A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO O CENTRO PRINCIPAL NAS CIDADES POLICÊNTRICAS: UMA DISCUSSÃO CONCEITUAL A PARTIR DA ANÁLISE DE PRESIDENTE PRUDENTE-SP1 HELOÍSA MARIZ FERREIRA2 ARTHUR MAGON WHITACKER3 Resumo: Neste artigo, discutimos o conceito de centro principal, frente um contexto de emergência de novas áreas centrais e conformação de cidades policêntricas, ligadas a estruturas urbanas mais complexas que as anteriores. A policentralidade diz respeito a áreas centrais capazes de não somente complementar, mas também concorrer com o centro consolidado, o que impacta as práticas espaciais de consumo. Para além da concentração de atividades econômicas, ao analisarmos a cidade de Presidente Prudente, incorporamos outros elementos, como a tipologia dos estabelecimentos, os segmentos sociais atendidos e os dados das dinâmicas recentes no mercado imobiliário. Este artigo é resultante de pesquisa financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo. Palavras-chave: Centro principal; Policentralidade; Presidente Prudente-SP Abstract: In this article, we discuss the main centre concept, front a context of emergence of new central areas and formation of polycentric cities, connected to urban structure more complex than the previous. The polycentrality say about the central areas able to not just complementary, but also compete with the consolidated centre, what impact under the spatial practices of consumption. When we analyze the city of Presidente Prudente, incorporated other elements, not restricted to economical activities concentration, like the firms typology, the social segments attended and data of dynamics in real estate marked. This article is resulted of research funded by Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo. Key-words: Main centre; Polycentrality; Presidente Prudente-SP 1 - O artigo é resultante da pesquisa de mestrado „O centro tradicional e o centro principal nas cidades policêntricas: transformações e permanências em Marília e Presidente Prudente-SP‟, processo 2013/22479-6, que integra o projeto temático „Lógicas econômicas e práticas espaciais contemporâneas: cidades médias e consumo‟, processo 2011/20155-3. 2 - Acadêmica do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Estadual Paulista, Campus de Presidente Prudente. E-mail de contato: [email protected] - Bolsista de Mestrado da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – Fapesp. 3 - Docente do Programa de Pós-graduação em Geografia da Universidade Estadual Paulista, Campus de Presidente Prudente. E-mail de contato: [email protected] 498 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO 1 – O centro da cidade: introdução conceitual e novas dinâmicas Até o período antecedente à segunda metade do século XX, nas cidades brasileiras, predominaram estruturas urbanas monocêntricas, caracterizadas ou por um centro único, ou por áreas de concentração de atividades terciárias incipientes e que não estabeleciam, de fato, concorrência com o centro da cidade. Esse quadro foi, paulatinamente, evoluindo juntamente à complexificação das cidades e alguns estudos pioneiros, como os de Abreu (1987), Azevedo (1959), Langenbuch (1968), Müller (1958), Santos (2008[1959]), já apontavam tanto a expansão do centro da cidade quanto a ocorrência de subcentros naquele período. Embora tais estudos se referissem ao que hoje seriam metrópoles, essa característica já não era delas exclusiva, como, para o caso de Presidente Prudente, analisou WHITACKER (1991; 1997). A partir da investigação de transformações na estrutura e na centralidade intraurbana da cidade de São Paulo, com especial atenção às transformações em seu centro e em processos espaciais que envolviam sua expansão, Cordeiro (1980) descreveu a área central da cidade de São Paulo, utilizando as noções de centro tradicional e centro principal, o que indicava a ocorrência de uma estrutura que não só possuiria mais de uma área central, como também de que o que fora compreendido como o centro da cidade mudava sua extensão e conteúdo. Cordeiro (1980) denominou de centro principal uma área composta pelo que seria um centro tradicional e um centro novo, formado pela expansão