INTERAÇÃO COM ESTRANGEIROS – HAITIANOS: ESTUDO DE CASO NA CIDADE DE ARAQUARI-SC Autores : Amabili Laura Almeida GABRIEL, Beatriz Cristina de Oliveira VIEIRA, Lucas Roberto DIAS, Ruan Almeida MEDEIROS, Thalyta DALMORA. Edvanderson Ramalho dos SANTOS. Identificação autores: IFC-Campus Araquari. Introdução A migração, do latim migrare (movimentar-se; deslocar-se espacialmente), é um fenômeno que sempre acompanhou a história da humanidade. O termo indica movimentos de populações que impliquem na mudança de residência ou domicílio. Ela reflete, muitas vezes, a necessidade de buscar algo não encontrado no local de origem (ÁVILA, 1978). É importante salientar que as migrações, seja um país a outro ou sempre dentro do próprio território nacional, sempre existiram. Entretanto, com o atual processo de globalização em curso, a migração vem sendo estimulada pelo avanço tecnológico e principalmente da modernização dos sistemas de transportes e telecomunicações, que são responsáveis pela aceleração dos fluxos de informação, capitais, mercadorias e pessoas (SENE; MOREIRA, 2014). Alguns pesquisadores (GONSALEZ; OLIVEIRA; SILVA, 2014; BAENINGER, 2013) destacam que as imigrações do século XXI, dada a maior facilidade e velocidade do meio técnico, científico informacional (SANTOS, 2007), possuem um diferencial importante: muitas vezes o imigrante não considera o país de destino como local de residência final ou estável. Isso porque sua relação com o seu país de origem continua estreita, devido a maior facilidade de comunicação e deslocamento espacial. Com isso, o sentimento de fazer parte – e de identidade – em relação a determinado país é extremamente subjetivo. Por outro lado, apesar da naturalidade e historicidade do fenômeno da imigração, é importante salientar que por vezes o processo de imigração é acompanhamento por diferentes conflitos entre os imigrantes e os residentes do lugar de destino. Devido a sentimentos como o medo do diferente, o desconhecimento ou o pré-conceito – sentimentos comuns entre grande parte das culturas humanas – a chegada do outro desconhecido representa um “perigo”. Ao mesmo tempo, por parte do imigrante, há a necessidade de ele conhecer e se adaptar as normas trabalhistas e sociais exigidas no local de destino (BAENINGER, 2013). Diante disso, mostrase de fundamental importância trabalhos que busquem resolver ou esclarecer estes conflitos ou pré-conceitos que se estabelecem entre os imigrantes e os residentes locais. Diante deste contexto, nos últimos 2 anos observou-se no munícipio de Araquari-SC a chegada de centenas de imigrantes haitianos à procura de emprego. Devido talvez a uma cobertura sensacionalista da mídia e da pouca informação a respeito destes imigrantes, a intensificação desse fluxo migratório gerou uma inquietação nos araquarienses, tanto quanto ao suposto medo de perder o emprego quanto ao receio em relação à segurança da cidade. A partir deste quadro, percebeu-se a necessidade de conhecer a cultura e as expectativas dos imigrantes haitianos em relação a cidade de destino, compreendendo então os diversos aspectos e conflitos resultantes deste movimento migratório para a cidade. Assim, os objetivos da pesquisa são: Conhecer a cultura e a expectativa dos imigrantes haitianos em relação a cidade de Araquari. Levantar as representações e os anseios dos moradores locais e estudantes do IFC Araquari sobre a imigração de haitianos na cidade de Araquari. Identificar o tratamento dado por sites de notícias, jornais locais e artigos de opiniões em relação ao processo de imigração dos haitianos na região. A pesquisa justifica-se devido a importância da imigração para a sobrevivência e adaptação dos humanos ao longo do tempo. Além disso, visamos ampliar a interação com o povo haitiano, estudando mais a fundo seus reais problemas, preconceitos e benefícios, desde sua vinda ao nosso país. Como nosso país foi basicamente colonizado por imigrantes, gostaríamos de compreender a paradoxal xenofobia de alguns brasileiros para com os imigrantes haitianos. Por fim, esperamos conscientizar os estudantes do Instituto Federal Catarinense Campus Araquari (IFC Araquari) sobre a realidade