adequação do espaçamento de plantio para o cultivo orgânico do

Propaganda
RÓS AB; NARITA N; HIRATA ACS; SANTOS HS. 2011. Produtividade de plantas de
batata-doce oriundas de matrizes livres de vírus. Horticultura Brasileira 29: S1700S1706.
Produtividade de plantas de batata-doce oriundas de matrizes livres de
vírus
Amarílis Beraldo Rós1, Nobuyoshi Narita1, Andréia Cristina Silva Hirata1, Haydée
Siqueira Santos3
1
APTA - Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios – Pólo Alta Sorocabana. Rodovia Raposo
Tavares, km 561, Caixa Postal 298, 19015-970, Presidente Prudente/SP. 2 FATEC Presidente Prudente,
Rua Terezina, 75, 19046-230, Presidente Prudente/SP. [email protected], [email protected],
[email protected], [email protected]
RESUMO
A cultura da batata-doce é propagada
produtividades total e comercial foram
vegetativamente e, em função disso, a
avaliadas 150 dias após cada plantio. O
incidência de plantas infectadas por
delineamento
vírus tende a aumentar durante os
inteiramente casualizado, em esquema
sucessivos cultivos, mas com o uso de
fatorial de 4 x 2 (época x material de
material de propagação livre de vírus,
origem), com quatro repetições. Cada
obtido
de
variedade foi avaliada isoladamente. As
meristema, é possível contornar esse
plantas oriundas do material vegetativo
problema.
isento de vírus apresentaram maior
por
meio
Assim,
de
cultura
neste
trabalho
experimental
objetivou-se comparar a produtividade
produtividade
de plantas de batata-doce oriundas de
originárias
ramas provenientes de matrizes livres
independente
de vírus e de plantio comercial em
permaneceram no campo. Logo, as
função do tempo. O trabalho constituiu-
plantas oriundas de material isento de
se de três fases: produção de mudas em
vírus, mesmo cultivadas próximas a
bandejas; plantio das mudas no campo
plantas
de multiplicação para produção de
comercial
ramas para o campo experimental;
contaminação por viroses, por até um
plantio de ramas e condução do campo
ano apresentam produtividades total e
experimental até a época de colheita.
comercial
Foram utilizadas as variedades Londrina
supostamente infectadas por vírus.
e Uruguaiana. No campo experimental
PALAVRAS-CHAVE:
foram utilizadas ramas de plantas com
batatas, degenerescência, comparação.
3, 6, 9 e 12 meses de permanência no
ABSTRACT
campo de multiplicação. As
Yield of sweet potato originated from
de
do
que
foi
lavoura
do
provenientes
e
Hortic. bras., v.29, n. 2 (Suplemento - CD ROM), julho 2011
expostas
superiores
aquelas
comercial,
tempo
que
de
plantio
a
possível
às
plantas
Ipomoea
S1700
RÓS AB; NARITA N; HIRATA ACS; SANTOS HS. 2011. Produtividade de plantas de
batata-doce oriundas de matrizes livres de vírus. Horticultura Brasileira 29: S1700S1706.
virus-free mother plants
used with 3, 6, 9 and 12 months of stay
The sweet potato cultures is propagated
in the multiplication field. The total and
vegetatively, and because of this, the
commercial yields were evaluated 150
incidence of plants infected by virus
days
tends to increase during the successive
experimental design was completely
crops, but with the use of virus-free
randomized in a factorial 4 x 2 (time x
material,
of
source material) with four replications.
meristem, it is possible to work around
Each variety was evaluated separately.
this problem. So, this study aimed to
The plants from the virus-free planting
compare the yield of sweet potato stems
material had higher yields than those
from virus-free mother plants and
derived
commercial planting in function of time.
regardless of time remaining in the
The work consisted of three phases:
field. Therefore, the plants from virus-
production
trays,
free material, even grown close to
planting seedlings in the multiplication
plants from commercial plantation and
field to produce branches for the
exposed to possible contamination by
experimental field, planting of branch
viruses, for up to one year have higher
and conduct of experimental field until
total
the harvest time. The varieties Londrina
supposedly infected by viruses plantas.
and Uruguaiana were used. In the
Keywords:
experimental field, stems of plants were
degenerescence, comparison.
obtained
of
by
seedlings
culture
in
after
each
from
and
planting.
commercial
commercial
planting,
yield
Ipomoea
The
than
batatas,
INTRODUÇÃO
A batata-doce é uma planta de fácil cultivo, podendo produzir, em condições
edafoclimáticas favoráveis, entre 20 a 30 t ha-1 (EMBRAPA, 1995), no entanto, seu
cultivo apresenta uma série de problemas fitossanitários, dentre os quais destacam-se os
de etiologia viral, que são transmitidos principalmente por moscas brancas e pulgões
(Valverde et al., 2004).
