CONTRIBUIÇÕES PARA O ENSINO DA LEITURA NO BRASIL: O

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CONTRIBUIÇÕES PARA O ENSINO DA LEITURA NO BRASIL: O
“BOLO”
LEITE, Catiane1 - PUCPR
VIEIRA, Alboni Marisa Dudeque Pianovski2 - PUCPR
Grupo de Trabalho - Didática: Teorias, Metodologias e Práticas
Agência Financiadora: não contou com financiamento
Resumo
A pesquisa discute e analisa a percepção dos professores do ensino fundamental em relação às
contribuições do jornal BOLO (Boletim de Leitura Orientada), o qual veicula o projeto “Ler e
Pensar”, idealizado pelo jornal Gazeta do Povo, em parceria com o Instituto GRPCOM
(Grupo Paranaense de Comunicação), na formação dos alunos de escolas públicas municipais
da cidade de Curitiba. Em face do decrescente interesse dos jovens e adolescentes pela leitura,
o projeto busca estimular o pensamento crítico dos estudantes, formando assim novos leitores.
A partir de algumas considerações sobre a situação do ensino da leitura no Brasil, são
apresentados os resultados da pesquisa de campo realizada com professores de quatro escolas
localizadas em bairros da cidade, escolhidos sob o pressuposto de que as dificuldades desse
ensino muitas vezes são mais expressivas nas escolas da periferia do que nas que se localizam
na região central. Para coleta de dados, foi aplicado um questionário composto por dez
questões objetivas e subjetivas, que tiveram como objetivo sondar a percepção dos
professores quanto às contribuições do projeto em questão. Como fundamentação teórica, o
estudo teve por base trabalhos realizados por Moacyr (1939), Lajolo e Zilberman, (1996),
Hallewell (2005), Freire (2006) e Gomes (2007). A análise dos dados coletados atendeu tanto
aos aspectos qualitativos como quantitativos. Dos resultados obtidos, foi possível perceber
que, entre os professores participantes da pesquisa, o jornal BOLO e as intenções do projeto
“Ler e Pensar” são bastante conhecidos e que há concordância sobre a utilização desse recurso
didático como ferramenta para o ensino da leitura dos alunos matriculados no ensino
fundamental.
Palavras-chave: Projeto “Ler e Pensar”. Jornal BOLO. Ensino da leitura. Ensino
fundamental.
1
Licenciada em Pedagogia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná. E-mail: [email protected].
Doutora em Educação. Professora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). E-mail:
[email protected].
2
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Introdução
A formação de sujeitos leitores críticos e reflexivos tem-se constituído em
preocupação constante, na história da educação do Brasil. De um modo geral, afirma-se que
as pessoas não gostam e não se interessam em ler, além de terem dificuldades para entender
os textos. Essa questão incentivou a realização desta pesquisa, no sentido de identificar ações
que vêm sendo realizadas para estimular o pensamento crítico dos estudantes e formar novos
leitores. Nesse contexto, investigou-se o projeto “Ler e Pensar”, o qual é veiculado pelo jornal
Gazeta do Povo em parceria com o Instituto GRPCOM (Grupo Paranaense de Comunicação),
que consiste em fornecer aos professores e alunos das escolas públicas municipais de Curitiba
um Boletim de Leitura Orientada (BOLO) na forma de jornal, cuja intenção é estimular o
pensamento crítico dos estudantes, formando assim novos leitores.
O “Ler e Pensar”, é um projeto que demonstra preocupação com o contexto da leitura
em todo o país. Mostra que saber ler, se expressar, entender e ser entendido em variados
contextos e situações são questões de sobrevivência e inclusão social para os dias atuais. É
por meio da leitura de textos e fatos interessantes decorrentes do dia-a-dia, que o “Ler e
Pensar”, juntamente com as escolas participantes, enfrenta e tenta combater o decrescente
interesse dos jovens e adolescentes pela leitura.
No Estado do Paraná, segundo dados do jornal Gazeta do Povo, o retrato da leitura se
revela da seguinte maneira: os paranaenses leem 8,53 livros por ano, 43% das pessoas leem
por prazer, 81% leem em casa, 7% utilizam a biblioteca, 57% não tem tempo, 21% não tem
paciência, 34% compram livros, 32% emprestam de conhecidos, 21% consultam em
bibliotecas, 23% não gostam de ler, 64% não conhecem nenhum autor paranaense e 42%
gostam de ler porque foram influenciados pela mãe (SANTOS, 2011).
