O conhecimento de HIV/AIDS entre os idosos da Unidade de Saúde

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Saúde Coletiva em Debate, 2(1), 9-19, dez. 2012
O conhecimento de HIV/AIDS entre os idosos da Unidade de Saúde da Família João
Pacheco Freire Filho, Arcoverde – Pernambuco
The knowledge of HIV/AIDS in the elderly of the Family Health Unit João Pacheco
Freire Filho, Arcoverde - Pernambuco
Aline Pereira da Costa¹*; Cleyse Phaine Jordão da Costa¹; Silvia Camêlo de Albuquerque¹
¹Escola Superior de Saúde de Arcoverde, Arcoverde - PE
Resumo: Estudos mostram um crescente aumento na incidência da infecção pelo vírus da
imunodeficiência humana (HIV) na terceira idade e que pessoas desta faixa etária, não detém
conhecimento suficiente sobre os riscos potenciais da doença. Mediante esta observação o
presente estudo visa avaliar o conhecimento sobre a infecção pelo HIV/AIDS em idosos
pertencentes a Unidade de Saúde da Família (USF) João Pacheco Freire Filho, Arcoverde-PE.
Trata-se de um estudo descritivo-exploratório de abordagem quantitativa e para a técnica
metodológica foi utilizada um questionário estruturado e validado aplicado em 241 idosos no
período de agosto a setembro de 2011. O perfil dos idosos entrevistados revelou a
predominância do sexo feminino, baixa escolaridade, religião católica e baixa renda familiar.
A avaliação do conhecimento evidenciou que 65,2% dos entrevistados acreditam que o vírus
do HIV/AIDS é transmitido por picada de mosquito, e que 82,1% dos idosos sabem que o uso
da mesma seringa e agulha por diversas pessoas transmite AIDS. Em relação à prática sexual
90,0% dos participantes de ambos os sexos relataram não fazer uso do preservativo. Concluiuse que a população com idade acima de 60 anos mostrou, em sua maioria, um conhecimento
pouco satisfatório diante do questionário aplicado.
Palavras-chave: Terceira idade. Sexualidade. DSTs. Prevenção.
Abstract: Researches show an increasing incidence of infection by human immunodeficiency
virus (HIV) in older people and that them do not hold sufficient knowledge about the
potential risks of the disease. Through this observation, the present research aims to assess
knowledge about HIV/AIDS in older people belonging to the Family Health Unit (FHU) João
Pacheco Freire Filho, Arcoverde - PE. This is an exploratory-descriptive study of quantitative
approach and for the methodological technique was used a questionnaire structured and
validated, applied to 241 elderly in the period August to September 2011. The profile of the
elderly respondents showed the predominance of female gender, low education, low income
family and Catholic religion. The knowledge evaluation showed that 65,2% of respondents
believe that the HIV/AIDS virus is transmitted by mosquito bite, and that 82,1% of the elderly
know that using the same syringe and needle by several people spread the AIDS virus.
Regarding sexual practices, 90,0% of the participants of both sexes reported not using
condoms. It was concluded that the population over 60 years old showed, in the most of cases,
an unsatisfactory knowledge about the questionnaire.
Keywords: Elderly. Sexuality. STDs. Prevention.
*Autor para correspondência: Aline Pereira da Costa. Rua Gumercindo Cavalcanti, nº 420. Bairro: São
Cristovão,CEP:56512-902.Arcoverde, PE.e-mail: [email protected].
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Saúde Coletiva em Debate, 2(1), 9-19, dez. 2012
1 INTRODUÇÃO
O crescimento da população idosa é
um fenômeno mundial e, no Brasil, as
modificações ocorrem de forma radical e
bastante acelerada. Segundo projeções, a
população mundial de idosos, em 2050,
atingirá o índice de 2 bilhões de idosos e o
Brasil será o sexto país do mundo em
número de idosos, com um contingente
superior a 30 milhões de pessoas, que
corresponde a 25% da população geral
(MAGALHÃES et al, 2011). Esta
realidade tem repercussão para a sociedade
como um todo, e no cenário nacional
reflete na demanda por ações diferenciadas
voltadas a proporcionar um atendimento
adequado às necessidades particulares
desta população.
