766 - BSGPXXII47 - Sociedade Geológica de Portugal

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NOTA PRELIMINAR SOBRE O MACIÇO QUIMBERLÍTICO OCIDENTAL
DE CAMÚTUE (LUNDA-ANGOLA)
por
BERNARDO REIS· e A. MONFORTE·
RESUMO
o maciço quimberlítico ocidental de Camútue destaca-se como um dos mais importantes, dos pontos de vista geológico e
económico, no Nordeste de Angola.
A presente nota, de carácter prelíminar, não pretende dar resposta aos inúmeros problemas postos pela existência de jazigos
primários de diamante, tendo, por objectivo, dois pontos principais:
- Estudar o processo de formação do maciço quimberlítico e esclarecer a génese e filiação dos depósitos eluvionares e aluvionares que se lhe associam.
- Contribuir, pelo somatório dos conhecimentos adquiridos, para a descoberta de rochas quimberlíticas em regiões em que,
apesar de vastos depósitos eluvionares e aluvionares, nenhuma fonte primária é conhecida.
Para a consecução destes intentos, assentou-se no plano seguinte:
- Descrição da constituição geológica da região de Camútue.
- Observação da formação quimberlítica (caracteres físico-químicos e diferentes fácies).
- Estudo petrográfico das inclusões, não só para determinar a origem do maciço quimberlítico, como também para explicar
a natureza do substrato profundo.
- Esclarecimento da estrutura e génese do maciço quimberlítico.
- Exame dos minerais primários, sobretudo dos mais importantes como indicadores de quimberlitos, a saber: ilmenite
magnesiana e cromífera, piropo cromífero e diópsido cromífero.
- Estudo dos diamantes recolhidos nos trabalhos iniciais de prospecção, não só para caracterizar os diamantes deste jazigo,
mas também para possibilitar comparações com os dos depósitos eluvionares e aluvionares dele oriundos, de modo a estabelecer a ligação
cronológica e geográfica dos depósitos com a variação dessas características, especialmente da granulometria.
- Repartição da mineralização diamantífera que, no quimberlito, se mostra muito irregular, tudo levando a crer tratar-se
de colunas mineralizadas, lateral e verticalmente muito localizadas.
Igualmente se examinou a distribuição da mineralização diamantífera nos depósitos eluvionares independentes da rede
hidrográfica actual e nos depósitos aluvionares relacionados com a actividade actual do ribeiro Camútue.
Resultando das observações feitas, apresentam-se, por fim, conclusões que consideramos úteis para a pesquisa e descoberta
de novos jazigos primários de diamante.
ABSTRACT
Either from the geologic or the economic point of view, the westem kimberlite field of the Camútue is one of the most important in the Nort-East Angola.
The present note, of an introductory character, does not pretend to provide an answer to the innumerable questions posed
by the existence of diamond primary deposits; it has two main points for object:
- To study the formation process of the kimberlite field and to clarify the genetics and filiation of associates alluvial and
eluvial deposits.
- To contribute, with the experience acquired, for the finding of kimberlite rocks in zones where, though the vast occurrence
of alluvial and eluvial deposits, no primary source is known.
To achieve that purpose, a plan as follows was adopted:
- Description of the geologic frame of the Camútue zone;
- Observation of the kimberlite formation (physico-chemic characteristics and different facies).
- Petrographic study of the inclusions, not only to determine the kimberlite field origin, but aIso to explain the nature of
the substratum.
- Explanation of the structure and genetics of the kimberlite field.
- Observation of the primary mineraIs, namely the most important as kimberlite indicators, as follows: the magnesian and
chromo-ilmenite, the chromo-pyrope and the chromo-diopside.
- Study of the diamonds recoverred from initial prospecting works, not only to define the characteristics of the diamonds
from that deposit, but also to possibilitate comparison with those from alluvial and eluvial deposits, originating in the former, with a view
to establish the chronologic and geographic connection with deposits where such characteristics vary, namely in regard to granulometry;
- Distribution of diamond mineralization in eluvial deposits independent on the present hydrographic network and in alluvial deposits related to the present activity of the Camútue stream was equally examined.
Finally, from the observations made, conclusions deemed useful at works of research and finding of new diamond prlmary
deposits are presented.
I - INTRODUÇÃO
O maciço quimberlitico ocidental de Camútue
foi descoberto em 1958, como consequência do
desenvolvimento normal dos trabalhos de prospecção aluvionar.
O aparecimento do diópsido verde cromifero,
nos concentrados de lavagem dos poços abertos
no ribeiro de Goege, serviu de guia ao exame sistemático dos seus diversos tributários e, como corolário, foi localizado, no pequeno afluente Camútuê,
um importante jazigo primário de diamantes.
Em Camútuê, são conhecidos dois maciços quim• Geólogos da Sociedade Portuguesa de Empreendimentos,
SARL, Lisboa.
327
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Chaminé Ocidental
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Fig. 1- Forma das chaminés. 1. Furo de sonda; 2. Marco topográfico; 3. Limite das chaminés; 4. Limite do cogumelo.
berliticos distintos, a saber: maciço ocidental e
maciço oriental.
A nota que vai seguir-se descreverá unicamente
o primeiro, atendendo ao grande interesse geológico e económico que o caracteriza.