daquele, constituindo-se uma nova área mais ou menos contínua, que compreenderia a Avenida Paulista, naquela capital. Esse processo, como descrito pela autora, indica não apenas a expansão territorialmente contínua ou descontínua do centro da cidade, mas também mudanças qualitativas nesta área. Para Whitacker (2015), este é um dos elementos nodais que o levam a compreender que o termo “tradicional” deva ser evitado. Para este autor a concepção de um centro tradicional “traz implícito o entendimento de que nesta área formas e processos ocorrem em oposição a outros, por sua vez, modernos” e isso daria uma ideia de “paragem do tempo”. Contraria, entretanto, elementos característicos dos centros das cidades, marcados por mudanças perenes, que 499 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO acompanham, ao longo do tempo, transformações da cidade e outras escalas (WHITACKER, 2015, p. 41). Whitacker (2015, p. 45) propõe, então, que se distinga, numa perspectiva analítica, o que denomina de centro consolidado e o que compreende como centro principal: O que, talvez por falta de melhor definição, estamos, então, chamando de centro consolidado deve ser compreendido como um espaço com certa fixidez na estrutura e na forma urbana, com manutenção de determinadas formas espaciais e com um conjunto de processos e práticas que possibilitam sua distinção em relação a outras áreas centrais e a um centro principal (que se caracteriza por sua relação hierárquica com outras áreas centrais), além de estar consolidado em práticas espaciais que identificam tal área como o centro da cidade e em ações, definições e delimitações institucionais (por exemplo, estabelecida em planos diretores e na legislação de uso e ocupação do solo) [...] Sobre o centro principal, o autor ainda compreende que: As estruturas multicêntricas, ou seja, com mais de uma área central, combinam-se com a perspectiva do centro principal, uma vez que esta denominação implica em que outros centros se observem na cidade. Deve-se compreender que não há dualidade entre principal e suplementar, pois estes não se definem por oposição, mas complementarmente e referencialmente. O centro principal, assim definido, traz implícita a compreensão de que não é único, mas também que há relações entre este e outras áreas centrais na cidade. (WHITACKER, 2015, p. 45). Assim, nestas duas perspectivas analíticas assentamos nossa análise do centro da cidade de Presidente Prudente, Oeste do estado de São Paulo. Sobre a importância dessa área, Whitacker (1997) afirmou, ao observar transformações no centro principal daquela cidade ocorridas nos anos de 1990, que notava-se uma relativa perda de importância de seu centro ligada a um descompasso das formas espaciais com processos de reprodução do capital já identificados com a reestruturação econômica. Como resultado mais visível, naquele momento, lojas filiais e franqueadas de grandes redes foram deslocadas para outros espaços, ainda que estabelecimentos de relevância tenham permanecido. 500 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO Contudo, concomitante à „crise‟ de sua centralidade, estavam presentes dinâmicas de expansão do centro, implicando na sua superação enquanto única área central em destaque e, portanto, em sua redefinição (WHITACKER, 1997). A reestruturação da cidade esteve atrelada a fatores da escala intra e interurbana. Dentre eles, Sposito (2001, p. 237) destacou novos papéis desempenhados pelas cidades médias num novo arranjo da divisão territorial do trabalho; a dinâmica econômica e demográfica; a emergência de tecidos urbanos descontínuos; as recentes infraestruturas e o surgimento de novas formas de transporte; as diferenças significativas dos preços imobiliários e fundiários; e o aumento dos investimentos públicos e privados. Assim, compreende-se que a dimensão intraurbana, privilegiada neste texto, articula-se a outras escalas. Estes fatores originaram processos mais complexos que àqueles ligados à constituição de multicentralidades, porque representativos de novas lógicas de estruturação do espaço urbano. Correspondem às dinâmicas de proliferação de grandes superfícies comerciais e de serviços, a exemplo dos