0 INSTITUTO FERDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE SANTA CATARINA CURSO TÉCNICO EM METEOROLOGIA FELIPE ROBERTO LONGO RICHARD FRAGA WESLEY MATEOS SILVA METEOROLOGIA E RECURSOS COSTEIROS Florianópolis 2013 1 FELIPE ROBERTO LONGO RICHARD FRAGA WESLEY MATEOS SILVA INSTITUTO FERDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE SANTA CATARINA CURSO TÉCNICO EM METEOROLOGIA METEOROLOGIA E RECURSOS COSTEIROS Monografia de curso técnico apresentado ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina (IFSC) como requisito parcial para a obtenção do título de Técnico em Meteorologia. Orientador : Prof. Michel Muza Florianópolis Dezembro de 2013 2 RESUMO O presente estudo apresenta alguns conceitos e fenômenos globais que ocorrem tanto na atmosfera como também nos oceanos, que influenciam na vida, no trabalho das pessoas como no desenvolvimento de algumas atividades relacionadas com os aspectos climáticos que colaboram ou prejudicam dependendo dos impactos que o clima da região pode proporcionar. Compreendendo um pouco mais sobre estes acontecimentos provenientes das relações entre oceano-atmosfera e formas de trocas de energias das correntes marinhas conheceram-se os reflexos na temperatura da superfície do mar, a salinidade que provoca uma riqueza de sedimentos aflorados das profundezas colaborando com o ambiente marinho, assim tornandose uma região promissora em cultivo da maricultura como para a pesca local. Palavras chave: Circulação Atmosférica; Coriolis; Correntes Marinhas; Ekman; Ressurgência; Maricultura e Pesca. 3 LISTA DE FIGURAS FIGURA 1: Representação da força de Coriólis........................................................ 8 FIGURA 2: Células da circulação geral da atmosfera............................................... 10 FIGURA 3: Modelo de circulação de um oceano ideal, submetido apenas às forças horizontais dos ventos (flechas grossas em cinza). A velocidade e sentido dos ventos superficiais estão representados de forma aproximada à esquerda................................................................ 11 FIGURA 4: Corrente termohalina associada a outras correntes oceânicas............... 12 FIGURA 5: Correntes Brasil / Malvinas.................................................................... 13 FIGURA 6: Espiral de Ekman mostrando o deslocamento da massa de água sob acção do vento........................................................................................ 14 FIGURA 7: Ressurgência ou upwelling.................................................................... 15 4 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO.................................................................................................. 5 2 OBJETIVOS....................................................................................................... 6 2.1 Objetivo Geral..................................................................................................... 6 2.2 Objetivos Específicos.......................................................................................... 6 3 CIRCULAÇÃO GERAL ATMOSFÉRICA.................................................... 7 3.1 Coriólis.......................................................................................................... 7 3.2 Circulação Geral daAtmosfera.......................................................................... 8 3.2.1 Célula de Hadley.................................................................................................. 9 3.2.2 Célula de Ferrell................................................................................................... 9 3.2.3 Célula de Polar...................................................................................................... 10 4 CIRCULAÇÃO GERAL OCEÂNICA............................................................. 11 4.1 Termohalina........................................................................................................ 12 4.2 Correntes Brasil / Malvinas.............................................................................. 13 4.3 Espiral de Ekman...................................................................................... 14 4.4 Ressurgência........................................................................................................ 14 4.4.1 Ressurgência na costa Brasileira.......................................................................... 5 FERTILIZAÇÃO DA COSTA.......................................................................... 16 6 MARICULTURA E SUAS RELAÇÕES......................................................... 