Encontrar-se-ão, nesta nota, elementos, que se
referem à constituição geológica da região, aos
caracteres físico-químicos, minerais e inclusões na
formação quimberlitica, à estrutura e génese do
maciço, às propriedades dos diamantes recolhidos
em trabalhos de prospecção e à repartição da mineralização.
II - CONSTITUIÇÃO GEOLÓGICA DO
SUBSTRATO DA REGIÃO DE CAMÚTUE
A ocorrência do maciço quimberlitico ocidental
de Camútue está ligada a uma estrutura profunda
revelada por levantamentos aeromagnetométricos.
Esta estrutura (REIS, 1971), que se estende do
rio Chicapa ao rio Luachimo, está materializada,
no terreno, por intrusões de rochas básicas (gabros
e doleritos).
O velho soco cristalino, composto de gnaisses
de composição diversa, predominantemente com
caracteres de migmatito, aflora na região.
As formações do soco são recortadas por intrusões de gabro e dolerito.
O dolerito que aflora na margem direita do ribeiro Camútue é, macroscopicamente, uma rocha
compacta, muito dura, de cor violácea, essencialmente afanítica, mas distinguindo-se bem trabéculas de feldspato.
A análise química revelou a seguinte composição:
Si O2
44,24
Al2 03
12,31
Fe2 0 3
12,94
Fe O
2,07
Mg O
7,68
Ca O
4,80
Na20
3,13
K2 O
1,75
Ti O2
3,37
Mn O
0,09
P2 Os
0,35
NiO
n. d.
Cr2 05
n. d.
3,50
H 2 0+
H 2 O3,38
99,61
328
Ainda não está determinada, em Angola, a
correspondência do quimismo dos diversos tipos
de dolerito com a idade.
Não sabemos se a composição quimica destas
rochas é variável e, portanto, com interesse comparativo muito limitado ou se, pelo contrário, se pode
seriar em categorias bem definidas, de acordo com
a idade.
Seria de interesse, sem dúvida, pela observação
do quimismo e dos minerais constitutivos fundamentais, averiguar a que idade se reportará este
dolerito: ou próxima ou remota da dos quimberlitos, a.tribuída ao Cretácico.
A morfologia da região onde surge o maciço
quimberlitico de Camútue foi modelada pelas rochas
do Complexo de Base.
Fig. 2 - Controlos estruturais preferenciais dos quimberlitos nos
grupos Camútuê e Calonda da província quimberlí.
tica do NE da Lunda: 1. quimberlitos; 2. povoação;
3. estruturas falhadas príncipais, falhas de rotura e de
disjunção.
As colinas, geralmente suaves e abauladas, não
mostram zonas escarpadas.
Nos perfis dos cursos de água, a existência de
passagens em quedas e rápidos deve-se à erosão
diferencial que actua ora sobre os gnaisses, ora
sobre as rochas intrusivas.
O maciço quimberlitico está situado numa depressão e as rochas básicas que afloram no topo ocidental contribuíram também para o preservar da erosão.
III - DESCRIÇÃO DA FORMAÇÃO QUIMBERLíTICA
A extensão superficial do maciço quimberlitico
ocidental de Camútue foi determinada, primeiramente, nos horizontes superficiais, por poços manuais.
Provado o carácter diamantífero do maciço em
condições de aproveitamento económico, foram
reconhecidas, em profundidade, a morfologia e
estrutura do maciço, por sondas de pequeno diâmetro.
Na arquitectura geral do maciço, há a salientar
as suas paredes quase verticais.
Finalmente, por sondas de grande diâmetro,
foram recolhidas amostras que não só possibilitaram
o estudo petrográfico das diversas fácies de rochas,
como também permitiram a avaliação do teor em
diamante.
Para a obtenção do teor, foram tomadas, em
cada furo, amostras de 6 em 6 metros. Constatou-se
que o teor variava não só horizontalmente como
também. verticalmente, dando a ideia de haver,
dentro do maciço, colunas mineralizadas bem definidas.
Distinguem-se no maciço quimberlitico as seguintes fácies:
a) - Rocha porfírica, avermelhada ou acastanhada, com poucos ou nenhuns xenólitos e com
grande alteração.
É formada por uma matriz com textura afanitica,
onde se disseminam inúmeros cristais de ilmenite,
diópsido, piropo, magnetite e flogopite.
A olivina só foi encontrada num furo, abaixo
de 170 metros. No entanto, observaram-se alguns
fenocristais pseudomorfizados, de cor vermelho-escura, que se atribuem à serpentinização da olivina e que constituem as variedades iddingsite ou
bowlingite.
Fenómenos de late itização, na zona superficial,
de carbonatação e de serpentinização são frequentemente observáveis.
A calcite secundária é especialmente abundante.
b) - Brecha quimberlítica primária
Trata-se duma formação heterogénea, onde, em
fundo esverdeado, se espalham abundantes inclusões
de rochas de natureza diversa, nomeadamente
eruptivas e metamórficas. É de realçar, como particularidade, a incorporação de quimberlito porfiróide.
Na matriz identificam-se também cristais de
ilmenite, piropo, diópsido e flogopite.
Esta brecha seria, pois, contemporânea da intrusão.
