Insper Instituto de Ensino e Pesquisa Faculdade de Economia e Administração Nicolas François Diot ESTUDO COMPARATIVO MACROPRUDENCIAL ENTRE (1995-2002) O E A TRIPÉ NOVA MATRIZ ECONÔMICA (2007-2016) E SEU IMPACTO NA ECONOMIA BRASILEIRA ATUAL São Paulo 2016 ESTUDO COMPARATIVO MACROPRUDENCIAL ENTRE (1995-2002) E O TRIPÉ A NOVA MATRIZ ECONÔMICA (2007-2016) E SEU IMPACTO NA ECONOMIA BRASILEIRA ATUAL Monografia apresentada ao curso de Ciências Econômicas, como requisito parcial para a obtenção do Grau de Bacharel do Insper Instituto de Ensino e Pesquisa. Orientador: Prof. Dr. Vinícius de Bragança Müller de Oliveira - Insper São Paulo 2016 Dedicatória Gostaria de agradecer à minha família, especialmente às minhas avós, Antônia e Leda, meu padrasto Luiz Fernando, meu pai François e minha mãe Carmen. Aos meus amigos, que sempre estiveram ao meu lado, e ao professor Vinicius Müller, sempre muito atencioso. Agradecimentos Agradeço ao professor orientador Vinicius Müller, por ter me ajudado com o desenvolvimento do estudo. Ao Insper, por contribuir para a minha formação profissional e acadêmica. Aos meus colegas, que me apoiaram e me ajudaram nesse processo. À minha família, por sempre me apoiar. Resumo Diot, Nicolas François. Estudo comparativo entre o Tripé Macroprudencial (1995-2002) e a Nova Matriz Econômica (2007-2016). São Paulo, 2016. 25p. Monografia – Faculdade de Economia e Administração. Insper Instituto de Ensino e Pesquisa. O Brasil atualmente (2016) passa por um dos momentos mais turbulentos politicamente de sua história, onde a presidente Dilma Rousseff sofreu um impeachment e o país tenta se reerguer após a maior recessão econômica de sua história. Este estudo tem como objetivo analisar separadamente cada modelo e depois compará-los, a fim de compreender os impactos diretos e indiretos que a economia doméstica sofreu com essa mudança, além de ressaltar pontos positivos e negativos que cada modelo venha a apresentar e moldar as diretrizes de um possível modelo ideal para o futuro, que melhor favoreça o crescimento econômico. Assim, será estudado o impacto de cada principal pilar (política fiscal, taxa de câmbio e controle da inflação) nos ambientes de curto e longo prazo, com o intuito de compreender o ambiente atual e buscar uma possível solução para o momento recessivo no qual o Brasil está inserido. Palavras-chave: Tripé Macroprudencial. Impeachment. Recessão econômica. Crescimento econômico. Responsabilidade fiscal. Taxa de câmbio. Metas de inflação. Nova Matriz Econômica. Brasil. Abstract Diot, Nicolas François. Comparative study between “Tripé Macroprudencial" (1995-2002) and “Nova Matriz Econômica” (2007-2016). São Paulo, 2016. 25p. Monograph - Faculdade de Economia e Administração. Insper Instituto de Ensino e Pesquisa. Brazil is currently (2016) passing through one of the most politically turbulent times in its history, where President Dilma Rousseff has suffered an impeachment and the country is trying to recover after the greatest economic recession in its history. This study aims to analyze separately each model and then compare them in order to understand the direct and indirect impacts that the domestic economy has suffered from this change, highlight strengths and weaknesses that each model will present and shape the guidelines of a possible ideal model for the future, which best supports economic growth. Thus, it will be studied the impact of each major pillar (fiscal policy, exchange rate and inflation control) in the short and long term, in order to understand the current environment and seek a possible solution to the recessionary moment in which Brazil it's inserted. Keywords: “Tripé Macroprudencial”. Impeachment. Economic recession. Economic growth. Fiscal responsibility. Exchange rate. Inflation targets. “Nova Matriz Econômica”. Brazil. Lista de ilustrações Figura 1 - Taxa de cresc. do PIB no período de 1995 a 2015 ..…................... 21 Figura 2 - IPCA acumulado no período de 1995 a 2016 ................................. 