FILOSOFIA Prof. Raphael Reis – Aula 01 apresentar o resultado de sua análise através de um diálogo (linguagem) ou da escrita, terá que ter um caráter universal, aplicada a outras pessoas e lugares. Portanto, podemos concluir que filosofar não é pensar de qualquer maneira. Cuidado, na filosofia não existem respostas definitivas, é um fazer contínuo através da conversação. Há mais de 25 séculos era preocupação da filosofia a felicidade, pois esta era o objetivo supremo da vida humana. Felicidade, em sua origem quer dizer um estado de fecundidade que gera vida e vitaliza nossa existência. Eram questões dos gregos da Antiguidade: - Se o que nos move é, em última instância, o desejo de ser feliz, mas nem todo ato traz felicidade, como alcançar nosso objetivo? - Como devemos agir para levar uma vida feliz ou menos infeliz? - Quais são as fontes da felicidade? Note que essas questões de muito tempo atrás continuam atualizadas nos tempos atuais, afinal, quem não quer ser feliz?! Vários sistemas filosóficos, isto é, o conjunto de elementos em que um depende do outro, compondo um todo orgânico, coerente e organizado, surgiram para abordar o tema felicidade – iremos analisar alguns adiante. De maneira geral, os textos da Antiguidade apontavam que os elementos mais desejados pelas pessoas em geral – muito semelhante aos de hoje -, são: Bens materiais e riqueza; Status social, poder e glória; Prazeres da mesa e da cama; Saúde; Amor e amizade. Os filósofos gregos propuseram caminhos comportamentais e intelectuais para obtenção da felicidade verdadeira que, para a maioria deles, passava por uma concepção do coletivo, o bem da comunidade. Prof. Raphael Reis 3 www.estrategiaconcursos.com.br FILOSOFIA Prof. Raphael Reis – Aula 01 1.1 Platão Até então a felicidade estava a mercê das divindades, isto é, um caminho para a felicidade era não se indispor com os deuses e agradá-los. Neste sentido, era algo instável. Contra esta instabilidade, Platão junto com Sócrates foi um dos primeiros a pensar numa busca da felicidade estável. Sabemos que Platão entendia o mundo material (percebido pelos cinco sentidos) como enganoso, ou seja, por meio dele não se obteria a felicidade. A forma de se conquistar a felicidade é abandonar a ilusão dos sentidos e ir em direção ao mundo das ideias, até alcançar o conhecimento supremo da realidade, correspondente à ideia de bem. Essa ideia de bem está associada a sua doutrina sobre a alma humana, que dizia que o ser humano é essencialmente alma, sendo imortal e que ela existe previamente ao corpo, e o seu lugar não era o mundo visível, mas o mundo inteligível (apreendido somente pelo intelecto). Para ele a alma se dividia em 3 partes: alma concupiscente: situada no ventre e ligada aos desejos carnais; alma irascível: situada no peito e vinculada às paixões; alma racional: situada na cabeça e relacionada ao conhecimento. A harmonização dos 3 tipos de alma levaria a felicidade, sendo que a alma racional subordinaria as demais. Para apoiar esta tarefa, Platão propunha 2 práticas: Ginástica: exercícios físicos para cuidar do corpo, com o objetivo de proporcionar disciplina e domínio das inclinações negativas. Dialética: método praticado por Sócrates como caminho para ascender do visível ao inteligível. Prof. Raphael Reis 4 www.estrategiaconcursos.com.br FILOSOFIA Prof. Raphael Reis – Aula 01 Estas duas formas, ginástica e dialética, levariam a contemplação das ideias perfeitas, a ideia do bem. O bem seria a causa de todas as coisas justas e belas que existem. Assim, seu pensamento sobre a felicidade poderia ser sintetizado num processo de busca contínua e progressiva: conhecimento = bondade = felicidade. Aquele que alcança o conhecimento verdadeiro, que culmina na ideia de bem, torna-se um ser melhor em sua essência. Este bem precisa ser entendido dentro do contexto da pólis, da política, que era a atividade mais nobre, mais importante, porque através dela se buscava o bem de todos, da construção de uma sociedade justa. Esta sociedade teria 3 pilares: produção de alimentos e de bens materiais, defesa da cidade e administração da pólis. Cada cidadão teria uma função social (produtor, guerreiro ou sábio) dependendo de sua aptidão natural. Dessa forma, é mais um caminho para a felicidade, porque cada um cumprindo sua função social já seria feliz. 1.2 Aristóteles Embora tenha sido discípulo de Platão, refutou a doutrina do mundo das ideias. Valorizava também a atividade intelectual e contemplativa, mas resgatava o papel dos bens humanos (materiais), para alcançar uma vida boa. Defendia que um ser humano só alcança o seu fim quando cumpre a função que lhe é própria e distingue dos demais seres, isto é, sua virtude lhe traz prazer. Essa virtude que a distingue de outros seres é pensar de forma racional, ou seja, só terá felicidade atuando com a razão. Isto se traduz numa contemplação intelectual da observação da beleza e da ordem do cosmo, mantendo essa prática a vida inteira. Além disso, propunha também que não se pode abandonar a companhia da família e dos amigos, da busca da riqueza e do poder. Estes resultam em prazer seja ele material ou social, indispensáveis à vida contemplativa, porém, antes de se passar à vida contemplativa, é preciso estar alimentado e a cidade em paz. Prof. Raphael Reis 5 www.estrategiaconcursos.com.br FILOSOFIA Prof. Raphael Reis – Aula 01 Somado a atividade intelectual e a outros prazeres, dizia que era preciso cultivar outras virtudes, tais como: coragem, generosidade e justiça. Isso tudo contribuiria com a felicidade humana. 1.3 Epicuro Deu uma resposta diferente da de Platão e da de Aristóteles para a questão da felicidade. Epicuro (341 a.C a 271 a.C) recomendava o caminho do prazer, valorizando menos o papel do intelecto. Felicidade, para ele, é satisfação dos desejos. Em seu entendimento, tudo no mundo é matéria e refutava a doutrina do mundo das ideias. Portanto, se tudo é matéria, o ser humano é sensação e para ser feliz precisa do prazer e evitar a dor. Uma das principais causas da angústia e infelicidade são as preocupações religiosas e superstições, pois impõe crenças que, na época, incutiam o temor às divindades e o medo da morte. Afirmava que quem espera muito de alguém ou de alguma coisa corre-se o risco de se decepcionar. Portanto, é preciso eliminar os desejos desnecessários e se permitir somente ao que é necessário, com moderação. Ele fez a seguinte classificação dos desejos: Naturais e necessários: comer, beber e dormir; Não naturais e desnecessários: riqueza, fama e poder; Contentar-se com o pouco: seria o principal elemento para a felicidade. Com a expectativa reduzida não haveria decepção, e um grande prazer pode vir de coisas simples. Nem todos os prazeres geram felicidade e há alguns que são superiores a outros, por isso, o filósofo Epicuro recomenda agir com prudência racional. Desse modo teríamos condições de governar a própria vida, sem depender de elementos externos, conquistando o estado de imperturbabilidade da alma ou Prof. Raphael Reis 6 www.estrategiaconcursos.com.br FILOSOFIA Prof. Raphael Reis – Aula 01 ataraxia - esse é o objetivo principal para se chegar à felicidade conforme os epicuristas. 