C) - Brecha quimberlítica secundária, muito heterogénea, muito complexa, em que, na massa fundamental, se distribuem, predominantemente, xenólitos
de rochas do Complexo de Base.
Observa-se uma dispersão muito irregular de
cristais, nomeadamente ilmenite, piropo e magnetite.
A alteração da brecha é acentuada; a calcite
impregna, dum modo geral, toda a massa da rocha.
Esta brecha é posterior à intrusão, provindo
duma deslocação das vindas primárias que se
misturaram com fragmentos das rochas encaixantes.
d) - Tufo-brecha. É composto de fragmentos
grosseiros de quimberlito e de rochas encaixantes
cimentados por minerais hidrotermais.
e) - Tufo-grés. Trata-se duma formação idêntica à que anteriormente se descreveu, em que a
granulometria dos componentes é comparativamente menor, prevalecendo os grãos de quartzo.
A classificação do material é irregular.
f) - Aleurolito. É uma rocha de aspecto argiloso, de cor avermelhada, de granulometria fina,
compreendida entre 0,1 e 0,01 mm, e com estratificação obliqua dominante, mas também entrecruzada.
Notam-se, localmente, alguns xenólitos e grãos
rolados de quartzo.
O Quadro I permite comparar os resultados das
análises de diversas amostras:
O quimberlito porfiróide de Camútue mostra-se
pouco silicioso e rico em magnésia, contrariamente
ao que acontece com as fácies efusivo-sedimentares
(tufo-brechas). Tal facto explica-se, nestes últimos,
pela abundância de areias.
É de concluir que o quimberlito de Camútue se
aproxima, do ponto de vista de composição quimica, dos quimberlitos tipicos, exceptuando porém,
neste caso, o de Bakwanga, muito silicioso.
IV - INCLUSÕES DO MACIÇO QUIMBERLíTICO
O estudo petrográfico das inclusões permite não
só determinar a origem dos maciços quimberliticos,
como também dar uma ideia da constituição do
subsolo profundo.
Com efeito, uma parte das inclusões representa
rochas profundas que muito diferem das que actualmente afloram; da sua presença, nos depósitos detríticos, presume-se a existência, nas proximidades, de
jazigos primários.
Os xenólitos da rocha quimberlitica podem ser
classificados em três categorias:
a) -
Rochas eruptivas
Apresentam-se geralmente em nódulos arredondados ou subangulosos. A sua distribuição varia
em profundidade. Há a mencionar as seguintes espécies litológicas: gabro, dolerito e quimberlito com
textura porfiróide.
b) -
Rochas sedimentares
Somente um gres arcósico foi recolhido entre os
xenólitos da rocha quimberlitica. A procedência
desta rocha é difícil de explicar, podendo representar
um testemunho de camadas actualmente erodidas.
c) - Rochas metam6rficas
Entre as rochas metamórficas, as mais interessantes são os eclogitos. São rochas constituídas principalmente por piroxenas verde-claras, formando um
mosaico equigranular e por granadas cor de salmão.
Distinguem-se também gnaisses predominantemente anfibólicos e migmatizados, que constituem
329
QUADRO I
Si 02
A12 03
Fe2 03
Fe
MgO
Ca
Na2
K2
Ti 02
MnO
P 2 Os
Ni
Cr2 03
C 02
H 2 O+
H 2 OS 03
TOTAL
°
°°
°
°
1 e 2
3 e 4
5
4
5
6
7
8
46,79
8,20
6,75
0,28
15,22
1,43
0,25
3,63
1,00
0,09
0,29
n. d.
n. d.
34,72
4,07
9,11
3,04
26,53
6,11
34,86
3,56
9,39
2,92
25,37
5,72
0,18
0,11
3,03
0,32
0,66
n. d.
n. d.
35,02
3,90
5,15
4,14
31,29
6,80
0,34
1,05
1,22
0,06
0,87
43,70
4,38
3,76
1,50
29,94
4,82
0,65
0,70
n. d.
n. d.
n. d.
2,73
7,43
10,52
1
2
39,77
5,04
6,95
3,81
22,61
5,45
1,54
0,38
0,79
0,14
0,44
35,42
4,76
8,27
3,01
27,43
3,52
0,37
0,27
1,85
0,13
0,47
n. d.
n. d.
0,60
7,46
6,42
48,82
7,01
5,61
0,55
13,89
3,77
0,24
3,22
0,53
0,07
0,39
2,60
4,08
8,92
0,08
5,41
10,33
2,88
0,29
0,05
n. d.
0,10
12,79
0,63
99,98
99, 78
99,67
100,32
-
0,68
7,11
5,07
0,12
99,90
-
3
-
-
-
Quimberlito porfiróide (Camútuê)
Tufo-brecha quimberlitico (Camútue)
Brecha quimberlitica (Camuanzanza)
um grupo importante de inclusões, a que se associam
anfibolitos, anfiboloxistos, piroxenitos e quartzitos.
Os gnaisses aparecem, às vezes, em enormes
«boulders» ou blocos flutuantes, no seio da massa
quimberlitica.
Podemos dividir os xenólitos em dois grupos:
uns, cuja rocha equivalente se pode reconhecer
nas áreas próximas de Camútue (rochas eruptivas
e maioria dos gnaisses); outros, cuja rocha equivalente não é conhecida nos arredores de Camútue
(eclogitos, anfibolitos e certos gnaisses).
