29 Saúde Coletiva em Debate, 2(1), 9-19, dez. 2012 O conhecimento de HIV/AIDS entre os idosos da Unidade de Saúde da Família João Pacheco Freire Filho, Arcoverde – Pernambuco The knowledge of HIV/AIDS in the elderly of the Family Health Unit João Pacheco Freire Filho, Arcoverde - Pernambuco Aline Pereira da Costa¹*; Cleyse Phaine Jordão da Costa¹; Silvia Camêlo de Albuquerque¹ ¹Escola Superior de Saúde de Arcoverde, Arcoverde - PE Resumo: Estudos mostram um crescente aumento na incidência da infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) na terceira idade e que pessoas desta faixa etária, não detém conhecimento suficiente sobre os riscos potenciais da doença. Mediante esta observação o presente estudo visa avaliar o conhecimento sobre a infecção pelo HIV/AIDS em idosos pertencentes a Unidade de Saúde da Família (USF) João Pacheco Freire Filho, Arcoverde-PE. Trata-se de um estudo descritivo-exploratório de abordagem quantitativa e para a técnica metodológica foi utilizada um questionário estruturado e validado aplicado em 241 idosos no período de agosto a setembro de 2011. O perfil dos idosos entrevistados revelou a predominância do sexo feminino, baixa escolaridade, religião católica e baixa renda familiar. A avaliação do conhecimento evidenciou que 65,2% dos entrevistados acreditam que o vírus do HIV/AIDS é transmitido por picada de mosquito, e que 82,1% dos idosos sabem que o uso da mesma seringa e agulha por diversas pessoas transmite AIDS. Em relação à prática sexual 90,0% dos participantes de ambos os sexos relataram não fazer uso do preservativo. Concluiuse que a população com idade acima de 60 anos mostrou, em sua maioria, um conhecimento pouco satisfatório diante do questionário aplicado. Palavras-chave: Terceira idade. Sexualidade. DSTs. Prevenção. Abstract: Researches show an increasing incidence of infection by human immunodeficiency virus (HIV) in older people and that them do not hold sufficient knowledge about the potential risks of the disease. Through this observation, the present research aims to assess knowledge about HIV/AIDS in older people belonging to the Family Health Unit (FHU) João Pacheco Freire Filho, Arcoverde - PE. This is an exploratory-descriptive study of quantitative approach and for the methodological technique was used a questionnaire structured and validated, applied to 241 elderly in the period August to September 2011. The profile of the elderly respondents showed the predominance of female gender, low education, low income family and Catholic religion. The knowledge evaluation showed that 65,2% of respondents believe that the HIV/AIDS virus is transmitted by mosquito bite, and that 82,1% of the elderly know that using the same syringe and needle by several people spread the AIDS virus. Regarding sexual practices, 90,0% of the participants of both sexes reported not using condoms. It was concluded that the population over 60 years old showed, in the most of cases, an unsatisfactory knowledge about the questionnaire. Keywords: Elderly. Sexuality. STDs. Prevention. *Autor para correspondência: Aline Pereira da Costa. Rua Gumercindo Cavalcanti, nº 420. Bairro: São Cristovão,CEP:56512-902.Arcoverde, PE.e-mail: [email protected]. 30 Saúde Coletiva em Debate, 2(1), 9-19, dez. 2012 1 INTRODUÇÃO O crescimento da população idosa é um fenômeno mundial e, no Brasil, as modificações ocorrem de forma radical e bastante acelerada. Segundo projeções, a população mundial de idosos, em 2050, atingirá o índice de 2 bilhões de idosos e o Brasil será o sexto país do mundo em número de idosos, com um contingente superior a 30 milhões de pessoas, que corresponde a 25% da população geral (MAGALHÃES et al, 2011). Esta realidade tem repercussão para a sociedade como um todo, e no cenário nacional reflete na demanda por ações diferenciadas voltadas a proporcionar um atendimento adequado às necessidades particulares desta população. A