PRÁTICA DE ENSINO NO ENSINO MÉDIO: CLIMA E COTIDIANO DO ALUNO Larissa Aline Medrado de Oliveira/ UFMS - Universidade Federal de Mato Grosso do Sul [email protected] Maria Fernanda Parecis Silva/ UFMS - Universidade Federal de Mato Grosso do Sul [email protected] INTRODUÇÃO Ao longo dos séculos a geografia passou por grandes e importantes transformações, certamente acompanhando as mudanças ocorridas na sociedade e objetivando suprir os anseios desta ciência, ao longo dos anos. Sendo assim, o principal foco de estudo deste trabalho é a análise do estudo dos climas no ensino médio e de que forma essa temática se aplica ao cotidiano do aluno. A Geografia é a ciência preocupada em estudar as características do planeta Terra, bem como as ações humanas, além de apontar os fatores naturais que propiciaram determinadas formas de ocupação do espaço geográfico e as conseqüências no meio ambiente pelas transformações antrópicas sobre a natureza. A utilização de fatos concretos, visiveis e paupáveisé um recurso para se chegar à compreensão doa fenômenos terrestres. Os seres vivos, os processos morfogenéticos, o regime dos rios e as atividades exercidads pela sociedade, estão intimamente vinculadas às situações da atmosfera, é nessa camada gasosa que envolve o planeta Terra, que ocorrem todos os fenômenos que chamamos de clima. O clima é o conjunto de fenômenos atmosféricos em um ponto qualquer da superficie terrestre, a sucessão habitual desses acontecimentos em uma determinada região, se transformam em caracterísiticas locais, criam uma especie de individualidade. Dificuldade em relacionar os temas da chamada “geografia física” com a sociedade, o clima passa por esse problema nos livros didáticos, no qual apresentam sua formação mais não relacionam esses temas, nem as ações antrópicas que acontecem no meio. A sociedade é afetada diretamente pelo clima, não é difícil perceber nos livros didáticos, que existe certa dificuldade em relacionar o estudo da natureza com o cotidiano do aluno. Da maneira que esse tema é abordado, na maioria das vezes de forma abstrata, e desconectada, como se os fenômenos naturais fossem independente, existe uma dificuldade de trazê-lo para a realidade da sala de aula. Temas como as mudanças climáticas, e o efeito estufa recebem cada vez mais espaço na mídia e nas pesquisas científicas, o que ressalta a necessidade de tratar o tema em sala de aula de forma que esses conceitos possam ser aplicados na realidade. Levando os conceitos empíricos dos alunos em consideração, relacionando assim conteúdo físico mais próximo à realidade de cada um. AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS E A SOCIEDADE Ao longo do tempo geológico o planeta tem passado por sucessivas mudanças climáticas. Essas mudanças têm uma tendencia não linear dos atributos ao longo do tempo cronológico. “A tendencia climática pode levar à mudança climática, ao se estabelecer novo estado de equilíbrio no sistema, com os atributos se ajustando aos fluxos de matéria e energia”. (TAVARES, 2004, p. 51). Desde que surgiu a polêmica sobre o aquecimento global e o efeito estufa, diante das incertezas sobre os efeitos das mudanças climaticas e como essas alterações se distribuem nas diversas regiões do globo. Vários foram os estudos desenvolvidos para que os cientistas tentassem compreendê-lo. Há várias linhas de pesquisa sobre o assunto. O efeito estufa é um problema real que gera controvérsias, e afeta a toda a população de forma geral e irrestrita. O aquecimento global tem sido um tema exaustivamente comentado e discutido, por todos os setores da sociedade, que buscam soluções e alternativas para detectar as causas e conter o avanço desse processo. No entanto, enquanto isso não acontece de fato é preciso voltar à atenção às conseqüências desse aumento de temperatura. Os dados mostram um aumento na concentração atmosférica dos gases que contribuem para o efeito estufa e, conseqüentemente, uma maior absorção da radiação infravermelha na atmosfera, o que provoca um aumento na temperatura da Terra. O efeito estufa é