É esta última categoria que fornece elementos
preciosos quanto à geologia profunda da região.
A frequência relativa das diferentes inclusões na
rocha quimberlitica pode ser resumida no Quadro II.
Podemos supor que a abundância relativa dos
xenólitos é directamente proporcional à possança
das formações de que derivam e indirectamente proporcional à profundidade dessas formações, em relação à superfície~actual (FIEREMANS, 1966).
-
2,60
11,49
-
-
6
7
8
-
-
-
100,21
100,00
-
-
-
99,97
Quimberlito porfiróide (Camatchia)
Quimberlito porfiróide (África do Sul)
Brecha quimberlitica (Bakwanga-Zaire)
V -ESTRUTURA E GÉNESE DO MACIÇO
QUIMBERLíTICO
O estudo dos xenólitos e os dados recolhidos nos
trabalhos de sondagem provam que o fenómeno
quimberlitico teve, em Camútue, várias fases explosivas e que algumas delas foram posteriores ao primeiro enchimento da chaminé.
Dar-se-á, seguidamente, uma interpretação muito
esquemática da estrutura complexa deste maciço
que parece comportar as seguintes fases:
a) - Cristalização do diamante e de certos minerais (ilmenite, piropo, diópsido e olivina), numa
zona magmática profunda.
b) - Formação de fissuras na crosta terrestre.
Sendo fraca a densidade do magma peridotitico, em consequência da grande quantidade de
vapor de água que encerra, o magma ascendeu
pelas fissuras que localmente se alargaram (MEYER
DE STADELHOFEN. 1963).
QUADRO II
ABUNDANTE
a)
MUITO
FREQUENTE
FREQUENTE
POUCO
RARO OU
FREQUENTE MUITO RARO
ROCHAS ERUPTIVAS
+
+
Gabro
Dolerito
Quimberlito
+
b) ROCHAS SEDIMENTARES
+
Grés arc6sico
c)
ROCHAS METAMÓRFICAS
Gnaisse róseo
Gnaisse anfib6lico
Gnaisse migmatizado
Anfibolito
Anfiboloxisto
Piroxenito
Quartzito
Eclogito
330
+
+
+
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'!) ...'1.
Níyel diamantífero
determinado
sondagens por
/,~".t.,tl
",
Elementos das rochas encaixantes são arrastados pelo magma cuja temperatura é baixa (grande
quantidade de água e gases).
Dá-se a cristalização do conjunto, sob a forma
duma rocha basáltica (quimberlito) ou duma brecha
basáltica (brecha quimberlítica primária), fortemente
hidratada e carbonatada.
c) - Formação da cratera, a partir de materiais
pouco consolidados. A rocha quimberlítica foi
ejectada com os fragmentos arrancados às rochas
atravessadas, quer superficiais, quer profundos.
Todos estes elementos recaem na parte superior
- funil -ou nos seus bordos e, misturados, depois,
com os fragmentos das rochas encaixantes, dão
origem à brecha quimberlítica secundária.
d) - O funil enche-se com um lago que, desde
logo, se vai colmatar com todos os materiais acumulados nos bordos. Assim se formam certos
tufos-brechas.
Verifica-se uma alternância de fácies efusivas e
sedimentares, indo estas desde o aleurolito à brecha
e passando pelo tufo-grés, sem qualquer classificação.
e) - Este processo combinado - fase eruptiva
e fase efusivo-sedimentar - foi repetido.
f) - Há a considerar, por fim, uma última vinda
quimberlitica (a terceira), seguindo,se ao segundo
período efusivo-sedimentar. Esta erupção tardia
recobriu todo o material sedimentado e atingiu a
superfície com uma diminuta zona de derrame.
É de interesse anotar o aparecimento de fragmentos de quimberlito porfiróide como xenólitos do
maciço quimberlítico ocidental de Camútue. Estes
encraves, litologicamente idênticos aos do maciço
oriental cuja fácies é uniformemente porfiróide,
poderão significar que a génese do maciço oriental
precedeu a do ocidental..
Em superfície, as sondagens revelaram uma separação dos dois maciços; mas, a profundidade que
ainda não foi possivel definir, é de supor que haja
uma raiz comum.
O resultado de todas estas acções múltiplas está
patente num desenho que se anexa e que dá ideia da
arquitectura interna do maciço quimberlítico ocidental de Camútue.
VI - OS MINERAIS DA FORMAÇÃO QUIMBERLÍTICA
Agruparemos em três categorias os minerais
diagnosticados na formação quimberlítica de Camútue e, particularmente, nos seus produtos de lavagem.
a) - Minerais primários
Ilmenite, piropo, diópsido, magnetite, titanomagnetite, olivina, fiogopite, enstatite, perovsquite
e diamante.
b) - Minerais dos xenólitos
Granada alaranjada e violeta, diópsido, zircão,
ilmenite, magnetite, clorite, estaurolite e anfíbolas
do grupo actinolite-tremolite.
c) - Minerais secundários
Calcite, magnetite, quartzo, calcedónia, minerais serpentinosos e illitosos e hidróxidos de ferro.
