1 Análise da Sensibilidade das Distorções Harmônicas de Usinas Eólicas em Função do Nível de Curto Circuito no PAC Utilizando a Metodologia de Lugares Geométricos do ONS Silas Yunghwa Liu (PPGEE/Universidade Federal de Minas Gerais), Gervásio Saraiva Lara (Enecel Energia), Selênio Rocha Silva (DEE/Universidade Federal de Minas Gerais) Resumo—Este artigo pretende fazer uma apresentação, tal como explicação do método de Lugar Geométrico, sugerido pelo ONS para estudos de sensibilidade do sistema elétrico da Rede Básica, mediante novas instalações no Ponto de Acoplamento Comum (PAC). O método é importante para analisar a sensibilidade do PAC frente a distorções harmônicas, muito comum em certas tecnologias empregadas em usinas eólicas. O trabalho faz uma análise, a partir de estudos de caso reais, da influência do nível de curto circuito no PAC, a partir dos resultados obtidos pelo Lugar Geométrico. Palavras Chave—Distorções Harmônicas, Lugar Geométrico, Nível de Curto Circuito, ONS, Sensibilidade. I. NOMENCLATURA CGE LG ONS PAC SE Central Geradora Eólica Lugar Geométrico Operador Nacional do Sistema Ponto de Acoplamento Comum Subestação Sobrescritos max, min Valor máximo, mínimo II. INTRODUÇÃO A O longo dos anos a energia eólica vem ganhando espaço no mundo e no Brasil. A integração dos aerogeradores à rede elétrica é cada vez mais significativa. Entretanto, ainda existe uma carência de planejamento a longo prazo, a fim de reforçar a interligação das usinas eólicas aos sistemas elétricos de Rede Básica e assim garantir índices de qualidade de energia abaixo dos limites permitidos pelos Procedimentos de Este trabalho foi desenvolvido com auxílio financeiro das agências de fomento FAPEMIG e CAPES/CNPQ. Silas Yunghwa Liu é aluno de doutorado do PPGEE-UFMG, Universidade Federal de Minas Gerais, Av. Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG – Brasil (e-mail: [email protected]). Gervásio Saraiva Lara é engenheiro eletricista e consultor sênior da Enecel Energia, R. Conselheiro Quintiliano Silva, 20 – Santo Antônio – Belo Horizonte – MG – Brasil (e-mail: [email protected]). Selênio Rocha Silva é professor titular da Universidade Federal de Minas Gerais, Av. Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG – Brasil (e-mail: [email protected]). Rede do ONS [1], [2]. A análise das influências da injeção de correntes harmônicas nas redes elétricas para diversos níveis de curto circuito pode antever que a interligação deverá ser reforçada antes de ser concretizada ou que uma solução de mitigação para diminuir essas distorções possa ser previamente prevista. Embora existam diversos trabalhos envolvendo os harmônicos injetados por aerogeradores, como em [3] e [4], este trabalho emprega fontes de corrente para representar os conversores estáticos e foca o estudo em cima do Ponto de Acoplamento Comum (PAC), analisando o impacto da inserção de uma usina eólica e avaliando sua sensibilidade quanto ao nível de curto circuito do PAC. Para as análises do sistema elétrico são realizados cálculos no software Harmzs que obtém valores de impedâncias harmônicas da Rede Básica, a partir do PAC estudado. A metodologia do Lugar Geométrico (LG) é utilizada nesse estudo, conforme sugerido pelo ONS [5]. Para a análise do LG foi desenvolvido um software em ambiente Matlab, nomeado ‘HarmLG’ que tem como entrada os valores disponibilizados pelo Harmzs, assim como o equivalente Norton da Rede Interna integrado ao PAC. O trabalho é dividido em 6 seções. A seção III explica o desenvolvimento do trabalho. A seção IV apresenta a metodologia empregada, bem como a explicação do método do Lugar Geométrico e sua análise. A seção V apresenta a análise dos dados e os resultados obtidos. Por fim