A insuficiência na assistência aos
problemas de saúde típicos na terceira
idade tem contribuído para o aumento da
prevalência de doenças crônicas não
transmissíveis. Contudo, um novo evento
tem apresentado relevância nesse contexto,
e refere-se a mudanças percebidas no curso
da
epidemia
de
Síndrome
da
Imunodeficiência Humana Adquirida
(AIDS), uma doença transmissível, que
tem tido um aumento no número de casos
entre idosos. Embora não seja a faixa etária
mais acometida pela AIDS, os casos
confirmados nessa população crescem, no
Brasil, como em nenhuma outra faixa
etária. Um estudo que analisou as
características dos casos de AIDS em
pessoas com idade igual ou maior que 50
anos, em Pernambuco, apontou que o
número de casos no grupo mais velho (50
anos e mais), aumentou de 19 casos em
1990 para 57 casos em 2000, o que
corresponde ao aumento da taxa de
incidência por 100.000 habitantes de 4,2
para 9,5 (POTTES et al., 2007).
Dentre alguns fatores que são
associados ao crescimento da incidência da
AIDS em pessoas mais velhas, Bertoncini
et al. (2007) ressaltam que a falta de
conhecimento da população em relação a
esta situação contribui para o aumento da
epidemia, como também consideram a
crescente atuação de adultos maiores de 50
anos na vida social ao participarem de
bailes e/ou clubes de terceira idade, um ato
de exposição. Indubitavelmente, o número
de relações sexuais nessa faixa etária e a
busca de um melhor desempenho sexual
têm aumentado, haja vista a crescente
disponibilidade de medicamentos voltados
para este fim, principalmente para os
homens. Essa mudança no comportamento
sexual dos idosos não constitui, por si só,
uma problemática para a saúde pública,
contudo, a concepção arraigada na
sociedade de que sexo é prerrogativa da
juventude, coopera para o caráter
excludente dos grupos populacionais com
idade superior a 50 anos das atividades
educativas de prevenção das Doenças
sexualmente transmissíveis (DST) e AIDS
(POTTES et al, 2007) e, ainda, conforme
Perez e Gasparini (2005) deixam-nos mais
vulneráveis a contraírem infecções
sexualmente transmissíveis dentre elas, a
infecção pelo vírus da imunodeficiência
humana HIV/AIDS.
Acompanhando essa nova situação,
o modo de transmissibilidade do HIV entre
a população idosa vem sofrendo
modificações. De acordo com Prilip
(2004), Ory e Mack (1998 apud BARE et
al. 2006), até meados da década de 1980 a
principal forma de transmissão era a
sanguínea,
representando
o
mais
importante
fator de risco para a
transmissão do HIV em pessoas com mais
de 60 anos, contudo, no século atual a
maioria dos casos de AIDS em pacientes
desta faixa etária é atribuída ao contato
sexual ou ao uso de drogas injetáveis.
Conforme visto, a via sexual
representa uma importante forma de
contaminação da infecção pelo HIV, fato
este que demonstra a necessidade de
incorporação, nas ações de prevenção
mediada pelas políticas públicas, da saúde
sexual dos idosos. Soares et al. (2002 apud
Leite et al., 2007) ressaltam nos seus
estudos que, em relação ao sexo seguro as
mulheres possuem o maior cuidado
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Saúde Coletiva em Debate, 2(1), 9-19, dez. 2012
vinculando-se à possibilidade de uma
gravidez, mas na velhice essa situação
deixa de acontecer e com isso, vivencia-se
uma maior liberação no exercício da
sexualidade sem qualquer precaução em
termos de prevenção. Ao considerar a
proeminência desta prática, o incentivo ao
uso do preservativo pelos idosos torna-se
de fundamental importância, uma vez que
os aspectos relativos às DSTs e HIV/AIDS
parecem não causar a necessária
preocupação nessa parcela da população.
Lisboa (2006) e Araujo et al. (2008)
apontam para a necessidade da realização
de campanhas pelos profissionais de saúde
da atenção básica sobre o uso do
preservativo nas relações sexuais em
pessoas com idade acima de 60 anos, e
explicam que os profissionais ainda são
reticentes e raramente indagam sobre a
sexualidade do idoso, não suspeitam da
possibilidade da contaminação pelo HIV e
assim, retardam o diagnóstico da doença.
Complementarmente, Lazzarotto et al.
(2008) enfatizam que há uma falta de
conhecimento relacionado à AIDS em
idosos, e a partir desta carência, torna-se
absolutamente preciso o desenvolvimento
de estudos nesta área, pois o conhecimento
é importante tanto para a diminuição do
preconceito com portadores do HIV quanto
para medidas de prevenção. Considerando
tais esclarecimentos, o presente estudo
procedeu com a análise sobre o padrão do
conhecimento
da
população
idosa
pertencente a uma Unidade de Saúde do
município de Arcoverde a respeito da
infecção pelo HIV/AIDS.