Destes elementos, ocupar-nos-emos apenas da
ilmenite, do piropo e do diópsido, por serem de ocor~
rência quase constante em todas as rochas quimberliticas, e, assim, servirem de guia aos trabalhos -de
prospecção, para descoberta de novas fontes primárias.
332
llmenite~
A ilmenite é o mineral primário mais abundante,
chegando os cristais a atingir 2 cm de diâmetro. Às
vezes, apresenta aspecto rolado, o que demonstra ter
sofrido, no próprio quimberlito, usura mecânica ou
dissolução periférica ou ainda o concurso dos dois
processos. Em certos casos, acha-se recoberta de
película esbranquiçada, possivelmente leucoxena.
Evidencia, geralmente, fractura conchoidal e brilho
negro.
Granada
A formação quimberlftica de Camútue contém
diversos tipos de granadas: umas que se devem relacionar com xenólitos de rochas metamórficas;
outras que constituem o mineral primário dos quimberlitos.
Trata-se, neste caso, duma granada de cor vermelho-sanguinea, de fractura conchoidal e transparente em esquirolas. Apresenta indice de refracção
compreendido entre 1,738 e 1,750. É de anotar que
as granadas da maioria dos quimberlitos pagantes
da Ãfrica do Sul têm indices de refracção compreendidos entre 1,735 e 1,750 (SNYMAN, 1977).
Diópsido
O diópsido, de frequência mais reduzida que a
dos outros elementos anteriormente referidos, revela,
geralmente, alteração superficial verde-esbranquiçada.
Encontra-se em cristais de hábito prismático e estriados. A cor varia do verde-garrafa ao verde-claro;
em alguns cristais, observa-se certa transparência.
Em Camútue, as percentagens relativas dos três
elementos mencionados, nos concentrados de lavagem que se examinaram, são as seguintes:
QUADRO III
MINERAIS
llmenite
Piropo
Diópsido
PERCENTAGENS
35,2
8,1
2,1
Não possuímos análises quimicas quantitativas
referentes à ilmenite, embora, por análises quimicas
qualitativas, se haja provado o seu carácter magnesiano e cromifero.
A análise quimica da granada e do diópsido deu
os resultados constantes do Quadro IV. É de anotar:
1. 0) - A composição da granada (magnesiana,
cromifera e fracamente ferrifera) é considerada como
característica dás granadas dos quimberlitos. A percentagem de Cr203 é, porém, relativamente pouco
elevada.
2.°) - No diópsido, o teor em ferro e, sobretudo, em crómio é característico dos minerais das
rochas quimberliticas.
Deve assinalar-se que o diópsido é também constituinte essencial dos encraves de eclogito.
VII- ESTUDO DOS DIAMANTES
- O estudo dos diamantes recolhidos inicialmente no
maciço quimberlitico ocidental de Camútue procurou alcançat o objectivo seguinte: caracterizar a
1) -Pureza
Quanto à pureza, os diamantes foram divididos
em três categorias:
a) - Joalharia
Nesta classe, são de distinguir dois tipos: transparentes puros, coloridos ou não, sem inclusões;
transparentes impuros, com algumas inclusões.
b) -Industrial, opacos ou levemente translúcidos.
c) - Boart, formas de cristalização confusa, opacas, rugosas, sem clivagem nítida. Neste grupo,
inclui-se o carbonado.
Os estudos realizados levaram às conclusões indicadas no Quadro V.
Como se verifica, à medida que a granulometria
decresce, aumenta a percentagem de diamantes
de joalharia.
Constata-se, neste maciço, a coexistência de
vários tipos de pureza, isto é, dá-se, num mesmo
meio, a cristalização de dois tipos extremos - formas transparentes puras e «boart».
QUADRO IV
Si O2
Ti O2
Al2 03
Fe2 03
Fe O
Ca O
MgO
K2 O
Na2 O
MnO
P2 0S
Cr 2 03
H 2 O+
H 2 O-
GRANADA
DIÓPSIDO
40,82
0,00
21,42
1,86
8,96
4,72
20,96
0,10
0,20
0,00
0,12
1,00
0,12
0,02
54,64
0,36
3,14
2,60
2,37
14,62
18,48
0,20
2,90
0,06
0,03
0,71)
0,12
0,07
100,30
100,29
composlçao dos diamantes deste jazigo, de modo a
possibilitar comparações com a dos depósitos eluvionares e aluvionares dele derivados e estabelecer
a ligação cronológica e geográfica dos diferentes
depósitos com a variação dessas propriedades.
Para tal, procedeu-se a um conjunto de observações, assim enunciadas:
1.0) - Análise da pureza e da cor.
2.°) - Discriminação das formas cristalográficas.
3. 0) - Ensaios de fluorescência, de granulo metria e de fracturação.
2) - Cor
Na coloração dos diamantes, os números registados apresentam-se no Quadro VI.
A percentagem total de diamantes coloridos é
de 9,9.
Na análise dos números apresentados, conclui-se
que a maior percentagem de diamantes coloridos
se encontra na dimensão granulométrica compreendida entre os crivos 36 e 22.
Não se 'pode dizer quais as formas cristalográficas que mostram maior tendência para a coloração.