insuficiência na assistência aos problemas de saúde típicos na terceira idade tem contribuído para o aumento da prevalência de doenças crônicas não transmissíveis. Contudo, um novo evento tem apresentado relevância nesse contexto, e refere-se a mudanças percebidas no curso da epidemia de Síndrome da Imunodeficiência Humana Adquirida (AIDS), uma doença transmissível, que tem tido um aumento no número de casos entre idosos. Embora não seja a faixa etária mais acometida pela AIDS, os casos confirmados nessa população crescem, no Brasil, como em nenhuma outra faixa etária. Um estudo que analisou as características dos casos de AIDS em pessoas com idade igual ou maior que 50 anos, em Pernambuco, apontou que o número de casos no grupo mais velho (50 anos e mais), aumentou de 19 casos em 1990 para 57 casos em 2000, o que corresponde ao aumento da taxa de incidência por 100.000 habitantes de 4,2 para 9,5 (POTTES et al., 2007). Dentre alguns fatores que são associados ao crescimento da incidência da AIDS em pessoas mais velhas, Bertoncini et al. (2007) ressaltam que a falta de conhecimento da população em relação a esta situação contribui para o aumento da epidemia, como também consideram a crescente atuação de adultos maiores de 50 anos na vida social ao participarem de bailes e/ou clubes de terceira idade, um ato de exposição. Indubitavelmente, o número de relações sexuais nessa faixa etária e a busca de um melhor desempenho sexual têm aumentado, haja vista a crescente disponibilidade de medicamentos voltados para este fim, principalmente para os homens. Essa mudança no comportamento sexual dos idosos não constitui, por si só, uma problemática para a saúde pública, contudo, a concepção arraigada na sociedade de que sexo é prerrogativa da juventude, coopera para o caráter excludente dos grupos populacionais com idade superior a 50 anos das atividades educativas de prevenção das Doenças sexualmente transmissíveis (DST) e AIDS (POTTES et al, 2007) e, ainda, conforme Perez e Gasparini (2005) deixam-nos mais vulneráveis a contraírem infecções sexualmente transmissíveis dentre elas, a infecção pelo vírus da imunodeficiência humana HIV/AIDS. Acompanhando essa nova situação, o modo de transmissibilidade do HIV entre a população idosa vem sofrendo modificações. De acordo com Prilip (2004), Ory e Mack (1998 apud BARE et al. 2006), até meados da década de 1980 a principal forma de transmissão era a sanguínea, representando o mais importante fator de risco para a transmissão do HIV em pessoas com mais de 60 anos, contudo, no século atual a maioria dos casos de AIDS em pacientes desta faixa etária é atribuída ao contato sexual ou ao uso de drogas injetáveis. Conforme visto, a via sexual representa uma importante forma de contaminação da infecção pelo HIV, fato este que demonstra a necessidade de incorporação, nas ações de prevenção mediada pelas políticas públicas, da saúde sexual dos idosos. Soares et al. (2002 apud Leite et al., 2007) ressaltam nos seus estudos que, em relação ao sexo seguro as mulheres possuem o maior cuidado 31 Saúde Coletiva em Debate, 2(1), 9-19, dez. 2012 vinculando-se à possibilidade de uma gravidez, mas na velhice essa situação deixa de acontecer e com isso, vivencia-se uma maior liberação no exercício da sexualidade sem qualquer precaução em termos de prevenção. Ao considerar a proeminência desta prática, o incentivo ao uso do preservativo pelos idosos torna-se de fundamental importância, uma vez que os aspectos relativos às DSTs e HIV/AIDS parecem não causar a necessária preocupação nessa parcela da população. Lisboa (2006) e Araujo et al. (2008) apontam para a necessidade da realização de campanhas pelos profissionais de saúde da atenção básica sobre o uso do preservativo nas relações sexuais em pessoas com idade acima de 60 anos, e explicam que os profissionais ainda são reticentes e raramente indagam sobre a sexualidade do idoso, não suspeitam da