EM DIA A fratura no tabuleiro geopolítico: o petróleo no fundo do poço 14 vez desde 1975 e, em dezembro, o Congresso norte-americano suspendeu a proibição que, por 40 anos, impediu o país de exportar petróleo. Em fevereiro de 2016, o país alcançou o maior nível de óleo cru estocado nos últimos 80 anos: 503 milhões de barris. Os EUA foram os primeiros a desenvolver tecnologia economicamente viável para explorar as formações rochosas de folhelho (sítio com jazidas de fósseis). À medida que a técnica do fraturamento hidráulico (ou fracking) começou a ser utilizada, em 2008, os EUA aumentaram sua oferta em 1 milhão bpd a cada ano desde 2009: em 2005, produziam 6,9 milhões bpd; em 2014, 11,6 milhões bpd. Por sua vez, as importações caíram de 13,4 milhões bpd, em 2004, para 7,3 milhões bpd em 2014. Segundo a IEA, o Brasil – líder no desenvolvimento em águas ultraprofundas – será responsável pelo segundo maior aumento da produção de petróleo fora da Opep até 2021. A despeito dos desafios tecnológicos e logísticos, a Petrobras atingiu 1,091 milhão de barris de óleo equivalente por dia (boe/d) na camada pré-sal em fevereiro de 2016. O campo de Libra (a maior província petrolífera descoberta no país), na Bacia de Santos, terá o primeiro óleo extraído em 2017. Diante da maior crise financeira e institucional da história da Petrobras (dívida de US$ 127,5 bilhões no 3° trimestre de 2015), foi aprovada a mudança do marco regulatório do pré-sal. A flexibilização da legislação retira a exclusividade e obrigatoriedade de a companhia participar de todos os consórcios de exploração com pelo menos 30%. A decisão alivia o impacto econômico sobre a empresa, abre o mercado para investimentos no setor e confere fôlego à cadeia produtiva. LUIZ GAMBOA É geólogo, mestre em geociências pela UFRS e Ph.D em Geofísica Marinha pela Columbia University (EUA). Atua como consultor sênior de óleo e gás e docente na UFF. Trabalhou durante 30 anos na Petrobras. FELIPE SALGADO Felipe Salgado é jornalista, com pós-graduação em Gestão Ambiental e MBA em Economia de Petróleo e Gás, ambos cursados na Escola Politécnica da UFRJ. Divulgação O mercado global pode se “afundar em excesso de oferta”, alertou a Agência Internacional de Energia (IEA). A organização prevê que a sobreoferta de 1,5 milhão de barris por dia (bpd) deve durar pelo menos até o fim de 2016. Nesse caso, a solução mais rentável pode ser armazenar petróleo em navios-tanques em alto-mar, já que a capacidade de estocagem em terra está saturada. Motivada pelo excesso de oferta no mercado e o enfraquecimento da demanda global, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) manteve os níveis de produção de seus membros e derrubou a cotação do barril do tipo brent para assegurar seu market share, a fim de deter o avanço dos Estados Unidos da América (EUA) com o shale gas/oil (gás não convencional) e atenuar o crescimento da produção dos países que não integram o cartel – que devem ter uma baixa de 720 mil bpd de petróleo. O preço do brent – que em junho de 2014 era negociado a US$ 115 – chegou a ficar abaixo de US$ 27 em janeiro de 2016 (menor valor desde 2003). De acordo com a consultoria Wood Mackenzie, 68 projetos em fase inicial no setor de óleo e gás avaliados em US$ 380 bilhões foram adiados, causando um impacto da ordem de 27 bilhões de barris de óleo equivalente (petróleo e gás associados) na curva de produção. O relatório da Baker Hughes (empresa fornecedora de serviços de petróleo) afirma que, em janeiro de 2016, o número de sondas de perfuração em operação no mundo alcançou o menor nível desde 2009: 1.891. Se, em particular, a baixa cotação do barril afetou a receita dos países exportadores do “ouro negro”, ela tornou-se um problema para o desempenho da economia mundial a tal ponto que Arábia Saudita, Rússia, Venezuela e Qatar concordaram em congelar a produção aos níveis de janeiro de 2016 para conter o efeito da derrocada. Em julho de 2015, os EUA se tornaram os maiores produtores de commodities no mundo pela primeira MARÇO | ABRIL 2016