UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ CAMPUS CURITIBA GERÊNCIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA ELÉTRICA E INFORMÁTICA INDUSTRIAL - CPGEI LEONARDO SIMONI CONTAGEM DE EIXOS DE VEÍCULOS COM SENSORES INDUTIVOS DISSERTAÇÃO DE MESTRADO CURITIBA AGOSTO – 2008 UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica e Informática Industrial DISSERTAÇÃO apresentada à UTFPR para obtenção do grau de MESTRE EM CIÊNCIAS por LEONARDO SIMONI CONTAGEM DE EIXOS DE VEÍCULOS COM SENSORES INDUTIVOS Banca Examinadora: Presidente e Orientador: PROF. DR. FLÁVIO NEVES JUNIOR UTFPR Examinadores: PROFA. DRA. SILVIA GALVÃO DE SOUZA CERVANTES UEL PROFA. DRA. LÚCIA VALÉRIA RAMOS DE ARRUDA UTFPR Curitiba, 18 de Agosto de 2008. ii LEONARDO SIMONI CONTAGEM DE EIXOS DE VEÍCULOS COM SENSORES INDUTIVOS Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Engenharia Elétrica e Informática Industrial da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, como requisito parcial para a obtenção do grau de “Mestre em Ciências” Concentração: Informática Industrial. Orientador: Prof. Dr. Flávio Neves Jr. Curitiba 2008 – Área de Ficha catalográfica elaborada pela biblioteca da UTFPR – Campus Curitiba S599c Simoni, Leonardo Contagem de eixos de veículos com sensores indutivos / Leonardo Simoni. Curitiba. UTFPR, 2008 XVI, 72 p. : il. ; 30 cm Orientador: Prof. Dr. Flávio Neves Junior Dissertação (Mestrado) – Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica e Informática Industrial. Curitiba, 2008 Bibliografia: p. 69 – 72 1. Engenharia de transportes. 2. Sensores automotivos. 3. Sensores indutivos. I. Neves Junior, Flávio, orient. II. Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica e Informática Industrial . III. Título. CDD: 629.04 ii AGRADECIMENTOS À Perkons S.A. pelo incentivo que dá a todos os seus colaboradores que desejam participar de projetos de pesquisa. À UTFPR pela oportunidade de desenvolver este trabalho e por fomentar o desenvolvimento científico e tecnológico do Brasil. Ao professor Flávio Neves Jr. pelo apoio, conselhos e principalmente pela paciência. A todos os amigos que contribuíram para o desenvolvimento deste projeto. iii iv SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS .......................................................................................................... VII LISTA DE TABELAS............................................................................................................XI RESUMO .............................................................................................................................XIII ABSTRACT ........................................................................................................................... XV CAPÍTULO 1............................................................................................................................ 1 1.1 MOTIVAÇÕES ................................................................................................................ 1 1.2 OBJETIVOS ..................................................................................................................... 1 1.3 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO................................................................................ 2 CAPÍTULO 2............................................................................................................................ 3 2.1 SISTEMAS DE CONTAGEM DE EIXOS DE VEÍCULOS ........................................... 3 2.1.1 Sistemas de contagem de eixos por esforço mecânico ............................................... 4 2.1.1.1 Tubo pneumático .................................................................................................. 4 2.1.1.2 Sistema acústico.................................................................................................... 5 2.1.1.3 Sensores de fibra ótica .......................................................................................... 6 2.1.1.4 Sensores piezoelétricos ......................................................................................... 8 2.1.1.5 Perfil de borracha condutiva ............................................................................... 10 2.1.2 Sistemas de contagem de eixos sem esforço mecânico............................................ 11 2.1.2.1 Barreiras laser ..................................................................................................... 