São os «boules» e as formas combinadas de dode-
QUADRO V
Gramulometria
dos diamantes
>40
-40 + 36
-36+ 22
-22+ 7
< 7
TOTAL
Percentagens
Joalharia
Transp. puro
Transp. impuro
Número
de diamantes
Indust.
14
5
87
863
1009
57,1
60,0
47,1
63,8
84,5
14,3
20,0
26,4
25,2
12,5
28,6
20,0
24,1
9,1
2,2
1 978
69,4
19,8
9,3
Boart.
0,0
0,0
2,3
1,8
0,8
1,4
QUADRO VI
>
40
Amarelo-limão
Amarelo-laranja
Levemente esverdeado
Acinzentado
Ametista-claro
Rosado
Amarelo-ouro
Verde
Azul
13,6%
Coloridos
Não coloridos
-
Gramulometria dos diamantes
- 36 + 22
-22+7
- 40+ 36
-
-
-
1,1 %
2,3 ~~
11,1 %
6,8%
1,1 %
4,4%
<
7
5,7%
0,4%
3,8%
0,8%
0,4%
1,3%
0,4%
-
-
-
-
13,6%
-
26,8%
10,7%
3,7%
86,4%
100%
73,2%
89,3%
96,3%
-
-
-
-
0,6%
0,6%
-
-
0,4%
333
caedro e octaedro que denunciam maior propensão
para esta característica; mas também são estas as
formas cristalográficas que prevalecem no conjunto
dos diamantes observados.
3) - Forma cristalográfica
Quanto à forma cristalográfica, os diamantes
foram divididos em oito grupos (Quadro VII).
QUADRO VII
Percentagens
Grupos cristalinos
Dodecaedros rômbicos
Combinação de dodecaedro e octaedro
Octaedros mais ou menos estriados
Octaedros perfeitos
« Boules» - formas esféricas
MacIas
Formas raras
Cristalização imperfeita
7,2
28,1
29,1
0,3
11,5
7,2
0,3
16,2
Há uma predominância de formas de hábito
octaédrico.
A grande percentagem de formas esféricas ou
subesféricas pode considerar-se como uma das propriedades especificas deste jazigo.
Em cada um dos grupos citados, há a distinguir
cristais com forma bem definida e cristais disformes
que, embora com irregularidades, indicam a forma
do seu grupo.
Do ponto de vista indicado, os números calculados apresentam-se no Quadro VIII.
se manifesta, de modo igual, quando os diamantes
provêm de lugares diferentes.
Os resultados conseguidos no maciço quimberlitico de Camútue têm a expressão numérica indicada
no Quadro IX.
A percentagem total de diamantes fluorescentes
é de 20,0. Se, porém, abstrairmos deste cálculo os
diamantes com leve fluorescência amarelo-esverdeada e brancacenta, a percentagem total é de 5,5.
Alguns diamantes exibem fenómenos de fluorescência em alguns pontos da sua superfície e, em
outros, não. Se a solução que deu origem aos
cristais é homogénea, o caso é difícil de interpretar; mas se a homogeneidade da solução foi perturbada porrefeitos de crescimento ou de dissolução
dos cristais, I!' então já há razões que explicam esta
particularidade.
5) - Ensaios granulométricos
Análise estatística dos dados de tamanho
A representação gráfica dos dados conseguidos
nos ensaios granulométricos, tendo em vista a distribuição do tamanho dos diamantes classificados
por crivagem, pode observar-se no histograma
seguinte:
Percentagens
20
18
16
14
QUADRO VIII
Grupos cristalinos
12
Percentagens
10
Formas
bem defi- Disformes
nidas
8
6
Dodecaedros rômbicos
Combinações de dodecaedro e octaedro
Octaedros mais ou menos estriados
Octaedros perfeitos
«Boules» - formas esféricas
MacIas
Formas raras
Cristalização imperfeita
90,0
74,3
70,5
100,0
78,1
65,5
100,0
0,0
10,0
25,7
29,5
0,0
21,9
35,0
0,0
100,0
61,5
38,5
TOTAL
4
2
O ~--~~~~~~~~~~~~~~~~~~
Diâmetro
15.90 11.10 7.93 5.66 4.00 2.83 2.00 1.41
1.00
dos crivos (mm) 13.40 9.52 6.73 4.76 3.36 2.38
1.68' 1.19 0.&4
Fluorescência
A fluorescência aos raios ultravioletas presta
grandes serviços à resolução do problema da origem dos diamantes, pois que esta característica não
4) -
Este histograma é muito complexo; apresenta
quatro máximos principais, várias flutuações e um
patamar, mostrando que os diamantes são quase
ou mesmo completamente desprovidos de qualquer
preparação mecânica. Se estes máximos (se não na
QUADRO IX
I
334
Diamantes fluorescentes
Granulometria
dos diamantes
N.o de dia-
>40
-40 + 36
-36 + 22
-22+ 7
<7
14
5
87
863
1 009
4
20
8
85
195
-
TOTAL
1 978
26
288
mantes
Amarelo Amarelo esverdede ouro ado brancacento
1
1
-
-
Percentagens
Alaranjado
Azul
-
-
1
3
33
45
7,1
20,0
9,2
14,3
26,0
4
78
20,0
-
totalidade, ao menos parcialmente) se relacionassem
com vindas eruptivas sucessivas, mais ou menos
localizadas segundo colunas verticais produtoras de
diamantes de características granulo métricas diferentes, é hipótese que se pode aventar.
