PEDAGOGIA HOSPITALAR

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PEDAGOGIA HOSPITALAR: PRÁTICAS PEDAGÓGICAS ALTERNATIVAS
PARA O PROFISSIONAL DA EDUCAÇÃO
Maria Ednalva Pacheco dos Santos¹
Dra. Janine Marta Coelho Rodrigues²
RESUMO
A educação como processo civilizatório e humanístico nos dias atuais tem sido destaque
nos debates direcionados aos direitos e a qualidade na educação dos pacientes/alunos
que vivenciam uma rotina diferenciada, com práticas pedagógicas que levam pedagogos
para além âmbitos escolares, como é o caso do Projeto de Atendimento à Criança
Hospitalizada existente no Hospital Universitário Lauro Wanderley, na Universidade
Federal da Paraíba, desde 2001. O objetivo foi mostrar as práticas de atuação do
Pedagogo em ambientes não escolares e proporcionar à criança e ao adolescente
hospitalizado a possibilidade de ter acesso à educação durante o estágio da doença,
resgatando os conteúdos perdidos. A metodologia teve uma abordagem qualitativa
exploratória, conjugada a técnicas de investigação, com questionários aplicados aos
pedagogos, seguidos de observações realizadas aos pacientes/alunos, acerca da
intervenção pedagógica hospitalar. A Pedagogia Hospitalar visa promover a
integração/socialização e inclusão da criança/adolescente, família, pedagogo e hospital,
com vistas ao desenvolvimento cognitivo e à melhor qualidade de vida intelectiva e
sóciointerativa, afetiva e emocional.
Palavras-chave: Educação. Pedagogia Hospitalar. Atuação do pedagogo. Inclusão.
.
¹ Licenciatura Plena em Pedagogia/UFPB.
Cursando Pós-graduação em Psicopedagogia Institucional/CINTEP/PB – [email protected].
² Doutora em Educação; Profª. da UFPB; Coordenadora do Grupo de Pesquisa sobre Formação de
Professores do PPGE/CE/UFPB – [email protected].
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HÔPITAL PÉDAGOGIE: PRATIQUES PÉDAGOGIQUES ALTERNATIVES
POUR LA FORMATION PROFESSIONNELLE
RÉSUMÉ
L'éducation comme un processus de civilisation humaniste et aujourd'hui a été
soulignée lors des discussions dirigées pour les droits et une éducation de qualité des
patients / étudiants qui passent par des exercices différents, avec des pratiques
d'enseignement qui prennent les éducateurs au-delà des contextes scolaires, telles que le
Projet L'aide aux enfants dans les hôpitaux existants Lauro Wanderley University
Hospital, Université fédérale de São Paulo, depuis 2001. L'objectif était de montrer les
travaux pratiques des enseignants dans l'école non et donner aux enfants et adolescents
hospitalisés pour la possibilité d'avoir accès à l'éducation durant la phase de la maladie,
de récupérer le contenu perdu. La méthodologie a été une approche exploratoire
qualitative, jumelée à la recherche technique, avec des questionnaires pour les
enseignants, suivie d'observations aux patients / étudiants, sur l'hôpital intervention
pédagogique. Pédagogie Hôpital vise à promouvoir l'intégration et la socialisation et
l'inclusion de l'enfant / l'adolescent, famille, enseignants et hospitaliers, en vue du
développement cognitif et une meilleure qualité de vie et sóciointerativa intellect,
l’affectif et émotionnel.
Mots-clés: Éducation. Pédagogie Hôpital. Travail des enseignants. l'inclusion.
INTRODUÇÃO
Ultimamente
com
o
acompanhamento
das
crescentes
transformações
tecnológicas, econômicas e sociais que vêm ocorrendo nas últimas décadas, verificamos
o aparecimento de espaços educacionais não-formais, vistos como inovadores, que
abrem novos caminhos para o profissional pedagogo, onde a ação educativa encontra-se
presente em todos os setores da sociedade.