Pelo fato de ser propagada vegetativamente, a incidência de plantas infectadas por vírus
tende a aumentar durante os sucessivos cultivos, resultando em uma significativa queda
na produção. De acordo com Kreuze & Fuentes (2008), dependendo do tipo de vírus e
da interação entre eles, a queda de produtividade pode variar entre pouco significativa a
Hortic. bras., v.29, n. 2 (Suplemento - CD ROM), julho 2011
S1701
RÓS AB; NARITA N; HIRATA ACS; SANTOS HS. 2011. Produtividade de plantas de
batata-doce oriundas de matrizes livres de vírus. Horticultura Brasileira 29: S1700S1706.
99% em relação a plantas sadias.
O uso de material de propagação livre de vírus, obtido por meio de cultura de meristema
pode ser uma das alternativas para contornar esse problema. No entanto, a presença de
plantas doentes e vetores podem resultar em reinfecção e, consequentemente, perda de
produtividade. Pozzer et al. (1994) constataram reinfecção de plantas livres de vírus
nas taxas de 30%; 50% e 80% no segundo, quarto e sexto mês, respectivamente, após
plantio em área não isolada.
Assim, visando comparar a produtividade da cultura da batata-doce oriunda de ramas
provenientes de matrizes livres de vírus e de plantio comercial em função do tempo
foram realizados experimentos com duas variedades de batata-doce em Presidente
Prudente/SP.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido na Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios Pólo Alta Sorocabana, situado no Município de Presidente Prudente/SP, no período
compreendido entre novembro de 2008 e maio de 2010.
O trabalho constituiu-se de três fases: produção de mudas em bandejas; plantio das
mudas no campo de multiplicação para produção de ramas para o campo experimental;
plantio de ramas e condução do campo experimental até a época de colheita.
As mudas de batata-doce foram produzidas em bandejas, sendo utilizados segmentos
com dois nós de ramas de plantas de batata-doce das variedades Londrina e Uruguaiana.
Este material foi obtido de plantas de plantio comercial oriundas de plantas com
histórico de elevada produtividade na região e de matrizes livres de vírus mantidas em
viveiro envolto em tela anti-afídeo.
Os segmentos foram retirados do terço médio e superior das ramas (até 0,6 m). As
folhas foram retiradas com tesoura de poda. Cada segmento foi pesado, selecionando-se
aqueles com massas semelhantes. Os segmentos foram imersos em solução de 5 ml/l de
Carbendazin 50% m/v por 10 minutos.
Os segmentos tiveram sua gema basal inserida em substrato comercial Plantmax® em
bandejas com 72 células. Em seguida, efetuou-se a compressão manual do substrato
para melhor fixação das estacas.
As bandejas permaneceram a 0,5 m do chão, sobre bancada formada por arame,
permitindo a poda das raízes das mudas por desidratação. O material foi irrigado por
Hortic. bras., v.29, n. 2 (Suplemento - CD ROM), julho 2011
S1702
RÓS AB; NARITA N; HIRATA ACS; SANTOS HS. 2011. Produtividade de plantas de
batata-doce oriundas de matrizes livres de vírus. Horticultura Brasileira 29: S1700S1706.
todo o período do experimento.
As mudas foram mantidas em viveiro envolto em tela anti-afídeo por 45 dias. Em
dezembro de 2008, os materiais foram plantados no campo em grandes parcelas uma ao
lado da outra (campo de multiplicação), para então serem fornecedoras de ramas para o
campo experimental. O campo encontrava-se isolado, não havendo campos comerciais a
menos de 1500 m.
Para a instalação do campo experimental foram coletados segmentos com
aproximadamente 0,3 m da porção terminal das plantas mantidas no campo de
multiplicação em quatro épocas: 3, 6, 9 e 12 meses após o plantio das mudas em
bandeja no campo de multiplicação. Os plantios ocorreram nos meses de março, junho,
setembro e dezembro de 2009, em área de Argissolo Vermelho Amarelo.
Os segmentos foram transplantados no campo, nas quatro épocas, no espaçamento de
0,30 m entre plantas em leiras espaçadas de 0,90 m. O preparo do solo, constituído de
aração e gradagem, foi realizado em área total, sendo realizado novamente a cada época
de plantio e sendo confeccionadas as leiras em seguida nas parcelas a serem utilizadas.