1.4 Estoicos Zenão de Cício (335 a.C a 264 a.C) é considerado o primeiro filósofo desta corrente. Para os estoicos são felizes aqueles que vivem de acordo com a ordem cósmica, aceitando o seu próprio destino nele inscrito. Esta corrente concebe o universo como um cosmos, ordenado e harmonioso, composto de um princípio passivo (a matéria) e de um princípio ativo (logos), que permeia, anima e conecta todas as suas partes. Tudo que existe e que acontece tem um objetivo de ser, pois faz parte da inteligência divina. Os acontecimentos estariam pré-determinados e são necessários, nos cabendo simplesmente aceitar o destino definido. Tudo que acontece deve ser bom, pois é animado pelo bem contido nos princípios racionais que governam o universo. O importante é a ordem do todo, da totalidade do universo, isto quer dizer, o bem do todo é melhor do que o bem individual. Em resumo, se acharmos que felicidade é tudo aquilo que desejamos inevitavelmente vamos topar com a infelicidade, já que basta fracassar em alcançar um desejo e nos tornaremos infelizes. Se não depende de nós, e sim de uma ordem cósmica, o que para o estoicismo poderia ser feito para o ser humano, dentro dessa pouca liberdade, contribuir com sua felicidade? A vontade. Ela nos permite querer ou não querer as coisas. Usando-a posso optar em querer apenas aquilo sobre o que tenho poder de escolher que me faz verdadeiramente feliz. Neste sentido, a vontade vai em direção a dominar as paixões e controlar os pensamentos, pois estes geram as condições do afloramento das paixões. Enfim, a pessoa deve não apenas aceitar o seu destino, mas também querê-lo, ou seja, amar o que é, o que tem e o que vive. Prof. Raphael Reis 7 www.estrategiaconcursos.com.br FILOSOFIA Prof. Raphael Reis – Aula 01 Observe a pintura abaixo de Antônio Zachi, intitulada “O Bom Samaritano”. Siga os 3 passos da reflexão filosófica (estranhamento, questionamento e resposta) e tente responder filosoficamente essa representação. Finalizamos aqui mais um capítulo de nossa aula. Qual dos pensamentos filosóficos sobre felicidade mais lhe agradou e por quê? Como você faz para buscar a felicidade? Prof. Raphael Reis 8 www.estrategiaconcursos.com.br FILOSOFIA Prof. Raphael Reis – Aula 01 2 A Dúvida Uma das atitudes considerada como “ferramenta” do filosofar, é a dúvida. Ela nos abre a possibilidade de desenvolver uma percepção mais profunda, clara e abrangente sobre nossa existência. Uma das maneiras de aprender é quando levantamos indagações sobre as coisas. Isso se dá através de perguntas. Porém, não são quaisquer perguntas. Tanto a filosofia como as ciências elaboram problemáticas para a partir disso procurarem respostas. Se observamos ao nosso redor vamos ver que as crianças são “mestres” na arte de perguntar, pois estão abertas à curiosidade e à novas descobertas. A dúvida é um caminho para a construção do conhecimento. No caso da filosofia nem todas perguntas são essencialmente filosóficas, assim como nem todas as dúvidas são filosóficas. Querer saber se o seu time irá ganhar o campeonato brasileiro ou quando vai se casar, são meramente questões especulativas. A dúvida filosófica propriamente dita surge de uma necessidade de explicação racional para algo de nossa existência ou para alguma explicação que já não satisfaz mais. Exemplo: visto tantas coisas ruins acontecendo no mundo, podemos indagar: “o homem é mal?”, “o que difere os homens bons dos maus?”, “O que é maldade e bondade”, “Se Deus existe e ele é bom, porque permite o mal?”. Para começar a pensar filosoficamente e procurar respostas é importante ter consciência de seus pré-conceitos, isto é, suspender possíveis julgamentos de concepções que você traz consigo. A partir disso podemos estruturar nossa reflexão através do raciocínio ou argumento. Os argumentos (justificativas racionais) devem estar articulados de maneira coerente, não contraditório, para demonstrar aquilo que se pretende afirmar. Veja, essa é uma das exigências do texto dissertativo-argumentativo da redação para o ENEM. Prof. Raphael Reis 9 www.estrategiaconcursos.com.br FILOSOFIA Prof. Raphael Reis – Aula 01 O filósofo francês René Descartes (1596-1650) criou um método conhecido como “dúvida metódica”. Este era conduzido de duas maneiras: Metódica: ampliação da dúvida em passo a passo, de modo ordenado e lógico. Radical: chega a um ponto extremo que se duvida da própria existência (dúvida hiperbólica). Que estranho, não?! Descartes estava descontente com tudo que aprendeu, principalmente com a tradição (pensadores medievais principalmente) e resolveu construir um caminho (método) que garantisse o conhecimento verdadeiro. Para isso, precisou descontruir suas antigas ideias que fossem duvidosas. Utilizou o critério da evidência, a qual requer clareza e distinção ao intelecto. Sua primeira indagação é sobre os sentidos, pois para ele o conhecimento originado pelas percepções sensoriais não é confiável, porque não poderiam ser universalizados, aplicável a tudo que existe. Mas não poderia ignorá-los. Veja, você poderia duvidar que está lendo esta aula no computador ou outro meio? O que poderia abalar essa impressão? Simplesmente se você considerar que está sonhando, porém com este argumento volta-se à estaca zero, porque tudo que você percebe, na verdade, faria parte de uma ilusão. Prof. Raphael Reis 10 www.estrategiaconcursos.com.br FILOSOFIA Prof. Raphael Reis – Aula 01 Assim, Descartes deixa de lado sua investigação que nasce através do sentido e passa para aquelas que advém da razão. Encontra um tipo de ideia que incialmente parece não lhe despertar dúvidas: a matemática. Ela não dependeria de coisas externas, apenas da razão. Sua evidência de maneira clara e distinta mostra que não é possível contestar o resultado correto de uma operação. Todavia, se o Deus que tudo criou e que tudo pode, quiser enganar, fazendo com que se pense que 2 + 2 = 4, enquanto isso poderia ser uma ilusão. Trata-se do argumento do Deus enganador. E ele vai mais longe: se houvesse um gênio maligno, ardiloso e poderoso, que quisesse iludir e enganar as pessoas? Isso não quer dizer que Descartes acreditasse na existência de algum ser assim, mas como artifício psicológico e metodológico de alerta. Você pode estar se perguntando: “mas que cara doido?”. Pois bem, eu também já pensei isso. No entanto, olha que interessante: essas dúvidas eram para não sucumbir à tentação de aceitar qualquer ideia como verdadeira, buscar conhecimento através da evidência e que este fosse indubitável (irrefutável). Ele conseguiu? Olha que sacada de René Descartes: ele percebeu que se poderia existir um ser que o enganava, ele tinha quer ser algo enquanto era enganado. E se duvidava deveria ser algo que existia enquanto duvidava, mesmo que porventura não tivesse corpo. Essa reflexão é resumida na frase célebre: “eu penso, logo existo”. Se você duvida é porque está pensando, logo se você pensa deve haver algo que é você, que produz esse pensamento. Se você ficou curioso e quer saber mais sobre os desdobramentos das reflexões de Descartes pode acessar a obra “Meditações”. Prof. Raphael Reis 11 www.estrategiaconcursos.com.br FILOSOFIA Prof. Raphael Reis – Aula 01 A obra “Discurso sobre o Método” é uma das principais do filósofo René Descartes. Prof. Raphael Reis 12 www.estrategiaconcursos.com.br FILOSOFIA Prof. Raphael Reis – Aula 01 3 O Diálogo Creio que você já se convenceu que filosofar, isto é, produzir uma reflexão filosófica é uma maneira diferente de pensar sobre o nosso cotidiano e as coisas que nos cercam. Mas quem produz reflexões filosóficas quer conversar com outras pessoas, aprender coisas novas. Colocar seus pensamentos em “confronto” com os de outras pessoas. Para isso, temos o diálogo filosófico. O diálogo está estruturado na linguagem, que é um dos principais instrumentos junto à razão para o exercício filosófico. Vamos pensar em nosso cotidiano: provavelmente você já observou ou vivenciou aquela famosa “DR”, discussão de relacionamento, que nos irrita bastante na maioria das vezes. Por que isso acontece? Ao