(4-etilfenil)-imidazolidina-2,4-dio - TEDE

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RONALDO BEZERRA DE QUEIROZ
EVIDÊNCIAS PRÉ-CLÍNICAS DA AÇÃO ANTINOCICEPTIVA DO
3-fenil-5-(4-etilfenil)-imidazolidina-2,4-diona EM ESTUDOS
PSICOFARMACOLÓGICOS
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PRODUTOS NATURAIS
E SINTÉTICOS BIOATIVOS
LABORATÓRIO DE TECNOLOGIA FARMACÊUTICA
PROF DELBY FERNANDES DE MEDEIROS
JOÃO PESSOA-PB
2011
RONALDO BEZERRA DE QUEIROZ
EVIDÊNCIAS PRÉ-CLÍNICAS DA AÇÃO ANTINOCICEPTIVA DO 3-fenil-5(4-etilfenil)-imidazolidina-2,4-diona EM ESTUDOS PSICOFARMACOLÓGICOS
Dissertação apresentada ao Programa de Pós –
graduação em Produtos Naturais e Sintéticos
Bioativos do Centro de Ciências da Saúde com
sede no Laboratório de Tecnologia Farmacêutica
Prof.
Delby
Fernandes
de
Medeiros
da
Universidade Federal da Paraíba, em cumprimento
às exigências para obtenção do título de mestre em
Produtos Naturais e Sintéticos Bioativos. Área de
concentração FARMACOLOGIA.
ORIENTADORA:
Profª Drª Liana Clébia Soares Lima de Morais
CO – ORIENTADOR:
Prof. Dr. Reinaldo Nóbrega de Almeida
JOÃO PESSOA-PB
2011
Q3e
Queiroz, Ronaldo Bezerra de.
Evidências pré-clínicas da ação antinociceptiva do 3-fenil-5-(4-etilfenil)imidazolidina-2,4-diona em estudos psicofarmacológicos / Ronaldo Bezerra de
Queiroz.- - João Pessoa : [s.n.], 2011.
96f. : il.
Orientadora: Liana Clébia Soares Lima de Morais .
Co-orientador: Reinaldo Nóbrega de Almeida.
Dissertação(Mestrado) – UFPB/CCS/LTF.
1.Farmacologia. 2.Psicofarmacologia 3.Atividade anti-inflamatória. 4. Derivados
imidazolidínicos..
UFPB/BC
CDU: 615(043)
RONALDO BEZERRA DE QUEIROZ
EVIDÊNCIAS PRÉ-CLÍNICAS DA AÇÃO ANTINOCICEPTIVA DO 3-fenil-5(4-etilfenil)-imidazolidina-2,4-diona EM ESTUDOS PSICOFARMACOLÓGICOS
Dissertação apresentada ao Programa de Pós –
graduação em Produtos Naturais e Sintéticos
Bioativos do Centro de Ciências da Saúde com
sede
no
Laboratório
de
Tecnologia
Farmacêutica Prof. Delby Fernandes de
Medeiros da Universidade Federal da Paraíba,
em cumprimento às exigências para obtenção
do título de MESTRE EM PRODUTOS
NATURAIS E SINTÉTICOS BIOATIVOS.
Área de concentração FARMACOLOGIA.
Aprovado em
23 / 02 / 2011
BANCA EXAMINADORA
Aos meus pais, minha filha, meus irmãos e aos amigos sinceros, dedico.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente a Deus, pela minha existência e oportunidade de se fazer presente no
trabalho que desempenho sempre.
A minha querida orientadora Profª Drª Liana Clébia Soares Lima de Morais, que tem
estado ao meu lado em todos os momentos nesta caminhada na vida acadêmica, presteza
diante das minhas dúvidas, conselhos e em quem me inspiro como exemplo profissional
e que na prática faz uso com mister dos conceitos de humanização.
Aos meus pais, Pedro Leite de Queiroz “in memorian” e Maria José Bezerra de
Queiroz, que com dedicação e exemplo me deram a oportunidade de crescer
profissionalmente.
A minha irmã Profª Maria do Socorro Queiroz de Morais por seu estímulo,
orientação e dedicação de sempre.
Ao Prof. Dr. Reinaldo de Almeida Nóbrega pela amizade e orientação.
Aos membros da banca examinadora por terem aceitado o convite e poderem
contribuir para a versão final desta Dissertação.
A todos os colegas do laboratório da Psicofarmacologia pela amizade, cooperação e
presteza no desenvolvimento desse trabalho em especial a Rubens Benedito.
Ao Prof. Dr. Petrônio Filgueiras de Athayde Filho (UFPB), por ter fornecido as
substâncias necessárias para desenvolvimento deste trabalho.
A Profª Drª Margareth de Fátima Formiga Melo Diniz pelo apoio e entusiasmo na
conquista deste mestrado.
A Profª Drª Claudia Roberta Leite Vieira de Figueiredo pela participação na
orientação, criatividade e amizade no desenvolvimento do trabalho científico.
Aos professores da Pós – graduação pela participação em minha formação acadêmica.
A Tânia Maria Araújo, Caroline Medeiros Mangueira e José Crispim Duarte pelos
serviços prestados, e pelo apoio técnico e indispensável para realização desse trabalho.
Ao Biotério Prof. Dr. Thomas George do Laboratório de Tecnologia Farmacêutica
pelo fornecimento dos animais e realço meu respeito a todos os animais utilizados
durante a realização dos testes.
Aos meus colegas de turma mestrado, pelos momentos de boa convivência e ansiedades
compartilhadas.
Ao Prof. Dr. José Alberto Gonçalves da Silva pela amizade, constante estímulo e
incentivo no meu crescimento profissional e pessoal.
Aos meus amigos que souberam dar estímulo e entender as ausências de convivência
necessária para realização deste trabalho.
“Bem aventurado o homem que suporta com perseverança a provação; porque,
depois de ter sido aprovado, receberá a coroa da vida, a qual o senhor prometeu aos
que o amam”
______________________________________________________________________
Tiago 1:12
QUEIROZ, R. B. Evidências Pré-Clínicas da Ação Antinociceptiva do 3-fenil-5-(4etilfenil)-imidazolidina-2,4-diona em Estudos Psicofarmacológicos. 2011. 96f.
Dissertação (Programa de Pós Graduação em Produtos Naturais e Sintéticos Bioativos,
Farmacologia) – UFPB / CCS / LTF, João Pessoa.
RESUMO
Os derivados imidazolidínicos são produtos sintéticos com inúmeras diferentes
aplicações terapêuticas. Muitos derivados imidazolidínicos apresentam propriedades
farmacológicas em nível do SNC, por exemplo a fenitoína que é utilizada na prática
clínica como anticonvulsivante, mas também atua no tratamento da dor neuropática e
também já foi utilizada como antiarrítmico cardíaco. O 3-fenil-5-(4-etilfenil)imidazolidina-2,4-diona (IM-3), sintetizado recentemente a partir de aminoácido foi
selecionado para realização de estudos psicofarmacológicos. Baseado nessa semelhança
químico-estrutural, o presente trabalho investigou a atividade antinociceptiva do IM-3
em modelos animais. O estudo teve início com a triagem farmacológica comportamental
e determinação da DL50. Na triagem os resultados apontaram para uma atividade
depressora no SNC e a partir da DL50, foram escolhidas as doses para testes
subseqüentes de 50, 100 e 200 mg/kg por via intraperitoneal. Em seguida, metodologias
para avaliar a atividade antinociceptiva específicas foram utilizadas. A primeira foi a
das contorções abdominais induzidas pelo ácido acético; em seguida, o teste da
formalina e por fim, o teste da placa quente, que é específico para atividade
antinociceptiva central. Nas três metodologias usadas, o IM-3 apresentou-se efetivo no
teste das contorções abdominais pelo ácido acético na dose de 200 mg/kg que aumentou
tanto a latência para o aparecimento das contorções abdominais como reduziu o número
de contorções abdominais em relação ao grupo controle e no teste da formalina nas
doses de 100 e 200 mg/kg diminuiu o tempo de lambida da pata na segunda fase do
teste. Portanto, a partir destes dados experimentais, é possível inferir que o IM-3 possui
atividade antinociceptiva do tipo anti-inflamatória.
Palavras
chave:
derivados
imidazolidínicos,
antinociceptiva, atividade anti-inflamatória
psicofarmacologia,
atividade
QUEIROZ, R.B. Preclinical evidence of antinociceptive action of 3-phenyl-5-(4etilfenil)-imidazolidine-2,4-dione in psychopharmacological studies. 2011. 96p.
Dissertation (Post Graduate Program in Natural Products and Synthetic Bioactive,
Pharmacology) - UFPB / CCS / LTF, Joao Pessoa
ABSTRACT
Imidazolidine derivatives are synthetic products with many different therapeutic
applications. Many imidazolidine derivatives have pharmacological properties at the
level of the CNS, such as phenytoin, which is used in clinical practice as an
anticonvulsant. However, this also works effectively in the treatment of neuropathic
pain and it has been already used as anti-arrhythmic heart. The 3-phenyl-5-(4ethyphenyl)-imidazolidine-2,4-dione (IM-3), recently synthesized from amino acid was
selected for psychopharmacological studies. Based on the chemical and structural
similarity, this study investigated the antinociceptive activity of IM-3 in animal models.
The study has began with screening and behavioral pharmacology of the LD50
determination. In the screening results indicate a depressant activity on CNS and from
the LD50 doses were chosen for subsequent tests with 50, 100 and 200 mg / kg
intraperitoneally. In the next step, methodologies to evaluate the specific antinociceptive
activity were used. The first was the writhing induced by acetic acid; afterwards, the
formalin test and finally the hot plate test, which is specific for the central
antinociceptive activity. In the three methodologies used, the IM-3 showed to be
effective in the writhing test by acetic acid at a dose of 200 mg/kg which increased both
the latency to the onset of writhing and reduced the number of writhing in the control
group and in the formalin test at doses of 100 and 200 mg / kg decreased the time of the
paw lick in the second phase of testing. Therefore, from these experimental data, it is
possible to infer that the IM-3 has antinociceptive activity of the anti-inflammatory
type.
Keywords: imidazolidine derivatives, psychopharmacology, antinociceptive, anti
inflammatory activity
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 -
Visão geral do circuito nociceptivo .................................................
30
Figura 2 -
Diagrama esquemático do sistema de controle da comporta ...........
32
Figura 3 -
Sinapse excitatória medular .............................................................
35
Figura 4 -
Camundongo Suiço macho e albino ................................................. 45
Figura 5 -
Camundongos em grupo de 4 animais no interior da gaiola ............ 46
Figura 6 –
Estrutura química do 3-fenil-5-(4-etilfenil)-imidazolidina-2,4diona (IM-3)......................................................................................
47
Figura 7 -
Aparelho de placa quente .................................................................
48
Figura 8A -
Visão superior da caixa de observação para o teste da formalina .... 49
Figura 8B -
Visão frontal da caixa de observação para o teste da formalina ......
49
Figura 9 –
Resumo esquemático do estudo psicofarmacológico do IM-3 em
camundongos ...................................................................................
50
Figura 10 -
Detalhe do camundongo no aparelho do teste da placa quente .......
54
Figura 11 -
Aspecto geral de um procedimento do teste da formalina ...............
55
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 -
Seletividade de agonistas e antagonistas para os subtipos de
receptores opióides............................................................................ 39
Quadro 2 -
Protocolo utilizado na triagem farmacológica comportamental ......
Quadro 3 -
Efeito do IM-3 via i.p. na triagem farmacológica ............................ 60
52
LISTA DE GRÁFICOS
Efeito de IM-3 no teste do ácido acético: latência das contorções
abdominais .......................................................................................
61
Efeito de IM-3 no teste do ácido acético: número das contorções
abdominais .......................................................................................
62
Gráfico 3 -
Efeito de IM-3 sobre o tempo de permanência na placa quente ......
63
Gráfico 4 -
Efeito do IM-3 na primeira fase do teste da formalina ....................