a conclusão se encontra na seção VI. III. DESENVOLVIMENTO São escolhidas duas subestações (SEs) em 230 kV e duas em 500 kV com níveis de curto circuito distintos, na região nordeste, o mais próximo dos parques eólicos existentes. As análises realizadas ocorrem nas SEs de Acaraú (CE) e Campina Grande (PB) para 230 kV e Quixadá (CE) e Sobral (CE) para 500 kV, com os níveis de curto circuito trifásico como mostra a Tabela I. A Central Geradora Eólica (CGE) empregada no trabalho possui 17 aerogeradores constituídos por máquinas síncronas, conectadas ao sistema através de conversores estáticos, com potência nominal de 1,5 MW cada. Para a análise harmônica, os conversores estáticos são representados através de fontes de 2 Fig. 1. Diagrama unifilar da usina eólica. SE ACARAÚ CAMPINA GRANDE QUIXADÁ SOBRAL TABELA I SUBESTAÇÕES ANALISADAS CC 3Φ, EM MVA 230 KV 500 KV 1.050 4.170 4.700 6.000 encontrar as ordens harmônicas ressonantes possíveis de um PAC ligado a uma CGE: (2) (3) corrente harmônicas. A Fig. 1 apresenta o diagrama unifilar da CGE, levando-se em conta os 17 aerogeradores. A Fig. 2 mostra uma representação esquemática simplificada da fonte de corrente harmônica e o filtro de alta ordem que é presente na saída de cada aerogerador [6]. A partir de (2) e (3) observa-se que a ordem harmônica ressonante no PAC pode ser bem diferente, de acordo com o seu nível de curto circuito. Enquanto é uma ordem maior e não apresenta muitos problemas, é uma ordem bem próxima da fundamental, o que pode apresentar componente expressivo e resultar em ressonâncias indesejadas. Para o estudo de caso apresentado, o espectro utilizado de correntes harmônicas injetadas por cada um dos aerogeradores da Fig. 2 foi fornecido pelo fabricante da máquina e pode ser observado na Tabela II. Os valores das correntes, assim como as impedâncias da Rede Básica e da CGE são processados nos softwares Harmzs e HarmLG. TABELA II INJEÇÕES MÁXIMAS DE CORRENTE HARMÔNICA POR AEROGERADOR Fig. 2. Modelo harmônico do aerogerador. Como pode-se observar na Tabela I, há uma grande variação nos valores dos níveis de curto circuito das SEs. O capacitor do filtro de alta ordem, apresentado na Fig. 1 é importante, uma vez que uma CGE possui uma quantidade grande de aerogeradores e isso acaba por modificar o valor da impedância resultante vista pelo PAC. A presença desses capacitores resulta em uma frequência de ressonância do sistema com a indutância dominante dos transformadores da SE. Essa frequência de ressonância pode ser calculada por: (1) onde é a ordem harmônica ressonante, é a potência de curto circuito do sistema e é a potência do capacitor ressonante. Valores usuais de potência de curto circuito de uma SE se situam entre 5 a 20 vezes a potência nominal da barra da SE. Já o capacitor do filtro possui usualmente a potência no valor entre 5% a 10% da potência nominal da barra. Pode-se, portanto, calcular os extremos, com valores mínimos e máximos usuais de e , para Frequência (Hz) Potência (kW) Ordem Harmônica % Corrente Fundamental Corrente (A) Corrente (pu) 120 240 300 420 480 600 660 780 840 960 1020 1140 1200 1320 1380 1500 1560 1680 1740 1860 2100 2220 2460 2580 3000 499,95 13,44 13,44 53,12 23,73 127,98 30,28 497,99 461,99 499,82 490,25 490,25 127,98 125,49 227,88 23,73 127,98 127,98 462,07 419,40 339,33 309,37 468,06 447,79 45,36 2 4 5 7 8 10 11 13 14 16 17 19 20 22 23 25 26 28 29 31 35 37 41 43 50 0,3429 0,2009 0,4354 0,4707 0,4014 0,5449 1,4560 1,8535 0,4746 0,3705 0,7609 0,4203 0,3243 0,3298 0,3693 0,2349 0,2004 0,1328 0,2709 0,2400 0,3495 0,2589 0,1568 0,1077 0,1059 4,790 2,806 6,081 6,575 5,607 7,611 20,338 25,890 6,629 5,176 10,629 5,870 4,530 4,607 5,159 3,281 2,799 1,855 3,785 3,352 4,882 3,617 