invés de utilizarmos nossa capacidade de buscar a entender e ouvir o outro, queremos impor que aquilo que estamos falando é o correto e que o outro precisa ter o mesmo entendimento que você. Além disso, há variações na tonalidade da voz. Resultado: aquilo que era para se chegar a um acordo pode produzir mais desavenças. Usamos muitas palavras acreditando conhecer plenamente o que elas querem dizer e acreditamos que todos têm o mesmo entendimento. Embora existam várias reflexões filosóficas possíveis na letra da música “Sonho de uma Flauta”, do grupo “O Teatro Mágico”, quero chamar a atenção especificamente para a questão da linguagem apontada na letra: “Nem toda palavra é... Aquilo que o dicionário diz Nem todo pedaço de pedra Se parece com tijolo ou com pedra de giz Avião parece passarinho Que não sabe bater asa Passarinho voando longe Parece borboleta que fugiu de casa Borboleta parece flor Que o vento tirou pra dançar Flor parece a gente Pois somos semente do que ainda virá Prof. Raphael Reis 13 www.estrategiaconcursos.com.br FILOSOFIA Prof. Raphael Reis – Aula 01 A gente parece formiga Lá de cima do avião O céu parece um chão de areia Parece descanso pra minha oração A nuvem parece fumaça Tem gente que acha que ela é algodão Algodão às vezes é doce Mas às vezes é doce não Sonho parece verdade Quando a gente esquece de acordar O dia parece metade Quando a gente acorda e esquece de levantar Hum... E o mundo é perfeito E o mundo é perfeito E o mundo é perfeito Eu não pareço meu pai Nem pareço com meu irmão Sei que toda mãe é santa Sei que incerteza traz inspiração Tem beijo que parece mordida Tem mordida que parece carinho Tem carinho que parece briga Tem briga que aparece pra trazer sorriso Tem riso que parece choro Tem choro que é pura alegria Tem dia que parece noite E a tristeza parece poesia Tem motivo pra viver de novo Tem o novo que quer ter motivo Tem a sede que morre no seio Nota que fermata quando desafino Descobrir o verdadeiro sentido das coisas É querer saber demais Querer saber demais Prof. Raphael Reis 14 www.estrategiaconcursos.com.br FILOSOFIA Prof. Raphael Reis – Aula 01 Sonho parece verdade Quando a gente esquece de acordar O dia parece metade Quando a gente acorda e esquece de levantar Mas sonho parece verdade Quando a gente esquece de acordar E o dia parece metade Quando a gente acorda e esquece de levantar E o mundo é perfeito Mas o mundo é perfeito O mundo é perfeito” Conclusão: será que quando dialogamos com alguém estamos pensando exatamente na mesma coisa ao dizer “amor”, “ciência”, “justiça”, “política”, etc.? Será que sabemos o que é bom para nós e para os outros? Estamos todos os instantes afirmando por meio de palavras e ações nossas crenças, compartilhando-as com mais pessoas. Temos consciência delas? Elas são válidas só para mim ou para mais pessoas? Vamos ver como alguns filósofos pensaram sobre isso. 3.1 Método Dialógico: Sócrates e Platão Será que podemos, verdadeiramente, acreditar no que acreditamos conhecer? Sócrates e Platão foram os primeiros a se debruçarem sobre isso. A arte de perguntar empregada por Sócrates em seus diálogos mostra que ele acreditava no poder da conversação. Para isso, estabeleceu seu método dialógico ou maiêutica composto pelos seguintes aspectos: Diálogo amigável: os inícios dos diálogos de Sócrates são sempre aproximativos; ele mostra curiosidade em saber o que e como o seu interlocutor pensa sobre algo; Perguntas penetrantes: sabia formular perguntas adequadas para ajudar as pessoas a conceber, por elas mesmas, a verdade sobre diversos temas; Prof. Raphael Reis 15 www.estrategiaconcursos.com.br FILOSOFIA Prof. Raphael Reis – Aula 01 Conhecimento progressivo: essas verdades só eram, digamos conhecidas, após o avanço paulatino e pormenorizado das questões levantadas; Prática constante: criticava aqueles que mesmo sendo discípulo dele, acreditava que conseguiram atingir o conhecimento verdadeiro de forma rápida. Para ele, a prática é constante e requer avanços. Dor das descobertas: a atividade filosófica está vinculada a certa dor, a certo grau de incerteza, inquietude. É a dor da dúvida. Isso pode ser gerado porque é difícil admitir um erro e assumir consequências. Dificuldades do percurso: sabia que suas perguntas geravam incômodos e que muitos não compreenderiam. O método dialógico ficou conhecido como dialética, isto é, a arte da discussão. Esta apresenta dois momentos importantes: a refutação ou ironia e a maiêutica propriamente dita. A ironia, que tem significado e uso bem diferente em nossos dias atuais, era o primeiro momento de Sócrates, aquele de aproximação. Começava a fazer perguntas “fingindo” ignorância, curiosidade. Após evidenciar as contradições argumentativas, apresentava perguntas a cada resposta de seu interlocutor, fazendo-o a pensar em suas definições e argumentações. Passava à refutação que o outro tinha sobre determinado assunto. Em seguida, ele passa a maiêutica, isto é, novas questões que iniciava o caminho da reconstrução das ideias do seu interlocutor, ajudando-o a trazer luz aos seus pensamentos e posições. Vamos conhecer um dos diálogos de Sócrates – há vários no livro já mencionado “A República”, de Platão. O diálogo é com Eutífron - o texto na íntegra pode ser acessado clicando no link. Por ser um diálogo bem extenso, fica aqui a possibilidade de acessar um fragmento da adaptação do diálogo para as telas do cinema: Prof. Raphael Reis 16 www.estrategiaconcursos.com.br FILOSOFIA Prof. Raphael Reis – Aula 01 Prof. Raphael Reis 17 www.estrategiaconcursos.com.br FILOSOFIA Prof. Raphael Reis – Aula 01 4 A Consciência Já podemos dizer que a filosofia nos auxilia a desfazer as “amarras que nos prende”. Faz pensar sobre nós mesmos, sobre a vida e sobre as coisas. Enfim, nos ajuda a viver com mais consciência. Mas, o que é consciência? A consciência é estudada por várias áreas do saber. De forma geral está associada aos processos psíquicos (pensamento, imaginação, emoção, memória, aprendizado, etc.). Para os pesquisadores, a consciência é uma das principais características dos seres humanos, pois ela possibilita estar e sentir o mundo com algum saber. Os animais sabem, mas certamente não sabem que sabem. Só sabendo que sabe é possível criar invenções e desenvolver um sistema de construções internas. Devido a essas diferenças entre os seres humanos e os animais, além do uso da linguagem, é que os primeiros foram classificados como homo sapiens sapiens (o ser que sabe que sabe). Para o neurocientista, António Damásio, “estar consciente envolve não apenas um ato de conhecer o que acontece, mas, sobretudo, implica basicamente como primeiro estágio, um sentir”. Essa sensação (self) relacionase com aqui e agora, no presente. Por exemplo, neste exato momento ao ler esse texto na tela de seu aparelho você tem a sensação de que é você quem vê e lê, e não outra pessoa. Indo mais adiante, a nossa capacidade de estabelecer conexões entre passado, presente e futuro faz gerar uma sensação mais elaborada, o que se chama de consciência do eu, isto é, da própria identidade, por oposição a existência de outro ser. Outro aspecto relacionado à consciência são as condutas, cujas observações são exteriores e outros seres podem nos observar. Isto quer dizer que pelo que diz e faz podemos inferir que as outras pessoas, assim como nós, têm ideias, pensamentos, sensações e sentimentos. Prof. Raphael Reis 18 www.estrategiaconcursos.com.br FILOSOFIA Prof. Raphael Reis – Aula 01 4.1 Consciente e Inconsciente Até o momento falamos mais sobre a consciência do ponto de vista neurofisiológico. Vamos conhecer agora um pouco