64
Gráfico 5 -
Efeito do IM-3 na segunda fase do teste da formalina ..................... 65
Gráfico 1 –
Gráfico 2 –
LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS
%–
ºC –
α–
β–
δ–
κ–
µ–
µL –
5-HT1
5-HT2
AAS –
AINES ANOVA –
AMPA IM-3 –
BTG –
BRVMR –
Ca2+ –
CEPA –
COX –
CGRP –
DL50 –
Dr. –
Drª. –
E.U.A. –
e.p.m. –
et al –
FAAH GABA –
GABAA Glu h–
HIV IASP –
i.p. –
K+ –
Kg –
LC –
LTF –
mg –
n–
Na+ Nav NMDA –
NMR –
NO -
Por cento
Graus Celsius
Alfa
Beta
Delta
Kappa
Mu
Microlitro
Receptor 5-hidroxitriptamina tipo 1
Receptor 5-hidroxitriptamina tipo 2
Acido acetil salicílico
Anti-inflamatórios não esteroidais
Análise de variância
Ácido alfa-amino-3-hidroxi-5-metil-4- isoxazol-propionico
3-fenil-5-(4-etilfenil)-imidazolidina-2,4-diona
Biotério Prof. Dr. Thomas George
Bulbo raquidiano ventromedial rostral
Íon cálcio
Comitê de Ética em Pesquisa Animais
Ciclooxigenase
Peptídeo relacionado ao gene da calcitonina
Dose letal 50%
Doutor
Doutora
Estados Unidos da América
Erro padrão da média
E colaboradores
Amida hidrolase de acido graxo (Fatty Acid Amide Hydrolase)
Ácido gama amino butírico
Receptor do ácido gama amino butírico do tipo A
Glutamato
Horas
Vírus da imunodeficiência humana
Associação Internacional para Estudo da Dor
Intraperitoneal
Íon potássio
Quilogramas
Locus coeruleus
Laboratório de Tecnologia Farmacêutica
Miligramas
Número de animais
Íon sódio
Canais de sódios regulados por voltagem
N-metil-D-aspartato
Núcleo magno da rafe
Óxido Nítrico
NRPG –
PKC pH –
Prof. –
PGE2α –
PGF2α –
RNA RNAm RP-HPLC r.p.m. –
SCPV –
SG –
SGB SNA –
SNC –
SNP –
SP –
TTX-S TTX-R Tween 80 –
UFPB –
U.S.A –
VR-1 –
VRL-1 –
Núcleo reticular paragigantocelular
Fosfoquinase C
Potencial hidrogeniônico
Professor
Prostaglandina E2α
Prostaglandina F2α
Ácido ribonucléico
RNA mensageiro
Fase reversa de cromatografia líquida de alto desempenho
Rotações por minuto
Substância cinzenta periaquedutal
Substância gelatinosa
Síndrome de Guillain-Barré
Sistema Nervoso Autônomo
Sistema Nervoso Central
Sistema Nervos Periférico
Substância P
Sensíveis a tetrodotoxina
Resistente a tetrodotoxina
Polioxetileno Sorbitano Monoleato
Universidade Federal da Paraíba
Estados Unidos da América
Receptor vanilóide - 1
Receptor vanilóide – Like - 1
SUMÁRIO
I - INTRODUÇÃO...................................................................................................... 18
II – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ........................................................................ 23
2.1 Aspectos gerais sobre drogas antinociceptivas de ação no SNC .......................... 23
2.2 Considerações gerais sobre a dor........................................................................ 26
2.2.1 Conceito e classificação de dor........................................................................ 27
2.2.2 Percepção da dor ............................................................................................. 29
2.2.3 Tratamento farmacológico da dor .................................................................... 35
2.3 Antinocicepção e envolvimento dos canais para Na+ e K+ .................................. 39
III – OBJETIVOS ....................................................................................................... 43
3.1 Geral:................................................................................................................. 43
3.2 Específicos: ....................................................................................................... 43
IV – MATERIAL ........................................................................................................ 45
4.1 – Animais .......................................................................................................... 45
4.1.1 Condições experimentais................................................................................. 46
4.2 Substâncias utilizadas ........................................................................................ 47
4.3 Substância teste utilizada ................................................................................... 47
4.4 Aparelhagem...................................................................................................... 48
4.4.1 - Aparelho de placa quente .............................................................................. 48
4.4.2 Caixa de observação para o teste da formalina................................................. 48
V - MÉTODOS ........................................................................................................... 49
5.1 ESTUDO PRELIMINAR DA ATIVIDADE SOBRE O SISTEMA NERVOSO
CENTRAL E AUTÔNOMO DO IM-3 .................................................................... 49
5.1.1 Toxicidade Aguda ........................................................................................... 49
5.1.2 Triagem Farmacológica Comportamental ........................................................ 50
5.2. AVALIAÇÃO ESPECÍFICA DA ATIVIDADE SOBRE O SISTEMA
NERVOSO CENTRAL E PERIFÉRICO DO IM-3.................................................. 53
5.2.1. Estudo da Atividade Antinociceptiva ............................................................. 53
5.2.1.1. Teste das Contorções Abdominais Induzidas por Ácido Acético.................. 53
5.2.1.2. Teste da Placa Quente ................................................................................. 54
5.2.1.3. Teste da Formalina ...................................................................................... 55
VI – ANÁLISE ESTATÍSTICA .................................................................................. 57
VII – RESULTADOS ................................................................................................. 59
7.1 TESTES PRELIMINARES ................................................................................ 59
7.1.1 Determinação da dose letal 50%...................................................................... 59
7.1.2 Efeito do IM-3 na triagem farmacológica comportamental .............................. 59
7.2 TESTES ESPECÍFICOS .................................................................................... 60
7.2.1 Estudo da atividade antinociceptiva................................................................. 60
7.2.1.1 Efeito do IM-3 no teste das contorções abdominais induzidas por ácido
acético ..................................................................................................................... 60
7.2.2 Estudo da atividade antinociceptiva central ..................................................... 62
7.2.2.1 Efeito do IM-3 no teste da placa quente ........................................................ 62
7.2.2.2 Efeito do IM-3 no teste da formalina ............................................................ 63
7.2.2.2.1 Primeira fase ............................................................................................. 63
7.2.2.2.2 Segunda fase ............................................................................................. 64
VIII – DISCUSSÃO .................................................................................................... 67
IX – CONCLUSÕES .................................................................................................. 76
X – PERSPECTIVAS ................................................................................................. 78
REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 80
Introdução
QUEIROZ, R.B.
Introdução
18
I - INTRODUÇÃO
A Psicofarmacologia investiga processos comportamentais que são alterados
pela administração de drogas, como por exemplo, a atividade locomotora, a esquiva, a
memória, entre outras; além de analisar a influência de substâncias sobre alguns
transtornos psiquiátricos tais como esquizofrenia, depressão e ansiedade (ALMEIDA,
2006).
Estudos nesta área da farmacologia associada a efeitos no Sistema Nervoso
Central (SNC), além de fornecer indícios quanto ao possível mecanismo de ação de
drogas, também ajudam no entendimento dos substratos neurobiológicos que medeiam
efeitos comportamentais específicos relacionados a desordens centrais.
Pesquisas por novos fármacos tem se tornado crescente, já que os avanços
tecnológicos não trouxeram somente progressos, mas também mudanças de hábitos,
alterações nos ecossistemas e, por conseguinte, novas doenças. Nos primórdios da
humanidade as fontes naturais eram as únicas alternativas para a cura e alivio das
enfermidades, entretanto devido aos avanços da química orgânica, a síntese é uma
ferramenta que contribui cada vez mais na descoberta de novos fármacos. Resultado
disto é que cerca de 80% das moléculas utilizadas na terapêutica são de origem
sintética, sendo que este crescimento também é corroborado pela aplicação de
conhecimentos de outras áreas à síntese orgânica, que dispõe de métodos analíticos mais
eficientes e rápidos. Neste ponto de vista é de grande relevância o investimento na área
de síntese e planejamento de novas moléculas com perspectivas farmacológicas. Os
compostos heterocíclicos, por sua vez, são as maiores fontes de fármacos sintéticos e
estão envolvidos em diversos tipos de reações químicas. Sua importância está
relacionada à possibilidade da introdução de heteroátomos no anel e novos grupos
substituintes, o que lhes confere diferentes propriedades químicas e biológicas (LUIS et
al, 2010).
Aminoácidos são os nutrientes mais antigos que existem na face da Terra. Eles
têm desempenhado um papel fundamental na existência da vida, desde os tempos dos
seres vivos mais primitivos até o estágio presente de evolução marcado pelo
aparecimento do ser humano. Os aminoácidos desempenham diversas funções
QUEIROZ, R.B.
Introdução
19
importantes no corpo e servem como material constituinte das proteínas e portanto das
células, hormônios e enzimas. Embora seja o aminoácido mais simples, a glicina
mostrou ser necessária para o funcionamento normal do sistema nervoso, da pele e dos
tecidos musculares.
Compostos heterocíclicos originados da glicina apresentam uma gama de
atividades biológicas úteis ao homem. Destacamos as classes dos Compostos
Mesoiônicos e das Imidazolidinas (Hidantoínas).
A difenil-hidantoína, denominada genericamente de fenitoína, é amplamente
utilizada como o anticonvulsivante de escolha no tratamento das crises epilépticas
(HARDMAN, J. G. et al., 1996). Este fármaco, por sua eficácia já comprovada, faz
parte da Relação de Medicamentos Essenciais da Organização Mundial de Saúde
(WHO, 1997) e também da Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (BRASIL,
2002).
O fato do 3-fenil-5-(4-etilfenil)-imidazolidina-2,4-diona (IM-3) possuir estrutura
similar as hidantoínas e diante do que foi exposto aliado ao uso clínico de rotina da
fenitoína reforçam a intenção em analisar os efeitos dos derivados imidazolidínicos no
Sistema Nervoso Central.
Inicialmente, antes dos testes farmacológicos comportamentais mais específicos,
o derivado imidazolidínico selecionado foi testado quanto à toxicidade. Além de provas
da eficácia, uma nova droga tem que possuir estudos toxicológicos pré-clínicos para
oferecer aos pesquisadores clínicos alguma segurança sobre as doses que
potencialmente podem apresentar efeitos tóxicos. Um parâmetro muito importante que
fornece indícios da toxicidade de um fármaco é a dose que provoca 50% de mortes
(DL50 = dose letal 50%), e esta se calculou antes da escolha das doses que poderão ser
utilizadas para os testes comportamentais.
A etapa seguinte consistiu na realização de uma triagem farmacológica central
onde foi avaliado, através da análise de vários parâmetros comportamentais, o tipo de
influência que o derivado imidazolidínico exerceu sobre o SNC, ou seja, se houve um
efeito farmacológico, em que modalidade (se analgésico e ou anti-inflamatório) a droga
se enquadrou. Foram considerados os efeitos estimulantes, depressores ou perturbadores
do SNC, bem como alguns efeitos relativos à estimulação do SNA. O método de
triagem farmacológica é uma ferramenta imprescindível, de fácil aplicação e
QUEIROZ, R.B.
Introdução
20
relativamente barata, que é amplamente utilizada para a determinação de efeitos de
substâncias no SNC.
Como apresentou efeitos centrais significativos, uma avaliação mais detalhada,
com modelos animais específicos foi realizada.
Na etapa comportamental propriamente foram realizados os testes para avaliação
da atividade antinociceptiva através da medida das contorções abdominais induzidas por
ácido acético, do teste da placa quente e do método da formalina.
Nos domínios da neurofisiologia, a dor é uma sensação resultante da excitação
das terminações livres de função nociceptiva. É uma forma de sensibilidade química,
cujos estímulos adequados são as moléculas orgânicas, (como as aminas, histaminas, e
serotonina; ou peptídeos calidina e bradicinina), formadas ou liberadas quando ocorre
lesão celular. Superando qualquer outra modalidade sensorial, a dor apresenta forte
componente afetivo, mais acentuado na dor crônica leve que na aguda. A sensação
dolorosa propriamente dita é acompanhada por sentimento de mal-estar, desprazer e
angústia, condição essa, rotulada como hiperpatia, isto é, não só a reação subjetiva à dor
é intensa, como também, a reação a outros estímulos fica alterada.
A técnica de Siegmund et al. (1957), modificada por Koster et al. (1959), foi
adaptada para avaliar a atividade antinociceptiva em camundongos. O ácido acético foi
usado como uma substância algogênica em camundongos de acordo com o método de
Koster e Anderson em 1959 (CALATAYUD et al. 1998).
Agentes irritantes como exemplo, o ácido acético, formalina, capsaicina dentre
outros atuam como estímulos nociceptivos, os quais provocam em camundongos
determinados comportamentos caracterizados por contorções abdominais seguida de
torção de tronco e extensão de membros posteriores (BLOCK et al. 1998). A atividade
antinociceptiva positiva de uma droga é expressa através da redução do número de
contorções abdominais dos animais pré-tratados com extrato e/ou droga padrão
(ANTONIOLLI et al., 2001).
O teste da placa quente foi descrito por Eddy e Leimback em 1953
(CALATAYUD et al. 1998), sendo utilizado para determinar o limiar nociceptivo do
animal frente um estímulo álgico representado pelo calor. Os animais serão colocados
individualmente sobre uma placa quente mantida a 50 ± 1º C. O parâmetro avaliado será
a latência em segundos, que equivale o tempo para o animal lamber uma das patas
dianteiras ou traseiras após ter sido colocado na placa quente. O tempo limítrofe de
QUEIROZ, R.B.
Introdução
21
permanência do animal no aparelho será de 30 segundos para prevenir dano tecidual
(ANTONIOLLI et al. 2001).
Em virtude dos vários efeitos indesejáveis graves advindos do tratamento
com os analgésicos, os farmacologistas pesquisam incessantemente novas substâncias
que apresentem atividade antinociceptiva e que possam ser utilizadas na terapêutica,
sejam desprovidas de efeitos adversos graves como os apresentados pelos fármacos
opióides e com melhor resposta farmacológica. Nesse contexto se insere a avaliação
da atividade antinociceptiva do derivado imidazolidínico 3-fenil-5-(4-etilfenil)imidazolidina-2,4-diona (IM-3) em camundongos.
Fundamentação Teórica
QUEIROZ, R.B.
Fundamentação Teórica
23
II – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 Aspectos gerais sobre drogas antinociceptivas de ação no SNC
Estudos com o objetivo de avaliar a atividade analgésica de substâncias
sintéticas bioativas no SNC são direcionados às ações depressoras destas, visto que
são muito úteis na medicina, ajudando a diminuir o excesso de funcionamento
cerebral e conseqüentemente a sensação somestésica da dor provocada pela lesão de
alguma parte do corpo.
Os psicolépticos, que são fármacos depressores do SNC, têm como
característica predominante a redução da atividade funcional das estruturas
encefálicas, a exemplo do cérebro. Dentre esses, encontram-se os neurolépticos,
benzodiazepínicos, barbitúricos e opióides (ALMEIDA, 2006).
Antipsicóticos também conhecidos como neurolépticos são substâncias
utilizadas para atenuar ou abolir os sinais e sintomas da esquizofrenia e de outras
psicoses. São classificados em neurolépticos clássicos ou típicos e os de nova geração
ou atípicos (GALDURÓZ; BARBOSA, 2006). Os neurolépticos típicos são aqueles
que atuam bloqueando principalmente os receptores dopaminérgicos chamados D2,
além dos receptores muscarínicos do sistema colinérgico, atuando por antagonismo
farmacológico na via mesolímbica, via essa postulada como causadora de sinais e
sintomas das psicoses. Estão incluídos nessa classe de fármacos o haloperidol e a
clorpromazina. Já os neurolépticos atípicos ou de segunda geração são definidos
farmacologicamente, como antagonistas serotonina-dopamina apresentando-se menos
específicos que os neurolépticos típicos por bloquearem mais de um sistema,
apresentam menos efeitos extrapiramidais, como a clozapina, (agem menos na via
nigroestriatal), além de bloquear relativamente pouco os receptores D2, tem
importante afinidade pelos receptores D1, D4, 5-HT2, alfa1 e H1 e possuem eficácia
sobre os sintomas negativos da esquizofrenia. Assim, alguns efeitos dos antipsicóticos
dependem de sua atuação em outros sistemas de neurotransmissores além da
QUEIROZ, R.B.
Fundamentação Teórica
24
dopamina, como, por exemplo, as ações anticolinérgica e bloqueadora alfaadrenérgica (SILVA, 2010).
Os
fármacos
psicoativos
mais
consumidos
no
mundo
são
os
benzodiazepínicos devido as suas propriedades anticonvulsivante, ansiolítica,
hipnótica e pré-anestésica. Entretanto, efeitos indesejáveis como relaxamento
muscular, sedação, dependência física e tolerância, têm sido associados ao uso dessa
classe de fármacos (RUBIN et al., 2000). Esses fármacos exercem suas ações
farmacológicas por meio da interação com receptores específicos no SNC, localizados
em uma subunidade dos receptores do GABAA, agindo como neuromoduladores
alostéricos positivos. Esta interação ocorre através de um acoplamento estrutural,
formando
um
complexo
macromolecular
que
potencializa
os
efeitos
do
neurotransmissor inibitório GABA, aumentando a transmissão gabaérgica pré e póssináptica (OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2008; SILVA, 2010).