O processo educativo tem passado por diversas transformações, mudanças de
paradigmas e rupturas marcantes. Atualmente discute-se e questiona-se o papel da escola, ou
seja, a sua função. Para Delors (2001, pp. 89-90), “a educação pode organizar-se em torno de
quatro aprendizagens fundamentais, os pilares do conhecimento: aprender a conhecer,
aprender a fazer, aprender a ser, aprender a viver tornando-se uma educação integral”. Com
base nestes pilares a escola tem por finalidade proporcionar uma educação integral, em que o
sujeito seja crítico, reflexivo, contextualizado e compreenda como a sociedade se organiza,
podendo, em seguida, ajudar na sua transformação.
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Todavia, para que isso possa se tornar realidade no contexto das escolas públicas
brasileiras é iminente um posicionamento quanto ao ensino e à prática da leitura. Assim, é
indispensável criar condições sociais para essa prática, promovendo desde a educação infantil
possibilidades de modificar a visão das crianças perante o hábito de leitura.
Procurando ajudar nessa situação alarmante do ensino nas escolas públicas no
município de Curitiba o projeto “Ler e Pensar” vem sendo desenvolvido junto ás escolas
públicas e particulares há mais de 12 anos. O projeto é desenvolvido pelo jornal Gazeta do
Povo e pelo Instituto GRPCOM denominando-se BOLO (Boletim de Leitura Orientada), cujo
principal objetivo é incentivar a leitura no ambiente escolar. Além disso, oferece inúmeros
recursos, dentre eles: materiais de leitura, recursos pedagógicos e formação continuada para
professores nos quais estão incluídos também cursos de extensão, oficinas e palestras.
O contexto apresentado incentiva a realização de um estudo aprofundado sobre as
contribuições do Boletim de Leitura Orientada (BOLO), o qual é distribuído nas escolas do
município de Curitiba, a fim de contribuir para o processo de formação de indivíduos leitores.
Esse estudo será realizado a partir da manifestação de professores participantes do projeto
“Ler e Pensar”.
Quanto às pesquisas realizadas sobre o assunto, em bancos de teses e dissertações, não
se identificou estudo que satisfizesse as indagações a respeito do tema, uma vez que a grande
maioria dos trabalhos trata da dificuldade sob o ângulo da psicologia da aprendizagem.
O objetivo geral da pesquisa foi, dessa forma, identificar a contribuição do Boletim de
Leitura Orientada (BOLO) do projeto “Ler e Pensar” do Jornal Gazeta do Povo e do Instituto
GRPCOM na formação de leitores críticos e reflexivos, nas escolas do município de Curitiba
em que é distribuído.
Como objetivos específicos, foram definidos: a) identificar a percepção dos docentes
que atuam nas escolas em que o BOLO é distribuído, sobre a sua utilização como recurso
pedagógico para o incentivo ao hábito de leitura; e b) refletir sobre as contribuições do
Projeto BOLO para a formação de leitores críticos e reflexivos, nas escolas pesquisadas.
Do ponto de vista metodológico, trata-se de estudo de caso cujo procedimento de
coleta de dados foi a entrevista com professores das escolas do município de Curitiba.
Os resultados apontaram no sentido de que o BOLO e as intenções do projeto “Ler e
Pensar” são bastante conhecidos pelos professores participantes da pesquisa e que há
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concordância sobre sua colaboração no ensino da leitura dos alunos matriculados no ensino
fundamental.
O Ensino da Leitura na História da Educação do Brasil
De acordo com os estudos de Hallewell (2005), na primeira metade do século XVI, o
analfabetismo no Brasil era enorme e a língua portuguesa não era falada, cedendo espaço ao
dialeto tupi, primeira língua indígena que os colonizadores conheceram e que foi sendo
espalhada pelos colonos e missionários por toda a colônia. A miscigenação dos homens
brancos com as nativas, “acarretou a adoção de muitos costumes indígenas, entre eles o uso
do guarani como língua geral do Brasil” (HALLEWELL, 2005, pp. 81-82). Essa circunstância
em nada auxiliou no consumo de livros em português ou em latim.
A língua portuguesa só começou a substituir essa língua geral do Brasil com a
imigração portuguesa provocada pela descoberta do ouro no início do século XVI.
Quanto aos livros que eram comercializados pelos ambulantes, só começariam a
circular por aqui em número muito pequeno, seguindo versão final em português.