A análise granulo métrica indica que os diamantes
se distribuem por todas as classes definidas pela
série de crivos utilizados na respectiva classificação.
Tudo leva a crer que, num jazigo primário em
que o transporte dos diamantes (sobretudo horizontal) é fraco ou nulo, é maior a respectiva extensão granulométrica. Pelo contrário, quando há transporte e a classificação se torna mais selectiva, a
extensão dos diamantes pelas diferentes classes granulo métricas é comparativamente menor.
A relação desta extensão granulométrica com a
grandeza de transporte depende, como é lógico, das
características originais dos diamantes.
A análise estatística da distribuição dos dados
de tamanho demonstra que o coeficiente de classificação, para os diamantes do maciço quimberlítico
de Cam'Útue, é de 1,7.
De acordo com valores padrões, os diamantes
deste maciço são mal classificados.
6) - Fracturação
O estudo sistemático dos diamantes do maciço
quimberlítico de Cam'Útue permitiu constatar que
cerca de 30 % se apresentam fracturados. Para este
efeito, apenas se observaram os diamantes de maiores dimensões.
Esta grande fragilidade é atribuída, em parte,
às acções mecânicas sofridas pelo diamante aquando
da chegada às vizinhanças da superfície. Mas também é de atender às mudanças bruscas de pressão
e temperatura que muito devem ter contribuído para
esta relativa instabilidade.
VIII - REPARTIÇÃO DA MINERALIZAÇÃO
A mineralização diamantífera distribui-se, no
maciço quimberlítico de Cam'Útue, de modo irregular, tudo levando a crer tratar-se de colunas mineralizadas, lateral e verticalmente muito localizadas.
Manifesta-se também a tendência para, nos horizontes superficiais, o teor em diamante e a granulometria serem maiores que em profundidade.
As diferentes fácies petrográficas apresentam teos
res em diamante muito desiguais. Assim, entre o
teor das fácies efusivo-sedimentares e o das fácieeruptivas há uma relação que se exprime em 1 :25.
Sobreposta às formações quimberliticas aparece, actualmente, uma camada de cascalho de
eluvião onde, misturados com grandes blocos silicificados do Sistema de Kalahári, se vêem calhaus
bem rolados, de secção elíptica ou oval, tendo os
eixos maiores valores compreendidos entre 1 e 6 cm.
Este cascalho deve ter resultado, parcialmente,
da desagregação dos conglomerados do Sistema de
Kalahári que outrora devem ter coberto a região.
Não há condições favoráveis às concentrações de
diamantes, neste cascalho eluvionar; o teor é, em
geral, mais fraco que o do quimberlito subjacente.
A influência deste, nas camadas de cascalho, traduz-se pela existência, nos concentrados de lavagem,
de minerais típicos.
As vezes, inferiormente ao cascalho eluvionar,
observa-se uma formação argilo-arenosa eluviodiluvial, a que sucede uma zona caulinosa e ainda,
em certos casos, uma zona silicificada.
Sob a zona caulinosa aparecem, não raramente,
níveis de minerais densos, nomeadamente piropo
e ilmenite, correspondendo a áreas de<boas concentrações em diamante.
Das camadas eluvionares passa-se às aluviões
do fundo do vale do ribeiro Cam'Útue. Neste caso,
há já condições favoráveis à erosão e sedimentação,
assim como à concentração de diamantes.
Os teores são comparativamente mais elevados
que os do maciço quimberlitico donde os diamantes
provieram directamente, por erosão, na maioria
dos casos. Nos concentrados de lavagem deste cascalho identificam-se os elementos típicos das rochas
quimberliticas (ilmenite, piropo e diópsido), conservando as suas características originais.
É de assinalar, todavia, que o diópsido só foi
reconhecido a 2 400 metros da origem, enquanto
que o piropo foi diagnosticado a distância maior
(4 500 metros).
Como se infere das descrições feitas, há a distinguir, localmente, dois tipos principais de jazigos
de diamante: jazigos primários (quimberlitos) e
jazigos secundários (depósitos eluvionares e aluvionares).
Dos jazigos secundários, uns (cascalhos de eluvião), são independentes da rede hidrográfica actual;
outros (aluviões do fundo do vale) estão ligados
à rede hidrográfica actual, em relação directa e
imediata.
Nenhuns argumentos se puderam aduzir, porém
a favor da resolução do problema da ligação, no
terreno, dos,jazigos primários à Formação Calonda
que representa o colector secundário principal, ou
seja a fonte de aprovisionamento dos diamantes
directamente libertados dos quimberlitos.
Quando se resolver esta questão, a tarefa de descobrir novos jazigos primários será facilitada, uma
vez que a Formação Calonda constitui a fonte de
mineralização donde provém a grande maioria dos
depósitos eluvionares e aluvionares conhecidos no
Nordeste da Lunda.