Na subunidade de ligação dos benzodiazepínicos dos receptores GABAA
existem múltiplas formas de receptores benzodiazepínicos, com distintos perfis
farmacológicos. Os receptores ômega 1, são preferencialmente abundantes no
cerebelo
e
contém
sítios
de
reconhecimento
com
alta
afinidade
para
benzodiazepínicos e outras substâncias de diferentes estruturas químicas. São
responsáveis pelas ações ansiolíticas e hipno-sedativas. Os tipo ômega 2, estão
localizados predominantemente na medula espinhal e estriato, e estão envolvidos na
mediação da atividade miorelaxante. Já os tipo ômega 3, também conhecidos como
tipo periférico são abundantes nos rins e seu papel na atividade ansiolítica permanece
desconhecido (STHAL, 2000).
Barbitúricos são de outra classe de fármacos depressores do SNC que
causam especificamente sedação e hipnose. Os barbitúricos se ligam a receptores
associados ao ionóforo de GABA-cloreto; todavia, esses fármacos parecem prolongar
os efeitos do GABA, em lugar de intensificá-los (DAILEY, 2005). Em doses baixas,
os barbitúricos aumentam a duração de abertura do canal de cloreto GABAA
produzida pelo GABA. Em doses altas produzem anestesia geral, coma ou morte. Os
barbitúricos abrem o canal independentemente do GABA. Por outro lado, a ativação
do receptor para benzodiazepínicos modula o receptor GABAA, aumentando ou
diminuindo a freqüência de abertura dos canais de cloreto em resposta ao GABA
(GRAEFF; GUIMARÃES, 2005). Com o surgimento dos benzodiazepínicos, apenas
aqueles barbitúricos mais específicos como fenobarbital, usado por sua atividade
QUEIROZ, R.B.
Fundamentação Teórica
25
anticonvulsivante, e o tiopental, muito empregado como agente anestésico intravenoso
é que ainda permanecem em ampla utilização (RANG et al., 2007).
Os analgésicos de ação central ou simplesmente opióides têm como
característica principal aumentar o limiar neuronal ao estímulo nocivo ou até mesmo
erradicar a sensação dolorosa (ALMEIDA; OLIVEIRA, 2006a). O termo "opióide" é
habitualmente empregado para substâncias de natureza sintética ou peptídica com
ação semelhante à morfina, enquanto que "opiáceo" representa uma terminologia mais
antiga sendo aplicado a sustâncias naturais isoladas do ópio como a morfina e
codeína. Entretanto, alguns autores relacionam o termo opióide de forma ampla a
todos os compostos que estão relacionados com o ópio, o suco extraído da papoula, ou
Papaver somniferum L. (GUTSTEIN; AKIL, 2003). Os efeitos desses fármacos
incluem principalmente analgesia, sendo esse o mais relevante efeito para a utilização
dessa classe de substâncias, mas também é observado sedação, depressão respiratória,
miose, supressão do reflexo de tosse e efeitos no trato gastrointestinal, a exemplo de
constipação. É importante destacar que além dos efeitos citados, todos os agonistas
opióides produzem graus variados de tolerância e dependência física (WELCH;
MARTIN, 2005).
Segundo vários autores, (GANGAROSA; MAHAN; CIARLONE, 1991;
OKESON, 1996; TUCKER; DOLWICK, 1996; TORTAMANO, 1997) os opióides
são mais úteis em condições de dores agudas, quando há exacerbação da dor
musculoesquelética, já que produzem menos efeitos colaterais quando usados num
curto período de tempo (DOS SANTOS JR., 1995). A morfina, a codeína
(metilmorfina) e seus derivados semi-sintéticos constituem os opióides mais
amplamente utilizados para o controle da dor. Tipicamente a morfina é considerada o
opióide de referência com o qual os outros opióides são comparados. Os antagonistas
dos receptores opióides são utilizados para reverter os efeitos colaterais
potencialmente fatais da administração de opióides, especificamente a depressão
respiratória. A naloxona, que é um desses antagonistas, é um derivado sintético da
oximorfona, e utilizada através da administração por via parenteral (GRIFFIN;
WOOLF, 2009).
QUEIROZ, R.B.
Fundamentação Teórica
26
2.2 Considerações gerais sobre a dor
A dor na verdade, é o sintoma mais importante de doença e também um
dos “sinais mais precoces de morbidade da natureza” e continua a ser a mais
importante entre todas as experiências sensoriais através das quais os seres humanos
avaliam a existência de doenças em si mesmos. Nas civilizações antigas, como a
assíria-babilônica, egípcia e hebraica, o conceito de dor adquiriu uma conotação
religiosa. Eles acreditavam ser a dor uma intoxicação produzida pelos espíritos
malignos, ou um castigo divino resultado de pecados cometidos (BRAUN FILHO,
1999).
A dor caracteriza-se por uma resposta orgânica protetora, pois alerta o
indivíduo para uma lesão iminente ou real dos tecidos, induzindo ao surgimento de
respostas reflexas e comportamentais coordenadas com o intuito de manter o dano
tecidual o mais controlado possível (WOOLF; MANNION, 1999).
Todos os indivíduos, exceto portadores de insensibilidade congênita,
sabem o que é dor. Entretanto, é difícil para alguém descrever a própria dor e
impossível conhecer exatamente a experiência dolorosa do outro, isso porque esta é
uma experiência individual, com aspectos peculiares, associada às características
únicas de cada organismo (GUIMARÃES, 1999).
Dados da literatura norte-americana mostram que existiam em 2000, cerca
de 86 milhões de norte-americanos com dores crônicas, dos quais 65 milhões
apresentavam-se incapacitados total ou parcialmente. No Brasil, não se tem dados
epidemiológicos que permitam tais análises. Estimativas levantadas em um trabalho
realizado no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo mostram dados
aproximados de que 13,6 milhões de brasileiros seriam portadores de quadros
dolorosos persistentes e intensos, dos quais 50 a 60% seriam dores crônicas
(MARQUEZ, 2004).
Mesmo nos dias atuais, a dor continua sendo uma das grandes
preocupações da humanidade. O homem sempre procurou esclarecer as razões que
justificassem a ocorrência da dor, bem como os procedimentos destinados ao seu
controle (BERTOLUCCI et al., 2011).
QUEIROZ, R.B.
Fundamentação Teórica
27
2.2.1 Conceito e classificação de dor
A nocicepção é definida como os mecanismos pelos quais os estímulos
periféricos nocivos são transmitidos ao SNC, sem, no entanto, apresentar o
componente subjetivo que é característico da dor (ALMEIDA; OLIVEIRA, 2006a).
Por outro lado diante da complexidade e das várias influências que
envolvem o processo doloroso a IASP - Intemational Association for the Study of
Pain, conceituou a dor como "uma experiência sensorial e emocional, em geral
desagradável, associada com dano tissular real ou potencial, ou descrita em termos
deste dano". É essencialmente uma manifestação subjetiva, variando a apreciação de
um mesmo estímulo nóxico de indivíduo para indivíduo (VILELA FILHO, 1998).
Dentre os vários fatores que modificam esse componente afetivo e
subjetivo, podemos citar o estado emocional, posição social, nível cultural,
preferência religiosa, plano econômico-financeiro e fatores ambientais; esses alteram
profundamente o significado que a experiência dolorosa pode causar. A dor ocorre em
um momento específico da existência de uma pessoa, relacionada à sua história e ao
contexto no qual o acontecimento doloroso se desencadeou (LEMONICA, 1997).
A dor pode ser classificada sob vários aspectos, um deles leva em
consideração sua distribuição temporal, em aguda e crônica (VILELA-FILHO, 1998).
A dor aguda é aquela que se segue a um estímulo nóxico; deve-se à
ativação das vias da dor e se faz acompanhar de manifestações neurovegetativas, tais
como taquicardia e sudorese, desaparecendo com a resolução do processo patológico
que
lhe
originou.
É uma importante modalidade de natureza sensorial,
desempenhando um papel de alerta para o próprio organismo. A dor crônica é aquela
que persiste por um período de tempo superior àquele necessário a função de alertar o
indivíduo e gera acentuado estresse e incapacidade para o trabalho. Sob o aspecto
conceitual, pode está associada a patologias crônicas ou decorrentes de lesão do SNC
ou periférico. De fato, a dor provocada por estímulo lesivo tem a função de alertar o
indivíduo e, assim, lhe permite a possibilidade de fugir do estímulo prejudicial ou
diminuir o dano que causa a sensação dolorosa. Em alguns casos, a dor persiste por
tempo excessivamente longo e passa a representar sofrimento, sendo muitas vezes
prejudicial ao organismo. Portanto, o primeiro caso corresponde a "dor aguda", e o
QUEIROZ, R.B.
Fundamentação Teórica
28
segundo, à chamada "dor crônica". Para alguns autores a dor crônica significa um
processo patológico (dor patológica) e não tem o caráter protetor da dor aguda (dor
fisiológica) (GRAEFF; GUIMARÃES, 2005).
Outras classificações e modalidades de dor, além das já citadas, incluem a
dor nociceptiva, a somática, a neuropática, a referida e a visceral. A nociceptiva é a
forma de dor que surge em todos os indivíduos normais, como conseqüência da
aplicação de estímulos que produzem dano ou lesão nos órgãos somáticos ou
viscerais. Origina-se da ativação dos nociceptores. A dor somática tem origem na
pele, músculos, articulações, ligamentos e ossos. Trata-se de uma dor bem localizada,
circunscrita à área lesada e caracteriza-se por sensações claras e precisas (BRAUNFILHO; BRAUN, 2004).
A doença neurológica que afeta a via sensorial pode produzir dor crônica
severa, sendo essa então designada por dor neuropática, que segundo a IASP, é
definida como uma dor causada ou iniciada por uma lesão primária ou por disfunção
do SNC e/ou Periférico (SNP). Esta desordem pode ser provocada ou iniciada por
disfunção do sistema nervoso ou por lesão como compressão, transecção, infiltração,
isquemia, injúria metabólica de corpos celulares de neurônios ou uma combinação
desses fatores, diferindo-se em etiologia e local de lesão (GALLUZZI, 2007;
BERTOLUCCI et al., 2011). Dor do membro fantasma e diabetes mellitus são causas
de dor neuropática (BOWSHER, 1999). Esse tipo de dor pode não está diretamente
relacionada a qualquer lesão tecidual periférica e ser decorrente de distúrbios do SNC,
tal como na esclerose múltipla (RANG et al., 2007).
As síndromes dolorosas neuropáticas que tem origem no SNC podem ser
por lesão medular ou encefálica. Quando por lesão no SNP podem ser por
mononeuropatia e polineuropatia. As condições patológicas associadas com
mononeuropatias que levam a dores neuropáticas mais comuns são por herpes zoster,
diabetes, poliarterite nodosa, artrite reumatoide, lúpus eritematoso sistêmico, trauma,
tumor, vírus da imunodeficiência humana (HIV), hipotieroidismo, porfiria, isquemia
etc. As polineuropatias podem ser de causa metabólica (diabete, hipotireoidismo,
amiloidose, uremia, doença de Fabry); carencial (beribéri, pelagra); tóxica (álcool,
organofosforado);
medicamentosa
(isoniazida,
cloranfenicol,
metronidazol,
vincristina); infecciosa (HIV, tuberculose); inflamatória (SGB); tumoral (mieloma,
linfoma). As síndromes dolorosas acometendo nervos cranianos são principalmente a
neuralgia do trigêmio e a neuralgia do glossofaríngeo (BERTOLUCCI et al., 2011).
QUEIROZ, R.B.
Fundamentação Teórica
29
A dor visceral é a forma de dor que surge com mais freqüência como
conseqüência de enfermidades. É o sintoma comum na maioria das síndromes
dolorosas agudas e crônicas de interesse clínico. É vaga, mal localizada e se estende
além do órgão lesado. Pode ser referida em regiões distantes da víscera que a originou
(BRAUN-FILHO; BRAUN, 2004).
Não é raro uma pessoa sentir dor em uma parte do corpo
consideravelmente distante dos tecidos que a causaram. Esse tipo de dor visceral é
chamada de referida, sendo iniciada em um dos órgãos viscerais e referida a uma área
na superfície corporal. A dor pode ainda ser referida a uma área do corpo não
exatamente coincidente com a localização da víscera que a produziu (GUYTON;
HALL, 2002).
A dor psicogênica, por sua vez, está relacionada à prevalência de fatores
psicológicos na gênese da sensação dolorosa. Esse tipo de dor pode ser observado em
distúrbios psicológicos como na depressão e na ansiedade generalizada (FURST,
1999; MERSKY, 1986).
2.2.2 Percepção da dor
A dor é uma percepção altamente individualizada, baseada em
experiências e associações passadas, no contexto cultural e espiritual, constituição
psicológica, bem como nos mecanismos físicos e fisiológicos (WILDER-SMITH,
2007).
Pressupõe-se a existência de três componentes envolvidos no processo
doloroso: um é a ativação de nociceptores, que é a transdução, induzida por estímulos
nocivos que podem ser exógenos, tais como, biológicos, químicos, físicos ou ainda
endógenos, caracterizados principalmente por processos inflamatórios; outro
ocorrendo por consequência a transmissão dos citados estímulos pelas vias nervosas
até o córtex cerebral. O componente seguinte seria a reação emocional à dor, que
corresponderia à interpretação afetiva dessa sensação. A reação emocional à dor de
caráter individual é representada principalmente por experiências prévias, tais como a
QUEIROZ, R.B.
Fundamentação Teórica
30
lembrança de alguma forma de sofrimento. A percepção final da dor será
consequência da integração destes componentes (MORAES; CAMARGO, 1999;
BRAUN-FILHO; BRAUN, 2004). Portanto, a dor não envolve apenas a transdução,
transmissão do estímulo nociceptivo ambiental, mas também envolve um evento
cognitivo e emocional processado pelo cérebro. (JULIUS; BASBAUM, 2001).
Portanto o reconhecimento da dor como reação sensitiva envolve três
mecanismos básicos: transdução, transmissão e modulação.
Figura 1. Visão geral do circuito nociceptivo (Fonte: Adaptado de SILVERTHORN, 2003).