2,190 1,505 1,479 5,14e-5 3,01e-5 6,53e-5 7,06e-5 6,02e-5 8,17e-5 2,18e-4 2,78e-4 7,12e-5 5,56e-5 1,14e-4 6,30e-5 4,86e-5 4,95e-5 5,54e-5 3,52e-5 3,01e-5 1,99e-5 4,06e-5 3,60e-5 5,24e-5 3,88e-5 2,35e-5 1,62e-5 1,59e-5 3 IV. METODOLOGIA UTILIZADA O documento do ONS [5] recomenda a utilização do método do Lugar Geométrico da impedância harmônica da Rede Básica no plano complexo X versus R para realizar os estudos de desempenho harmônico de novas instalações no PAC. É objetivo do estudo analisar os efeitos das distorções harmônicas em cima do PAC, um ponto específico do sistema, onde ocorrerá a inserção de novas instalações, como uma CGE. A análise pelo LG ocorre levando-se em conta a impedância harmônica equivalente do sistema, sob o ponto de vista do PAC e possibilita analisar os impactos diferentes de cada configuração da nova instalação. Este método se apresenta mais fácil de analisar os resultados e identificar o pior cenário, para um planejamento futuro do sistema. O método de fluxo de harmônicos apresenta diversos modelos diferentes, o que torna difícil validar a melhor representação do PAC estudado, em toda a sua faixa de frequências e necessita de uma quantidade maior de dados do sistema. O fluxo de harmônicos é mais recomendado para análises de desempenho do sistema como um todo frente a diversas fontes de harmônicos, diferente do foco deste trabalho que é investigar os efeitos específicos de um PAC. Levando-se essas considerações, utiliza-se o LG como método de análise dos harmônicos. O Lugar Geométrico será explicado agora e sua análise detalhada. A. Equivalente Norton Para estabelecer o LG representativo da Rede Básica devese determinar primeiro as impedâncias harmônicas da Rede Básica vistas do PAC, para cada ordem harmônica, supondo que a instalação esteja desconectada da rede. O banco de dados das impedâncias da Rede Básica é disponibilizado pela ONS e as impedâncias do PAC são obtidas utilizando o Harmzs. O conjunto de impedâncias determinado considera diferentes cenários para a Rede Básica, presente e futuros (3 anos consecutivos), para estados diferentes de níveis de carga (leve, média e pesada) e contingências diferentes, tais como saída de linha, SE ou inclusão de banco de capacitores. Estes valores compõem os lugares geométricos no plano complexo da impedância harmônica da Rede Básica ( ) vista do PAC. O agente acessante no equivalente Norton é representado pela fonte de corrente harmônica e a impedância equivalente da instalação. O equivalente Norton do PAC é montado, portanto, conforme mostra a Fig. 3 [5]. B. Método dos Lugares Geométricos O LG de cada ordem harmônica é construído no HarmLG a partir das impedâncias harmônicas obtidas a partir do Harmzs. A Fig. 4 mostra um exemplo de LG obtido pelo HarmLG. Cada impedância harmônica é representado no plano complexo X versus R por um ‘x’. Na Fig. 4 estão circuladas três impedâncias, que encontram-se no limiar da região do LG e que delimitam a área dessa ordem harmônica. A região do LG é obtido construindo-se o semi-disco delimitado pelo maior e menor módulo e ângulo das impedâncias harmônicas . Conforme diz o documento do ONS [5], o LG de cada ordem harmônica é obtido a partir das impedâncias harmônicas de três ordens consecutivas, uma inferior, uma superior e a ordem em estudo. No exemplo da Fig. 4 estão presentes todas as impedâncias de ordem 48, 49 e 50. Fig. 4. Exemplo de Lugar Geométrico e as impedâncias harmônicas . Para encontrar a tensão harmônica máxima, converte-se o LG de impedâncias ( ), em LG de admitâncias ( ), no plano complexo B versus G. O cálculo é realizado no LG de admitâncias uma vez que as impedâncias da rede interna e da rede externa encontram-se em paralelo, no equivalente