi tratada com ditionito-citrato-bicarbonato de sódio (DCB). Na fração argila desferrificada, foram quantificados os teores de caulinita e gibbsita pela análise termodiferencial (ATD). O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado, arranjado em esquema fatorial 4 x 6, sendo: quatro classes de solos de várzea (A, GP, GH e O) e seis doses de B (0; 0,25; 0,50; 1,50; 3,00 e 6,00 mg dm-3), com quatro repetições. As unidades experimentais foram vasos plásticos (3 dm3), que passaram por rodízio semanal de suas posições na casa-devegetação. A correção da acidez dos solos foi feita com aplicação de CaCO3 e MgCO3 p.a., na relação equivalente Ca : Mg de 4 : 1, determinada por curva de incubação em ensaio prévio realizado em laboratório. As doses aplicadas, visando a elevar a saturação por bases a 70%, foram de 4,4; 2,7; 7,8 e 3,5 t ha-1, para os solos A, GP, GH e O, respectivamente. As parcelas experimentais foram incubadas por 30 dias, mantendo-se a umidade a 60% do volume total de poros (VTP) (Freire et al., 1980). Após esse período, os solos foram secos e Ciênc. agrotec., Lavras, v.24 (Edição Especial), p.7-14, dez., 2000 9 TABELA 1 - Características químicas, físicas e mineralógicas dos solos (camada de 0-20cm). Solos Características A GP GH O 5,1 4,9 4,6 4,9 5 2 8 6 K (mmolc dm ) 2,2 0,8 0,2 2,6 B (mg dm-3) 0,26 0,32 0,25 0,26 2,5 0,6 1,4 1,6 Ca (mmolc dm-3) 29 5 8 15 -3 17 2 2 9 2 10 13 7 58 57 17 88 48 9 12 27 CTC efetiva (mmolc dm ) 50 18 26 35 CTC a pH 7,0 (mmolc dm-3) 106 65 29 115 4 55 54 21 44 12 7 24 Mat. orgânica. (g kg ) 42 33 243 37 Areia grossa (g kg-1) 0 30 9 0 Areia Fina (g kg ) 179 611 230 120 Silte (g kg-1) 471 179 391 570 350 180 370 310 0,76 1,05 0,40 0,64 Superfície Específica (m g ) 137,4 120,8 334,6 180,7 Fe2O3d(1) (g kg-1) 12,3 1,8 2,3 5,3 Fe2O3 (g kg ) 74,5 13,0 13,3 42,8 SiO2 (g kg-1) 209,3 84,2 126,1 243,4 -1 Al2O3 (g kg ) 221,1 112,2 175,5 247,1 TiO2 (g kg-1) 9,3 6,2 5,5 7,3 (g kg ) 143,4 64,9 48,2 120,5 Gb(1) (g kg-1) 48,6 19,0 53,0 57,4 Ki 1,61 1,28 1,22 1,67 pH em água P (mg dm-1) -3 -3 Zn (mg dm ) Mg (mmolc dm ) Al (mmolc dm-3) -3 H + Al (mmolc dm ) S (mmolc dm-3) -3 m (%) V (%) -1 -1 -1 Argila (g kg ) DS(1) (g cm-3) 2 -1 Ct (1) -1 -1 (1) – DS, Fe2O3d, Ct, Gb – Densidade do solo, ferro ditionito, caulinita, gibbsita, respectivamente. Ciênc. agrotec., Lavras, v.24 (Edição Especial), p.7-14, dez., 2000 10 receberam as doses de B, usando H3 BO3 p.a. como fonte, e uma adubação básica com macro e micronutri entes: 70 mg de N; 300 mg de P; 100 mg de K; 44 mg de S; 1,9 mg de Cu e 5,0 mg de Zn por dm-3, na forma de sais p.a.: NH4H2PO4; KH2PO4; Ca(H2PO4).2H2O; CuSO4.5H2O; ZnSO4.7H2O e CaSO4.2H2O. O material foi novamente incubado por 30 dias, semeando-se, em seguida, o rabanete cv. Vermelho Redondo Precoce, cultivando-se quatro plantas por vaso. A umidade do solo foi mantida em torno de 60% do VTP por meio de pesagens diárias com a aplicação de água destilada. Duas adubações nitrogenadas de cobertura foram realizadas aos 14o e 21o dias após a semeadura, com 20 mg dm-3 de NH4NO3. Realizou-se a colheita aos 28 dias após semeadura, quando as raízes atingiram o ponto comercial. O material vegetal foi separado em parte aérea e raiz, ambas acondicionadas em sacos de papel, secas em estufa (65ºC), pesadas e moídas. A parte aérea da planta sofreu digestão por via seca e o teor de B foi quantificado por Azometina-H (Malavolta, Vitti e Oliveira, 1997). A extração do B disponível nas amostras de solos tomadas após a incubação com os tratamentos deu-se por água quente e foi quantificada pela Azometina-H. Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância e as doses de B submetidas à análise de regressão. As equações de regressão foram ajustadas às médias de produção de matéria seca das raízes de rabanete (MSR) em função das doses de B aplicadas. Por meio dessas equações, obtiveram-se as estimativas das 3 doses de B para produção máxima, 90 % da máxima e àquela acima da máxima suficiente para promover redução de 10 % na MSR. Substituindo-se esses valores nas equações, que relacionam o B disponível como variável dependente, obtiveram-se os seus níveis críticos inferior (90 % da MSR máxima) e superior (redução de 10 % da MSR máxima) nos solos. Da mesma forma, os níveis críticos inferior e superior de B, na parte aérea da planta, foram estimados pela substituição das doses de B correspondentes nas equações de regressão, que relacionam as doses de B aplicadas aos solos com seus teores na parte aérea do rabanete. RESULTADOS E DISCUSSÃO Produção de matéria seca A produção de matéria seca das raízes de rabanete foi influenciada pela aplicação de B nos solos estudados (Figura 1). Embora as doses zero e 6,0 mg dm-3 tenham proporcionado as menores produções de MSR, nenhum sintoma visual típico de deficiência ou toxidez de B, respectivamente, foi observado, com exceção do solo GH, na dose zero, no qual a parte aérea e a raiz das plantas apresentaram crescimento bastante reduzido. Pelas equações da Figura 1, estimaram-se as doses de B correspondentes à produção máxima de MSR, 90 % da produção máxima (zona de deficiência) e redução de 10% da máxima (zona toxidez) (Tabela 2). GH 2,5 MSR, g vaso-1 2 GP O 1,5 1 A : Y = 1,891 + 1,233** X GP : Y = 1,459 + 1,533** X GH : Y = 0,525 + 3,394** X 0 : Y = 1,624 + 1,359** X 0,5 0,5 - 0,647** X - 0,571** X 0,5 - 1,219** X 0,5 - 0,569** X 0,5 R 2= 0,93 R 2= 0,92 R 2= 0,83 R 2= 0,85 A 0 0 1 2 3 B aplicado, mg dm-3 4 5 6 FIGURA 1 - Produção de matéria seca das raízes (MSR) de rabanete em função da aplicação de boro em solos de várzea (** - significativo a 1%) Ciênc. agrotec., Lavras, v.24 (Edição Especial), p.7-14, dez., 2000 11 Para atingir 90 % da produção máxima de MSR, que de acordo com Alvares V. et al. (1988) representam a máxima eficiência econômica, as doses de B foram bastante variadas, chegando o solo GH a exigir uma dose 7 vezes maior que o solo A (Tabela 2), provavelmente em virtude da complexação temporária do B pela matéria orgânica contida em maior quantidade no solo GH (Marschner, 1995). A dose para redução de 10 % da produção máxima de MSR (zona de toxidez) foi maior no solo GP, cujo valor foi 1,6 vezes superior que o do solo A. Tal fato pode ser explicado pelo baixo teor de matéria orgânica e baixa superfície específica do solo GP (Tabela 1), que contribui para que o B aplicado fique disponível na solução do solo. Dessa forma, o solo A exigiu menores doses de B para atingir tanto a zona de deficiência quanto a zona de toxidez, em virtude da maior disponibilidade desse micronutriente no solo (Tabela 3). Essa maior disponibilidade pode ser atribuída ao valor da superfície específica 2,4 vezes menor no solo A, quando comparada ao solo GH. O alto teor de matéria orgânica no solo GH contribui para o aumento da superfície es- pecífica nesse solo, indicando maior número de sítios responsáveis pela adsorção de B. Nos índices avaliados, o solo GH apresentou maiores valores de MSR, seguido pelos solos GP, A e O (Tabela 2). O maior teor de matéria orgânica, aliado à menor densidade do solo GH (Tabela 1), provavelmente proporcionaram condições mais favoráveis ao crescimento das raízes do rabanete. Mariano (1998) também observou em solo Glei Húmico maior produção de matéria seca de grãos de feijoeiro, atribuindo esse resultado ao teor de matéria orgânica, que contribuiu para a melhoria da estrutura física do solo e, conseqüentemente, para o desenvolvimento das