NOTA PRELIMINAR SOBRE O MACIÇO QUIMBERLÍTICO OCIDENTAL DE CAMÚTUE (LUNDA-ANGOLA) por BERNARDO REIS· e A. MONFORTE· RESUMO o maciço quimberlítico ocidental de Camútue destaca-se como um dos mais importantes, dos pontos de vista geológico e económico, no Nordeste de Angola. A presente nota, de carácter prelíminar, não pretende dar resposta aos inúmeros problemas postos pela existência de jazigos primários de diamante, tendo, por objectivo, dois pontos principais: - Estudar o processo de formação do maciço quimberlítico e esclarecer a génese e filiação dos depósitos eluvionares e aluvionares que se lhe associam. - Contribuir, pelo somatório dos conhecimentos adquiridos, para a descoberta de rochas quimberlíticas em regiões em que, apesar de vastos depósitos eluvionares e aluvionares, nenhuma fonte primária é conhecida. Para a consecução destes intentos, assentou-se no plano seguinte: - Descrição da constituição geológica da região de Camútue. - Observação da formação quimberlítica (caracteres físico-químicos e diferentes fácies). - Estudo petrográfico das inclusões, não só para determinar a origem do maciço quimberlítico, como também para explicar a natureza do substrato profundo. - Esclarecimento da estrutura e génese do maciço quimberlítico. - Exame dos minerais primários, sobretudo dos mais importantes como indicadores de quimberlitos, a saber: ilmenite magnesiana e cromífera, piropo cromífero e diópsido cromífero. - Estudo dos diamantes recolhidos nos trabalhos iniciais de prospecção, não só para caracterizar os diamantes deste jazigo, mas também para possibilitar comparações com os dos depósitos eluvionares e aluvionares dele oriundos, de modo a estabelecer a ligação cronológica e geográfica dos depósitos com a variação dessas características, especialmente da granulometria. - Repartição da mineralização diamantífera que, no quimberlito, se mostra muito irregular, tudo levando a crer tratar-se de colunas mineralizadas, lateral e verticalmente muito localizadas. Igualmente se examinou a distribuição da mineralização diamantífera nos depósitos eluvionares independentes da rede hidrográfica actual e nos depósitos aluvionares relacionados com a actividade actual do ribeiro Camútue. Resultando das observações feitas, apresentam-se, por fim, conclusões que consideramos úteis para a pesquisa e descoberta de novos jazigos primários de diamante. ABSTRACT Either from the geologic or the economic point of view, the westem kimberlite field of the Camútue is one of the most important in the Nort-East Angola. The present note, of an introductory character, does not pretend to provide an answer to the innumerable questions posed by the existence of diamond primary deposits; it has two main points for object: - To study the formation process of the kimberlite field and to clarify the genetics and filiation of associates alluvial and eluvial deposits. - To contribute, with the experience acquired, for the finding of kimberlite rocks in zones where, though the vast occurrence of alluvial and eluvial deposits, no primary source is known. To achieve that purpose, a plan as follows was adopted: - Description of the geologic frame of the Camútue zone; - Observation of the kimberlite formation (physico-chemic characteristics and different facies). - Petrographic study of the inclusions, not only to determine the kimberlite field origin, but aIso to explain the nature of the substratum. - Explanation of the structure and genetics of the kimberlite field. - Observation of the primary mineraIs, namely the most important as kimberlite indicators, as follows: the magnesian and chromo-ilmenite, the chromo-pyrope and the chromo-diopside. - Study of the diamonds recoverred from initial prospecting works, not only to define the characteristics of the diamonds from that deposit, but also to possibilitate comparison with those from alluvial and eluvial deposits, originating in the former, with a view to establish the chronologic and geographic connection with deposits where such characteristics vary, namely in regard to granulometry; - Distribution of diamond mineralization in eluvial deposits independent on the present hydrographic network and in alluvial deposits related to the present activity of the Camútue stream was equally examined. Finally, from the observations made, conclusions deemed useful at works of research and finding of new diamond prlmary deposits are presented. I - INTRODUÇÃO O maciço quimberlitico ocidental de Camútue foi descoberto em 1958, como consequência do desenvolvimento normal dos trabalhos de prospecção aluvionar. O aparecimento do diópsido verde cromifero, nos concentrados de lavagem dos poços abertos no ribeiro de Goege, serviu de guia ao exame sistemático dos seus diversos tributários e, como corolário, foi localizado, no pequeno afluente Camútuê, um importante jazigo primário de diamantes. Em Camútuê, são conhecidos dois maciços quim• Geólogos da Sociedade Portuguesa de Empreendimentos, SARL, Lisboa. 