possibilidade da contaminação pelo HIV e assim, retardam o diagnóstico da doença. Complementarmente, Lazzarotto et al. (2008) enfatizam que há uma falta de conhecimento relacionado à AIDS em idosos, e a partir desta carência, torna-se absolutamente preciso o desenvolvimento de estudos nesta área, pois o conhecimento é importante tanto para a diminuição do preconceito com portadores do HIV quanto para medidas de prevenção. Considerando tais esclarecimentos, o presente estudo procedeu com a análise sobre o padrão do conhecimento da população idosa pertencente a uma Unidade de Saúde do município de Arcoverde a respeito da infecção pelo HIV/AIDS. 2 METODOLOGIA Trata-se de um estudo de natureza descritivo-exploratória realizado em uma Unidade de Saúde da Família (USF) denominada João Pacheco Freire Filho, que presta assistência ao segundo maior número de idosos do município de Arcoverde. A população elegível para o estudo foi constituída por 243 indivíduos de 60 anos e mais de idade que representavam 37% do total de 656 idosos cadastrados e residentes na área de cobertura da referida USF (SIAB, 2010). O número do tamanho da amostra (n = 243) foi calculado pela calculadora estatística Raosoft, utilizando como parâmetros um grau de confiança de 95%, um erro máximo tolerado de 5% e na falta de dados, a prevalência estimada do grau de conhecimento dos idosos sobre HIV/AIDS de 50%. Para a coleta de dado, realizou-se entrevista domiciliar que identificou os indivíduos com 60 anos de idade e mais, convidados a participar da pesquisa. Aqueles que a aceitaram e assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido foram entrevistados com base em um questionário estruturado e validado por Lazzarotto et al., (2008) denominado QHIV3I com 17 questões relativas à AIDS. As seguintes variáveis foram consideradas: demográficas-sexo feminino ou masculino), idade (em anos), situação conjugal (presença de companheiro); socioeconômicas – incluindo renda mensal individual, escolaridade e religiosidade; conhecimento sobre HIV/AIDS: - vírus causador, meios de transmissão, prevenção, vulnerabilidade, diagnóstico e tratamento; ocorrência da utilização de preservativo; realização do teste para detecção de anticorpos do HIV e prática de sexo com parceiro único. Para a demonstração do comportamento de risco com relação à contaminação pelo HIV os seguintes critérios foram considerados como atitude favorável à contaminação: O não uso da camisinha e a prática sexual com múltiplos parceiros. E, como atitude desfavorável à contaminação: o uso da camisinha e único parceiro sexual. Os dados levantados pelo questionário foram consolidados no programa Microsoft Office Excel 2007 que foi utilizado também para a elaboração de tabelas e figuras. A análise foi realizada por meio de estatísticas descritivas como frequência, percentual e média. A 32 Saúde Coletiva em Debate, 2(1), 9-19, dez. 2012 discussão foi feita à luz dos conhecimentos sobre o tema e achados no banco de dados levantados na pesquisa. O presente trabalho foi submetido e recebeu a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Associação Caruaruense de Ensino Superior (ASCES) de acordo com o parecer Nº080/11 por estar de acordo com as normas da Resolução 196/1996 da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa/Conselho Nacional de Saúde (CONEP/CNS). 