aventura no sapal

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AVENTURA NO SAPAL
O estuário do Tejo é o maior da Europa Ocidental: com uma área de cerca de 320 Km². Perfaz
uma extensão de cerca de 80 km desde o seu
limite a montante, perto de Muge (de um modo
simplificado pode considerar-se que é o ponto
em que já não se faz sentir a influência da maré)
até, a jusante, ao limite da pluma salobra que se
desenha nas águas da zona costeira adjacente,
isto é aproximadamente até à barra (secção entre
a Torre de São Julião e o Bugio). Abrangendo
uma extensa superfície constituída por águas
estuarinas, zonas de lamas e sapais, mouchões,
salinas, pastagens e terrenos agrícolas (Costa,
1999).
O programa Ciência Viva no Verão 2011 e o Centro
de Oceanografia propõem uma visita ao sapal de
Corroios, durante a qual se pretende sensibilizar o
público para a enorme riqueza faunística e
florística deste habitat, realçando a importância
ecológica dos organismos que nele vivem e as
suas adaptações a este ecossistema com
características muito próprias.
AVENTURA NO SAPAL
Bibliografia:
Costa, M. J. 1999. O Estuário do Tejo. Edições Cotovia Lda.
Lisboa.
Os sapais são regiões onde a vegetação existente pode tolerar solos saturados de sal (plantas
halófitas). Possuem uma estrutura complexa de
plantas, animais e bactérias que suportam alternância bidiária de imersão e emersão, bem como
variações extremas de temperatura e salinidade.
Estas zonas húmidas salgadas, também denominadas “rins da terra”, interceptam e retêm a água
das zonas superiores, filtrando poluentes e melhorando a qualidade da água. Por outro lado, a
sua capacidade para reter as águas de escorrência é fundamental no controlo de inundações e,
consequentemente, na protecção das localidades próximas.
São áreas cujo interesse de preservação é indiscutível, pois além do seu elevado valor estético e
depurador, constituem ecossistemas estuarinos
altamente produtivos que contribuem para a
conservação da biodiversidade. No entanto, o
desconhecimento da importância destes habitats
fez com que até um passado relativamente recente fossem destruídos indiscriminadamente,
estando ainda hoje sujeitos a inúmeras pressões.
Costa, H. 2010. Relatório sobre a observação de aves no sapal
de Corroios e na Ponta dos Corvos entre 2006 e 2009, incluindo dados pontuais recolhidos na zona ribeirinha entre a Amora
e o Seixal. Cadernos de Ornitologia n.º1 (disponível em http://
sites.google.com/site/cadernosdeornitologia)
Caçador, I., Tibério, S. & Cabral, H. N. 2007. Species zonation
in Corroios salt marsh in the Tagus estuary (Portugal) and its
dynamics in the past fifty years. Hydrobiologia 587: 205–211.
Sítios de internet consultados:
- www.biorede.pt
- http://corroiospatrimoniohistoricoenatural.blogspot.com
Visita guiada por:
Prof. Isabel Caçador
Carla Azeda
Organização:
Setembro de 2011
SAPAL DE CORROIOS
Egretta garzetta
Spartina maritima
Limosa limosa
Em pleno concelho do Seixal encontra-se a baía com o
mesmo nome, uma enseada do Tejo abrigada pela restinga arenosa do Alfeite, que na sua zona mais ocidental
apresenta uma extensa mancha de sapal, com aproximadamente 143 hectares, denominada sapal de Corroios
(Costa, 2010). É a zona húmida mais bem conservada de
todo o estuário do Tejo, a sul de Alcochete, sendo considerada Domínio Público Hídrico e incluída na Reserva
Ecológica Nacional (REN).
As espécies halófitas mais representativas presentes no
sapal de Corroios são a morraça (Spartina maritima), a
gramata-branca (Halimione portulacoides), as gramatas
(Sarcocornia fruticosa e Sarcocornia perennis) (Caçador
et al., 2007).