2 METODOLOGIA
Trata-se de um estudo de natureza
descritivo-exploratória realizado em uma
Unidade de Saúde da Família (USF)
denominada João Pacheco Freire Filho,
que presta assistência ao segundo maior
número de idosos do município de
Arcoverde.
A população elegível para o estudo
foi constituída por 243 indivíduos de 60
anos e mais de idade que representavam
37% do total de 656 idosos cadastrados e
residentes na área de cobertura da referida
USF (SIAB, 2010). O número do tamanho
da amostra (n = 243) foi calculado pela
calculadora estatística Raosoft, utilizando
como parâmetros um grau de confiança de
95%, um erro máximo tolerado de 5% e na
falta de dados, a prevalência estimada do
grau de conhecimento dos idosos sobre
HIV/AIDS de 50%.
Para a coleta de dado, realizou-se
entrevista domiciliar que identificou os
indivíduos com 60 anos de idade e mais,
convidados a participar da pesquisa.
Aqueles que a aceitaram e assinaram o
termo de consentimento livre e esclarecido
foram entrevistados com base em um
questionário estruturado e validado por
Lazzarotto et al., (2008) denominado
QHIV3I com 17 questões relativas à AIDS.
As seguintes variáveis foram
consideradas: demográficas-sexo feminino
ou masculino), idade (em anos), situação
conjugal (presença de companheiro);
socioeconômicas – incluindo renda mensal
individual, escolaridade e religiosidade;
conhecimento sobre HIV/AIDS: - vírus
causador,
meios
de
transmissão,
prevenção, vulnerabilidade, diagnóstico e
tratamento; ocorrência da utilização de
preservativo; realização do teste para
detecção de anticorpos do HIV e prática de
sexo com parceiro único.
Para
a
demonstração
do
comportamento de risco com relação à
contaminação pelo HIV os seguintes
critérios foram considerados como atitude
favorável à contaminação: O não uso da
camisinha e a prática sexual com múltiplos
parceiros. E, como atitude desfavorável à
contaminação: o uso da camisinha e único
parceiro sexual.
Os
dados
levantados
pelo
questionário foram consolidados no
programa Microsoft Office Excel 2007 que
foi utilizado também para a elaboração de
tabelas e figuras. A análise foi realizada
por meio de estatísticas descritivas como
frequência, percentual e média. A
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Saúde Coletiva em Debate, 2(1), 9-19, dez. 2012
discussão foi feita à luz dos conhecimentos
sobre o tema e achados no banco de dados
levantados na pesquisa.
O presente trabalho foi submetido e
recebeu a aprovação do Comitê de Ética
em Pesquisa (CEP) da Associação
Caruaruense de Ensino Superior (ASCES)
de acordo com o parecer Nº080/11 por
estar de acordo com as normas da
Resolução
196/1996
da
Comissão
Nacional de Ética em Pesquisa/Conselho
Nacional de Saúde (CONEP/CNS).
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Nesse estudo foram entrevistados
243 idosos cadastrados na USF João
Pacheco Freire Filho, tendo havido perda
amostral de 0,8%. O total efetivo foi de
241 entrevistas analisadas. A perda
amostral ocorreu porque 02 instrumentos
foram insatisfatoriamente respondidos.
A caracterização sócio demográfica
dos participantes revelou que (60,6%)
eram do sexo feminino, em sua maioria
pertencem à religião católica (89,2%), são
analfabetos (55,2%) e possuem uma renda
mensal de um salário mínimo (91,7%). A
ausência
do companheiro (57,5%)
predominou entre as idosas (Tabela 1).
Tabela 1 - Caracterização do perfil sócio demográfico dos idosos da Unidade de Saúde João Pacheco Freire
Filho, da zona Urbana. Arcoverde, PE, 2011.
Mulheres
Variáveis
Religião
Católica
Evangélica
Sem Religião
Homens
Total
N = 146
%
N= 95
%
N= 241
%
132
14
-
90,4
174
9,6
16
-
83
10
51,51
02
3301
87,4
23,91
10,5
1,68
2,1
215
24
02
89,2
10
0,8
71
Escolaridade
Nenhuma
1 a 3 anos
4 a 7 anos
8 a 11 anos
+ de 12 anos
81
40
21
03
01
55,5
05
27,4
14,4
2,0
0,7
180
52
1,68
28
13
02
55,55
-
54,7
29,5
13,7
2,1
-
133
68
34
05
01
55,2
28,3
14,1
2,0
0,4
Renda
1 salário
1 a 3 salários
4 a 6 salários
137
08
01
93,8
5,5
0,7
84
10
01
88,4
10,6
1,0
221
18
02
91,7
7,5
0,8
Companheiro (a)
Sim
62
Não
84
Fonte: Os autores, 2012.
