Linhas de campo magnético caóticas em tokamaks

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Anais do 14O Encontro de Iniciação Científica e Pós-Graduação do ITA – XIV ENCITA / 2008
Instituto Tecnológico de Aeronáutica, São José dos Campos, SP, Brasil, Outubro, 20 a 23, 2008.
Linhas de campo magnético caóticas em tokamaks
Kauê Cabrera Rosalem
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho
Campus de Presidente Prudente - Faculdade de Ciências e Tecnologia
Departamento de Física, Química e Biologia
Presidente Prudente, SP, 19060-900, Brasil
Bolsista PIBIC-CNPq
[email protected]
Marisa Roberto
Instituto Tecnológico de Aeronáutica
Departamento de Física
São José dos Campos, SP, 12228-900, Brasil
[email protected]
Resumo. As instabilidades na borda do plasma causam a deterioração das condições de equilíbrio e a perda total do confinamento
do plasma em tokamaks. Perturbações ressonantes em determinadas superfícies magnéticas permitem redirecionar o escape do
plasma para determinadas regiões da parede do tokamak, evitando a contaminação do plasma por impurezas e o aquecimento
excessivo e localizado na parede da câmara de confinamento. Utilizamos uma formulação Hamiltoniana para o traçado das linhas
de campo magnético, fornecendo assim os Mapas de Poincaré para análise da camada estocástica, sendo perturbada por um
Limitador Magnético Ergódico, para diferentes intensidades e modos ressonantes de perturbação com um perfil radial nãomonotônico do fator de segurança. Mostramos que as linhas de campo caóticas no tokamak devido à perturbação são
determinadas pelas variedades estáveis e instáveis dos pontos fixos hiperbólicos das cadeias de ilhas magnéticas perturbadas.
Palavras chave: Equilíbrio MHD, Limitador Magnético Ergódico, Modos Ressonantes, Variedades Estáveis e Instáveis.
1. Introdução
O interesse pelo estudo das linhas de campo magnético que colidem com a parede da câmara de confinamento
é devido ao processo de transporte de partículas e energia. Sendo que as estruturas do fluxo de calor nas paredes do
tokamak são encontradas em trabalhos experimentais recentes (Jakubowski, 2004), e estas apresentam relevante
semelhança com as estruturas das linhas de campo magnético deixadas nas paredes.
Dentre os fenômenos que causam a deterioração das condições de equilíbrio e a perda total do confinamento,
estão as instabilidades na borda do plasma, causadas pelas mudanças topológicas em determinadas superfícies
magnéticas. Através do Limitador Magnético Ergódico (LME), é possível criar uma região de linhas de força caóticas
na periferia da coluna de plasma, com uma alta concentração de partículas e um alto coeficiente de difusão nesta região.
Este dispositivo corresponde às fatias das hélices de um Enrolamento Helicoidal Ressonante (EHR).
As coordenadas polares toroidais representam corretamente os efeitos toroidais de um tokamak (Roberto,
2004), fazendo com que as superfícies magnéticas não possuam simetria poloidal, conforme o chamado deslocamento
de Shafranov, que resulta na helicidade não constante das linhas de campo magnético e, conseqüentemente do fator de
segurança, violando as condições da Teoria Kolmogorov-Arnold-Moser (KAM) para pequenas perturbações nesta
região. Utilizou-se na simulação numérica os parametros do tokamak brasileiro TCABR, o qual tem-se projetado um
LME para controlar as oscilações do plasma (Heller, 2005).
Obtemos neste trabalho os Mapas de Poincaré através de uma função delta para a posição dos anéis limitadores
e da formulação Hamiltoniana para o traçado das linhas de campo magnético. Analisou-se a atuação do LME para os
modos de perturbação ressonantes (4,1) e (5,1), e as variedades estáveis e instáveis dos pontos fixos hiperbólicos das
cadeias de ilhas magnéticas.
2. Equilíbrio MHD
O equilíbrio MHD (Magnetohidrodinâmico) do tokamak apresenta dois aspectos básicos: inicialmente há um
balanço entre a pressão do plasma e as forças devido ao campo magnético; posteriormente a forma e a posição do
plasma são definidas e controladas pelas correntes das bobinas externas (Wesson, 2004). Pela teoria MHD, o plasma é
considerado como um fluído condutor de resistividade nula, com energia interna, sob a ação de campos
eletromagnéticos (Freidberg, 1987). Nesta configuração de equilíbrio os efeitos quânticos e relativísticos não são
considerados, e o sistema é considerado conservativo.
Para descrever a geometria das linhas de campo magnético, definimos as coordenadas polares toroidais
(rt , θ t , ϕt ) com relação às coordenadas toroidais (ξ , ω , ϕ ) (Kucinski, 1990):
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,
rt =
R0'
, θ t = π − ω , ϕt = ϕ ,
cosh ξ − cos ω