Norton, e no domínio de admitâncias os cálculos são mais simples. A tensão harmônica máxima é obtida a partir de: (4) onde é a tensão harmônica máxima, é a corrente harmônica injetada no PAC pela rede interna, é a máxima impedância equivalente e é a mínima admitância equivalente. A admitância mínima é obtida pela soma vetorial em paralelo das admitâncias das redes: Fig. 3. Representação do Equivalente Norton com o LG da Rede Básica [5]. (5) 4 onde é a admitância Norton da rede acessante e é um ponto do LG de admitância da rede básica, que minimiza . O valor de é encontrado geometricamente como a menor distância do extremo do vetor à região do LG de admitância da rede básica. Essa resolução geométrica é ilustrada na Fig. 5 [5]. comprovando que quanto menor o nível de curto-circuito da SE, maior é sua impedância. Já comparando as SEs de 230 kV em (a) e (b) com as SEs de 500 kV em (c) e (d), observa-se que quanto maior o nível de tensão, menor é a impedância harmônica. MÓDULO GERAL 14 MÁXIMO em pu MÍNIMO em pu 12 10 pu 8 a) 6 4 2 0 0 500 1000 1500 Hz 2000 2500 3000 2000 2500 3000 MÓDULO GERAL 4 MÁXIMO em pu MÍNIMO em pu 3.5 3 Fig. 5. Resolução gráfica de pelo LG [5]. O programa HarmLG encontra o discretizando o envelope que delimita o LG e calculando a menor distância entre e o LG. b) pu 2.5 2 1.5 1 0.5 C. Limites Harmônicos A Tabela III apresenta os limites normativos da distorção harmônica percentual e distorção harmônica total de tensão (DTHT) definidos pelo ONS [1] e utilizados como referência no presente estudo e (6) apresenta a definição do cálculo da DTHT [1]: 0 0 500 1000 1500 Hz MÓDULO GERAL 0.7 0.6 MÁXIMO em pu MÍNIMO em pu 0.5 (6) onde é a tensão harmônica de ordem h e frequência fundamental, ambas em volts. é a tensão da pu 0.4 c) 0.3 0.2 0.1 TABELA III LIMITES INDIVIDUAIS E TOTAL DE DISTORÇÕES HARMÔNICAS PARA NÍVEIS DE TENSÃO ACIMA DE 69 KV [1] Ímpares Pares Ordem Valor (%) Ordem Valor (%) 3ª à 25ª 0,6 Todas 0,3 0,4 27ª DTHT = 1,5 0 500 1000 1500 Hz 2000 2500 3000 2000 2500 3000 MÓDULO GERAL 0.25 MÁXIMO em pu MÍNIMO em pu 0.2 V. ANÁLISE DOS DADOS 0.15 d) pu Com a utilização do Harmzs e do HarmLG, para as três configurações anuais consecutivas, foram calculadas as impedâncias harmônicas da Rede Básica vistas do PAC, supondo a conexão desligada, determinando os LGs no plano complexo da impedância harmônica. A Fig. 6 apresenta os valores de máximo e mínimo módulo das impedâncias harmônicas próprias dos PAC definidos na Tabela I. Pode-se observar que os valores das impedâncias harmônicas na Fig. 6 (a) e (c) são maiores que (b) e (d), 0 0.1 0.05 0 0 500 1000 1500 Hz Fig. 6. Impedâncias Harmônicas Próprias das SEs: a) Acaraú (230 kV); b) Campina Grande (230 kV); c) Quixadá (500 kV); d) Sobral (500 kV). 5 Lugar Geométrico dos Harmônicos de Ordem 13 10 5 a) Imag Analisando os valores das impedâncias de acordo com as frequências, pode-se ver que o comportamento muda de SE para SE, que é influenciado por toda a rede em volta do PAC. Para a determinação das distorções harmônicas no PAC são calculados, portanto, os equivalentes Norton do agente acessante e os pontos de mínima admitância harmônica do LG de cada ordem harmônica. A Fig. 7 mostra os LGs de impedâncias da 13ª ordem, para as quatro SEs estudadas, obtidos a partir do HarmLG. Pode-se ver que eles são diferentes entre si. Os dados dos resultados estão apresentados na Tabela IV e a Fig. 8 apresenta as máximas distorções harmônicas. 