info - JOSE DINIZ

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MARESIA
José Diniz
Curadoria: Andreas Valentin
Projeto contemplado no Prêmio FUNARTE Marc Ferrez de Fotografia em 2012
Exposição no Centro Cultural Justiça Federal – Rio de Janeiro no periodo de setembro
a novembro de 2013
Águas ocupam quase três quartos da superfície de nosso Como um Ulisses
contemporâneo, sua odisseia pelos mares nos aponta para o planeta. Foi no mar que
surgiu a vida na Terra.
Todas as culturas, em lugares e tempos diversos, veneraram os oceanos. Para os
gregos, por exemplo, okeanus era a personificação divina do Oceano Mundo, um
grande rio que circundava a Terra. É natural, portanto, que, desde a antiguidade,
seres humanos tenham sido atraídos pelo mar e nele se lançado, aventurando-se
rumo ao desconhecido e perigoso. José Diniz também se lança ao mar. Não
embarcado, mas à deriva, comandando com destreza sua câmera fotográfica pronta
para enfrentar desafios. Em terra firme, com os pés plantados no chão, a força da
gravidade proporciona estabilidade ao manuseio do aparelho. Dentro d’água, no
entanto, o fotógrafo precisa se render ao movimento contínuo das ondas e seu corpo
deve estar sempre atento às ações e reações que serão materializadas pelo olhar e o
subsequente registro fotográfico.
As fotografias marítimas aqui exibidas surpreendem em seu preto e branco
ancestral, granular e dramático como o próprio fenômeno da maresia que envolve a
paisagem com uma névoa úmida e salgada. O fino véu que cobre a superfície das
imagens aproxima o trabalho de Diniz ao dos grandes mestres do sfumatto
renascentista, resultando em um híbrido entre a pintura e a imagem técnica.
O farol, a vela no horizonte, a paisagem envolta pela bruma ao longe: sinais
alvissareiros de que, afinal, chegamos ou estamos próximos de nosso destino. De
outra forma, permanecemos como náufragos dentro ou debaixo d’água, buscando
respirar ordenadamente para sobreviver nesse ambiente do qual vie- mos, mas que
não nos é mais natural. A maresia salgada nos respinga a face, faz arder nossos
olhos e corrói nossa imaginação. Assim, em nossas fantasias marítimas intrauterinas
freudianas, talvez sonhemos com a baleia Moby Dick, com nós próprios crianças
brincando n’água ou com uma tsunami lambendo a praia de Copacabana.
Diniz se lança ao mar por vontade própria, mas é também jogado n’água por suas
transgressões como as composições ousadas na geometria racional do quadrado ou
as situações-limite na manipulação digital. E é justamente o contraponto entre lançar
e ser lançado que faz com que suas imagens possibilitem leituras múltiplas e nos
conduzam tanto à contemplação e fruição estéticas, como também à decifração de
enigmas. Em meio ao vai e vem das águas, na maresia do fotógrafo, tudo que é
sólido desmancha-se no mar.
Andreas Valentin
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