327 •A• -----... Chaminé Ocidental '\ I \ \ \ e~ 50 ! 100m , Fig. 1- Forma das chaminés. 1. Furo de sonda; 2. Marco topográfico; 3. Limite das chaminés; 4. Limite do cogumelo. berliticos distintos, a saber: maciço ocidental e maciço oriental. A nota que vai seguir-se descreverá unicamente o primeiro, atendendo ao grande interesse geológico e económico que o caracteriza. Encontrar-se-ão, nesta nota, elementos, que se referem à constituição geológica da região, aos caracteres físico-químicos, minerais e inclusões na formação quimberlitica, à estrutura e génese do maciço, às propriedades dos diamantes recolhidos em trabalhos de prospecção e à repartição da mineralização. II - CONSTITUIÇÃO GEOLÓGICA DO SUBSTRATO DA REGIÃO DE CAMÚTUE A ocorrência do maciço quimberlitico ocidental de Camútue está ligada a uma estrutura profunda revelada por levantamentos aeromagnetométricos. Esta estrutura (REIS, 1971), que se estende do rio Chicapa ao rio Luachimo, está materializada, no terreno, por intrusões de rochas básicas (gabros e doleritos). O velho soco cristalino, composto de gnaisses de composição diversa, predominantemente com caracteres de migmatito, aflora na região. As formações do soco são recortadas por intrusões de gabro e dolerito. O dolerito que aflora na margem direita do ribeiro Camútue é, macroscopicamente, uma rocha compacta, muito dura, de cor violácea, essencialmente afanítica, mas distinguindo-se bem trabéculas de feldspato. A análise química revelou a seguinte composição: Si O2 44,24 Al2 03 12,31 Fe2 0 3 12,94 Fe O 2,07 Mg O 7,68 Ca O 4,80 Na20 3,13 K2 O 1,75 Ti O2 3,37 Mn O 0,09 P2 Os 0,35 NiO n. d. Cr2 05 n. d. 3,50 H 2 0+ H 2 O3,38 99,61 328 Ainda não está determinada, em Angola, a correspondência do quimismo dos diversos tipos de dolerito com a idade. Não sabemos se a composição quimica destas rochas é variável e, portanto, com interesse comparativo muito limitado ou se, pelo contrário, se pode seriar em categorias bem definidas, de acordo com a idade. Seria de interesse, sem dúvida, pela observação do quimismo e dos minerais constitutivos fundamentais, averiguar a que idade se reportará este dolerito: ou próxima ou remota da dos quimberlitos, a.tribuída ao Cretácico. A morfologia da região onde surge o maciço quimberlitico de Camútue foi modelada pelas rochas do Complexo de Base. Fig. 2 - Controlos estruturais preferenciais dos quimberlitos nos grupos Camútuê e Calonda da província quimberlí. tica do NE da Lunda: 1. quimberlitos; 2. povoação; 3. estruturas falhadas príncipais, falhas de rotura e de disjunção. As colinas, geralmente suaves e abauladas, não mostram zonas escarpadas. Nos perfis dos cursos de água, a existência de passagens em quedas e rápidos deve-se à erosão diferencial que actua ora sobre os gnaisses, ora sobre as rochas intrusivas. O maciço quimberlitico está situado numa depressão e as rochas básicas que afloram no topo ocidental contribuíram também para o preservar da erosão. III - DESCRIÇÃO DA FORMAÇÃO QUIMBERLíTICA A extensão superficial do maciço quimberlitico ocidental de Camútue foi determinada, primeiramente, nos horizontes superficiais, por poços manuais. Provado o carácter diamantífero do maciço em condições de aproveitamento económico, foram reconhecidas, em profundidade, a morfologia e estrutura do maciço, por sondas de pequeno diâmetro. Na arquitectura geral do maciço, há a salientar as suas paredes quase verticais. Finalmente, por sondas de grande diâmetro, foram recolhidas amostras que não só possibilitaram o estudo petrográfico das diversas fácies de rochas, como também permitiram a avaliação do teor em diamante. Para a obtenção do teor, foram tomadas, em cada furo, amostras de 6 em 6 metros. Constatou-se que o teor variava não só horizontalmente como também. verticalmente, dando a ideia de haver, dentro do maciço, colunas mineralizadas bem definidas. Distinguem-se no maciço quimberlitico as seguintes fácies: a) - Rocha porfírica, avermelhada ou acastanhada, com poucos ou nenhuns xenólitos e com grande alteração. É formada por uma matriz com textura afanitica, onde se disseminam inúmeros cristais de ilmenite, diópsido, piropo, magnetite e flogopite. A olivina só foi encontrada num furo, abaixo de 170 metros. No entanto, observaram-se alguns fenocristais pseudomorfizados, de cor vermelho-escura, que se atribuem à serpentinização da olivina e que constituem as variedades iddingsite ou bowlingite. Fenómenos de late itização, na zona superficial, de carbonatação e de serpentinização são frequentemente observáveis. A calcite secundária é especialmente abundante. b) - Brecha quimberlítica primária Trata-se duma formação heterogénea, onde, em fundo esverdeado, se espalham abundantes inclusões de rochas de natureza diversa, nomeadamente eruptivas e metamórficas. É de realçar, como particularidade, a incorporação