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Nesse estudo foram entrevistados 243 idosos cadastrados na USF João Pacheco Freire Filho, tendo havido perda amostral de 0,8%. O total efetivo foi de 241 entrevistas analisadas. A perda amostral ocorreu porque 02 instrumentos foram insatisfatoriamente respondidos. A caracterização sócio demográfica dos participantes revelou que (60,6%) eram do sexo feminino, em sua maioria pertencem à religião católica (89,2%), são analfabetos (55,2%) e possuem uma renda mensal de um salário mínimo (91,7%). A ausência do companheiro (57,5%) predominou entre as idosas (Tabela 1). Tabela 1 - Caracterização do perfil sócio demográfico dos idosos da Unidade de Saúde João Pacheco Freire Filho, da zona Urbana. Arcoverde, PE, 2011. Mulheres Variáveis Religião Católica Evangélica Sem Religião Homens Total N = 146 % N= 95 % N= 241 % 132 14 - 90,4 174 9,6 16 - 83 10 51,51 02 3301 87,4 23,91 10,5 1,68 2,1 215 24 02 89,2 10 0,8 71 Escolaridade Nenhuma 1 a 3 anos 4 a 7 anos 8 a 11 anos + de 12 anos 81 40 21 03 01 55,5 05 27,4 14,4 2,0 0,7 180 52 1,68 28 13 02 55,55 - 54,7 29,5 13,7 2,1 - 133 68 34 05 01 55,2 28,3 14,1 2,0 0,4 Renda 1 salário 1 a 3 salários 4 a 6 salários 137 08 01 93,8 5,5 0,7 84 10 01 88,4 10,6 1,0 221 18 02 91,7 7,5 0,8 Companheiro (a) Sim 62 Não 84 Fonte: Os autores, 2012. 42,5 57,5 71 24 75 25 133 108 55,2 44,8 A maior representação feminina é frequente nos estudos que abrangem essa população. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística mostram que, no Brasil, há uma razão de 100 mulheres idosas para 82 homens idosos (IBGE, 2010). Esta relação pode ser atribuída à morte prematura de homens levando em consideração algumas causas externas, tais como: acidentes, principalmente automobilísticos, problemas cardiovasculares e violência em centros urbanos, mais comuns em homens que em mulheres. 33 Saúde Coletiva em Debate, 2(1), 9-19, dez. 2012 Em seu estudo, Santos e Oliveira (2010) encontraram um índice de idosos sem escolaridade de 21,1% em Taguatinga/DF; Santos e Mattos (2011) em Guaramiranga/CE apresentaram o resultado de 42,7% e Feliciano et al. (2004) em São Carlos/SP mostraram que o analfabetismo é de 50,0%, todos inferiores ao do nosso estudo (55,2%). Sendo assim, é difícil inferir um único fator causal para este evento. O fato é que o percentual de idosos sem escolaridade colabora para o comprometimento da compreensão de informações mediadas por profissionais de saúde acerca de processos patológicos, imunização, prevenção, dentre outros, e revela um potencial de contaminação à doença, sinalizado por Fonseca et al. (2000) ao observar que a AIDS no Brasil iniciou-se em pessoas de alta escolaridade, avançando para um menor grau de escolaridade com o passar do tempo. A renda familiar dos idosos mantém uma relação diretamente proporcional à escolaridade, ou seja, quanto menor for a média de anos de estudo, menor a renda (SANTOS e OLIVEIRA, 2010). A representação de idosos que não usufruem de uma união estável pode ser avaliada como um risco maior de exposição a doenças de transmissão sexual, dentre estas o HIV/AIDS. Em primeiro lugar, uma das causas seria a vivência sexual mais ativa e desembaraçada que essa população vem praticando, conforme Lisboa (2006). Em segundo lugar, Gott (2006) refere o crescimento da “terapia médica” da sexualidade com propostas diferenciadas de resolutividade nas diversas disfunções sexuais, e também, o aumento das taxas de re-matrimônio, contudo, com uma nova apresentação: há uma tendência crescente de vida íntima, mas de não-coabitação nas relações entre as pessoas mais velhas. Para Zornitta (2008), essas mudanças de valores, de atitudes e de comportamentos, ficam ainda mais evidentes ao se constatar que as taxas de infecções sexualmente transmissíveis, inclusive o HIV estão aumentando rapidamente entre pessoas com mais de 50 anos. A tabela 2 apresenta os dados referentes ao conhecimento dos idosos acerca dos domínios conceito e transmissão da AIDS. Tabela 2 Conhecimento sobre a infecção HIV/AIDS nos idosos cadastrados na USF João Pacheco Freire Filho, Arcoverde-PE, 2011. Variáveis Domínio “Conceito” Valores N 241 % 98 10 133 40,7 4,1 55,2 81 64 96 33,7 26,5 39,8 139 15 87 58 06 36 O vírus HIV é o causador da AIDS? Verdadeiro Falso Não Sei A pessoa com o vírus da AIDS sempre apresenta os sintomas da doença? Verdadeiro Falso Não Sei O vírus da AIDS é identificado através de exames de laboratório? Verdadeiro Falso Não Sei 34 Saúde Coletiva em Debate, 2(1), 9-19, dez. 2012 Continua Variáveis Domínio “Transmissão” Valores O vírus da AIDS pode ser transmitido por sabonetes, toalhas e assentos sanitários? Verdadeiro Falso Não Sei O vírus da AIDS pode ser transmitido por abraço, beijo no rosto, beber no mesmo copo? 92 96 53 38 40 22 Verdadeiro Falso Não Sei O vírus da AIDS pode ser transmitido por picada de mosquito? 