107 ACLIMATAÇÃO DE BROTAÇÕES DE ABACAXI (Ananas comosus L.) PRODUZIDAS in vitro: AÇÃO DE AGROMIX®, HÚMUS E KELPAK®* ADRIANO BORTOLOTTI DA SILVA (**) MOACIR PASQUAL (***) MARIA APARECIDA MOREIRA (***) ANNA LYGIA DE REZENDE MACIEL (****) JOÃO MAURÍCIO CAVALCANTE-ALVES (*****) ANDRÉ BARRETTO PEREIRA (******) RESUMO Brotações de abacaxi (Ananas comosus L.) cv. Primavera produzidas in vitro foram transferidas para bandejas de isopor contendo o substrato Agromix® e Agromix® + Húmus até atingirem 7 cm de altura, e após transferidas para sacos plásticos de 1 Kg. As bandejas e os sacos plásticos foram mantidos em casa-de-vegetação. A adubação foliar com Kelpak® nas concentrações de 0,0; 0,25; 0,50; 1,0 e 2,0 mLL-1 foi realizada a cada 15 dias. As avaliações foram efetuadas aos 120 dias após a instalação do experimento registrando-se altura de planta, número de folhas, peso da matéria fresca e seca da parte aérea e raíz. Os resultados obtidos permitiram concluir que o uso de Húmus + Agromix® promove melhor desenvolvimento das plantas em relação ao Agromix®; a adubação com Kelpak® também promove melhor desenvolvimento das plantas. DESCRITORES: Cultura de tecidos, abacaxi, aclimatação, substrato. SUMMARY ACCLIMATIZATION OF PINEAPPLE (Ananas comosus L.) SHOOTS PRODUCED in vitro: EFFECTS OF AGROMIX®, HUMUS AND KELPAK®. In vitro-produced rootless shoots of pineapple ( Ananas comosus L. ) cv. Primavera were removed from tubes and transferred to polystyrene-foam trays containing Agromix® and Agromix® + Humus substrate until they were 7 cm high. They were then transferred into 1 kg plastic bags in the green-house at 15º C night temperature and 30º C day temperature. Irrigation was realized 3 times/week and foliar nutrition with Kelpak® (0.0; 0.25; 0.50; 1.0 and 2.0 mLL-1) twice a month. The experiment was evaluated by the height of the plants, number of leaves, flesh and dry weight of aerial part and roots. Humus + Agromix® induced better growth of aerial part than Agromix® only. The increase of Kelpak® concentrations, with Agromix® + Humus, promoted respective growth of pineapple plant aerial part. The increase of Kelpak® concentrations until 1.0 mLL-1, with Agromix® only, promoted correspondent elevation of aerial part and reduction at higher concentrations; the elevation of Kelpak® concentrations promoted respective elevation of roots weight, with Agromix® - with Agromix® + Humus. This increase is verified until Kelpak® 1,0 mLL-1. There is a decrease at higher concentrations. KEY WORDS: Tissue culture, pineapple, acclimatization, substrate. 1.INTRODUÇÃO O abacaxizeiro é cultivado em todas as regiões brasileiras e ocupa a nona maior área entre as frutas cultivadas no país. O Brasil destaca-se como importante produtor mundial embora as exportações ainda sejam reduzidas (Tamaki e Cardoso, 1982). A propagação do abacaxizeiro é feita vegetativamente, podendo-se utilizar diferentes partes da planta: coroa, filhote e rebentão. Esse processo vem ocasionando a disseminação do patógeno causador da fusariose (Fusarium moniliforme Shilld. var. Subglutinans Wr. e Reinking) principal doença fúngica que pode ocasionar perdas de 80% dos frutos (Cabral e Matos, 1986). A técnica de cultura de tecidos tem sido uma alternativa viável na propagação in vitro do abacaxi, produzindo mudas livres de patógenos e em grande número, reduzindo a mão-de-obra; enquanto que na propagação convencional as mudas são produzindas em um pequeno número. Milhares