de quimberlito porfiróide. Na matriz identificam-se também cristais de ilmenite, piropo, diópsido e flogopite. Esta brecha seria, pois, contemporânea da intrusão. C) - Brecha quimberlítica secundária, muito heterogénea, muito complexa, em que, na massa fundamental, se distribuem, predominantemente, xenólitos de rochas do Complexo de Base. Observa-se uma dispersão muito irregular de cristais, nomeadamente ilmenite, piropo e magnetite. A alteração da brecha é acentuada; a calcite impregna, dum modo geral, toda a massa da rocha. Esta brecha é posterior à intrusão, provindo duma deslocação das vindas primárias que se misturaram com fragmentos das rochas encaixantes. d) - Tufo-brecha. É composto de fragmentos grosseiros de quimberlito e de rochas encaixantes cimentados por minerais hidrotermais. e) - Tufo-grés. Trata-se duma formação idêntica à que anteriormente se descreveu, em que a granulometria dos componentes é comparativamente menor, prevalecendo os grãos de quartzo. A classificação do material é irregular. f) - Aleurolito. É uma rocha de aspecto argiloso, de cor avermelhada, de granulometria fina, compreendida entre 0,1 e 0,01 mm, e com estratificação obliqua dominante, mas também entrecruzada. Notam-se, localmente, alguns xenólitos e grãos rolados de quartzo. O Quadro I permite comparar os resultados das análises de diversas amostras: O quimberlito porfiróide de Camútue mostra-se pouco silicioso e rico em magnésia, contrariamente ao que acontece com as fácies efusivo-sedimentares (tufo-brechas). Tal facto explica-se, nestes últimos, pela abundância de areias. É de concluir que o quimberlito de Camútue se aproxima, do ponto de vista de composição quimica, dos quimberlitos tipicos, exceptuando porém, neste caso, o de Bakwanga, muito silicioso. IV - INCLUSÕES DO MACIÇO QUIMBERLíTICO O estudo petrográfico das inclusões permite não só determinar a origem dos maciços quimberliticos, como também dar uma ideia da constituição do subsolo profundo. Com efeito, uma parte das inclusões representa rochas profundas que muito diferem das que actualmente afloram; da sua presença, nos depósitos detríticos, presume-se a existência, nas proximidades, de jazigos primários. Os xenólitos da rocha quimberlitica podem ser classificados em três categorias: a) - Rochas eruptivas Apresentam-se geralmente em nódulos arredondados ou subangulosos. A sua distribuição varia em profundidade. Há a mencionar as seguintes espécies litológicas: gabro, dolerito e quimberlito com textura porfiróide. b) - Rochas sedimentares Somente um gres arcósico foi recolhido entre os xenólitos da rocha quimberlitica. A procedência desta rocha é difícil de explicar, podendo representar um testemunho de camadas actualmente erodidas. c) - Rochas metam6rficas Entre as rochas metamórficas, as mais interessantes são os eclogitos. São rochas constituídas principalmente por piroxenas verde-claras, formando um mosaico equigranular e por granadas cor de salmão. Distinguem-se também gnaisses predominantemente anfibólicos e migmatizados, que constituem 329 QUADRO I Si 02 A12 03 Fe2 03 Fe MgO Ca Na2 K2 Ti 02 MnO P 2 Os Ni Cr2 03 C 02 H 2 O+ H 2 OS 03 TOTAL ° °° ° ° 1 e 2 3 e 4 5 4 5 6 7 8 46,79 8,20 6,75 0,28 15,22 1,43 0,25 3,63 1,00 0,09 0,29 n. d. n. d. 34,72 4,07 9,11 3,04 26,53 6,11 34,86 3,56 9,39 2,92 25,37 5,72 0,18 0,11 3,03 0,32 0,66 n. d. n. d. 35,02 3,90 5,15 4,14 31,29 6,80 0,34 1,05 1,22 0,06 0,87 43,70 4,38 3,76 1,50 29,94 4,82 0,65 0,70 n. d. n. d. n. d. 2,73 7,43 10,52 1 2 39,77 5,04 6,95 3,81 22,61 5,45 1,54 0,38 0,79 0,14 0,44 35,42 4,76 8,27 3,01 27,43 3,52 0,37 0,27 1,85 0,13 0,47 n. d. n. d. 0,60 7,46 6,42 48,82 7,01 5,61 0,55 13,89 3,77 0,24 3,22 0,53 0,07 0,39 2,60 4,08 8,92 0,08 5,41 10,33 2,88 0,29 0,05 n. d. 0,10 12,79 0,63 99,98 99, 78 99,67 100,32 - 0,68 7,11 5,07 0,12 99,90 - 3 - - - Quimberlito porfiróide (Camútuê) Tufo-brecha quimberlitico (Camútue) Brecha quimberlitica (Camuanzanza) um grupo importante de inclusões, a que se associam anfibolitos, anfiboloxistos, piroxenitos e quartzitos. Os gnaisses aparecem, às vezes, em enormes «boulders» ou blocos flutuantes, no seio da massa quimberlitica. Podemos dividir os xenólitos em dois grupos: uns, cuja rocha equivalente se pode reconhecer nas áreas próximas de Camútue (rochas eruptivas e maioria dos gnaisses); outros, cuja rocha equivalente não é conhecida nos arredores de Camútue (eclogitos, anfibolitos e certos gnaisses). É esta última categoria que fornece elementos preciosos quanto à geologia profunda da região. A frequência relativa das diferentes inclusões na rocha quimberlitica pode ser resumida no Quadro II. Podemos supor que a abundância relativa dos xenólitos é directamente proporcional à possança das formações de que derivam e indirectamente proporcional à profundidade dessas formações, em relação à superfície~actual (FIEREMANS, 1966). - 2,60 11,49 - - 6 7 8 - - - 100,21 100,00 - - - 99,97 Quimberlito