boro em rabanete cultivado em solos de várzea

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BORO EM RABANETE CULTIVADO EM SOLOS DE VÁRZEA:
PRODUÇÃO DE MATÉRIA SECA, NÍVEIS CRÍTICOS NO
SOLO E NA PLANTA1
WATSON ROGÉRIO DE AZEVEDO2
VALDEMAR FAQUIN3
ANTONIO EDUARDO FURTINI NETO3
RESUMO – Avaliaram-se a resposta das plantas de
rabanete (Raphanus sativus L., cv. Vermelho Redondo
Precoce) e os níveis críticos inferior e superior, para a
planta e solos, à aplicação de boro em solos de várzea
da região de Lavras (MG). Amostras de solos Aluvial
(A), Glei Pouco Húmico (GP), Glei Húmico (GH) e Orgânico artificialmente drenado (O) foram coletadas na
camada de 0-20cm, peneiradas e colocadas em vasos de
três dm3. Cada vaso recebeu calagem com CaCO3 e
MgCO3 p.a. e adubação básica com macro e micronutrientes. Foram aplicadas seis doses de B (0; 0,25; 0,50;
1,50; 3,00 e 6,00 mg dm-3) e os vasos foram incubados
por 30 dias, com o teor de água mantido a 60% do volume total de poros. Após o período de incubação, foi
determinado o teor de B nas amostras pelo método da
“água quente” e cultivadas 4 plantas de rabanete por
vaso durante 28 dias. As plantas foram colhidas para
avaliação dos teores de B na parte aérea e na massa
seca da raiz. O experimento foi conduzido em esquema
fatorial inteiramente casualizado 4 x 6, com quatro repetições. A produção de matéria seca das raízes foi máxima com as doses 0,91; 1,43; 1,80 e 1,94 mg dm-3 de
B referentes aos solos A, O, GP e GH, respectivamente.
Nos solos, os níveis críticos inferiores foram: 0,46 (O);
0,61 (GP); 0,69 (A) e 0,86mg dm-3 (GH); os limites superiores foram: 2,11 (GH); 2,16 (A); 2,34 (O) e 3,03mg
dm-3 (GP). Na parte aérea, os níveis críticos inferiores
foram de 13,89 (A); 20,56 (O); 27,81 (GP) e 29,47mg
kg-1 (GH) e os superiores, de 57,12 (A); 63,62 (GH);
73,38 (GP) e 81,85mg kg-1 (O).
TERMOS PARA INDEXAÇÃO: boro, solo de várzea, nível crítico, rabanete, Raphanus sativus
BORON ON RADISH PLANT (Raphanus sativus L.) CULTIVATED
IN LOWLAND SOILS: DRIED MATTER YIELD AND
CRITICAL LEVELS IN SOILS AND PLANT
ABSTRACT - This study evaluated the response of
radish plant (Raphanus sativus L.) and the lower and
upper critical levels for the plant and soils to B doses in
lowland soils of Lavras (MG). Samples of Alluvial Soil
(A), Low Humic Gley (HGP), Humic Gley (HGH) and
artificially drained Bog Soil (O) were collected to 0-20
cm deep sieved and added to 3 dm3 pots. Each pot
received lime with pure CaCO3 and MgCO3 and
fertilized with macro and micronutrients. Six doses of
B were added to the pots (0, 0.25, 0.50, 1.50, 3.0 and
6.0 mg dm-3) incubated during 30 days at 60 % total
pore volume contend. After the incubation, it was
measured the amount of B of each sample, by the “hot
water” method, and 4 radish plants were cultivated in
each pot for 28 days. The plants were harvested in
order to measure the amount of B and dry mass of root.
The experiment was carried out in a 4x6 completely
randomized factorial design, with 4 replicates. The
dried matter yield of root was maximal with 0.91; 1.43;
1.80; and 1.94 mg dm-3 of boron to A, O, HGP and
HGH soil, respectively. The lower critical levels for soil
were 0.46 (O); 0.61 (HGP); 0.69 (A) and 0.86 mg dm-3
1. Parte da Dissertação de Mestrado do primeiro autor– Departamento de Ciência do Solo/UNIVERSIDADE
FEDERAL DE LAVRAS.
2. Engenheiro Agrônomo MS, Departamento de Ciência do Solo, UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS, Caixa
Postal 62, 37200-000 Lavras (MG) E-mail: [email protected]
3. Professor do Departamento de Ciência do Solo, UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS, Caixa Postal 37,
37200-000 Lavras (MG). Bolsista do CNPq.
