VARIABILIDADE E SUSCETIBILIDADE CLIMÁTICA: Implicações ecossistêmicas e sociais 25 a 29 de outubro de 2016 Goiânia (GO)/UFG ANOMALIAS DE PLUSIVOSIDADE DE BOIS CONTENT, NA PARÓQUIA SAINT CATHERINE - JAMAICA: VARIABILIDADE E IMPACTOS SHEIKA TAMARA HENRY1 ELAIZ APARECIDA MENSCH BUFFON2 GABRIELA GOUDARD3 RESUMO: A compreensão da variabilidade pluvial configura-se como uma importante ferramenta para o entendimento das interações superfície-atmosfera, bem como, para medidas de mitigações e adaptações aos eventos extremos de chuva em face de mudanças climáticas futuras e suas repercussões espaciais heterogêneas no planeta. Partindo-se destes pressupostos, o presente estudo objetiva analisar a variabilidade pluvial na estação Bois Content, paróquia Saint Catherine – Jamaica, na temporalidade de 1971 a 2014. Para tanto, pautou-se em cálculos de anos-padrão e coeficiente de variação anual da pluviosidade, através da metodologia proposta por Sant’Anna Neto (1990), de modo conjugado a análises de mecanismos de teleconexões (La Niña e El Niño) e, as repercussões espaço-temporais atreladas às inundações, estiagens e furacões na porção espacial supracitada. Palavras-Chave: Variabilidade Catherine, Jamaica pluvial, oscilações interanuais, teleconexões, Saint ABSTRACT: Comprehension of rainfall variability can serve as an important tool for understanding surface atmosphere interactions as well as mitigation measures and adaptations to extreme rainfall events in preparation for future climate change and its spatial heterogeneous impact on the planet. Based on the foregoing, the objective of this study is to analyze rainfall variability using station data from Bois Content, in the parish of Saint Catherine, Jamaica from 1971 to 2014. Consequently, we used the methodology proposed by Sant'Anna Neto (1990) to calculate the total annual rainfall, standard deviation, coefficient and annual percentage in order to show the linkage between teleconnection mechanisms (La Niña and El Niño) and the spatio-temporal impact on floods, droughts and hurricanes. Keywords: rainfall variability, interannual fluctuations, teleconnection, Saint Catherine, Jamaica 1 - Introdução 1 Doutoranda em Geografia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), com bolsa OEA, e participa do LABOCLIMA - UFPR. E- mail de contato: [email protected] 2 Doutoranda em Geografia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) com bolsa CAPES e participa do LABOCLIMA – UFPR. E-mail de contato: [email protected] 3 Graduanda em Geografia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Bolsista de Iniciação Científica no Laboratório de Climatologia (LABOCLIMA – UFPR). E-mail de contato: [email protected] 423 VARIABILIDADE E SUSCETIBILIDADE CLIMÁTICA: Implicações ecossistêmicas e sociais 25 a 29 de outubro de 2016 Goiânia (GO)/UFG A circulação atmosférica e a configuração climática desde a escala global até a local são marcadas por variabilidades. Os padrões sinóticos e de circulação expressam essas variações nas escalas de dias (tempestades e passagens de frentes) até vários séculos (mudanças climáticas de longo período) (CAVALCANTI & AMBRIZZI, 2009). Estas últimas, aliadas as suas repercussões espaciais, configuram-se como temas cada vez mais relevantes no âmbito das pautas internacionais, sobretudo, a partir do final da década de 1980, com a criação do International Panel on Climate Change (IPCC) e a divulgação de diversas projeções climáticas para o planeta. Dessa forma, salienta-se que os últimos relatórios (AR4 e AR5) do IPCC, baseados em dados meteorológicos e modelagens, acenam para um forte aquecimento da atmosfera (até 4,5ºC nos prognósticos pessimistas), bem como, retratam um cenário de eventos climáticos extremos cada vez mais frequentes e impactantes, em decorrência de alterações na temperatura e precipitação de modo heterogêneo ao longo do globo (MENDONÇA, 2007; 2014; MARENGO, 2007; IPCC, 2007, 2013). No contexto específico da Jamaica, os