de mudas de abacaxizeiro podem ser *Lab. Cultura de Tecidos, Universidade Federal de Lavras (UFLA), Caixa Postal 37, 37200-000 Lavras-MG ** Eng. Agrônomo, UFLA *** Eng. Agrônomo, Dr., Prof. UFLA **** Eng. Agrônomo MSc. UFLA, Prof. da UNIFENAS ***** Eng. Agrônomo Dr. ****** Eng. Agrônomo. MSc.., pesquisador CEPLAC R. Un. Alfenas, Alfenas, 4:107-110, 1998 108 A. B. da SILVA et al. obtidas em curto espaço de tempo utilizando-se como explantes gemas de base de folhas (Drew, 1980), ou gemas axilares extraidas da coroa (Zepeda e Sagawa 1981; Liu et al. 1988). Dewald et al. (1988), estudando a multiplicação in vitro de três cultivares de abacaxi (PR- 1-67, Perolera e Smooth Cayenne), selecionaram 3 gemas de cada, as quais foram acompanhadas por 13 meses de subculturas. A produção de plântulas se iniciou 9 meses após a primeira inoculação. O número de plântulas produzidas dobrava a cada subcultura mensal desde o 110 até o 130 mês. Os três cultivares responderam diferentemente, com mais plântulas para Perolera (829 por um período de 5 meses) e PR-1-67 (754 no mesmo período) do que Smooth Cayenne (181 plântulas). Aproximadamente 25 plântulas maiores que 2,5 cm seriam colhidas por frasco de 125 ml a cada subcultura adicional após o 130 mês. Estas três cultivares continuaram proliferando 4 anos após o início do trabalho. Um novo método para micropropagação do abacaxi, baseado no alongamento de brotos induzidos in vitro, foi demonstrado por Kiss et al. (1995). Plântulas in vitro são decapitadas e os brotos estiolados no escuro a 280C, em meio MS (Murashige e Skoog, 1962) contendo ANA 10 mg L-1, por 30 - 40 dias. Nesta condição, o número médio de brotos regenerados por explante foi 2,6. Os brotos estiolados foram colocados horizontalmente em meio com cinetina 25 mg L-1 e, produziram, após 4 - 6 semanas, 15 plântulas por gema. Quando colocados no mesmo meio com BAP 20 mg L-1, produziram 13 plântulas por gema. As brotações produzidas foram enraizadas em meio MS sem regulador de crescimento. Utilizandose esta metodologia pode produzir 80.000 plântulas em um ano a partir de uma única planta. O processo de aclimatação é uma fase crítica para a produção de mudas cultivadas in vitro, que consiste em retirar a planta da condição in vitro e transferi-la para casa de vegetação, tendo como objetivo superar dificuldades que as plântulas enfrentam ao mudarem de ambiente, porque estas plântulas passam de ambiente de baixa transpiração podendo causar estresse hídrico; passa de um estado heterotrófico para o estado autotrófico, passa de um meio com disponibilidade de sais para outro que onde precisa absorver sais e sai de um estado asséptico para ficar sujeito ao ataque de microorganismos saprófitos e eventualmente patogênicos (Grattapaglia e Machado, 1990). A aclimatação pode ser uma fase limitante na cultura de tecidos, tendo como referência os fatores citados. Moore et al. (1992) sugerem que para aclimatação de mudas de abacaxi, plântulas com 2,5 cm ou maiores, sem raíz, sejam retiradas dos frascos R. Un. Alfenas, Alfenas, 4:107-110, 1998 e transferidas individualmente para potes contendo uma mistura de polo comercial e, sejam envolvidas por plástico criando uma atmosfera úmida. Desta forma são mantidas em câmara de crescimento a 280C, na presença de luz, até enraizarem, quando o plástico é removido. As plantas passam então para frascos maiores e são levadas para casa de vegetação, onde são fertilizadas duas vezes por semana, com uma