8
(HGH), and the upper limits were 2.11 (HGH); 2.16
(A); 2.34 (O) and 3.03 mg dm-3 (HGP). The lower
levels for shoot were 13.8 (A); 20.56 (O); 27.81 (HGP)
and 29.47 mg kg-1 (HGH) with the upper limits of
57.12 (A); 63.62 (HGH); 73.38 (HGP) and 81.85 mg
kg-1 (O).
INDEX TERMS: boron, lowland soils, critical levels, radish, Raphanus sativus.
INTRODUÇÃO
MATERIAL E MÉTODOS
A prática da adubação mineral com micronutrientes resulta em ganhos de produtividade das culturas
implantadas em diversos solos brasileiros. Dentre eles,
o B e o Zn são aqueles que mais têm limitado a produção das plantas em solos tropicais.
Os solos de várzea com sua topografia favorável
à mecanização, disponibilidade de água e novas tecnologias de drenagem, podem produzir duas ou mais colheitas anuais. Esses solos, no entanto, possuem elevada
acidez e baixa disponibilidade de nutrientes. Estudos
recentes, envolvendo a correção e a disponibilidade de
nutrientes em solos de várzea do Sul de Minas Gerais,
mostram baixa disponibilidade de N, P, K e B (Paula,
1995; Andrade, 1997; Mariano, 1998; Faquin et al.,
1998). Tais fatos fazem com que a implantação de culturas nesses solos esteja atrelada a um programa de correção e adubação.
As recomendações de adubação com B em solos
de várzea, sob condições de drenagem, ainda são muito
limitadas, tornando-se necessário determinar os níveis
críticos desse micronutriente nesses solos e avaliar o
estado nutricional das plantas.
No Brasil, são poucas as informações sobre as
classes de fertilidade do solo para o B. Raij et al. (1996)
citam teores de B no solo entre 0-0,20 mg dm-3 como
baixo, 0,21-0,60 mg dm-3 como médio e acima de 0,60
mg dm-3 como alto. Lopes e Carvalho (1988) descrevem como faixa crítica de B (água quente) teores entre
0,4 a 0,6 mg dm-3. Na planta, os teores adequados de B
nas folhas de rabanete (Raphanus sativus L.) encontram-se em uma ampla faixa que varia de 25 a 125 mg
kg-1 (Mills e Jones Jr., 1996). Segundo Raij et al.
(1996), essa faixa está entre 25 a 175 mg kg-1.
Cultivados em solos de várzea, o rabanete tem
apresentado deficiência de B, o que infere na necessidade de maiores estudos sobre a adubação com esse micronutriente, visando à avaliação do seu comportamento
no solo e na planta.
Com o presente trabalho, objetivou-se avaliar a resposta do rabanete à aplicação de doses de B em solos de
várzea e determinar os níveis críticos inferior e superior
desse micronutriente nos solos e na planta.
O experimento foi conduzido em casa-devegetação do Departamento de Ciência do Solo da Universidade Federal de Lavras, em amostras da camada
superficial (0-20 cm) de quatro classes de solos de várzea representativos do Estado de Minas Gerais: Aluvial
(A), Glei Pouco Húmico (GP), Glei Húmico (GH) e Orgânico artificialmente drenado (O). Os resultados das
análises química, física e mineralógicas constam na
Tabela 1.
As análises granulométricas (areia, silte e argila), densidade de partículas, densidade do solo,
superfície específica, caracterização química (pH em
água, P, Ca, Mg, K, H + Al, Al e Zn) e matéria orgânica do solo foram determinadas conforme
EMBRAPA (1997). O B foi extraído em água quente
(Berger e Truog, 1939) e quantificado pelo método
da Azometina-H (Wolf, 1974). As extrações de SiO2 ,
Al2 O3 , Fe2 O3 e TiO2 foram feitas por ataque sulfúrico, segundo Vettori (1969), com modificações propostas pela EMBRAPA (1997). A fração argila foi
tratada com ditionito-citrato-bicarbonato de sódio
(DCB). Na fração argila desferrificada, foram quantificados os teores de caulinita e gibbsita pela análise termodiferencial (ATD).