hipermercados e shopping centers (SPOSITO, 2013). Capazes de atrair consumidores de toda a cidade e das cidades vizinhas, exibem diversidade de bens e serviços e ocupam lugar na hierarquia semelhante à do centro consolidado, denotando relações tanto de concorrência, quanto de complementaridade entre as áreas centrais da cidade (WHITACKER, 2015, p. 45). Por fim, como são predominantemente voltados para públicos de poder aquisitivo específicos4, impulsionam processos de segmentação socioespacial, o que altera as práticas espaciais e impactam o centro da cidade que passa a atender predominantemente segmentos sociais de média e baixa renda, através de dinâmicas de „popularização‟ dos bens e serviços oferecidos. Neste sentido, as cidades passam a exibir não apenas muitas, mas também diferentes áreas centrais, o que implica na policentralidade (SPOSITO, 2013, p. 74-5). Ao analisarmos o centro principal nas cidades policêntricas, compreendemos que somente existe o principal se houver o suplementar ou secundário 4 Este processo aparecerá com mais ou menos intensidade, conforme a cidade estudada. No caso de Presidente Prudente, esta distinção aparece com mais força se pensarmos no centro da cidade em comparação a um dos shoppings existentes (Prudenshopping) e com menor se compararmos ao outro (Parque Shopping). 501 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO (WHITACKER, 2015, p. 45). Neste sentido, esta área só pode ser assim denominada se houver uma estrutura urbana com mais de uma área central e com a prevalência de uma sobre a outra, ou outras. Essa prevalência pode ser avaliada quantitativamente pela concentração absoluta de estabelecimentos considerados componentes do centro da cidade, ou qualitativamente pela segmentação ou tipologia dos estabelecimentos, dentre outros elementos diferenciadores (WHITACKER, 2015, p. 46. 58, 59). 2 – O centro principal de Presidente Prudente O processo de reestruturação das cidades e a conformação de estruturas urbanas policêntricas implicam em que nem sempre ocorra a correspondência territorial entre o centro consolidado e o centro principal de muitas cidades (WHITACKER, 2015). Em Presidente Prudente, o processo de reestruturação e as dinâmicas de conformação de policentralidade tiveram início a partir dos anos de 1980. Neste período, dois shopping centers foram inaugurados, num curto intervalo de tempo, e o centro da cidade sofreu uma intensa redefinição, exibindo dinâmicas de “popularização” seja dos bens e serviços oferecidos, seja do segmento socioeconômico atendido (LIMA, 2009; WHITACKER, 1991; 2010). Além do impacto representado pelos shoppings centers, vários supermercados e hipermercados também foram instalados distantes do centro, na periferia geométrica da cidade e próximos a ou em importantes vias de circulação, passando a atender não somente grande número de consumidores residentes na cidade, como também moradores da região, estabelecendo ou incrementando novos deslocamentos (ENGEL, 2012). Na Figura 01, podemos visualizar a localização de atividades terciárias e apreender que o centro exibe a maior aglomeração das mesmas, ainda que estabelecimentos de comércio e os serviços estejam amplamente distribuídos na cidade. 502 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO Figura 01. Presidente Prudente (SP): Concentração de estabelecimentos. Extraído de Porto-Sales (2014, p. 201). 503 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO A expansão do centro se dá em direção a áreas residenciais dos segmentos de médio e alto poder aquisitivo e alcança as proximidades dos dois shopping centers, o Prudenshopping (a partir de eixos constituídos pelas avenidas Manoel Goulart e Washington Luís) e o Parque Shopping Prudente, por meio da Avenida Coronel Marcondes e ruas paralelas. Como são principalmente avenidas que proporcionam fluidez aos deslocamentos por automóvel individual, podemos considerar que a expansão territorial do centro possui relação com práticas espaciais contemporâneas, baseadas neste meio de transporte. Assim, o centro consolidado é marcado pela combinação de práticas espaciais contemporâneas e aquelas de outrora, como o deslocamento a pé, praticado especialmente