porfiróide (Camatchia) Quimberlito porfiróide (África do Sul) Brecha quimberlitica (Bakwanga-Zaire) V -ESTRUTURA E GÉNESE DO MACIÇO QUIMBERLíTICO O estudo dos xenólitos e os dados recolhidos nos trabalhos de sondagem provam que o fenómeno quimberlitico teve, em Camútue, várias fases explosivas e que algumas delas foram posteriores ao primeiro enchimento da chaminé. Dar-se-á, seguidamente, uma interpretação muito esquemática da estrutura complexa deste maciço que parece comportar as seguintes fases: a) - Cristalização do diamante e de certos minerais (ilmenite, piropo, diópsido e olivina), numa zona magmática profunda. b) - Formação de fissuras na crosta terrestre. Sendo fraca a densidade do magma peridotitico, em consequência da grande quantidade de vapor de água que encerra, o magma ascendeu pelas fissuras que localmente se alargaram (MEYER DE STADELHOFEN. 1963). QUADRO II ABUNDANTE a) MUITO FREQUENTE FREQUENTE POUCO RARO OU FREQUENTE MUITO RARO ROCHAS ERUPTIVAS + + Gabro Dolerito Quimberlito + b) ROCHAS SEDIMENTARES + Grés arc6sico c) ROCHAS METAMÓRFICAS Gnaisse róseo Gnaisse anfib6lico Gnaisse migmatizado Anfibolito Anfiboloxisto Piroxenito Quartzito Eclogito 330 + + + + + + + + ~ fiDD,Do. Q Ü ~ '2' o \~ ~ i "S?11=J ~ N.NW v v v v v v v v II v II v V' V v V V \\<"0·"j~~ ~... 1.1' v V <1 v v V V ... s:::::::::::::: II V 200,30 m v -__ V O - I) v V V V \I V V@ V II \I V V V .- 4 .~" >:;r ~ JVOO~O >, <::::: ,.... to U V V v v v' v v - V ~.~ >'~E-=:0"'c. ............ ~... -' ~ 7Z ~~ U M N v _-----...J-__ _____ 'I" II y J I ~. U O 00 ull - -{I U o I> V SOm CORPO CILINDRICO FUNIL FIGURA 3 25 ~ ~ S SE u ~ ./,.~t." '!) ...'1. Níyel diamantífero determinado sondagens por /,~".t.,tl ", Elementos das rochas encaixantes são arrastados pelo magma cuja temperatura é baixa (grande quantidade de água e gases). Dá-se a cristalização do conjunto, sob a forma duma rocha basáltica (quimberlito) ou duma brecha basáltica (brecha quimberlítica primária), fortemente hidratada e carbonatada. c) - Formação da cratera, a partir de materiais pouco consolidados. A rocha quimberlítica foi ejectada com os fragmentos arrancados às rochas atravessadas, quer superficiais, quer profundos. Todos estes elementos recaem na parte superior - funil -ou nos seus bordos e, misturados, depois, com os fragmentos das rochas encaixantes, dão origem à brecha quimberlítica secundária. d) - O funil enche-se com um lago que, desde logo, se vai colmatar com todos os materiais acumulados nos bordos. Assim se formam certos tufos-brechas. Verifica-se uma alternância de fácies efusivas e sedimentares, indo estas desde o aleurolito à brecha e passando pelo tufo-grés, sem qualquer classificação. e) - Este processo combinado - fase eruptiva e fase efusivo-sedimentar - foi repetido. f) - Há a considerar, por fim, uma última vinda quimberlitica (a terceira), seguindo,se ao segundo período efusivo-sedimentar. Esta erupção tardia recobriu todo o material sedimentado e atingiu a superfície com uma diminuta zona de derrame. É de interesse anotar o aparecimento de fragmentos de quimberlito porfiróide como xenólitos do maciço quimberlítico ocidental de Camútue. Estes encraves, litologicamente idênticos aos do maciço oriental cuja fácies é uniformemente porfiróide, poderão significar que a génese do maciço oriental precedeu a do ocidental.. Em superfície, as sondagens revelaram uma separação dos dois maciços; mas, a profundidade que ainda não foi possivel definir, é de supor que haja uma raiz comum. O resultado de todas estas acções múltiplas está patente num desenho que se anexa e que dá ideia da arquitectura interna do maciço quimberlítico ocidental de Camútue. VI - OS MINERAIS DA FORMAÇÃO QUIMBERLÍTICA Agruparemos em três categorias os minerais diagnosticados na formação quimberlítica de Camútue e, particularmente, nos seus produtos de lavagem. a) - Minerais primários Ilmenite, piropo, diópsido, magnetite, titanomagnetite, olivina, fiogopite, enstatite, perovsquite e diamante. b) - Minerais dos xenólitos Granada alaranjada e violeta, diópsido, zircão, ilmenite, magnetite, clorite, estaurolite e anfíbolas do grupo actinolite-tremolite. c) - Minerais secundários Calcite, magnetite, quartzo, calcedónia, minerais serpentinosos e illitosos e hidróxidos de ferro. Destes elementos, ocupar-nos-emos apenas da ilmenite, do piropo e do diópsido, por serem de ocor~ rência quase constante em todas as rochas quimberliticas, e, assim, servirem de guia aos trabalhos -de prospecção, para descoberta de novas fontes primárias. 