22 Lista de tabelas Tabela 1 - Política fiscal no período de 1999 a 2014 ...................................... 23 Sumário 1. Introdução ............................................................................................. 10 2. Análise teórica ...................................................................................... 12 3. Metodologia........................................................................................... 17 4. Análise Empírica ................................................................................... 18 5. Conclusão ............................................................................................. 24 Referências ................................................................................................ 26 10 Introdução Considerando o ambiente socioeconômico no qual a sociedade brasileira está inserida atualmente, é notável como a mudança de política econômica do governo de Fernando Henrique Cardoso para o de Dilma Vana Rousseff impactou a economia. Este estudo tem como objetivo analisar separadamente cada modelo e depois compará-los, a fim de compreender os impactos diretos e indiretos que a economia doméstica sofreu com essa mudança, além de ressaltar pontos positivos e negativos que cada modelo venha a apresentar e moldar as diretrizes de um possível modelo ideal para o futuro, que melhor favoreça o crescimento econômico. O modelo adotado no governo FHC (1995 - 2002), o Tripé Macroprudencial, foi capaz de manter a confiança dos agentes econômicos, mesmo após períodos de hiperinflação herdados das medidas das décadas de 70 e 80 (Ditadura Militar), por manter a responsabilidade fiscal, o câmbio flutuante e o regime de metas de inflação. Já a Nova Matriz Econômica, iniciada no segundo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva e mantida por Dilma Rousseff (2007 - 2016), teve a intenção de aquecer a economia pós estabilização, com expansão fiscal, crédito a juros subsidiados e taxa de câmbio controlada. Assim, os pilares que serão comparados são a política fiscal, a taxa de câmbio e o controle da inflação de cada governo. Em outubro de 2012, segundo publicação do Valor Econômico[1], o diretor do Banco Central (BC), Luiz Awazu Pereira da Silva reforçava que a “manutenção do tripé [...] tem sido capaz de guiar e consolidar a confiança dos agentes, mesmo nas situações excepcionais do mundo de hoje.”, referindo-se ao ambiente de crise externa, principalmente na Europa. Suas palavras parecem direcionadas às constantes críticas ao BC por se mostrar mais preocupado com o crescimento econômico do que com a inflação. Além disso, ainda em outubro, segundo o Repórter diário[2], o ex-ministro da Fazenda, Antônio Delfim Netto disse que, apesar da manutenção do tripé, todos os países utilizam uma taxa de câmbio “suja”, referindo-se ao controle cambial. 11 Esses pontos reforçam a mudança de política econômica que o governo tomou, mostrando que mesmo afirmando que há a manutenção do tripé, cada pilar dele foi sendo alterado até assumir enfim o modelo de Nova Matriz Econômica. Assim, será estudado o impacto de cada principal pilar nos ambientes de curto e longo prazo com o intuito de compreender o ambiente atual e buscar uma possível solução para o ambiente recessivo no qual o Brasil está inserido. 12 Análise teórica Os documentos do Bank for International Settlements (BIS) sugerem que a primeira aparição internacional da expressão “macroprudencial” ocorreu em 1979, na reunião do Basel Commitee (organização que congrega autoridades de supervisão bancária, visando a fortalecer a solidez dos sistemas financeiros). No momento em que os problemas microeconômicos começaram a se combinar com os temas macroeconômicos, os problemas microprudenciais se tornaram assuntos macroprudenciais, pois havia cada vez maior preocupação com o crescimento acelerado dos empréstimos em países em desenvolvimento e com as estabilidades financeira e macroeconômica. Ainda em 1979, visando alternativas para controlar as concessões de empréstimos, Alexandre Lamfalussy[3], conselheiro econômico e chairman da Euro-Currency Standing Commitee (ECSC), disse que “As medidas prudenciais estão principalmente preocupadas, no nível individual, com a boa prática bancária e com a segurança patrimonial dos depositantes. Muito trabalho tem sido produzido nessa área - a qual poderia ser descrita como o caráter microprudencial da supervisão bancária [...]