O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado, arranjado em esquema fatorial
4 x 6, sendo: quatro classes de solos de várzea (A, GP,
GH e O) e seis doses de B (0; 0,25; 0,50; 1,50; 3,00 e
6,00 mg dm-3), com quatro repetições. As unidades experimentais foram vasos plásticos (3 dm3), que passaram por rodízio semanal de suas posições na casa-devegetação.
A correção da acidez dos solos foi feita com
aplicação de CaCO3 e MgCO3 p.a., na relação equivalente Ca : Mg de 4 : 1, determinada por curva de incubação em ensaio prévio realizado em laboratório. As
doses aplicadas, visando a elevar a saturação por bases
a 70%, foram de 4,4; 2,7; 7,8 e 3,5 t ha-1, para os solos
A, GP, GH e O, respectivamente. As parcelas experimentais foram incubadas por 30 dias, mantendo-se a
umidade a 60% do volume total de poros (VTP) (Freire
et al., 1980). Após esse período, os solos foram secos e
Ciênc. agrotec., Lavras, v.24 (Edição Especial), p.7-14, dez., 2000
9
TABELA 1 - Características químicas, físicas e mineralógicas dos solos (camada de 0-20cm).
Solos
Características
A
GP
GH
O
5,1
4,9
4,6
4,9
5
2
8
6
K (mmolc dm )
2,2
0,8
0,2
2,6
B (mg dm-3)
0,26
0,32
0,25
0,26
2,5
0,6
1,4
1,6
Ca (mmolc dm-3)
29
5
8
15
-3
17
2
2
9
2
10
13
7
58
57
17
88
48
9
12
27
CTC efetiva (mmolc dm )
50
18
26
35
CTC a pH 7,0 (mmolc dm-3)
106
65
29
115
4
55
54
21
44
12
7
24
Mat. orgânica. (g kg )
42
33
243
37
Areia grossa (g kg-1)
0
30
9
0
Areia Fina (g kg )
179
611
230
120
Silte (g kg-1)
471
179
391
570
350
180
370
310
0,76
1,05
0,40
0,64
Superfície Específica (m g )
137,4
120,8
334,6
180,7
Fe2O3d(1) (g kg-1)
12,3
1,8
2,3
5,3
Fe2O3 (g kg )
74,5
13,0
13,3
42,8
SiO2 (g kg-1)
209,3
84,2
126,1
243,4
-1
Al2O3 (g kg )
221,1
112,2
175,5
247,1
TiO2 (g kg-1)
9,3
6,2
5,5
7,3
(g kg )
143,4
64,9
48,2
120,5
Gb(1) (g kg-1)
48,6
19,0
53,0
57,4
Ki
1,61
1,28
1,22
1,67
pH em água
P (mg dm-1)
-3
-3
Zn (mg dm )
Mg (mmolc dm )
Al (mmolc dm-3)
-3
H + Al (mmolc dm )
S (mmolc dm-3)
-3
m (%)
V (%)
-1
-1
-1
Argila (g kg )
DS(1) (g cm-3)
2
-1
Ct
(1)
-1
-1
(1) – DS, Fe2O3d, Ct, Gb – Densidade do solo, ferro ditionito, caulinita, gibbsita, respectivamente.
Ciênc. agrotec., Lavras, v.24 (Edição Especial), p.7-14, dez., 2000
10
receberam as doses de B, usando H3 BO3 p.a. como
fonte, e uma adubação básica com macro e micronutri entes: 70 mg de N; 300 mg de P; 100 mg de K;
44 mg de S; 1,9 mg de Cu e 5,0 mg de Zn por dm-3, na
forma
de
sais
p.a.:
NH4H2PO4;
KH2PO4;
Ca(H2PO4).2H2O; CuSO4.5H2O; ZnSO4.7H2O e
CaSO4.2H2O. O material foi novamente incubado por
30 dias, semeando-se, em seguida, o rabanete cv. Vermelho Redondo Precoce, cultivando-se quatro plantas
por vaso. A umidade do solo foi mantida em torno de
60% do VTP por meio de pesagens diárias com a aplicação de água destilada. Duas adubações nitrogenadas
de cobertura foram realizadas aos 14o e 21o dias após a
semeadura, com 20 mg dm-3 de NH4NO3.