modelos globais (GCMs) e regionais (RCMs) apontam para projeções de aumentos médios de 1,1ºC a 3,2ºC até 2090, e de 2,9ºC a 3,4ºC até 2080, respectivamente. Quanto as precipitações, as simulações mais conservadoras sugerem reduções moderadas das chuvas (-14%), ao passo que as mais pessimistas, retratam diminuições nas precipitações totais anuais de 41% até 2080. Ainda de acordo com relatórios diagnósticos das condições climáticas presentes e futuras para a Jamaica, estimam-se aumentos da frequência e intensidade de furacões (CSGM, 2012). Neste sentido, ressalta-se que a variabilidade climática, com destaque neste estudo para a pluvial, configura-se como uma importante ferramenta para a compreensão das interações superfície-atmosfera diante dos cenários de mudanças climáticas e dos problemas ambientais aguardados para este século XXI. Estudos como este auxiliam no entendimento da gênese de eventos climáticos, bem como, das possíveis mudanças climáticas globais em curso (VENEGAS et al., 1996), de modo a evidenciar que as alterações climáticas (temperatura e chuva) são heterogêneas na superfície terrestre. Assim, como principais teleconexões que promovem influências na variabilidade climática, evidenciam-se as interanuais e decadais. Em face das interanuais, destacam-se o El Niño e La Niña, relativos, respectivamente, a um fenômeno oceânico de aquecimento e resfriamento incomum das águas das porções central e leste do Pacífico, em função de alterações da Célula de Walter. Tratam-se de alterações regionais, mas que culminam em dimensões continentais e planetárias, à medida em que modificam as interações oceanoatmosfera, gerando anomalias positivas e negativas de precipitação (GRIMM, 2009). 424 VARIABILIDADE E SUSCETIBILIDADE CLIMÁTICA: Implicações ecossistêmicas e sociais 25 a 29 de outubro de 2016 Goiânia (GO)/UFG Na dimensão decadal cita-se a Oscilação do Atlântico Norte (OAN), um padrão de pressão do nível do mar que se caracteriza por uma variação em oposição de fase entre as anomalias de pressão registadas na região da Islândia e dos Açores, de modo que a OAN é medido por um índice definido pela diferença normalizada da pressão entre estes dois locais no Atlântico Norte (HURRELL et al., 2003; GILLET et al., 2003). A influência desse padrão na variabilidade das chuvas na Jamaica não é muito abordada em estudos, devido a limitação de dados em tempos longos (CSGM, 2012). Outro padrão decadal pouco utilizado no que se refere a ligação com a variabilidade das chuvas na Jamaica é a Oscilação Multidecadal do Atlântico (AMO). Essa oscilação se configura como um modo natural de variabilidade de TSM que ocorre no Oceano Atlântico Norte, com um prazo estimado de 60 a 80 anos (KAYANO & ANDREOLI, 2009; SANTANA, 2013). Considerando esses padrões e suas possíveis análises de influências na variabilidade pluvial da Jamaica, objetiva-se com o presente estudo, a partir de dados pluviais de Bois Content, na Paróquia Saint Catherine – Jamaica, abordar a variabilidade pluvial e suas interações com os índices do Oceanic Niño Index (ONI) de El Niño e La Ninã. Também, evidenciam-se os retrospectos dessa variabilidade na dimensão espacial do território da Jamaica. Para tanto, este estudo pautou-se em cálculos de anos-padrão e coeficiente de variação anual da pluviosidade, na temporalidade de 1971 a 2014, através da metodologia proposta por Sant’Anna Neto (1990), de modo conjugado a análises das oscilações interanuais (La Niña e El Niño) e, as repercussões espaço-temporais atreladas à inundações, estiagens e furacões na área de estudo. 