. Entretanto, este aspecto pode requerer considerações que tenham uma perspectiva mais ampla. Esta abordagem macroprudencial considera problemas que podem impactar o mercado de uma forma geral, não só a uma instituição, e que podem não estar claros no nível microprudencial. ” Em 1986, o relatório Recent innovations in international banking[3] (Cross Report) do ECSC definiu o termo como uma política que promove a segurança e solidez do sistema financeiro e dos mecanismos de transações, concluindo que existe uma grande necessidade da conveniência da abordagem da supervisão funcional, em oposição à institucional, a fim de evitar lacunas no âmbito da regulação. Além disso, em identificar como a inovação financeira pode gerar riscos para o sistema financeiro. Em decorrência da crise asiática de 1997, o termo ‘macroprudencial’ começou a ser utilizado fora do círculo de bancos centrais. Sua principal 13 mudança foi a melhoria das estatísticas para avaliar vulnerabilidades sistêmicas, chamados “indicadores macroprudenciais”. Contrastando as abordagens micro e macroprudencial para a regulação e supervisão, Andrew Crockett[3], diretor geral do BIS em 2000, assinalou que a abordagem microprudencial tem como objetivo proteger investidores e depositantes e é limitado ao risco de quebra de uma única instituição. Nessa abordagem, o risco agregado é tratado de forma independente do comportamento coletivo das instituições (exógeno). Já a abordagem macro está voltada ao sistema financeiro consolidado, para limitar os custos em termos de produto e reconhecer que o risco agregado é dependente do comportamento coletivo das instituições financeiras (endógeno). Essa abordagem apresenta duas dimensões, ou seja, uma que investiga como o risco evolui ao longo do tempo, especialmente no que tange ao ciclo financeiro, e outra que avalia como o risco é distribuído dentro do sistema financeiro, focando nas interconexões entre instituições com exposições similares. Dessa forma, percebe-se que ao longo do tempo o termo foi se aperfeiçoando, originando-se como uma preocupação em relação à estabilidade do sistema financeiro e suas ligações com a macroeconomia e resultando no uso de ferramentas prudenciais com o objetivo de promover a estabilidade do sistema financeiro como um todo, não necessariamente das instituições que dele fazem parte. Atualmente, o termo tripé macroprudencial é muito mais vasto que isso, englobando outros instrumentos político-econômicos com o intuito de manter um crescimento estável da economia. Os três principais instrumentos utilizados para este estudo são política fiscal, taxa de câmbio e controle da inflação. Uma das maiores preocupações dos Bancos Centrais é a manutenção da inflação em taxas baixas, principalmente no cenário brasileiro, que passou por hiperinflação e, por isso, os agentes econômicos apresentam certo trauma em relação a isso. Dado o perfil tolerante do brasileiro, no entanto, esse trauma não é tão marcante quanto o caso alemão, por exemplo. Para pessoas que não vivenciaram esse período hiperinflacionário, essa memória não é tão presente, o que por um lado pode ser bom, pois as pessoas se desintoxicam 14 mentalmente de maus hábitos, contudo por outro lado é ruim, pois a memória ajuda na prevenção de casos semelhantes. Os principais mecanismos de combate à inflação, segundo Fábio Kanczuk[4], professor de economia da Universidade de São Paulo, são o câmbio, a taxa de juros e o canal de crédito. A manutenção do câmbio flutuante reflete as mudanças do cenário internacional e como o investidor externo enxerga a moeda doméstica, se o ambiente no qual o país está inserido é favorável ou não, indicando a situação presente e o provável futuro do país em questão. O câmbio fixo pode ser