96 92 53 40 38 22 Verdadeiro Falso Não Sei Fonte: Os autores, 2012. 157 35 49 65,2 14,5 20,3 No domínio “conceito” 55,2% dos entrevistados afirmou não saber se o vírus HIV é o causador da AIDS, demonstrando assim nenhuma posição a esse respeito. O que implica dizer na existência de um déficit acerca deste assunto, haja vista que em estudo semelhante Lazarotto et al., (2008) observou um maior percentual de acertos nessa questão quando 77,7% dos respondentes apresentaram ser verdadeiro. As questões relacionadas às formas de transmissão do HIV por vias parenterais revelaram que 65,2% dos idosos acreditam na transmissão do vírus pela picada de mosquito e 40% disseram ser possível adquirir o vírus da AIDS pelo abraço, beijo no rosto e bebendo no mesmo copo, isso reforça a visão de que ainda existe uma interpretação errônea por parte dos idosos quanto às maneiras de contágio da doença. A Tabela 3 apresenta os dados referentes ao conhecimento dos idosos acerca dos domínios prevenção, vulnerabilidade e tratamento da AIDS. Tabela 3 Conhecimento sobre a infecção HIV/AIDS nos idosos cadastrados na USF João Pacheco Freire Filho, Arcoverde-PE, 2011. Variáveis Valores Domínio “prevenção” A pessoa que usa camisinha nas relações sexuais impede a transmissão do vírus da AIDS? Verdadeiro Falso Não Sei Existe uma camisinha específica para as mulheres? Verdadeiro Falso Não sei N 241 % 128 50 63 53,2 20,7 26,1 120 27 95 49,8 11,2 39,4 35 Saúde Coletiva em Debate, 2(1), 9-19, dez. 2012 Continua Variáveis O uso da mesma seringa e agulha por diversas pessoas transmite AIDS? Verdadeiro Falso Não Sei Valores 198 4 39 82 02 16 Domínio “vulnerabilidade” A AIDS é uma doença que ocorre somente em homossexuais masculinos, prostitutas (os) e usuários (as) de drogas? Verdadeiro Falso Não Sei Os indivíduos da terceira idade não devem se preocupar com a AIDS, pois ela atinge apenas jovens? Verdadeiro 40 127 74 16 53 31 75 31 Falso Não Sei 120 46 50 19 Verdadeiro Falso Não Sei A AIDS é uma doença que tem cura? 127 54 60 53 22 25 Verdadeiro Falso Não Sei 49 133 59 20,3 55,2 24,5 Domínio “tratamento” A AIDS é uma doença que tem tratamento? Fonte: Os autores, 2012. Sobre o domínio prevenção e vulnerabilidade, 82% dos idosos apresentaram conhecimento adequado sobre a transmissão de o vírus ocorrer através de agulhas e seringas. Quando interrogados se a AIDS é uma doença que ocorre somente em homossexuais masculinos, prostitutas (os) e usuários (as) de drogas, 53% dos participantes responderam que a alternativa era falsa. Dentre os entrevistados, 50% destacaram que pessoas com idade acima de 60 anos devem se preocupar com a AIDS, pois esta é uma doença que ocorre em qualquer indivíduo. Hinrichsen (2005), ainda relaciona que a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) há décadas esteve restrita a “grupos de risco” ou fatores de risco relacionados (homossexuais masculinos, usuários de drogas injetáveis), contudo, atualmente comporta-se de maneira distinta, não se limitando a faixa etária, sexo, raça ou classe social, mas relacionando-se aos comportamentos de risco das pessoas (práticas sexuais com muitos parceiros sem proteção, compartilhar seringas/agulhas durante o uso de drogas injetáveis). Em relação ao tratamento da AIDS, 55,2% dos idosos expuseram que a doença não tem cura, sendo um resultado inferior ao estudo de Silva et al. (2009) em que 79% das pessoas da mesma faixa etária referiram que a AIDS não tem cura. A abordagem sobre o comportamento de risco dos idosos para a contaminação do HIV esta apresentada nos Figuras 1 e 2. 