Larus ridibundus
O sapal de Corroios é uma área sujeita à influência das
marés com manchas de vegetação estuarina relativamente extensas (Costa, 2010). Aqui as plantas vivem numa
situação de secura fisiológica, uma vez que a elevada
concentração salina do meio lhes dificulta o acesso à
água (embora esta seja abundante). Para sobreviverem,
estes organismos desenvolveram várias adaptações
morfológicas, tais como: a redução da área foliar e o
aumento da suculência das folhas e caules, o aumento
da densidade radicular, um denso revestimento de células secretoras de sal e a protecção dos órgãos aéreos
por uma espessa cutícula. Por outro lado, embora os sais
absorvidos possam, em parte, ser expelidos através das
raízes, o excesso pode ser segregado por glândulas especiais existentes nas folhas; quando estas secam, as
glândulas expulsam o sal, que fica a revestir a superfície
das mesmas. Possuem ainda, um mecanismo fisiológico
de ajustamento osmótico (osmoregulação) que evita a
acumulação de sais nas células.
Larus fuscus
Fig. 1 - Esquema da área.
Halimione portulacoides
A baía do Seixal, na qual se incluí
o sapal de Corroios, é um verdadeiro oásis de vida selvagem numa zona intensamente urbanizada
e transformada pelo homem. Nas
vastas áreas de lodo que ficam a
descoberto durante a maré vazia,
é possível observar um grande
número de aves limícolas a alimentarem-se. Na maré cheia, as manchas de vegetação que permanecem emersas proporcionam refúgio a várias aves aquáticas.
De facto, neste habitat estuarino
ocorrem inúmeras espécies de
aves aquáticas, incluindo o flamingo (Phoenicopterus ruber), a
garça-real (Ardea cinerea), a garça
-branca (Egretta garzetta), o corvo
-marinho (Phalacrocorax carbo), o
alfaiate (Recurvirostra avosetta), o
perna-longa (Himantopus himantopus), o perna-vermelha-comum
(Tringa totanus), o maçarico-debico-direito (Limosa limosa), os
pilritos (Calidris sp.), as tarambolas (Pluvialis sp.), a rola-do-mar
(Arenaria interpres), a galinha-deágua (Gallinula chloropus), o patoreal (Anas platyrhynchos), a gaivota-de-asa-escura (Larus fuscus), o guincho (Larus ridibundus)
e os borrelhos (Charadrius sp.).
Esta região é particularmente importante para as aves
migradoras, principalmente para as espécies invernantes.
Durante os meses de inverno, procuram abrigo e alimento
no sapal de Corroios largos milhares de aves, constituindo o mesmo, um verdadeiro santuário ornitológico. Embora em menor número também é possível encontrar várias
espécies estivais. É também uma importante zona de nidificação para espécies como o pato-real, a galinha-deágua, e o perna-vermelha-comum.
A zona adjacente ao sapal, e o próprio sapal durante a
maré alta, assumem bastante relevância enquanto área
de alimentação e abrigo para várias espécies de peixes
que utilizam o estuário com área de viveiro, como o
sargo-do-Senegal (Diplodus bellottii), o sargo-safia
(Diplodus vulgaris), o robalo-legítimo (Dicentrarchus
labrax), e ainda espécies residentes como o xarroco
(Halobatrachus didactylus) e o caboz-comum
(Pomatoschistus microps).
É também um local particularmente importante para
espécies piscícolas detritívoras como as taínhas (família
Mugillidae).
Na baía ocorrem ainda várias espécies de invertebrados, que servem de alimento a aves e peixes, nomeadamente crustáceos, como o caranguejo-verde (Carcinus
maenas) e o camarão-de-água-doce (Palaemon longirostris), gastrópodes (búzio, Hydrobia ulvae) e poliquetas
(minhoca-da-pesca, Hediste diversicolor).
Diplodus bellottii
Hediste diversicolor
Carcinus maenas
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