Projeto Habitacional com Elementos Estruturais e

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Projeto Habitacional com Elementos Estruturais e
Construtivos Feitos a Partir de Aços Planos
Autor: Arq. Ascanio Merrighi de Figueiredo Silva
1. Introdução
A quadro habitacional do Brasil é alarmante. Dados de 2004 da Secretaria
Nacional de Habitação, Ministério das Cidades, apontam um déficit de 6,65 milhões
de moradias e um número próximo de unidades residenciais em situação precária de
subsistência. Em conjunto, as duas considerações dobrariam a estimativa da
demanda habitacional brasileira. Paralelamente, as estatísticas de desenvolvimento
econômico e social evidenciam uma crescente concentração urbana da população
brasileira, fato relevante na abordagem de projeto deste trabalho. Estima-se uma
concentração urbana de 90% da população brasileira até o fim desta década.
A bagagem histórica do tema habitacional no país é fortemente relacionada
com nossa herança da arquitetura moderna. As principais experiências a lidar com a
questão habitacional em larga escala podem ser sintetizadas em dois edifícios de
Oscar Niemeyer, em São Paulo e Belo Horizonte, da década de cinqüenta, ou pelo
edifício conhecido como “O Pedregulho”, no Rio de Janeiro (Fig. 1). Estes exemplos
também ilustram concepções de obras focadas na execução integral no canteiro,
com uso intensivo de mão de obra desqualificada, em solução com estrutura
independente de pilares, vigas e lajes de concreto armado moldado “in loco”. Um
dos mentores desta geração modernista, o arquiteto e urbanista Lúcio Costa, já na
década de 30 desenvolve trabalhos precursores na incorporação da pré-fabricação
em projetos de grande escala, como sua proposta não executada para a Vila
Operária de João Monlevade-MG (fig. 2). Sob o aspecto tecnológico, este projeto
destaca-se pela especificação de “painéis” nas vedações e divisórias como
alternativa ao método convencional das alvenarias de blocos cerâmicos. Solução,
diga-se, desenvolvida a partir de métodos construtivos típicos dos edifícios do
período colonial brasileiro.
Figura 1- “Pedregulho”, Arq. Affonso Reidy e Carmem Portinho, Rio de Janeiro-RJ (Cavalcanti, 1987)
Figura 2- Vila Operária de João Monlevade – MG, Arq. Lúcio Costa (Costa,1995)
Preocupações em aplicar sistemas construtivos com maior produtividade que
os convencionais não constituem amostragem considerável de experiências no
Brasil, principalmente no mercado residencial. Casos isolados podem ser
ressaltados, como a experiência do arquiteto João Filgueiras Lima nos apartamentos
para professores da Universidade Nacional de Brasília (Fig.3). O autor concebe e
constrói edifícios com solução estrutural em pré-fabricados de concreto armado. Nas
experiências seguintes, o mesmo arquiteto desenvolve projetos com sistema
construtivo já totalmente industrializado, utilizando estruturas independentes de aço,
lajes com elementos pré-fabricados em concreto armado, vedações e divisórias de
painéis de argamassa armada. As peças são fabricadas, segundo orientações de
projeto, na unidade Centro Tecnológico da Rede Sara, em Salvador. Esta última
configura-se como a maior e mais bem sucedida experiência de construções
totalmente industrializadas já implantada no Brasil, não estendida a construções
residenciais. Sérgio Bernardes, arquiteto vanguardista no desenvolvimento e
aplicações de soluções construtivas industrializadas, projetou conjunto com
unidades residenciais e utilidades públicas sobre as linhas férreas da cidade do Rio
de Janeiro na década de setenta (Fig. 4) em outro exemplo de iniciativas que visam
intensificar a aplicação de soluções industrializadas em construções habitacionais.
Outras experiências mais recentes podem ser também destacadas: a iniciativa de
Joan Villà para unidades geminadas em Cotia-SP (painéis de alvenaria armada) e
no projeto dos arquitetos Mateus Pontes e Sylvio Podestá para unidades
residenciais moduladas a partir de um “container”.