deste povo mediante visitas a abrigos e entrevistas coletivas cedidas por alguns imigrantes haitianos selecionados ao longo da pesquisa a serem realizadas na sala de aula do IFC Araquari. Material e Métodos A pesquisa segue uma metodologia qualitativa. A pesquisa qualitativa tem cinco características básicas: a) A pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como sua fonte direta de dados e o pesquisador como seu principal instrumento; b) os dados coletados são predominantemente descritivos; c) a preocupação com o processo é muito maior do que com o produto; d) o significado que as pessoas dão às coisas e à sua vida são focos de atenção especial pelo pesquisador; e e) a análise dos dados tende a seguir um processo indutivo. (LUDKE; ANDRÉ, 1986, p. 44) A presente pesquisa qualitativa assume a forma de estudo de caso. Assim, deve-se ter um cuidado especial com as deduções generalizadoras, pois analisar a imigração de haitianos na cidade de Araquari é um processo singular e único. No entanto, essa abordagem é fundamental para compreendermos a realidade social visando alcançar uma transformação deste quadro problemático. A pesquisa se dará em três etapas. Na primeira, se efetuará pesquisa em livros, sites/blogs e artigos de opiniões para consultar o tratamento dado por estas mídias ao processo de imigração dos haitianos na região. Posteriormente, na segunda etapa realizaramse entrevistas abertas com a população local, estudantes do IFC Araquari e também com os imigrantes haitianos visando levantar as representações e anseios destes grupos sociais com esse fenômeno da imigração. Gravadores e papéis para anotações serão usados para as entrevistas. Por fim, na terceira etapa buscaremos realizar entrevistas coletivas dos imigrantes haitianos em algumas turmas de ensino médio integrado do IFC Araquari. Assim, mediante o cruzamento destas etapas será possível levantar os anseios e angustias de imigrantes e da população local acerca deste processo de imigração. Comparandoos, poderemos levantar um índice de preconceito xenofóbico e ampliar nosso conhecimento dos imigrantes, buscando práticas para a superação deste preconceito e para a instauração de relações harmônicas e de cooperação entre estes grupos sociais. Resultados e discussão Desde a instituição do país, o Haiti sofreu pela ditadura e corrupção por muitos anos. Com isso, confrontos se tornaram frequentes entre seu próprio povo, resultando no começo de uma guerra civil. A ONU (Organização das Nações Unidas), buscando resolver os problemas de paz e estabilização do país se encarregou para tal missão. Como uma demonstração de hospitalidade, o Brasil demostrou sua cultura, cativando os haitianos. E o nosso país brilhava nos olhos dos habitantes do Haiti, como visto no jogo da paz, amistoso realizado entre a seleção brasileira de futebol com a seleção local do Haiti. A missão da ONU fez com que os confrontos diminuíram consideravelmente. No entanto, com o terrível terremoto que abalou o Haiti em 2010, intensificou-se as dificuldades do povo haitiano. Muitos de seus habitantes encontraram no Brasil uma solução rápida e agradável de se levantarem. Esta necessidade de recomeçar do zero foi um dos motivos de tal imigração. Vagas de empregos não ocupadas pelos brasileiros foram a salvação para os haitianos, que, mesmo com o baixo salário, já seria suficiente para ele e sua família. Porém isso não é tudo. Cidades passando por expansões industriais, acomodando o crescimento econômico e abrindo novas vagas de emprego, são grandes centros de oportunidade para os haitianos. Araquari, por exemplo, concede vagas de emprego associadas as futuras e atuais indústrias em formação, além de abrigos para haitianos. A partir do levantamento em sites, blogs e artigos de opinião, observou-se que muitos ainda não concordam com a chegada de imigrantes, com argumentos que vão desde a falta de emprego até a nova 'crise', mesmo sem levar em conta que os trabalhos adotados foram os ignorados pelos brasileiros, e que se há gente trabalhando, a crise não influenciará a eles. Sem contar a preocupação com doenças, como publicou um cidadão de Curitiba-PR: “Xenofobia é crime, mas permitir uma possível propagação do 'ebola' não é nada sensato.”