uma medida dúbia, pois, apesar de facilitar muito o comércio exterior em geral, faz com que o governo perca o instrumento de taxa de juros, tendo que operar de acordo com a moeda lastreada para manter a moeda estável. Além disso, existe a ameaça de ataques especulativos, que ocorre quando o mercado acredita que a moeda está mal precificada, apostando contra o Banco Central e esperando que o câmbio fixo seja abandonado, resultando numa forte desvalorização da moeda em questão. A taxa de juros retrata um grande tradeoff na vida do consumidor. O aumento da taxa de juros aumenta o incentivo ao consumidor de investir, reduzindo sua liquidez e, consequentemente, o consumo no período vigente em detrimento de uma maior renda e consumo no período futuro. O aumento da taxa de juros também reduz o investimento, pois torna o empréstimo mais caro. Esses dois choques de demanda contraem a economia, reduzindo seu Produto Interno Bruto (PIB) e fazendo com que os preços acompanhem o movimento, de modo que a inflação será menor. Por último, o canal de crédito impacta a inflação sem ser diretamente por meio dos juros, pois com a elevação dos depósitos compulsórios e aumento das exigências de capital próprio dos bancos sobra menos recursos para os bancos emprestarem aos clientes. O combate da aceleração da inflação se dá por metas inflacionárias, onde o governo define a meta de inflação e seu intervalo de tolerância anualmente. Segundo a resolução 4345 do Banco Central do Brasil [5], para o ano de 2016, a meta para a inflação será de 4,5%, com intervalo de tolerância 15 de dois pontos percentuais, ou seja, piso de 2,5% e teto de 6,5%. Para 2017, segundo a resolução 4419[6], a meta se manterá, mas o intervalo de tolerância será de um e meio ponto percentual, estreitando os níveis aceitáveis e demonstrando maior preocupação do governo para com o combate à inflação. Outro pilar do tripé macroprudencial é a responsabilidade fiscal, ou seja, a manutenção do equilíbrio das contas públicas, definindo seus gastos de acordo com as disponibilidades orçamentárias provenientes da arrecadação de impostos e outras fontes de receita do governo. Quando o governo está em situação de déficit fiscal, ele recorre a três principais meios de financiamento para se estabilizar, a senhoriagem, ou seja, impressão de dinheiro, o aumento de impostos e/ou empréstimos externos. A senhoriagem foi uma prática muito comum na ditadura militar (1964 1985) e grande responsável pela hiperinflação subseqüente [10]. A senhoriagem é uma forma de taxação inflacionária. Quando o Governo imprime nova moeda, ao invés de cobrar impostos sobre o estoque de moeda existente, ocorre uma “cobrança” de impostos sobre aqueles que possuem estoques monetários, considerando a desvalorização efetiva que a introdução de novo estoque de moeda pode ocasionar, sendo dessa forma uma maneira do governo auferir receita por meio da emissão de moeda. Esse aumento do nível de moeda, no entanto, provoca uma redução na taxa de juros, aumentando o incentivo em reter moeda ao invés de poupar e gerando com isso maior inflação. Foi um importante aprendizado histórico para mostrar que é uma prática muito ineficiente, pois suas desvantagens de longo prazo superam em muito os ganhos de curto prazo. Aumentar os impostos torna o governo cada vez mais inchado, e junto com uma gestão ineficiente, com problemas de corrupção e desperdício, forma uma bola de neve cada vez mais incontrolável. Como afirma Maílson da Nóbrega[7], ex-ministro da fazenda (1988 - 1990), “Veja o caso da refinaria de Abreu e Lima, que custou mais de dez vezes o valor previsto e ainda não está funcionando”. Ao se endividar, o país se alavanca, podendo utilizar o dinheiro agora em troca de pagar a quantia acrescida a juros no futuro. O problema é que, ao 16 fazer isso, seu risco país aumenta, e consequentemente as agências de classificação de risco, ou agências de rating, rebaixam a nota do país, e a taxa de juros paga será maior. 