Denomina-se transdução ao fenômeno de ativação dos receptores da dor,
conhecidos como nociceptores (Figura 1), isto é, a transformação de um estímulo
mecânico, térmico ou químico nóxico em potencial de ação (impulso nervoso) pelo
nociceptor (VILELA-FILHO, 1998).
No processo de transdução, no caso da sensação dolorosa, ocorre uma
amplificação dos eventos pela liberação local de uma grande variedade de substâncias
químicas, denominadas genericamente de substâncias algogênicas, que surgem em
grande quantidade nos tecidos em decorrência de processos inflamatórios, traumáticos
QUEIROZ, R.B.
Fundamentação Teórica
31
ou isquêmicos. Essas substâncias incluem serotonina, bradicinina, noradrenalina,
histamina, citocinas, prostaglandinas, leucotrienos e substância P (MARQUEZ, 2004).
Os nociceptores são terminações nervosas livres das fibras mielínicas Aδ e
das fibras amielínicas C localizados na pele, músculos, articulações, tecido conjuntivo
e vísceras. Alguns tecidos possuem nociceptores que podem ser térmicos, ativados por
temperaturas extremas, nociceptores mecânicos que são ativados por intensa pressão e
os polimodais, ativados por estímulos químicos, térmicos ou mecânicos de elevada
intensidade (PINTO, 2000).
O processo de transmissão de mensagem da periferia até a medula espinhal
é feito por fibras nervosas, sendo as fibras Aδ e C já referidas, envolvidas
primariamente na nocicepção e, também, pelas fibras mielinizadas, de condução
rápida Aβ, que carreia informações não nociceptivas, mas, participa de forma conjunta
no processo doloroso. Os sinais de dor rápida são transmitidos nos nervos periféricos
em direção a medula espinhal pelas fibras tipo A (rápidas) e a dor lenta, por fibras tipo
C amielínicas (MARQUEZ, 2004).
Na medula espinhal os neurônios nociceptivos aferentes fazem sinapse na
coluna cinzenta posterior com neurônios das lâminas I a VI (lâminas de Rexed). As
células que dão origem às fibras espinotalâmicas e espinoreticulares, localizam-se na
coluna cinzenta posterior. As células situadas na lâmina II, que corresponde a
tradicional área gelatinosa da medula, recebem projeções descendentes do núcleo
magno da rafe; existem evidências que exercem papel no “bloqueio”da dor
(DORETTO, 2005).
A informação nociceptiva é transmitida da medula espinhal para o tálamo e
para o córtex por cinco vias ascendentes: os tratos espinotalâmico, espinoreticular,
espinomesencefálico, cervicotalâmico, espinohipotalâmico (BASBAUM; JESSELL,
2000; PINTO, 2000).
O sistema de modulação mais conhecido e o mais aceito para explicar a
regulação da dor é o da Teoria da Comporta ou “Mecanismo de Controle do Portão
Medular” ou “Gate-Control”, segundo a qual as fibras mielínicas grossas Aβ
(responsáveis pela condução do tato, propiocepção e pressão) excitariam os
interneurônios inibitórios da substância gelatinosa (lâmina II), os quais promoveriam
a inibição pré-sináptica dos aferentes nociceptivos, que por sua vez, inibiriam os
interneurônios inibitórios e, ao mesmo tempo, excitariam os neurônios das vias de
projeção da dor. Esta teoria explicaria o fato de que a estimulação tátil de uma área
QUEIROZ, R.B.
Fundamentação Teórica
32
dolorosa diminui a sensação de dor (VILELA-FILHO, 1998). Foi proposta por Ronald
MELZACK e Patrick WALL em 1965. Constitui-se em um modelo de percepção da
dor no qual há uma regulação da passagem dos impulsos das fibras aferentes
periféricas para o tálamo através dos neurônios de transmissão no corno dorsal. Ela
funciona como uma estação regulatória para a transmissão da dor. Assim, a percepção
da dor se dá pelo somatório da estimulação sensorial e um intenso controle central
(Figura 2).
Figura 2 – Diagrama esquemático do sistema de controle da comporta
Os axônios de neurônios que formam os tratos ascendentes, projetam-se
para áreas do tálamo e daí seguem em direção ao neo-córtex e sistema límbico. As
fibras paleo-espino-talâmicas enviam ramificações para a formação reticular no tronco
cerebral, mesencéfalo (região periaqueductal) e hipotálamo (próximo ao terceiro
ventrículo). Os tratos paleo-espinotalâmico e espinomesencefálico, dirigem-se aos
núcleos medial e intra-laminar do tálamo, de onde surgem projeções para o sistema
límbico e lobo frontal, áreas correlacionadas com o componente afetivo da percepção
da dor, fortemente influenciado por experiências pregressas. O trato neo-espinotalâmico projeta-se ao neo-córtex, e suas fibras projetam-se por sua vez para os
núcleos póstero-látero-ventral e posterior do tálamo, onde fazem sinapses com
neurônios que se projetam para a neo-córtex somato-sensorial. Essas vias são
QUEIROZ, R.B.
Fundamentação Teórica
33
primariamente correlacionadas com a percepção cognitiva (localização, intensidade e
natureza do estímulo) e reconhecimento consciente da dor.
O trato espino-reticular projeta-se principalmente para o tronco cerebral e
formação reticular mesencefálica. As informações processadas desencadeiam em cada
um desses centros superiores uma resposta em consequência aos estímulos recebidos,
por exemplo, a ativação da formação reticular explica o estado de vigília, agitação e
ansiedade que por muitas vezes acompanha a dor.
Como o centro vasomotor está localizado nesta área é comum o
aparecimento de aumento da pressão arterial, frequência cardíaca, sudorese e
taquipnéia por aumento do tônus adrenérgico nos pacientes com dor.
Ao nível supra-espinhal há um mecanismo descendente de controle da dor
originado na medula rostroventromedial com participação de outros núcleos do tronco
cerebral como o núcleo do trato solitário, parabraquial, dorsal reticular, hipotalâmico e
córtico cerebral, interagindo com fibras aferentes, interneurônios e neurônios de
projeção (Millan, 2002). O sistema inibitório central de modulação da dor é também
ativado por intermédio das aferências do fascículo antero-lateral ao tronco cerebral e
mesencéfalo.
A região cinzenta periaquedutal recebe tanto impulsos provenientes da
medula espinhal como do hipotálamo, tálamo, córtex, sistema límbico e ínsula. Estes
impulsos seguem para estruturas pontinas, bulbares e da medula espinhal.
Em resumo as fibras aferentes nociceptivas transmitem o impulso doloroso
para o tálamo através de células transmissoras da dor localizadas no corno dorsal na
medula espinhal, constituindo a via de transmissão da dor, a qual é controlada pelos
neurônios da substância gelatinosa (SG), que tem participação importante na
transmissão de impulsos nociceptivos para o encéfalo. Neurônios inibitórios
descendentes ou influxo aferente não-nociceptivo ativam os neurônios da SG os quais,
por sua vez, inibem as células transmissoras da dor dificultando a passagem do
impulso doloroso para os centros superiores. Já a estimulação das fibras C, inibe os
neurônios inibitórios da SG (Figura 2), permitindo a passagem do impulso doloroso
para o tálamo, constituindo-se então o processo de regulação da passagem do impulso
doloroso para os centros superiores (YAKSH; MALMBERG, 1994).
A teoria da comporta não aborda somente o aspecto sensorial da dor, mas
também as variáveis psicológicas e sua influência na sensação dolorosa. Isso ocorre
por meio de uma avaliação cognitiva e por informações de experiências anteriores que
QUEIROZ, R.B.
Fundamentação Teórica
34
estão armazenadas em regiões corticais superiores ligadas ao componente
motivacional. Alterações neste componente, principalmente na dor crônica, podem
modificar as reações à dor mesmo não havendo mudanças no seu componente
sensorial (BROTON; ROSENFELD, 1982).
Sabe-se que os impulsos dolorosos estão sujeitos a influências
modulatórias centrais e que, em situações de estresse físico ou de grande
concentração, os estímulos dolorosos são tolerados. Foi sugerida, então, a existência
de um sistema fisiológico de controle central da dor. (URBAN; GEBHART, 1999).
O processo analgésico ocorre pela estimulação de vários locais como a
substância cinzenta periaquedutal (SCPV), locus coeruleus (LC) e o bulbo raquidiano
ventromedial rostral (BRVMR), que inclui o núcleo magno da rafe (NMR). Projeções
diretas conectam o córtex pré-frontal e insular, o hipotálamo, a amígdala e o tronco
cerebral à SCPV. Esta se liga ao NMR no BRVMR o qual, por sua vez, projeta-se
para o corno dorsal da medula. O BRVMR é a maior fonte de neurônios do tronco
cerebral para o corno dorsal, principalmente para as lâminas I, II e V (FIELDS;
BASBAUM, 1999; URBAN; GEBHART, 1999). Deste modo, a estimulação da
SCPV provoca excitação dos neurônios do BRVMR que, por sua vez, liberam
neurotransmissores, como serotonina e encefalina, os quais vão inibir as respostas
nociceptivas dos neurônios do corno dorsal, provocando assim uma diminuição das
respostas à dor (BASBAUM; JESSEL, 2000).
Existe também a via noradrenérgica proveniente do locus coeruleus, que
possui como principal agonista a noradrenalina (FRITSCHY et al. 1987; CLARK;
PROUDFIT, 1991). Esta exerce um efeito inibitório sobre a transmissão da dor no
corno dorsal (BELCHER; RYALL; SCHAFFNER, 1978).
O sistema modulatório descendente parece originar dois tipos de
modulação: inibitória ou excitatória. A atividade excitatória pode ser desencadeada
pelo glutamato, provavelmente por ativação do receptor NMDA e inibido por
opióides, através de ativação do receptor µ. Quando ocorre uma despolarização
prolongada ou repetitiva há aumento do influxo de cálcio na célula, estimulando a NO
sintase. O NO é originado da L-arginina por ação da NO sintase. O aumento da
produção do NO que age como segundo mensageiro, ativa as proteínas quinases
responsáveis pela ativação dos canais iônicos AMPA e NMDA gerando
despolarizações longas, e estimulando a liberação de mais glutamato, aumentando o
período de ativação da sinapse. O aumento de cálcio e talvez do NO estimulam a
QUEIROZ, R.B.
Fundamentação Teórica
35
produção de proto-oncogenes, como (c-fos e c-jun) que ativam a transcrição de RNA
mensageiro e controladores da síntese de proteínas. Estas são fundamentais para o
funcionamento de neurônios como os receptores do glutamato, aumentando a
densidade dos receptores e a sensibilidade ao glutamato em vigência de doença ou
processo inflamatório crônico (Millan, 2002).Na Figura 3 está esquematizado o
funcionamento da sinapse excitatória medular.
Figura 3- Sinapse excitatória medular. APUD Luis Fernando de Oliveira. Master Dor organizado
por Sérgio de Oliveira. São Paulo, 1998.
Glutamato (Glu), substância P (sP), (NK), (Mcta), AMPA (ácido 2-amino-3-hidroxil-5-metil-4isoxazol propriônico), NMDA (N metil D aspartato), óxido nítrico (NO),
fosfoquinase (PKC), RNA mensageiro (ARNm), cálcio (Ca), sódio (Na)
2.2.3 Tratamento farmacológico da dor
Segundo Marquez (2004) os analgésicos representam uma das classes de
fármacos mais vendidas no mundo. No ano de 2001 chegaram a segunda posição em
vendas, perdendo apenas para as drogas anti-infecciosas. Se fossem somados aos
analgésicos, os considerados analgésicos adjuvantes, seguramente seriam atingidos
números muito acima do primeiro lugar em consumo e venda de fármacos no mundo.
QUEIROZ, R.B.
Fundamentação Teórica
36
O termo analgesia é empregado para o alívio ou o cessar da sensação
dolorosa, sem, no entanto, ocorrer à perda da consciência. As substâncias capazes de
causar analgesia são designadas analgésicos (ALMEIDA; OLIVEIRA, 2006a).
Diversas classes de fármacos são amplamente utilizadas para o alívio da dor. Esses
fármacos incluem os agonistas dos receptores opióides, os anti-inflamatórios nãoesteroidais (AINEs), os antidepressivos tricíclicos, os anticonvulsivantes, os
antagonistas do receptor N-metil-D-aspartato (NMDA) e os agonistas adrenérgicos.
Além disso, os agonistas dos receptores da 5-hidroxitriptamina tipo 1 (5HT1)
possuem aplicações específicas no tratamento agudo da enxaqueca (GRIFFIN;
WOOLF, 2009).
Na prática clínica, utilizada na medicina humana e veterinária, a cetamina
é uma droga dissociativa usada para fins de anestesia, com efeito hipnótico e
características analgésicas em baixas doses, representa um dos poucos antagonistas
NMDA disponíveis, apresentando propriedade analgésica não relacionada ao receptor
NMDA, como a ativação do sistema inibitório descendente monoaminérgico,
envolvidos na modulação de processos nociceptivos e geralmente ativados por
opióides sistêmicos (LODGE; JOHNSON, 1990; PEKOE; SMITH, 1982). O efeito da
cetamina (25 mg por via intranasal) foi estudada em 11 pacientes com grave e
incapacitante auras resultantes da enxaqueca hemiplégica familial. Em cinco pacientes
cetamina diminui a intensidade e duração do déficit neurológico, enquanto que nos
restantes seis pacientes nenhum efeito benéfico foi observado. Cetamina ofereceu,
pela primeira vez, uma opção de tratamento possível para a aura grave e prolongada
(KALBE et al., 2000).
Os agonistas α2-adrenérgicos através da estimulação dos seus respectivos
receptores no corno dorsal da medula espinhal produzem um estado antinociceptivo.
No caso da clonidina, ocorre ligação a nível pré-sináptico com as terminações
nociceptivas Aδ e C reduzindo a liberação de neurotransmissores, e a nível póssináptico, pela hiperpolarização dos neurônios de segunda ordem dentro da medula
espinhal (RATHMELL; LAIR; NAUMAN, 2005).
Os analgésicos podem ser divididos, de maneira geral, em analgésicos
periféricos, fármacos adjuvantes e os de ação central (BRAINER-LIMA, 1997;
ALMEIDA; OLIVEIRA, 2006a).
Os analgésicos periféricos são representados pelos anti-inflamatórios nãoesteroidais, também conhecidos por analgésicos não-opióides. Esses fármacos são
QUEIROZ, R.B.