solução contendo 1/10 dos sais de MS. 2.MATERIAL E MÉTODOS O presente trabalho foi realizado na casa de vegetação do Laboratório de Cultura de Tecidos da Universidade Federal de Lavras ( UFLA ), LavrasMG; com 90% de umidade relativa, com temperatura noturna em torno de 150C e diurna em torno de 300C, ventilação forçada e a irrigação foi feita com o uso de regadores plásticos (3 vezes por semana). As plântulas de abacaxizeiro cv. Primavera, provenientes de explantes mantidos em condições artificiais no Laboratório de Cultura de Tecidos UFLA; foram desenvolvidas em frascos de vidro, contendo meio básico MS, acrescido de 0,5 mgL-1de BAP (benzilamino purina). Após a retirada dos explantes dos frascos, estes foram lavados em água corrente com o objetivo de retirar o excesso de meio de cultura. Logo em seguida foram plantados em bandejas de isopor com 72 células (5 X 5 cm) e após atingirem aproximadamente 7,0 cm foram transferidos para sacos plásticos com capacidade para 1,0 Kg de substrato, sendo 50% dos recipientes preenchidos com Agromix® (substrato comercial) e o restante com Agromix® + Húmus. As adubações foliares foram realizadas de 15 em 15 dias utilizando as seguintes concentrações do produto comercial Kelpak®: 0,0; 0,25; 0,50; 1,00; 2,00 mLL-1diluídas em água destilada. Kelpak® é um adubo orgânico, retirado de algas ou planctons marinhos, rico em macro e micronutrientes. Foram efetuadas avaliações após 180 dias de cultivo onde foram analisados os seguintes parâmetros: altura da planta, número de folhas, peso da matéria fresca e seca da parte aérea e da raíz. O delineamento utilizado foi o inteiramente casualizadoem esquema fatorial 2x5 (2 substratos e 5 concentrações de adubo foliar), constando de 10 tratamentos e 5 repetições, com 4 plântulas por repetição. 3.RESULTADOS E DISCUSSÃO Observa-se na Figura 1 que na ausência de Kelpak®, o crescimento da planta, medido pela altura da parte aérea, foi maior para Agromix® + Húmus do ACLIMATAÇÃO DE BROTAÇÕES DE ABACAXI (Ananas comosus L.) PRODUZIDAS in vitro:...109 0,5 1 1,5 2 2,5 -1 Níveis de Kelpak (mL L ) 0,5 1 1,5 2 -1 Agromix Y∆= 7,58307+8,76135X-3,72526X Y = 10,3735+3,56599X R = 0,93 R2= 0,95 A Figura 2 mostra o acréscimo constante observado no número de folhas com o aumento da concentração de Kelpak®, com o uso de Agromix® com de Agromix® + Húmus. Da mesma forma que para altura da planta, quando em presença de apenas Agromix®, houve aumento com elevação da concentração de Kelpak® até 1,0 m LL-1e redução em níveis mais elevados. 18 15 12 9 6 3 0 1 1,5 2 R2= 0,92 R2= 0,93 Figura 3. Peso da matéria fresca da parte aérea (g) de plantas de abacaxi cv. Primavera em diferentes substratos e concentrações de Kelpak 2 Figura 1. Altura da plantas de abacaxi cv. Primavera em diferentes substratos e concentrações de Kelpak 0,5 Agromix+Humus Y∆ = 0,78667+11,4831X-4,84009X2 Y = 2,8693+5,9156X Agromix+Humus 2 Agromix 2,5 Níveis de Kelpak (mLL ) Número de folhas 18 15 12 9 6 3 0 0 0 0 Número de folhas 20 15 10 5 0 de folhas, apresentou resultado levemente superior para Agromix® + Húmus na ausência de Kelpak®. Da mesma maneira que para altura de plantas, quando se usou húmus associado a Agromix®, o incremento no peso da parte aérea foi mais acentuado à medida em que as concentrações de Kelpak® foram aumentadas. 