outras ideias advindas da psicanálise, que é uma disciplina da mente vinculada a uma técnica terapêutica, baseada na interpretação pelo psicanalista dos conteúdos considerados inconscientes encontrados nas palavras, sonhos e fantasias do paciente. Você já observou que em algumas situações parece que uma parte de seu ser esconde algo da outra parte de seu ser? Que de repente você se lembra de coisas do passado que estavam adormecidas? Diz ou faz alguma coisa sem querer ou não sabe justificar? Foi a partir dessas e muitas outras questões que surgiram a observação sistematizada para compreender a mente humana e os comportamentos. Sigmund Freud (1856-1939) concebeu uma teoria da mente, a psicanálise, que revolucionou a história do pensamento e influencia até hoje diversas áreas do saber. Em sua teoria está o pressuposto de que a maior parte de nossa vida é dominada pelo inconsciente. A outra parte, consciente, teria atuação reduzida. O inconsciente é parte integrante de nossa personalidade, na qual acontecem “coisas” sem que percebemos. Ainda, para ele, a sexualidade (libido) constituiria o elemento principal do inconsciente, bem como toda a dinâmica da vida psíquica. Essa teoria escandalizou a sociedade de seu tempo por enfatizar a questão da sexualidade e dizer inclusive que as crianças possuíam atividade Prof. Raphael Reis 19 www.estrategiaconcursos.com.br FILOSOFIA Prof. Raphael Reis – Aula 01 sexual, bem como dar importância a traumas sexuais infantis uma determinação do comportamento das pessoas durante sua vida adulta. Uma de suas associações é de que esses traumas estariam vinculados a uma etapa do desenvolvimento infantil em que as crianças se sentiriam atraídas pelo progenitor de sexo oposto, conceito que ficou denominado como Complexo de Édipo, em referência a uma das mitologias gregas. De acordo com a teoria freudiana o aparelho psíquico humano se estrutura em 3 instâncias ou esferas: id, superego e ego. Id: está presente deste o nascimento. Nele dominam as pulsões, isto é, impulsos corporais e instintivos associados à libido. Empurra o indivíduo àquilo que lhe traz prazer e nega as insatisfações. Atua de maneira ilógica e contraditória e tem nos sonhos seu principal meio de expressão. É o principal motor oculto das condutas humanas. Superego: se forma através do processo de socialização, especificamente familiar, a partir das negações de seus genitores. Esse conjunto de regras absorvidos na infância freiam as pulsões do id, geram regras de conduta e estabelece uma consciência moral. Ego: é uma instância consciente e pré-consciente. Ele interage com o mundo externo recebendo influência das outras duas esferas. Precisa lidar com as exigências da realidade, isto é, resolver os seus conflitos entre seus desejos internos (id) e o seu senso moral (superego). Freud afirmou que quando o ego não consegue lidar com esses conflitos ele cria mecanismos de defesa, pelos quais os conteúdos censurados pelo superego são reprimidos (recalque), expressando-se de forma indireta na vida da pessoa através de atos falhos (ação de dizer ou fazer alguma coisa sem intenção), sonhos e projeções (algo projetado em outra pessoa que ele não aceita ou reprime em si mesmo). Portanto, para a psicanálise, trazer à consciência esses conteúdos reprimidos e ajudar o paciente a enfrenta-los e a Prof. Raphael Reis 20 www.estrategiaconcursos.com.br FILOSOFIA Prof. Raphael Reis – Aula 01 lidar com seus medos e inibições ajudaria adaptá-lo melhor a sua realidade concreta no presente. Outro pensador que se dedicou ao inconsciente é Carl Gustav Jung (18775-1961). Podemos dizer que foi discípulo de Freud, no entanto, discordava em diversos aspectos, especificamente sobre as determinações dos traumas ligados à repressão na infância e a importância que seu colega dava ao impulso sexual, o que fez criar uma teoria diferente a de Freud, a psicologia analítica. Para Jung a vida psíquica envolveria muitos outros elementos e seria uma forma de reducionismo interpretar a maioria de seus acontecimentos como manifestação do caráter sexual. Para ele, a libido é importante, mas como energia vital mais ampla e associada à outras coisas, não somente ao sexo. Ao estudar os sonhos percebeu que nestes apareciam imagens estranhas que não estavam relacionadas as experiências de seus pacientes. Conclui que se tratava de imagens primordiais, isto é, as origens da criação mais antiga. Formulou a tese de que existe uma linguagem comum a todos os seres humanos de todos os tempos e lugares da Terra. Ela está formada por essas imagens ou conteúdos simbólicos primitivos denominados arquétipos. Estes são vividos de maneira não consciente por todas as pessoas, é o chamado inconsciente coletivo. Os arquétipos estabeleceriam um conjunto de predisposições para o indivíduo pensar, sentir e agir no mundo sobre determinada maneira, constituindo também a base sobre a qual se criam grandes pensamentos e obras da humanidade. Prof. Raphael Reis 21 www.estrategiaconcursos.com.br FILOSOFIA Prof. Raphael Reis – Aula 01 Para Jung os principais arquétipos seriam: o nascimento, a morte, a criança, a mãe, o velho sábio, o herói e Deus. Como você pode perceber estes estão associados a todas as culturas e sociedades. O principal arquétipo para ele, é o self (si mesmo). Este corresponde a imagem da totalidade do ser, a conexão com uma dimensão maior (família, coletividade, cosmos, etc.). 4.2 Consciência e Cultura Freud disse que muito dos conteúdos da consciência são absorvidos na mais tenra infância (constituição do superego), moldando nossa consciência moral. Trata-se de valores e visões de mundo geradas através da socialização que, inicialmente acontece na família. Em seu conjunto esses valores sociais constituiria a consciência coletiva, para aquele que é considerado o “pai da sociologia”, Émile Durkheim (vamos ver muito de suas ideias no Curso de Sociologia). A Consciência Coletiva para Durkheim é uma realidade distinta do indivíduo e que existe anterior ao indivíduo, ou seja, não está vinculada ao pertencimento de uma pessoa, e sim à coletividade. No entanto, como ela é absorvida por todos nós, ela passa a ser nossa consciência também. De acordo com ele, a coesão social (ordem, a estabilidade) depende da conformidade entre a consciência individual e coletiva, expressando-se através de normas morais e jurídicas. Exemplificando: se um indivíduo comete um ato contrário ao que está estabelecido nas normas, sofrerá uma pressão moral advinda do grupo social no qual ele pertence. Em resumo, a consciência individual tem estreita relação com a consciência coletiva. Prof. Raphael Reis 22 www.estrategiaconcursos.com.br FILOSOFIA Prof. Raphael Reis – Aula 01 4.3 Modos de Consciência para Hegel O filósofo alemão Hegel (1770-1831) defendia que há 3 formas de compreender o mundo: a) Consciência religiosa: experiência baseada na fé, crença inabalável nas verdades reveladas. b) Consciência intuitiva: uma percepção mais imediata, que não perpassa por uma meditação racional, fundamentada em insights. Aqui estariam as artes (literatura, escultura, pintura, etc.) c) Consciência racional: modo de entender a realidade baseada em certos princípios estabelecidos pela razão, como o de causa e efeito. Pretende alcançar uma adequação entre pensamento e realidade. Esse objetivo requer abstração e análise para explicar o que quer ser explicado, portanto, é o modo próprio da filosofia. 