Figura 3- Moradias de professores da UnB, Brasília-DF, Arq. João Filgueiras Lima (Latorraca, 2000)
Figura 4- Estudo de Sérgio Bernardes sobre linha férrea, Rio de Janeiro-RJ (Revista Módulo, 1983)
No contexto global, a incorporação de métodos construtivos industrializados
em construções residenciais são constantes, associadas principalmente às
necessidades de reconstrução em escala nos pós-guerras. Várias experiências
podem ser mencionadas neste contexto, como a Vila Operária de Weissenhof. A
implantação urbana foi projetada por Mies van der Rohe e os edifícios concebidos
por eminentes arquitetos modernistas europeus, como Le Corbusier, Walter Gropius
e o próprio Mies van der Rohe (Fig. 5). Esta experiência, da década de 30, incorpora
em suas construções soluções semi industrializadas e estruturas de aço.
Figura 5- Vila operária de Wiessenhof, por Ludwig Mies van der Rhoe (Villinger, 1998)
Estas referências ilustram o envolvimento de arquitetos destacáveis frente a
um dos principais temas da profissão. A abordagem da habitação, considerando a
breve base histórica e os dados inicialmente mostrados, não passa exclusivamente
pelos aspectos tecnológicos. Este trabalho é um enfoque do tema como solução de
projeto, com características e situação de contorno pré-estabelecidas a partir da
seguinte estratégia:
•
•
•
•
Quatro estudos de caso sobre experiências brasileiras de projeto e
construções em aço pôr empresas privadas e entidades públicas.
Condicionantes de projeto frente as situações urbanas mais restritivas e
busca da viabilidade sob vários aspectos.
Definições de modulações arquitetônicas e sistemas construtivos.
Desenvolvimento do projeto e apresentação dos resultados.
2- Estudos de Caso
Quatro edifícios, frutos de experiências recentes no Brasil, terão sintetizados
seus aspectos de projeto e obra sob abordagem desenvolvida no escopo deste
trabalho. Serão evidenciados seus aspectos técnicos (estruturais e construtivos)
para identificar vantagens e desvantagens, e configurar a base de dados que
alimentará as decisões do desenvolvimento proposto neste trabalho. As
características técnicas foram agrupadas para uma avaliação abrangente de
performance em três campos: aspectos dimensionais, estruturais e construtivos.
Juntos, estes critérios possibilitam uma avaliação mais conclusiva sobre a maior
viabilidade de determinada estratégia de projeto. Os aspectos dimensionais da
metodologia de aferição da performance construtiva das soluções não restringem-se
aos normalmente lembrados, como área total construída e área líquida por unidade.
A fração entre a área das fachadas e a área total construída também foi levantada,
como um item de impacto no custo final da construção pelas necessidades de
desempenho frente a estanqueidade e isolamento termo-acústico. Na avaliação dos
aspectos estruturais foram considerados a taxa de aço por área construída bem
como balizadores da performance de montagem da estrutura (número de peças e
número de ligações por área construída).
A CDHU (órgão habitacional estadual de São Paulo) recentemente contratou
obras em sistemas construtivos homologados na própria entidade. Duas destas
soluções foram concebidas com estruturas em perfis de aço formados a frio, lajes
em painéis pré-moldados e vedações externas e divisórias internas com alvenaria de
blocos cerâmicos. Juntas, as duas foram responsáveis pela construção de 360
edifícios de 5 e 7 pavimentos ou mais de 8.000 unidades residenciais.
O primeiro estudo de caso é a solução do consórcio Construtora Múltipla e
empresas Alphametal e Interamericana (fig. 6). Trata-se de edifício de cinco andares
com estrutura fabricada em chapas de 2 a 6,3mm de aço estrutural patinável, tipo
USISAC 300. Na análise da performance global desta solução destacam-se as vigas
mistas em perfis compostos, tipo ‘caixa’, em chapas com 2mm de espessura. As
vigas têm interação parcial com o concreto da laje, caminho que resultou numa
baixa taxa de aço estrutural por área construída, com boa performance construtiva.
Suas propriedades são descritas abaixo (tabela 1).