36 Saúde Coletiva em Debate, 2(1), 9-19, dez. 2012 Figura 1 - Percentual de idosos da USF João Pacheco Freire Filho, que referem não utilizar o preservativo na relação sexual. Arcoverde-PE, 2011. Uso de Camisinha 10% NÃO SIM 90% Fonte: Os autores, 2012. O indicador que revelou maior vulnerabilidade entre os idosos na aquisição da infecção pelo vírus HIV é o não uso do preservativo por 90% dos entrevistados (Figura 1), apesar de 53,2% (Tabela 3) acreditarem que o uso do preservativo impede a contaminação pelo vírus causador da AIDS. Sobre o não uso da camisinha entre idosos, Sousa (2008) descreve que os fatores que contribuem para esta conduta são as mudanças de ereção do pênis nos homens, e, nas mulheres as mudanças que acontecem no sistema reprodutor por causa da idade e por não temerem a gravidez indesejada. No entanto, Leite et al. (2007) ainda colocam outro ponto a ser considerado: os idosos que possuem companheiro (a) estável para os quais há uma percepção de menor vulnerabilidade entendem que não estariam expostos, uma vez que comumente mantêm um único parceiro (a), nesta condição parece haver uma opção da pessoa idosa pelo não uso de preservativos, pois possuem uma relação de confiança e compartilham da idéia de que é desnecessário adotar qualquer método de prevenção de DSTs e HIV/AIDS. A prática sexual com único parceiro obteve o percentual de 60,6% (Figura 2), e assim parece concordar com a afirmação anterior, uma vez que é possível correlacionar a obtenção do alto percentual de não uso da camisinha (90%) entre os idosos do estudo com o fato da maioria deles ter um único parceiro. A situação abordada sobre a realização do teste anti-HIV mostrou que 93,8% dos idosos nunca haviam realizado o exame, (não visualizado em tabela), subtende-se que seja pela circunstância da falta de informação ou pelo próprio preconceito em realizar o teste, que acabam por influenciar em retardar o diagnóstico da infecção pelo vírus HIV. Em seu estudo Paiva et al. (2006) observaram que o percentual de pessoas que realizaram o teste anti-HIV cresceu significativamente nos últimos anos, passando de 20% em 1998 para 32,9% em 2005, contudo, a maior parte da população testada é composta por mulheres na faixa etária de 25 a 39 anos, defendem ainda que este percentual só se submeta ao exame tendo em vista que é uma consequência da incorporação do teste na rotina do prénatal. 37 Saúde Coletiva em Debate, 2(1), 9-19, dez. 2012 Figura 2. Percentual de idosos da USF João Pacheco Freire Filho, que referiram ter ou não relação sexual com parceiro único. Arcoverde-PE, 2011. Prática Sexual com Único Parceiro 1,2% 38,2% 60,6% SIM NÃO NUNCA TEVE Fonte: Os autores, 2012 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Concluiu-se através do estudo que o conhecimento dos idosos apresentou-se pouco satisfatório ao se observar em todos os domínios referentes à compreensão da AIDS percentuais desfavoráveis em questões básicas necessárias ao reconhecimento da doença. Apesar disso alguns aspectos apresentaram adequado entendimento, como a transmissão do vírus acontecer através do compartilhamento de seringa e agulhas (82%) e que a AIDS não tem cura (55,2%). A evidência de lacunas no conhecimento dessa população e o não uso de preservativos a caracteriza como vulnerável na aquisição não apenas da AIDS, como também de outras doenças sexualmente transmissíveis, sendo necessárias ações no campo da prevenção na terceira idade, no sentido de reverter à tendência das DST/AIDS. Constitui, então, um desafio à saúde pública a criação de recursos para uma abordagem direta a esta parcela da população, a partir de estratégias educativas, realizadas por indivíduos habilitados, podendo promover uma mudança no comportamento dos idosos, principalmente quanto às formas de transmissão e prevenção da infecção pelo HIV. REFERÊNCIAS ARAUJO, V. L. B. et al. Características da AIDS na terceira idade em um hospital de referência do Estado do Ceará, Brasil. Ciência e Saúde Coletiva, v.13, n. 6, p. 01-11, 2008. BARE, B. G.; SMELTZER, S. C. Cuidados de saúde do idoso. In: Brunner e Suddarth. Tratado de enfermagem médico-cirúrgico. 