Realizou-se a colheita aos 28 dias após semeadura, quando as raízes atingiram o ponto comercial. O
material vegetal foi separado em parte aérea e raiz, ambas acondicionadas em sacos de papel, secas em estufa
(65ºC), pesadas e moídas. A parte aérea da planta sofreu digestão por via seca e o teor de B foi quantificado
por Azometina-H (Malavolta, Vitti e Oliveira, 1997). A
extração do B disponível nas amostras de solos tomadas
após a incubação com os tratamentos deu-se por água
quente e foi quantificada pela Azometina-H.
Os dados obtidos foram submetidos à análise de
variância e as doses de B submetidas à análise de regressão. As equações de regressão foram ajustadas às
médias de produção de matéria seca das raízes de rabanete (MSR) em função das doses de B aplicadas. Por
meio dessas equações, obtiveram-se as estimativas das
3
doses de B para produção máxima, 90 % da máxima e
àquela acima da máxima suficiente para promover redução de 10 % na MSR. Substituindo-se esses valores
nas equações, que relacionam o B disponível como variável dependente, obtiveram-se os seus níveis críticos
inferior (90 % da MSR máxima) e superior (redução de
10 % da MSR máxima) nos solos. Da mesma forma, os
níveis críticos inferior e superior de B, na parte aérea
da planta, foram estimados pela substituição das doses
de B correspondentes nas equações de regressão, que
relacionam as doses de B aplicadas aos solos com seus
teores na parte aérea do rabanete.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Produção de matéria seca
A produção de matéria seca das raízes de rabanete foi influenciada pela aplicação de B nos solos estudados (Figura 1). Embora as doses zero e 6,0 mg dm-3 tenham proporcionado as menores produções de MSR, nenhum sintoma visual típico de deficiência ou toxidez de B,
respectivamente, foi observado, com exceção do solo
GH, na dose zero, no qual a parte aérea e a raiz das
plantas apresentaram crescimento bastante reduzido.
Pelas equações da Figura 1, estimaram-se as doses de B correspondentes à produção máxima de MSR,
90 % da produção máxima (zona de deficiência) e redução de 10% da máxima (zona toxidez) (Tabela 2).
GH
2,5
MSR, g vaso-1
2
GP
O
1,5
1
A : Y = 1,891 + 1,233** X
GP : Y = 1,459 + 1,533** X
GH : Y = 0,525 + 3,394** X
0 : Y = 1,624 + 1,359** X
0,5
0,5
- 0,647** X
- 0,571** X
0,5
- 1,219** X
0,5
- 0,569** X
0,5
R 2= 0,93
R 2= 0,92
R 2= 0,83
R 2= 0,85
A
0
0
1
2
3
B aplicado, mg dm-3
4
5
6
FIGURA 1 - Produção de matéria seca das raízes (MSR) de rabanete em função da aplicação de boro em solos de
várzea (** - significativo a 1%)
Ciênc. agrotec., Lavras, v.24 (Edição Especial), p.7-14, dez., 2000
11
Para atingir 90 % da produção máxima de MSR,
que de acordo com Alvares V. et al. (1988) representam
a máxima eficiência econômica, as doses de B foram
bastante variadas, chegando o solo GH a exigir uma
dose 7 vezes maior que o solo A (Tabela 2), provavelmente em virtude da complexação temporária do B pela
matéria orgânica contida em maior quantidade no solo
GH (Marschner, 1995).
A dose para redução de 10 % da produção máxima de MSR (zona de toxidez) foi maior no solo GP,
cujo valor foi 1,6 vezes superior que o do solo A. Tal
fato pode ser explicado pelo baixo teor de matéria orgânica e baixa superfície específica do solo GP (Tabela 1),
que contribui para que o B aplicado fique disponível na
solução do solo. Dessa forma, o solo A exigiu menores
doses de B para atingir tanto a zona de deficiência
quanto a zona de toxidez, em virtude da maior disponibilidade desse micronutriente no solo (Tabela 3). Essa
maior disponibilidade pode ser atribuída ao valor da
superfície específica 2,4 vezes menor no solo A, quando
comparada ao solo GH. O alto teor de matéria orgânica
no solo GH contribui para o aumento da superfície es-
pecífica nesse solo, indicando maior número de sítios
responsáveis pela adsorção de B.
Nos índices avaliados, o solo GH apresentou
maiores valores de MSR, seguido pelos solos GP, A
e O (Tabela 2). O maior teor de matéria orgânica,
aliado à menor densidade do solo GH (Tabela 1),
provavelmente proporcionaram condições mais favoráveis ao crescimento das raízes do rabanete. Mariano (1998) também observou em solo Glei Húmico
maior produção de matéria seca de grãos de feijoeiro, atribuindo esse resultado ao teor de matéria orgânica, que contribuiu para a melhoria da estrutura
física do solo e, conseqüentemente, para o desenvolvimento das raízes.