4.4 Consciência e Filosofia A Filosofia pretende romper o senso comum e chegar à sabedoria, através da consciência crítica (julgamento e avaliação de uma ideia através da reflexão filosófica). Esta consciência mais crítica nos afasta das armadilhas das opiniões e das aparências. O desenvolvimento da consciência crítica requer atenção com o mundo e reflexão sobre si mesmo. Prof. Raphael Reis 23 www.estrategiaconcursos.com.br FILOSOFIA Prof. Raphael Reis – Aula 01 Podemos analisar que embora a filosofia seja um saber separado das ciências (processo este que se iniciou no século XVIII), pois antes os saberes estavam praticamente integrados na filosofia sem ser uma disciplina específica, ela encontra um intercâmbio com as ciências, já que estas se ramificam a partir da filosofia. As questões científicas são sobretudo problemáticas filosóficas. Através de um ramo da filosofia conhecida como epistemologia, a filosofia faz reflexões sobre os conhecimentos alcançados pelas diversas áreas científicas, questionando a validade de seus métodos, critérios e resultados. Para finalizarmos nossa aula vamos abordar mais um aspecto do filosofar: o argumento. Prof. Raphael Reis 24 www.estrategiaconcursos.com.br FILOSOFIA Prof. Raphael Reis – Aula 01 5 O Argumento Uma das práticas fundamentais da reflexão filosófica é saber raciocinar e argumentar de forma ordenada o desenvolvimento das ideias para se chegar a conclusões válidas e justificadas do ponto de vista da lógica. Pensa num problema de matemática que envolve o cálculo da área geométrica do quadrado ou numa questão de História que solicita uma análise das consequências da Revolução Industrial. Bem, para isso, você precisou desenvolver internamente um processo mental, que fez você selecionar determinados conhecimentos aprendidos para chegar a alguma conclusão, isto é, raciocínio ou inferência. Assim, para aqueles que estuda a lógica o que lhe interessa é saber se a conclusão do raciocínio constitui uma sequência das informações ou hipóteses levantadas, de tal maneira que possa ser justificada. O nosso dia a dia é repleto de atos que nos requer raciocínio e argumentação. Ao ir para a escola é necessário escolher a roupa. A partir disso começa a movimentação do processo de raciocínio: usar o uniforme, mas se ele estiver sujo, qual outra roupa seria possível? Uma camiseta e chinelo? Não, porque provavelmente o regimento escolar não permite tal vestimenta. Talvez uma calça jeans e uma blusa de malha... Dessa forma, é possível argumentar que o uniforme sujou no café e como alternativa foi utilizada a opção da calça jeans e blusa de malha neutra. Pode ser que a diretora aceite e só dê uma advertência... Veja que nesta hipotética situação foi utilizada uma sentença: o uniforme sujou no café. A solução foi optar pela roupa temporária que não vai de encontro com o estabelecido pelo regimento da escola. Os argumentos são formados por sentenças, que é a parte visível do argumento (de quando expressamos através da fala ou da escrita). Em resumo, o argumento é formado por suas sentenças (premissas) mais a conclusão. Veja o exemplo: Prof. Raphael Reis 25 www.estrategiaconcursos.com.br FILOSOFIA Prof. Raphael Reis – Aula 01 Existem dois tipos de argumentação, a dedutiva e a indutiva: Dedução: é a busca de a partir de proposições verdadeiras obter conclusões verdadeiras. Parte do maior para o menor, ou do geral para o particular. Exemplo: Aconteceu um assassinato no shopping entre às 14:00 e 16:00. P1: Todas as pessoas que estiveram no shopping entre às 14:00 e 16:00 são suspeitas. P2: Maria saiu do shopping às 13:30. Logo, Maria não é assassina. Intuição: vai do menor para o maior, portanto, suas conclusões vão além das premissas. P1: Um dia meu joelho doeu e depois choveu. P2: Repetidas vezes meu joelho doeu e depois choveu. Logo, sempre que o meu joelho doer vai chover. A indução é utilizada de forma frequente nas ciências de maneira criteriosa e controlada. Um cientista que observa a ebulição da água sob determinas condições (100º C ao nível do mar) vai dizer que sempre, independente do lugar e sob determinadas condições, a água entrará em ebulição. Ou seja, isso foi produzido por observação, e não por dedução lógica. Prepare a pipoca e o guaraná. Chame o (a) namorado (a). Convide algum amigo (a). Reúna a família. Assista ao filme Doze Homens e uma sentença. Este filme retrata bem os aspectos do filosofar (dúvida, diálogo, consciência e lógica) que abordamos nesta aula. Sinopse: Doze jurados se reúnem para decidir se consideram culpado um jovem porto-riquenho acusado de ter assassinado seu próprio pai. Todos têm certeza da culpa, menos um, mas Prof. Raphael Reis 27 www.estrategiaconcursos.com.br FILOSOFIA Prof. Raphael Reis – Aula 01 a decisão deve ser unânime. Há duas versões, uma de 1957 do diretor Sidney Lumet e outra de 1997, de William Friedkin. Boa sessão! Prof. Raphael Reis 28 www.estrategiaconcursos.com.br FILOSOFIA Prof. Raphael Reis – Aula 01 6 EXERCÍCIOS 1 ENEM 2016: Nunca nos tornaremos matemáticos, por exemplo, embora nossa memória possua todas as demonstrações feitas por outros, se nosso espírito não for capaz de resolver toda espécie de problemas; não nos tornaríamos filósofos por ter lido todos os raciocínios de Platão e Aristóteles, sem poder formular um juízo sólido sobre o que nos é proposto. Assim, de fato, pareceríamos ter aprendido, não ciências, mas histórias. DESCARTES, R. Regras para a orientação do espírito. São Paulo: Martins Fontes, 1999. Em sua busca pelo saber verdadeiro, o autor considera o conhecimento de modo crítico como resultado da A) investigação de natureza empírica. B) retomada da tradição intelectual. C) imposição de valores ortodoxos. D) autonomia do sujeito pensante. E) liberdade do agente moral. Análise: o filósofo René Descartes está inserido no século XVI. Como visto, ele tinha preocupação de duvidar para se chegar ao conhecimento verdadeiro utilizando a razão. Em sua obra “Meditações”, chegou à conclusão de que o sujeito é algo que pensa, logo, tem sua expressão famosa: “penso, logo existo”. Alternativa A: o pensamento de Descartes não trata de experimentos, mas a busca da verdade pela razão Alternativa B: o texto não faz referência a uma tomada da tradição intelectual, pelo contrário, Descartes tece críticas a tradição intelectual (medieval). Prof. Raphael Reis 29 www.estrategiaconcursos.com.br FILOSOFIA Prof. Raphael Reis – Aula 01 Alternativa C: usar a razão e a dúvida está longe de aceitar imposições de valores ortodoxos. Alternativa D: está é a alternativa correta, pois através do ato de pensar, duvidar e usar a razão haverá como resultado a autonomia do sujeito pensante. Alternativa E: o agente moral ele não pensaria por si próprio, portanto, não utilizaria a razão e o juízo próprio. 2 ENEM 2015 Suponha homens numa morada subterrânea, em forma de caverna, cuja entrada, aberta à luz, se estende sobre todo o comprimento da fachada; eles estão lá desde a infância, as pernas e o pescoço presos por correntes, de tal sorte que não podem trocar de lugar e só podem olhar para frente, pois os grilhões os impedem de voltar a cabeça; a luz de uma fogueira acesa ao longe, numa elevada do terreno, brilha por detrás deles; entre a fogueira e os prisioneiros, há um caminho ascendente; ao longo do caminho, imagine um pequeno muro, semelhante aos tapumes que os manipuladores de marionetes armam entre eles e o público e sobre os quais exibem seus prestígios. PLATÃO. A República. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2007. Essa narrativa de Platão é uma importante manifestação cultural do pensamento grego antigo, cuja ideia central, manifesta: A) caráter antropológico, descrevendo as origens do homem primitivo. B) sistema penal da época, criticando o sistema carcerário da sociedade ateniense. C) vida cultural e artística, expressa por dramaturgos trágicos e cômicos gregos. D) sistema político elitista, provindo do surgimento da pólis e da democracia ateniense. E) teoria do conhecimento, expondo a passagem do mundo ilusório para o mundo das ideias. Análise: se observamos atentamente o texto concluiremos que é uma passagem do “Mito da Caverna”, o qual está inserido na obra “A República”, de Platão. Como já estudamos tanto na aula 00 como na aula 01, o mundo das ideias é defendido por Platão como o verdadeiro, sendo acessado pela razão. Assim, se sairia do visível (ilusório) para o conhecimento (inteligível). Dessa forma, a alternativa correta é a E. Prof. Raphael Reis 30 www.estrategiaconcursos.com.br FILOSOFIA Prof. Raphael Reis – Aula 01 3 ENEM 2015 A utilidade do escravo é semelhante à do animal. Ambos prestam serviços corporais para atender às necessidades da vida. A natureza faz o corpo do escravo e do homem livre de forma diferente. O escravo tem corpo forte, adaptado naturalmente ao trabalho servil. Já o homem livre tem corpo ereto, inadequado ao trabalho braçal, porém apto à vida do cidadão. ARISTÓTELES. Política. Brasília: UnB, 1985. O trabalho braçal é considerado, na filosofia aristotélica, como A) indicador da imagem do homem no estado de natureza. B) condição necessária para a realização da virtude humana. C) atividade que exige força física e uso limitado da racionalidade. D) referencial que o homem deve seguir para viver uma vida ativa. E) mecanismo de aperfeiçoamento do trabalho por meio da experiência. Análise: é importante lembrar que na Grécia Antiga a mão de obra escrava era responsável pela produção e por permitir aos cidadãos a exercerem suas atividades intelectuais e políticas na pólis. Aristóteles defendia que o grupo responsável pela defesa e administração da pólis era superior, já que usavam a razão e buscavam o conhecimento verdadeiro. O grupo que exercia o trabalho braçal não tinha condição de pensar e nem participar dos rumos da pólis. Alternativa A: a concepção da natureza do homem é cumprir sua essência, isto é, o uso da razão, do intelecto, do exercício da política. A atividade braçal limitaria o potencial da racionalidade. Alternativa B: para a realização da virtude humana é preciso pensar de forma racional, o que não seria possível trabalhando. Além disso, apregoava que outras formas da realização da virtude (felicidade) é ter a companhia da família, dos amigos, a riqueza e o poder. Alternativa C: esta é a alternativa correta, porque associa a força física ao uso limitado da racionalidade. Para exercer o intelecto e a vida política é necessário se dedicar e ter tempo livre. Alternativa D: o trabalho braçal não era defendido por Aristóteles como caminho para a vida ativa. Alternativa E: também não condiz com o pensamento de Aristóteles. Prof. Raphael Reis 31 www.estrategiaconcursos.com.br FILOSOFIA Prof. Raphael Reis – Aula 01 4 ENEM 2014 Alguns dos desejos são naturais e necessários; outros, naturais e não necessários; outros, nem naturais nem necessários, mas nascidos de vã opinião. Os desejos que não nos trazem dor se não satisfeitos não são necessários, mas o seu impulso pode ser facilmente desfeito, quando é difícil obter sua satisfação ou parecem geradores de dano. EPICURO DE SAMOS. Doutrinas principais. In: SANSON, V. F. Textos de Filosofia. Rio de Janeiro. Eduff, 1974. No Fragmento da obra filosófica de Epicuro, o Homem tem como fim A) alcançar o prazer moderado e a felicidade. B) valorizar os deveres e as obrigações sociais. C) aceitar o sofrimento e o rigorismo da vida com resignação. D) refletir sobre os valores e normas da divindade. E) defender a indiferença e a impossibilidade de se atingir o saber. Análise: Epicuro, diferente de Platão e Sócrates, defende que tudo é matéria, inclusive a alma. Defende a satisfação dos desejos em busca do prazer. No entanto, para ele, é preciso moderar os prazeres, agir com prudência racional, contentar-se com pouco, pois assim não haveria dor, decepção, fontes da infelicidade. Neste sentido, fica claro que a alternativa correta é a A. Aproveito para destacar que a alternativa C está associada aos Estoicos. 5 ENEM 2014 É o caráter radical do que se procura que exige a radicalização do próprio processo de busca. Se todo o espaço for ocupado pela dúvida, qualquer certeza que aparecer a partir daí terá sido de alguma forma gerada pela própria dúvida, e não será seguramente nenhuma daquelas que foram anteriormente varridas por essa mesma dúvida. SILVA, F. L. Descartes: a metafísica da modernidade. São Paulo: Moderna, 2001 (adaptado). Apesar de questionar os conceitos da tradição, a dúvida radical da filosofia cartesiana tem caráter positivo por contribuir para o(a) A) dissolução do saber científico B) recuperação dos antigos juízos. C) exaltação do pensamento clássico. D) surgimento do conhecimento inabalável. E) fortalecimento dos preconceitos religiosos. Prof. Raphael Reis 32 www.estrategiaconcursos.com.br FILOSOFIA Prof. Raphael Reis – Aula 01 Análise: alerto os estudantes para o fato de que o ENEM 2014, 2015 E 2016 trouxe questões sobre Descartes. Descartes procura construir um sistema científico de bases firmes e indubitáveis. Pretendia aplicar o modelo matemático ou da física, já que esse tipo de modelo só poderia ser levado ao erro por “um Deus enganador ou por um gênio enganador”. Para ele, o conhecimento tradicional estava baseado em estruturas frágeis, porque não tinha organização e sistematização, muito menos se colocava à prova. Descartes defendia que a ciência precisava de evidências (claras e distintas), da qual o pensamento não possa duvidar. A partir da explicação não restam dúvidas que a alternativa correta é a D. 6 ENEM 2013 A felicidade é, portanto, a melhor, a mais nobre e a mais aprazível coisa do mundo, e esses atributos não devem estar separados como na inscrição existente em Delfos “das coisas, a mais nobre é a mais justa, e a melhor é a saúde; porém a mais doce é ter o que amamos”. Todos estes atributos estão presentes nas mais excelentes atividades, e entre essas a melhor, nós a identificamos como felicidade. ARISTÓTELES. A Política. São Paulo: Cia. das Letras, 2010. Ao reconhecer na felicidade a reunião dos mais excelentes atributos, Aristóteles a identifica como A) B) C) D) E) busca por bens materiais e títulos de nobreza. plenitude espiritual e ascese pessoal. finalidade das ações e condutas humanas. conhecimento de verdades imutáveis e perfeitas. expressão do sucesso individual e reconhecimento público Análise: diferente de Platão, a felicidade para Aristóteles não estaria no mundo ideal (inteligível), mas também no mundo concreto, no mundo sensível. Obviamente não descarta o intelecto, a razão como forma de acessar à felicidade. Embora, a felicidade estivesse como uma de suas fontes a riqueza e o poder, não identificava a felicidade como busca dos bens materiais e títulos de nobreza ou do sucesso individual, até mesmo porque a política (o bem da coletividade) era o mais importante. Assim descartamos as alternativas A, B e E. A alternativa D também não procede, porque não concebia o conhecimento como verdade imutável. A felicidade era a finalidade das ações e condutas humanas (alternativa C como correta), dedicada à vida contemplativa e a prática de outras virtudes sustentadas no bem-estar material e social. Prof. Raphael Reis 33 www.estrategiaconcursos.com.br FILOSOFIA Prof. Raphael Reis – Aula 01 7 ENEM 2014 TEXTO I Há já algum tempo eu me apercebi de que, desde meus primeiros anos, recebera muitas falsas opiniões como verdadeiras, e de que aquilo que depois eu fundei em princípios