332 llmenite~ A ilmenite é o mineral primário mais abundante, chegando os cristais a atingir 2 cm de diâmetro. Às vezes, apresenta aspecto rolado, o que demonstra ter sofrido, no próprio quimberlito, usura mecânica ou dissolução periférica ou ainda o concurso dos dois processos. Em certos casos, acha-se recoberta de película esbranquiçada, possivelmente leucoxena. Evidencia, geralmente, fractura conchoidal e brilho negro. Granada A formação quimberlftica de Camútue contém diversos tipos de granadas: umas que se devem relacionar com xenólitos de rochas metamórficas; outras que constituem o mineral primário dos quimberlitos. Trata-se, neste caso, duma granada de cor vermelho-sanguinea, de fractura conchoidal e transparente em esquirolas. Apresenta indice de refracção compreendido entre 1,738 e 1,750. É de anotar que as granadas da maioria dos quimberlitos pagantes da Ãfrica do Sul têm indices de refracção compreendidos entre 1,735 e 1,750 (SNYMAN, 1977). Diópsido O diópsido, de frequência mais reduzida que a dos outros elementos anteriormente referidos, revela, geralmente, alteração superficial verde-esbranquiçada. Encontra-se em cristais de hábito prismático e estriados. A cor varia do verde-garrafa ao verde-claro; em alguns cristais, observa-se certa transparência. Em Camútue, as percentagens relativas dos três elementos mencionados, nos concentrados de lavagem que se examinaram, são as seguintes: QUADRO III MINERAIS llmenite Piropo Diópsido PERCENTAGENS 35,2 8,1 2,1 Não possuímos análises quimicas quantitativas referentes à ilmenite, embora, por análises quimicas qualitativas, se haja provado o seu carácter magnesiano e cromifero. A análise quimica da granada e do diópsido deu os resultados constantes do Quadro IV. É de anotar: 1. 0) - A composição da granada (magnesiana, cromifera e fracamente ferrifera) é considerada como característica dás granadas dos quimberlitos. A percentagem de Cr203 é, porém, relativamente pouco elevada. 2.°) - No diópsido, o teor em ferro e, sobretudo, em crómio é característico dos minerais das rochas quimberliticas. Deve assinalar-se que o diópsido é também constituinte essencial dos encraves de eclogito. VII- ESTUDO DOS DIAMANTES - O estudo dos diamantes recolhidos inicialmente no maciço quimberlitico ocidental de Camútue procurou alcançat o objectivo seguinte: caracterizar a 1) -Pureza Quanto à pureza, os diamantes foram divididos em três categorias: a) - Joalharia Nesta classe, são de distinguir dois tipos: transparentes puros, coloridos ou não, sem inclusões; transparentes impuros, com algumas inclusões. b) -Industrial, opacos ou levemente translúcidos. c) - Boart, formas de cristalização confusa, opacas, rugosas, sem clivagem nítida. Neste grupo, inclui-se o carbonado. Os estudos realizados levaram às conclusões indicadas no Quadro V. Como se verifica, à medida que a granulometria decresce, aumenta a percentagem de diamantes de joalharia. Constata-se, neste maciço, a coexistência de vários tipos de pureza, isto é, dá-se, num mesmo meio, a cristalização de dois tipos extremos - formas transparentes puras e «boart». QUADRO IV Si O2 Ti O2 Al2 03 Fe2 03 Fe O Ca O MgO K2 O Na2 O MnO P2 0S Cr 2 03 H 2 O+ H 2 O- GRANADA DIÓPSIDO 40,82 0,00 21,42 1,86 8,96 4,72 20,96 0,10 0,20 0,00 0,12 1,00 0,12 0,02 54,64 0,36 3,14 2,60 2,37 14,62 18,48 0,20 2,90 0,06 0,03 0,71) 0,12 0,07 100,30 100,29 composlçao dos diamantes deste jazigo, de modo a possibilitar comparações com a dos depósitos eluvionares e aluvionares dele derivados e estabelecer a ligação cronológica e geográfica dos diferentes depósitos com a variação dessas propriedades. Para tal, procedeu-se a um conjunto de observações, assim enunciadas: 1.0) - Análise da pureza e da cor. 2.°) - Discriminação das formas cristalográficas. 3. 0) - Ensaios de fluorescência, de granulo metria e de fracturação. 2) - Cor Na coloração dos diamantes, os números registados apresentam-se no Quadro VI. A percentagem total de diamantes coloridos é de 9,9. Na análise dos números apresentados, conclui-se que a maior percentagem de diamantes coloridos se encontra na dimensão granulométrica compreendida entre os crivos 36 e 22. Não se 'pode dizer quais as formas cristalográficas que mostram maior tendência para a coloração. São os «boules» e as formas combinadas de dode- QUADRO V Gramulometria dos diamantes >40 -40 + 36 -36+ 22 -22+ 7 < 7 TOTAL Percentagens Joalharia Transp. puro Transp. impuro Número de diamantes Indust. 14 5 87 863 1009 57,1 60,0 47,1 63,8 84,5 14,3 20,0 26,4 25,2 12,5 28,6 20,0 24,1 9,1 2,2 1 978 69,4 19,8 9,3 Boart. 0,0 0,0 2,3 1,8 0,8 1,4 QUADRO VI > 40 Amarelo-limão Amarelo-laranja Levemente esverdeado Acinzentado Ametista-claro Rosado Amarelo-ouro Verde Azul 13,6% Coloridos Não coloridos - Gramulometria dos diamantes - 36 + 22 -22+7 - 40+ 36 - - - 1,1 % 2,3 ~~ 11,1 % 6,8% 1,1 % 4,4% < 7 5,7% 0,4% 3,8% 0,8% 0,4% 1,3% 0,4% - - - - 13,6% - 26,8% 10,7% 3,7% 86,4% 100% 73,2% 89,3% 96,3% - - - - 0,6% 0,6% - - 0,4% 333 caedro e octaedro que denunciam maior propensão para esta característica; mas também são estas as formas cristalográficas que prevalecem no conjunto dos diamantes observados. 