Agência de Notícias Brasil-Árabe - SP 21/08/2012 - 07:00 Depois de Constantino O cineasta Otavio Cury comemora a repercussão positiva do filme que fez sobre seu bisavô sírio. Ele fala de bastidores da produção e de projetos em gestação. Marcos Carrieri São Paulo – O esforço valeu a pena. Depois de quase 12 anos do dia em que teve a ideia de fazer um filme sobre a história de seu bisavô sírio e a estreia do longa-metragem, o diretor Otavio Cury agora comemora a repercussão positiva do filme que estreou na 7ª Mostra Mundo Árabe de Cinema, em junho. Em cartaz até o dia 23 no CineSesc, em São Paulo, a produção deverá ser exibida ainda neste ano em dois festivais de cinema, um no Brasil e outro no exterior. “A repercussão que o filme teve foi muito boa, fico muito feliz por isso. Agora está em cartaz no CineSesc, que recebe um público selecionado. Constantino não é um filme comercial e por isso tem outras estratégias de divulgação e de distribuição”, disse o cineasta. Constantino retrata a história do bisavô de Cury, Daud Constantino Al-Khoury, que foi jornalista, professor e dramaturgo e é considerado um dos “pais” do teatro sírio, ao lado de Abu Khalil Al Qabbani. Constantino nasceu em Homs, em 1860, e foi professor de matemática e de artes. Em 1891, ele adaptou a peça “A princesa Genevieve”, que foi encenada por seus alunos e é uma das primeiras do teatro sírio em uma época em que o país era dominado pelo Império Otomano. Em 1909, Constantino passou a ser o editor do Jornal Homs, no qual publicou poemas e artigos sobre a situação dos árabes. Na “renascença árabe”, Constantino e outros intelectuais publicaram os primeiros textos em árabe após 400 anos de dominação otomana na região. Quando era professor em Homs, começou a escrever um livro que só seria publicado anos depois e que seria o começo do filme feito por seu bisneto. Quando imigrou para o Brasil, em 1926, os manuscritos de “Obras completas do mestre Daud Constantino Al-Khoury” ainda estavam com ele. Constantino morreu em 1939 sem publicar o livro. Nos anos 60, o diplomata sírio Shakir Mustafá recebeu os manuscritos por acaso e os publicou em árabe clássico anos mais tarde. Divulgação Cena do filme mostra o livro Foi numa viagem com a família à Homs, em 13 de setembro de 2001, que Cury ficou sabendo da existência do livro. “As histórias se espalham rapidamente no Oriente Médio. Falei que era bisneto do Constantino e logo isso se espalhou. Souberam que os descendentes dele estavam na Síria e fizeram uma recepção para nós na única noite em que passamos em Homs. Nesta ocasião eu fiquei sabendo do livro e me interessei”, recorda Cury. Desde então, ele começou a buscar documentos para reconstituir a história e a biografia de seu bisavô. Depois, saiu em busca de patrocínio para gravar o filme. Com dinheiro e roteiro, Cury e parte da equipe foram ao Oriente Médio em 2009 gravar Constantino. O diretor afirma que, embora o filme não tenha o objetivo de comparar a realidade de Constantino com a da Síria atual, a história de seu bisavô retrata a busca de algumas pessoas pelo direito à liberdade de expressão e sua oposição à repressão de governos ditatoriais. “O filme mostra a luta pela liberdade na época dele (do bisavô)”, afirma o diretor. Cury já se prepara para lançar neste ano outro filme, Xié, sobre o trabalho voluntário de médicos cirurgiões na floresta amazônica. Também continuará com a história de Constantino: “Para fazer o filme reuni uma quantidade muito grande de documentos, imagens e histórias. Pretendo mostrar isso em um livro”, diz. Esses projetos já estão encaminhados. Além deles, o cineasta se prepara para voltar à temática árabe com histórias sobre os deslocamentos e processos migratórios dos moradores do Oriente Médio. http://www.anba.com.br/ www.inovsi.com.br