7 CONCLUSÃO..................................................................................................... 19 15 17 REFERÊNCIAS.................................................................................................. 20 5 1 INTRODUÇÃO Apresentaremos nesta revisão bibliográfica alguns conceitos que envolvem os movimentos da terra e sua atmosfera, a circulação atmosférica que ocorre pelo fato de o sol aquecer a terra onde esta distribuição de energia é desigual, fazendo com que a região equatorial e tropical receba mais energia que nas latitudes médias e polares. Outro efeito observado que nos ajuda a compreender a direção dos ventos e das correntes marinhas é a força de Coriolis que por sua vez tem a propriedade de propor a tendência de todo corpo em movimento se deslocar para a esquerda no Hemisfério Sul e a direita no Hemisfério Norte. Esta força aparente é ocasionada pela velocidade de rotação da terra e seu movimento de oeste para leste. A circulação geral da atmosfera é responsável por definir o clima do nosso planeta, pois a terra busca equilibrar-se termicamente distribuindo sua energia para lugares desprovidos. Com relação aos fenômenos ocorridos nos oceanos este estudo analisa as correntes marinhas, que são movimentos de massas de água resultantes dos ventos, se caracterizam também pela diferença de temperatura, salinidade ou termohalinas. Nesse sentido, a Espiral de Ekman por sua vez representada pela força de Coriolis, é responsável por deslocar massas de água em sentido que apresente um rumo a seguir mais compreensível no âmbito que sabemos diferenciar já a simples direção dos ventos e águas para o entendimento de que este movimento sofrerá um desvio à esquerda no nosso hemisfério. Objetivando comprovar que a costa catarinense representa uma riqueza em nutrientes capazes de fortalecer cultivos da maricultura e pesca, a ressurgência, que ocorre devido aos ventos que paralelos à costa, atua no sentido de deslocar massas de água que por sua vez liberam espaço na superfície tornando possível o afloramento de aguas mais profundas com propriedades sedimentares e de salinidade altas enriquecendo a região. 6 2 OBJETIVOS 2.1 Objetivo Geral Apresentar a influência dos fenômenos atmosféricos relacionados a interação com os oceanos e os processos que envolvem o transporte de águas ricas na prevalência de nutrientes a fim de colaborar com a produção da maricultura na região local. 2.2 Objetivos Específicos Definir os conceitos de circulação geral da atmosfera para melhor entendimento da relação oceano- atmosfera; Demonstrar os principais fenômenos envolvidos no favorecimento da fertilização das águas próximas à costa; Relacionar estes fenômenos com a maricultura da costa do sul do Brasil. 7 3 CIRCULAÇÃO GERAL ATMOSFÉRICA Sabemos que o oceano e a atmosfera têm comportamentos muito parecidos, pois ambos são fluidos e interagem mutuamente. Nesta interface oceano-atmosfera a circulação atmosférica interfere na superfície do mar, causando fatores climáticos como as correntes oceânicas superficiais e provocando alterações na temperatura da superfície do mar, salinidade e densidade. Desse processo podemos observar alguns elementos climáticos associados como a temperatura do ar, evaporação, precipitação e vento. Alguns dos fenômenos de natureza global como a circulação geral da atmosfera em que o sol aquece toda a Terra, todavia, encontramos uma distribuição desigual de energia à superfície do globo: as regiões equatorial e tropical recebem mais energia solar que as latitudes médias e as regiões polares. A energia radiante recebida nos trópicos é maior a que essa região é capaz de emitir enquanto as regiões polares emitem mais do que recebem. Se não se verificasse um transporte de energia dos trópicos para as regiões polares, a temperatura da região tropical aumentaria de modo indefinido enquanto as regiões polares continuariam com uma temperatura cada vez menor. É este balanço térmico que movimenta a circulação da atmosfera na qual os oceanos tem seu papel fundamental (PROCLIRA, 2013). Para entendermos estes processos se faz necessário analisar as principais variáveis de interação que influenciam diretamente nas correntes oceânicas. 3.1 Coriolis O Efeito de Coriolis (nome homenagem ao seu descobridor Gaspard Coriolis) é a tendência que qualquer corpo em movimento sobre a superfície terrestre tem de mudar seu curso devido à direção rotacional de oeste para leste da terra e sua velocidade. No Hemisfério Norte (HN), este movimento é no sentido horário (para a direita) e no Hemisfério Sul (HS) no sentido inverso (anti-horário), conforme representado na figura 1. O valor da deflexão depende da velocidade do ar (quanto mais rápido, menor a deflexão) e da latitude (zero no equador e máxima nos polos), como também do atrito entre o ar que se move e a superfície da Terra (quanto maior o atrito, menor a deflexão). 