 r
r
onde R 2 = R0' 2 1 − 2 t' cos θt −  t'
R

R0
 0

sistema de coordenadas cilíndricas.
(2.1)
2


2
 sin θt  relaciona o eixo do sistema de coordenadas polares toroidais com o



Tratando-se de um tokamak de alta razão de aspecto
(r / R
t
'
0
→0
)
(Kroetz, 2006), a equação de Grad-
Shafranov é dada por:
1 d  dψ P 
 rt
 = µ0 Jϕ ( rt ) ,
rt dt  drt 
(2.2)
onde ψ P é o fluxo magnético poloidal.
Utilizaremos um perfil radial não-monotônico da densidade de corrente toroidal Jϕ , obtidos de resultados
experimentais:
γ
I P R0' ( γ + 2 )(γ + 1) 
r2  r2 
(2.3)
 1 + β t 2   1 − t 2  ,
2
β +γ +2 
a  a 
πa
onde I P é a corrente total de plasma, β e γ são parâmetros ajustáveis e a é o raio da coluna de plasma. Substituindo
o perfil radial não-monotônico da densidade de corrente toroidal Jϕ na equação 2.2, obtemos:
Jϕ =
γ +1
2
rt 2  
dψ P µ0 I P R0'  
' rt  
1 −  1 + β 2   1 − 2   ,
=
drt
2π rt  
a  a  


(2.4)
onde β ' ≡ β ( γ + 1) ( β + γ + 2 ) .
As componentes do campo magnético podem ser obtidas através da equação do campo magnéticos em
coordenadas polares toroidais:
1 ∂ψ P
= 0,
Brt = − '
R0 rt ∂θt
(2.5)
γ +1 

2 
rt2  
1 ∂ψ P µ0 I P  
' rt
Bθ t = '
=
1 − 1 + β 2  1 − 2 
,
(2.6)
2π rt2  
R0 rt ∂rt
a   a  


−1
(2.7)