42,5
57,5
71
24
75
25
133
108
55,2
44,8
A maior representação feminina é
frequente nos estudos que abrangem essa
população. Dados do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística mostram que, no
Brasil, há uma razão de 100 mulheres
idosas para 82 homens idosos (IBGE,
2010). Esta relação pode ser atribuída à
morte prematura de homens levando em
consideração algumas causas externas, tais
como:
acidentes,
principalmente
automobilísticos,
problemas
cardiovasculares e violência em centros
urbanos, mais comuns em homens que em
mulheres.
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Saúde Coletiva em Debate, 2(1), 9-19, dez. 2012
Em seu estudo, Santos e Oliveira
(2010) encontraram um índice de idosos
sem
escolaridade
de
21,1%
em
Taguatinga/DF; Santos e Mattos (2011) em
Guaramiranga/CE
apresentaram
o
resultado de 42,7% e Feliciano et al.
(2004) em São Carlos/SP mostraram que o
analfabetismo é de 50,0%, todos inferiores
ao do nosso estudo (55,2%). Sendo assim,
é difícil inferir um único fator causal para
este evento. O fato é que o percentual de
idosos sem escolaridade colabora para o
comprometimento da compreensão de
informações mediadas por profissionais de
saúde acerca de processos patológicos,
imunização, prevenção, dentre outros, e
revela um potencial de contaminação à
doença, sinalizado por Fonseca et al.
(2000) ao observar que a AIDS no Brasil
iniciou-se em pessoas de alta escolaridade,
avançando para um menor grau de
escolaridade com o passar do tempo.
A renda familiar dos idosos
mantém
uma
relação
diretamente
proporcional à escolaridade, ou seja,
quanto menor for a média de anos de
estudo, menor a renda (SANTOS e
OLIVEIRA, 2010).
A representação de idosos que não
usufruem de uma união estável pode ser
avaliada como um risco maior de
exposição a doenças de transmissão sexual,
dentre estas o HIV/AIDS. Em primeiro
lugar, uma das causas seria a vivência
sexual mais ativa e desembaraçada que
essa população vem praticando, conforme
Lisboa (2006). Em segundo lugar, Gott
(2006) refere o crescimento da “terapia
médica” da sexualidade com propostas
diferenciadas de resolutividade nas
diversas disfunções sexuais, e também, o
aumento das taxas de re-matrimônio,
contudo, com uma nova apresentação: há
uma tendência crescente de vida íntima,
mas de não-coabitação nas relações entre
as pessoas mais velhas.
Para
Zornitta (2008), essas
mudanças de valores, de atitudes e de
comportamentos, ficam ainda mais
evidentes ao se constatar que as taxas de
infecções sexualmente transmissíveis,
inclusive o HIV estão aumentando
rapidamente entre pessoas com mais de 50
anos.
A tabela 2 apresenta os dados
referentes ao conhecimento dos idosos
acerca dos domínios conceito e
transmissão da AIDS.
Tabela 2 Conhecimento sobre a infecção HIV/AIDS nos idosos cadastrados na USF João Pacheco Freire Filho,
Arcoverde-PE, 2011.
Variáveis
Domínio “Conceito”
Valores
N
241
%
98
10
133
40,7
4,1
55,2
81
64
96
33,7
26,5
39,8
139
15
87
58
06
36
O vírus HIV é o causador da AIDS?
Verdadeiro
Falso
Não Sei
A pessoa com o vírus da AIDS sempre apresenta os sintomas da doença?
Verdadeiro
Falso
Não Sei
O vírus da AIDS é identificado através de exames de laboratório?
Verdadeiro
Falso
Não Sei
34
Saúde Coletiva em Debate, 2(1), 9-19, dez. 2012
Continua
Variáveis
Domínio “Transmissão”
Valores
O vírus da AIDS pode ser transmitido por sabonetes, toalhas e assentos sanitários?
Verdadeiro
Falso
Não Sei
O vírus da AIDS pode ser transmitido por abraço, beijo no rosto, beber no mesmo
copo?