um processo natural que ocorre porque o acúmulo de gases, que formam uma barreira que impede o calor do Sol de sair da atmosfera. Esse fenômeno é o que mantém o planeta aquecido e possibilita a vida na Terra. Entretanto, quando a concentração desses gases é excessiva, mais calor fica retido no ar atmosférico. Segundo Tavares (2004), as alterações térmicas fazem parte da história da evolução da Terra, mas evidencias demonstram um crescimento considarável nas temperaturas, principalmente no final do século XX. É possível re conhecer nas modificações da atmosfera sinas de uma possível modificação dos climas. “Tudo indica, portanto, que os climas estão passando por mudanças e que as tendências em curso deverão prosseguir, pois suas possíveis causas não serão estancadas”. (TAVARES, 2004, p. 83). Ao que tudo indica, o aumento da emissão dos chamados gases estufa, está modificando as relações de troca de energia entre a superfície terrestre, a atmosfera e o espaço sideral. Essas mudanças podem reajustar as variáveis climáticas e todos os sistemas com os quais o clima mantem interações, sejam eles naturais ou socioeconomicos. A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DO CLIMA O estudo da natureza ciência geográfica assume importância fundamental, já que é dentro da geografia que a natureza assume um papel social importante, na estruturação do espaço. O clima assume um papel importante nessa organização espacial. A geografia é uma disciplina que permite conhecer os lugares através da descrição. O espaço físico existe, não é uma abstração, é nele que se vive, onde se fundamentam as relações sociais e por isso descrevê-lo é importante, mas não suficiente. A observação da realidade não pode ser mera identificação de elementos, e sim o ponto de partida, marcam o inicio de uma analise geográfica e não seu incerramento. O clima pode ser considerado como um dos fatores que determinam a distribuição da população em todo o globo. O homem é o único animal capaz de viver em todos os climas do mundo. Para isso ele desenvolveu mecanismos orgânicos, culturais e tecnológicos de adaptação, tendo em vista que há variações de condições climáticas nas mais variadas regiões da Terra. Através da interação com o meio, o ser humano desenvolve suas impressões e percepções referentes ao espaço, o desenvolvimento dessa noção do espaço geográfico se inicia antes do período de escolarização da criança, des de os primeiros meses de vida o ser humano desenvolve essas impressões referentes ao domínio espacial. Nesse contexto, Almeida e Passini (1994) defendem a importancia do aprendizado espacial para que possa existir nas pessoas uma visão critica da sociedade. A importancia do aprendizado espacial no contexto sóciocultural da sociedade moderna, como instrumento necessário à vida das pessoas, pois esta exige certo domínio de conceitos e de referenciais espaciais para deslocamento e ambientação; e mais do que isso, para que as pessoas tenham uma visão consciente e crítica de seu espaço social. (ALMEIDA; PASSINI, 1994, p. 10). É na escola que deve ocorrer essa aprendizagem que é necessária para a compreensão das formas pelas quais a sociedade se organiza. A geografia é vista como ciência voltada para a análise da realidade social quanto a sua configuração espacial. Na analise da organização social do espaço a relação homem/natureza se faz através do trabalho que é um ato social que se desnvolve no meio. Com a compreensão das leis que regulam a dinâmica do tempo atmosférico, os climas e as estações do ano, é possível também compreender suas relações com as paisagens, os tipos de solo, de relevo, de vegetação, a organização das bacias hidrográficas e o regime dos rios. Permitindo criar as condições subjetivas para que os processos que regulam essas leis sejam entendidos assim como a sua importância para a vida sobre a Terra. Aprender é uma atividade que acontece no aluno e que é realizada pelo aluno, ensinar não é o mesmo que aprender. O ensino consiste na resposta as exigencias naturais do processo de aprendizagem. É mais