11 2.1.2.2 Polígono scanner laser........................................................................................ 12 2.1.2.3 Deteção de eixos por vídeo ................................................................................. 14 2.2 SENSORIAMENTO INDUTIVO DE VEÍCULOS ....................................................... 16 2.2.1 Princípio de funcionamento...................................................................................... 16 2.2.1.1 Campo magnético ............................................................................................... 16 2.2.1.2 Fluxo magnético ................................................................................................. 18 2.2.1.3 Corrente induzida pela variação do fluxo magnético ......................................... 19 2.2.2 Aplicações veiculares dos sensores indutivos .......................................................... 20 2.3 PERFIL MAGNÉTICO .................................................................................................. 21 2.3.1 Influência da geometria do sensor no perfil magnético............................................ 24 2.3.2 Classificação de veículos pelo perfil magnético....................................................... 27 2.4 GEOMETRIAS DE LAÇOS INDUTIVOS PARA CONTAGEM DE EIXOS ............. 27 2.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................... 31 v CAPÍTULO 3.......................................................................................................................... 33 3.1 SISTEMA DE AQUISIÇÃO DE DADOS ..................................................................... 33 3.2 GEOMETRIAS DE LAÇO INDUTIVO ESTUDADAS ............................................... 34 3.3 COLETA DE DADOS EM CAMPO ............................................................................. 35 3.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................... 46 CAPÍTULO 4.......................................................................................................................... 49 4.1 SISTEMA COMPUTACIONAL BASEADO EM MÁQUINA DE ESTADOS ........... 50 4.1.1 Parâmetros analisados no perfil magnético .............................................................. 51 4.1.1.1 Derivada.............................................................................................................. 51 4.1.1.2 Diferença de amplitude em relação ao sinal do laço sem veículo ...................... 51 4.1.2 Método de avaliação dos parâmetros do perfil magnético ....................................... 53 4.2 CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................... 60 CAPÍTULO 5.......................................................................................................................... 61 5.1 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS ..................................................................... 61 5.2 ANÁLISE DOS RESULTADOS ................................................................................... 63 5.3 CONCLUSÕES .............................................................................................................. 66 5.4 TRABALHOS FUTUROS ............................................................................................. 67 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 69 vi LISTA DE FIGURAS Figura 1: Tubo pneumático conectado à unidade de controle. ................................................. 5 Figura 2: Esquema da instalação na pista do sistema acústico de detecção de eixos. .............. 6 Figura 3: Esquema dos pratos deformadores. ........................................................................... 7 Figura 4: Esquema do interferômetro de Mach-Zehnder.......................................................... 8 Figura 5: Seção transversal do cabo piezoelétrico. ................................................................... 9 Figura 6: Polarização do cabo piezoelétrico. ............................................................................ 9 Figura 7: Seção transversal do perfil de borracha condutiva com centro oco. ....................... 11 Figura 8: Barreira ótica vertical instalada em um posto de pedágio....................................... 11 Figura 9: Sensores laser para detecção de eixos em 4 faixas de trânsito................................ 12 Figura 10: Sistema de detecção de eixos laser instalado lateralmente à pista. ....................... 13 Figura 11: Perfil bidimensional de um veículo....................................................................... 