Níveis críticos de B nos solos
Os teores de B disponível nos solos (água quente)
foram crescentes com as doses aplicadas (Tabela 3). Verifica-se pelos coeficientes angulares das equações lineares,
descritas na Tabela 4, uma capacidade distinta de recuperação de B nos solos pelo extrator. Essa capacidade foi
TABELA 2 - Produção máxima e 90 % da máxima de matéria seca das raízes de rabanete (MSR) e doses estimadas de B correspondentes à produção máxima, 90 % da máxima e redução de 10 % da máxima.
Solo
Produção de MSR (g vaso-1)
Doses de B (mg dm-3)
90%
Máxima
90%
Máxima
- 10%
A
2,23
2,48
0,11
0,91
2,46
GP
2,24
2,49
0,47
1,80
4,00
GH
2,60
2,89
0,82
1,94
3,53
O
2,19
2,44
0,29
1,43
3,43
TABELA 3 - Teores disponíveis de B (água quente) após sua aplicação nos solos antes da semeadura do rabanete.
Doses de B
Solo
0
0,25
0,50
1,50
3,00
6,00
------------------------------------------- mg dm-3 --------------------------------------
A
0,56
0,85
0,97
1,40
2,72
4,32
GP
0,37
0,44
0,51
1,41
2,39
4,36
GH
0,34
0,61
0,85
1,15
1,85
3,24
O
0,28
0,49
0,71
1,16
1,82
4,04
Ciênc. agrotec., Lavras, v.24 (Edição Especial), p.7-14, dez., 2000
12
TABELA 4 - Equações de regressão para os teores de B disponíveis nos solos e níveis críticos de B (água quente) estimados nos solos correspondentes a 90 % da produção máxima (inferior) e redução de 10 % da máxima (superior).
Níveis críticos de B (mg dm-3)
Solo
Equação
R2
Inferior
Superior
A
Y = 0,628 + 0,623**X
0,99
0,69
2,16
GP
Y = 0,299 + 0,682**X
0,99
0,62
3,03
GH
Y = 0,462 + 0,475**X
0,99
0,86
2,11
O
Y = 0,285 + 0,598**X
0,99
0,46
2,34
** significativo a 1%
menor no solo GH, provavelmente, em razão da maior
complexação desse nutriente pela matéria orgânica,
como já mencionado anteriormente. Paula (1995) também verificou aumento na concentração de B no solo
mediante sua aplicação, encontrando amplitudes de B
(água quente) recuperado entre 0,30 a 0,53 mg dm-3,
em solos aluviais e hidromórficos. Para Mariano
(1998), essa faixa de recuperação de B (água quente)
foi entre 0,53 a 0,61 mg dm-3, em solos de várzea, das
mesmas classes dos estudados nesse trabalho.
O nível crítico inferior de B estimado para o solo
O, com baixo teor de matéria orgânica e composição
textural mais grosseira (Tabela 1), ficou próximo do nível considerado como baixo, estabelecido por Lopes e
Carvalho (1988), o que não era esperado em virtude do
menor poder de reposição desse nutriente pela fase sólida. Já para o solo GH, esperar-se-ía um nível crítico
inferior mais baixo, em decorrência do seu alto teor de
matéria orgânica (Tabela 1) que, provavelmente, supriria a solução do solo, garantindo um fornecimento adequado à planta.
O estabelecimento de níveis tóxicos de B nos
solos, pouco comum no Brasil, foi estimado em uma
faixa entre 2,11 a 3,03 mg dm-3 (Tabela 4). Esses níveis críticos foram inferiores aos teores de B disponível
nos solos na maior dose (Tabela 3) e, apesar disso, não
foi visualizado nenhum sintoma de toxidez, mas diminuição da produção de MSR. Esse resultado está de acordo
com Nable, Bañuelos e Paull (1997), os quais afirmam que
o estabelecimento de níveis tóxicos pela análise de solo não
prediz com exatidão a relação entre a quantidade disponível de B e o crescimento de plantas, mesmo em solos que
contenham altos teores do micronutriente. O mesmo autor
reitera, no entanto, que teores maiores que 5 a 8 mg dm-3
de B (água quente) requerem considerações especiais para
a implantação de qualquer cultura.