92
96
53
38
40
22
Verdadeiro
Falso
Não Sei
O vírus da AIDS pode ser transmitido por picada de mosquito?
96
92
53
40
38
22
Verdadeiro
Falso
Não Sei
Fonte: Os autores, 2012.
157
35
49
65,2
14,5
20,3
No domínio “conceito” 55,2% dos
entrevistados afirmou não saber se o vírus
HIV é o causador da AIDS, demonstrando
assim nenhuma posição a esse respeito. O
que implica dizer na existência de um
déficit acerca deste assunto, haja vista que
em estudo semelhante Lazarotto et al.,
(2008) observou um maior percentual de
acertos nessa questão quando 77,7% dos
respondentes apresentaram ser verdadeiro.
As questões relacionadas às formas
de transmissão do HIV por vias parenterais
revelaram que 65,2% dos idosos acreditam
na transmissão do vírus pela picada de
mosquito e 40% disseram ser possível
adquirir o vírus da AIDS pelo abraço, beijo
no rosto e bebendo no mesmo copo, isso
reforça a visão de que ainda existe uma
interpretação errônea por parte dos idosos
quanto às maneiras de contágio da doença.
A Tabela 3 apresenta os dados
referentes ao conhecimento dos idosos
acerca
dos
domínios
prevenção,
vulnerabilidade e tratamento da AIDS.
Tabela 3 Conhecimento sobre a infecção HIV/AIDS nos idosos cadastrados na USF João Pacheco Freire Filho,
Arcoverde-PE, 2011.
Variáveis
Valores
Domínio “prevenção”
A pessoa que usa camisinha nas relações sexuais impede a transmissão do vírus da
AIDS?
Verdadeiro
Falso
Não Sei
Existe uma camisinha específica para as mulheres?
Verdadeiro
Falso
Não sei
N
241
%
128
50
63
53,2
20,7
26,1
120
27
95
49,8
11,2
39,4
35
Saúde Coletiva em Debate, 2(1), 9-19, dez. 2012
Continua
Variáveis
O uso da mesma seringa e agulha por diversas pessoas transmite AIDS?
Verdadeiro
Falso
Não Sei
Valores
198
4
39
82
02
16
Domínio “vulnerabilidade”
A AIDS é uma doença que ocorre somente em homossexuais masculinos, prostitutas
(os) e usuários (as) de drogas?
Verdadeiro
Falso
Não Sei
Os indivíduos da terceira idade não devem se preocupar com a AIDS, pois ela atinge
apenas jovens?
Verdadeiro
40
127
74
16
53
31
75
31
Falso
Não Sei
120
46
50
19
Verdadeiro
Falso
Não Sei
A AIDS é uma doença que tem cura?
127
54
60
53
22
25
Verdadeiro
Falso
Não Sei
49
133
59
20,3
55,2
24,5
Domínio “tratamento”
A AIDS é uma doença que tem tratamento?
Fonte: Os autores, 2012.
Sobre
o
domínio
prevenção
e
vulnerabilidade,
82%
dos
idosos
apresentaram conhecimento adequado
sobre a transmissão de o vírus ocorrer
através de agulhas e seringas. Quando
interrogados se a AIDS é uma doença que
ocorre
somente
em
homossexuais
masculinos, prostitutas (os) e usuários (as)
de drogas, 53% dos participantes
responderam que a alternativa era falsa.
Dentre os entrevistados, 50% destacaram
que pessoas com idade acima de 60 anos
devem se preocupar com a AIDS, pois esta
é uma doença que ocorre em qualquer
indivíduo. Hinrichsen (2005), ainda
relaciona
que
a
Síndrome
da
Imunodeficiência Adquirida (AIDS) há
décadas esteve restrita a “grupos de risco”
ou fatores de risco relacionados
(homossexuais masculinos, usuários de
drogas injetáveis), contudo, atualmente
comporta-se de maneira distinta, não se
limitando a faixa etária, sexo, raça ou
classe social, mas relacionando-se aos
comportamentos de risco das pessoas
(práticas sexuais com muitos parceiros sem
proteção, compartilhar seringas/agulhas
durante o uso de drogas injetáveis).
Em relação ao tratamento da AIDS,
55,2% dos idosos expuseram que a doença
não tem cura, sendo um resultado inferior
ao estudo de Silva et al. (2009) em que
79% das pessoas da mesma faixa etária
referiram que a AIDS não tem cura.
A
abordagem
sobre
o
comportamento de risco dos idosos para a
contaminação do HIV esta apresentada nos
Figuras 1 e 2.