no Calçadão, nas ruas mais imediatas e nas praças 9 de julho e Monsenhor Sarrion Os dados do CNEFE também nos permitem afirmar que as principais atividades econômicas presentes no centro consistem no comércio de eletrodomésticos e artigos do vestuário, assim como nos serviços de restaurantes advocacia, contabilidade, médicos e odontológicos, como também identificado por Ruano (2015). No que diz respeito ao comércio, identificamos, em trabalho de campo, a presença significativa de empresas filiais e franqueadas de redes de lojas de capital nacional, regional e local que exibem preferência pelo Calçadão da Rua Tenente Nicolau Maffei, mas também estão situadas nas ruas próximas. São estes estabelecimentos os mais frequentemente mencionados como locais de compras, quando da aplicação de enquetes5 com frequentadores do centro. Como é possível observar na Figura 02, o estabelecimento das Casas Bahia foi o mais mencionado, seguido pelas lojas Pernambucanas, Magazine Luiza, Torra Torra, Chik‟s Center e Tanger, localizados no Calçadão. Indica-nos, que a oferta de artigos do vestuário está voltada, significativamente, aos segmentos de média e baixa renda, considerando a oferta de artigos a baixos preços praticados por tais lojas. Por outro lado, os dados mostram também a permanência de importantes lojas 5 Um total de trezentas enquetes foram aplicadas, nos meses de setembro e outubro, por membros do projeto temático „Lógicas econômicas e práticas espaciais contemporâneas: cidade média e consumo‟, como instrumento de apreensão da delimitação e representações erigidas pelos frequentadores do centro da cidade. 504 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO filiais e franqueadas de eletrodomésticos, que como veremos, mais adiantes, através da análise de entrevistas atendem diferentes segmentos socioeconômicos. Figura 02. Presidente Prudente (SP). Principais locais de compra. Fonte dos dados: Banco de dados do Projeto Temático „Lógicas econômicas e práticas espaciais contemporâneas: cidades médias e consumo‟. Organização: Heloísa Mariz Ferreira. Mesmo com o crescimento territorial da cidade e o surgimento de novos produtos imobiliários, o centro ainda consiste numa das áreas com preço médio elevado por metro quadrado6 da cidade. No ano de 1995, o preço médio do metro quadrado de terrenos e apartamentos localizados no centro era o mais alto da cidade e o de casas era o segundo mais elevado. Em 2000, o preço médio de terrenos exibiu declínio, assim como de casas, enquanto o de apartamentos se manteve. Em 2005, esta tendência se realiza novamente para os três tipos de imóveis. Em 2010, o Centro exibe alto preço médio de terrenos e casas, embora 6 - Os dados referentes ao preço médio do metro quadrado foram coletados dos classificados de jornais de cidades médias, nas publicações dos classificados dos dias de domingo dos meses de outubro e dezembro por equipe coordenada pelo Prof. Dr. Everaldo Santos Melazzo. 505 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO mais barato que bairros abertos recentes e espaços residenciais fechados. No que diz respeito a 2012 e ao preço médio por metro quadrado de terrenos, o centro ficou atrás apenas do condomínio João Paulo II e da Vila Euclides, mas não figurou entre os bairros de preço médio mais elevado de casas e apartamentos. Podemos, então, afirmar que o centro, embora tenha exibido oscilações do seu preço médio, tem apresentado, sobretudo nos últimos anos, preço inferior que outras áreas da cidade. Retomando as informações obtidas pelas enquetes, também foi indagado aos citadinos qual área é, para eles, a correspondente ao centro da cidade. Entre as respostas concedidas, representadas na Figura 03, 48,7% delas fizeram menção ao Calçadão da Rua Tenente Nicolau Maffei, isoladamente ou em associação a outras vias, enquanto apenas 8,4% citaram o quadrilátero central; 7,9%, uma das avenidas, em conjunto com outras ruas e avenidas; 4,1%, ao Camelódromo. Figura 03. Presidente Prudente (SP). Identificação do centro da cidade. Fonte dos dados: Banco de dados do Projeto Temático „Lógicas econômicas e práticas espaciais contemporâneas: cidades médias e consumo‟. Organização dos dados: Heloísa Mariz Ferreira Estes dados nos permitem inferir que a área core, situada na Rua Tenente Nicolau Maffei (LIMA, 2009; WHITACKER, 1991, 1997), mantém-se e, portanto, não se deslocou com a expansão territorial do centro. Corroboram, então, os dados referentes à concentração de atividades, bem como de estabelecimentos inseridos em redes de franquias e filiais, nesta via, que já nos possibilitaram, anteriormente, a consideração como a rua mais importante do centro da cidade. 