ser amigo - CRM-Pr

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amizade
SER AMIGO
Ser amigo não é para qualquer um. Exige
“Ser amigo é relevar falhas, desde
que não sejam as de caráter”.
e proximidade.
presença e lealdade, no momento incerto, fidelidade
Ser amigo não é estar entre muitos, melhor poucos e bem conhecidos. Afinal, ter amigo cinza é mais
perigoso do que um desafeto sábio. Este, não atira a
esmo, é parcimonioso na munição, critica com argumentos, é para ser levado a sério. Mesmo inominado
não é tolo, provoca sem ferir, eleva nossa argúcia.
Amigo presunçoso é bala perdida de trajeto errático, não poupa o escondido. Sem pudor, é dissidente de espírito, inconfidente ao sol de abril.
Woman Reading in a Forest, Gyula Benczúr (1844-1920).
Ser amigo é relevar falhas, desde que não sejam
as de caráter. Se existentes, melhor criar uma zona de
transição com prudência. Amigo que não protege a
intimidade é vírus letal, irreversível no dano, bastardo
da confiança.
Ser amigo é como obra-prima, está onde está, à
vista, nítido nos propósitos, oculto nos mistérios que
nos eternecem, nas virtudes que nos emudecem.
Ser amigo não é para qualquer um. É ser conciliador sem ser acomodatício. É ser como velhos livros
relidos e carregados de pessoas, e que sempre nos
inspiram. Sempre colocados à esquerda do peito
para ditar o ritmo da consciência, o voo da verdade, a profundidade do bem, a simetria do belo. É ser
único na maneira de sê-lo. É ser muito na exiguidade
da vida. É tornar-se assemelhado na compreensão,
solícito à compaixão; é ser ponderado quando nos
assalta a passionalidade.
Ser amigo não é para qualquer um, é não nos dar
o desgosto da ingratidão. Para isso, melhor a distância no silêncio. Mas é também saber que a mudez faz
Spannende Lektüre, Walther Firle (1859-1929).
parte de muitos que não se sabem nossos eleitos.
Enfim, ser amigo é compartilhar saúde e doença
em prol da afetividade, mesmo na ausência de sabença.
Sim, ser amigo não é tudo, mas já é muito. Muito porque nos deixa ser como somos: imperfeitos!
Mesmo bem-intencionados.
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