8 Este efeito atua também nas correntes marítimas, pois a água (líquido) sofre deformações (MENEZES, 2013). Fonte: http://www.uff.br/ecosed/Correntes.pdf FIGURA 1: Representação da força de Coriolis 3.2 Circulação Geral da Atmosfera A circulação geral da atmosfera define grande parte do clima do nosso planeta. A terra busca equilibrar-se termicamente, distribuindo sua energia que resta para lugares desprovidos. Esta energia é distribuída mediante movimentos verticais (ascendentes ou subsidentes), horizontais (convergência ou divergência), este último denominado de ventos. Este ar em movimento possui comportamentos característicos de convergência ou divergência (movimento horizontal), podendo ser também ascendentes ou subsidentes (movimento vertical). Este comportamento se dá devido ao ganho ou à perda de temperatura, que está diretamente ligada às latitudes em que este circula. Este processo é chamado de circulação geral da atmosfera. 9 Este modelo está associado aos cinturões de pressão na superfície que são caracterizados por alta pressão com o ar subsidiando e divergindo e os de baixa pressão com o ar convergindo e ascendendo. Na linha do equador observamos o cinturão de baixa pressão associado à Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) onde os ventos aquecidos ascendem gerando as baixas nestas latitudes. Este sistema é chamado de depressão equatorial. Os anticiclones subtropicais se encontram nas latitudes médias, que como característica tem o ar vindo do equador perdendo calor ou diminuindo a temperatura da qual gera sua subsidência e divergência. Já nas latitudes próximas aos polos temos um sistema de baixa devido às frentes polares, e nos polos um sistema de alta associado ao ar frio e denso desta região. A circulação geral da atmosfera é dada por três células: Célula de Hadley, Ferrell e Polar em ambos os hemisférios. 3.2.1 Célula de Hadley A célula de Hadley se encontra na latitude 0° e se estende a 30° ao HN e 30° ao HS. A célula de Hadley se forma na zona de convergência intertropical, onde os ventos alísios convergem. Nesta latitude estes ventos se aquecem e ascendem logo, quando alcançam altitude se divergem em direção aos polos transportando calor para as latitudes médias de 30°, onde subsidem. 3.2.2 Célula de Ferrel A célula de Ferrel ou célula de latitudes médias está localizada de 30° latitude a 60 ° em ambos os hemisférios. Os ventos próximos à superfície sopram em direção aos polos e logo a 60° ascendem e sopram em direção ao equador. 10 3.2.3 Célula Polar A célula Polar é caracterizada pelo ar que sopra em direção ao equador até próximo de 60° de latitude, onde se aquecem, ascendendo e retornando aos polos. Quando os mesmos alcançam os polos resfriando-se, subsidem e divergem. Na figura 2 apresentaremos o Modelo de circulação atmosférica representando as células de Hadley (1), as células de Ferrel (2) e as células polares (3) em suas respectivas posições latitudinais e os centros de alta pressão (A) e baixa pressão (B). Fonte: http://www.uff.br/ecosed/Correntes.pdf FIGURA 2: Células da circulação geral da atmosfera 11 4 CIRCULAÇÃO GERAL OCEÂNICA O oceano também participa do processo de distribuição de calor do nosso planeta por meio das correntes marinhas. Estando a atmosfera e o oceano em constante interação, o modelo de circulação geral da atmosfera demostra a influência direta nas principias correntes de superfície, pois correntes marinhas são movimentos de massas de água resultantes de ventos que sopram persistentemente em uma direção (estes formam as correntes de superfície horizontais) Além disso, as correntes também se formam pela diferença de salinidade e temperatura da água ou termohalinas ( formando as correntes verticais) (MENDES; GOMES, 2007). Pela análise da figura 3, é possível verificar que, quando os ventos alísios sopram de leste paralelos à linha do equador, sua força de atrito em contato com a água gera as correntes equatoriais, uma vez que essas encontram os continentes e se deslocam em direção ao sul ou ao norte. Ao atingir as latitudes médias essas massas d'agua sofrem influência dos ventos que sopram de oeste e sua direção é novamente alterada, assim, fechando a sua circulação. Já nos círculos polares, pela falta de continente, essas massas d’água giram livremente (MENDES; GOMES, 2007). Fonte: Adaptado de Mendes e Gomes, 2007: FIGURA 3: Modelo de circulação de um oceano ideal, submetido apenas às forças horizontais dos ventos (flechas grossas em cinza). A velocidade e sentido dos ventos superficiais estão representados de forma aproximada à esquerda. 