Dentre esses novos espaços, está a educação no contexto hospitalar, como é o
caso da Pedagogia Hospitalar que veio oferecer ao profissional da educação um novo
lócus de atuação dentre os seus múltiplos espaços da Pedagogia nas ciências humanas
sociais, com práticas alternativas que proporcionam momentos minimizadores do
sofrimento de crianças e adolescentes durante a sua permanência hospitalar por meio de
atividades pedagógicas que favoreçam o desenvolvimento das áreas: cognitiva, motora,
emocional e social.
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Diante dessa abordagem, desenvolvemos a pesquisa intitulada como “Pedagogia
hospitalar: práticas pedagógicas alternativas para o profissional da educação”. Esse
tema nos leva a investigações e questionamentos, na perspectiva de poder mostrar o
perfil do profissional pedagogo que atua na área da saúde. A Pedagogia hospitalar é
considerada uma grande conquista, porque envolve educadores e profissionais da saúde.
No decorrer da pesquisa, surgiram as seguintes inquietações: em que áreas nãoescolares o pedagogo pode atuar? Qual o papel do pedagogo na Pedagogia Hospitalar?
Quais as contribuições que o atendimento pedagógico educacional hospitalar pode
oferecer às crianças e adolescentes hospitalizados? São possíveis as práticas
pedagógicas para o profissional da educação dentro do ambiente hospitalar? E outros
questionamentos que veremos no decorrer deste trabalho.
O campo de atuação do pedagogo não se restringe apenas ao ambiente escolar,
mas também a outros espaços, formal, não-formal e informal. “Por certo, a ampliação
do campo de ação do pedagogo, em correspondência com a amplitude cada vez maior
das práticas educativas na sociedade, leva, também, ao aparecimento de operadores do
processo educativo para além do educador escolar” (LIBÂNEO, 2002, p. 56).
Sentimos a necessidade de escolher como campo de referência da nossa pesquisa
o Projeto de Atendimento à Criança Hospitalizada (PACH), existente desde Março de
2001, localizado no Hospital Universitário Lauro Wanderley, na Universidade Federal
da Paraíba. Tais práticas são realizadas na ala pediátrica do hospital, no qual foi
denominado de “Sala de Recreação”.
Nessa ótica, o Pedagogo não deve aparecer apenas como um reforçador da
estrutura hegemônica capitalista, e sim, num caráter opressor a esse sistema, graças a
sua
ampla
formação
continuada,
permanente,
reforçando
uma
educação
problematizadora e reflexiva, capacitando-o para o desvelamento da realidade existente
dentro do quadro político-social.
O Pedagogo através de conceitos libertadores e de sua formação ampliada nas
áreas das ciências humanas sociais, tais como: empresas, ong’s, orfanatos, meios de
comunicação de massa, movimentos sociais, serviços de psicopedagogia, clínicas de
orientação pedagógico-psicológica, hospitais, serviços de lazer e animação cultural, na
televisão, rádio, editoras, pesquisas (LIBÂNEO 2002).
As atividades educativas intencionais nos levam a objetivos e planejamentos
pré-definidos, adaptados à realidade dos pacientes/alunos, garantindo a especificidade
pessoal de cada aluno, que na maioria das vezes se encontram com uma variada faixa
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etária, e com necessidades de atividades que correspondam as suas expectativas no
processo de ensino aprendizagem. A saúde e a educação no ambiente hospitalar
precisam estar sempre interligadas para que a criança/adolescente seja reintegrado e
estimulado para uma convivência douradora e feliz juntamente com os demais.
Contexto sócio histórico e político do atendimento hospitalar
Tradicionalmente, sempre vimos o serviço hospitalar como exclusivos para os
profissionais da saúde. Porém, esta concepção vem sendo mudada nos últimos anos com
o surgimento de propostas que levam pedagogos a realizarem uma intervenção escolarhospitalar, com o intuito de promover a re-socialização e de resgatar conteúdos perdidos
de crianças e adolescentes internadas em fase de escolarização, principalmente, aquelas
em ambientes hospitalares.