Foram realizadas capinas até a cobertura do solo pela cultura, não tendo sido efetuados
tratamentos químicos contra pragas e/ou doenças. Após 150 dias de cada plantio,
realizou-se a colheita das raízes. As produtividades total e comercial foram avaliadas,
sendo que a produtividade total foi obtida pela pesagem de todas as raízes com massa
igual ou superior a 80g. A produtividade comercial foi obtida pela pesagem de raízes
com formato uniforme, lisas e com peso igual ou superior a 80 gramas, segundo
Embrapa (1995). As produtividades foram expressas em tonelada por hectare.
O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, em esquema fatorial de 4 x 2
(época x material de origem), com quatro repetições. Cada variedade foi avaliada
isoladamente. As parcelas foram constituídas de três leiras espaçadas 0,85 m com 18
plantas distanciadas 0,3 m cada, considerando-se como área útil apenas as 16 plantas
centrais da linha do meio. Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância e
as médias comparadas pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Não houve interação entre os fatores época e material de origem nas duas variedades.
As plantas oriundas do material vegetativo isento de vírus apresentaram maior
produtividade do que aquelas originárias de lavoura comercial, independente do tempo
Hortic. bras., v.29, n. 2 (Suplemento - CD ROM), julho 2011
S1703
RÓS AB; NARITA N; HIRATA ACS; SANTOS HS. 2011. Produtividade de plantas de
batata-doce oriundas de matrizes livres de vírus. Horticultura Brasileira 29: S1700S1706.
que permaneceram no campo (Tabelas 1 e 2). A variedade Londrina, cujo material
propagativo foi originário de plantas de plantio comercial (Tabela 1), apresentou
produtividades total e comercial, em média, equivalente a 63,7% e 65,7 % da
produtividade de plantas provenientes de material isento de vírus, respectivamente.
Houve diferença nas produtividades em função da época de plantio. Quando se plantou
em março, ocorreram as maiores produtividades. Contudo, não é possível afirmar que a
queda de produtividade nas demais épocas nos dois materiais foi devida a questões de
sanidade. Analisando-se aos aspectos de precipitação e temperatura, a época de plantio
mais favorável para o desenvolvimento das plantas seria dezembro, época recomendada
pela Embrapa (1995) para a região Sudeste e a menos recomendada seria março.
Portanto, pode-se supor que uma provável causa para a maior produção foi a maior
fertilidade natural do solo encontrada por ocasião do primeiro plantio, visto que não
houve adição de adubo ao solo em nenhuma época, estando o solo sujeito a ter parte de
seus nutrientes lixiviados.
Em relação à variedade Uruguaiana (Tabela 2), as produtividades total e comercial das
plantas cujo material propagativo foi originário de plantio comercial, foi, em média,
equivalente a 66,2% e 64 % da produtividade de plantas oriundas de material isento de
vírus, respectivamente. Conforme também foi observado para a variedade Londrina,
houve diferença nas produtividades em função da época de plantio. A produtividade
total obtida no plantio de março, isto é, no menor período de exposição das plantas à
possível contaminação por viroses, foi superior às demais épocas. A produtividade
comercial foi superior nas duas menores épocas de exposição (março e junho), embora o
plantio em junho não tenha diferido estatisticamente da produtividade comercial de
dezembro. Da mesma forma que na variedade Londrina, a queda de produtividade em
função de época provavelmente não está relacionada à sanidade das plantas e sim a
questões de fertilidade de solo.
Assim, as plantas oriundas de material isento de vírus, mesmo cultivadas próximas a
plantas provenientes de plantio comercial e expostas a possível contaminação por
viroses, por até um ano apresentaram produtividades total e comercial superiores às
plantas supostamente infectadas por vírus.
Mukasa et al., (2006) também verificaram elevada diferença de produtividade entre
plantas sadias e infectadas, sendo que nas últimas houve queda de produtividade de até
Hortic. bras., v.29, n. 2 (Suplemento - CD ROM), julho 2011
S1704
RÓS AB; NARITA N; HIRATA ACS; SANTOS HS. 2011. Produtividade de plantas de
batata-doce oriundas de matrizes livres de vírus. Horticultura Brasileira 29: S1700S1706.
80%. Já JoonSeol et al. (2007) verificaram menores diferenças entre as produtividades,
onde as plantas livres de vírus apresentaram incremento de produtividade de 4 a 24%,
dependendo da variedade utilizada.
Quanto à diferença de produtividade, na última época de plantio (dezembro), as
produtividades total e comercial de plantas oriundas de matrizes de plantio comercial
variaram entre 49,5 e 65 % e 50,7 e 62 % em relação às plantas oriundas de matrizes
livres de vírus. De maneira semelhante, Cecílio Filho et al. (1998) verificaram que
plantas de batata-doce provenientes de ramas de propagação convencional
proporcionaram produtividade total e comercial de raízes de 47,5 e 26 % em relação a
plantas oriundas de plantas livres de vírus, mesmo no terceiro ciclo de campo.