Os jesuítas, responsáveis pela instrução da colônia a partir de 1549, procuraram
organizar bibliotecas em seus colégios. Com a expulsão dos jesuítas em 1759, porém, o Brasil
perdeu aproximadamente quinze mil exemplares no Colégio em Salvador, mais cinco mil no
Rio de Janeiro e mais doze mil nos Colégios do Maranhão e do Pará devido à destruição das
bibliotecas jesuíticas (HALLEWELL, 2005). A partir desse episódio, quem quisesse estudar e
tivesse condições, teria que se formar em Portugal, na única universidade existente na época,
a de Coimbra.
No século XVIII, o governo português cuidava para que não houvesse divulgação das
ideias iluministas na colônia, por meio de livros e jornais. Gomes (2007, p.135) menciona
que, para fugir à censura dos governantes portugueses, o então Correio Brasiliense, o primeiro
jornal brasileiro, teve que ser publicado em Londres.
A imprensa, assim, só chegou definitivamente no Brasil por volta de 1808, com a
Corte. A vinda da família real propiciou que milhares de volumes da Biblioteca Real da Ajuda
chegassem ao Brasil em 1810 e 1811. Sua utilização só foi aberta ao público, no entanto,
quatro anos depois e, mesmo assim, poucos poderiam se beneficiar das obras contidas nela,
pois a maioria da população ainda era analfabeta.
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No começo do século XIX a modernidade avança em outros países, enquanto o Brasil
se mantém na pobreza intelectual e na carência de imprensa, livrarias e leitores.
O comércio de livros se caracterizava na época como “pobre”, e os livros
permaneciam por muito tempo nas prateleiras, o que significava que as pessoas não liam, e
pior, não possuíam ainda o hábito de leitura.
Em meados de 1822, próximo à Independência do Brasil, o Rio de Janeiro já possuía
cerca de sete estabelecimentos tipográficos. Essas novas atividades provocaram o aumento
rápido da leitura devido o interesse por políticas que acompanharam as lutas pela
Independência do Brasil, mas que não colaborou muito em relação à qualidade dos trabalhos
que eram escritos.
Foi somente a partir de 1840 que passaram a existir alguns traços necessários para a
formação e fortalecimento de uma sociedade leitora. Segundo Lajolo e Zilberman (1996, p.
18):
[...] estavam presentes os mecanismos mínimos para produção e circulação da
literatura, como tipografias, livrarias e bibliotecas; a escolarização era precária, mas
manifestava-se o movimento visando á melhoria do sistema; o capitalismo ensaiava
seus primeiros passos graças á expansão da cafeicultura e dos interesses econômicos
britânicos, que queriam um mercado cativo, mas sem constante progresso.
No ano de 1871 aproximadamente, a edição de livros torna-se um comércio de menor
importância para os negócios dos impressores de jornal. O “Correio Mercantil”, o “Jornal do
Comércio”, o “Correio da Tarde” e o “Jornal do Brasil” dentre outros, se preocupavam mais
em concorrer um com o outro e a editar exemplares com variados anúncios e reimpressões de
materiais anteriormente já publicados do que com a autoria e impressão de livros
(HALLEWELL, 2005).
O descaso com que a educação era tratada acentuava essa situação. As aulas
particulares eram mais frequentadas que as aulas públicas, os professores não possuíam
formação acadêmica e eram despreparados para o ensino, os exames (provas) se
caracterizavam pela falta de seriedade e havia carência de livros com textos e materiais
escolares, além das péssimas instalações onde eram ministradas as aulas. De acordo com
Moacyr (1939), para se tornar professor, eram aceitas somente pessoas que fossem idôneas
em número suficiente, e que gostariam de se dedicar ao magistério.
Dentro desse contexto é que vai se estruturando através do fortalecimento do Estado
Imperial, a discussão cada vez maior sobre a importância da instrução escolar, e que a
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construção de espaços adequados e específicos para a escola seria imprescindível para a
eficácia do aprendizado das crianças. Outro fator que também colaborou para a criação dos
espaços escolares foi a discussão pedagógica referente às propostas metodológicas e à
fiscalização do ensino.
Apesar das incessantes críticas existirem desde o começo do Império em relação à
escolarização no Brasil, a reorganização da instrução escolar e a criação dos grupos escolares
só seriam definidas em meados da última década do século XIX. É através dos grupos
escolares que os Republicanos tentarão mostrar a própria República e seu projeto educativo.
Esses grupos, concebidos como “os verdadeiros templos do saber”, encarnavam a um só
tempo, traziam ao país o que seria o modelo da educação do século XX, as escolas seriadas.
Seria a prática e a representação do rompimento com o passado imperial.