De acordo com Esteves (2009, p. 2) “a Classe Hospitalar tem seu início em
1935, quando Henri Sellier inaugura a primeira escola para crianças inadaptas, nos
arredores de Paris”. Mais tarde em 1936 - surgiram classes hospitalares na Inglaterra,
Alemanha, Espanha e nos Estados Unidos, visando atender as dificuldades escolares de
crianças tuberculosas (ESTEVES, 2009). Em 1939, na França teve a criação do Centro
Nacional de Formação de Professores para crianças inadaptadas expandindo-se depois
da 2ª guerra mundial as classes hospitalares para crianças que se encontravam mutiladas
e tuberculosas.
Sob a ótica das Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação
Básica declara que “extraordinariamente, os serviços de Educação Especial podem ser
oferecidos em classes, escolas especiais, classes hospitalares e em ambiente domiciliar.
[...] (BRASIL, 2009, p. 42-43).
Considerando a importância do embasamento legal e seus aspectos que
legitimam e amparam os direitos à educação de todos os alunos, independente do seu
meio sócio-cultural que estão inseridos ou que se encontram num ambiente diferenciado
como é o caso do público infanto/juvenil hospitalizada. Os hospitais devem assegurar às
crianças e adolescentes um atendimento educacional que lhes possibilite igualdade de
condições de desenvolverem intelectualmente e psicologicamente, sendo neste fim
importante a inserção do ambiente natural.
Segundo Vasconcelos
(2006), no Brasil, a educação em
ambientes
hospitalizados já existem há muitos anos, e de acordo com o Estatuto da Criança e do
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Adolescente (ECA), na Res. nº 41, de 13/10/95, especificamente, o item 9, a criança tem
o “Direito de desfrutar de alguma forma de recreação, programas de educação para a
saúde, acompanhamento do currículo escolar durante sua permanência hospitalar”.
Pedagogia hospitalar
Etimologicamente o termo Pedagogia é considerado um dos mais antigos. Surgiu
na Grécia Antiga, Paidagogos – (escravo, considerado ignorante) – aquele que conduzia
a criança à Educação, pois em toda sua evolução sempre esteve relacionado à Educação
(SASSI, 2008). Seu conceito em épocas passadas era visto como reducionista, e foi
tornando-se forte e sistematizada ao longo dos anos.
Nos dias atuais a Pedagogia se evoluiu de maneira abrangente, passando a possuir
um progressivo reconhecimento, ampliando seus estudos com novas abordagens no
processo teórico/prática educativas, expandindo os horizontes das ciências sociais e
humanas e formando profissionais aptos a atuarem em diversas áreas, numa ação
conjunta entre escola/professor/aluno. “O objeto problema da pedagogia é a educação
enquanto prática social (fazer com que o aluno aprenda)”.
Com vistas a esse alargamento da Pedagogia não podemos deixar de enfatizar suas
diversas facetas, que abrem suas fronteiras para atuação do profissional da educação em
outros ambientes, como é o caso da Pedagogia Hospitalar, que está presente nos dias
atuais levando um conhecimento multidisciplinar às crianças e adolescentes enfermos.
As práticas pedagógicas oportunizam que os alunos/pacientes/pedagogos sintam
integrados diante do contexto da sua realidade. Matos & Mugiatti preconizam a
emergência de profissionais da educação (pedagogo) no ambiente hospitalar,
estabelecendo uma interelação/interação entre teoria/prática e prática/teoria ao relatar
que “assim, com a inserção da ação da Pedagogia Hospitalar, consegue-se uma
interação valiosa entre teoria e prática, bem como entre a prática e a teoria” (MATOS &
MUGIATTI, 2008, p. 81).
Sendo considerada inovadora, a Pedagogia hospitalar oferece assessoria
emocional e cognitiva aos pacientes-alunos que se encontram hospitalizados. E nesse
contexto, o pedagogo, em seu vasto campo de atuação, está presente nas classes
hospitalares. O atendimento educacional hospitalar é um direito da criança e do
adolescente hospitalizados e objetiva fornecer um atendimento pedagógico às pessoas
que necessitam de um atendimento diferenciado em espaços não-escolares.