3) - Forma cristalográfica Quanto à forma cristalográfica, os diamantes foram divididos em oito grupos (Quadro VII). QUADRO VII Percentagens Grupos cristalinos Dodecaedros rômbicos Combinação de dodecaedro e octaedro Octaedros mais ou menos estriados Octaedros perfeitos « Boules» - formas esféricas MacIas Formas raras Cristalização imperfeita 7,2 28,1 29,1 0,3 11,5 7,2 0,3 16,2 Há uma predominância de formas de hábito octaédrico. A grande percentagem de formas esféricas ou subesféricas pode considerar-se como uma das propriedades especificas deste jazigo. Em cada um dos grupos citados, há a distinguir cristais com forma bem definida e cristais disformes que, embora com irregularidades, indicam a forma do seu grupo. Do ponto de vista indicado, os números calculados apresentam-se no Quadro VIII. se manifesta, de modo igual, quando os diamantes provêm de lugares diferentes. Os resultados conseguidos no maciço quimberlitico de Camútue têm a expressão numérica indicada no Quadro IX. A percentagem total de diamantes fluorescentes é de 20,0. Se, porém, abstrairmos deste cálculo os diamantes com leve fluorescência amarelo-esverdeada e brancacenta, a percentagem total é de 5,5. Alguns diamantes exibem fenómenos de fluorescência em alguns pontos da sua superfície e, em outros, não. Se a solução que deu origem aos cristais é homogénea, o caso é difícil de interpretar; mas se a homogeneidade da solução foi perturbada porrefeitos de crescimento ou de dissolução dos cristais, I!' então já há razões que explicam esta particularidade. 5) - Ensaios granulométricos Análise estatística dos dados de tamanho A representação gráfica dos dados conseguidos nos ensaios granulométricos, tendo em vista a distribuição do tamanho dos diamantes classificados por crivagem, pode observar-se no histograma seguinte: Percentagens 20 18 16 14 QUADRO VIII Grupos cristalinos 12 Percentagens 10 Formas bem defi- Disformes nidas 8 6 Dodecaedros rômbicos Combinações de dodecaedro e octaedro Octaedros mais ou menos estriados Octaedros perfeitos «Boules» - formas esféricas MacIas Formas raras Cristalização imperfeita 90,0 74,3 70,5 100,0 78,1 65,5 100,0 0,0 10,0 25,7 29,5 0,0 21,9 35,0 0,0 100,0 61,5 38,5 TOTAL 4 2 O ~--~~~~~~~~~~~~~~~~~~ Diâmetro 15.90 11.10 7.93 5.66 4.00 2.83 2.00 1.41 1.00 dos crivos (mm) 13.40 9.52 6.73 4.76 3.36 2.38 1.68' 1.19 0.&4 Fluorescência A fluorescência aos raios ultravioletas presta grandes serviços à resolução do problema da origem dos diamantes, pois que esta característica não 4) - Este histograma é muito complexo; apresenta quatro máximos principais, várias flutuações e um patamar, mostrando que os diamantes são quase ou mesmo completamente desprovidos de qualquer preparação mecânica. Se estes máximos (se não na QUADRO IX I 334 Diamantes fluorescentes Granulometria dos diamantes N.o de dia- >40 -40 + 36 -36 + 22 -22+ 7 <7 14 5 87 863 1 009 4 20 8 85 195 - TOTAL 1 978 26 288 mantes Amarelo Amarelo esverdede ouro ado brancacento 1 1 - - Percentagens Alaranjado Azul - - 1 3 33 45 7,1 20,0 9,2 14,3 26,0 4 78 20,0 - totalidade, ao menos parcialmente) se relacionassem com vindas eruptivas sucessivas, mais ou menos localizadas segundo colunas verticais produtoras de diamantes de características granulo métricas diferentes, é hipótese que se pode aventar. A análise granulo métrica indica que os diamantes se distribuem por todas as classes definidas pela série de crivos utilizados na respectiva classificação. Tudo leva a crer que, num jazigo primário em que o transporte dos diamantes (sobretudo horizontal) é fraco ou nulo, é maior a respectiva extensão granulométrica. Pelo contrário, quando há transporte e a classificação se torna mais selectiva, a extensão dos diamantes pelas diferentes classes granulo métricas é comparativamente menor. A relação desta extensão granulométrica com a grandeza de transporte depende, como é lógico, das características originais dos diamantes. A análise estatística da distribuição dos dados de tamanho demonstra que o coeficiente de classificação, para os diamantes do maciço quimberlítico de Cam'Útue, é de 1,7. De acordo com valores padrões, os diamantes deste maciço são mal classificados. 6) - Fracturação O estudo sistemático dos diamantes do maciço quimberlítico de Cam'Útue permitiu constatar que cerca de 30 % se apresentam fracturados. Para este efeito, apenas se observaram os diamantes de maiores dimensões. Esta grande fragilidade é atribuída, em parte, às acções mecânicas sofridas pelo diamante aquando da chegada às vizinhanças da superfície. Mas também é de atender às mudanças bruscas de pressão e temperatura que muito devem ter contribuído para esta relativa instabilidade. VIII - REPARTIÇÃO DA MINERALIZAÇÃO A mineralização diamantífera distribui-se, no maciço quimberlítico de Cam'Útue, de modo irregular, tudo levando a crer tratar-se de colunas mineralizadas, lateral e verticalmente muito localizadas. Manifesta-se também a tendência para, nos horizontes superficiais, o teor em diamante e a granulometria serem maiores que em profundidade. As