Fundamentação Teórica
37
úteis no tratamento dos sinais e sintomas da inflamação, e para redução da agregação
plaquetária. Embora sejam menos eficazes do que os opióides no alívio da dor, eles
não causam tolerância nem dependência física. O mecanismo de ação dos antiinflamatórios não-esteroidais tradicionais envolve o bloqueio da produção de
prostaglandinas pela inibição da enzima ciclooxigenase (COX) no local de lesão,
diminuindo assim a formação de mediadores da dor no sistema nervoso periférico
(WELCH; MARTIN, 2005).
Dos anti-inflamatórios não esteroidais (AINES) os efeitos colaterais a
serem lembrados estão a influência sobre a hemostase (inibição reversível sobre a
COX), o risco de lesão da mucosa gástrica (risco moderado se o tratamento for
inferior a 5 dias), alteração da função renal (aumento da resistência vascular renal,
hipercalemia, retenção hidrossalina, risco elevado em pacientes hipovolêmicos) e o
risco de indução de broncoespasmo, em pacientes asmáticos (SLULLITEL; SOUSA,
1998).
O ácido acetilsalicílico (AAS) é um dos AINES mais importantes, visto
que diminui a dor em locais predominantemente periféricos, com pouca interação
cortical, apresentando consequentemente poucos efeitos sobre o SNC. Fazem ainda
parte dessa classe de fármacos a indometacina, o piroxicam e o diclofenaco (WELCH;
MARTIN, 2005).
Fármacos que agem como adjuvantes no tratamento da dor e podem ser
definidos como aqueles que não têm indicação analgésica primária, atuando como
analgésicos em circunstâncias bem definidas. Os principais grupos desta classe
incluem antidepressivos, anticonvulsivantes, ansiolíticos e antipsicóticos (REITAN,
1996; BRAINER-LIMA, 1997).
Os antidepressivos tricíclicos são analgésicos adjuvantes efetivos em
algumas condições dolorosas. O efeito deles é distinto daquele empregado nos
distúrbios do humor, sendo indicados principalmente no tratamento da dor
neuropática. O mecanismo de ação dos antidepressivos como analgésicos ainda não
está bem esclarecido. A explicação padrão é que eles agiriam em áreas cerebrais
moduladas pela serotonina e noradrenalina, que transmitem o estímulo doloroso pela
medula espinhal. Essa explicação é insatisfatória, mas o fato é que os antidepressivos
têm papel importante no alívio da dor crônica (McQUAY, 1997; MORAES;
CAMARGO, 1999).
QUEIROZ, R.B.
Fundamentação Teórica
38
Outra classe de fármacos analgésicos adjuvantes são os anticonvulsivantes
efetivos no tratamento de dores crônicas, a exemplo da carbamazepina, gabapentina,
clonazepam e valproato de sódio, sendo esses dois últimos úteis na profilaxia da
enxaqueca (McQUAY, 1995; ROTHROCK, 1997; MORAES; CAMARGO, 1999).
Os ansiolíticos são adjuvantes no tratamento da dor por atuarem reduzindo
a ansiedade, a insônia e também promovendo relaxamento muscular. Já os
antipsicóticos atuam com funções analgésicas através de mecanismos de modulação
da dor que levam à diminuição da excitabilidade neuronal, proporcionando sedação e
analgesia (SAKATA; GOZZANI, 1994; TEIXEIRA et al., 1999, LIRA, 2001).
Os opióides podem modificar tanto os aspectos sensitivos da dor quanto o
emocional. Agem via ligação a receptores específicos no SNC e periférico, inibindo a
nocicepção. O mecanismo de ação destas substâncias, no processo nociceptivo, ocorre
pela interação com receptores opióides, levando ao fechamento de canais para Ca2+
voltagem-dependentes nas terminações nervosas présinápticas, o que reduz a liberação
de neurotransmissores. Além disso, a ativação destes receptores leva à abertura de
canais para K+, produzindo hiperpolarização da membrana celular de neurônios póssinápticos, reduzindo a liberação de neurotransmissores, a exemplo da substância P
(DICKENSON, 1997; GRAEFF; GUIMARÃES, 2005).
Três principais classes de receptores opióides foram identificadas em
vários locais do SNC e em outros tecidos. Estas classes incluem receptores µ, κ e δ.
Em nível molecular, todos são membros da família de receptores acoplados à proteína
G, e, portanto, capazes de afetar a regulação iônica, o processamento do Ca2+
intracelular e a fosforilação de proteínas. Foi sugerida a existência de diversos
subtipos de receptores opióides; atualmente, os mais caracterizados por critérios
farmacológicos incluem µ1, µ2, δ1, δ2, κ1, κ2 e κ3 (WAY; FIELDS;
SCHUMACHER, 2003). No quadro 1 estão listados alguns agonistas e antagonistas e
suas respectivas atividades nos subtipos de receptores opióides.
Outros tipos de receptores como os serotoninérgicos, GABAérgicos,
glutamatérgicos e adrenérgicos estão envolvidos no processo de analgesia, sendo que
esses receptores respondem ao tratamento com opióides (PINTO, 2000).
O uso de fármacos opióides no tratamento da dor é limitado pela intensa
quantidade de efeitos colaterais graves que essas substâncias causam nos pacientes.
Dentre esses efeitos indesejáveis, merecem mais atenção a tolerância, dependências
física e psíquica, além de náuseas e vômitos.
QUEIROZ, R.B.
Fundamentação Teórica
39
Quadro 1 – Seletividade de agonistas e antagonistas para os subtipos de receptores opióides
AGONISTAS OPIÓIDES
Morfina, codeína
Meperidina
Etorfina
Sulfentanil, fentanil
ANTAGONISTAS OPIOIDES
Naloxona
Naltrexona
µ
κ
δ
+++
++
+++
+++
+
+
+++
-
+
+
+++
+
+++
+++
++
+++
+
+
+ apresenta atividade; ++ atividade moderada; +++ alta atividade; - sem ou atividade fraca. Fonte: RANG
et al., 2007. p. [599]
A tolerância é o estado no qual doses progressivamente maiores do
fármaco são requeridas para manter o mesmo efeito analgésico. Desenvolver-se-á
sempre, seja em maior ou menor velocidade, dependendo do opióide que esteja sendo
utilizado. A dependência física está associada com a síndrome de abstinência quando
se suspende o fármaco ou quando se usa um antagonista puro como a naloxona,
levando o paciente a desenvolver sintomas e sinais em função dessa retirada de
tratamento (DELGADO, 2000).
A dependência psíquica é caracterizada por um desejo compulsivo pelo
uso do opióide apresentado pelo indivíduo. Náuseas e vômitos ocorrem em até 40%
dos pacientes quando tomam pela primeira vez morfina e esses efeitos não parecem
ser separáveis do efeito analgésico opióide (RANG et al., 2007).
2.3 Antinocicepção e envolvimento dos canais para Na+ e K+
Os canais iônicos estão largamente envolvidos em vários mecanismos
fisiológicos e patológicos. A compreensão do funcionamento, da estrutura e regulação
desses canais leva ao entendimento de muitos processos fisiopatológicos. Dentre esses
processos, pode-se citar a sensação dolorosa.
QUEIROZ, R.B.
Fundamentação Teórica
40
Os canais iônicos pertencem a uma família de proteínas que formam poros
macromoleculares através de membranas lipoprotéicas e que se encarregam de
controlar o fluxo de partículas carregadas eletricamente (íons) entre o meio interno e
externo das células (HERNANDEZ; FÉLIX, 2001).
Na maioria das células excitáveis, a corrente de entrada que dá início ao
potencial de ação resulta da ativação dos canais para sódio regulados por voltagem
(Nav). Até o momento foram identificadas pelo menos nove isoformas de Nav
(WOOD et al., 2004).
Os Nav são geralmente classificados em dois grandes grupos: os sensíveis à
tetrodotoxina (TTX-S), que estão presentes nas fibras Aδ, em todo sistema nervoso e
nos gânglios da raiz dorsal, e os resistentes à tetrodotoxina (TTX-R), que são
encontrados especialmente nas fibras C do gânglio da raiz dorsal (LAI et al., 2002).
Alterações na atividade ou expressão dos subtipos dos Nav, principalmente
a excitabilidade, estão associados com a dor. Em particular, estados de dor crônica
que envolvem também alterações na composição dos subtipos dos neurônios
sensoriais (EKBERG, ADAM; 2006).
Dados clínicos e experimentais indicam que a mudança na expressão dos
Nav tem um papel fundamental na patogênese da dor neuropática e isso mostra que
drogas que bloqueiam esses canais são alvos potencialmente terapêuticos (AMIR et
al., 2006). Os bloqueadores dos Nav de interesse incluem os anestésicos locais, usados
em doses baixas sem que prejudiquem a propagação do impulso nervoso ou a função
cardiovascular, e os antidepressivos tricíclicos, cujo efeito analgésico pode estar
envolvido pelo menos em parte com o bloqueio dos Nav, bem como os analgésicos
centrais (MAO, CHEN, 2000; BURGESS et al., 2002).
Enquanto o papel preciso dos Nav em estados de dor está para ser
elucidado, é incontestável a importância desses canais na sensação dolorosa e como
alvo para futuros fármacos dotados de atividade analgésica.
Uma das funções mais marcantes dos canais para K+ está na manutenção
do potencial de repouso da membrana de todas as células. No entanto, à medida que
os estudos acerca desses canais se intensificam, novas funções são atribuídas a eles
(HILLE, 2001).
Vários estudos descritos na literatura demonstram o envolvimento de todos
os tipos de canais de K+ no processo de antinocicepção. A abertura de canais para K+
e o consequente aumento da condutância a esse íon para o exterior da célula leva a
QUEIROZ, R.B.
Fundamentação Teórica
41
hiperpolarização celular, assim não ocorrendo a propagação do estímulo nociceptivo
(RANG et al., 2007).
Estudos eletrofisiológicos demonstraram que agonistas de receptores µ- e
δ- opióides abrem canais para K+ retificadores de entrada em neurônios pela ativação
de proteínas Gi/o. O primeiro estudo que sugeriu o envolvimento da abertura de canais
para K+ na antinocicepção induzida por agonistas µ-opióide mostrou que a
glibenclamida, um bloqueador de canais para K+, inibiu o efeito da morfina no teste
da placa quente e retirada da cauda em roedores (OCAÑA; DEL POZO; BAEYENS,
1993; OCAÑA et al., 1990; 1995; 2004; ROANE; BOYD, 1993). Portanto, fármacos
capazes de ativar canais para K+ são importantes em mediar a antinocicepção induzida
por opióides.
Drogas que agem em determinados canais para K+ induzem a
antinocicepção por ativarem esses canais, dessa forma, representando importantes
alvos para o desenvolvimento de novos agentes no tratamento da dor.
Drogas que bloqueiam esses canais podem ter eficácia terapêutica em
doses abaixo da que possa prejudicar a propagação do impulso nervoso ou a função
cardiovascular. Portanto, o entendimento da relação dos canais iônicos com o
processo nociceptivo pode levar a elaboração de fármacos analgésicos mais
específicos e seguros, com poucos efeitos colaterais e melhor eficácia clínica.
Objetivos
QUEIROZ, R.B.
Objetivos 43
III – OBJETIVOS
3.1 Geral:
Estudar os efeitos psicofarmacológicos do derivado imidazolidínico 3-fenil-5-(4etilfenil)-imidazolidina-2,4-diona em camundongos, dando ênfase a investigação da
atividade antinociceptiva.
3.2 Específicos:
Determinar as ações do 3-fenil-5-(4-etilfenil)-imidazolidina-2,4-diona sobre os
parâmetros da triagem farmacológica e toxicidade aguda.
Investigar o efeito antinociceptivo decorrente do tratamento agudo com este
derivado imidazolidínico, que possa ter indicação de atividade no SNC através de
modelos animais;
Contribuir para o aumento do conhecimento farmacológico acerca dos derivados
imidazolidínicos em especial o 3-fenil-5-(4-etilfenil)-imidazolidina-2,4-diona, em
camundongos.
Material e Métodos
QUEIROZ, R.B.
Material 45
IV – MATERIAL
4.1 – Animais
No desenvolvimento do presente estudo, foram utilizados camundongos
(Mus musculus) machos albinos da linhagem Swiss, com 2 a 3 meses de idade,
pesando entre 25 a 35 g (Figura 4), provenientes do Biotério Prof. Dr. Thomas George
do Laboratório de Tecnologia Farmacêutica Prof. Delby Fernandes de Medeiros da
Universidade Federal da Paraíba.
No biotério, os animais foram alojados em gaiolas de polietileno, contendo
20 camundongos cada, mantidos sob condições monitoradas de temperatura
equivalente a 21 ± 1º C, com livre acesso a uma dieta controlada a base de ração tipo
pellets (Purina) e água disponível em garrafas de polietileno com bicos de inox,
encaixadas na parte superior da grade metálica da gaiola. Os animais foram mantidos
em ciclo claro/escuro de 12 horas, sendo a fase clara de 6:00 às 18:00 horas.
Figura 4 – Camundongo Suiço macho e albino
QUEIROZ, R.B.
Material 46
4.1.1 Condições experimentais
Os testes foram realizados no Biotério Prof. Dr. Thomas George, onde os
camundongos foram previamente alojados em gaiolas de polietileno, contendo 4
animais cada (Figura 5), com pelo menos 60 minutos de antecedência à execução dos
testes, visando minimizar as possíveis alterações comportamentais do animal
decorrentes da mudança de ambiente, bem como permitir uma adaptação à sala de
experimentação. Os camundongos foram mantidos a temperatura de 21 ± 1º C e
privados de água e ração 60 min antes dos testes. Antes de cada procedimento, a
bancada foi limpa com etanol 70%, entretanto, durante os testes foi utilizado etanol de
baixa graduação (10%). Os experimentos foram executados no período compreendido
entre as 08:00 e 17:00 horas, sendo os animais utilizados uma única vez e, em
seguida, eutanasiados por deslocamento cervical. Todos os procedimentos
experimentais foram analisados e previamente aprovados pelo Comitê de Ética em
Pesquisa Animal (CEPA) do LTF / UFPB, sob a certidão nº 0404/ 10 (anexo).
Figura 5 - Camundongos em grupo de 4 animais no interior da gaiola.
QUEIROZ, R.B.
Material 47
4.2 Substâncias utilizadas
3-fenil-5-(4-etilfenil)-imidazolidina-2,4-diona (LTF/UFPB, Brasil);
Ácido acético glacial (Reagen - Brasil);
Água destilada (LTF/UFPB, BRASIL);
Cloridrato de morfina (Merck, E.U.A.);
Etanol (LTF / UFPB – Brasil).