Figura 6- Edifícios do consórcio Múltipla, Alphametal e Interamericana para a CDHU-SP (Silva, 2004)
Tabela 1 – Quadro resumo – Edifício Múltipla / Alphametal. Desenvolvimento do Autor.
MÚLTIPLA/ALPHAMETAL - CARACTERÍSTICAS DO PROJETO
INFORMAÇÃO
QUANTIDADE
DIMENSIONAIS
1
ÁREA TOTAL CONSTRUIDA
2 ÁREA DO PAVIMENTO TIPO
3 AREA DE PROJEÇÃO
4 AREA DE INFLUENCIA (COM RECUOS)
5 AREA PARA NORMA DE INCENDIO
6 PERIMETRO DA FACHADA
7 DISTANCIA PISO A PISO
8 NÚMEROS DE PAVIMENTOS
9 ÁREA DE FACHADA
10 NÚMERO DE UNIDADES (TIPO E ÁREA LIQUIDA)
CONSTRUTIVO
ESTRUTURA
11 m² de FACHADA / m² CONSTRUÍDO
UNIDADE
995,00
m²
199,00
m²
260,00
m²
414,00
m²
432,00
m²
88,22
m
2,6
m
5
1.143,48
m²
2 quartos / 20 unidades / 40,2 m²
1,15
12 NÚMERO DE PILARES
13 NÚMERO DE VIGAS
14 NÚMERO DE LIGAÇÕES
15 PESO TOTAL (PILARES, VIGAS, ESCADA, ENGRA)
16 TAXA TOTAL
34
250
520
26.805,50 kg
26,94kg/m²
17 RENDIMENTO DE MONTAGEM
18
19
20
21
22
23
NÚMERO DE PILARES E VIGAS / m²
0,29/ m²
NUMERO DE LIGAÇÕES / m²
SISTEMA DE ESTABILIZAÇÃO
TIPO DE LAJE
INTERAÇÃO VIGAS/LAJES
VEDAÇÕES EXTERNAS
DIVISÓRIAS INTERNAS
INSTALAÇÃO/CONSTRUÇÃO
0,52/ m²
24 LIGAÇÕES ESTRUTURA/PAREDE
Contraventamentos, lajes e escadas
Lajes treliçadas prémoldadas + capeamento
Vigas mistas, conectores soldados
Alvenaria bloco cerâmico, não portante
Alvenaria bloco cerâmico, não portante
P/lajes e dutos verticais (shafts)
Flexíveis, telas galvanizadas e argamassa
expansiva
A segunda análise tem os mesmos parâmetros avaliados numa solução com
sete pavimentos, apresentado à CDHU pelo consórcio Alusa / Brastubo (Fig. 7).
Seus destaques são as ligações parafusadas entre os elementos estruturais
formados a frio e o recobrimento total da estrutura pelo próprio processo construtivo.
A última característica minimizou custos de proteção passiva contra incêndio da
estrutura, requerida segundo avaliação da norma NBR14432 para este edifício. A
sua performance global foi otimizada na fase do projeto arquitetônico, desenvolvido
com pré-definição das soluções construtivas. Na Tabela 2, os dados deste edifício.
Figura 7- Edifícios do consórcio Alusa e Brastubo para a CDHU-SP (Silva, 2004)
Tabela 2 – Quadro resumo – Edifício Alusa / Brastubo. Desenvolvimento do Autor.