raízes. Níveis críticos de B nos solos Os teores de B disponível nos solos (água quente) foram crescentes com as doses aplicadas (Tabela 3). Verifica-se pelos coeficientes angulares das equações lineares, descritas na Tabela 4, uma capacidade distinta de recuperação de B nos solos pelo extrator. Essa capacidade foi TABELA 2 - Produção máxima e 90 % da máxima de matéria seca das raízes de rabanete (MSR) e doses estimadas de B correspondentes à produção máxima, 90 % da máxima e redução de 10 % da máxima. Solo Produção de MSR (g vaso-1) Doses de B (mg dm-3) 90% Máxima 90% Máxima - 10% A 2,23 2,48 0,11 0,91 2,46 GP 2,24 2,49 0,47 1,80 4,00 GH 2,60 2,89 0,82 1,94 3,53 O 2,19 2,44 0,29 1,43 3,43 TABELA 3 - Teores disponíveis de B (água quente) após sua aplicação nos solos antes da semeadura do rabanete. Doses de B Solo 0 0,25 0,50 1,50 3,00 6,00 ------------------------------------------- mg dm-3 -------------------------------------- A 0,56 0,85 0,97 1,40 2,72 4,32 GP 0,37 0,44 0,51 1,41 2,39 4,36 GH 0,34 0,61 0,85 1,15 1,85 3,24 O 0,28 0,49 0,71 1,16 1,82 4,04 Ciênc. agrotec., Lavras, v.24 (Edição Especial), p.7-14, dez., 2000 12 TABELA 4 - Equações de regressão para os teores de B disponíveis nos solos e níveis críticos de B (água quente) estimados nos solos correspondentes a 90 % da produção máxima (inferior) e redução de 10 % da máxima (superior). Níveis críticos de B (mg dm-3) Solo Equação R2 Inferior Superior A Y = 0,628 + 0,623**X 0,99 0,69 2,16 GP Y = 0,299 + 0,682**X 0,99 0,62 3,03 GH Y = 0,462 + 0,475**X 0,99 0,86 2,11 O Y = 0,285 + 0,598**X 0,99 0,46 2,34 ** significativo a 1% menor no solo GH, provavelmente, em razão da maior complexação desse nutriente pela matéria orgânica, como já mencionado anteriormente. Paula (1995) também verificou aumento na concentração de B no solo mediante sua aplicação, encontrando amplitudes de B (água quente) recuperado entre 0,30 a 0,53 mg dm-3, em solos aluviais e hidromórficos. Para Mariano (1998), essa faixa de recuperação de B (água quente) foi entre 0,53 a 0,61 mg dm-3, em solos de várzea, das mesmas classes dos estudados nesse trabalho. O nível crítico inferior de B estimado para o solo O, com baixo teor de matéria orgânica e composição textural mais grosseira (Tabela 1), ficou próximo do nível considerado como baixo, estabelecido por Lopes e Carvalho (1988), o que não era esperado em virtude do menor poder de reposição desse nutriente pela fase sólida. Já para o solo GH, esperar-se-ía um nível crítico inferior mais baixo, em decorrência do seu alto teor de matéria orgânica (Tabela 1) que, provavelmente, supriria a solução do solo, garantindo um fornecimento adequado à planta. O estabelecimento de níveis tóxicos de B nos solos, pouco comum no Brasil, foi estimado em uma faixa entre 2,11 a 3,03 mg dm-3 (Tabela 4). Esses níveis críticos foram inferiores aos teores de B disponível nos solos na maior dose (Tabela 3) e, apesar disso, não foi visualizado nenhum sintoma de toxidez, mas diminuição da produção de MSR. Esse resultado está de acordo com Nable, Bañuelos e Paull (1997), os quais afirmam que o estabelecimento de níveis tóxicos pela análise de solo não prediz com exatidão a relação entre a quantidade disponível de B e o crescimento de plantas, mesmo em solos que contenham altos teores do micronutriente. O mesmo autor reitera, no entanto, que teores maiores que 5 a 8 mg dm-3 de B (água quente) requerem considerações especiais para a implantação de qualquer cultura. Níveis críticos de B na planta Os teores de B na parte aérea da planta aumentaram linearmente com as doses aplicadas (Tabela 5). Na ausência de B, observa-se, pelos coeficientes lineares das equações, que os solos apresentam capacidade diferenciada em