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Assim, Matos & Mugiatti defende a importância do amplo campo de estudos da
Pedagogia Hospitalar, mostrando que ela é organizada sob diversos aspectos, integrando
o contexto familiar, escolar, comunidade, saúde, criança/adolescente, etc. e enfatiza:
Considerando a Pedagogia Hospitalar no seu todo, infere-se que existe
um amplo campo de estudos sistemáticos de caráter científicopedagógico que a abarca a totalidade dessa experiência e vai
precisando o perfil de seus múltiplos aspectos, sempre dentro da mais
ampla abertura e flexibilidade de soluções práticas em âmbito
hospitalar (2008, p. 82).
Deste modo, torna-se importante reconhecermos às novas aberturas e o esforço
que os hospitais estão possibilitando à ação educativa, permitindo que os profissionais
da educação atuem levando suas contribuições pedagógicas para as crianças e
adolescentes hospitalizados.
A Pedagogia e seus novos espaços
A atuação do professor no contexto hospitalar não é de um recreador que tem
apenas o objetivo de ocupar o tempo ocioso das crianças ou entretê-las na tentativa de
esquecer a dor e o sofrimento a qual estão passando. O professor em classes hospitalares
deverá ter a intenção de promover o desenvolvimento cognitivo das crianças e
adolescentes internos utilizando estratégias apropriadas. (FONSECA, 2003). Dessa
forma, para desempenhar essa função, o professor precisa estar capacitado para lidar
com as mudanças constantes nos planejamentos adequando-os a cada situação, e a cada
aluno, levando em conta o momento afetivo, clínico e social que a criança ou
adolescente se encontra, antes de insistir na realização de alguma tarefa.
Com este
intuito, é preciso ter criatividade e sensibilidade para enfrentar dificuldades e achar os
meios necessários para superá-los.
A partir dessas considerações a respeito do papel do professor que atua no
hospital. Ceccim e Fonseca (1998) enfatizam que a classe hospitalar requer professores
“com destreza e discernimento para atuar com planos e programas abertos, móveis,
mutantes, constantemente reorientados pela situação especial individual de cada
criança ou adolescente sob atendimento”. (in Medeiros & Gabardo). Assim, a
perspectiva desses pesquisadores sobre o exercício profissional do professor hospitalar é
que ele deverá ser um profissional capacitado, em desenvolver e aplicar conceitos
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educacionais com competência e habilidade, estimulando e possibilitando a crianças e
adolescentes internos na aquisição de novas aprendizagens.
Para Ceccim e Cols (1997) para a atuação do professor no contexto hospitalar é
importante que o professor conheça os funcionários, as dependências da unidade de
internação com o intuito de saber como agir quando a criança passar mal no período que
a mesma se encontre na sala de aula, como também é preciso que ele conheça as
diversas patologias, a fim de poder respeitar os limites clínicos de cada criança devido a
sua doença.
O profissional da educação deve ter uma formação continuada sob diversas
modalidades e em diversas áreas de atuação, sendo o docente um sujeito
mediador/transformador
na
formação/profissionalização
dos
sujeitos
(professores/alunos), tendo fundamentação teórica científica articulada com a realidade
e com os saberes existentes dentro da sociedade, e, sendo ele capaz de redimensionar
suas ações prático-político-pedagógicas, tanto coletivamente quanto individualmente em
diversas áreas. Para Rodrigues:
[...], considera-se que o Profissional da Educação deve estar
capacitado para o exercício da docência, como identidade profissional,
em áreas de atuação diversificadas, tais como, Educação Básica:
Educação Infantil, Ensino Fundamental, Ensino Médio, Educação de
Jovens e Adultos, Educação para os portadores de necessidades
educativas especiais, Curso normal, Educação Profissional, Educação
Não-Formal, Educação Indígena, Educação a Distância (2003, p. 89).