506 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO Embora principal, o centro consolidado apresentou dinâmicas de „popularização‟ dos bens e serviços oferecidos, assim como da clientela atendida, conforme Whitacker (1991, 1997) e Lima (2009). A análise de entrevistas realizadas com citadinos moradores de distintas parcelas da cidade, bem como diferentes níveis de renda e faixa etária, por exemplo, permitem-nos compreender mudanças no papel do centro da cidade, face ao processo de constituição de cidade policêntrica. As entrevistas indicaram, de modo geral, o entendimento, pelos citadinos inseridos nos segmentos de mais baixa renda, dos shopping centers como „espaço de rico‟, acompanhado do entendimento de suas adequações ou não a cada espaço de consumo. A partir desta percepção em relação aos shopping centers, o consumo é realizado, predominantemente, no centro da cidade. A desconcentração de atividades foi seletiva, já que a saída de certos estabelecimentos foi mais expressiva que a de outros. Franquias e filiais de artigos do vestuário e calçados situadas no centro da cidade são direcionadas aos segmentos mais populares, em detrimento daquelas que atendem aos níveis de mais alta renda, em menor proporção, pois concentradas em subcentros e shopping centers, demonstrando o peso importante das dinâmicas de „popularização‟. Todavia, lojas de eletrodomésticos e eletroeletrônicos, entre elas filiais de grandes redes nacionais e regionais, estão presentes no centro da cidade e poucas delas são encontradas nos shopping centers da cidade, além disso, estes produtos apresentam diversidade menor nos hipermercados, o que vai na direção contrária das dinâmicas anteriormente mencionadas. As entrevistas confirmam a análise baseada nos dados de estabelecimentos, incluindo àqueles ligados a franquias e filiais, pelo fato do consumo de artigos do vestuário e calçados no centro da cidade, por exemplo, ser realizado, predominantemente, por indivíduos dos segmentos de renda mais baixas, enquanto as compras de eletrodomésticos são feitas por distintos segmentos socioeconômicos. 507 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO 3 – Considerações finais Como consideração final e não uma conclusão, podemos afirmar que o centro consolidado de Presidente Prudente exibe prevalência sobre as demais áreas centrais, se consideramos a concentração de atividades econômicas. Entretanto, os processos de reestruturação das cidades e constituição de policentralidades não somente originaram estruturas urbanas mais complexas, mas também centros principais mais difíceis de serem estabelecidos e compreendidos. Ao analisarmos a cidade de Presidente Prudente, identificamos que o centro principal passou por redefinições e dinâmicas de „popularização‟, atendendo predominantemente os segmentos sociais de média/baixa renda, enquanto as camadas sociais de mais alta renda mostram preferência pelos novos espaços de consumo, mas consomem bens e serviços no centro, quando a oferta é mais significativa que outras áreas centrais. Há, então, distintas importâncias atribuídas ao centro consolidado para os segmentos socioeconômicos, consistindo em centro principal mais em função do consumo dos segmentos de mais baixa renda que daqueles dos níveis de renda mais altos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABREU, M. Evolução urbana do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Iplan-Rio/Jorge Zahar, 1987. AZEVEDO, A. (Coord.). A cidade de São Paulo. Estudos de geografia urbana. São Paulo: Companhia Editora Nacional,1958. CORDEIRO, H. K. O centro da metrópole paulistana – expansão recente. São Paulo: USP – IG, 1980. ENGEL, P. E. 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