2 - Localização e características gerais da área de estudo A Jamaica configura-se como um país insular situado no mar do Caribe (Figura 01). Do ponto de vista climático, apresenta o tipo climático tropical marítimo, com temperatura média variando de 26 °C a 28 °C. No que se refere a precipitação média anual, esta varia de modo brusco no território, dado que a média do país encontra-se entre 5.080 mm a 6.200 mm (MET SERV, 2000). No entanto, essa média apresenta grandes contrastes de uma região para outra do país em razão dos fatores climáticos, especialmente, a variação da altimetria, mas também as estações do ano e a localização geográfica são relevantes, neste contexto. Destaca-se que, de um modo geral, a quantidade de chuva é influenciada pela dinâmica dos ventos alísios de nordeste, tempestades tropicais e furacões, sendo estes processos mais expressivos nos meses de junho a novembro. Em contrapartida, a estação seca ocorre entre os meses de dezembro e abril (EVANS, 1973). 425 VARIABILIDADE E SUSCETIBILIDADE CLIMÁTICA: Implicações ecossistêmicas e sociais 25 a 29 de outubro de 2016 Goiânia (GO)/UFG A paróquia de Saint Catherine (Figura 01), objeto de estudo do presente trabalho e correspondente a categoria de Estado no contexto brasileiro, está localizada no sudeste da Jamaica. Trata-se da maior paróquia da ilha, compreendendo a população de 516.218 habitantes, com densidade populacional de 433.6 hab/km2 e uma área de 1.190,6 km2 (STATIN, 2011). A precipitação média anual dessa paróquia varia de 762 mm (sudeste) a 2.540 mm (norte), devido as variações altimétricas desta porção espacial, com predomínio de montanhas ao norte em detrimento do sudeste, com relevo mais plano (VERNON, 1958). Figura 01 – Localização da área de estudo. Organização: Os autores (2016). 426 VARIABILIDADE E SUSCETIBILIDADE CLIMÁTICA: Implicações ecossistêmicas e sociais 25 a 29 de outubro de 2016 Goiânia (GO)/UFG Ressalta-se que esta paróquia é especialmente vulnerável a desastres naturais, como inundações e deslizamentos de terra, de modo que a compreensão das variações espaço-temporais das condições climáticas, notadamente pluviais, desta porção espacial torna-se relevantes, visto que o conhecimento destas dinâmicas é fundamental para que medidas de adaptação sejam tomadas de formas mais eficientes. 3 - Descrição da Pesquisa 3.1 Quanto a coleta de dados e preenchimento de falhas Os dados mensais de precipitação da estação meteorológica Bois Content (Figura 01), localizada na Paróquia de Saint Catherine, a 152 metros de altitude, foram coletados através do Meteorological Service of Jamaica, na temporalidade de 1971 a 2014. Posteriormente, foram realizados procedimentos quanto ao preenchimento das falhas por meio de cálculos das médias dos dados existentes. Este processo apresenta relevância, sobretudo, no que se refere à consistência das séries de dados utilizadas. Quanto aos dados de ocorrência do El Niño e La Niña, buscou-se a partir do Oceanic Niño Index (ONI) a classificação dos anos e suas respectivas intensidades, apresentados a partir de um índice que compreende todo o período de análise supracitado (Figura 02). Figura 02: El Niño and La Niña Years and Intensities - Based on Oceanic Niño Index (ONI). Fonte: http://ggweather.com/enso/oni.htm. Os dados de ocorrência de inundações, furacões e estiagens foram obtidos por meio da literatura, através de relatórios e diagnósticos do estado climático da Jamaica (CSGM, 2012). 3.2 Quanto ao tratamento dos dados de precipitação e análise da variabilidade 427 VARIABILIDADE E SUSCETIBILIDADE CLIMÁTICA: Implicações ecossistêmicas e sociais 25 a 29 de outubro de 2016 Goiânia (GO)/UFG A análise da variabilidade pluvial pautou-se em cálculos de anos-padrão através da metodologia proposta por Sant’Anna Neto (1990) e utilizada de maneira satisfatória em estudos recentes (TAVARES et al., 2004; NASCIMENTO JÚNIOR, 2010). Este procedimento permite identificar a variação dos totais pluviais anuais, mediante a identificação do desvio padrão em milímetros (Equação 01) e das porcentagens anuais (Equação 02): (Equação 01) (Equação 02) Onde: DP (mm): desvio padrão em milímetros; DP (%): desvio padrão em porcentagem; X1: total pluvial anual e; M: média dos totais pluviais compreendendo a série histórica, neste caso de 1971 a 2014. Por meio das equações 01 e 02, os anos foram classificados em