14 Figura 12: Vista em planta do posicionamento da câmera. .................................................... 14 Figura 13: Imagem de um caminhão com as janelas de detecção. ......................................... 15 Figura 14: Detalhe de um sensor indutivo. ............................................................................. 16 Figura 15: Linhas de campo magnético ao redor de um condutor com corrente entrando na página. ...................................................................................................................................... 18 Figura 16: Linhas de campo magnético em um laço retangular. ............................................ 18 Figura 17: Perfis magnéticos de uma carreta e de um carro de passeio. ................................ 22 Figura 18: Perfis magnéticos de duplos sensores. .................................................................. 23 Figura 19: Sobreposição dos perfis magnéticos para cálculo de velocidade. ......................... 23 Figura 20: Configuração ideal do campo magnético para detecção de motocicletas e bicicletas................................................................................................................................... 24 Figura 21: Visualização das linhas de campo em dipolo e quadrupolo magnético. ............... 25 Figura 22: Geometrias de laço indutivo avaliadas por Nishimoto (2006). ............................. 26 Figura 23: Disposição do laço indutivo na faixa de rolamento. ............................................. 28 Figura 24: Laço em forma de 8 apresentado por Lees (2002). ............................................... 29 Figura 25: Instalação da lâmina sensora na pista.................................................................... 30 Figura 26: Perfil magnético gerado por um carro de passeio na lâmina sensora.................... 30 Figura 27: Vista em planta da instalação da lâmina. .............................................................. 30 Figura 28: Diagrama em blocos da placa detectora. ............................................................... 33 Figura 29: Posição do laço Tipo 1 na faixa de rolamento....................................................... 34 vii Figura 30: Posição do laço Tipo 2 na faixa de rolamento....................................................... 35 Figura 31: Posição do laço Tipo 3 na faixa de rolamento....................................................... 35 Figura 32: Desenho dos cortes executados no pavimento para instalação de sensores. ......... 36 Figura 33: Fotografia dos cortes executados no pavimento para instalação de sensores. ...... 36 Figura 34: Foto e perfil magnético de um passeio pequeno - Laço Tipo 1. ........................... 36 Figura 35: Foto e perfil magnético de um passeio pequeno - Laço Tipo 2. ........................... 37 Figura 36: Foto e perfil magnético de um passeio pequeno - Laço Tipo 3. ........................... 37 Figura 37: Perfil magnético de uma camionete - Laço Tipo 1. .............................................. 38 Figura 38: Perfil magnético de uma camionete - Laço Tipo 2. .............................................. 38 Figura 39: Perfil magnético de uma camionete - Laço Tipo 3. .............................................. 39 Figura 40: Campo magnético intenso atinge assoalho dos veículos de passeio devido à menor altura do solo, diferentemente das camionetes......................................................................... 39 Figura 41: Perfil magnético de um caminhão de dois eixos - Laço Tipo 1. ........................... 40 Figura 42: Perfil magnético de um caminhão de dois eixos - Laço Tipo 2. ........................... 40 Figura 43: Perfil magnético de um caminhão de dois eixos - Laço Tipo 3. ........................... 40 Figura 44: Perfil magnético de um caminhão de 3 eixos - Laço Tipo 1. ................................ 42 Figura 45: Perfil magnético de um caminhão de 3 eixos - Laço Tipo 2. ................................ 42 Figura 46: Perfil magnético de um caminhão de 3 eixos - Laço Tipo 3. ................................ 42 Figura 47: Perfil magnético de um ônibus de 3 eixos – Laço Tipo 1. .................................... 43 Figura 48: Perfil magnético de um ônibus de 3 eixos – Laço Tipo 2. .................................... 43 Figura 49: Perfil magnético de um ônibus de 3 eixos – Laço Tipo 3. .................................... 44 Figura 50: Perfil magnético de uma carreta de 5 eixos – Laço Tipo 1. .................................. 