Formaldeído 37% (Vetec – Brasil);
Tween 80 (polioxetileno sorbitano monoleato) (Vetec – Brasil);
A preparação das doses foram realizadas minutos antes de sua utilização,
sendo o composto dissolvido em água destilada usando como agente suspensor duas
gotas de Tween 80 de forma a possibilitar a injeção de 0,1 mL/10 g de peso de
camundongo.
4.3 Substância teste utilizada
O
composto
sintético
3-fenil-5-(4-etilfenil)-imidazolidina-2,4-diona,
obtido do aminoácido glicina, identificado também como IM-3 (LUIS et al, 2010),
figura 6, utilizado nestes estudos psicofarmacológicos foram fornecidos pelo
Laboratório de Síntese Orgânica sob a coordenação do Prof. Petrônio Filgueiras de
Athayde Filho CCEN/UFPB.
Figura 6. 3-fenil-5-(4-etilfenil)imidazolidina-2,4-diona (IM-3).
C17H15N2O2
QUEIROZ, R.B.
Material 48
4.4 Aparelhagem
4.4.1 - Aparelho de placa quente
A placa quente (modelo 7406 – LE) permite avaliar a atividade de drogas
antinociceptivas por meio de um aparelho cuja temperatura de sua placa, localizada na
superfície superior, pode ser controlada entre 45 e 62 ºC, em incrementos de 0,1 ºC.
Neste aparelho, um cronômetro acoplado é ativado por um pedal externo, que permitia
a medida precisa do tempo de reação do animal ao estímulo térmico. Acoplado à
placa, há um cilindro de acrílico transparente, que isola o animal para observação
sobre o aparelho (Figura 7).
Figura 7 – Aparelho de placa quente
4.4.2 Caixa de observação para o teste da formalina
Este aparato é formado de um encaixe de metal que forma uma caixa
triangular em ângulo de 45°, com os lados e altura medindo 25 cm cada, sendo duas
paredes formadas por espelho e uma de vidro transparente, que dá ao observador um
maior campo de visão (Figura 8A e 8B).
QUEIROZ, R.B.
.
Figura 8A – Visão superior da caixa de
observação para o teste da formalina
Métodos 49
Figura 8B – Visão frontal da caixa de
observação para o teste da formalina.
V - MÉTODOS
5.1 ESTUDO PRELIMINAR DA ATIVIDADE SOBRE O SISTEMA NERVOSO
CENTRAL E AUTÔNOMO DO IM-3
Na figura 9 encontra-se uma visão geral de todo um estudo
psicofarmacológico, estando listada a avaliação da atividade antinociceptiva realizada
com o IM-3. Inicialmente foram feitos os testes preliminares, que inclui a verificação
da toxicidade e cálculo da DL50 como também realizando a triagem farmacológica
comportamental, partindo em seguida para testes mais específicos para verificar a
possível atividade analgésica.
5.1.1 Toxicidade Aguda
A determinação da toxicidade aguda foi estimada através do cálculo da
dose letal 50% (DL50) em camundongos pela via intraperitoneal, utilizando IM-3 nas
doses de 400, 800, 1200, 2000, 3000 mg/kg de peso animal por via i.p. utilizando-se
grupos de 10 animais, registrando-se durante 72 horas o número de animais mortos,
QUEIROZ, R.B.
Métodos 50
seguindo-se os procedimentos da metodologia descrita por Litchifield & Wilcoxon
(1949).
Dose letal 50%
Triagem farmacológica comportamental
Testes preliminares
Atividade antinociceptiva
Testes das contorções
abdominais induzidas por
ácido acético
Testes específicos
Atividade antinociceptiva central
Teste da formalina
Teste da placa quente
Figura 9. Resumo esquemático do estudo psicofarmacológico do IM-3 em camundongos.
5.1.2 Triagem Farmacológica Comportamental
A triagem farmacológica comportamental é uma metodologia preliminar
para avaliar o possível efeito de uma droga no SNC e SNA, na qual são observados
alguns parâmetros comportamentais no animal que possibilitam caracterizar o efeito
QUEIROZ, R.B.
Métodos 51
central da droga (ALMEIDA; OLIVEIRA, 2006b; ALMEIDA et al., 1999). Assim,
esse modelo e a determinação da DL50 permitem avaliar se determinadas drogas ou
extratos vegetais apresentam toxicidade, possibilitando o estudo farmacológico com
uma determinada margem de segurança (ALMEIDA et al., 1999).
Os experimentos foram realizados de acordo com o protocolo experimental
descrito por Almeida e colaboradores (1999), adotado pelo Laboratório de
Psicofarmacologia Prof. Dr. Elizaldo A. Carlini que investiga as influências sobre o
SNC e SNA (Quadro 2). Os efeitos observados em cada período de tempo eram
computados como ausente ou presente. Caso o efeito estivesse presente, um escore de
intensidade era marcado com + (efeito aumentado) ou ++ (efeito intenso). Caso os
comportamentos observados estivessem reduzidos ou ausentes, o efeito do extrato era
computado como – (efeito diminuído) ou 0 (ausente).
Foram utilizados camundongos machos (n = 10) separados em dois grupos,
experimental (IM-3) e grupo controle (o veículo utilizado nas preparações – água e
Tween 80 ). Foi escolhida a via i.p. e foram administradas as doses 400, 800, 1200,
2000, 3000 mg/kg de peso animal. Parâmetros comportamentais descritos no
protocolo experimental (Quadro 2) foram observados durante as 4 primeiras horas nos
intervalos de 30, 60, 120, e 240 minutos. A ocorrência de alterações comportamentais
nos animais, em decorrência do tratamento com IM-3, permite inferir uma relação
com a atividade no sistema nervoso central e, conseqüentemente, sinais de toxicidade.
Os animais foram observados ainda a cada 24 horas até que se completasse
um período de 72 horas com a finalidade de verificar se haveria alguma morte e,
conseqüentemente, determinar a DL50 do IM-3 na via de administração empregada
(i.p.).
QUEIROZ, R.B.
Métodos 52
Quantificação dos efeitos
ATIVIDADE FARMACOLÓGICA (0) sem efeito, (-) efeito diminuído, (+) efeito aumentado, (++)
efeito intenso
até 30`
1h
2h
3h
4h
1 – SNC
a – Estimulante
Hiperatividade
Irritabilidade
Agressividade
Tremores
Convulsões
Piloereção
Movimento intenso das vibrissas
Outras_____________________
b – Depressora
Hipnose
Ptose palpebral
Sedação
Anestesia
Ataxia
Reflexo do endireitamento
Catatonia
Analgesia
Resposta ao toque diminuído
Perda do reflexo corneal
Perda do reflexo auricular
c – Outros comportamentos
Ambulação
Bocejo excessivo
Limpeza
Levantar
Escalar
Vocalizar
Sacudir a cabeça
Contorções abdominais
Abdução das patas do trem posterior
Pedalar
Estereotipia
2 - SN AUTÔNOMO
Diarréia
Constipação
Defecação
Respiração forçada
Lacrimejamento
Micção
Salivação
Cianose
Tono muscular
Força para agarrar
3 – MORTE
Quadro 2 – Protocolo utilizado na triagem farmacológica comportamental. Fonte: ALMEIDA et al., 1999.
QUEIROZ, R.B.
Métodos 53
5.2. AVALIAÇÃO ESPECÍFICA DA ATIVIDADE SOBRE O SISTEMA
NERVOSO CENTRAL E PERIFÉRICO DO IM-3
5.2.1. Estudo da Atividade Antinociceptiva
5.2.1.1. Teste das Contorções Abdominais Induzidas por Ácido Acético
O teste das contorções abdominais induzidas por ácido acético é um
método que se baseia no fato de que a injeção intraperitoneal da solução de ácido
acético a 0,85% em camundongos provoca irritação nesta região, envolvendo a
estimulação de nociceptores que gera reações comportamentais, sendo tal efeito
nociceptivo caracterizado por contorções abdominais seguidas de extensões dos
membros posteriores (KOSTER; ANDERSON; DEBBER, 1959). De um modo geral,
as drogas com propriedades analgésicas reduzem ou mesmo inibem esse
comportamento (COLLIER et al., 1968).
Para este experimento cinco grupos de oito camundongos foram usados,
sendo que três grupos receberam o pré-tratamento com o IM-3 nas doses de 50, 100 e
200 mg/kg, por via i.p., um grupo controle recebeu o veículo (água destilada + 2 gotas
de tween 80) 0,1 mL/10 g por via i.p. e outro grupo recebeu morfina (6 mg/kg) por via
i.p. que funcionou como padrão positivo. Trinta minutos após os tratamentos iniciais,
os animais foram tratados com solução de ácido acético 0,85% em água destilada (0,1
mL/10 g) por via i.p. e colocados em caixas de polietileno individuais, cinco minutos
depois, foi então registrado o número de contorções abdominais apresentado por cada
animal durante um período de 10 minutos de observação. Uma redução significativa
do número de contorções quando comparado ao grupo controle negativo é considerada
uma resposta antinociceptiva (NARAYANAN et al., 2000; BASTOS et al., 2006).
QUEIROZ, R.B.
Métodos 54
5.2.1.2. Teste da Placa Quente
Este teste, descrito por Eddy e Leimback (1953), representa uma
modificação do modelo original de Woolfre e MacDonald (1944). Consiste em
quantificar o tempo de reação do animal ao estímulo térmico de 50 ± 1ºC, quando é
exibido o comportamento de levantar (tentativa de pular) ou lamber uma das patas
(SILVA et al., 2005), sendo estas respostas indicativas de nocicepção (ALMEIDA;
OLIVEIRA, 2006a). O estímulo térmico do teste da placa quente é utilizado para
avaliar a atividade analgésica mediada por mecanismos centrais (AL-GHAMDI,
2001). Os animais foram submetidos a uma seleção prévia (sem administração de
substâncias), na qual foram considerados aptos os animais que apresentaram resposta
em até 15 segundos após terem sidos colocados na placa (leitura basal).
Foram utilizados neste experimento cinco grupos de oito camundongos,
sendo que três grupos foram tratados nas doses de 50, 100 e 200 mg/kg, por via i.p.
com IM-3, um grupo controle que recebeu o veículo (água destilada + 2 gotas de
tween 80) 0,1 mL/10 g por via i.p.e um grupo padrão foi tratado com morfina na dose
de 10 mg/kg. Trinta minutos após o tratamento os animais foram colocados na placa
quente, sendo registrado o tempo de latência, que é o tempo compreendido entre a
colocação do animal na placa pré-aquecida e a tentativa do animal de saltar ou lamber
uma das patas, sendo estas respostas indicativas de nocicepção. Este procedimento foi
repetido com 30, 60 e 120 minutos após a administração. Os animais o permaneceram
na placa por um tempo máximo de 30 segundos, para evitar a lesão tecidual
(ALMEIDA; OLIVEIRA, 2006a).
Figura 10 - Detalhe do camundongo
no aparelho do teste da placa quente
QUEIROZ, R.B.
Métodos 55
5.2.1.3. Teste da Formalina
O teste da formalina foi introduzido por Dubuisson e Dennis (1977), e
posteriormente modificado para uso em camundongos por Hunskaar e Hole (1987).
No entanto, este teste foi realizado como descrito por Vaz e colaboradores (1996), que
é uma modificação do modelo de Hunskaar e Hole (1987).
Nessa metodologia, uma solução de formalina é injetada na região
subplantar do camundongo o que leva a estimulação dos nociceptores, sendo o tempo
de lambida da pata do animal considerado indicativo de resposta nociceptiva (SOUZA
et al., 2000). São observadas duas fase em que é quantificado o tempo de lambida da
pata. A primeira fase, normalmente ocorre nos cinco primeiros minutos após a injeção
da formalina e, provavelmente, é resultante da estimulação direta de nociceptores; a
inibição dessa fase é indicativa de drogas analgésicas que atuam em nível central. Em
seguida, há uma interfase de aproximadamente 10 minutos caracterizada por
mecanismos inibitórios da dor. A segunda fase (15-30 minutos após o tratamento) é
conhecida principalmente por uma resposta inflamatória, gerada tanto pela
estimulação de nociceptores como pela liberação de mediadores inflamatórios
(HUNSKAAR; HOLE, 1987).
Figura 11 – Aspecto geral de um
procedimento do teste da formalina.
Neste experimento foram utilizados cinco grupos de oito camundongos,
sendo dois grupos experimentais tratados nas doses de 50, 100 e 200 mg/kg, por via
i.p., com IM-3, um grupo controle que recebeu o veículo e um grupo padrão foi
QUEIROZ, R.B.
Métodos 56
tratado com morfina na dose de 10 mg/kg. Após trinta minutos, 20 µL de solução de
formalina 2,5% (0,92% de formaldeído diluído em solução salina) foram injetadas na
região subplantar da pata posterior direita dos camundongos. Em seguida, esses
animais foram colocados nas caixas de observação, sendo então registrado o tempo
total de lambida da pata que recebeu a formalina durante cinco minutos (1ª fase).
Após um período de 10 minutos, novamente foi registrado o parâmetro citado por
mais 15 minutos (2ª fase).
QUEIROZ, R.B.
Análise Estatística 57
VI – ANÁLISE ESTATÍSTICA
Os resultados obtidos foram analisados através de ANOVA, seguido do
Teste de Dunnett. A determinação da dose letal 50% foi calculada por regressão nãolinear. Os dados numéricos foram aplicados no programa Graph Pad Prism versão
4,02. Os valores obtidos, exceto os da DL50, foram expressos em média ± erro padrão
da média (e.p.m.), sendo os resultados considerados significativos quando
apresentaram um valor de p < 0,05.
Resultados
QUEIROZ, R.B.
Resultados 59
VII – RESULTADOS
7.1 TESTES PRELIMINARES
7.1.1 Determinação da dose letal 50%
A administração do IM-3 em camundongos para a determinação da DL50,
foi realizada nas doses de 400, 800, 1200, 2000, 3000 mg/kg, sendo possível
preconizar as doses para os testes com segurança, evitando o desperdício de
substância e animais. O IM-3 nas doses de 400 e 800 mg/kg não promoveu
mortalidade dos camundongos. No grupo de animais tratado com 1200 mg/kg, foi
observado 10% de mortes. Já o grupo administrado com 2000 mg/kg, 70% dos
camundongos morreram, enquanto que, na dose de 3000 mg/kg registrou-se 100% de
letalidade. Com tais resultados, foi possível calcular, por regressão não-linear, a DL50
do IM-3 em camundongos, por via i.p., sendo essa estimada em 1358,9 mg/kg com
limite de confiança de 1000 – 1584,9 mg/kg.