seco, tendente a seco, habitual, tendente a chuvoso e chuvoso, baseando-se no total pluvial anual e desvio padrão em milímetros, conforme utilizado por Nascimento Júnior (2010) (Quadro 01). Quadro 01 – Determinação dos anos-padrão CLASSE FÓRMULAS PARÂMETRO COR Seco T-DP(mm) Valores menores/iguais a Seco Amarelo Tendente a seco T-[DP(mm)/2] Valores entre Seco e Habitual Laranja Habitual - Valores entre o tendente a seco e o tendente a chuvoso Branco Tendente a chuvoso T+[DP(mm)/2] Valores entre Habitual e Chuvoso Azul claro Chuvoso T+DP(mm) Valores maiores/iguais a Chuvoso Azul escuro Fonte: Nascimento Júnior (2010) Organização: Os autores (2016) De modo conjugado também foi analisado o coeficiente de variação anual da pluviosidade, demonstrando a relação positiva/negativa em relação à média climatológica de precipitação da série de dados utilizada. O cálculo deste parâmetro foi realizado com base na equação 03 (SANT’ANNA NETO, 1990 apud NASCIMENTO JÚNIOR, 2010 (adaptado)): (Equação 03) nesta equação, o CVP corresponde ao coeficiente de variação anual da pluviosidade; o X1 ao total pluvial anual e M refere-se a média dos totais pluviais compreendendo a série histórica. 428 VARIABILIDADE E SUSCETIBILIDADE CLIMÁTICA: Implicações ecossistêmicas e sociais 25 a 29 de outubro de 2016 Goiânia (GO)/UFG Por fim, os anos-padrão e os coeficientes de variação pluvial foram analisados de modo conjugado as teleconexões interanuais (El Niño e La Niña), bem como, aos eventos que se configuram como potenciais desencadeadores de desastres naturais, tais como as inundações, secas/estiagens e furacões, com o intuito de compreender as variabilidades e as repercussões destes processos no âmbito de Saint Catherine – Jamaica. 4 - Resultados e Discussões A distribuição das chuvas na Jamaica é marcada por uma grande variabilidade entre os meses, estações e anos (CSGM, 2012). A análise da variabilidade pluvial de Bois Content, na paróquia Saint Catherine, comprova a existência de padrões sazonais de distribuição de chuva, mas também, de padrões de teleconexão que promovem variações significativas de um ano para o outro, expressando assim a complexidade da análise da variabilidade pluvial para essa região. Quando se observa a média mensal da pluviosidade para Bois Content - Saint Catherine (Figura 03) constata-se que os meses com menores totais pluviais são dezembro, janeiro, fevereiro e março e; o mês de julho. Por outro lado, os meses de abril, maio e junho representam um aumento nos totais mensais de pluviosidade, de modo mais significativo no mês de maio. Em contrapartida, do ponto de vista período mais chuvoso, destacam-se os meses de agosto, setembro, outubro e novembro, com o pico máximo de chuva nos meses de setembro e outubro. Neste sentido, ressalta-se que o aumento significativo da chuva nesse último período, normalmente é influenciado pelos ventos alísios de nordeste, condicionando assim tempestades tropicais, de modo que, se configura nesse período a temporada de furacões (EVANS, 1973). Figura 03: Bois Content, Saint Catherine – Jamaica: distribuição da média pluvial mensal. 429 VARIABILIDADE E SUSCETIBILIDADE CLIMÁTICA: Implicações ecossistêmicas e sociais 25 a 29 de outubro de 2016 Goiânia (GO)/UFG Fonte de dados: Meteorological Service of Jamaica (2015). Organização: Os autores (2016). Para além da configuração da distribuição da chuva na escala mensal, é de extrema importância analisar a chuva na escala anual. A análise anual, mascara particularidades sazonais, entretanto, coloca em evidência a possível influência de mecanismos climáticos que promovem teleconexões na gênese das chuvas. Dessa forma, a classificação de anospadrão da pluviosidade indica os anos que apresentaram anomalias positivas e negativas de chuva. Para Bois Content - paróquia Saint Catherine, merece destaque os seguintes anos: 2002 (ano-padrão chuvoso) e 1976 (ano-padrão seco) (Figura 04), visto que esses representam de forma significativa a expressiva