45 Figura 51: Perfil magnético de uma carreta de 5 eixos – Laço Tipo 2. .................................. 45 Figura 52: Perfil magnético de uma carreta de 5 eixos – Laço Tipo 3. .................................. 45 Figura 53: Caminhão de três eixos com eixo suspenso – Laço Tipo 3................................... 46 Figura 54: Carreta de cinco eixos com eixo suspenso – Laço Tipo 3..................................... 46 Figura 55: Disposição dos laços indutivos na pista. ............................................................... 49 Figura 56: Nível de referência, capturado momentos antes da entrada do veículo sobre o sensor........................................................................................................................................ 52 Figura 57: Regiões do perfil magnético onde o valor do sinal é considerado zero, positivo e negativo. ................................................................................................................................... 52 Figura 58: Seqüência temporal de eventos em um perfil magnético. ..................................... 53 Figura 59: Variação negativa causada por um único eixo. ..................................................... 54 Figura 60: Exemplo de conjunto de eixos posicionados muito próximos. ............................. 55 viii Figura 61: Perfil magnético onde dois eixos adjacentes produzem variações invertidas. ...... 55 Figura 62: Perfil magnético onde dois eixos adjacentes produzem variações no mesmo sentido. ..................................................................................................................................... 56 Figura 63: Marcações de início e fim de pico no perfil magnético. ....................................... 58 Figura 64: Perfil magnético com destaque para o pico provocado pela cabine do veículo. ... 58 Figura 65: Diagrama da máquina de estados baseada em eventos. ........................................ 59 Figura 66: Histograma de velocidades de caminhões, carretas e ônibus. ............................... 61 Figura 67: Diferença de amplitude do perfil magnético em veículos de características semelhantes. ............................................................................................................................. 64 Figura 68: Diferença de amplitude do perfil magnético entre o primeiro e o segundo laço... 65 Figura 69: Pequenos picos produzidos pelo assoalho de um ônibus que geram falsas detecções de eixos. ................................................................................................................... 65 ix x LISTA DE TABELAS Tabela 1: Resultados do sistema de detecção de eixos por vídeo. .......................................... 16 Tabela 2: Índice de visualização dos eixos no perfil magnético – Caminhões de 2 eixos...... 41 Tabela 3: Eventos equivalentes nas variações positivas e negativas. ..................................... 54 Tabela 4: Tabela de transição de estados para variações negativas. ....................................... 59 Tabela 5: Tabela de transição de estados para variações positivas. ........................................ 60 Tabela 6: Quantidade de veículos por número de eixos. ........................................................ 62 Tabela 7: Proporção de veículos por número de eixos. .......................................................... 62 Tabela 8: Índice de acerto por categoria e total. ..................................................................... 62 Tabela 9: Índice de acerto por categoria e por número de eixos............................................. 63 Tabela 10: Detalhamento do número de eixos detectado pelo sistema por categoria de veículo. ..................................................................................................................................... 