. O medo da violência também foi expressado por outro internauta: “(...) Criminalidade aumentará. Espere,.” (Jornal GAZETA DO POVO, outubro de 2014). Observa-se nestes comentários a ausência de uma base concreta e confiável das informações sobre os imigrantes haitianos, confundindo-os inclusive com africanos e criminosos. Porém, contra esses haters (palavra de origem norteamericana designada para pessoas com opiniões e comentários maldosos) existem os que aprovam e não veem nada de mais na finda de mão de obra estrangeira. Ambos lados fazem parte da interação haitiana, e influenciam o preconceito. Por meio de entrevistas realizadas com estudantes do IFC Araquari, descobrimos que a maioria deles não se importariam com a vinda dos habitantes do Haiti, e que manteriam uma conversa se não dependesse da diferença de idiomas. Com isso podemos acrescentar os brasileiros que aponham o trabalho que haitianos estão exercendo. Por outro lado, muitos brasileiros “anciões” ainda desconfiam do povo “estranho”, que teria “invadido” seu país. Eles se sentem confrontados e desconfortáveis ao verem estrangeiros em sua nação, compartilhando dos mesmos concursos para algumas vagas de emprego. Culpam o estrangeiro pela falta de mão de obra especializada em nosso país, e o preconceito se multiplica por meio de argumentos contestáveis, como a discussão sobre a crise, desemprego, desigualdade de renda, etc. Devido a pesquisa ainda estar em desenvolvimento, muitas opiniões e histórias que ainda serão analisadas a partir de entrevistas ainda não foram realizadas. Por meio disso, parte do projeto está em andamento, planejando seus próximos passos. Entre nossos futuros planos estão: • Visitar abrigo de haitianos de Araquari, realizando entrevistas e anotar suas histórias; • Agendar uma visitação à exposição sobre imigrantes que será realizada na UFSC, para desenvolver nosso conhecimento e opiniões sobre a imigração haitiano no Brasil; • Continuar com as entrevistas, mas concentrando em brasileiros que já convivem com os estrangeiros, visando prós e contras do relacionamento haitiano/brasileiro. Conclusão A partir dos achados de pesquisa descritos acima notamos que o ordinário xenofobismo está presente não só contra o povo haitiano, como na maioria dos estrangeiros que vem de países pobres, o que espelha nossas expectativas com as entrevistas no colégio. Somada com a ideia que o racismo já é antigo, nosso país perde o título de “totalmente hospitaleiro” (JEFFERSON PUFF, BBC Brasil). Nossos nativos criam um grande preconceito entre estrangeiros e refugiados, permitindo-se pensar que refugiados de países pobres não contribuirão para a economia ou status brasileiro, e sim trazer despesas e doenças. O fato de o abrigarmos em troca de mão de obra é ignorado. Além disso, Santa Catarina é um dos estados que estão aceitando mão de obra estrangeira devido ao baixo nível de desemprego, o que diminui o preconceito de certa forma. O mais importante seria a adaptação, a convivência pacífica e sem diferenciamento racial por parte dos brasileiros e haitianos. Entendemos seus motivos para tal imigração e por meio de conversas, vemos que quanto mais informação chega aos ouvidos das pessoas, menor o preconceito. Por meio disso, o caminho de conscientização estrangeira/haitiana vai progredindo, e a interação brasileira/haitiana pode melhorar. Não só pode, mas como deve. Os nativos terão que se acostumar com rostos estrangeiros no Brasil. Primeiramente haitianos, em busca de melhores condições de trabalhos, e ainda mais imigrantes virão, por motivos, como refugiados ou perseguidos políticos. O Brasil, com ou sem crise, manterá facilmente a imagem de “belo país acolhedor”, contanto que não dependam de opiniões forjadas pela falta de informação. Podemos oferecerlhes trabalho, moradia e comida, sem a necessidade de retirar a oportunidade dos brasileiros. Referências ÁVILA, F. B, S. J. Pequena enciclopédia de moral e civismo. 3. ed. Rio de Janeiro: Fename, 1978. 630 p. BAENINGER, Rosana (Org). Migração internacional. 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