diferentes fácies petrográficas apresentam teos res em diamante muito desiguais. Assim, entre o teor das fácies efusivo-sedimentares e o das fácieeruptivas há uma relação que se exprime em 1 :25. Sobreposta às formações quimberliticas aparece, actualmente, uma camada de cascalho de eluvião onde, misturados com grandes blocos silicificados do Sistema de Kalahári, se vêem calhaus bem rolados, de secção elíptica ou oval, tendo os eixos maiores valores compreendidos entre 1 e 6 cm. Este cascalho deve ter resultado, parcialmente, da desagregação dos conglomerados do Sistema de Kalahári que outrora devem ter coberto a região. Não há condições favoráveis às concentrações de diamantes, neste cascalho eluvionar; o teor é, em geral, mais fraco que o do quimberlito subjacente. A influência deste, nas camadas de cascalho, traduz-se pela existência, nos concentrados de lavagem, de minerais típicos. As vezes, inferiormente ao cascalho eluvionar, observa-se uma formação argilo-arenosa eluviodiluvial, a que sucede uma zona caulinosa e ainda, em certos casos, uma zona silicificada. Sob a zona caulinosa aparecem, não raramente, níveis de minerais densos, nomeadamente piropo e ilmenite, correspondendo a áreas de<boas concentrações em diamante. Das camadas eluvionares passa-se às aluviões do fundo do vale do ribeiro Cam'Útue. Neste caso, há já condições favoráveis à erosão e sedimentação, assim como à concentração de diamantes. Os teores são comparativamente mais elevados que os do maciço quimberlitico donde os diamantes provieram directamente, por erosão, na maioria dos casos. Nos concentrados de lavagem deste cascalho identificam-se os elementos típicos das rochas quimberliticas (ilmenite, piropo e diópsido), conservando as suas características originais. É de assinalar, todavia, que o diópsido só foi reconhecido a 2 400 metros da origem, enquanto que o piropo foi diagnosticado a distância maior (4 500 metros). Como se infere das descrições feitas, há a distinguir, localmente, dois tipos principais de jazigos de diamante: jazigos primários (quimberlitos) e jazigos secundários (depósitos eluvionares e aluvionares). Dos jazigos secundários, uns (cascalhos de eluvião), são independentes da rede hidrográfica actual; outros (aluviões do fundo do vale) estão ligados à rede hidrográfica actual, em relação directa e imediata. Nenhuns argumentos se puderam aduzir, porém a favor da resolução do problema da ligação, no terreno, dos,jazigos primários à Formação Calonda que representa o colector secundário principal, ou seja a fonte de aprovisionamento dos diamantes directamente libertados dos quimberlitos. Quando se resolver esta questão, a tarefa de descobrir novos jazigos primários será facilitada, uma vez que a Formação Calonda constitui a fonte de mineralização donde provém a grande maioria dos depósitos eluvionares e aluvionares conhecidos no Nordeste da Lunda. IX - CONCLUSÕES As conclusões que a seguir se enunciam pretendem apenas salientar, entre as observações feitas em Cam'Útue, aquelas que julgamos de utilidade para a pesquisa e descoberta de novos jazigos primários de diamante: 1) - A relação dos maciços quimberliticos com zonas de fraqueza estrutural da crusta terrestre foi evidenciada em Cam'Útue. A situação deste maciço, numa estrutura profunda determinada por levantamentos aeromagnetométricos, é facto que importa realçar. 2) - A associação, no terreno, de quimberlitos e rochas básicas intrusivas pode também ser invocada, no caso de Cam'Útue. Na pesquisa de quimberlitos, a procura de diques de rochas básicas tem grande interesse, ou porque os diques sublinhem acidentes do soco, ou porque estejam ligados geneticamente à rocha quimberlítica. Em qualquer dos casos, há uma associação regular de rochas básicas e quimberlitos. Os diques de rochas básicas adquirem relevância tanto maior quanto mais se aproximem, no tempo geológico, do período de instrusão das rochas quimberliticas. Daqui resulta a vantagem que há em conhecer a idade das instrusões básicas, sempre que se possa 335 dispôr de elementos que permitam chegar a conclusão segura, a tal respeito. 3) - O estudo dos xenólitos forneceu conhecimentos valiosos sobre a geologia profunda da zona de Camútue. A par de inclusões que provêm de rochas que são conhecidas à superfície do terreno, há outros encraves que são originários do substrato profundo. O estudo petrográfico dos xenólitos dos quimberlitos deve, pois, ser incrementado, pois a presença, nos depósitos eluvionares e aluvionares, de elementos procedentes de rochas profundas que muito diferem das que actualmente afloram na região, pode levar a admitir a existência, nas proximidades, de vindas primárias. É lícito falar-se, pois, além de minerais satélites, de rochas satélites com interesse para a pesquisa e descoberta de rochas quimberlíticas. 