63 xi xii RESUMO Esta dissertação propõe um sistema de contagem de eixos de veículos utilizando sensoriamento indutivo. O sistema é composto de um conjunto de laços indutivos com geometrias apropriadas para a aplicação, e de um sistema computacional de contagem de eixos através do perfil magnético dos veículos. Durante o desenvolvimento do trabalho, foram experimentadas em campo três geometrias de sensores indutivos para detecção de eixos, de modo que a geometria que apresentou melhores perspectivas foi escolhida para compor o sistema. Foi utilizado também um par de laços retangulares convencionais para realizar a detecção dos veículos e o cálculo da velocidade, visto que o sensor específico para contagem de eixos não possui sensibilidade para detectar a presença de veículos altos, exceto na região das rodas. O perfil magnético capturado do sensor indutivo de contagem de eixos é analisado por um software, que verifica o comportamento de dois parâmetros do sinal: a derivada e a diferença do nível do sinal em relação ao sinal do sensor quando sem veículo. Mudanças nestes dois parâmetros geram eventos, que são modelados através de uma máquina de estados. De um conjunto de 344 perfis magnéticos analisados, foi obtido um índice de acerto total de cerca de 95%. Desta maneira, foi atingido o objetivo do trabalho, que é o de confirmar a viabilidade de se contar eixos de veículos utilizando sensores indutivos. xiii xiv ABSTRACT This dissertation proposes an axle counting system using inductive sensors. The system is formed by a set of inductive loops and by software that performs analysis of vehicle magnetic profiles. Three inductive loop geometries for axle counting were tested, and the one which provided the best results was chosen to make the experiments. Along with that sensor, a conventional rectangular inductive loop pair was also used to detect vehicles and calculate their speed, since the loop used to count axles does not have enough sensitivity to detect high vehicles, except in their wheels. The magnetic profile obtained from the axle counting sensor is analyzed by software, which verifies two signal parameters: its derivative and its level. Changes in the parameters produce events that are treated in a finite state machine. A success rate of 95% was achieved among 344 inductive loop signatures. Thus, this work demonstrates that is feasible and accurate to count axles using inductive loops. xv xvi 1 CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO 1.1 MOTIVAÇÕES Os sistemas eletrônicos de fiscalização e coleta de dados de trânsito vêm se difundindo muito rapidamente no mundo, e especialmente no Brasil. Também conhecidos como ITS (Intelligent Transportation Systems), estes sistemas são implantados com o intuito de direcionar os investimentos em infra-estrutura, auxiliar o planejamento de expansão das vias, garantir a fluidez do trânsito, automatizar os sistemas de controle, além de educar e punir os motoristas infratores (MIMBELA et al, 2000; NISHIMOTO, 2006; CALIXTO, 2006). No Brasil, são muito populares os equipamentos de controle de velocidade de veículos. No início de sua implantação, em meados da década de 90, estes equipamentos trabalhavam como meros registradores de infrações. Com o avanço da tecnologia, outras funcionalidades foram solicitadas pelos clientes, e incorporadas a estes sistemas. Podem-se citar como algumas destas funcionalidades a determinação da taxa de ocupação da via, contagem e classificação dos veículos, determinação do tempo médio de trajeto, restrição de tráfego de alguns tipos de veículos, entre outras. Com o objetivo de atendimento a demanda por dados estatísticos e por sistemas automatizados, foi concebido nesta dissertação um sistema de contagem de eixos de veículos através de laços indutivos. Esta tecnologia de sensoriamento foi escolhida por ser a mais utilizada no Brasil em equipamentos fixos de medição de velocidade, possibilitando a utilização da infra-estrutura já implantada para geração de informação e validação do sistema. 1.2 OBJETIVOS O objetivo deste trabalho é propor um sistema para contagem de eixos de veículos utilizando sensores indutivos. O trabalho desenvolvido contempla uma geometria de sensor específica para a aplicação, um hardware de processamento digital dos sinais provenientes dos laços indutivos e um sistema computacional baseado em eventos discretos (máquina de estados). 2 O sistema proposto neste trabalho pode ser incorporado a equipamentos de fiscalização eletrônica de trânsito, popularmente conhecidos como lombadas eletrônicas ou radares. Atualmente nos equipamentos em operação no Brasil, é possível realizar a classificação dos veículos através do perfil magnético captado dos laços indutivos, inclusive com a diferenciação entre caminhões e ônibus. Porém, o número de eixos dos veículos que trafegam pelas vias monitoradas, informação importante para o poder público e para concessionárias de rodovias, ainda não é obtido com esta tecnologia. Esta informação é utilizada para dimensionamento de pavimentos, estudo da vida útil de pavimentos de acordo com as cargas aplicadas, estudo de viabilidade econômica de concessões de rodovias, programação de manutenções no pavimento, auditoria e tarifação em praças de pedágio, entre outras aplicações. 