ALUSA / BRASTUBO - CARACTERÍSTICAS DO PROJETO
INFORMAÇÃO
QUANTIDADE
DIMENSIONAIS
1
ÁREA TOTAL CONSTRUIDA
2 ÁREA DO PAVIMENTO TIPO
3 AREA DE PROJEÇÃO
4 AREA DE INFLUENCIA (COM RECUOS)
5 AREA PARA NORMA DE INCENDIO
6 PERIMETRO DA FACHADA
7 DISTANCIA PISO A PISO
8 NÚMEROS DE PAVIMENTOS
9 ÁREA DE FACHADA
10 NÚMERO DE UNIDADES (TIPO E ÁREA LIQUIDA)
CONSTRUTIVO
ESTRUTURA
11 m² de FACHADA / m² CONSTRUÍDO
UNIDADE
1.491,00
m²
213,00
m²
334,00
m²
459,00
m²
1.294,00
m²
91,00
m
2,6
m
7
1656,20
m²
2 quartos / 28 unidades / 40,9 m²
1,11
12 NÚMERO DE PILARES
13 NÚMERO DE VIGAS
14 NÚMERO DE LIGAÇÕES
15 PESO TOTAL (PILARES, VIGAS, ESCADA, ENGRA)
16 TAXA TOTAL
60
371
637
44.948,25 kg
30,15kg/m²
17 RENDIMENTO DE MONTAGEM
18
19
20
21
22
23
NÚMERO DE PILARES E VIGAS / m²
0,29/ m²
NUMERO DE LIGAÇÕES / m²
SISTEMA DE ESTABILIZAÇÃO
TIPO DE LAJE
INTERAÇÃO VIGAS/LAJES
VEDAÇÕES EXTERNAS
DIVISÓRIAS INTERNAS
INSTALAÇÃO/CONSTRUÇÃO
0,43/ m²
24 LIGAÇÕES ESTRUTURA/PAREDE
Pórticos contrventados
Laje treliçada pré-moldada + capeamento
Parcial, estabilização do plano horizontal
Alvenaria blocos cerâmicos, não portante
Alvenaria blocos cerâmicos, não portante
P/lajes e dutos verticais (shafts)
Barras de aço dobradas e argamassa colante
Os levantamentos de um edifício construído na cidade de Contagem-MG (Fig.
8) formam a terceira análise deste estudo. Trata-se de iniciativa de construção
industrializada em todos os seus sistemas, estruturais e construtivos. Uma torre de
apartamentos de doze pavimentos (Construtora Castro Pimenta) com aços planos
na super-estrutura, nas fôrmas incorporadas das lajes (USIGAL, NBR ZAR 280), na
estrutura auxiliar do sistema de fachada (USI SAC 300) e nos perfis das divisórias
internas em sistema a seco (USIGAL NBR 7008 ZC). Este caso aproxima conceitos
da construção industrializada e produtos do mercado imobiliário, com inovações. A
solução das vedações externas traz placas de granito fixadas diretamente sobre
estrutura auxiliar, na face externa, e placas de gesso acartonado fixadas em
estrutura de aço galvanizado na face interna da fachada. Não há blocos de alvenaria
a não ser nas paredes curvas da caixa de escadas e na vedação das garagens. As
características desta experiência estão na Tabela 3.
Figura 8- Torre Residencial da Construtora Castro Pimenta em Contagem-MG (Silva, 2004)
Tabela 3 – Quadro resumo de dados – Edifício Bouganville. Desenvolvimento do Autor.
CASTRO PIMENTA - CARACTERÍSTICAS DO PROJETO
INFORMAÇÃO
QUANTIDADE
DIMENSIONAIS
1
ÁREA TOTAL CONSTRUIDA
2 ÁREA DO PAVIMENTO TIPO
3 AREA DE PROJEÇÃO
4 AREA DE INFLUENCIA (COM RECUOS)
5 AREA PARA NORMA DE INCENDIO
6 PERIMETRO DA FACHADA
7 DISTANCIA PISO A PISO
8 NÚMEROS DE PAVIMENTOS
9 ÁREA DE FACHADA
10 NÚMERO DE UNIDADES (TIPO E ÁREA LIQUIDA)
CONSTRUTIVO
ESTRUTURA
11 m² de FACHADA / m² CONSTRUÍDO
UNIDADE
3.489,00
222,00
222,00
590,00
1.752,00
62,003,05
10 + 3
2458,3
3 quartos / 20 unidades
m²
m²
m²
m²
m²
m
m
m²
/ 81,6 m²
0,85
12 NÚMERO DE PILARES
13 NÚMERO DE VIGAS
14 NÚMERO DE LIGAÇÕES
15 PESO TOTAL (PILARES, VIGAS, ESCADA, ENGRA)
16 TAXA TOTAL
22x3=66
494
1116
145,6 ton
41,72 kg/m²
17 RENDIMENTO DE MONTAGEM (para 2886m²)
NÚMERO DE PILARES E VIGAS / m²