rt
µ0 I µ0 I e 
,
Bϕt = − 2 =
1
−
2
cos
θ
t
2 
'
R
2πR0' 
R0

sendo que I e ≈ −2π I é a corrente elétrica externa que produz o campo toroidal.
As linhas de campo magnético devido aos campos poloidal e toroidal apresentam formato helicoidal. Uma vez
que as superfícies magnéticas não possuem simetria poloidal, a helicidade das linhas de campo não é constante.
Podemos definir ∂ϕt ∂θt a inclinação local das linhas de campo, assim uma inclinação média das linhas de campo é
dada por:
1 2π Bϕ t
dθ t .
(2.8)
∫
2π 0 Bθ t
onde q é denominado fator de segurança, com a necessidade de um valor q ≥ 1 no eixo magnético para que o plasma
seja estável, logo fator de segurança q é assim chamado por determinar a estabilidade (Silva, 2000).
Desta forma, percebemos que o fator de segurança representa uma média do ângulo toroidal percorrido
enquanto uma linha de campo executa uma volta no sentido poloidal. Quanto mais lentamente as linhas de força do
campo magnético evoluir na direção poloidal, ou seja, quanto maior for o fator de segurança, mais estável será a
configuração do campo associado a essas linhas de força. No caso em que q = m / n apresenta valor racional, temos
linhas de campo que se fecham após percorrer m voltas no sentido toroidal e n voltas no sentido poloidal. Se este
valor for irracional, temos linhas de campo que nunca retornam a posição inicial, ocupando em tempo infinito todos os
pontos da superfície magnética.
q=
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,
Utilizou-se nesta simulação numérica os parâmetros típicos de operação do tokamak TCABR: raio maior
R0 =0,61m, raio menor b =0,22m, raio da coluna de plasma a =0,18m, corrente do campo externo I e =4×106 A,
corrente de plasma I P =7×104 A e fator de segurança na borda do plasma q ≈ 5. Os resultados obtidos com estes valores
encontram-se normalizados, de forma que podem ser aplicados a outros tokamaks.
Figura 1. Perfis radiais normalizados do fator de segurança.
Na Fig. 1, podemos perceber que o perfil do fator de segurança também está relacionado à escolha do perfil de
densidade de corrente toroidal Jϕ . No caso não-monotônico, há dois valores de rt relacionado ao mesmo fator de
segurança. Veremos na seção 5 que os fenômenos de reconexão e bifurcação são conseqüência da não validade da
teoria KAM nesta região não monotônica do fator de segurança (Roberto, 2004).
3. Campo Perturbativo
Os campos magnéticos ressonantes são formados pela atuação de EHR, cujas helicidades são iguais às
helicidades das linhas de força de campo magnético de equilíbrio que repousam sobre as superfícies que se deseja
perturbar, conforme a Fig. 2.
Figura 2. Esquema de um Enrolamento Helicoidal Ressonante.
As linhas de força do campo magnético não apresentam um passo de enrolamento constante, sendo maior na
região equatorial, mais afastada do eixo de simetria do toróide, do que na região mais próxima ao mesmo. Desta forma
consideramos a seguinte lei de enrolamento para as hélices condutoras de corrente elétricas (Silva, 2000):
ut = m0 θt + λ sen (θ t )  − n0ϕt = cte ,
(3.1)
sendo que a não uniformidade está relacionada ao fator de modulação λ .
O sistema de equações diferenciais ordinárias que descreve o traçado das linhas de força do campo magnético
dado por B × dl = 0 , onde dl é um deslocamento ao longo da linha de força e B corresponde ao campo de equilíbrio.
Desde que o campo de equilíbrio tem simetria em ϕt , isto representa, em termos da descrição Hamiltoniana para o
traçado das linhas de campo, um sistema dinâmico integrável (Goldstein, 1980):
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,
dΙ
∂H dϑ ∂H
,
.
=−
=
(3.2)
dt
∂ϑ dt
∂Ι
Realizando-se a mudança de coordenadas ( rt ,θt , ϕt ) para as coordenadas ( Ι,ϑ ,t ) , temos a coordenada de
ângulo dada por (Engelhardt, 1978):
 1  sen (θt )  
1 θt Bϕ ( rt ,θt )
dθ = 2arctg 
ϑ ( rt ,θt ) =
(3.3)

  ,
∫
q( rt ) 0
Bθ
 Ω ( rt )  1 + cos (θt )  
onde o ângulo poloidal Ω é dado por:
Ω ( rt ) = 1 − 2
rt
R0'
1+ 2
rt
R0'
,
e a coordenada de ação, definida em termos do fluxo magnético toroidal, é dada por:
2 
1
1
1 − 1 − 4  rt   ,
Ι ( rt ) =
B
⋅
d
σ
=
t
'
2π R0' 2 Bϕt ∫
4
 R0  