1.3 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO Esta dissertação está organizada em cinco capítulos. No Capítulo 2 é apresentada uma visão geral dos ITS (Intelligent Transportation Systems), das tecnologias de contagem de eixos de veículos, e do sensoriamento indutivo de veículos. No Capítulo 3 é feito um estudo da influência da geometria do sensor indutivo, com vistas à construção do sistema. O Capítulo 4 descreve o sistema proposto, detalhando o esquema de sensoriamento e a solução computacional adotada. O quinto e último capítulo apresenta e discute os resultados obtidos. No último capítulo também são apresentadas as conclusões do trabalho e as propostas de trabalhos futuros. 3 CAPÍTULO 2 ESTADO DA ARTE Neste capítulo são apresentadas as principais técnicas de detecção de eixos de veículos, e o Estado da Arte do sensoriamento indutivo de veículos. Estes temas são os principais focos de estudo desta dissertação. Dentre os sistemas de contagem de eixos, é feita uma subdivisão entre as técnicas que detectam eixos pela pressão exercida pelas rodas dos veículos, e as técnicas que não necessitam de contato mecânico. Sobre sensoriamento indutivo de veículos, é feita uma introdução a respeito do princípio de funcionamento destes sensores e das aplicações veiculares desta tecnologia. Também são apresentadas geometrias específicas para detecção de eixos de veículos, e estudos relativos à influência da geometria do sensor no campo magnético gerado. 2.1 SISTEMAS DE CONTAGEM DE EIXOS DE VEÍCULOS O contínuo aumento da frota e do tráfego de veículos, tanto nas cidades como nas rodovias, têm levado à intensificação dos estudos relativos a sistemas de controle e monitoramento dos transportes. Os órgãos competentes necessitam de dados para planejar e de sistemas para gerenciar o transporte. Estas duas demandas são supridas pelos ITS – Intelligent Transportation Systems, no qual os sistemas de contagem de eixos de veículos se encaixam (MIMBELA et al, 2000). A contagem de eixos de veículos está intimamente ligada à pesagem de veículos em movimento (weigh-in-motion - WIM). Os conceitos destes sistemas vêm sendo estudados desde a década de 50, com um aprofundamento a partir da década de 70 (LEE e FERGUSON, 1983). A pesagem em movimento é utilizada para medir os carregamentos dinâmicos exercidos por veículos em estruturas de pontes e pavimentos de estradas (MIMBELA et al, 2003). A configuração típica destes equipamentos é constituída de transdutores de força, que captam o esforço exercido pelas rodas, e de um sistema de processamento de sinais. O princípio da pesagem em movimento pode ser adaptado para os sistemas de contagem de eixos quando não é necessária a obtenção da magnitude do esforço mecânico, mas apenas da 4 detecção desta força submetida. Dentre os sistemas e equipamentos de detecção de eixos por esforço mecânico, pode-se enumerar: • Tubo pneumático; • Sistema acústico; • Sensores de fibra ótica; • Sensores piezoelétricos; • Perfil de borracha condutiva; Outras formas de detecção de eixos que não se baseiam na pressão exercida pelas rodas dos veículos vêm sendo estudadas (FRENZE, 2002; LIEPMANN, 1998; UEDA et al, 1997; RITCHIE et al, 2005), dentre as quais cita-se: • Barreiras laser; • Polígono scanner laser; • Sistemas de processamento de imagens; • Sensores indutivos. O modelo proposto neste trabalho encaixa-se neste último nicho de pesquisa. A seguir, são apresentados métodos e sensores que utilizam ambos os princípios. 2.1.1 Sistemas de contagem de eixos por esforço mecânico 2.1.1.1 Tubo pneumático O tubo pneumático foi a primeira tecnologia de detecção de veículos, introduzida na década de 20. Devido ao baixo custo e facilidade de instalação, é utilizado ainda hoje. Seu princípio funcionamento consiste na detecção da pressão exercida pela passagem das rodas do veículo sobre um tubo de borracha. Esta pressão produz um pulso de ar que fecha uma válvula. A válvula, por sua vez, envia um sinal elétrico indicando a presença do eixo (MARTIN, FENG e WANG, 2003). 