12 4.1 Termohalina Além das correntes superficiais há correntes marinhas profundas causadas por diferenças de densidade da água do mar. Estas correntes, são conhecidas como termohalinas e referem-se aos oscilações de água produzidos quanto a densidade se muda por variações de temperatura ou salinidade em alguma região oceânica superficial (WALLACE e Hobbs, 2006). O aumento de densidade pode advir pelo resfriamento da água, diante do excesso de evaporação sobre a precipitação pluvial ou até mesmo pela formação de gelo e assim há o acréscimo de salinidade das águas circunvizinhas (WALLACE e Hobbs, 2006). Devido às baixas temperatura, a água é cada vez mais densa e assim afunda lentamente. Ao afundar essas águas empurram as águas profundas, dando início ás correntes termohalinas que fluem em direção ao Equador (figura 4) (RAHMSTORF, 2002; WALLACE e Hobbs, 2006). A termohalina é de grande importância, pois seu movimento vertical faz com que seja realizada uma troca gasosa (oxigênio) das águas profundas de origem polar com as águas superficiais. Se não houver esta troca os oceanos profundos ficariam sem oxigênio pela oxidação da matéria orgânica dessas águas profundas. A diferença entra as correntes marinhas que ocorrem na superfície em associação com a circulação geral e a circulação termohalina, processo gerado pela temperatura, salinidade e densidade, é a escala de tempo que a cada uma apresenta. Enquanto as correntes marinhas tem variação de dias a meses a circulação termohalina varia de décadas a séculos (WALLACE e Hobbs, 2006, SATO, 2013; RAHMSTORF, 2002). 13 Fonte: Rahmstorf, Stefan 2002. FIGURA 4: Corrente termohalina associada a outras correntes oceânicas. 4.2 Correntes Brasil / Malvinas A corrente do Brasil (CB) é uma corrente quente e rasa de arredor Oeste formada e desenvolvida ao largo da costa brasileira. Contudo, é considerada uma corrente fraca se comparada com a Corrente do Golfo (CG), outra corrente de contorno oeste que faz parte do giro do Atlantico Norte. As correntes de contorno oeste são caracterizadas por fluxos intensos, estreitos e bem definidas, fluindo ao largo de margens continentais. Para explicar as altercações de transporte entre a CB e a Corrente Malvinas (CM), Stommel (1965) apud Rabelo (2010), usou a explicação do sentido dos elementos do transporte das correntes geradas pelo vento e circulação termohalina. No caso da CG, essas componentes se somariam. O oposto ocorre pra CB e isso a torna mais fraca (RABELO, 2010). A concepção da corrente Malvinas (CM) se dá por uma ramificação da Corrente Circumpolar Antártica que é suscitada durante o seu percurso pela passagem de Drake e flui no sentido do Equador (Fig. 5), acompanhando a isóbata de 1000 m (RABELO, 2010). A literatura traz uma diversidade de dados em relação à temperatura da CM. Há autores que indicam que esta corrente é composta pela água Superior Subantártica nos primeiros 400 m com a sua temperatura variando de 4 °C a 14 °C (mínima de inverno e máxima de verão). Outros autores apontam um valor de 10 °C encontrado no núcleo da CM. Piola e Matano (2001) apud Rabelo (2010) citam que os níveis superiores da CM contém água Subantártica com temperaturas inferiores a 15 °C (RABELO, 2010). 14 Fonte: http://geografando-1k.blogspot.com.br/2012/05/ressurgencia.html FIGURA 5: Correntes Brasil / Malvinas 4.3 Espiral de Ekman Ao se deslocar as massas d´agua horizontais sofrem a influência da força de Coriolis, que altera sua direção à esquerda no HS e à direita no HN, conforme representado na figura 6. Assim, o sentido das correntes que imaginamos ser uma massa homogênea que se desloca em uma linha contínua na mesma direção do vento que a impulsiona é capaz de movimentos circulares. A força de Coriolis empurra esta corrente a 45° à esquerda no HS e à direita no HN. Este desvio vai se dando em camadas, aprofundando-se aproximadamente 100 metros. Quanto mais se aprofunda a corrente segue o giro a 45° a cada camada, mas perde intensidade devido ao atrito das moléculas d’água. Esse movimento forma um espiral conhecido como Espiral de Ekman (LEOTE, 2012) . Fonte: Leote, 2012 FIGURA 6: Espiral de Ekman mostrando o deslocamento da massa de água sob ação do vento. 