17 Metodologia Para a resolução dos questionamentos desse estudo, serão comparados os três pilares de cada modelo macroeconômico separadamente, a política fiscal, a política cambial e o controle inflacionário, e analisar seus impactos nos principais Indicadores Econômicos Consolidados, como as taxas de inflação e de crescimento do produto no período vigente. Dessa forma, todos os pontos positivos e negativos de cada modelo de governo serão ressaltados, a fim de modelar um possível modelo “ideal”, ou seja, aquele que promova maior crescimento econômico, considerando o ambiente atual interno e externo. A questão temporal deve ser ressaltada, pois muitas políticas macroeconômicas são válidas, porém pecam no timing, agindo muito antes ou depois do necessário, acabando por não ter seu impacto esperado e às vezes até agravando o problema. Por se tratar de um tema muito atual, para a resolução do estudo serão utilizados artigos principalmente brasileiros e mais atuais possíveis sobre o tema, com foco em revistas acadêmicas de economia, buscando diferentes correntes de pensamentos econômicos. A base do estudo constituirá de fontes acadêmicas relevantes e bases de dados oficiais, buscando reforçar e refletir o debate entre as correntes do pensamento econômico brasileiro, ao qual o estudo pretende contribuir. 18 Análise empírica Em sequência à metodologia proposta, serão analisadas as políticas adotadas por cada governo e seu impacto no Produto Interno Bruto. O primeiro mandato do governo Fernando Henrique Cardoso (FHC) teve como principal objetivo o combate à inflação, dado que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado dos anos anteriores ao seu governo estava na faixa de 1000% ao ano. FHC deu continuidade ao processo de reformas estruturais, alinhado ao programa de estabilização Plano Real, elevando a taxa de juros. Durante o mandato, FHC pautou pela privatização de várias estatais. Seu segundo mandato foi mais turbulento. O aumento da taxa de juros para controlar a inflação desestimulou o consumo interno, elevando o desemprego e levando o país a uma recessão. Além disso, uma crise internacional, originária na Rússia, atingiu o Brasil em 1998, ocorrendo uma fuga expressiva de capital. Por isso, foram aplicadas medidas para desvalorizar o Real, além de recorrer ao Fundo Monetário Internacional, que concordou com os empréstimos contanto que o governo adotasse um rígido controle dos gastos públicos, diminuísse investimentos públicos e elevasse ainda mais a taxa de juros. Já o governo Dilma teve uma boa herança governamental. Apesar de o mundo ter sofrido uma avassaladora crise econômica em 2008 e 2009, o governo Lula foi capaz de passar por ela sem muita turbulência, por meio de políticas anticíclicas. O governo Dilma foi inegavelmente um governo que fracassou [11], tanto que se sucedeu no impeachment de Dilma Rousseff. Ele fracassou principalmente em três eixos, econômico, político e administrativo. A falha do eixo econômico foi em não ver que a taxa de crescimento de longo prazo no Brasil atual é de 2% ao ano, ou seja, é impraticável manter o país crescendo no mesmo ritmo que no governo Lula ininterruptamente, a 7,5% ao ano. Assim, foram aplicadas políticas expansionistas, como o aumento dos gastos do governo e a expansão de crédito a juros subsidiados, o que fizeram 19 com que a inflação disparasse, assim como estourasse a conta corrente e as contas externas. As contas públicas foram completamente comprometidas para tentar estimular a demanda privada, o que nem ocorreu, dado que o Brasil perdeu grau de investimento enquanto a Dívida Bruta/PIB foi de 52% em 2010 para 66% em 2015. Além disso, os repasses do Tesouro ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para dar crédito barato às empresas agravaram o aumento dos gastos públicos. A falha do eixo político de Dilma foi em não ter se firmado como um líder que conquistou seu povo. Utilizando-se como alusão o livro O Príncipe, de Nicolau Maquiavel, Milton Lahuerta[11], professor da Unesp, descreve bem o fracasso no âmbito político de Dilma. "Maquiavel diz que o pior tipo de principado é o herdado, por que o príncipe não teve 'virtù' (em