O pedagogo na área da saúde é uma realidade na contemporaneidade e perpassa
o muro dos âmbitos escolares. Existem especificidades que não condizem com a
aprendizagem numa sala de aula no que se refere ao tempo e ao espaço das práticas de
atuação pedagógicas hospitalares, que depende da disponibilidade do hospital.
Deste modo, torna-se urgente as práticas pedagógico-educacionais hospitalares
para esse público considerado temporário, pertence à educação “especial”. Neste espaço
hospitalar encontramos um amplo campo de atuação do pedagogo, onde eles juntamente
com os avanços político-tecnológico-científicos podem redimensionar cada vez mais as
suas práticas, pesquisando, buscando, humanizando e socializando, dando continuidade
dos estudos daqueles que cotidianamente possuem uma rotina diferenciada.
Ao ato da pesquisa podemos enfatizar Freire (1996, p. 29) quando fala que “não
há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino.* Esses que-fazeres se encontram um no
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corpo do outro. Enquanto ensino continuo buscando, reprocurando. Ensino porque
busco, porque indaguei, porque indago e me indago [...]”.
Segundo Freire o pedagogo é um investigador sistemático da realidade, é um
problematizador das práticas educativas, esse é o seu papel, pois ele busca novos sabres
e acredita nesses saberes, uma vez que o “saber” é o alimento do seu intelecto, é sua
injeção de ânimo, precisa acreditar no que faz, nas suas capacidades, defender os seus
ideais, e, principalmente, que nas práticas hospitalares, acreditar que consegue fazer a
diferença para os que necessitam de atenção, afeto e desenvolvimento intelectual.
A importância da Escolarização
De acordo com Matos & Mugiatti (2008, p115) “a hospitalização escolarizada se
constitui num espaço temporal diferenciado, em que as condições de aprendizagem
fogem à rotina escolar e o aluno é uma criança ou um adolescente hospitalizado”.
O resgate da escolarização por meio de livros, textos enfocando histórias
clássicas infantis, atividades ligadas ao cotidiano, como datas comemorativas ligadas ao
emocional, ao resgate dos conteúdos, e outros recursos lúdicos, proporcionará a criança
e ao adolescente hospitalizado alívio das suas dores e momentos prazerosos de conforto
através de atividades vivenciadas, tendo em vista o desenvolvimento psicointelectual,
afetado com a chegada da doença, e deste modo, conduzir esses pacientes/crianças à
recuperação de sua autoestima e de seu desenvolvimento emocional e social por meio
uma ação conjunta entre o Pedagogo e a criança.
A intervenção escolar-hospitalar faz com que a criança resgate a escolarização e
tenha maiores possibilidades de recuperação e resgate da sua identidade pessoal,
abalada com a chegada da doença, fazendo com que os envolvidos nesse processo
resgatem a sua autoestima e sua autoconfiança. “O contato com a escolarização faz do
hospital uma agência educacional para crianças hospitalizadas através de atividades que
ajudam a construir um percurso cognitivo, emocional e social para manter uma ligação
com a vida familiar e social e a realidade no hospital (VASCONCELOS, 2006, p. 4)”.
Desta forma, podemos perceber que a “educação é uma forma de intervenção no
mundo. Intervenção, que além do conhecimento dos conteúdos bem ou mal ensinados e
/ ou aprendidos implica tanto o esforço de reprodução da ideologia dominante quanto o
seu desmascaramento” (FREIRE, 1996, p. 98).
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Vemos então, que a educação é uma ação transformadora da realidade e, ao
mesmo tempo, renovadora de nosso pensamento enquanto sujeitos da experiência real,
fazendo-nos sentir participantes do contexto social, no qual estamos inseridos, recriando
assim, a compreensão individual de cada homem e reintegrando-o ao seu ambiente
natural.
Essa humanização acontece através do resgate da escolarização da criança e do
adolescente enfermo. Sabe-se também, que todas as crianças possuem os mesmos
direitos, independente do seu estado físico ou mental. Vale salientar, que a criança
enferma não frequenta a escola por opção própria, e sim, porque não se encontra em
possibilidades de se deslocar para o seu ambiente social (escola), bem como o seio
familiar. A socialização entre ensino-aprendizagem e reintegração acontece por meio do
contato professor/paciente, afirma Ortiz (2005, p. 67), “o contato entre professor/paciente
além de favorecer esta proteção do educando, pontua uma assistência que prioriza a qualidade
do processo de ensino-aprendizagem com vista à reintegração da escolaridade”.