variabilidade pluvial da região, uma vez que a amplitude do total pluvial entre os dois anos foi de 2276 mm. De modo geral, a classificação de anos-padrão demonstra três padrões na pluviosidade, a saber (Figura 04): uma predominância de anos seco e tendente a seco nas décadas de 1970 e 1980; na década de 1990 destacam-se os anos-padrão na categoria habitual e; a partir da década de 2000 chamam atenção os anos com padrão chuvoso. Essas intercalações entre períodos decadais seco, habitual e chuvoso, auxiliam na compreensão da não existência de uma tendência de chuva positiva ou negativa significante (valor de r²), dada a grande variabilidade no período, a qual pode se associar a mecanismos de teleconexões interanuais, tal como o El Niño. Figura 04: Bois Content, Saint Catherine – Jamaica: Anos-Padrão, Tendência e Média Móvel dos Totais Anuais 430 VARIABILIDADE E SUSCETIBILIDADE CLIMÁTICA: Implicações ecossistêmicas e sociais 25 a 29 de outubro de 2016 Goiânia (GO)/UFG Fonte de dados: Meteorological Service of Jamaica (2015). Organização: Os autores (2016). Nesse sentido, buscou-se integrar na Figura 05 o coeficiente de variação anual da pluviosidade, com os períodos anuais de ocorrência do El Niño e La Niña, bem como, alguns dados de impactos dessa variabilidade. Salienta-se que os dados de impactos históricos são de difícil acesso, o que por sua vez justifica, em partes, os eventos de secas e estiagens somente nos últimos anos. Assim, ao se analisar as variações anuais do coeficiente anual de pluviosidade em conjunto com o ENOS, fez-se possível constatar a influência tanto da sua fase positiva quanto negativa, sendo mais evidente a ligação com o El Niño, responsável pela diminuição das chuvas nesta paróquia. Quanto aos anos com aumento extremo de chuva, esses são característicos do período de transição do El Niño para a La Niña, de modo que os dois fenômenos são identificados no mesmo ano. Do ponto de vista dos impactos decorrentes das variabilidades extremas, merecem destaque alguns eventos, tais como: a inundação do ano de 2002 que gerou prejuízos de US$51 milhões; o furacão “Hurricane Dean” de categoria 4 registrado no ano de 2007 com prejuízos de U$329 milhões; as secas registradas nos anos de 2000 e 2009, ambas em anos de coeficiente negativo de pluviosidade (CSGM, 2012). Neste âmbito, verifica-se que a Jamaica é palco constante de impactos decorrentes das condições climáticas, fato que amplia a importância de medidas de mitigação e adaptação frente aos desastres de origem hidrometeóricas. Figura 05: Bois Content, Saint Catherine – Jamaica: Coeficiente de Variação Anual da Pluviosidade. 431 VARIABILIDADE E SUSCETIBILIDADE CLIMÁTICA: Implicações ecossistêmicas e sociais 25 a 29 de outubro de 2016 Goiânia (GO)/UFG Fonte de dados: Meteorological Service of Jamaica (2015). Organização: Os autores (2016). Mediante a análise da pluviosidade anual (Figura 04 e 05), depreende-se alguns aspectos que encontram-se em conformidade com outras pesquisas realizadas para a Jamaica: I. A variabilidade interanual recebe influência significativa do ENOS, ao passo que, os padrões de circulação desse fenômeno na fase de El Niño (La Niña) impedem (aumentam) a formação de forte atividade convectiva, implicando em uma tendência para redução (aumento) das chuvas e da atividade de furacões. Os anos e/ou meses posteriores a influência do El Niño, que caracterizam um período de transição para a La Niña, foram característicos neste trabalho e em outros estudos (CSGM, 2012), sendo marcados por um significativo aumento da precipitação, culminando em anospadrão chuvosos e com tempestades impactantes. II. Mesmo com grande variabilidade interanual é possível identificar padrões na pluviosidade. Destaque para um aumento da pluviosidade expressa pelos anospadrão chuvosos e pelo coeficiente positivo, a partir do ano de 2000. Esse aumento, segundo aportes da literatura, provavelmente, se relaciona com à AMO. Os relatórios do CSGM (2012) apresentaram essa relação para a pluviosidade da Jamaica, definindo padrões expressos na Figura 06. Esses padrões também foram identificados neste trabalho, considerando a série histórica adotada de 1971 a 2014, visto que evidenciou-se um padrão com tendência negativa de chuvas nas décadas de 1970 e 1980. Figura 06: Jamaica: Anomalias de chuva e tendência decadal. Fonte: CSGM(2012). 