linhas gerais, qualidades pessoais) para conquistar o principado. Ele foi beneficiado pela 'fortuna', pela sorte. Dessa forma, será marcado pela instabilidade, já que diante da crise não saberá como agir. Ele não foi preparado para isso, não conquistou sua sabedoria ao conquistar o poder", diz. Lula “criou” sua sucessora, Dilma foi meramente beneficiada das boas condições que a circularam, tal como a carisma de seu antecessor. Assim, quando o país se dividiu politicamente no período pós eleição e questões de ajuste fiscal exigiram maior habilidade, Dilma foi incapaz de suprir essa necessidade. Além disso, uma série de medidas enfraqueceu seu poder político. Isolar o vice-presidente Michel Temer, tratando-o como mero vice decorativo para fortalecer a coalizão PT-PMDB deixou os peemedebistas enfurecidos, chegando ao ponto do próprio Michel Temer enviar uma carta[12] com caráter pessoal à Dilma para demonstrar seu descontentamento. Tentou aliar-se a Cid Gomes e Gilberto Kassab para reduzir a dependência em relação ao PMDB[13], ao invés de negociar com o partido para fortalecer sua aliança. Por fim, a disputa com o então presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, poderia ter sido evitada, dado que ele tinha muito poder entre os deputados. A Dilma teve um bom começo, demitindo uma série de ministros envolvidos em escândalos de corrupção, no entanto perdeu o controle de sua 20 equipe e delegou poder demais ao PMDB no segundo mandato, motivos principais de sua ruína no âmbito político. A falha do eixo administrativo foi em não ter adotado uma agenda de reformas para melhorar a gestão pública do país. Voltando-se ao debate jurídico sobre a questão das pedaladas fiscais, Gustavo Fernandes[11], professor do Departamento de Gestão Pública da EAESP-FGV, diz que “Se há a possibilidade de você esconder um gasto público, tem alguma coisa errada com a sua forma de fazer orçamento. Se o planejamento e a transparência fossem maiores, uma 'pedalada' contábil não poderia acontecer.” Além disso, a política de campeões nacionais do BNDES é falha por não conseguir encontrar os ‘perdedores’, ou seja, os setores e empresas onde o investimento foi ineficaz, devendo, portanto, ser cortado. "Se você tem um sistema de gastos transparente, tem uma forma de controle que procura ver o que o gestor fez com o dinheiro. Estou no BNDES e dei dinheiro para essas empresas: elas fizeram a renda daquela região crescer ou não? As pessoas vivem melhor ou não?", questiona. Essas questões institucionais não tiveram nenhum avanço durante todo o governo Dilma, mas também em nenhum programa dos partidos da oposição a temática é discutida. Dando continuidade à análise macroprudencial de cada período, analisando a Figura 1, percebe-se claramente a distinção entre o modelo Tripé Macroprudencial (1995-2002) e o modelo Nova Matriz Econômica (2007-2016). 21 Figura 1 – Taxa de crescimento do Produto Interno Bruto no período de 1995 a 2015 Fonte: https://www3.bcb.gov.br/sgspub/consultarvalores/consultarValoresSeries.do?method=visualizar Valores O período do Tripé Macroprudencial (TM) apresenta menor variância e uma média de crescimento de 2,43%, bem inferior ao crescimento mundial, 3,96%[8]. Considerando todo o período da Nova Matriz Econômica (NME), sua média foi de 2,63%, no entanto, considerando apenas o período do governo Dilma (2011-2016), sua média cai para 1,02%, um resultado muito insatisfatório dado que o crescimento mundial no período estava na casa dos 3,37% [8]. Além disso, não há previsão para a recuperação do cenário recessivo desde 2014, que em 2015 apresentou decréscimo de quase 4% do PIB e em 2016 as expectativas tendem a um valor ainda menor. Essa discrepância é facilmente compreendida quando comparados cada pilar do tripé separadamente. Primeiramente, o controle da inflação. Como uma Proxy da inflação, foi utilizado o Índice Nacional de preços ao Consumidor Amplo (IPCA), apresentado na Figura 2. 