10. ed. Guanabara Koogan. p. 216, 2006. BERTONCINI, B. Z. et al Comportamento sexual em adultos maiores de 50 anos infectados pelo HIV. Jornal brasileiro de doenças sexualmente transmissíveis, v.2, n.19, p. 75-79, 2007. FELICIANO A. B. et al. O perfil do idoso de baixa renda no município de São Carlos. Cadernos de Saúde Pública, v.20, n.6, p. 157-185, 2004. FONSECA, M. G. et al. Grau de escolaridade no Brasil: evolução temporal 38 Saúde Coletiva em Debate, 2(1), 9-19, dez. 2012 de 1986 a 1996. Caderno de Saúde Pública, v. 16, n. 1, p. 77-87, 2000. e limites. Jornal Brasileiro de AIDS, v. 6, n. 3, p. 106-109, 2005. GOTT, M. Sexual health and the new ageing .Age and Ageing, v. 35, n.2, p.106107, 2006. POTTES, F. A. et al. AIDS e envelhecimento: características dos casos com idade igual ou maior que 50 anos em Pernambuco. Revista Brasileira de Epidemiologia, v. 10, n. 3, p. 338-351, 2007. HINRICHSEN, S. L. Livro Doenças Infecciosas e Parasitárias. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005,1136 p. IBGE, Censo Demográfico 2010: Distribuição da população por idade e sexo. Resultados do universo, 2010. LAZZAROTTO, A. R. et al. O conhecimento de HIV/AIDS na terceira idade: estudo epidemiológico no Vale dos Sinos, Rio Grande do Sul, Brasil. Ciência e Saúde Coletiva, v. 3, n. 6, p. 1-13, 2008. LEITE, M. T. et al. Doenças sexualmente transmissíveis e HIV/AIDS na opinião de idosos que participam de grupos de terceira idade. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, v.10, n.3, p. 01-21, 2007. LISBOA, M. E. S. A invisibilidade da população acima de 50 anos no contexto da epidemia HIV/AIDS. Resumos dos trabalhos apresentados no 7° Virtual Congresso [2006]. Disponível em: <www.aidscongress.net/article.php?idcomi nicacao=285>. Acesso em: 04 abr. 2011. MAGALHÃES, A. P. R. et al. A mortalidade de idosos no Recife: quando o morrer revela desigualdades. Revista Brasileira de Epidemiologia, v. 20, n. 2, p. 183-192, 2011. PAIVA V. et al. O direito à prevenção e os desafios da redução da vulnerabilidade ao HIV no Brasil. Revista de Saúde Pública, v.40, n.l, p.109-119, 2006. PEREZ, B. F. A.; GASPARINE, S. M. A vivência do idoso no processo de envelhecer e o HIV/AIDS: uma reconstrução dupla em suas possibilidades PRILIP, N. B. A. AIDS atinge idosos. Portal do envelhecimento, 2004. Disponível em: <http//www.portaldoenvelhecimento.net/pf orum/aids2.htm>. Acesso em: 29 mar. 2011. SANTOS, M. A. B.; MATTOS, I. E. Condições de vida e saúde da população idosa do município de Guaramiranga- CE. Epidemiologia e Serviços de Saúde, Brasília, v. 20, n. 2, p.193-201, 2011. SANTOS, Z. M. G.; OLIVEIRA, M. L. C. Avaliação dos conhecimentos, atitudes e práticas dos idosos sobre a vacina contra a Influenza, na UBS, Taguatinga, DF, 2009. Epidemiologia e Serviços de Saúde, Brasília, v. 19, n. 3, 2010. SIAB 2010, Sistema de Informação da Atenção Básica. Secretaria Municipal de Saúde. Departamento de Atenção Básica – Arcoverde, 2010. SILVA, J. L. ET al. Avaliação do Conhecimento sobre HIV/AIDS na população maior de 50 anos em cidades do Vale do Paraíba. XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de PósGraduação – Universidade do Vale do Paraíba, monografia. p. 1-6, 2009. SOUSA, J. L. Sexualidade na terceira idade: uma discussão da AIDS, envelhecimento e medicamento para disfunção erétil. Jornal Brasileiro de Doenças Sexualmente Transmissíveis, v. 20, n. 1, p. 59-64, 2008. 39 Saúde Coletiva em Debate, 2(1), 9-19, dez. 2012 ZORNITTA, M. Os novos idosos com AIDS: sexualidade e desigualdades a luz da bioética. 2008.102p. Dissertação Mestrado em Ciências na área de Saúde Pública - Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Rio de Janeiro.