7.1.2 Efeito do IM-3 na triagem farmacológica comportamental
No quadro 3, estão registrados os principais efeitos da triagem
comportamental, realizada com camundongos (n=8) tratados com IM-3 na dose de
50 mg/kg, 100 mg/kg e 200 mg/kg via i.p. aos 30, 60, 120, 180 e 240 minutos de
observação.
Na dose de 50 mg/kg foi verificado uma resposta de limpeza dos animais
aos 240 minutos de observação e nenhuma alteração nos minutos anteriores.
Com a dose de 100 mg/kg nenhuma alteração foi observada em relação ao
controle, apenas um comportamento de limpeza aos 120 minutos.
No tratamento com a dose de 200 mg/kg foi observado uma analgesia
como resposta ao pinçamento da cauda até os 180 minutos de observação, como
QUEIROZ, R.B.
Resultados 60
anotou-se uma constipação e ambulação diminuída nos primeiros 60 minutos e
comportamentos de limpeza dos 120 aos 240 minutos de observação.
Quadro 3 – Efeito do IM-3 via i.p. na triagem farmacológica em camundongos;
Tratamento
Dose (mg/kg) via i.p.
IM-3
50
IM-3
100
IM-3
200
Tempo
de
Observação
Efeitos Comportamentais
30 min
Sem efeitos.
60 min
Sem efeitos.
120 min
Sem efeitos.
180 min
Sem efeitos.
240 min
Limpeza*.
30 min
Sem efeitos.
60 min
Sem efeitos.
120 min
Limpeza*.
180 min
Sem efeitos.
240 min
Sem efeitos.
30 min
Constipação, analgesia**.
60 min
Constipação; Ambulação diminuída..
120 min
Limpeza*, analgesia**.
180 min
Limpeza*, analgesia**.
240 min
Limpeza.
* aumento da atividade motora ou ansiedade, possivelmente
** observada pela redução da resposta ao pinçamento da cauda.
por
estímulo
externo.
7.2 TESTES ESPECÍFICOS
7.2.1 Estudo da atividade antinociceptiva
7.2.1.1 Efeito do IM-3 no teste das contorções abdominais induzidas por ácido
acético
No gráfico 1 estão registrados os efeitos da substância sintética IM-3 nas
doses de 50, 100 e 200 mg/kg via i.p. sobre a latência no teste das contorções
abdominais em camundongos (n=8). Apenas na dose de 200 mg/kg o IM-3 foi capaz
QUEIROZ, R.B.
Resultados 61
de aumentar significativamente a latência para o aparecimento das contorções
abdominais em relação ao controle.
Latência (s)
800
**
**
200
Morfina
600
400
200
0
Controle
50
100
Tratamento (i.p.)
Gráfico 1 – Efeito de IM-3 nas doses de 50, 100 e 200 mg/kg via i.p. sobre a latência no teste das
contorções abdominais em camundongos (n=8). **p < 0,01
No gráfico 2 estão registrados os efeitos da substância sintética IM-3 nas
doses de 50, 100 e 200 mg/kg via i.p. sobre o número de contorções no teste das
contorções abdominais em camundongos (n=8). Nas doses de 100 e 200 mg/kg foi
possível observar redução significativa no número de contorções em relação ao
controle.
QUEIROZ, R.B.
Resultados 62
Número de contorções
50
25
*
**
**
200
Morfina
0
Controle
50
100
Tratamento (i.p.)
Gráfico 2 – Efeito de IM-3 nas doses de 50, 100 e 200 mg/kg via i.p. sobre o número de contorções no
teste das contorções abdominais em camundongos (n=8). *p < 0,05. **p < 0,01
7.2.2 Estudo da atividade antinociceptiva central
7.2.2.1 Efeito do IM-3 no teste da placa quente
O gráfico 3 apresenta os efeitos da substância sintética IM-3 nas doses de
50, 100 e 200 mg/kg via i.p. sobre o tempo de permanência na placa quente em
camundongos (n=8). Não houve registro de efeito antinociceptivo da IM-3 nas doses
de 50, 100 e 200 mg/kg em relação ao controle.
Tempo de permanência (s)
QUEIROZ, R.B.
Resultados 63
25
**
20
*
15
*
10
Controle
50 mg/kg
100 mg/kg
200 mg/kg
Morfina
5
0
0
30
60
90
120
Tempo de observação (min)
Gráfico 3 – Efeito de IM-3 nas doses de 50, 100 e 200 mg/kg via i.p. sobre o tempo de
permanência na placa quente em camundongos (n=8). * p < 0,05; **p< 0,01
7.2.2.2 Efeito do IM-3 no teste da formalina
7.2.2.2.1 Primeira fase
Com base no gráfico 4, os camundongos tratados com 50, 100 e 200 mg/kg
de IM-3 não demonstraram redução significativa do tempo de lambida da pata, na
primeira fase do teste da formalina quando comparado ao grupo controle. Os animais
do grupo padrão apresentaram uma diminuição do tempo de lambida da pata.
QUEIROZ, R.B.
Resultados 64
Primeira Fase
Tempo de lambida da pata (s)
120
100
80
60
40
**
20
g/
kg
0m
M
or
1
g/
kg
IM
-3
20
0m
0m
g/
kg
10
IM
-3
IM
-3
C
50
m
on
tr
o
g/
kg
le
0
Gráfico 4 – Efeito do IM-3 na primeira fase do teste da formalina em camundongos tratados via i.p. Os
valores estão expressos em média ± e.p.m. (n=8), ** p<0,01 vs grupo controle (ANOVA - Teste de
Dunnett).
7.2.2.2.2 Segunda fase
Conforme os resultados apresentados no gráfico 5, o IM-3 diminuiu o
tempo de lambida da pata na segunda fase do teste da formalina nas doses de 100 e
200 mg/kg, quando comparada ao grupo controle, sendo este comportamento similar
ao observado com o grupo padrão.
QUEIROZ, R.B.
Resultados 65
Segunda Fase
Tempo de lambida da pata (s)
200
160
120
*
80
*
40
**
g/
kg
or
10
m
M
g/
kg
IM
-3
20
0m
g/
kg
10
0m
IM
-3
IM
-3
C
50
m
on
t
g/
kg
ro
le
0
Gráfico 5 – Efeito do IM-3 na segunda fase do teste da formalina em camundongos tratados via i.p.
Os valores estão expressos em média ± e.p.m. (n=8), * p<0,05; ** p<0,01 vs grupo controle
(ANOVA - Teste de Dunnett).
Discussão
QUEIROZ, R.B.
Discussão
67
VIII – DISCUSSÃO
O interesse quanto ao estudo da atividade antinociceptiva do 3-fenil-5-(4etilfenil) imidazolidina-2,4-diona (IM-3) foi baseado por este composto ser um
derivado imidazolidínico, além do fato de muitos destes derivados apresentarem
atividades farmacológicas, sendo necessário iniciar os estudos submetendo-os a
protocolos comportamentais utilizando roedores. Entre estes derivados, difenilhidantoína, denominada genericamente de fenitoína, é amplamente utilizada como o
anticonvulsivante de escolha no tratamento das crises epilépticas (HARDMAN, et al.,
1996) e também no tratamento da dor neuropática (BERTOLUCCI et al., 2011).
A hidantoína foi descoberta por Baeyer, em 1861, enquanto pesquisava as
reações do ácido úrico e corresponde ao 2,4-dicetotetra- hidro-imidazol, embora seja
também denominada imidazolidina-2,4-diona. A primeira fórmula estrutural da
hidantoína foi sugerida por Kolbe, em 1870, tendo sido modificada por Strecker, que,
neste mesmo ano, propôs uma nova fórmula que é aceita até hoje. A partir dessa época,
o sistema anelar hidantoínico tem sido intensivamente estudado tanto no tocante aos
aspectos químicos, quanto biológicos (OLIVEIRA, et al., 2008).
A substituição dos átomos de oxigênio carbonílicos da hidantoína por átomos de
enxofre origina três tio-derivados: a 2- tio-hidantoína (2-tioxo-imidazolidin-4-ona), a 4
tiohidantoína (4-tioxo-imidazolidin-2-ona) e a 2,4-ditiohidantoína (imidazolidina-2,4ditiona) (OLIVEIRA, et al., 2008).
Derivados da glicina têm despertado considerável atenção, nos últimos anos,
devido ao fato de serem, potencialmente, inibidores de diversas enzimas ou parte de
substâncias peptidiomiméticas de importância farmacológica, e também podem ser
atuantes na inibição de outros processos bioquímicos. A glicina é o principal
neurotransmissor inibidor do tronco cerebral e medula espinhal. Tem também
propriedades excitatórias, uma vez que se ligando ao receptor NMDA, aumenta a sua
sensibilidade para o glutamato. Não é sintetizada pelo organismo e tem origem da dieta.
A sua inativação dá-se por recaptação neuronal (RANG, et al, 2007).
Os derivados imidazolidínicos apresentam muitas atividades farmacológicas
úteis:
atividade
fungicida,
bactericida,
hipoglicemiante,
anti-inflamatória,
QUEIROZ, R.B.
Discussão
68
anticarcinogênica, antiviral, atividade antiúlcera, anti-hipertensiva, antileishmaniose,
tripanossomicida e ansiolítica. A fenitoína (5,5-difenil-hidantoína), já utilizada como
medicamento por suas ações antiarrítimica cardíaca e centrais como anticonvulsivante
no tratamento da epilepsia (VIDA et al., 1975; BATEMAN, 1980; CORTES et al.,
1985), especificamente de convulsões parciais e tônico-clônicas, mas não nas crises de
ausência. Sua atividade antiepilética é, principalmente, associada ao bloqueio dos canais
de sódio (OLIVEIRA, et al., 2008).
No que se refere à ação no sistema nervoso, são conhecidas também diversas
atividades biológicas, tanto nas hidantoínas, como nas tio-hidantoínas (OLIVEIRA, et
al, 2008). Por exemplo, autores, descobriram que a 2,4-ditio-5,5-dimetil hidantoína
possuía ação hipnótica (HENZE; SMITH, 1943). Este composto revelou também
atividade anticonvulsivante superior à 5,5-dimetil-hidantoína. Outros trabalhos também
demonstraram que derivados 2-tioxo-imidazolidina-4,5-dionas possuíam atividade
anticonvulsivante (SINGH; AUYONG; PARMAR, 1974). Novas hidantoínas
substituídas, como 4-hidróxi-2-imidazolidinonas, 2-imidazolonas, 2-imidazolidinonas,
diaminas vicinais e derivados de aminoácidos, foram sintetizadas e avaliadas quanto à
atividade anticonvulsivante por Cortes e colaboradores (1985). Estes estudos
demonstraram que a seqüência de átomos N-CC-N-C presente nas hidantoínas era
essencial para esta neuroatividade.
Anteriormente outros autores tinham verificado que compostos que continham a
estrutura
2-tioxo-imidazolidina-4,5-diona
apresentavam
atividade
sedativa
(DANIELSON; SUNDELL, 1965). A partir desses estudos, foi sintetizado e testado a
atividade hipnótico-sedativa dos derivados 2-tioxo-imidazolidina-4,5-dionas, tendo o
composto
1-
(benzilideno-amino)-3-ciclo-hexil-2-tioxo-imidazolidina-4,5-diona
apresentado maior atividade (OZKIRIMLI; HAMALI, 1995).
Karali e colaboradores, em 1998, obtiveram derivados com atividade
anticonvulsivante, onde o composto 1-alil-3-(2-oxo-1,2- diidro-indol-3-ilidenoamino)2-tioxo-imidazolidina-4,5-diona foi identificado como o mais potente.
A influência das características estruturais e da lipofilicidade de derivados
hidantoínicos sobre a atividade anticonvulsivante foi investigada por Scholl e
colaboradores, em 1999. As lipofilicidades de 75 hidantoínas determinadas
experimentalmente por RP-HPLC foram correlacionadas com valores estimados
teoricamente a partir de estruturas obtidas por modelagem molecular. Foi então
proposto um modelo farmacofórico para a interação dos derivados hidantoínicos com o
QUEIROZ, R.B.
Discussão
69
canal de sódio, envolvendo um aromático, um sítio aceptor e um sítio doador de ligação
de hidrogênio fazendo parte de um sistema quiral de três pontos.
Com o intuito de investigar a importância do anel hidantoínico como bloqueador
de canais de sódio, Zha e colaboradores em 2004 avaliaram as afinidades de ligação ao
canal de sódio dependente de voltagem neuronal de compostos não-hidantoínicos, como
hidróxiamidas, oxazolidina-dionas, hidróxiácidos e aminoácidos. Os resultados
demonstraram que o anel hidantoínico é relativamente importante para compostos com
pequenas cadeias laterais, sendo, portanto, menos relevante para compostos com longas
cadeias hidrofóbicas. Um outro aspecto relevante, é que são observadas duas regiões
farmacofóricas hidrofóbicas, o que está de acordo com o modelo de Khodorov de 1981
e uma terceira região hidrofóbica adicional pode aumentar a eficiência da interação e
fornecer inibidores mais potentes.
Em 1999, Kanyonyo e colaboradores, sintetizaram e avaliaram 24 derivados 3alquil-5,5-difenil-imidazolidina-2,4-diona como ligantes de receptores canabinóides e
concluíram que alguns derivados exibiram afinidade superior ao composto aminoalquil-indol de referência. Adicionalmente, foram evidenciadas as suas propriedades
antagonistas ao receptor canabinóide CB1. Posteriormente, derivados 3-substituídos5,5-difenil da imidazolidina-2,4-diona e da 2-tioxo imidazolidin-4-ona, já descritos
previamente como ligantes de receptores canabinóides CB1, foram avaliados por
Muccioli e colaboradores, em 2006 , como inibidores da enzima FAAH (Fatty Acid
Amide Hydrolase); observou-se que os derivados da 2-tioxo-imidazolidin-4-ona são
mais potentes que os derivados oxo correspondentes. Estes derivados atuam como
inibidores competitivos da FAAH, sem ser hidrolisados pela enzima. Dentre eles, o
composto 5,5-difenil-tetradecil-2-tioxo-imidazolidin-4-ona apresentou a mais alta
atividade frente à enzima FAAH.