tão mal assegurados não podia ser senão mui duvidoso e incerto. Era necessário tentar seriamente, uma vez em minha vida, desfazer-me de todas as opiniões a que até então dera crédito, e começar tudo novamente a fim de estabelecer um saber firme e inabalável. DESCARTES, R. Meditações concernentes à Primeira Filosofia. São Paulo: Abril Cultural, 1973 (adaptado). TEXTO II É o caráter radical do que se procura que exige a radicalização do próprio processo de busca. Se todo o espaço for ocupado pela dúvida, qualquer certeza que aparecer a partir daí terá sido de alguma forma gerada pela própria dúvida, e não será seguramente nenhuma daquelas que foram anteriormente varridas por essa mesma dúvida. SILVA, F. L. Descartes: a metafísica da modernidade. São Paulo: Moderna, 2001 (adaptado). A exposição e a análise do projeto cartesiano indicam que, para viabilizar a reconstrução radical do conhecimento, deve-se A) retomar o método da tradição para edificar a ciência com legitimidade. B) questionar de forma ampla e profunda as antigas ideias e concepções. C) investigar os conteúdos da consciência dos homens menos esclarecidos. D) buscar uma via para eliminar da memória saberes antigos e ultrapassados. E) encontrar ideias e pensamentos evidentes que dispensam ser questionados. Análise: vamos lembrar que Descartes defende a regra da evidência (clara e distinta), para garantir a característica indubitável; guarde isso! A dúvida é o caminho para libertar a razão dos falsos princípios e ela é tão rigorosa que ganha o caráter hiperbólico. Alternativa A: ele critica a tradição (principalmente a Escolástica, que ainda vamos ver), porque essa não colocava em dúvida seus princípios e não buscava a evidência. Era confusa e desordenada. Alternativa B: esta é alternativa correta, pois ele questiona as antigas ideias e concepções, através de um método racional. Prof. Raphael Reis 34 www.estrategiaconcursos.com.br FILOSOFIA Prof. Raphael Reis – Aula 01 Alternativa C: esta não faz o menor sentido, porque ele não investiga a consciência, mas a validação do conhecimento racional. Alternativa D: não faz o menor sentido, porque em nenhum momento ele trata de memória e de apaga-la. Alternativa E: pretendia através da evidência chegar a uma conclusão racional, mas é importante lembrar que tudo pode e dever ser colocado em dúvida. 8 ENEM 2014 Os produtos e seu consumo constituem a meta declarada do empreendimento tecnológico. Essa meta foi proposta pela primeira vez no início da Modernidade, como expectativa de que o homem poderia dominar a natureza. No entanto, essa expectativa, convertida em programa anunciado por pensadores como Descartes e Bacon e impulsionado pelo Iluminismo, não surgiu “de um prazer de poder”, “de um mero imperialismo humano”, mas da aspiração de libertar o homem e de enriquecer sua vida, física e culturalmente. CUPANI, A. A tecnologia como problema filosófico: três enfoques. Scientiae Studia, São Paulo, v. 2, n. 4, 2004 (adaptado). Autores da filosofia moderna, notadamente Descartes e Bacon, e o projeto iluminista concebem a ciência como uma forma de saber que almeja libertar o homem das intempéries da natureza. Nesse contexto, a investigação científica consiste em A) expor a essência da verdade e resolver definitivamente as disputas teóricas ainda existentes. B) oferecer a última palavra acerca das coisas que existem e ocupar o lugar que outrora foi da filosofia. C) ser a expressão da razão e servir de modelo para outras áreas do saber que almejam o progresso. D) explicitar as leis gerais que permitem interpretar a natureza e eliminar os discursos éticos e religiosos. E) explicar a dinâmica presente entre os fenômenos naturais e impor limites aos debates acadêmicos. Análise: uma leitura atenta da questão faz com que possamos chegar rapidamente a alternativa correta. Tanto Descartes como Bacon (que ainda vamos ver) estão no período conhecido como iluminista, isto é, a era da razão, da luz do saber. A ciência é para compreender a natureza de forma racional e libertar o homem de suas intempéries. Não tinha como objetivo o que pressupõe Prof. Raphael Reis 35 www.estrategiaconcursos.com.br FILOSOFIA Prof. Raphael Reis – Aula 01 as alternativas A, B, D e E, porque são contraditórias aos objetivos da investigação científica. Portanto, a alternativa correta é a C. 9 ENEM (2012) Para Platão, o que havia de verdadeiro em Parmênides era que o objeto de conhecimento é um objeto de razão e não de sensação, e era preciso estabelecer uma relação entre objeto racional e objeto sensível ou material que privilegiasse o primeiro em detrimento do segundo. Lenta, mas irresistivelmente, a Doutrina das Ideias formava-se em sua mente. ZINGANO, M. Platão e Aristóteles: o fascínio da filosofia. São Paulo: Odysseus, 2012 (adaptado). O texto faz referência à relação entre razão e sensação, um aspecto essencial da Doutrina das Ideias de Platão (427 a.C.-346 a.C.). De acordo com o texto, como Platão se situa diante dessa relação? A) Estabelecendo um abismo intransponível entre as duas. B) Privilegiando os sentidos e subordinando o conhecimento a eles. C) Atendo-se à posição de Parmênides de que razão e sensação são inseparáveis. D) Afirmando que a razão é capaz de gerar conhecimento, mas a sensação não. E) Rejeitando a posição de Parmênides de que a sensação é superior à razão. Análise: Platão concorda com o filósofo cosmólogo Parmênides de que o conhecimento é objeto da razão e não da sensação. Podemos definir a teoria das Ideias dizendo que o mundo sensível é apenas uma cópia imperfeita do mundo ideal, e que o objeto da ciência é o mundo real das Ideias. O mundo inteligível (intelecto) é estudado na dialética, e o mundo sensível é o domínio da opinião (doxa). A: não havia para Platão um abismo intransponível entre razão e sensação, mas acreditava que o mundo ideal era o verdadeiro, e para se conhecer este não seria através do sensível. B: completamente errada, porque era exatamente isso que ele refutava. C: não era inseparável, mas que se devia privilegiar a razão do que o sensorial. D: é a alternativa correta, já que a razão gera o conhecimento para explicar o inteligível, e os sentidos não - estes ficam presos as aparências e não a essência das coisas. Prof. Raphael Reis 36 www.estrategiaconcursos.com.br FILOSOFIA Prof. Raphael Reis – Aula 01 E: Platão concordava com Parmênides de que o conhecimento é objeto da razão e não da sensação. 10 PUC-Paraná 2010 Partindo da afirmação metafísica de que todo ser caminha para a realização de sua natureza, Aristóteles defende que o fim do homem é a sua realização plena. De acordo com as ideias do autor sobre esse assunto, é CORRETO afirmar que: I. O fim do ser humano é a conquista do Bem, o qual está associado à ideia de felicidade. II. A felicidade seria alcançada pelo seguimento dos instintos e impulsos naturais, já que a razão seria incapaz de conduzir o homem para o Bem. III. O Bem humano seria alcançado pela prática da virtude, o que pressuporia o uso da racionalidade, já que só as ações conscientes em direção à virtude garantiriam a felicidade. IV. A virtude seria um justo meio, ou seja, uma medida de equilíbrio entre a falta e o excesso, e a conquista dessa medida poderia variar em cada situação moral, já que, para Aristóteles, a ética é uma ciência prática. A) Apenas as assertivas I e II estão corretas. B) Apenas a assertiva I está correta. C) Todas as assertivas estão corretas. D) Apenas a assertiva IV está correta. E) Apenas as assertivas I, III, IV estão corretas. Análise: a sentença II está equivocada, porque Aristóteles não defendia os instintos ou impulsos, e