432 VARIABILIDADE E SUSCETIBILIDADE CLIMÁTICA: Implicações ecossistêmicas e sociais 25 a 29 de outubro de 2016 Goiânia (GO)/UFG III. Outra teleconexão decadal que no presente estudo não foi abordada é a Oscilação do Atlântico Norte (OAN), em que as combinações de suas fases com as dos ENOS podem propiciar tendências para períodos secos (chuvosos) de modo mais intenso (CSGM, 2012). Entretanto, essas relações ainda não são tão explicitas para a pluviosidade da Jamaica, em razão da ausência de trabalhos mais detalhados no que concerne a influência da OAN e do ENOS. 5 - Considerações Finais A pluviosidade de Bois Content, na paróquia Saint Catherine na Jamaica, no período de 1971-2014, apresentou elevada variabilidade sazonal e anual, fato característico das condições climáticas deste país insular. Entretanto, ao se verificar os padrões dessa variabilidade, identificam-se evidências para confirmar o papel de atuação como meio de teleconexão interanual do El Niño e La Niña na variabilidade pluvial anual. De modo conjugado, observou-se que os desvios positivos e negativos influenciados ou não pelos ENOS, e embora dispersos ao longo de toda a série histórica abordada neste trabalho, foram intensificados pela AMO. Quanto aos impactos decorrentes desses desvios (positivos e negativos) da pluviosidade, é sabido e reiterado neste estudo, as suas interações negativas com a sociedade, por meio da geração de riscos diversificados ao homem. A Jamaica é frequentemente afetada por desastres que se associam as tempestades, com destaque para os furacões e inundações, em razão do seu alto grau de impacto na geração de prejuízos sociais, ambientais, culturais e econômicos. Esses desastres se relacionam, também, com o ENOS, visto que em ocasiões de La Niña (El Niño) se observa aumento (diminuição) das inundações e dos furacões. Nesse sentido, se vislumbra a possibilidade de que os próximos anos na Jamaica, aqui abordada pela paróquia Saint Catherine (estação Bois Content), tendem a ser marcados por um aumento de furacões e inundações, visto que o país está temporalmente situado em uma fase positiva da AMO. Nesta fase positiva, conforme aponta a bibliografia, a tendência é de aumento da configuração da teleconexão interanual da La Niña, e por consequência, um aumento da pluviosidade. No entanto, não é possível prever a duração dessa fase e sua intensidade, mas o que se pode afirmar é que novas medidas de mitigação e adaptação devem ser pensadas e aplicadas frente as desastres hidrometeóricos associados a estes processos. Destaca-se também, a importância de estudos enfocando a variabilidade pluvial da Jamaica, bem como, de estudos futuros acerca das influências das 433 VARIABILIDADE E SUSCETIBILIDADE CLIMÁTICA: Implicações ecossistêmicas e sociais 25 a 29 de outubro de 2016 Goiânia (GO)/UFG mais diversas teleconexões interanuais e decadais na pluviosidade mensal, anual e decadal desta porção espacial. Referências Bibliográficas CAVALVCANTI, I.F.A; AMBRIZZI, T. Teleconexões e suas influências no Brasil. In: CAVALCANTI, I.F.A. et al. (orgs) Tempo e Clima no Brasil. São Paulo: Oficina de Textos, 2009, p. 317 – 335. CSGM. Climate Studies Group: state of the Jamaican Climate - Information for Resilience Building. Summary for Policymakers - Planning Institute of Jamaica, Kingston, Jamaica, 2012 EVANS, C.J. The Climate of Jamaica. Jamaica meteorological Division of Jamaica. 1973. GILLET, N.P.; GRAF, H.F.; OSBORN, T.J. Climate change and the North Atlantic Oscillation. In HURREL, J.W; et al. (edit.). 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