IX - CONCLUSÕES
As conclusões que a seguir se enunciam pretendem apenas salientar, entre as observações feitas
em Cam'Útue, aquelas que julgamos de utilidade
para a pesquisa e descoberta de novos jazigos primários de diamante:
1) - A relação dos maciços quimberliticos com
zonas de fraqueza estrutural da crusta terrestre foi
evidenciada em Cam'Útue. A situação deste maciço,
numa estrutura profunda determinada por levantamentos aeromagnetométricos, é facto que importa
realçar.
2) - A associação, no terreno, de quimberlitos
e rochas básicas intrusivas pode também ser invocada, no caso de Cam'Útue.
Na pesquisa de quimberlitos, a procura de diques
de rochas básicas tem grande interesse, ou porque
os diques sublinhem acidentes do soco, ou porque
estejam ligados geneticamente à rocha quimberlítica.
Em qualquer dos casos, há uma associação regular de rochas básicas e quimberlitos.
Os diques de rochas básicas adquirem relevância
tanto maior quanto mais se aproximem, no tempo
geológico, do período de instrusão das rochas quimberliticas.
Daqui resulta a vantagem que há em conhecer
a idade das instrusões básicas, sempre que se possa
335
dispôr de elementos que permitam chegar a conclusão segura, a tal respeito.
3) - O estudo dos xenólitos forneceu conhecimentos valiosos sobre a geologia profunda da zona
de Camútue.
A par de inclusões que provêm de rochas que
são conhecidas à superfície do terreno, há outros
encraves que são originários do substrato profundo.
O estudo petrográfico dos xenólitos dos quimberlitos deve, pois, ser incrementado, pois a presença, nos depósitos eluvionares e aluvionares, de
elementos procedentes de rochas profundas que
muito diferem das que actualmente afloram na
região, pode levar a admitir a existência, nas proximidades, de vindas primárias.
É lícito falar-se, pois, além de minerais satélites,
de rochas satélites com interesse para a pesquisa e
descoberta de rochas quimberlíticas.
4) - O diamante teria cristalizado numa zona
profunda; donde derivariam também a ilmenite
magnesiana e cromífera, o piropo cromífero e o
diópsido cromífero.
A distribuição dos teores em diamante, no
maciço quimberlítico de Camútue, não é uniforme,
tanto horizontal, como verticalmente.
São menores as concentrações em profundidade,
o que se poderá atribuir à explosividade brutal do
magma que teria tendência para concentrar os diamantes à superfície.
Parece verificar-se a existência de colunas mineralizadas; esta desigualdade na distribuição dos
diamantes poderá imputar-se a vindas quimberlíticas diferentes e sucessivas (em Camútue, foram
arroladas três), com refusão selectiva parcial, mais ou
menos avançada, dos materiais preexistentes.
Já foi assinalado que o teor das fácies efusivo-sedimentares é muito menor que o das fácies eruptivas (1:25).
5) - Dos satélites típicos do diamante (ilmenite, piropo e diópsido), é o diópsido que, nos concentrados de lavagem das aluviões ligadas à rede
hidrográfica actual, apresenta mais reduzida área
de dispersão.
Como o diópsido é dotado de grande instabilidade química e desaparece nos conglomerados
basais da Formação Calonda, a sua presença, nos
concentrados de lavagem dos cascalhos ligados à
rede hidrográfica actual, na sua actividade antiga
ou recente, denuncia um processo de erosão directa.
Deste modo, a tarefa de descobrir as rochas
quimberlíticas, de cuja erosão os diópsidos provieram, torna-se comparativamente mais fácil.
336
6) - Na regIao de Camútue, não se coligiram
dados que permitissem estabelecer a ligação, no
terreno, das rochas quimberlíticas com a Formação
Cal onda, por esta ser desconhecida localmente.
Tal facto, a concretizar-se, seria vantajoso para
decifrar o problema da origem dos diamantes, em
áreas que a fonte de mineralização é representada
pela Formação Calonda.
7) - A génese e filiação dos diversos tipos de
jazigos de diamante ainda têm muitos pontos obscuros, na Lunda.
O estudo agora apresentado, ajudando a compreender o processo de formação das rochas quimberlíticas, pode contribuir para a resoluçã do
problema.
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WASILEWSKY, I. (1950) - Note préliminaire sur les gisements de
breche kimberlitique de Bakwanga. Congo Se. Elisabethville,
CRV.2-T.2.
ESTAMPA I
Fotografia 1 - Aspecto geral da exploração, a céu aberto, da chaminé quimberlítica ocidental de Camútue.
Fotografia 2 - Zona de bordadura da chaminé quimberlítica, observando-se intenso grau de fracturação das rochas encaixan tes (gnaisses) .
Fotografia 3 - Vinda quimberlítica posterior a formações efusivo-sedimentares (tufo-grés e aleurolito).
Fotografia 4 - Erupção quimberlítica posterior, com arqueamento das formações efusivo-sedimentares.
ESTAMPA II
5
7
Fotografia
Fotografia
Fotografia
Fotografia
5678-
6
8
Intrusão dolerítica. Aspectos de disjunção esferoidal.
Falha afectando as formações efusivo-sedimentares, com torcimento das camadas sotopostas a cascalho eluvial.
Níveis de calcite secundária na formação quimberlítica.
Xenólito de migmatito na brecha quimberlítica. Profunda caulinização por fluidos hidrotermis é nitidamente
visível.
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