Diante disso, sabemos que toda a criança e adolescente tem o direito à cidadania,
que inclui: saúde, educação, valores morais e éticos, juntamente com a sua família,
independente do deu meio social e cultural.
A escola resgata a criança e o adolescente para o mundo social, para o convívio
com os demais que no momento, encontram-se distantes, ou seja, traz de volta para a
escolarização, proporcionando aos mesmos a volta para a vida escolar.
“Todos têm direito à escolaridade; mas, para isso, é necessário criar as
necessárias condições nos grandes hospitais pediátricos ou outros hospitais que tenham
crianças/adolescentes
em
idade
de
escolarização
hospitalizados”
(MATOS & MUGIATTI, 2008, P. 83). A escolaridade é um direito garantido, e a
criança e o adolescente hospitalizado não estão fora dessa realidade que é a integração
escolar, social e familiar.
Desvelando a discussão da pesquisa
Para a coleta de dados foram utilizados os seguintes instrumentos: o questionário
com os pedagogos que atuam direta ou indiretamente nas práticas pedagógicas do
Hospital Universitário Lauro Wanderley e a observação com os pacientes/alunos no
campo analisado, com o intuito de obter informações que nos levem a elucidação dos
nossos objetivos.
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O questionário de acordo com Lakatos (2005, p. 203) “é um instrumento de
coleta de dados, constituído por uma série ordenada de perguntas, que devem ser
respondidas por escrito e sem a presença do entrevistador. No ramo da pesquisa, a
observação é importante na obtenção de coleta de dados, pois é uma técnica usada para
conseguir informações da realidade do objeto desejado, no qual o pesquisador estuda o
fenômeno com bastante atenção.
A pesquisa teve como sujeitos desta pesquisa as crianças, os adolescentes e os
pedagogos que atuam direta ou indiretamente no Projeto de Atendimento à Criança
Hospitalizada no Hospital Universitário Lauro Wanderley, na Universidade Federal da
Paraíba, onde em suas dependências existe a Sala de Recreação, localizado no 3º andar.
Considerando que nesta pesquisa buscou-se investigar a atuação do pedagogo
em espaços não escolares e que diante das nossas inquietações lançamos um olhar mais
profundo acerca desse professor da classe hospitalar, visto que é um profissional que se
diferencia dos demais. Partindo dessas perspectivas definimos como tema da nossa
pesquisa: “Pedagogia hospitalar: práticas pedagógicas hospitalares alternativas para
o profissional da educação”. Tal tema que inspirou esta pesquisa nos leva a novos
saberes, novos conhecimentos e esperamos que se alargamento à outras fronteiras para
outros profissionais deterem-se em novas pesquisas dessa atuação pedagógica na
ambiência hospitalar, como também, oferecer oportunidades aos pacientes/alunos
internos a vivenciarem momentos minimizadores interativos, socializadores e inclusivos
dentro do hospital.
Ao pensarmos em hospital, vem logo na lembrança aquele cheiro
característico de éter, doença, enfermos, enfim, tristeza, desmotivações. Para as crianças
e os adolescentes internos no HULW, tudo isso é uma realidade. Durante as nossas
atividades práticas, tivemos a oportunidade de observar a alegria, a satisfação, a
integração dos alunos-pacientes com os seus colegas, deixando seus familiares
(acompanhantes) felizes, sabendo que seus filhos estavam menos apreensivos,
agressivos e apáticos naquele ambiente inesperado.