importante o professor acompanhar a aprendizagem do aluno que se concentrar demasiadamente no assunto a ser ensinado ou mesmo nas tecnicasdidáticas. O ensino é visto como resultante de uma relação pessoal do professor com o aluno. Os conteúdos devem ser apresentados levando em consideração o teor histórico do desenvolvimento e adaptação ao meio e a distribuição da sociedade sobre o planeta Terra. Levando os conceitos empíricos dos alunos em consideração, relacionando assim conteúdo físico mais próximo à realidade de cada um. Dessa forma, professor e aluno devem estar relacionados, buscando uma compreensão da realidade como algo concreto, que é criado e recriado no cotidiano. Pois é necessário compreender que o processo de educação engloba objetivação e subjetivação. Só assim é possível uma pratica transformadora em busca de algo novo. COMO O CLIMA É TRATADO NOS LIVROS DIDÁTICOS O livro didático é tido como um dos poucos recursos de que o professor, no Brasil, dispõe para a realização do trabalho docente. Existe muita polêmica no campo da educação em relação aos materiais empregados pelos profesores. Por ser tão fundamental e despertar tantas discussões dentro do sistema de ensino brasileiro, seria muito difícil sua desconsideração nesse trabalho. Dessa forma, fizemos um trabalho de seleção de livros didáticos e uma brave análise de como o clima é tratado. Para a análise foram escolhidos cinco livros didáticos de geografia, relativos ao Ensino Médio. Para a escolha dos livros analisados, levamos em consideração, que eles estão sendo utilizados nas escolas onde somos estagiárias e por sugestão dos professores dessas escolas. A amostra selecionada procurou trazer as mais diferentes abordagens do tema clima, refletindo posicionamentos bastante distintos dentro do ensino de Geografia. São eles: ALMEIDA, L. M. A.; RIGOLIN, T. B. Geografia. São Paulo. Ática, 2002. FILIZOLA, R. Geografia. São Paulo. IBEP, 2005. LUCCI, E. A.; BRANCO, A. L.; MENDONÇA, C. Geografia geral e do Brasil. São Paulo. Saraiva, 2008. MOREIRA J.C.; SENE, E.de. Geografia – Espaço geográfico e globalização. São Paulo. Scipione,1998. MOREIRA J.C.; SENE, E.de. Geografia. São Paulo. Scipione, 2009. ALMEIDA, L. M. A.; RIGOLIN, T. B. Geografia. São Paulo. Ática, 2002. O livro“Geografia” de Almeida; Rigolin (2002), é o material utilizado na Escola Estadual Joã Magiano Pinto, na cidade de Três Lagoas/MS. O tema é compartimentado e subdividido em tres capítulos: “A atmaosfera e os fenômenos meteorológicos” (capítulo 11), “Os fatores que formam o clima” (capítulo 12), e “Tipos de clima” (capítulo 13). Imagem 1: Capa do livro “Geografia” de Almeida e Rigolin (2002) Essa separação dificulta o processo de aprendizagem, já que se torna mais difícil compreender a dinâmica climática sem visualizar o processo como um todo, sem dar a real dimensão dos fatores climáticos e de como a natureza esses fenômenos estão interrelacionados, fazendo parte de um sistema único. As imagens, climogramas e gráficos do livro são de fácil compreensão, o que facilita o entendimento dos alunos. FILIZOLA, R. Geografia. São Paulo. IBEP, 2005. O livro “Geografia” de Filizola (2005) foi uma sugestão da professora que ministra aulas de geografia na Escola Estadual Professor Oswaldo Januzzi da cidade de Buritama/SP. A concepção de natureza expressa no livro segue a lógica da articulação do clima com outros elementos da natureza, como a vegetação e hidrografia., no sentido de apresentar dinâmica própria. Imagem 2: Capa do livro “Geografia” de Filizola (2005) Está baseada na articulação com a sociedade que contribui para modificá-la ao longo do tempo, mas sofrer transformações advindas da prática econômica. LUCCI, E. A.; BRANCO, A. L.; MENDONÇA, C. Geografia geral e do Brasil. São Paulo. Saraiva, 2008. A dinâmica climática é trabalhada juntamente com as paisagens vegetais e as diferentes formas de uso dos recursos naturais. o material didático “Geografia geral e do Brasil” de Lucci, Branco; Mendonça (2008). O livro foi sugerido pela professora que ministra aulas de geografia na Escola