22 Figura 2 – IPCA acumulado no período de 1995 a 2016* 25,00% 22,41% 20,00% 15,00% 12,53% 9,56% 10,00% 10,67% 8,94% 7,67% 5,22% 5,00% 5,90% 5,97% 4,46% 1,65% 5,91% 6,50% 6,41% 5,84% 5,91% 4,31% 8,97% 0,00% 1995 1999 2003 2007 2011 2015 Fonte: https://www.bcb.gov.br/htms/notecon3-p.asp * Valor de 2016 acumulado em 12 meses até agosto Observando apenas o período vigente, parece que o período TM foi bem inferior nesse quesito, dado que sua média foi de 9,24% contra 6,49% do período NME. No entanto, vale ressaltar que o governo FHC foi logo após um longo período de hiperinflação, onde, entre 1980 e 1989 a inflação chegou, em média, a 233,5% ao ano[9]. Esse cenário caótico só foi revertido após o Plano Real, programa com o objetivo de estabilizar e reformar a economia, que ocorreu em 1994 no governo Itamar Franco. A idealização, elaboração e execução das reformas foi orquestrada por diversos economistas, reunidos por Fernando Henrique Cardoso, na época Ministro da Fazenda. Agora, observando a política fiscal, percebemos, observando a Tabela 1 abaixo, que no período TM as contas estavam controladas, com um superávit real de 2,9% do PIB, diferentemente da NME, que apresentou dois períodos de déficit real, sendo o segundo ainda mais acentuado, com 2% do PIB de déficit. 23 Tabela 1 – Política fiscal no período de 1999 a 2014 Fonte: http://plataformapoliticasocial.com.br/fatos-e-versoes-sobre-a-politica-fiscal/ Por fim, o governo brasileiro, por meio de swaps cambiais (contratos com agentes do mercado onde o governo se compromete a pagar a variação da taxa de câmbio em troca da Selic) ficou exposto à desvalorização do Real, que em 2013 valia 2R$/US$ e em 2014 foi a mais de 4R$/US$, trazendo um prejuízo acumulado de R$131,9 bilhões, ou 2,3% do PIB. 24 Conclusão O modelo TM foi pouco ambicioso, tendo como principal objetivo manter a confiança dos agentes econômicos, mesmo após períodos de hiperinflação herdados das medidas da Ditadura Militar. Isso foi possível através do controle inflacionário, que ocorreu pela manutenção das medidas Plano Real, além do aumento da taxa de juros, o que não favoreceu muito o crescimento econômico. Apesar disso, foi capaz de atingir seus objetivos mantendo a responsabilidade fiscal, o câmbio flutuante e o regime de metas de inflação. O aumento da taxa de juros, no entanto, desestimulou o consumo interno e elevou o desemprego no segundo mandato, o que, somado à crise russa de 1998, que se refletiu em uma fuga de capitais, levou o país a uma recessão. O governo tentou reverter a situação desvalorizando o Real, para atrair novamente investimento externo, e pegando empréstimos no FMI, que exigiu controle de gastos, redução de investimentos públicos e um aumento maior ainda na taxa de juros. Já o modelo NME foi extremamente ambicioso. O período anterior, o governo Lula, foi bem favorável, com um crescimento médio de 4,1% ao ano. Durante esse período, foi uma das economias que mais cresceu no mundo, sendo criado até um acrônimo a tais economias em ascensão, os BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Dessa forma, o principal objetivo do governo Dilma foi manter esse crescimento favorável, por meio de expansão fiscal, crédito a juros subsidiados e taxa de câmbio controlada. No entanto, por diversas questões, principalmente econômicas, políticas e administrativas, foi incapaz de obter êxito em suas medidas, trazendo o país a um momento de recessão. O modelo TM teve uma herança desfavorável e foi capaz de atingir seu principal objetivo, controlar a inflação. Já o modelo NME teve uma herança favorável e foi incapaz de atingir seu principal objetivo, manter o crescimento favorável originado do período anterior. Com isso, conclui-se que, mesmo num cenário bem mais árduo, com uma herança desfavorável apresentando hiperinflação e desconfiança dos agentes econômicos, o modelo TM foi mais 25 efetivo, atingindo seus principais objetivos e apresentando maior crescimento econômico. Poderia ter sido melhor, talvez se tivesse aumentado menos a taxa de juros ou num espaço de tempo maior, para que os agentes econômicos a absorvessem de forma gradativa e não afetasse tanto o consumo interno, mas seus pilares se demonstraram mais sólidos, sendo mais benéficos tanto à políticas de curto prazo quanto a políticas de longo prazo. 