No final do século XIX, nota-se também o uso cada vez maior do papel para os
exercícios de escrita, pois o avanço tecnológico barateava sua produção devido à invenção da
máquina a vapor. Quanto ao quadro de ardósia, este perderia espaço no início do séc. XX,
pelo menos nas regiões consideradas urbanas. No interior e regiões mais afastadas, ainda
persistiria por mais algum tempo.
Percebe-se, no decorrer dos fatos apresentados até o presente momento, que existiu
uma preocupação maior com a escrita e os materiais escolares do que com o processo de
leitura propriamente dito, tanto pelo governo como intelectuais e pessoas influentes da época.
Com o advento da República, a escola ficaria incumbida de oferecer os meios para a
extensão do universo de leitura do aluno. Também deveria dar ênfase no recurso à leitura em
silêncio, disponibilizar maior quantidade de livros aos alunos garantindo sua qualidade e
substituindo a antiga orientação do livro único. A partir desse momento algumas escolas e
diretores começam a reorganizar esse mundo literário, incentivando visitas à biblioteca
escolar e possibilitando que os alunos pudessem escolher ou ler o que desejassem e, o
principal, uma nova orientação era dada ao ensino da leitura com o objetivo da compreensão
do que estavam lendo.
Nas décadas de 20 e 30, formar leitores era produzir decifradores de uma “cultura
urbana” cada vez mais associada a signos escritos, em que as informações e condutas estão
relacionados a uma cultura social caracterizada pela disseminação de informações relatadas
pelos jornais, rádios e pela explosão de imagens advindas das telas do cinema presentes na
época.
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Assim, no decorrer da história da educação e suas reformas, desde a época da
colonização do Brasil, no Império e na República, até chegar aos dias atuais, o governo
brasileiro vai auxiliando, de maneira não muito eficaz, com métodos e recursos
disponibilizados para a educação, e, conjuntamente ao incentivo da leitura.
Pode-se afirmar que o consumo de livros poderia ser maior em nosso país se as
pessoas tivessem e fossem incentivadas insistentemente ao hábito de ler. Sabe-se ainda que
umas das possíveis causas dessa falta de hábito da leitura, disputa espaço com outras fontes de
entretenimento como à televisão e o rádio que, surgiram junto com as editoras brasileiras.
Outro fato em relação à falta do hábito em ler, é a precária divulgação dos livros no
Brasil, fato esse já mencionado no contexto histórico do livro e do leitor no começo dessa
pesquisa. No entanto, um segundo fator chama a atenção dos que assistem à televisão e
percebem que nas propagandas televisivas, o comercial de livros quase não é divulgado, pois
as editoras não dispõem de verbas suficientes para bancar a divulgação de livros.
Tentando modificar esse contexto e partilhando desses pensamentos em relação à
formação de leitores, procuramos identificar a contribuição do Projeto “Ler e Pensar” nas
Escolas Municipais de Curitiba em que é distribuído o jornal “BOLO”.
Além disso, foi implementado pelo MEC o Plano de Metas Compromisso Todos pela
Educação com o estabelecimento no Plano de Desenvolvimento da Educação, na realização
da Provinha Brasil (BRASIL, 2007).
O Projeto “Ler e Pensar”
Características do Projeto “Ler e Pensar”
Em pesquisa realizada no site do Ministério da Educação e Cultura (MEC) sobre o
índice de leitura nas escolas de ensino fundamental, constatou-se que os indicadores
produzidos pelo Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB), apontam problemas
graves na eficiência do ensino oferecido pelas redes escolares brasileiras. Uma delas e a mais
preocupante é o baixo desempenho na leitura demonstrado pelos alunos.
Preocupados com este baixo desempenho, o governo federal e muitos governos
estaduais e municipais tiveram a iniciativa de ampliar de oito para nove anos o ensino
fundamental, iniciando a etapa do ensino obrigatório aos seis anos.
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No Estado do Paraná, a preocupação com essa situação incentivou a Editora Gazeta do
Povo a implantar um projeto denominado “Ler e Pensar”, que funciona com o auxílio do
Instituto GRPCOM (Grupo Paranaense de Comunicação). Seu objetivo é contribuir para a
melhoria dos índices de leitura utilizando o jornal como recurso. O projeto existe há doze
anos e se caracteriza por oferecer um atendimento gratuito às escolas que buscam auxílio para
a melhoria e incentivo à leitura, modificando seu contexto educacional.