Pesquisa prévia realizada no laboratório de psicofarmacologia (LTF/UFPB) no
trabalho de Iniciação Científica de André Silveira Pinho indicou um possível efeito
antinociceptivo do IM-3, além de outros estudos em andamento com outros derivados
imidazolidínicos com ação no SNC, foram determinantes na justificativa para
concretização deste estudo.
O presente estudo consistiu na determinação da DL50, triagem farmacológica
comportamental, e testes específicos para avaliar a atividade antinociceptiva.
A determinação da DL50 foi realizada da seguinte forma: os animais receberam
as doses de 400, 800, 1200, 2000 e 3000 mg/kg i.p. e foram submetidos à avaliação de
QUEIROZ, R.B.
Discussão
70
efeitos sugestivos de atividade sobre o SNC e/ou SNA (ALMEIDA, 1999), os animais
foram mantidos sobre observação por um período de 72 h para contabilização do
número total de mortes. As cinco doses citadas foram utilizadas para a determinação
da dose letal 50%.
A DL50 do IM-3 por via i.p. foi de 1358,9 mg/kg com limite de confiança de
1000 – 1584,9 mg/kg. A determinação da toxicidade aguda (DL50) teve o objetivo de
avaliar os seus possíveis efeitos tóxicos, e estabelecer doses seguras que poderiam ser
utilizadas nos ensaios subsequentes, evitando assim que doses tóxicas pudessem ser
administradas e os efeitos observados não fossem fidedignos em relação à real ação
psicofarmacológica da substância em estudo.
Em todos os experimentos comportamentais, com exceção da avaliação da
toxicidade aguda (DL50), as doses de 50, 100 e 200 mg/kg foram testadas. A triagem
farmacológica comportamental é um teste preliminar de fácil execução e capaz de
detectar, de forma qualitativa, algumas importantes ações centrais (ALMEIDA et al.,
1999). Neste teste, as doses de IM-3 citadas acima provocaram alterações
comportamentais sugestivas de substâncias que reduzem a atividade do SNC, entre
elas, a diminuição da ambulação e antinocicepção/analgesia.
A diminuição da ambulação em camundongos é talvez a forma mais comum de
verificar se uma substância analisada apresenta efeito depressor do SNC, porém, é
muito temerário utilizar apenas esse parâmetro para classificar uma droga. A sedação
é um grau de depressão do SNC que se caracteriza por sonolência, relaxamento,
serenidade e diminuição da atividade motor, sem perda de consciência. Diminuição da
resposta ao toque consiste na demora da reação do animal quando submetidos a
estímulos apropriados, podendo indicar um estágio elevado de depressão do SNC.
Uma redução da resposta a estímulos mecânicos sugere uma atividade antinociceptiva
ou analgésica. (ALMEIDA; OLIVEIRA, 2006).
Como foi observado um possível efeito depressor do SNC na triagem
farmacológica, a partir de então, seguiu-se a avaliação da atividade específica do tipo
antinociceptiva do IM-3. Em um artigo de revisão (ALMEIDA et al., 2001)
envolvendo a atividade analgésica de plantas estudadas e publicadas nas revistas
Phytomedicine, Fitoterapia, Planta Médica, Journal of Etnopharmacology e
Phytotherapy Research, mostrou que mais de 66 trabalhos foram publicados,
abordando o uso de extratos obtidos de plantas, em roedores, e para avaliar a atividade
analgésica, 42,1% dos trabalhos utilizaram as contorções abdominais induzida por
QUEIROZ, R.B.
Discussão
71
ácido acético, 18,7 % dos trabalhos o teste da formalina e 17,9 % utilizaram o teste da
placa quente (CARLINI et. al., 2003).
Com base nas considerações acima, neste estudo, a atividade antinociceptiva do
IM-3 foi primeiramente avaliada pelo modelo das contorções abdominais, que é
simples, rápido e confiável para avaliar a atividade antinociceptiva de substâncias
(SHINDE, et al., 1999) e é caracterizado por ser uma metodologia de alta
sensibilidade, sendo sensível a drogas centrais e periféricas (VAZ et al., 1996;
VOGEL; VOGEL, 1997; RAMEZANI; HOSSINZADEH; DANESHMAND, 2001).
O modelo químico de nocicepção de contorções abdominais em camundongos
baseia-se na contagem das contorções da parede abdominal, seguidas de torção do
tronco e extensão dos membros posteriores, como resposta à irritação peritoneal e à
peritonite produzidas pela injeção intraperitoneal de ácido acético. (WHITTLE, 1964).
Alguns
autores
descreveram
a
quantificação
de
prostaglandinas
por
radioimunoensaio no exsudato peritoneal de ratos, obtidos após injeção intraperitoneal
de ácido acético, onde foram observados altos níveis de prostaglandinas PGE2α e
PGF2α durante os primeiros 30 minutos após a sua administração (DERAEDT et
al.,1980).
A administração intraperitoneal de ácido acético induz à liberação de
prostaglandinas, mas também a liberação de mediadores (aminas – norepinefrina e
acetilcolina) do SNC (DUARTE; NAKAMURA; FERREIRA, 1988; BORSATO et
al., 2000). Desta forma, tanto as substâncias com atividade anti-inflamatória, como os
anticolinérgicos ou os anti-adrenérgicos podem estar envolvidos na atividade
analgésica periférica (FERREIRA et al., 2003).
Os resultados mostraram que neste modelo de nocicepção o IM-3 foi capaz de
diminuir, de maneira dose dependente, o número de contorções abdominais nas três
doses testadas, 50, 100, 200 mg/kg, quando comparada ao grupo controle, de forma
semelhante à droga padrão opióide, a morfina.
Resultado similar foi obtido com o fármaco imidazolínico rilmenidina que
mostrou atividade antinociceptiva em camundongos no teste das contorções
abdominais pela primeira vez (ROMAN, A. A. S. R., 2004). A rilmenidina é um
fármaco imidazolínico que também possui atividade agonista no receptor ∝2 adrenérgico e tem sua estrutura relacionada com a clonidina (VAN ZWIETEN et
al.,1986; FELDMAN et al., 1990), parece não compartilhar das propriedades
sedativas dos agonistas ∝2–adrenérgicos como a clonidina, ∝- metildopa e
QUEIROZ, R.B.
Discussão
72
dexmedetomidina (VAN-ZWIETEN et al.,1986). Talvez a possível explicação para tal
fato, se deva a maior afinidade da rilmenidina por receptores imidazolidínicos no
núcleo reticular lateral da medula oblonga ventro-lateral, e por possuir menor
afinidade
por
neurônios
do
locus
coeruleus
(BOUSQUET;
FELDMAN;
SCHWARTZ,1984; BRICCA et al., 1989; Feldman et al., 1990). Existem evidências
de que a rilmenidina possa se ligar à sítios específicos no sistema nervoso central
denominados
de
receptores
imidazolínicos
(BOUSQUET;
FELDMAN;
SCHWARTZ,1984; BOUSQUET, 2000).
Embora as contorções abdominais induzidas pelo ácido acético representem um
modelo de nocicepção periférico (WEI et al., 1986), este não é um modelo específico,
pois os analgésicos opióides (FRANÇA et al., 2001; GONZALES et al., 2001),
antidepressivos tricíclicos (TAKAHASKI; PAZ, 1987), anti-histamínicos (YEH et al.,
1985), além das substâncias já mencionadas, também inibem as contorções induzidas
por ácido acético.
Apesar do IM-3 reduzir a quantidade de contorções, foi necessário a utilização
de outros modelos de nocicepção para reforçar e melhor caracterizar tais efeitos.
Consequentemente, foram utilizados os testes mais específicos, sendo eles o teste da
formalina e da placa quente.
O teste da formalina é um modelo químico de nocicepção que fornece uma
resposta mais específica em comparação ao modelo do ácido acético (SHIBATA,et
al., 1989), além de ser considerado, atualmente, o modelo que mais se aproxima da
dor clínica (TJÖLSEN; HOLE, 1997).
A principal característica desse teste é o fato de que o animal apresenta duas
fases diferentes de nocicepção, que parece envolver estímulos distintos. A primeira
fase inicia-se imediatamente após a injeção de formalina e estende-se pelos primeiros
5 minutos (dor neurogênica ou aguda), estando relacionada com a estimulação
química direta dos nociceptores das fibras aferentes do tipo C e em parte das fibras do
tipo Aδ, ela está associada à liberação de aminoácidos excitatórios, óxido nítrico e
substância P, entre outros. A segunda fase ocorre entre 15 e 30 minutos após a injeção
de formalina e está relacionada com a liberação de vários mediadores próinflamatórios, como a bradicinina, prostaglandinas e serotonina, entre outros
(HUNSKAAR; HOLE, 1987).
Drogas que atuam em nível central, tais como analgésicos opióides, inibem
ambas as fases do teste da formalina, entretanto, drogas de ação periférica como os
QUEIROZ, R.B.
Discussão
73
antiinflamatórios somente são eficazes na segunda fase (SANTOS et al., 1994;
FARSAM et al., 2000; ADEYEMI; OKPO; OKPAKA, 2004). Segundo HUNSKAAR
e HOLE (1987), tanto antiinflamatórios não-esteroidais quanto os corticosteróides
agem na segunda fase da formalina, a exemplo do AAS, indometacina e
dexametasona (RUJJANAWATE; KANJANAPOTHI; PANTHONG, 2003).
As três doses de IM-3 utilizadas no teste da formalina (50, 100, 200 mg/kg) não
promoveram como as drogas de ação central, a exemplo da morfina, uma diminuição
do tempo de lambida na primeira fase do teste. (gráficos 4). As doses de 100 e
200 mg/kg diminuíram o tempo de lambida da pata na segunda fase do teste da
formalina sendo este efeito indicativo de uma ação anti-inflamatória do IM-3 (gráfico
5). Esses resultados, mesmo somado ao obtido no teste das contorções abdominais,
não são conclusivos para indicar que o efeito antinociceptivo do IM-3 apresenta um
possível componente central.
Para investigar um envolvimento do IM-3 em estruturas centrais, foi realizado o
teste da placa quente. Neste teste, utiliza-se a temperatura como estímulo nociceptivo.
Este modelo foi descrito inicialmente por WOOLFE e MACDONALD (1944) e é um
teste seletivo para detecção de substâncias analgésicas com efeito central (ANKIER,
1974). Em 1997 os autores Dickenson e Besson descreveram que este teste
caracteriza-se por produzir uma resposta rápida ao estímulo nocivo, mediada pela
ativação dos nociceptores (fibras C e Aδ), conduzindo o impulso ao corno dorsal da
medula espinhal e posteriormente aos centros corticais, sendo que a resposta é
proporcional à freqüência e classe de fibras responsáveis pela mensagem. Estas fibras
são estimuladas após a ativação de receptores, entre eles os receptores vanilóides,
especificamente o receptor do tipo VR-1 (limiar de ativação = 43ºC) e receptor do tipo
VRL-1 (limiar de ativação = 52ºC), que são responsáveis pela resposta ao aumento na
temperatura, sendo que os receptores VRL-1 são mais importantes na medição da
resposta a estímulos térmicos nocivos (JULIUS; BASBAUM, 2001).
As mesmas doses de IM-3 utilizadas no teste da formalina (50, 100, 200 mg/kg)
foram avaliadas na placa quente e todas não promoveram um aumento na latência de
resposta ao estímulo térmico (50ºC ± 1) no aparelho, após 30 minutos de suas
administrações.
Este estudo não apresentou resultados em metodologias comportamentais
específicas de ação central, baseadas em estímulos nocivos químicos e térmicos
(formalina e placa quente), embora, nestas metodologias específicas os mecanismos
QUEIROZ, R.B.
Discussão
74
de ação central envolvidos nesta atividade permanecem desconhecidos. Os sistemas
opióide, serotoninérgico, adrenérgico, entre outros, são alguns dos possíveis alvos de
atuação, sendo necessários mais estudos com ferramentas farmacológicas apropriadas,
que levem à elucidação de tais mecanismos.
Em resumo, os resultados obtidos no presente trabalho demonstram que o
composto
sintético
3-fenil-5-(4-etilfenil)-imidazolidina-2,4-diona
(IM-3)
não
apresenta perfil de substância com atividade antinociceptiva do tipo central.
Entretanto por apresentar resultados em metodologias comportamentais não
específicas (contorções abdominais induzidas pelo ácido acético e teste da formalina),
esta substância pode correlacionar-se com uma possível atividade anti-inflamatória,
anticolinérgica ou anti-adrenérgica que pode estar envolvida na atividade analgésica
periférica.
Os resultados obtidos neste trabalho são um estímulo para continuarmos a testar
o IM-3 em outros testes psicofarmacológicos.
Conclusões
QUEIROZ, R.B.
Conclusões 76
IX – CONCLUSÕES
Diante dos resultados obtidos no presente estudo, conclui-se que o
composto sintético 3-fenil-5-(4-etilfenil)-imidazolidina-2,4-diona (IM-3) nas doses
utilizadas por via intraperitonial em camundongos:
Promoveu alterações comportamentais semelhantes às de drogas
depressoras do SNC observadas durante a triagem farmacológica comportamental;
Possui significativo efeito antinociceptivo e/ou anti-inflamatório,
considerando o fato de o IM-3 ser efetivo na redução do número de contorções
abdominais induzidas pelo ácido acético;
Apresenta efeito analgésico periférico do tipo anti-inflamatório
observado na segunda fase do teste da formalina, em que há uma resposta
inflamatória, gerada tanto pela estimulação dos nociceptores como pela liberação de
mediadores inflamatórios.
Perspectivas
QUEIROZ, R.B.
Perspectivas 78
X – PERSPECTIVAS
Baseado nos resultados apresentados e nas conclusões obtidas no presente
estudo da ação psicofarmacológica do IM-3 surgiram perspectivas futuras para
complementar a caracterização das propriedades farmacológicas deste sintético
bioativo, entre elas:
Detalhar o estudo da atividade antinociceptiva, em outros testes
psicofarmacológicos para se obter dados sobre a via envolvida
nesta atividade do IM-3;
Aprofundar o estudo através do uso de metodologias ainda mais
específicas que possam investigar com detalhes outros efeitos
ansiolítico-sedativos; anticonvulsivante e antiparkinsoniano;
Realizar estudos crônicos para avaliar o efeito do IM-3 a longo
prazo, bem como, melhor caracterizar possíveis efeitos tóxicos
nesse período.
Referências
QUEIROZ, R.B.
Referências 80
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