Unidade 5 - Aspectos psicológicos do processo saúde/doença O estudo das correlações entre emoções e as reações bioquímicas e funcionais do nosso organismo veio tornar mais compreensíveis as patologias e a terapêutica necessária a cada uma delas. 5.1- Situações específicas nas atividades terapêuticas O portador do HIV Desde que a imprensa mundial voltou seu interesse para o problema da AIDS, essa doença tornou-se peculiar de diversas maneiras. Se por um lado é aquela cujos conhecimentos e progressos em pesquisa são os mais notificados, por outro é o principal prato para as notícias sensacionalistas e muitas vezes falsas. Somos bombardeados diariamente com as mais diversas informações sobre AIDS. É de se prever a angústia dos indivíduos doentes ou infectados com o HIV. A AIDS poderia ser uma doença transmissível tratada como diversas outras, se não houvesse toda a carga de reprovação social. Muitas vezes, o portador tenta esconder ao máximo essa realidade por saber as conseqüências familiares, sociais e afetivas da admissão do seu problema. Diga-se de passagem, que a AIDS, além de ser uma doença transmissível, está ligada à sexualidade, o que a torna duplamente estigmatizada. Os sintomas das doenças relacionadas com a AIDS debilitam profundamente o paciente tornando freqüentemente visíveis às outras pessoas; muitas vezes desfiguram fisicamente; e normalmente interrompem as interações do paciente com a sociedade. Sem dúvida entrar em contato com o diagnóstico de HIV positivo significa deparar-se com uma ameaça de morte, ou pelo menos com uma sentença de morte. Primordialmente, é vital o respeito as individualidade, adaptando-se o tratamento ao paciente, conforme a situação. È muito importante perceber que, muito antes do sofrimento físico, a AIDS impõe uma vivência de intensas perdas. Perde-se a identidade corporal, a identidade social, o trabalho, a autonomia e a privacidade. O que se percebe, diante destes fatos, é que o paciente de AIDS é envolvido por um alto grau de ansiedade, o que acarreta uma dificuldade ainda maior em lidar com o stress social e psicológico. È importante perceber do ponto de vista psicodinâmico, que a AIDS ocorre em pessoas, com raras exceções, com personalidades frágeis, narcísicas e já estigmatizadas antes da doença. O portador de AIDS é uma pessoa que exige muita dedicação e compreensão. A equipe de saúde nem sempre recebe um adequado preparo para o contato diário e prolongado com esse tipo de paciente. Não se pode negar que o preconceito pessoal interfere muitas vezes no estabelecimento de um adequado relacionamento entre profissional e paciente. É habitual que médicos e outros profissionais recuse-se, ou procurem evitar atender pacientes com AIDS, alegando que o prognóstico é ruim. 1 A vítima de violência Nos tempos modernos, a violência invadiu todas as áreas da vida de relação do indivíduo: relação com o mundo das coisas, com o mundo das pessoas, com seu corpo e sua mente. É como se o progresso tecnológico, o desenvolvimento da civilização, ao invés de propiciar o bem estar dos indivíduos, concorressem para deteriorização das condições da vida social. A violência, também deve ser entendida como produto e produtora dessa deteriorização como patologia ou doença social que acaba por “contaminar” toda a sociedade - mesmo naqueles grupos ou instituições consideradas como protetores de seus membros, a família , a escola, polícia, por exemplo. É como se vivêssemos um momento de nossa civilização em que a cultura não dá mais conta de canalizar a agressividade – que todos nós possuímos - em produções socialmente construtivas; é como se essa energia não encontrasse canais, formas de se expressar dentro dos limites da leis, das regras. Há um clima cultural no qual se observa a deteriorização de valores básicos e agregadores da coletividade; a solidariedade, a justiça, a dignidade. É nesse clima que se percebe a banalização do mal, a tolerância com a crueldade, a impunidade,a descrença no mecanismo regulador da convivência (o sistema de justiça) e o fracasso do Estado em garantir a segurança dos cidadãos, até porque se descobre que o próprio Estado contribui para a violência. O profissional de saúde é o elemento nessa cadeia da violência que faz o intermédio entre o ato violento e a possibilidade de cura do corpo físico e de questionamento da cura do mal social e psíquico. Acolher a vitima da violência é a possibilidade de quebra essa cadeia. O profissional da saúde possui um lugar melindroso e às vezes cruel por ter um compromisso ético de prestar atendimento tanto a vítima quanto ao agressor. Este com suas razões e vicissitudes pessoais e sociais. A humanização do atendimento busca possibilitar aos envolvidos pela violência (vítima e agressor) um atendimento imediato, onde o acolhimento e a atenção individualizada para cada caso são fundamentais e espera-se que faça com que este se sinta amparada durante todo o processo. Assim, as ações dos profissionais de saúde devem estar voltadas para o rompimento do ciclo de violência e que se caracteriza pela disponibilidade para ouvir, acolher e cuidar. 5.2- Dinâmica de grupos como recurso: A dinâmica de grupos estuda as forças que afetam a conduta do grupo, começando por analisar a situação grupal como um todo em sua forma própria. A partir deste estudo, surge o conhecimento de cada um de seus componentes (o todo dá sentido às partes). A dinâmica de grupos é orientada para produzir uma reflexão do comportamento dos membros dos grupos e uma possível mudança de postura dos mesmos. Através de uma série de técnicas os indivíduos e os grupos se organizam e aprendem a se comunicar e a conviver melhor. A possibilidade de se colocarem os auxilia a organizar suas dificuldades com o grupo em si e com a própria sociedade. Portanto, a dinâmica de grupo é um recurso que pode ser utilizado pelo profissional de psicologia para resgatar a auto-estima dos excluídos por vários estigmas como o da violência , pela AIDS, pelo uso de drogas, pelos doentes de câncer,... 2