36
Saúde Coletiva em Debate, 2(1), 9-19, dez. 2012
Figura 1 - Percentual de idosos da USF João Pacheco Freire Filho, que referem não utilizar o preservativo na
relação sexual. Arcoverde-PE, 2011.
Uso de Camisinha
10%
NÃO
SIM
90%
Fonte: Os autores, 2012.
O indicador que revelou maior
vulnerabilidade entre os idosos na
aquisição da infecção pelo vírus HIV é o
não uso do preservativo por 90% dos
entrevistados (Figura 1), apesar de 53,2%
(Tabela 3) acreditarem que o uso do
preservativo impede a contaminação pelo
vírus causador da AIDS. Sobre o não uso
da camisinha entre idosos, Sousa (2008)
descreve que os fatores que contribuem
para esta conduta são as mudanças de
ereção do pênis nos homens, e, nas
mulheres as mudanças que acontecem no
sistema reprodutor por causa da idade e por
não temerem a gravidez indesejada. No
entanto, Leite et al. (2007) ainda colocam
outro ponto a ser considerado: os idosos
que possuem companheiro (a) estável para
os quais há uma percepção de menor
vulnerabilidade entendem que não estariam
expostos, uma vez que comumente
mantêm um único parceiro (a), nesta
condição parece haver uma opção da
pessoa idosa pelo não uso de preservativos,
pois possuem uma relação de confiança e
compartilham da idéia de que é
desnecessário adotar qualquer método de
prevenção de DSTs e HIV/AIDS.
A prática sexual com único parceiro
obteve o percentual de 60,6% (Figura 2), e
assim parece concordar com a afirmação
anterior, uma vez que é possível
correlacionar a obtenção do alto percentual
de não uso da camisinha (90%) entre os
idosos do estudo com o fato da maioria
deles ter um único parceiro.
A situação abordada sobre a
realização do teste anti-HIV mostrou que
93,8% dos idosos nunca haviam realizado
o exame, (não visualizado em tabela),
subtende-se que seja pela circunstância da
falta de informação ou pelo próprio
preconceito em realizar o teste, que
acabam por influenciar em retardar o
diagnóstico da infecção pelo vírus HIV.
Em seu estudo Paiva et al. (2006)
observaram que o percentual de pessoas
que realizaram o teste anti-HIV cresceu
significativamente nos últimos anos,
passando de 20% em 1998 para 32,9% em
2005, contudo, a maior parte da população
testada é composta por mulheres na faixa
etária de 25 a 39 anos, defendem ainda que
este percentual só se submeta ao exame
tendo em vista que é uma consequência da
incorporação do teste na rotina do prénatal.
37
Saúde Coletiva em Debate, 2(1), 9-19, dez. 2012
Figura 2. Percentual de idosos da USF João Pacheco Freire Filho, que referiram ter ou não relação sexual com
parceiro único. Arcoverde-PE, 2011.
Prática Sexual com Único Parceiro
1,2%
38,2%
60,6%
SIM
NÃO
NUNCA TEVE
Fonte: Os autores, 2012
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Concluiu-se através do estudo que o
conhecimento dos idosos apresentou-se
pouco satisfatório ao se observar em todos
os domínios referentes à compreensão da
AIDS percentuais desfavoráveis em
questões
básicas
necessárias
ao
reconhecimento da doença. Apesar disso
alguns aspectos apresentaram adequado
entendimento, como a transmissão do vírus
acontecer através do compartilhamento de
seringa e agulhas (82%) e que a AIDS não
tem cura (55,2%).
A evidência de lacunas no
conhecimento dessa população e o não uso
de preservativos a caracteriza como
vulnerável na aquisição não apenas da
AIDS, como também de outras doenças
sexualmente
transmissíveis,
sendo
necessárias ações no campo da prevenção
na terceira idade, no sentido de reverter à
tendência das DST/AIDS.
Constitui, então, um desafio à saúde
pública a criação de recursos para uma
abordagem direta a esta parcela da
população, a partir de estratégias
educativas, realizadas por indivíduos
habilitados, podendo promover uma
mudança no comportamento dos idosos,
principalmente quanto às formas de
transmissão e prevenção da infecção pelo
HIV.
REFERÊNCIAS
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AIDS na terceira idade em um hospital de
referência do Estado do Ceará, Brasil.
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01-11, 2008.
BARE, B. G.; SMELTZER, S. C.
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Suddarth. Tratado de enfermagem
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Koogan. p. 216, 2006.
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