onde d σ t = R0' rt drt dθt êϕ .
(3.4)
(3.5)
Sendo que para esta mudança de coordenadas fazemos t = ϕt . Para as equações de Hamilton (eq. 3.2) obtemos
por integração:
1
H0 (Ι) =
ψ P (Ι) ,
(3.6)
BT R0' 2
isto é, H 0 ( Ι ) é o fluxo poloidal normalizado.
O campo magnético resultante sujeito a uma perturbação ressonante devido a uma hélice é dado por:
B = B ( rt ) + BP ( rt , θt , ϕt ) ,
(3.7)
onde o primeiro termo do lado direito representa o campo magnético de equilíbrio e o segundo termo representa o
campo perturbativo.
Ao considerarmos uma Hamiltoniana de perturbação H1 , verificamos que as componentes do campo de
equilíbrio dependem de ψ P da mesma maneira que as componentes do campo de perturbação dependem do potencial
vetor Aϕt , correspondente ao potencial magnético gerado pelas hélices, tal que BP = ∇ × AM . Logo a Hamiltoniana
total do sistema é dada por (Silva, 2001):
1
1
H ( Ι , ϑ , t ) = H 0 ( Ι ) + H1 ( Ι , ϑ , t ) =
ψ (Ι) +
Aϕ t ( Ι, ϑ , t ) ,
'2 P
BT R0
BT R0' 2
onde H1 << H 0 , sendo que somente a componente azimutal Aϕt do potencial vetor
(3.8)
AM permanece devido a
simetria.
O fato de um LME corresponder a uma estreita fatia de um EHR faz com que sua atuação se dê apenas durante
um percurso toroidal l bastante curto, assim sua ação pode ser definida com funções δ na posição do LME. Logo a
Hamiltoniana perturbada pela ação do limitador passa a ser dada por:
+∞

1
2π 
H1 =
A (Ι, ϑ , t ) ∑ δ  t − k
(3.9)
,
' 2 ϕt
Nr 
BT R0
k =−∞ 
com k = 0,1, 2...N r − 1 , sendo o número de anéis limitadores distribuídos simetricamente na direção toroidal. Com isso
a Hamiltoniana total do sistema é dada por:
H ( Ι, ϑ , t ) = H 0 ( Ι ) + ε H1 ( Ι, ϑ , t ) ,
(3.10)
sendo que o parâmetro de perturbação ε é dado por:
   Ih 
ε = 2
.
(3.11)
 2π R '   I 
0  e 