0,19/ m²
NUMERO DE LIGAÇÕES / m²
0,39/ m²
18 SISTEMA DE ESTABILIZAÇÃO
19 TIPO DE LAJE
20 INTERAÇÃO VIGAS/LAJES
21 VEDAÇÕES EXTERNAS
22 DIVISÓRIAS INTERNAS
23 INSTALAÇÃO/CONSTRUÇÃO
24 LIGAÇÕES ESTRUTURA/PAREDE
Contraventamento nas paredes, lajes e caixa de
escada
Forma metálica incorporada
Vigas mistas (com pinos de ancoragem
Estrutura auxiliar de perfis onde são fixos placas
de granitos
Alvenaria de tijolo furado executados sobre a laje
Corre livre pelo entreforro e por dutos verticais
(shafts)
Flexíveis por perfis galvanizados ( paredes a seco)
O último caso é um projeto da empresa 1001 Arquitetos com parâmetros
técnicos pré-estabelecidos por equipe conjunta da Construtora Camargo Corrêa e da
Usiminas (Fig. 9). Sendo o único caso sem experiência de obra, esta solução tem
por destaque seu desenvolvimento para uma modulação construtiva definida pelos
componentes pré-fabricados especificados. A modulação construtiva dos painéis da
laje, 1250mm de largura, e a configuração da planta favorável à segurança contra
incêndio e à configuração da melhor relação área de fachada/área construída, são
duas das principais caraterísticas deste projeto (Tabela 4). A baixa taxa de consumo
de aço deve-se ao caráter misto da estrutura, estendido à interação da malha
estrutural com painéis autoportantes de fachada. Esta solução inviabilizou-se,
principalmente, por suas necessidades especiais de montagem.
Figura 9- Edifício Construtora Camargo Corrêa e Usiminas(Silva, 2004)
Tabela 4 – Quadro resumo – Edifício Camargo Corrêa / Usiminas. Desenvolvimento do Autor.
DIMENSIONAIS
CAMARGO/USIMINAS - CARACTERÍSTICAS DO PROJETO
INFORMAÇÃO
1 ÁREA TOTAL CONSTRUIDA
2 ÁREA DO PAVIMENTO TIPO
3 AREA DE PROJEÇÃO
4 AREA DE INFLUENCIA (COM RECUOS)
5 AREA PARA NORMA DE INCENDIO
6 PERIMETRO DA FACHADA
7 DISTANCIA PISO A PISO
8 NÚMEROS DE PAVIMENTOS
9 ÁREA DE FACHADA
10 NÚMERO DE UNIDADES (TIPO E ÁREA LIQUIDA)
ESTRUTURA
11 m² de FACHADA / m² CONSTRUÍDO
0,98
12 NÚMERO DE PILARES
13 NÚMERO DE VIGAS
14 NÚMERO DE LIGAÇÕES
15 PESO TOTAL (PILARES, VIGAS, ESCADA, ENGRA)
16 TAXA TOTAL
26
190
260
19.696,40 kg
19,80kg/m²
17 RENDIMENTO DE MONTAGEM
NÚMERO DE PILARES E VIGAS / m²
NUMERO DE LIGAÇÕES / m²
18 SISTEMA DE ESTABILIZAÇÃO
CONSTRUTIVO
QUANTIDADE
UNIDADE
995,00
m²
187,00
m²
198,00
m²
403,00
m²
406,00
m²
75,24
m
2,6
m
5
978,12
m²
2 quartos / 20 unidades / 38,4 m²
19 TIPO DE LAJE
20
21
22
23
INTERAÇÃO VIGAS/LAJES
VEDAÇÕES EXTERNAS
DIVISÓRIAS INTERNAS
INSTALAÇÃO/CONSTRUÇÃO
24 LIGAÇÕES ESTRUTURA/PAREDE
0,22/ m²
0,26/ m²
Contraventamentos e lajes
Lajes protendidas alveolares com 125mm de
largura
Parcial, estabilização do plano horizontal
Alvenaria concreto celular, não portante
Alvenaria concreto celular, não portante
P/lajes e dutos verticais (shafts)
Flexíveis, telas galvanizadas e argamassa
expansiva
Dos projetos analisados, apenas dois foram desenvolvidos com definição
prévia de construção e estrutura. Os outros dois projetos foram construídos com
adaptações para as soluções construtivas implantadas. Estes caminhos são
determinantes nas performances das soluções, o que está retratado na análise
comparativa apresentada ao fim do trabalho.