4) - O diamante teria cristalizado numa zona profunda; donde derivariam também a ilmenite magnesiana e cromífera, o piropo cromífero e o diópsido cromífero. A distribuição dos teores em diamante, no maciço quimberlítico de Camútue, não é uniforme, tanto horizontal, como verticalmente. São menores as concentrações em profundidade, o que se poderá atribuir à explosividade brutal do magma que teria tendência para concentrar os diamantes à superfície. Parece verificar-se a existência de colunas mineralizadas; esta desigualdade na distribuição dos diamantes poderá imputar-se a vindas quimberlíticas diferentes e sucessivas (em Camútue, foram arroladas três), com refusão selectiva parcial, mais ou menos avançada, dos materiais preexistentes. Já foi assinalado que o teor das fácies efusivo-sedimentares é muito menor que o das fácies eruptivas (1:25). 5) - Dos satélites típicos do diamante (ilmenite, piropo e diópsido), é o diópsido que, nos concentrados de lavagem das aluviões ligadas à rede hidrográfica actual, apresenta mais reduzida área de dispersão. Como o diópsido é dotado de grande instabilidade química e desaparece nos conglomerados basais da Formação Calonda, a sua presença, nos concentrados de lavagem dos cascalhos ligados à rede hidrográfica actual, na sua actividade antiga ou recente, denuncia um processo de erosão directa. Deste modo, a tarefa de descobrir as rochas quimberlíticas, de cuja erosão os diópsidos provieram, torna-se comparativamente mais fácil. 336 6) - Na regIao de Camútue, não se coligiram dados que permitissem estabelecer a ligação, no terreno, das rochas quimberlíticas com a Formação Cal onda, por esta ser desconhecida localmente. Tal facto, a concretizar-se, seria vantajoso para decifrar o problema da origem dos diamantes, em áreas que a fonte de mineralização é representada pela Formação Calonda. 7) - A génese e filiação dos diversos tipos de jazigos de diamante ainda têm muitos pontos obscuros, na Lunda. O estudo agora apresentado, ajudando a compreender o processo de formação das rochas quimberlíticas, pode contribuir para a resoluçã do problema. BIBLIOGRAFIA FmREMANS, C. (1966) - Contribution à l'étude pétrographique de la breche kimberlitique de Bakwanga. Mem. Inst. Univ. Louvain, tome XXIV, Fase 1. FREIRE DE ANDRADE, C. (1954) - Diamond Deposits in Lunda. Diamang-Serv. Cult. Pub., n. O 17, Lisboa. MEYER DE STADELHOFEN, C. (1963) - Les breches kimberlitiques du territoire de Bakwanga (Congo). Arch. Se. SOCo Phys. Hist. Nat. Géneve, Thése n. O 1 355. MONFORTE, A. (1960) - Sintese Geral da Geologia do Nordeste da Lunda. Companhia de Diamantes de Angola, cic1ostilado. - (1960) - Estudo dos diamantes do Goege. Relat. inéd. Comp. Diam. Angola. REAL, F. (1958) - Sur les roches kimberlitiques de la Lunda (Angola). Boi. Mus. Lab. Min. Geol. Fac. Ciênc. Univ. Lisboa, 7."' Sér., n. O 27. REIS, B. (1962) - Estudo, por sondagens, da estrutura do ja• zigo diamantífero primário ocidental de Camútue. Relat. inéd. Comp. Diam. Angola. - (1963) - Algumas considerações acerca da chaminé quimberlítica ocidental de Camútue. Determinação do produto magnético a diferentes níveis do furo C. 4 do maciço oriental de Camútue. Relat. inéd. Comp. Diam. Angola. - (1964) - Determinação dos valores percentuais dos minerais satélites do diamante, existentes na fracção densa dos concentrados de alguns quimberlitos da Lunda e sua distribuição granulométrica. Relat. inéd. Comp. Diam. Angola. - (1971) - The use of aeromagnetometry in the determination of deep seated structure and its importance to kimberlite exploration.Bol. Servo Geol. Minas Angola, Luanda, Vol. 23, pp. 11-20. - (1972) - Preliminary note on the distribution and Tectonic Control of Kimberlites in Angola. 24th Int. Geol. Congr., Montreal. REIS, B. & AmES-BARROS, L. (1980) - Sur quelques quimberlites de l'Angola. 26. 0 Congro Géol. Int., Paris. SNYMAN, C. P. (1973) - Possible Classification Permeters of South African Kimberlites. Trans. Geol. Soco S. A/ric., Joanesburgo, VoI. 77, pp. 85-91. WASILEWSKY, I. (1950) - Note préliminaire sur les gisements de breche kimberlitique de Bakwanga. Congo Se. Elisabethville, CRV.2-T.2. ESTAMPA I Fotografia 1 - Aspecto geral da exploração, a céu aberto, da chaminé quimberlítica ocidental de Camútue. Fotografia 2 - Zona de bordadura da chaminé quimberlítica, observando-se intenso grau de fracturação das rochas encaixan tes (gnaisses) . Fotografia 3 - Vinda quimberlítica posterior a formações efusivo-sedimentares (tufo-grés e aleurolito). Fotografia 4 - Erupção quimberlítica posterior, com arqueamento das formações efusivo-sedimentares. ESTAMPA II 5 7 Fotografia Fotografia Fotografia Fotografia 5678- 6 8 Intrusão dolerítica. Aspectos de disjunção esferoidal. Falha afectando as formações efusivo-sedimentares, com torcimento das camadas sotopostas a cascalho eluvial. Níveis de calcite secundária na formação quimberlítica. Xenólito de migmatito na brecha quimberlítica. Profunda caulinização por fluidos hidrotermis é nitidamente visível.