suprir B, uma vez que os teores foliares desse micronutriente foram distintos entre si. Os solos A e O foram os que proporcionaram menores teores foliares, concordando com Paula (1995). No entanto, os coeficientes angulares das equações referentes a esses solos mostram maior capacidade de resposta ao B disponível nos mesmos. Substituindo-se nas equações da Tabela 5, para cada solo, as doses de B correspondentes a 90% da MSR máxima e aquelas que promoveram uma redução de 10% da MSR (Tabela 2), estimaram-se os níveis críticos de B inferiores (de deficiência) e superiores (de toxidez) da parte aérea do rabanete. O rabanete apresentou níveis críticos inferiores entre 13,89 a 29,47 mg kg-1, pouco abaixo das faixas preconizadas por Mills e Jones Jr. (1996) e Raij et al. (1996). Esses valores também foram inferiores aos encontrados por Paula (1995), cuja faixa estava entre 17 a 35 mg kg-1 de B para a produção de arroz. Esse fato, provavelmente, deve-se ao fato de o ciclo produtivo da cultura ser muito curto (28 dias). A diferenciação das plantas no requerimento de B também conduz a dados de tolerância variáveis entre as espécies, como observado pelos níveis críticos superiores para o rabanete, ou seja, de 57,12 a 81,85 mg kg1 (Tabela 5), para o feijoeiro, entre 143,6 e 199,1 mg kg-1 (Mariano,1998); para o eucalipto, entre 64 a 120 Ciênc. agrotec., Lavras, v.24 (Edição Especial), p.7-14, dez., 2000 13 TABELA 5 - Equações de regressão ajustadas para os teores foliares de B e níveis críticos de B inferior (para 90 % da MSR máxima) e superior (para redução de 10 % da MSR máxima). 2 Solo Equação R A Y = 11,8696 + 18,3937** X GP Níveis críticos de B (mg kg-1) Inferior Superior 0,98 13,89 57,12 Y = 21,7380 + 12,9108** X 0,97 27,81 73,38 GH Y = 19,1417 + 12,5998** X 0,97 29,47 63,62 O Y = 14,9015 + 19,5194** X 0,99 20,56 81,85 ** significativo a 1% mg kg-1 (Ferreira, 1992) e em arroz, em que a aplicação de 2,0 mg B dm-3 proporcionou um teor de 51 mg kg-1, sem a observação de sintoma de toxidez, mas redução da produção de matéria seca (Paula, 1995). Os dados obtidos nesse trabalho juntamente com os encontrados em diversos trabalhos na literatura (Cartwright et al., 1983; Ruy, 1986; Paula, 1995; Buzett, Muraoka e Sá, 1990; Mariano, 1998) permitem inferir que o nível crítico de B nos solos e nas plantas varia em razão da grande diversidade dos atributos químicos, físicos e mineralógicos dos solos estudados, condições climáticas e plantas teste. Essa variação mostra também que a utilização dos níveis críticos deve ser criteriosa, valorizando-se dados mais específicos e localizados. CONCLUSÕES Pequenas doses de B são suficientes para promover 90 % da produção máxima do rabanete cultivado em solos de várzea que receberam de 0,11 a 0,82 mg dm-3 de B. O maior potencial produtivo foi verificado para o solo GH, seguido pelos demais solos; Os níveis críticos inferiores foram de 0,46; 0,61; 0,69 e 0,86 mg dm-3 para os solos O, GP, A e GH, e os níveis críticos superiores foram de 2,11; 2,16; 2,34 e 3,03 mg dm-3 para os solos GH, A, O e GP, respectivamente; Para as folhas de rabanete, os níveis críticos inferiores foram de 13,89; 20,56; 27,81 e 29,47 mg kg-1 para os solos A, O, GP e GH, e os níveis críticos supe- riores foram de 57,12; 63,62; 73,78 e 81,85 mg kg-1 para os solos A, GH, GP e O, respectivamente. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVAREZ V., V. H.; NOVAIS, R. F. de; BRAGA, J. M.; NEVES, J. C. L.; BARROS, N. F.; RIBEIRO, A. C.; DEFELIPO, B. V. Avaliação da fertilidade do solo: metodologia. In: SIMPÓSIO DA PESQUISA NA UFV, 1., 1988, Viçosa. Resumos...Viçosa: UFV, 1988. p.68-69. ANDRADE, C.A. de B. Limitações de fertilidade e efeito do calcário para o feijoeiro (Phaseolus vulgaris L.) em solos de várzea do sul de Minas Gerais. Lavras: UFLA, 1997. 