Quando adentramos no ambiente hospitalar percebemos que existe uma faixa
etária diversificada. Ao chegarmos a Sala de Recreação ou “Escolinha do Hospital”,
nome este dado pelos pacientes alunos, presenciamos em muitas ocasiões que eles de
imediato percebem a nossa presença e logo direcionam a “Sala”. Porém, temos como
procedimento básico nos dirigir às enfermarias para chamarmos as crianças e os
adolescentes que podem se deslocar para o espaço das atividades práticas.
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Algumas crianças encontram-se tomando medicamentos ou soros, mas assim
que podem vão para a Sala de Recreação, relatam os seus pais, afirmando que “seus
filhos pedem ao médico pra colocarem o soro no braço esquerdo para que possam fazer
suas atividades na Escolinha. Quando os médicos não atendem seu pedido, choram,
pedem pra irem embora e recusam a medicação, que nesse caso os médicos precisam
usar a persistência, e em alguns casos utilizam o apoio psicológico”. Esses são relatos
parciais dos acompanhantes que também sofrem com seus filhos ao presenciarem tais
sofrimentos, levando-os muitas vezes a precisarem também de apoio de um profissional
mais qualificado para o problema enfrentado.
Muitas das crianças, encontram-se em um processo mais lento de aprendizagem
por motivos desconhecidos. Possibilitamos à essas atividades mais lúdicas, pois a
adaptação das práticas pedagógicas aplicas devem ser de acordo com sua necessidade
pessoal. Independente da situação, todos que conseguem locomover-se, se alegram com
as atividades propostas. Tais comportamentos nos alegram e nos fazem persistir nessas
ações pedagógicas hospitalares, pois nos fortalecem cada vez mais, fazendo com que
sejamos mais humanitários, mais perspicazes, podendo utilizar nosso conhecimento da
melhor forma possível para socialização-integração-inclusão desse público infantojuvenil que necessita de práticas desse porte.
CONSIDERAÇÕES FINAIS E CONTRIBUIÇÕES
Partindo da realidade analisada, constatou-se que a atuação do pedagogo não se
limita apenas no ambiente hospitalar, ocorrendo em vários campos do processo
educativo dentro da sociedade, e as atividades de resgate dos conteúdos são
imprescindíveis
para
humanização/socialização
das
crianças
e
adolescentes
hospitalizados.
O resgate da escolarização propiciado através do Projeto de Atendimento à
Criança Hospitalizada no HULW, por meio de atividades pedagógicas lúdicointerdisciplinares, ajudará a levantar a auto-estima, quebrando a mesmice da rotina do
hospital. Essas atividades psicopedagógicas ajudarão no desenvolvimento cognitivo e
no restabelecimento terapêutico, fazendo com que sejam (re) incluídas no meio social e
cultural, fornecendo-lhes oportunidade de igualdade e o direito de participar
efetivamente na vida social.
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Essa ação pedagógica é um desafio inovador para os profissionais da educação
que buscam um ambiente diferenciado, como é o caso da Pedagogia Hospitalar, que
atua no campo da educação inclusiva, voltada para “alunos-pacientes” necessitados de
apoio moral, social, cultural e psicológico nas enfermarias dos hospitais, a exemplo da
“Sala de Recreação” do Hospital Universitário Lauro Wanderley (HULW).
O atendimento da classe hospitalar é diferenciado da maioria das classes
escolares. E o papel da Pedagogia Hospitalar é contribuir para assistência clínica
infanto-juvenil, sob os mais variados segmentos procedimentais, como também
contribui ativamente na ampliação do campo de atuação do pedagogo.
Torna-se urgente, a criação de outros projetos hospitalares como esse, para um
maior alargamento de práticas intervencionais inclusivas que possibilitem à criança e o
adolescente hospitalizado outras vivências promotoras do restabelecimento terapêutico e
continuidade dos estudos durante sua permanência no hospital. Para tanto, é importante
que o poder público governamental contribua de forma positiva, com injeções de
recursos financeiros, visando ações mais enriquecedoras para o melhoramento dos
projetos que levam a humanização/socialização dos que fazem parte da Pedagogia
Hospitalar.
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CECCIM, Ricardo Burg; FONSECA, Eneida Simões. Classes hospitalares: aspectos
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13
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