As equações de Hamilton passam agora a ser escritas como:
∂H 0 ( Ι ) ∂ε H1 ( Ι, ϑ , ϕ t )
∂H1
dΙ
=−
−
= −ε
,
(3.12)
d ϕt
∂ϑ
∂ϑ
∂ϑ
∂H1
dϑ ∂H 0 ( Ι ) ∂ε H1 ( Ι, ϑ , ϕt )
1
=
+
=
+ε
.
d ϕt
∂Ι
∂Ι
q (Ι)
∂Ι
(3.13)
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,
A Hamiltoniana local, que descreve o comportamento do sistema ao redor apenas de uma determinada
ressonância, pode ser representada de forma idêntica àquela para um pêndulo não-linear. Desta forma podemos mapear
as linhas de campo magnético através de Mapas de Poncaré. Uma seção de Poincaré registra os pontos oriundos da
intersecção da trajetória com uma determinada superfície sempre que a trajetória cruza esta superfície num mesmo
sentido. Embora os resultados sejam equivalentes aos de um mapa estroboscópico, estes são conceitualmente diferentes,
pois na seção de Poincaré os intervalos de tempo entre pontos consecutivos podem não ser regulares.
4. Limitador Magnético Ergódico
A idéia de um LME surgiu com os trabalhos originais de Karger e Lackner et al. (1977) e Engelhardt e
Feneberg et al. (1978). O objetivo proposto para este dispositivo foi o de criar uma região de linhas de força caóticas na
periferia da coluna de plasma, visando evitar a contaminação do plasma por impurezas. Assim obter-se-ia uma região
com uma alta concentração de partículas e um alto coeficiente de difusão nesta região, visto que a concentração de
impurezas no centro da coluna de plasma é proporcional ao fator 1 DP nP , onde D P e n P são, respectivamente, o
coeficiente de difusão e da densidade do plasma na região de linhas caóticas de campo magnético próxima à parede da
câmara. Evitando também o aquecimento excessivo e localizado dos componentes que compõem a parede interna da
câmara de confinamento do tokamak.
O LME possibilita o controle dos modos de oscilações MHD presentes no plasma. Esses modos podem ser
atenuados ou induzidos dependendo da forma com que atuamos sobre eles com os anéis LMEs. De acordo com a Fig. 3,
um anel LME corresponde a uma fatia do EHR de comprimento l , muito pequena quando comparada ao comprimento
típico 2π R0' do percurso toroidal.
Figura 3. Esquema de um Limitador Magnético Ergódico.
Mapeamos as linhas de campo através de um modelo impulsivo para as equações de Hamilton (eqs. 3.12 e
3.13). As equações que produzem os Mapas de Poincaré são escritas como (Silva, 2001):
∂H1
Ι n +1 = Ι n − ε
,
(4.1)
∂ϑ
∂H1
2π
ϑn +1 = ϑn +
+ε
.
(4.2)
q ( Ι n +1 ) N r
∂Ι
Isto nos permitiu a utilizarmos a descrição Hamiltoniana na busca de um mapeamento estroboscópico para este
dispositivo, simulando a atuação de N r = 4 anéis limitadores distribuídos simetricamente na direção toroidal.
5. Mapas de Poincaré
Um sistema dinâmico pode ser descrito por um conjunto de equações diferenciais, que expressam a taxa de
variação temporal das coordenadas de estado do sistema em função de seu valor presente. À medida que o sistema
dinâmico evolui no tempo, ele ocupa uma série de posições em seu espaço de fase, que forma curvas contínuas a qual
chamamos de trajetórias. O mapa destas trajetórias consiste em um conjunto de pontos que interceptam este espaço de
fase. Para um sistema dinâmico com um grau de liberdade, cujo espaço de fase é bidimensional, como por exemplo, um
pêndulo, o mapa resultante consiste numa linha reta, constituída por uma sequência de pontos sobre um plano.
Denomina-se seção de Poincaré uma seção que registra pontos originários de uma intersecção da trajetória com uma
determinada superfície em um mesmo sentido. A seção de Poincaré é uma maneira de reduzir o estudo de um sistema
dinâmico num espaço de fases com n dimensões, construindo o chamado Mapa de Poincaré, que apresenta n − 1
dimensões. Portanto, o Mapa de Poincaré é uma seqüência de pontos nos quais as trajetórias interceptam a seção de
Poincaré. Neste trabalho a coordenada ϕt desempenha o papel do tempo em um sistema dinâmico, logo o Mapa de
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,
Poincaré será um espaço de fase Ιxϑ onde os valores destas coordenadas serão registrados em valores de
ϕt = 0, 2π ,..., 2nπ . Desta forma, traçamos os Mapas de Poincaré para três correntes de perturbação I h em dois modos
de perturbação, utilizando um conjunto de condições iniciais, fornecendo um grande número de possibilidades de