0 -5 -10 0 2 4 6 Real 8 10 12 TABELA IV Limites Individuais e Total de Distorções Harmônicas para Níveis de Tensão acima de 69 kV (ONS) 2 4 5 7 8 10 11 13 14 16 17 19 20 22 23 25 26 28 29 31 35 37 41 43 50 DTHT 230 kV 0,0022 0,0028 0,0113 0,0630 0,0660 0,0169 0,2154 1,3140 0,1137 0,0643 0,0250 0,0118 0,0090 0,0039 0,0041 0,0043 0,0037 0,0040 0,0081 0,0076 0,0155 0,0114 0,0183 0,0126 0,0075 1,37% 120 180 300 360 480 540 660 720 840 900 1020 1260 1200 1260 1380 1440 1560 1620 1740 1800 1920 2160 2280 2520 2640 - Sobral 500 kV 0,0032 0,0044 0,0099 0,0112 0,0057 0,0095 0,0262 0,0306 0,0042 0,0024 0,0048 0,0012 0,0031 0,0156 0,0175 0,0064 0,0054 0,0025 0,0051 0,0033 0,0022 0,0039 0,0018 0,0006 0,0018 0,05% 500 kV 0,0037 0,0018 0,0090 0,0099 0,0069 0,0090 0,0189 0,0304 0,0078 0,0043 0,0102 0,0108 0,0083 0,0052 0,0058 0,0035 0,0030 0,0014 0,0030 0,0060 0,0040 0,0034 0,0034 0,0020 0,0029 0,05% 2 1 Imag Freq.(Hz) Quixadá b) 0 -1 -2 -3 -4 0 0.5 1 1.5 2 Real 2.5 3 3.5 4 Lugar Geométrico dos Harmônicos de Ordem 13 0.2 0.15 0.1 0.05 c) Imag Ordem 3 Campina Grande 230 kV 0,0030 0,0025 0,0084 0,0180 0,0443 0,0305 0,1187 0,8996 0,1040 0,0184 0,0216 0,0073 0,0039 0,0031 0,0034 0,0072 0,0062 0,0018 0,0073 0,0065 0,0039 0,0069 0,0186 0,0138 0,0018 0,93% Aracaú Lugar Geométrico dos Harmônicos de Ordem 13 4 0 -0.05 -0.1 -0.15 -0.2 0 0.02 0.04 0.06 0.08 0.1 Real 0.12 0.14 0.16 0.18 0.2 Lugar Geométrico dos Harmônicos de Ordem 13 0.06 Aracaú 230 kV Campina Grande 230 kV Quixadá 500 kV Sobral 500 kV 1.4 0.04 1.2 Distorção Harmônica (%) d) Imag 0.02 1 0 0.8 -0.02 0.6 -0.04 0.4 -0.06 0.2 0 0.01 0.02 0.03 0.04 0.05 0.06 0.07 Real 0 2 4 5 7 8 10 11 13 14 16 17 19 20 22 23 25 26 28 29 31 35 37 41 43 50 Fig. 8. Distorções Harmônicas calculadas para cada PAC definido. Fig. 7. Lugar Geométrico da 13ª ordem das SEs: a) Acaraú (230 kV); b) Campina Grande (230 kV); c) Quixadá (500 kV); d) Sobral (500 kV). 6 A partir da Fig. 8 e da Tabela IV observa-se claramente que a maior tensão harmônica encontra-se na 13ª ordem, para as quatro SEs, sendo que os valores de Aracaú e Campina Grande estão destacados em vermelho, indicando que ultrapassaram os limites exigidos [1]. Isso pode ser explicado pela Fig. 6, que mostra valores elevados de impedância harmônica na 13ª ordem, nas SEs de 230 kV e pela Tabela II, onde a maior componente de corrente harmônica é a de 13ª ordem, causando as maiores tensões harmônicas. Uma vez que o foco do trabalho é analisar a sensibilidade das distorções harmônicas em função do nível de curto circuito, não foram investigadas medidas de correção ligadas às altas tensões harmônicas na 13ª ordem. Analisando os dados obtidos, pode-se concluir alguns pontos importantes. As características de distorções harmônicas dependem de dois fatores do sistema no PAC: as correntes harmônicas injetadas no PAC, que podem variar de acordo com a tecnologia empregada e a impedância equivalente observada do PAC, que depende das impedâncias da rede e do agente acessante. Na inserção de um novo parque eólico ao sistema, é importante levar em conta a tecnologia empregada de aerogeradores, para se ter uma análise fidedigna do comportamento futuro do sistema. É sugerido que, a partir dos dados de correntes harmônicas injetadas no sistema, seja realizado um estudo em cima das impedâncias harmônicas, a fim de se projetar filtros de maneira a amenizar as tensões harmônicas resultantes mais alarmantes. Enquanto as correntes injetadas e as impedâncias do sistema são parâmetros fixos do sistema, é possível modificar as impedâncias do ponto acessante, para se adequar as tensões aos limites exigidos [1]. É importante observar ainda que uma rede mais forte, com o nível de curto circuito maior, é menos susceptível às distorções harmônicas. É interessante, portanto, na fase de planejamento de uma nova usina eólica, se avaliar a disponibilidade de redes fortes, para se garantir baixas distorções harmônicas. Entretanto cada projeto apresenta um caso diferente e deve ser estudado em