REFERÊNCIAS
EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA. 1995. Cultivo da
batata-doce (Ipomoea batatas (L.) Lam). Brasília: Ministério da Agricultura,
Abastecimento e Reforma Agrária, 1995. 10p. (Instruções técnicas 7).
MUKASA SB; RIBAIHAYO PR; VALKONEN JPT. 2006. Interactions between a
crinivirus, an ipomovirus and a potyvirus in coinfected sweetpotato plants.
Plant
Pathology 55:458–467.
VALVERDE RA; SIM J; LOTRAKUL P. 2004. Whitefly transmission of sweet potato
viruses. Virus Research 100:123–128.
POZZER L; DUSI AN; SILVA JBC.; KITAJIMA EW. 1994. Avaliação da taxa de
reinfecção de plantas de batata-doce livre de vírus pelo “Sweet potato feathery mottle
virus” em condições de campo. Fitopatologia Brasileira 19:231-234.
KREUZE J; FUENTES S. 2008. Sweetpotato Viruses. Encyclopedia of Virology
3:659-669.
JOONSEOL L; MINAM C; BYEONGCHOON J; YOUNGSUP A; HAGSIN K;
JONGSUK P; JINKI B. 2007. Establishment of mass propagation system of virus-free
sweetpotato plants and conservation. Korean Journal of Crop Science 52: 2, 220-227.
Hortic. bras., v.29, n. 2 (Suplemento - CD ROM), julho 2011
S1705
RÓS AB; NARITA N; HIRATA ACS; SANTOS HS. 2011. Produtividade de plantas de
batata-doce oriundas de matrizes livres de vírus. Horticultura Brasileira 29: S1700S1706.
Tabela 1. Produtividades total e comercial de batata-doce variedade Londrina, em
quatro épocas de avaliação. (Total and commercial yields of sweet potato variety
Londrina, in four evaluation times). Presidente Prudente, APTA, 2010.
-1
Época
Março
Junho
Setembro
Dezembro
Média
Isento de vírus
44868,7
24217,3
18313,8
27557,6
28739,3 A
(100%)
Época
Março
Junho
Setembro
Dezembro
Média
Isento de vírus
40717,8
23327,5
17119,5
26202,0
26841,7 A
(100%)
Produtividade total (t ha )
Plantio comercial
31233,9
15376,0
12998,5
13629,9
18309,6 B (63,7%)
Média
38051,3 a
19796,6 b
15656,1 b
20593,8 b
CV = 16,64%
-1
Produtividade commercial (t ha )
Plantio comercial
29172,8
14306,0
12157,3
13277,4
17228,4 B
(65,7%)
Média
34945,3 a
18816,8 b
14638,4 b
19739,7 b
CV = 23,71%
* Letras maiúsculas diferentes na linha e minúsculas na coluna diferem entre si pelo teste de Tukey
(P<0,05). Means followed the different uppercase letters in the collumn and lowercase letters in line do
not differ by Tukey test (P<0.05).
Tabela 2. Produtividades total e comercial de batata-doce variedade Uruguaiana, em
quatro épocas de avaliação. (Total and commercial yields of sweet potato variety
Uruguaiana, in four evaluation times). Presidente Prudente, APTA, 2010.
-1
Época
Março
Junho
Setembro
Dezembro
Média
Época
Março
Junho
Setembro
Dezembro
Média
Produtividade total (t ha )
Isento de vírus
Plantio comercial
36129,9
28102,0
28692,0
20228,4
23281,3
10293,1
25042,4
16275,5
28286,4 A
18724,7 B
(100%)
(66,2%)
-1
Produtividade commercial (t ha )
Isento de vírus
Plantio comercial
33379,8
25552,8
28009,9
19550,0
21539,1
8252,7
24688,6
15364,4
26829,3 A
17180,0 B
(100%)
(64,0%)
Média
32115,9 a
24460,2 b
16787,2 c
20659,0 bc
CV = 21,45%
Média
29466,3 a
23780,0 ab
14895,9 c
19876,5 bc
CV = 23,71%
* Letras maiúsculas diferentes na linha e minúsculas na coluna diferem entre si pelo teste de Tukey
(P<0,05). Means followed the different uppercase letters in the collumn and lowercase letters in line do
not differ by Tukey test (P<0.05).
Hortic. bras., v.29, n. 2 (Suplemento - CD ROM), julho 2011
S1706
Download