2,5 -1 Níveis de Kelpak (mL L ) Observa-se na Figura 4 que na presença de Agromix® houve aumento linear do peso de raizes na medida em que as concentrações de Kelpak® foram elevadas. Porém, quando Agromix® + Húmus foi usado como substrato o peso de raizes cresceu até aproximadamente 1,0 mgL-1, decrescendo com maiores concentrações de Kelpak®. Percebe-se que os resultados são similares aos registrados para altura da planta, porém, em sentido inverso, demonstrando que os nutrientes absorvidos foram direcionados para crescimento da parte aérea em detrimento do crescimento do sistema radicular. Peso matéria fresca do sistema radicular Altura da planta (cm) que para Agromix® usado isoladamente. Quando em presença de Agromix®, houve aumento progressivo da altura da planta; à medida em que foram elevadas as concentrações de Kelpak® até 1 m L-1, registrandose ligeira queda a partir desse nível. Por outro lado, quando em presença de Agromix® + Húmus, a altura da planta teve crescimento linear com o aumento das concentrações de Kelpak®. Este maior estímulo na presença de Húmus provavelmente se deve a um efeito interativo entre nutrientes de ambos os produtos. 0,4 0,3 0,2 0,1 0 0 0,5 1 1,5 2 2,5 -1 Agromix Agromix+Humus Y∆= 6,5323+12,91017X-5,43523X2 Y = 10,855+2,54X R2= 0,94 R2= 0,86 Figura 2. Número de folhas de plantas de abacaxi cv. Primavera em diferentes substratos e concentrações de Kelpak O peso da matéria fresca da parte aérea na Figura 3, que é a expressão de número e comprimento Níveis de Kelpak (mL L ) Agromix Agromix+Humus Y∆ = 0,01595+0,1382X R2= 0,97 2 Y = 0,02787+0,25804X-0,11803X R2= 0,85 Figura 4. Peso da matéria fresca do sistema radicular (g) de plantas de abacaxi cv. Primavera em diferentes substratos e concentrações de Kelpak R. Un. Alfenas, Alfenas, 4:107-110, 1998 110 A. B. da SILVA et al. O peso da matéria seca (figura. 5) mostrou resultados similares aos verificados para os demais parâmetros da parte aérea, ou seja, na presença de Agromix® + Húmus houve crescimento constante, enquanto que com Agromix® apenas o crescimento foi verificado até 1,0 mLL-1de Kelpak®. Peso matéria seca total 1,5 1,2 0,9 0,6 0,3 0 0 0,5 1 1,5 2 2,5 Níveis de Kelpak (mL L-1) Agromix Agromix+Humus Y∆ = 0,16369+1,21841X-0,55031X2 Y = 0,22845+0,6234X R2= 0,93 R2= 0,97 Figura 5. Peso da matéria seca total (g) de plantas de abacaxi cv. Primavera em diferentes substratos e concentrações de Kelpak 4.CONCLUSÕES O uso de húmus associado ao substrato Agromix® promove melhor crescimento da parte aérea de plantas de abacaxi do que somente Agromix®. O aumento das concentrações de Kelpak®, em presença de Agromix® + Húmus, promove correspondente crescimento da parte aérea de plantas de abacaxi. O aumento das concentrações de Kelpak® até 1,0 mLL-1, em presença de Agromix®, promove correspondente aumento da parte aérea, reduzindo em concentrações mais elevadas. O aumento das concentrações de Kelpak® promove correspondente elevação no peso do sistema radicular, na presença de Agromix®. Com o uso de Agromix® + Húmus este aumento é verificado até 1,0 mLL-1de Kelpak®, a partir daí há decréscimo 5.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CABRAL, J.R.S; MATOS, A.P. de; SOUTO, G.F. Reação de germoplasma de abacaxi à inoculação com Fusarium moniliforme var. Subglutinans. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v. 20, n. 7, p.787-791, 1985. DEWALD, M.G.; MOORE, G.A.; SHERMAN, W.B.; EVANS, M.H. Production of pineapple plants in vitro. Plant Cell Reports, v. 7, p. 535-538, 1988. R. Un. Alfenas, Alfenas, 4:107-110, 1998 DREW, R.A. 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