evolução do sistema.
Inicialmente, o modo de perturbação escolhido foi (4,1). Os valores dos parâmetros de equilíbrio foram
γ = 0,8 ; β = 3, 0 e λ = 0, 45319 . Alteramos entre estes mapas, com modo de perturbação (4,1), somente a intensidade
da corrente de perturbação I h , respectivamente, para 2%, 5% e 11% de I P , conforme mostrados nas Figs. 4, 5 e 6.
Posteriormente, traçamos os mapas de Poincaré no modo de perturbação (5,1) para três correntes de
perturbação I h . Os valores dos parâmetros de equilíbrio foram γ = 0,8 ; β = 3, 0 e λ = 0,5895 . Alteramos entre estes
mapas, com modo de perturbação (5,1), somente a intensidade da corrente de perturbação I h , respectivamente, 2%, 5%
e 11% de I P , conforme mostrados nas Figs. 7, 8 e 9. Os mapas estão representados em coordenadas canônicas (Ι, ϑ ) .
Figura 4: Mapa de Poincaré com
(m0 , n0 ) = (4,1).
Figura 5. Mapa de Poincaré com
(m0 , n0 ) = (4,1).
I h = 2% de I P e Figura 7. Mapa de Poincaré com I h = 2% de I P e
(m0 , n0 ) = (5,1).
I h = 5% de I P e Figura 8. Mapa de Poincaré com I h = 5% de I P e
(m0 , n0 ) = (5,1).
Anais do XIV ENCITA 2008, ITA, Outubro, 20-23, 2008
,
Figura 6. Mapa de Poincaré com
(m0 , n0 ) = (4,1).
I h = 11% de I P e Figura 9. Mapa de Poincaré com I h = 11% de I P e
(m0 , n0 ) = (5,1).
Observamos pela Figs. 4 e 7 que as cadeias de ilhas magnéticas se formam ao redor das regiões para as quais o
fator de segurança é um número racional. As cadeias de ilhas primárias apresentam as maiores larguras e são
decorrentes das ressonâncias entre os harmônicos do campo magnético de perturbação e o campo magnético de
equilíbrio nas regiões em que o fator de segurança q é um número racional. As cadeias de ilhas intermediárias se
formam entre as cadeias de ilhas primárias com q = m n e q = m' n ' ao redor da superfície magnética para a qual
q = m + m' n + n' . As cadeias de ilhas secundárias se formam no interior de outras ilhas (primárias) em decorrência das
ressonâncias dos harmônicos do campo magnético de perturbação em regiões onde o fator de segurança local (que mede
o giro de uma linha de força com relação ao ponto elíptico no centro de uma ilha) apresenta valores racionais.
O teorema KAM (Kolmogorov-Arnold-Moser) estabelece que sistemas multiplamente periódicos, obtidos por
perturbações suficientemente pequenas de um sistema integrável, terão trajetórias sobre os toros invariantes dos
respectivos sistemas integráveis, desde que as condições iniciais correspondam a freqüência suficientemente distantes
das ressonâncias do sistema (Tabor, 1989). Esses toros invariantes são destruídos por perturbações suficientemente
grandes. Entretanto, a ocorrência dos fenômenos de reconexão e bifurcação são conseqüência da não validade da teoria
KAM na região não monotônica do fator de segurança.
Ao analisar o perfil da densidade de corrente toroidal na Fig. 1, verificamos que há dois valores de J cujo
,
q = 4 1 devido à escolha do perfil do fator de segurança não-monotônico. Logo temos duas cadeias de quatro ilhas,
conforme mostram as Figs. 4 até 9. Na região próxima à q = 5 1 o fator de segurança passa a ter localmente um
comportamento monotônico, sendo assim teremos somente uma cadeia de cinco ilhas no mapa. Na região próxima à
cadeia (5,1) a teoria KAM passa a valer devido à monoticidade local. Observamos na Fig. 5 o início da perda de
estabilidade da superfície próxima à cadeia, que posteriormente foi totalmente destruída para uma elevada corrente de
perturbação, conforme a Fig. 6. Observa-se pelas Figs. 8 e 9 que na camada (4,1) onde não ocorre a teoria KAM, ao
aumentar o valor da corrente de perturbação, o tamanho das cadeias também aumenta havendo o início da destruição
das camadas subseqüentes (Tabor, 1989).
Analisando as Figs. 7 e 8, o efeito perturbativo produzido pelo campo magnético do LME se mostrou mais
localizado no correspondente modo de perturbação. Notamos também, que à medida que intensificamos a corrente de
perturbação I h , superfícies mais afastadas passam a fazer parte das cadeias inferiores. É importante ressaltar que as
demais superfícies racionais originam cadeias de ilhas de pequenas dimensões, que muitas vezes não podem ser
observadas na resolução destes mapas.