Níveis críticos de B na planta
Os teores de B na parte aérea da planta aumentaram linearmente com as doses aplicadas (Tabela 5).
Na ausência de B, observa-se, pelos coeficientes lineares das equações, que os solos apresentam capacidade
diferenciada em suprir B, uma vez que os teores foliares desse micronutriente foram distintos entre si. Os
solos A e O foram os que proporcionaram menores teores foliares, concordando com Paula (1995). No entanto, os coeficientes angulares das equações referentes a
esses solos mostram maior capacidade de resposta ao B
disponível nos mesmos.
Substituindo-se nas equações da Tabela 5, para
cada solo, as doses de B correspondentes a 90% da
MSR máxima e aquelas que promoveram uma redução
de 10% da MSR (Tabela 2), estimaram-se os níveis críticos de B inferiores (de deficiência) e superiores (de
toxidez) da parte aérea do rabanete. O rabanete apresentou níveis críticos inferiores entre 13,89 a 29,47 mg
kg-1, pouco abaixo das faixas preconizadas por Mills e Jones Jr. (1996) e Raij et al. (1996). Esses valores também
foram inferiores aos encontrados por Paula (1995), cuja
faixa estava entre 17 a 35 mg kg-1 de B para a produção de
arroz. Esse fato, provavelmente, deve-se ao fato de o ciclo produtivo da cultura ser muito curto (28 dias).
A diferenciação das plantas no requerimento de
B também conduz a dados de tolerância variáveis entre
as espécies, como observado pelos níveis críticos superiores para o rabanete, ou seja, de 57,12 a 81,85 mg kg1
(Tabela 5), para o feijoeiro, entre 143,6 e 199,1 mg
kg-1 (Mariano,1998); para o eucalipto, entre 64 a 120
Ciênc. agrotec., Lavras, v.24 (Edição Especial), p.7-14, dez., 2000
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TABELA 5 - Equações de regressão ajustadas para os teores foliares de B e níveis críticos de B inferior (para 90 %
da MSR máxima) e superior (para redução de 10 % da MSR máxima).
2
Solo
Equação
R
A
Y = 11,8696 + 18,3937** X
GP
Níveis críticos de B (mg kg-1)
Inferior
Superior
0,98
13,89
57,12
Y = 21,7380 + 12,9108** X
0,97
27,81
73,38
GH
Y = 19,1417 + 12,5998** X
0,97
29,47
63,62
O
Y = 14,9015 + 19,5194** X
0,99
20,56
81,85
** significativo a 1%
mg kg-1 (Ferreira, 1992) e em arroz, em que a aplicação de 2,0 mg B dm-3 proporcionou um teor de 51
mg kg-1, sem a observação de sintoma de toxidez,
mas redução da produção de matéria seca (Paula,
1995).
Os dados obtidos nesse trabalho juntamente com
os encontrados em diversos trabalhos na literatura
(Cartwright et al., 1983; Ruy, 1986; Paula, 1995; Buzett, Muraoka e Sá, 1990; Mariano, 1998) permitem
inferir que o nível crítico de B nos solos e nas plantas
varia em razão da grande diversidade dos atributos
químicos, físicos e mineralógicos dos solos estudados,
condições climáticas e plantas teste. Essa variação
mostra também que a utilização dos níveis críticos deve
ser criteriosa, valorizando-se dados mais específicos e
localizados.
CONCLUSÕES
Pequenas doses de B são suficientes para promover 90 % da produção máxima do rabanete cultivado
em solos de várzea que receberam de 0,11 a 0,82 mg
dm-3 de B.
O maior potencial produtivo foi verificado para
o solo GH, seguido pelos demais solos;
Os níveis críticos inferiores foram de 0,46; 0,61;
0,69 e 0,86 mg dm-3 para os solos O, GP, A e GH, e os
níveis críticos superiores foram de 2,11; 2,16; 2,34 e
3,03 mg dm-3 para os solos GH, A, O e GP, respectivamente;
Para as folhas de rabanete, os níveis críticos inferiores foram de 13,89; 20,56; 27,81 e 29,47 mg kg-1
para os solos A, O, GP e GH, e os níveis críticos supe-
riores foram de 57,12; 63,62; 73,78 e 81,85 mg kg-1
para os solos A, GH, GP e O, respectivamente.
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