Estadual Professor João Magiano Pinto de Imagem 3: Capa do livro “Geografia geral e do Brasil”, Lucci, Branco; Mendonça. Três Lagoas/MS. Essa junção possibilita aos alunos visualizar a interação dos elementos naturais, de como eles se interrrelacionam em um sistema e de que forma o educando é afetado por essa dinâmica. MOREIRA Geografia – J.C.; Espaço SENE, E.de. geográfico e globalização. São Paulo. Scipione,1998. O clima é estudado juntamente com a hidrografia e a vegetação neste livro. Moreira ; Sene (1998) defenden no anexo 3 do material, de nome “Hidrografia, clima e vegetação, que para estudar a hidrografia de uma região é necessário estudar o ciclo da água. Imagem 4: Capa do livro: “Geografia – Espaço geográfico e globalização”, Moreira; Sene (1998) Os mecanismos climáticos são os principais responsáveis pelo fornecimento de água, em diferentes quatidades e estados físicos. As vegetações são reflexas das condições naturais de solo e clima. Por isso se faz necessário o estudo conjunto dessas temáticas. MOREIRA J.C.; SENE, E.de. Geografia. São Paulo. Scipione, 2009. Apesar de ser da mesma autoria do livro anterior, “Geografia” de Moreira; Sene (2009), o material apresenta uma concepção diferente de clima. Não estabelecendo uma relação contextual entre o clima e outros temas ligados à natureza ou à sociedade. A exposição dos elementos é feita, de maneira extremamente descritiva, valorizando nomes e conceitos muito aprofundados. Imagem 5: Capa do livro: “Geografia”, Moreira; Sene (2009) Em síntese, os livros didáticos analisados contemplam concepções diferenciadas do clima dentro do ensino. Representam diferentes correntes filosóficas da geografia. O pensamento geográfico vivencia um processo de renovação, o que pode ser notado nos livros didáticos. Os conteúdos com os quais se trabalha uma disciplina são a sua identidade, e essa discussão é necessária, já que a relação dos processos didáticos e os conteúdos aplicados estão presentes em todos os campos da educação e não é um problema exclusivo da geografia. CONSIDERAÇÕES FINAIS A intenção deste trabalho não foi trazer conclusões fechadas a respeito de como o clima é ensinado nas escolas, mas conscientizar da sua importância. O domínio da noção de espaço e das interações entre o homem e a natureza são tão importantes quanto a aprendizagem da escrita e da matemática. É através da ação em seu espaço cotidiano e da reflexão sobre ela que o aluno terá oportunidade de chegar à abstração reflexiva ou a concepção dos fatores climáticos. As Ciências Humanas são um dos elementos responsáveis pelo desenvolvimento de um ser dotado de consciência social. Assim, poderá compreender a sociedade em que vive como uma construção humana, e perceber-se-á como um agente social capaz de intervir na sociedade. Dificuldade em relacionar os temas da chamada “geografia física” com a sociedade, o clima passa por esse problema nos livros didáticos, no qual apresentam sua formação, mas nem sempre relacionam com outros temas ligados à natureza, nem as ações antropícas que acontecem no meio ou como isso afeta a organização espacial. A geografia ensinada nas escolas não deve ser uma matéria desnecessária e decorativa, e sim como uma ciência viva, onde o espaço geográfico é ocupado pelo homem e por ele transformado e não algo estático que existe para ser descrito. É através da construção e reconstrução do espaço que o homem produz novas relações sociais e cria uma nova ordem cultural e constrói um novo dado histórico. BIBLIOGRAFIA: ADAS, M. Geografia: “Noções básicas de geografia”. 2ED.; São Paulo: Moderna, 1990. ALMEIDA, L. M. A.; RIGOLIN, T. B. Geografia. São Paulo. Ática, 2002. ALMEIDA, R. D.de.; PASINI E.Y. O espaço geográfico: Ensino e representação. São Paulo. Contexto, 1994. AYOADE. J. O. Introdução à climatologia para os trópicos. Rio de Janeiro. Bertrand do Brasil, 2003. BRANBANT. J. Crise da geografia, crise da escola. In: OLIVEIRA. A. U.de. Para onde vai o ensino de geografia? São Paulo. Contexto, 1991. BRASIL. 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