26 Referências Literárias: [3]CLEMENT, P. (2010). O termo “macroprudencial”: Origens e evolução NASSIF, A. (2014). As armadilhas do tripé da política macroeconômica brasileira BACHA, E. (2011). Além da Tríade: Como Reduzir os Juros? PESSÔA, S. (2014). Por que o governo embarcou na nova matriz econômica? AKERLOF, G., BLANCHARD, O., ROMER, D. e STIGLITZ, J. (2014). What Have We Learned? Macroeconomic Policy after the Crisis. Cambridge, MA: The MIT Press [10]PASTORE, A. (1997). Senhoriagem e inflação: O caso brasileiro BOLLE, M. (2016). Como Matar a Borboleta-Azul - Uma Crônica da era Dilma Fontes: [1]Valor Econômico, Brasil continua com tripé de política econômica, diz diretor do Banco Central http://www.valor.com.br/financas/2856248/brasil-continua-com-tripe-de-politicaeconomica-diz-diretor-do-bc, acessado em março de 2016 [2]Repórter Diário, Delfim defende BC e diz que tripé está mantido http://www.reporterdiario.com.br/noticia/370124/delfim-defende-bc-e-diz-quetripe-esta-mantido/, acessado em março de 2016 [4]Infomoney, Entenda melhor o que são medidas macroprudenciais e sua atuação na economia http://www.infomoney.com.br/mercados/noticia/2066656/entenda-melhor-quesao-medidas-macroprudenciais-sua-atuacao-economia, acessado em abril de 2016 Blog dos Desenvolvimentistas, O tripé e o retrocesso http://www.desenvolvimentistas.com.br/blog/blog/2015/01/29/o-tripe-e-oretrocesso/, acessado em abril de 2016 Estadão, Quem tem medo das medidas macroprudenciais? 27 http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,quem-tem-medo-das-medidasmacroprudenciais-imp-,732388, acessado em abril de 2016 Blog do Adolfo, O que é a Nova Matriz Econômica? http://bdadolfo.blogspot.com.br/2014/07/o-que-e-nova-matriz-economica.html, acessado em abril de 2016 Estadão, A volta da nova matriz econômica http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,a-volta-da-nova-matrizeconomica,10000006104, acessado em abril de 2016 Instituto Ludwig von Mises Brasil, O trágico legado da "Nova Matriz Econômica" - um resumo cronológico (com dados atualizados) http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2120, acessado em abril de 2016 [5]Banco Central do Brasil, Resolução nº 4345, de 25 de junho de 2014 [6]Banco Central do Brasil, Resolução nº 4419, de 25 de junho de 2015 Diário do Comércio, Como os impostos emperram o Brasil [7]http://especiais.dcomercio.com.br/impostos-brasil/, acessado em agosto de 2016 Instituto Millenium, O Instituto Millenium entrevista Gustavo Franco http://www.institutomillenium.org.br/divulgacao/entrevistas/o-instituto-milleniumentrevista-gustavo-franco-sobre-hiperinflao/, acessado em setembro de 2016 Plataforma Política Social, Fatos e versões sobre a política fiscal [8]http://plataformapoliticasocial.com.br/fatos-e-versoes-sobre-a-politica-fiscal/, acessado em setembro de 2016 [9]Econoleigo, Como era viver na hiperinflação do Brasil http://econoleigo.com/como-era-viver-na-hiperinflacao-do-brasil/, acessado em setembro de 2016 Brasil Escola, GOVERNO FERNANDO HENRIQUE CARDOSO http://brasilescola.uol.com.br/historiab/governo-fernando-henrique-cardoso.htm, acessado em outubro de 2016 Info Escola, Governo de Fernando Henrique Cardoso http://www.infoescola.com/historia/governo-de-fernando-henrique-cardoso/, acessado em outubro de 2016 [11]BBC Brasil, Em 3 pontos: Por que o governo Dilma não deu certo? 28 http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2016/04/160416_porque_deu_errado_ ab, acessado em outubro de 2016 [12]G1, Leia a íntegra da carta enviada pelo vice Michel Temer a Dilma http://g1.globo.com/politica/noticia/2015/12/leia-integra-da-carta-enviada-pelovice-michel-temer-dilma.html, acessado em novembro de 2016 [13]Último Segundo, Cid Gomes oferece a Dilma novo partido para fazer frente à ‘chantagem’ do PMDB http://ultimosegundo.ig.com.br/politica/2014-11-04/cid-gomes-oferece-a-dilmanovo-partido-para-fazer-frente-a-chantagem-do-pmdb.html, novembro de 2016 acessado em