Conforme as Figs. 10(a), 10(b) e 10(c), este aumento acontece até que o ponto mais baixo (alto) da cadeia
superior (inferior), o qual é chamado de separatriz, esteja na mesma posição que o ponto hiperbólico da cadeia inferior
(superior), eliminando as superfícies que separam as cadeias, caracterizando a reconexão das cadeias de ilhas (Roberto,
2004). Os pontos 1 e 3 são os pontos elípticos pertencentes, respectivamente, a cadeia superior e inferior. Já os pontos 2
e 4 são os pontos hiperbólicos pertencentes, respectivamente, a cadeia superior e inferior. O ponto 5 é o ponto mais
baixo da cadeia superior e o ponto 6 é o mais alto da cadeia inferior.
Anais do XIV ENCITA 2008, ITA, Outubro, 20-23, 2008
,
Figura 10. Esquema representando as estrutura das cadeias de ilhas e dos pontos fixos (a) antes, (b) durante e (c) depois
da reconexão, e (c) depois da bifurcação.
O fenômeno de bifurcação ocorre ao aumentar a corrente de perturbação I h , sendo que os pontos hiperbólicos
da cadeia superior se aproximam dos pontos elípticos da cadeia inferior, conforme observamos a tendência das cadeias
(4,1) na Fig. 8. Na bifurcação estes pontos se unem, havendo completa destruição da cadeia inferior, conforme a Fig.
10(d).
6. Variedades
Observações experimentais mostram que os padrões de deposição de fluxo de calor nas paredes do tokamak
mostram estruturas semelhantes às obtidas através do estudo dos padrões de deposição das linhas de campo magnético
(Jakubowski, 2004). O movimento das partículas ionizadas no plasma ocorre, principalmente, ao longo das linhas de
campo magnético. Conseqüentemente, o processo de transporte de partículas e energia pode ser estudado através destas
linhas.
As técnicas utilizadas para analisar este sistema dinâmico não-linear através da representação das variedades
foram: o método “sprinkler” (Kantz, 1985) e o método “saddle-straddle tripe” (Nusse, 1997). O método “sprinkler”
obtém a variedade através de um conjunto de pontos iniciais ao redor do ponto hiperbólico, isto é, pela escolha de uma
área ao redor deste ponto. O método “saddle-straddle tripe” calcula a variedade através de condições iniciais alinhadas
na direção da variedade. Portanto os métodos se diferenciam pela escolha dos pontos iniciais. Entretanto o método
“sprinkler” é mais rápido que o “saddle-straddle tripe” e fornece o mesmo resultado.
Ao iterar um conjunto de condições iniciais, se estas convergirem para o mesmo ponto, este é chamado ponto
fixo elíptico. Variando as condições iniciais pode-se mudar de um ponto fixo elíptico para outro. Enfatizamos este
estudo nos pontos fixos hiperbólicos, caracterizados pelas variedades estáveis e instáveis. Um ponto de equilíbrio é
instável se este ponto for originado de um cruzamento, onde o conjunto de condições iniciais ao redor deste ponto se
aproxima ou se afasta do ponto após um número de iterações. Nos pontos fixos hiperbólicos, as trajetórias aproximamse da origem segundo uma das direções e afastam-se pela outra, como conseqüência, é sempre instável, conforme a Fig.
11. A variedade estável (instável) constitui um conjunto de pontos que quando iterados se aproximam do ponto fixo
hiperbólico para n → ∞ (n → - ∞).
Um conjunto de variedades é invariável no sentido que, uma vez determinada a sua condição inicial, a órbita
de cada segmento pertencerá a este conjunto. Pontos homoclínicos e heteroclínicos são termos usados para descrever
um cruzamento, respectivamente, entre as variedades que pertencem a um mesmo ponto fixo e a que pertencem a dois
pontos fixos (Lichtenberg, 2002; Silva, 2006). O conjunto de pontos homoclínicos e heteroclínicos, obtidos pelo
cruzamento, é a estrutura fundamental na qual uma órbita caótica se desenvolve. De acordo com a Fig. 11, as
representações gráficas das variedades permitem compreender, quando comparada com a Fig. 4, a natureza da órbita
caótica e de suas conseqüências no transporte de linhas de campo magnético. Para estas representações escolhemos um
ponto fixo hiperbólico no meio da região caótica e representamos as variedades estáveis e instáveis que provém deste
ponto. Uma condição inicial típica escolhida dentro desta região caótica produzirá uma trajetória que não coincide,