Como em várias regiões do Brasil, no Estado do Paraná o contexto do hábito da leitura
não é diferente. Em alguns municípios paranaenses, o número de bibliotecas é pequeno e
muitos alunos da rede pública de ensino têm dificuldades de acesso a materiais impressos para
leitura e informação. Além disso, analisando esses resultados, percebe-se que há muito por se
fazer ainda em municípios da região de Curitiba e na própria capital, no sentido de fortalecer a
educação e o desenvolvimento social dos alunos envolvidos com o projeto (INSTITUTO
GRPCOM, 2011).
Dessa forma, a iniciativa do Jornal Gazeta do Povo ao propor o projeto “Ler e Pensar”,
busca apresentar o jornal como recurso pedagógico, ao mesmo tempo em que incentiva a
leitura, promove o acesso à cultura, à informação e contribui para a formação intelectual dos
estudantes, relacionando o que aprendem na escola com os fatos do cotidiano.
Para isso, o “Ler e Pensar” tem como público beneficiado, alunos de Ensino
Fundamental e Médio e seus professores, que são os principais instrumentos formadores dos
hábitos leitores. Para os professores, o projeto oferece formação pedagógica continuada, com
material didático de apoio, além de auxiliá-los com exemplares de jornais para promoção da
prática da leitura. O projeto conta ainda com uma equipe que se dedica exclusivamente para a
área educacional com seis parceiros e colaboradores voluntários. Os seis membros da equipe
possuem formação em Pedagogia, Jornalismo, Filosofia, Letras, Administração e Gestão da
Informação. Os demais envolvidos são parceiros das Secretarias de Educação, membros do
Conselho Educacional e voluntários graduados e graduandos em diversas áreas de
licenciatura. O projeto busca seu fortalecimento anual através da revisão de parcerias. Entre
esses parceiros, estão doze instituições de Ensino Superior e cursos de licenciatura como:
Letras, Pedagogia, História, Geografia, Matemática, Artes, Biologia, Educação Física,
Ciências Sociais, Filosofia, Física e Química. O objetivo desta parceria é o auxílio na
elaboração e qualificação do material didático com envolvimento de professores de todas as
áreas no compromisso com a formação de leitores (INSTITUTO GRPCOM, 2011).
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Por ser um material de leitura circulante na sociedade, e pela sua atualidade, o jornal
acabou conquistando espaço nas salas de aula paranaenses. Isso faz com que os estudantes e
professores atendidos pelo projeto, leiam além das palavras expandindo assim seu universo de
leitura e de compreensão acerca do que acontece em sua região, no país e no mundo.
O objetivo geral do projeto é poder contribuir para a melhoria dos índices de leitura,
interpretação de textos e desenvolvimento da educação básica nos municípios paranaenses, a
partir de uma formação continuada dos professores para o uso do jornal em sala de aula, a fim
de aproximar os conteúdos escolares da realidade, estimular a criticidade e preparar os
estudantes para o pleno exercício da cidadania (INSTITUTO GRPCOM, 2011).
Metodologia do projeto “Ler e Pensar”
Para que o projeto tenha seu objetivo atingido, incentive e realize práticas
significativas de leitura, alguns procedimentos precisam ser seguidos. O primeiro é o
levantamento e análise da situação educacional e social dos municípios paranaenses, que
demonstrem os indicadores de desenvolvimento da educação básica, estímulo à leitura e
acesso a bens materiais e possibilidades de leituras diversificadas. Essa análise de dados, do
ponto de vista social e educacional, levou à tomada de decisão a respeito do público que
deveria ser atendido pelo projeto. Esse público se caracterizou em alunos do Ensino
Fundamental, Médio e EJA, e mesmo em alguns municípios com o IDEB acima da média
ainda necessitam de melhorias e ampliação de atividades em relação à leitura.
Após esse levantamento, o projeto buscou a parceria com Secretarias de Educação,
escolas e professores, avaliando o interesse delas em adotá-lo o que contribuiu para sua
operacionalização. Quando as Secretarias aceitam a parceria em seus municípios, fica
estabelecido que o projeto seja totalmente gratuito. Quanto aos custos da formação de
professores, envio de jornais e materiais didáticos, participação em oficinas, seminários,
palestras e eventos culturais, o custo é de total responsabilidade do projeto. Em cada uma das
escolas a equipe do “Ler e Pensar” e as Secretarias fazem a apresentação formal da proposta
de trabalho; identificam os professores interessados em ingressar no projeto e indicam um
coordenador local para as atividades que serão desenvolvidas a partir da adesão.