3-Parâmetros de Projeto e Desenvolvimento
Três dos edifícios anteriores têm o programa arquitetônico mais freqüente na
habitação de baixo custo: quatro unidades por pavimento de apartamentos com dois
quartos, sala de jantar e estar, banheiro e cozinha. Empreendimentos focados na
habitação social congelam as possibilidades do imóvel nos limites deste programa.
Um primeiro diferencial de projeto está justamente neste ponto: incorporar um
artifício de flexibilização das possibilidades do programa típico, abrindo espaço para
configuração de novas unidades, como evoluções da configuração inicial. As bases
históricas da arquitetura modernista brasileira (Sampaio, 2002) apontam para uma
solução: a incorporação na planta típica de unidades com sala e quarto integrados
como unidades de hotéis ou as chamadas “quitinetes”. Este caminho serve a dois
propósitos: construção de unidades compactas e econômicas para moradores,
transitórios ou permanentes, com este perfil e criar bolsões de expansão para as
unidades típicas de dois quartos. Resolver o pavimento tipo do projeto com duas
unidades de dois quartos e duas compactas possibilitaria evoluções progressivas da
planta inicial dos apartamentos, que acompanhariam diferentes necessidades dos
proprietários. Evoluções de planta devem ocorrer com acréscimos dos espaços de
serviço e estar proporcionais ao aumento de quartos/moradores previsto.
A outra delimitação inicial refere-se à área de desenvolvimento do projeto.
Com a idéia de desenvolver uma situação de projeto genérica, optou-se por
trabalhar nos limites dos lotes urbanos mais típicos: 14 x 30 e 12 x 30 metros. Para
respaldar mais a solução de projeto, definiu-se que esta deveria desenvolver-se nos
limites da situação mais restritiva: a área definida por recuos mínimos no lote de
menor dimensão. O espaço para desenvolvimento da solução seria o retângulo
dentro no lote de 12 x 30 metros definido pelo recuo frontal de 3 metros e recuos
laterais e de fundos de 1,5 metros. Um retângulo de 9 x 25,5 metros no qual deveria
ser implantado metade do edifício projetado (Fig 10). Optou-se por desenvolver um
edifício totalmente compartimentado em duas metades independentes mas
complementares: o projeto é considerado completo na versão “geminada” destas
duas metades, que necessitariam de dois lotes de 12 x 30 metros para ser
implantado. A metade “independente” desta solução geminada pode ser construída
em apenas um destes lotes, sem prejuízo de seu funcionamento. A versão integral
do edifício é mais viável (custo por unidade habitacional ou área construída) que sua
versão independente.
Figura 10- Esboço inicial com os limites de projeto considerados (Silva, 2004)
As definições da modulação de projeto com coordenação entre parâmetros
estruturais, construtivos e definições de programa são as próximas considerações.
Seu desenvolvimento segue com definições prévias dos sistemas adotados. As
modulações definidoras da planta serão configuradas sob as bases de melhor
performance de integração das soluções na construção. Um módulo básico de 1200
mm serviria bem ao propósito de ordenar os principais itens construtivos (Fig. 11):
malha estrutural com múltiplos deste valor, sistema de lajes com formas metálicas
incorporadas com vão ideal múltiplo deste valor (2400mm) e modulações de
sistemas de parede a seco com espaçamentos de 600mm e placas de revestimento
com 1200mm. A modulação básica de alvenarias, com 300mm, seria também
contemplada nesta modulação. Este valor (1200mm) comporta ainda grande parte
das dimensões típicas dos materiais de acabamentos e outros componentes
industrializados, como esquadrias.