exatamente, com as demais variedades. Entretanto, as trajetórias seguem aproximadamente as mesmas direções, sendo
que as iterações para frente (para trás) produzem trajetórias arbitrariamente próximas de um trecho das variedades
instáveis (estáveis).
Acompanhando-se as variedades na Fig. 12(a), observamos o fenômeno de esticamento e dobra (Stretching
and Folding) bastante comum nos sistemas caóticos conservativos (Lichtenberg, 2002). O efeito de esticamento é
caracterizado pelo afastamento de pontos inicialmente próximos após uma pequena evolução toroidal. No entanto, as
trajetórias também sofrem o mecanismo de dobra, que está associado ao aprisionamento de algumas linhas de campo
magnético por regiões regulares (ilhas de estabilidade). Conforme a Fig. 12(b), este fenômeno é conseqüência do
Teorema de Liouville, que diz respeito da conservação de áreas em sistemas integráveis e com perturbações de pequena
Anais do XIV ENCITA 2008, ITA, Outubro, 20-23, 2008
,
amplitude. Logo, se há conservação da área em regiões próximas às ilhas, deverá haver maior “esticamento” ao
aproximar do ponto fixo hiperbólico.
Figura 11. Variedades correspondentes ao Mapa de
Poincaré 4 com I h = 2% de I P e (m0 , n0 ) = (4,1).
Figura 13. Variedades correspondentes ao Mapa de
Poincaré 7 com I h = 2% de I P e (m0 , n0 ) = (5,1).
14(b)
12(b)
Figura 12(a). Variedades correspondentes ao Mapa de
Poincaré 5 com I h = 5% de I P e (m0 , n0 ) = (4,1).
Figura 14(a). Variedades correspondentes ao Mapa de
Poincaré 8 com I h = 5% de I P e (m0 , n0 ) = (5,1).
Figura 12(b). Ampliação da seção selecionada na
Figura 12(a), representando a validade do Teorema de
Liouville.
Figura 14(b). Ampliação da seção selecionada na
Figura 14(a), representando a perda de regularidade das
variedades.
Quando aplicada a corrente de perturbação de I h = 2% de I P , conforme a Fig. 13, as variedades apresentam
um comportamento delineado pela formação da cadeia de ilhas. Podemos observar através da Fig. 7 que a trajetória das
linhas de campo magnético na borda do plasma possui uma estrutura bem definida pelas variedades estáveis e instáveis
associadas a cada ponto fixo hiperbólico. Observamos pela Fig. 14(a) que ao intensificar a corrente de perturbação,
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,
essas variedades atingem regiões caóticas (mar estocástico), em que há destruição das cadeias de ilhas perturbadas
vistas na Fig. 8, e a regularidade das variedades é perdida, conforme a Fig. 14(b). A complexidade notada nas
variedades é o motivo fundamental do comportamento caótico das linhas de campo magnético quando estas sofrem uma
perturbação.
7. Conclusão
Estudamos as linhas de campo magnético em tokamaks, geradas através de perturbações ressonantes de um
LME. Tem-se particular interesse no estudo das linhas de campo que colidem com a parede da câmara de
confinamento, já que as partículas acompanham as linhas de campo. Assim, pretende-se estudar o comportamento das
linhas com o objetivo de se evitar a contaminação do plasma por impurezas e o aquecimento excessivo e localizado em
tokamaks. Através das coordenadas polares toroidais, representamos corretamente os efeitos toroidais de um tokamak.
Buscamos soluções para alta razão de aspecto. Devido a este sistema de coordenadas escolhido, as superfícies
magnéticas não possuem simetria poloidal, apresentando o chamado deslocamento de Shafranov, que resulta na
helicidade não constante das linhas de campo magnético e, conseqüentemente, do fator de segurança. Obtemos os
Mapas de Poincaré através de uma função delta para a posição dos anéis limitadores e da formulação Hamiltoniana para
o traçado das linhas de campo magnético. Traçamos os mapas para os modos (4,1) e (5,1) em diferentes intensidades de
perturbação, e verificamos a formação e destruição das cadeias de ilhas magnéticas, e a não validade da Teoria KAM
devido ao perfil da densidade de corrente toroidal não-monotônico. Posteriormente estudamos as variedades estáveis e
instáveis associadas aos pontos fixos hiperbólicos, permitindo verificar a natureza caótica deste sistema dinâmico nãolinear.
3. Agradecimentos
O presente trabalho foi realizado com apoio do CNPq, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico – Brasil.
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