particular. VI. CONCLUSÕES A distorção harmônica calculada com o método dos Lugares Geométricos varia em função do nível de curto circuito (robustez), porém mantém a forma quanto à ordem dos harmônicos. Observou-se que o sistema é sensível ao nível de curtocircuito do PAC e, portanto, é importante que o Lugar Geométrico englobe todos os cenários possíveis da Rede Básica, de forma a tentar englobar todas as impedâncias harmônicas possíveis, garantindo soluções para os piores casos possíveis. É importante também, portanto, prever mudanças futuras na rede elétrica, pois as impedâncias podem variar de valor e surgir novas frequências ressonantes no sistema. Sistemas mais fortes são menos susceptíveis às distorções harmônicas, mas cada projeto é individual e deve ser estudado levando-se em conta o projeto interno do acessante e as correntes harmônicas injetadas pelo mesmo. VII. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem ao CNPq, FAPEMIG e CAPES pela assistência e suporte financeiro no desenvolvimento deste trabalho. VIII. REFERÊNCIAS [1] [2] [3] [4] [5] [6] Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL e Operador Nacional do Sistema – ONS, “Procedimentos de Rede” (PROREDE), Submódulo 2.8: Gerenciamento dos indicadores de desempenho da rede básica e dos barramentos dos transformadores de fronteira, e de seus componentes, Revisão 1.1, Setembro de 2010. Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL e Operador Nacional do Sistema – ONS, “Procedimentos de Rede” (PROREDE), Submódulo 3.6: Requisitos técnicos mínimos para a conexão às instalações de transmissão, Revisão 1.1, Setembro de 2010. C. Saniter; D. Schulz and R. E. Hanitsch, “Harmonics and Interharmonics Generated by Wind Energy Converters-Measurements and a Novel Modelling Approach in the Frequency Domain,” in 4th International Workshop on Large-scale Integration of Wind Power and Transmission Networks for Offshore Wind Farms, Dinamarca, Oct. 2003, pp. 1-10. S. A. Papathanassiou and M. P. Papadopoulos, “Harmonic Analysis in a Power System with Wind Generation,” IEEE Trans. on Power Delivery, vol. 21, no. 4, pp. 2006-2016, 2006. Operador Nacional do Sistema – ONS, “Instruções para realização de estudos e medições de QEE relacionados aos novos acessos à Rede Básica”, Revisão 2, Setembro de 2010. Membros do WG 14.03 da CIGRÉ (J. Arrilaga, L. Juhlin, M. Lathinem, P. Ribeiro, A. R. Saavedra), “AC system modeling for AC design; an overview of impedance modeling” ELECTRA nº 164, Fevereiro de 1996, pp. 133-151. IX. BIOGRAFIAS Silas Yunghwa Liu é doutorando em Engenharia Elétrica pelo Programa de PósGraduação em Engenharia Elétrica da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Recebeu os graus de bacharel e mestre em Engenharia Elétrica pela UFMG respectivamente nos anos de 2008 e 2011. Seus interesses incluem máquinas elétricas, qualidade da energia e estudos de harmônicos. Gervásio Saraiva Lara é Consultor da ENECEL ENERGIA, desde 2006. Recebeu os graus de bacharel pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG) em 1975 e de mestre em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) no ano de 2006. Seus interesses incluem estudos elétricos em sistemas de potência e qualidade da energia. Selênio Rocha Silva é Professor Titular do Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde ingressou em 1982. Recebeu os graus de bacharel e mestre em Engenharia Elétrica pela UFMG respectivamente nos anos de 1980 e 1984, e o título de doutor em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal da Paraíba em Campina Grande (atual UFCG) em 1988. Seus interesses incluem máquinas elétricas, acionamentos elétricos, qualidade da energia e sistemas de geração de fontes alternativas de energia.