Figura 11- Parâmetros de coordenação modular entre sistemas(Silva, 2004)
A consolidação da solução arquitetônica ocorre coordenada com o conceito
estrutural proposto. Pilares de seção retangular (tipo “caixa” ou tubos com costura) e
vigas de seção “I”, eletro-soldadas ou compostas por chapas conformadas. Esta
combinação permite ligações parafusadas com abertura para aplicação de pilares
mistos, com tubos preenchidos por concreto estrutural em solução pouco explorada:
o princípio da “fôrma incorporada” aplicado a pilares. A utilização de sistemas de
lajes apoiados nas mesas inferiores das vigas, como no sistema slimflor® (Lawson,
1997) também é uma possibilidade do projeto. Juntas, estas definições reduzem a
superfície exposta dos elementos em aço estrutural, minimizando sua área de
pintura e aumentando a massividade da estrutura.
A estabilização vertical da estrutura é por contraventamentos, estratégia mais
econômica, sem interferência nas fachadas: o conjunto é organizado ao redor de um
pátio interno com as circulações verticais e horizontais e os pórticos contraventados.
O pátio garante o conforto térmico do edifício, permitindo ventilação cruzada nos
apartamentos previstos em planta.
O arranjo das unidades é estabelecido para gerar um volume final mais
heterogêneo que o dos prismas retangulares comumente abordados nas tipologias
habitacionais econômicas. Elementos como varandas, beirais avançados contribuem
para diversificar e enriquecer a configuração final. A defasagem entre os sistemas
de vedação e os eixos estruturais permite mostrar a estrutura em alguns pontos do
projeto e resguardá-la em outros, participando da imagem final do conjunto e ficando
a favor de sua maior proteção frente a intempéries. Este artifício permite a
transposição direta das dimensões presentes na malha estrutural para os sistemas
de vedação e divisórias, que ficam sujeitos às mesmas regras dimensionais
sugeridas na modulação.
Uma fração menor de área de fachada por área construída foi pretendida no
desenvolvimento do projeto. Custos para garantir desempenho e estanqueidade das
vedações são importante para determinar a viabilidade da solução. A configuração
construtiva das paredes externas alia o custo baixo das alvenarias convencionais
com a praticidade dos sistemas a seco, restringindo a contribuição da primeira até a
altura dos peitoris, acima dos quais a solução a seco responderia por toda parte
mais complexa da vedação com aberturas, vergas e fixação de esquadrias.
O desafio de elaborar uma solução arquitetônica, sob quaisquer
circunstâncias, deve ser abordado de forma inclusiva. A solução consequente deste
empenho nem sempre traz os melhores parâmetros para todos os aspectos. Alguns
itens sofrem adequações que os aproximam de sua melhor performance em busca
de resultado com melhor combinação dos fatores envolvidos. O objetivo é atingir boa
performance global com as diversas considerações. As conclusões deste estudo
estão representadas abaixo pêlos desenhos técnicos e imagens do anteprojeto
arquitetônico (Figuras 12 a 15) e na Tabela 5.
Figura 12- Possibilidades de evolução da planta no Pavimento Tipo (Silva, 2004)
Figura 13- Plantas do pavimento térreo e do último pavimento (Silva, 2004)
Figura 14- Cortes longitudinal e transversal pelo edifício(Silva, 2004)
Figura 15- Fachadas frontal e lateral do edifício (Silva, 2004)
Tabela 5 – Quadro resumo das características da concepção de projeto proposta.