4.4 Ressurgência Na proximidade da costa temos um fenômeno chamado de ressurgência. A ressurgência ocorre quando os ventos sopram paralelos à costa. Sua força de atrito desloca uma grande quantidade de água, que ao se deslocar cria um espaço onde águas mais profundas afloram. Esse processo é conhecido como upwelling ou ressurgência, conforme exemplo demonstrado na figura 7. Essa água mais profunda e rica em nutrientes é responsável pela atividade biológica, criando, assim, o lugar propício à produtividade orgânica, resultando na produtividade pesqueira local (maricultura). 15 Fonte: http://www.mergulhadores.com.br/portal/conteudo/_/materias/oceanos FIGURA 7: Ressurgência ou upwelling 4.4.1 Ressurgência na costa Brasileira A rotação da terra ou efeito de Coriólis junto ao atrito dos ventos na superfície do mar desloca as águas costeiras para longe da costa fazendo com que haja movimentos ascendentes de massas d’água ricas em nutrientes. Essas águas promovem um desenvolvimento rápido do fitoplâncton e o aumento da produção primária (matérias orgânicas a partir de compostos inorgânicos por plantas, algas e bactérias) (JERÔNIMO FILHO, 2013). O fenômeno que ajuda a trazer estas águas próximas à costa é a ressurgência evento associado aos ventos locais que sopram paralelamente à costa. Os ventos paralelos associados ao espiral de Ekman deslocam grandes quantidades de água para fora da plataforma continental, criando, assim, um espaço que é preenchido por essas águas profundas e ricas em nutrientes (SILVA; DOURADO, CANDELLA 2013). O Brasil está em 25ª posição na produção de pescados, pois a costa brasileira é considerada pobre por causa de vários efeitos como a quebra de plataforma continental, além de vórtices ciclônicos. O processo de ressurgência mais conhecido no Brasil é em Cabo Frio (Rio de janeiro) e em Cabo de Santa Marta (Santa Catarina) onde há uma grande concentração de pequenos peixes como a sardinha e o atum (JERÔNIMO FILHO, 2013). 16 5 FERTILIZAÇÃO DA COSTA BRASILEIRA O Brasil sofre a ação de duas correntes principais em sua costa, a corrente do Brasil (CB) e corrente Malvinas (CM). Em um ponto de nossas costas ambas se encontram formando, assim, a confluência Brasil Malvinas (CBM). Quando estas correntes se encontram, parte delas são misturadas. Todavia, a maior parte destas águas se divide em camadas devido à diferença de densidade e salinidade. As águas geladas oriundas da Antártida são mais densas e tendem a afundar, fluindo pelas camadas inferiores próximas à plataforma continental. Já a corrente do Brasil, por ter águas mais quentes oriundas de regiões tropicais, tende a fluir mais próxima à superfície (SILVA; DOURADO, CANDELLA 2013). A grande importância para fertilização das águas de nossas costas está relacionada com as águas oriundas da Antártida trazidas pela CM. Essas águas geladas que permanecem em grandes profundidades são ricas em nutrientes. Isto pode ser explicado pela pouca luz do sol que chega a essas profundidades. A baixa incidência de luz solar faz com que os vegetais marinhos (algas) não consigam realizar a fotossíntese. Por consequência disto, o consumo de nutrientes é menor e acaba por estocar-se na coluna d’agua (SILVA; DOURADO, CANDELLA 2013). É estimado que 50% da produção psícola mundial se efetua nestas áreas de fusão entre as correntes, pois estas águas mais férteis são capazes de proporcionar o desenvolvimento do plâncton (algas, bactérias, protozoários, e outros organismos como minúsculos crustáceos) os quais fazem parte da base da cadeia alimentar dos oceanos, desencadeando, assim, nestas regiões uma população de organismos marinhos e peixes (SILVA; DOURADO, CANDELLA 2013). 17 6 MARICULTURA E SUAS RELAÇÕES A aquicultura destinada ao cultivo de espécies marinhas tem crescido rapidamente em termos mundiais, com os países asiáticos em posição de maior destaque (IMO, 2001). No Brasil, onde o setor parece ganhar corpo, Santa Catarina encontra-se entre os estados de maior importância: sua ampla costa testemunhou o surgimento e, nos anos 90, a ampliação do cultivo de mexilhões e ostras seguidos por excelentes resultados como os camarões e peixes. Em termos nacionais, Santa Catarina sobressai principalmente na ostreicultura em período que as quantidades produzidas correspondiam a uma simples fração do que foi alcançado nos últimos anos (LINS, 2006). Santa Catarina é o maior produtor nacional de ostras e mexilhões cultivados. A atividade envolve cerca de mil famílias, resultando em torno de 6 mil empregos diretos e indiretos. A área total de criação atinge 900 hectares, divididos em 12 parques aquícolas. Mais de 90% da produção brasileira saem de águas catarinenses, num volume anual de cerca de 15 milhões