sim a razão. As demais sentenças I, III e IV estão corretas, porque a conquista do bem é associada a ideia de felicidade, uso da racionalidade e prática das virtudes, garantindo assim o equilíbrio. Portanto, a alternativa correta é E. 11 UEL-2009 Nos rituais indígenas, a ingestão do cauim evoca a busca de um estado de prazer e de felicidade. Na tradição filosófica, a idéia de felicidade foi abordada por Aristóteles, na obra “Ética a Nicômacos”. Considerando o pensamento ético de Aristóteles, assinale a alternativa correta. a) O interesse pessoal constitui o bem supremo a que visam todas as ações humanas, acima das escolhas racionais. b) A felicidade é o bem supremo a que aspira todo indivíduo pela experiência sensível do prazer que se busca por ele mesmo. c) Todos os seres humanos aspiram ao bem e à felicidade, que só podem ser alcançados pela conduta virtuosa, aliada à vontade e à escolha racional. Prof. Raphael Reis 37 www.estrategiaconcursos.com.br FILOSOFIA Prof. Raphael Reis – Aula 01 d) Fim último da existência humana, a felicidade refere-se à vida solitária do indivíduo, desvinculada da convivência social na polis. e) A felicidade do indivíduo não pode ser alcançada pelo discernimento racional, mas tão-somente pelo exercício da sensibilidade. Alternativa A: a alternativa está errada porque coloca o interesse pessoal e não o interesse coletivo como felicidade, além disso exclui a racionalidade. Alternativa B: embora defenda que a felicidade esteja também no mundo sensível, diferente da concepção de Platão, Aristóteles acredita também no intelecto, ou seja, a felicidade não estaria somente no que é sensível. Alternativa C: a alternativa C está correta porque reúne os vários aspectos da reflexão aristotélica sobre felicidade, como a escolha racional e a prática das virtudes. Alternativa D: está equivocada porque Aristóteles defendia que a felicidade estava, sobretudo, relacionada ao bem-estar coletivo, isto é, o bem-estar social da pólis, do exercício da política, que garantiria a paz social, além de estar na companhia dos familiares e amigos. Alternativa E: o uso da racionalidade é um dos pontos mais importantes para se chegar a felicidade, portanto, a alternativa está errada. 12 UEL-2011 O principal problema de Descartes pode ser formulado do seguinte modo: “Como poderemos garantir que o nosso conhecimento é absolutamente seguro?” Como o cético, ele parte da dúvida; mas, ao contrário do cético, não permanece nela. Na Meditação Terceira, Descartes afirma: “[...] engane-me quem puder, ainda assim jamais poderá fazer que eu nada seja enquanto eu pensar que sou algo; ou que algum dia seja verdade eu não tenha jamais existido, sendo verdade agora que eu existo [...]” Com base no enunciado e considerando o itinerário seguido por Descartes para fundamentar o conhecimento, é correto afirmar: a) Todas as coisas se equivalem, não podendo ser discerníveis pelos sentidos nem pela razão, já que ambos são falhos e limitados, portanto o conhecimento seguro detém-se nas opiniões que se apresentam certas e indubitáveis. b) O conhecimento seguro que resiste à dúvida apresenta-se como algo relativo, tanto ao sujeito como às próprias coisas que são percebidas de acordo com as circunstâncias em que ocorrem os fenômenos observados. Prof. Raphael Reis 38 www.estrategiaconcursos.com.br FILOSOFIA Prof. Raphael Reis – Aula 01 c) Pela dúvida metódica, reconhece-se a contingência do conhecimento, uma vez que somente as coisas percebidas por meio da experiência sensível possuem existência real. d) A dúvida manifesta a infinita confusão de opiniões que se pode observar no debate perpétuo e universal sobre o conhecimento das coisas, sendo a existência de Deus a única certeza que se pode alcançar. e) A condição necessária para alcançar o conhecimento seguro consiste em submetê-lo sistematicamente a todas as possibilidades de erro, de modo que ele resista à dúvida mais obstinada. Alternativa A: descarta o uso da razão, então podemos eliminá-la. Alternativa B: o conhecimento seguro, para Descartes, não pode ser algo relativo, então podemos descartar essa alternativa. Alternativa C: Descartes não defendia que somente pela experiência sensível as coisas poderia ser percebidas e ter existência real, pelo contrário, é necessário desconfiar dos sentidos. Alternativa D: a dúvida não manifesta confusão de ideias, já que visa a organização e a sistematização. Tampouco somente a existência de Deus seria a única certeza, já que ele chegou à conclusão de que se “alguém” nos engana é porque somos algo. Se somos capazes de duvidar e pensar, portanto, existimos enquanto algo. Alternativa E: nos restou somente está alternativa como a correta. De fato, o conhecimento seguro consiste em submetê-lo à dúvida mais obstinada, até resisti-la. 13 Fundação Carlos Chagas O termo ataraxia designa o ideal da imperturbabilidade ou da serenidade da alma, em decorrência do domínio sobre as paixões ou da extirpação destas. (Abbagnano, N. Dicionário de filosofia) O termo ataraxia está fortemente ligado ao (A) epicurismo e estoicismo. (B) hermetismo e ao congruísmo. (C) jansenismo e ao laxismo. (D) idealismo transcendental. (E) materialismo. Prof. Raphael Reis 39 www.estrategiaconcursos.com.br FILOSOFIA Prof. Raphael Reis – Aula 01 Análise: o Epicurismo afirmava que para a imperturbabilidade era necessário moderar os prazeres e viver com o pouco. Já o estoicismo defendia a aceitação e a resignação da providência, do seu destino. Assim, ao evitar a decepção e aceitar as dores, se alcançaria a serenidade. Portanto, a alternativa correta é a A. 14 Fundação Carlos Chargas É INCORRETO afirmar que um dos principais fatos que define a atividade filosófica na época de seu nascimento entre os gregos é (A) a tendência à racionalidade. (B) o orientalismo religioso. (C) a recusa de explicações pré-estabelecidas. (D) a tendência à argumentação. (E) a capacidade de generalização. Análise: como vimos em nossas aulas, a racionalidade, a recusa das explicações pré-estabelecidas, o uso da argumentação e a capacidade de universalização das explicações fazem parte da atividade filosófica em seu nascimento. Portanto, a única alternativa incorreta é o orientalismo religioso (alternativa B). 15 CESAGRINO “[...]quem consideras que seja melhor do que aquele que tem uma veneranda opinião sobre os deuses; e passando por tudo se mantém destemido diante da morte; que refletiu sobre a meta da natureza e que, de um lado, o limite dos bens é simples de alcançar e fácil de obter, enquanto, dos males, ou é curto o tempo ou o sofrimento?” Epicuro, citado por Diógenes Laércio (Vidas e Doutrinas dos Filósofos ilustres, X, 133). Aponte, entre as frases abaixo, a que NÃO corresponde à filosofia de Epicuro. (A) A filosofia deve ter por objetivo a realização da felicidade. (B) Temer a morte é um mal que resulta de um preconceito sobre o valor da mesma. (C) Visto que a felicidade é constituída pelos prazeres, todos eles devem ser buscados sempre. (D) Os deuses são indiferentes aos apelos e reclamações dos homens. (E) O conhecimento da natureza livra os homens de preconceitos e temores. Prof. Raphael Reis 40 www.estrategiaconcursos.com.br FILOSOFIA Prof. Raphael Reis – Aula 01 Análise: a única alternativa que não corresponde ao epicurismo é a D. Esta corrente acreditava que a religião e as superstições faziam os seres humanos sofrerem, por causa de suas crenças que levavam o temor à morte e as divindades, por exemplo. E-mail: [email protected] Facebook: Professor Raphael Reis Youtube: Don Raphael Reis Cadastrar-se: goo.gl/JlOYv9 Prof. Raphael Reis 41 www.estrategiaconcursos.com.br