ASCANIO MERRIGHI - CARACTERISTICAS DO PROJETO
INFORMAÇÃO
1
DIMENSIONAIS
2
3
4
5
6
7
8
9
10
QUANTIDADE
ÁREA TOTAL CONSTRUIDA
ÁREA DO PAVIMENTO TIPO
AREA DE PROJEÇÃO
AREA DE INFLUENCIA (COM RECUOS)
AREA PARA NORMA DE INCENDIO
PERIMETRO DA FACHADA (metade da planta)
DISTANCIA PISO A PISO
NÚMEROS DE PAVIMENTOS
ÁREA DE FACHADA
NÚMERO DE UNIDADES (TIPO E ÁREA LIQUIDA)
11 m² de FACHADA / m² CONSTRUÍDO
ESTRUTURA
12 NÚMERO DE PILARES
13 NÚMERO DE VIGAS
14 NÚMERO DE LIGAÇÕES
15 PESO TOTAL (PILARES, VIGAS, ESCADA, ENGRA)
16 TAXA TOTAL
34
370
600
50.512,60 kg
33,23
17 RENDIMENTO DE MONTAGEM
NÚMERO DE PILARES E VIGAS / m²
NUMERO DE LIGAÇÕES / m²
18 SISTEMA DE ESTABILIZAÇÃO
0,26
0,40
19 TIPO DE LAJE
CONSTRUTIVO
UNIDADE
1519,65
m²
303,93
m²
334,90
m²
550,00
m²
571,25
m²
45,7
m
2,70
m
5+3
un.
987,12
m²
1 quartos / 16 unidades / 16,3 m²
2 quartos / 16 unidades / 42,4 m²
0,65
20 INTERAÇÃO VIGAS/LAJES
21 VEDAÇÕES EXTERNAS
22 DIVISÓRIAS INTERNAS
23 INSTALAÇÃO/CONSTRUÇÃO
24 LIGAÇÕES ESTRUTURA/PAREDE
Núcleo central contraventado
Piso estrutural esbelto com fôrma metálica
incorporada a vigas de abas desiguais
Vigas embutidas nas lajes e vigas mistas sobre o
piso estrutural
Misto em alvenaria de tijolo furado e sistemas de
parede a seco
Paredes a seco com perfis galvanizados e placas de
fechamento
Paredes hidráulicas, dutos verticais e embutidas sob
a fôrma-laje
Vedações e divisórias fixadas na laje e em um ponto
a cada pilar
Tabela 6 – Quadro comparativo entre valores levantados nos projetos analisados
PROJETOS: MÚLTIPLA
ALUSA
CAMARGO
C. PIMENTA ESTE
m²fac./m²const.
1,11
30Kg/m²
0,29/m²
0,43/m²
28
1491m²
0,98
20Kg/m²
0,22/m²
0,26/m²
20
995m²
0,85
42Kg/m²
0,19/m²
0,39/m²
20
2886m²
1,15
27Kg/m²
PIL.+VIG. /m² 0,29/m²
LIGAÇÕES/m² 0,52/m²
No. UNIDADES 20
ÁREA TOTAL
995m²
Taxa Estrutura
0,65
33Kg/m²
0,26/m²
0,40/m²
32
1520m²
4. Conclusões
A solução desenvolvida cabe ainda ser evoluída em seus aspectos
arquitetônicos para uma melhor depuração do resultado final. Esta é uma
característica comum a todo anteprojeto arquitetônico, por maior que seja seu grau
de definição. Soluções de conceito estrutural, sistemas de estabilização e definições
construtivas diversas devem surgir no desenvolvimento do projeto arquitetônico.
Suas premisas serão depuradas e sofrerão contribuições no envolvimento dos
demais profissionais da equipe multidisciplinar responsável pelo pacote completo de
soluções técnicas. Os princípios da depuração evolutiva devem necessariamente
estar presentes na abordagem inicial do tema de projeto pelo arquiteto.
Ao confrontarmos os dados mais relevantes dos estudos de casos com os do
anteprojeto exposto na seção anterior verificamos que houve a incorporação dos
aspectos positivos verificados nas iniciativas de mercado estudadas. Nem todos os
dados do projeto elaborado têm melhor performance que aqueles mais destacáveis
nos projetos descritos. Isto deve-se à tentativa de incorporar soluções técnicas
inovadoras como a utilização mista de lajes apoiadas tanto nas mesas inferiores das
vigas, como convencionalmente sobre suas mesas superiores. A configuração
proposta absorveria também uma solução de estruturas de aço convencional o que
reduziria sua taxa de consumo estrutural mas não atenderia ao caráter experimental
deste trabalho. A comparação pode ser visualizada na Tabela 6.
Referências Bibliográficas:
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