Quanto à produção e envio de materiais didáticos para as escolas que aderiram ao
projeto “Ler e Pensar”, a equipe do projeto elabora um material que é distribuído de quinze
em quinze dias denominado “BOLO” (Boletim de Leitura Orientada), um material didático
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voltado á propagação de práticas de leitura e formação de professores. Como referência, esse
material utiliza as notícias publicadas no jornal para promover a leitura e interpretação dos
textos de forma significativa para o aluno, apresenta sugestões e boas práticas de leitura que
podem ser contestadas compartilhando conceitos acadêmicos (INSTITUTO GRPCOM,
2011).
Juntamente com o BOLO, são enviados exemplares do jornal da Gazeta do Povo
proporcional ao número de alunos beneficiados, e cabe ao coordenador do projeto na escola, a
gestão e acompanhamento da utilização desses jornais. Cada professor participante do projeto
na escola recebe um exemplar do BOLO. O projeto elabora e disponibiliza ainda, apostilas de
orientação para o uso do jornal como instrumento de leitura, que são utilizadas como
materiais de apoio em diferentes cursos oferecidos pela equipe do projeto e certificados por
Instituições de Ensino Superior parceiras.
O Programa de Formação Continuada para os professores participantes é composto
por diferentes formas de capacitação e tem como objetivo, orientar a prática docente no uso
do jornal, estimular a leitura e facilitar a gestão e avaliação do projeto “Ler e Pensar” na
escola. Ao todo são ofertados cem cursos ao ano o que contribui para a ascensão na carreira.
Os cursos ofertados são constantemente avaliados e atualizados e as sequências didáticas dos
cursos apresentam um conjunto de atividades interligadas e planejadas com o intuito de
promover diferentes práticas de leitura. Dessa forma, juntamente com os objetivos do projeto,
elas envolvem atividades de aprendizagem e avaliação. Outra atividade que compõe o
Programa de Formação Continuada de Professores são os Ciclos de Palestras que são
apresentadas por professores universitários convidados mestres e doutores das universidades
parceiras, que apresentam e discutem com os professores, diferentes formas de promover a
leitura e utilização do jornal pedagógica e socialmente, apresentando temas atuais e
tendências educacionais (INSTITUTO GRPCOM, 2011).
Além disso, o projeto divulga e reconhece as boas práticas de leitura, através das
páginas centrais do BOLO que se apresentam em uma diagramação especial, e são elaboradas
para serem coladas nos murais das escolas, reconhecendo as boas iniciativas dos educadores,
incentivando e inspirando novas ações tanto de alunos como dos docentes (INSTITUTO
GRPCOM, 2011).
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A Pesquisa de Campo
Para a realização desse trabalho, optou-se por fazer a abordagem qualitativa que
atende as características apontadas por Bogdan e Biklen (1994), a qual tem o ambiente natural
como sua fonte direta de dados e o pesquisador como principal instrumento. Possibilita ainda
o contato direto do pesquisador com o ambiente e a situação real a ser investigada. A
abordagem qualitativa tem a preocupação com o processo que é maior do que com o produto,
prevalecendo à importância de todo o processo que a pesquisa percorre onde o significado que
as pessoas dão as coisas e a sua vida, são focos de atenção pelo pesquisador e a preocupação
do investigador é com os significados atribuídos pelos sujeitos participantes.
Além disso, foi necessário utilizar a análise documental, a qual se constitui como uma
técnica importante na pesquisa qualitativa, complementando as informações obtidas por
outros instrumentos, seja desvelando aspectos novos de um problema ou identificando
informações factuais nos documentos a partir de questões de interesse.
Dentre as 400 escolas atendidas pelo Projeto “Ler e Pensar”, foram escolhidas
aleatoriamente quatro escolas localizadas em bairros distantes da região central de Curitiba e
que se caracterizam por possuírem um Índice de Desenvolvimento da Educação Básica
(IDEB) baixo. As escolas escolhidas constituem-se em instituições de natureza administrativa
municipal e ofertam ensino primário pela manhã e pela tarde, situando-se nos bairros
Boqueirão, Xaxim e Sítio Cercado da capital paranaense.
Os dados foram coletados por meio de um questionário, composto por dez perguntas
com questões abertas e fechadas, que foram distribuídos a trinta e oito professores integrantes
do projeto “Ler e Pensar”. Foram devolvidos respondidos dezessete questionários.
O objetivo das questões era sondar a contribuição do projeto “Ler e Pensar” quanto ao
incentivo à leitura na escola, seu ensino e hábito entre os estudantes, além de buscar
caracterizar os docentes que estavam participando da pesquisa.