107p. (Tese - Doutorado em Fitotecnia). BERGER, K.C.; TRUOG, E. Boron determination in soils and plants. Industrial and Engineering Chemistry, Washington, v.11, p.540-545, 1939. BUZETTI, S.; MURAOKA, T.; SÁ, M. E. de. Doses de boro na soja, em diferentes condições de acidez do solo: I. Produção de matéria seca e de grãos e nível crítico no solo. Revista Brasileira de Ciência do Solo, Campinas, v.14, n.2, p.157-161, maio/ago. 1990. CARTWRIGHT, B.; TILLER, K.G.; ZARCINAS,B.A.; SPOUNCER, L. R. The chemical assessment of the boron status of soils. Australian Journal of Soil Research, Victoria, v.21, p.321-332, 1983. Ciênc. agrotec., Lavras, v.24 (Edição Especial), p.7-14, dez., 2000 14 EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA. Centro Nacional de Pesquisa de Solos. Manual de métodos e análises de solos. 2.ed. Rio de Janeiro: EMBRAPA/CNPS, 1997. 212p. (EMBRAPA.CNPS. Documentos 1) FAQUIN, V.; ANDRADE, C. A. B.; FURTINI NETO, A. E.; ANDRADE, A. T.; CURI, N. Resposta do feijoeiro à aplicação de calcário em solos de várzea do Sul de Minas Gerais. Revista Brasileira de Ciência do Solo, Campinas, v.22, n.4, p.651-660, out./dez. 1998 FERREIRA, R.M.A. Crescimento de Eucalyptus citriodora cultivado em dois Latossolo sob influência de níveis de boro e umidade. Lavras: ESAL, 1992. 133p. (Dissertação - Mestrado em Solos e Nutrição de Plantas). FREIRE, J. C.; RIBEIRO, M. A. V.; BAHIA, V. G.; LOPES, A. S.; AQUINO, L. H. Resposta do milho em casa de vegetação a níveis de água em solos da região de Lavras-MG. Revista Brasileira de Ciência do solo, Campinas, v.4, n.1, p.5-8, jan./abr. 1980. LOPES, A.S.; CARVALHO, J. G. de. Micronutrientes: critérios de diagnose para solo e planta, correção de deficiências e excessos. In: BORKER, C.M.; LATMANN, A. (eds). Enxofre e micronutrientes na agricultura brasileira. Londrina: EMBRAPACNPSO/IAPAR/SBCS, 1988. p.133-178. MALAVOLTA, E. Elementos de nutrição mineral de plantas. São Paulo: Agronômica Ceres, 1980. 215p. MALAVOLTA, E.; VITTI, G.C.; OLIVEIRA, S.A. Avaliação do estado nutricional das plantas: princípios e aplicações. Piracicaba: Associação Brasileira para Pesquisa da Potassa e do Fosfato, 1997. 319p. MARIANO, E. D. Resposta, níveis críticos e eficiência de extratores para boro em feijoeiro cultivados em solos de várzea Lavras: UFLA, 1998. 82p. (Dissertação – Mestrado em Solos e Nutrição de Plantas). MARSCHNER, H. Mineral nutrition of higher plants. 2.ed. San Diego: Academic Press. 1995. 889p. MILLS, H. A.; JONES JR, J. B. Plant analysis: Handbook II. Athens-Georgia: MicroMacro Publishing. 1996. 422p. NABLE, R. O.; BAÑUELOS, G. S.; PAULL, J. G. Boron toxicity. Plant and soil, The Hague, v.193, n.1/2, p.181-198, june 1997. PAULA, M. B. de. Eficiência de extratores e níveis críticos de boro disponível em amostras de solos aluviais e hidromórficos sob a cultura do arroz inundado. Lavras: UFLA, 1995. 69p. (Tese - Doutorado em Fitotecnia). RAIJ, B. van.; CANTARELLA, H.; QUAGGIO, J.A.; FURLANI, A.N.C. (eds). Recomendações de adubação e calagem para o Estado de São Paulo. Campinas: Instituto Agronômico & Fundação IAC, 1996. 285p. (Boletim Técnico, 100). RUY, V. de M. Contribuição para o estudo de boro disponível em solos. Piracicaba: CENA, 1986. 104p. (Tese – Mestrado em Solos e Nutrição de plantas). VETTORI, L. Métodos de análise de solo. Rio de Janeiro: Ministério da Agricultura, 1969. 24p. (Boletim Técnico, 7). WOLF, B. Improvement in the azomethine-H method for the determination of boron. Communications in Soil Science and Plant Analysis, New York, v.5, p.39-44, 1974. Ciênc. agrotec., Lavras, v.24 (Edição Especial), p.7-14, dez., 2000