de toneladas (Santa Catarina, Brasil, 2013). Observando que as classes de organismos cultivados em Santa Catarina ocorrem em ambientes abertos, sendo, sob influência direta das condições do tempo e do clima, estes impactos podem ser determinantes na sobrevivência e continuidade da produção. A atuação de sistemas atmosféricos extremos, como temporais, vendavais e variações bruscas na temperatura podem ocasionar graves perdas nos cultivos. Assim, não há como exercer uma intervenção que possa alterar estes eventos meteorológicos. Todavia, o conhecimento dos padrões atmosféricos locais é de extrema importância para determinar sensatas práticas e manejos de prevenção, evitando perdas econômicas significativas, provocadas pelo próprio evento ou por enfermidades causadas pelo estresse consequente destes acontecimentos (HARAKAWA, 2009). Os principais fatores que afetam a aquicultura são alterações bruscas de temperatura, que causam estresse nos animais, e chuvas intensas que promovem alterações na salinidade da água. Estes fenômenos podem ocorrer em sequência ocasionada pela atuação de frentes frias, que primeiro trazem a instabilidade e em seguida a redução da temperatura (HARAKAWA, 2009). De acordo com Andrade e Cavalcante (2004), na América do Sul estes sistemas são responsáveis principalmente por acumulados expressivos de chuva e incursões de ar frio. Conforme Poli et al.,apud Harawaka, 2009, a ação dos ventos, ondas e correntes marinhas são fatores decisivos a serem ponderados quando da instalação das estruturas de 18 cultivo. Dessa forma, o conhecimento prévio da atuação e frequência de sistemas atmosféricos que possam atingir desta maneira uma produção deve ser primordial. Por encontrar-se em latitudes médias o Estado de Santa Catarina sofre influências climáticas tanto de características tropicais quanto subtropicais, possuindo estações bem definidas e chuvas bem distribuídas por todo o ano. No verão, há predomínio das massas de ar de origem tropical e durante o inverno, especialmente de massas polares. As frentes frias são as fundamentais responsáveis por incursões de massas de ar polar no estado catarinense, que durante o inverno podem ocasionar geadas e até neve em maiores altitudes. Já no verão, geralmente ocorrem relacionadas à convecção tropical, provocando chuvas e temperaturas mais amenas (HARAKAWA, 2009). O efeito de Coriolis por sua vez nos esclarece a resultante, de qualquer corpo em movimento ao se deslocar para a esquerda dele no HS e à direita no HN, justificado pelo movimento de rotação e velocidade da terra que por sua vez se desloca de oeste para leste. Assim, facilitando, nossa compreensão da direção dos ventos e deslocamento dos sistemas meteorológicos em movimento (PROCLIRA, 2013). Sabemos também que as correntes marinhas, por sua vez fluem da região equatorial oriundas de leste, deslocando-se para os HS e HN sofrendo influência dos ventos que alteram seu curso e fecha assim seu ciclo, nas regiões polares estas massas d´agua movimentam-se livremente pela falta de continente (PROCLIRA, 2013). 19 7 CONCLUSÃO Este trabalho apresentou alguns conceitos principais para compreender melhor os mecanismos da atmosfera, assim como sua circulação geral que é resultado de balanços de energias e trocas de calor e massa, colaborando com a fertilização das águas e ocasionando também transtornos relacionados aos efeitos climáticos. Neste estudo obtivemos aprendizado numa larga escala de conhecimentos envolvidos nos aspectos meteorológicos e relações com diversos acontecimentos atmosféricos ou de relação oceano-atmosfera. Ressalta-se que os efeitos que envolvem nossa atmosfera, rotação da Terra e fenômenos de compensação e oscilação das camadas da superfície da água resultam num maior acréscimo de nutrientes colaborando com os cultivos de maricultura e a pesca na nossa região. Agregamos aos conhecimentos em meteorologia para podermos relacionar esta alta produtividade de nossa região aos efeitos e modelos de circulação geral da atmosfera, transformando dia após dia nossos recursos e atividades humanas dependentes desta porção que faz parte de um todo chamado planeta Terra. 20 REFERÊNCIAS ANDRADE, K. M.; CAVALCANTI, I. F. A. Climatologia dos sistemas frontais e padrões de comportamento para o verão na América do Sul. In: XIII Congresso Brasileiro de Meteorologia, 2004, Fortaleza. CD - Anais do XIII Congresso Brasileiro de Meteorologia, 2004. HARAKAWA, M. T. Aquicultura em Santa Catarina: A influência do clima nos diferentes tipos de cultivos. Florianópolis. 2009. 38p. 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