Análise dos Dados
A coleta de dados buscou evidenciar a relevância do projeto “Ler e Pensar” junto às
escolas participantes, como um instrumento de transformação da realidade do aluno que não
lê, em alguém que possa aprender a gostar de ler, pratique e consiga transformar através da
leitura sua realidade.
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Em se tratando do tempo de serviço desses docentes na área educacional, verifica-se
que cinco dos professores que responderam ao questionário possuem formação na área de
graduação totalizando 29,4% dos participantes da pesquisa, e doze professores possuem pósgraduação totalizando 70,6%. Dos participantes, um professor conhece o projeto há um ano,
outro há dois anos, três professores conhecem o projeto há três anos e doze professores
afirmam conhecer o projeto há mais de quatro anos.
Indagados sobre o hábito de leitura dos alunos antes da implantação do projeto “Ler e
Pensar” na escola, cinco professores responderam que seus alunos já tinham o hábito de
leitura antes do projeto “Ler e Pensar” ser implantado na escola, dois professores
responderam que seus alunos não tinham o hábito de leitura, e, por fim, dez professores
responderam que seus alunos liam pouco antes da implantação do Projeto na escola.
Dos dez professores que responderam que seus alunos liam pouco antes da
implantação do projeto, um deles respondeu que alguns alunos já demonstravam gosto pela
leitura e outros criaram o hábito com o tempo. Outro professor respondeu que sempre que
havia uma notícia relevante, o assunto era levado para sala de aula, o restante dos professores
não quis comentar suas respostas.
Analisando esses resultados se percebe o pouco comprometimento de alguns docentes
em descobrir porque seus alunos leem pouco. Esse tipo de diagnóstico poderia fornecer ao
professor instrumentos para reverter o quadro do pouco interesse pela leitura. Se existe o
pouco interesse pela leitura, é sinal que possivelmente os métodos empregados pelo professor
ou a própria metodologia do projeto devem ser mais bem analisados. Ou ainda, deve-se
analisar melhor em que contexto o projeto está inserido.
A pergunta três do questionário indagava ao professor se ele considera importante o
hábito da leitura desde o início da alfabetização. De acordo com os dados obtidos, 100% dos
professores participantes da pesquisa concordam sobre a importância do hábito da leitura
desde o começo da alfabetização do aluno.
Analisando melhor essa pergunta, percebe-se que a maneira como ela foi formulada
pode induzir o professor a responder positivamente que sim, o hábito de leitura é importante
desde o começo da alfabetização.
Esses resultados revelam, em síntese, que os professores acreditam que os
pressupostos do projeto “Ler e Pensar”, no que diz respeito a utilizar diferentes metodologias
para iniciar e incentivar o hábito e gosto pela leitura nas séries iniciais se mostra certeiro. É
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válido ressaltar que essa consciência não existia no século XIX, em que os processos de ler e
escrever estavam totalmente desconectados. Nos dias atuais, constitui senso comum a
eficiência da leitura conjuntamente com a escrita, pois uma não faz sentido sem a outra.
A pergunta quatro do questionário, dizia respeito à contribuição para a leitura que o
Projeto proporciona para a formação do aluno crítico e reflexivo. Dezesseis professores
afirmaram que o projeto “Ler e Pensar” colabora para a formação do aluno crítico e reflexivo
num contexto geral, sendo que um único professor respondeu que somente em parte este
projeto de leitura colabora para o contexto geral do aluno.
Analisando os resultados da pergunta quatro do questionário sobre a colaboração do
projeto para a formação do aluno crítico e reflexivo num contexto geral, observa-se, segundo
a percepção dos professores respondentes à pesquisa, que o conteúdo elaborado pelo jornal
BOLO consegue atingir um dos objetivos propostos por ele, transformar as notícias do dia-adia em conhecimentos que possam ser relacionados aos conteúdos curriculares propostos
pelas várias disciplinas ensinadas na escola. Esses resultados revelam que é somente por meio
do acesso a leitura com diferentes tipos de textos e variadas interpretações, que o aluno se
tornará um leitor crítico e reflexivo.
A pergunta cinco do questionário se referia ao auxílio do projeto “Ler e Pensar” em
relação ao aperfeiçoamento da escrita dos alunos. A ela, onze professores responderam que o
projeto auxiliou na escrita dos alunos, e seis professores responderam que somente em parte o
projeto auxiliou nessa questão.
De acordo com esses resultados, percebemos o quanto foram modificados os métodos
de ensino da leitura e da escrita na história da educação brasileira. O projeto “Ler e Pensar”
com sua metodologia diferenciada provoca um choque de realidades entre o pensamento atual
e o do século passado. Contrariando essa visão, o projeto “Ler e Pensar” consegue evidenciar,
por meio da percepção dos professores, que é possível, sim, trabalhar a leitura conjuntamente
com a escrita, o que é atestado pela maioria dos sujeitos participantes da pesquisa.
Já a pergunta seis do questionário mencionava sobre a contribuição do jornal BOLO
para a melhoria da compreensão dos alunos em relação aos textos que liam. De acordo com os
resultados apresentados, quinze professores responderam que sim, o jornal BOLO colaborou
para a melhoria da compreensão dos textos que os alunos leem. Um professor deixou de
responder a pergunta e outro respondeu que somente em parte existe esta colaboração.
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No que diz respeito à pergunta sete, a qual se propunha a sondar os outros recursos
didáticos utilizados pelo professor em sala, os resultados quantitativos demonstraram que os
professores fazem uso de variados recursos em suas aulas.
Por fim, a pergunta oito do questionário tinha a intenção de investigar se os
professores acreditavam que os alunos das séries iniciais tinham maturidade suficiente para
entender as notícias contidas em um jornal. Vale destacar a resposta de um dos professores
onde ele menciona que o jornal é um excelente meio para trabalhar com os alunos das séries
iniciais e que essa possibilidade de trabalho vai depender principalmente da criatividade do
professor e das necessidades coletivas dos alunos. Certamente, a principal necessidade dos
alunos que se encontram nesse nível de escolarização é aprender a ler o mundo que está a sua
volta e, sem dúvida, a leitura do mundo poderá ser potencializada por meio da boa prática da
leitura de textos.
Essa ideia vai ao encontro do que propõe Paulo Freire (2006), quando menciona que
aprender a ler, escrever e alfabetizar-se é, antes de qualquer coisa, aprender a ler o mundo,
compreender o seu contexto, não numa manipulação mecânica de palavras, mas numa relação
dinâmica que vincula linguagem e realidade. Portanto, essa prática deve ser incentivada desde
as séries iniciais.
As duas perguntas seguintes foram abertas e os professores puderam dissertar sobre
elas. Na questão nove, o professor deveria relatar sobre as principais modificações que ele
percebeu em seus alunos após o ingresso do projeto Ler e Pensar na escola em que atua. Em
relação a esta questão, a maioria dos professores destacou aspectos positivos no que tange às
modificações proporcionadas pelo uso do jornal BOLO como recurso didático em suas aulas.
Como exemplo, um dos professores mencionou que “aumentou a disposição dos alunos em
pesquisar e buscar informações a cerca de determinados assuntos assim como a curiosidade
sobre a manchete do dia”.
Na questão dez do questionário, o professor deveria apontar conforme sua percepção,
os pontos fortes em relação ao projeto Ler e Pensar e as suas fragilidades. Na análise desses
comentários, a maioria dos professores destacou como pontos fortes o incentivo à leitura que
o jornal proporciona aos alunos, fatos atuais e polêmicos, interdisciplinaridade e auxílio no
aumento do vocabulário dos alunos. Quanto às fragilidades, os professores apontam o atraso
na chegada do jornal à escola e poucos impressos para o número de alunos atendidos.
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Considerações Finais
A pesquisa permitiu levantar algumas hipóteses em relação ao ensino da leitura nas
escolas municipais de Curitiba, e evidenciou que, apesar do auxílio do projeto “Ler e Pensar”
neste processo, ainda é preciso rever alguns conceitos sobre o assunto. Esses conceitos
poderão ser o ponto de partida para futuros trabalhos relacionado ao tema.
Num contexto geral, pode-se perceber que o objetivo principal dos sujeitos envolvidos
é transformar o aluno - desde sua iniciação na vida escolar até sua formação -, em um ser
capacitado para atuar conscientemente na construção de uma sociedade mais justa e
democrática, e que possibilite o direito a uma promoção coletiva de benefícios para todos os
cidadãos sem exceção.
A escola, no entanto, desempenha um papel difícil nessa formação: a de conciliar o
aprendizado escolar com o desenvolvimento da prática social. Essa dificuldade se apresenta
talvez, pela resistência da escola em separar a formação individual da implicação social,
desenvolvendo assim um saber acadêmico baseado na esperança de que ele se transforme
inexplicavelmente em prática social somente ao final da escolaridade.
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SANTOS, Renato dos. Um estado que lê? Gazeta do Povo, Curitiba, 24 abr. 2011. Folha
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