5 O tubo pneumático é disposto perpendicularmente à direção do tráfego, e conectado a uma unidade eletromecânica de controle (Figura 1). Esta tecnologia é utilizada para geração de estatísticas durante curtos períodos. Com este equipamento obtêm-se informações do fluxo de veículos, contagem e espaçamento de eixos (MIMBELA et al, 2000). Quando instalado em vias com alto fluxo de caminhões e ônibus, a trepidação causada por estes veículos comumente causa erros na detecção de eixos. Outras desvantagens deste método incluem a sensibilidade da válvula de ar a variações de temperatura, a rápida degradação do tubo e a suscetibilidade ao vandalismo. O fato do tubo de borracha ficar estendido sobre o pavimento durante a operação, o torna suscetível a danos e deslocamentos (MIMBELA et al, 2000). Figura 1: Tubo pneumático conectado à unidade de controle. 2.1.1.2 Sistema acústico O princípio do método acústico de detecção de eixos consiste na captação de ondas sonoras causadas pela passagem das rodas do veículo sobre um dispositivo sensor instalado sob o asfalto. Quando submetido à pressão das rodas, o sensor sofre uma vibração que produz ondas mecânicas. Um microfone instalado dentro do sensor capta estas ondas, que posteriormente são processadas por uma unidade de controle. Um exemplo de sistema acústico de detecção de eixos, proposto por Cohen e Kafri (2000), é composto de um prato de metal de 5 cm de largura instalado em um sulco transversal à pista. Um tubo de aço é disposto sobre este prato, sendo soldado a ele em alguns pontos, e deixado livre para vibrar em outros. Este arranjo compõe o sensor, que é instalado de forma que abranja toda a largura da faixa de rolamento. O sensor deve ser instalado um pouco acima do nível da pista para efetivar o choque mecânico das rodas do veículo. Um 6 microfone é instalado em qualquer posição dentro do tubo para detecção das ondas sonoras geradas pelo tráfego (Figura 2). Figura 2: Esquema da instalação na pista do sistema acústico de detecção de eixos. Os sistemas acústicos de detecção de eixos não são muito difundidos. Os danos causados ao pavimento, a dificuldade de instalação e a suscetibilidade a vibrações causadas por veículos pesados trafegando em faixas adjacentes, inibem sua popularização. 2.1.1.3 Sensores de fibra ótica Fibra ótica é um filamento de vidro ou plástico, capaz de guiar a luz ao longo de seu comprimento. Além de ser utilizada em várias aplicações, como a transmissão de dados, também é aplicada na forma de sensores. Os sensores de fibra ótica para detecção de eixos de veículos são instalados em sulcos no pavimento. Quando pressionada pelas rodas do veículo, a fibra ótica sofre deformações que alteram as propriedades da luz que por ela trafega, como: curvaturas, micro-curvaturas, alterações no índice de refração e alterações da geometria. Um feixe de luz possui várias propriedades físicas como amplitude (intensidade), fase, comprimento de onda (cor), polarização e modo de propagação. Na ausência de distúrbios externos, estas propriedades não se modificam. Se distúrbios externos como pressão, variações de temperatura, presença de campos elétricos, etc., perturbam o meio de transmissão de alguma maneira, as propriedades físicas da luz se modificarão (SAFAAI-JAZI, ARDEKANI e MEHDIKHANI, 1990). Basicamente são utilizadas duas técnicas de sensibilização de fibras óticas para contagem de eixos de veículos. A primeira delas é a sensibilização por amplitude. Dois pratos ondulados, conhecidos como deformadores, pressionam a fibra formando um sanduíche 7 (Figura 3). A deformação causada criará novos modos de propagação (caminhos possíveis de propagação) por onde a luz será redistribuída. Ao mesmo tempo, parte da potência luminosa será transferida dos modos guiados (modos que trafegam pelo núcleo da fibra) para modos não-confinados (modos que trafegam pelo revestimento da fibra e se dissipam). A luz que escapa da fibra pelos modos não-confinados causa uma perda de intensidade, que indica a pressão das rodas do veículo sobre o sensor (SAFAAI-JAZI, ARDEKANI e MEHDIKHANI, 1990). Figura 3: Esquema dos pratos deformadores. A outra forma de sensibilização de fibras óticas é conhecida como interferométrica. Esta técnica utiliza a modulação de fase para medir os distúrbios externos, e pode ser implementada de várias maneiras. Um esquema comumente utilizado é o interferômetro de Mach-Zehnder (Figura 4), que consiste essencialmente em dois braços de fibras óticas, um atuando como braço sensor e outro como braço de referência (SAFAAI-JAZI, ARDEKANI e MEHDIKHANI, 1990). Ambos os braços são instalados em paralelo e transversalmente à direção de tráfego da pista, sendo a fibra de referência mecanicamente isolada dos distúrbios externos por um tubo protetor (DONLAGIC e HANC, 2003). Após o sinal de luz ser dividido entre os dois braços através de um acoplador, a pressão exercida pelas rodas do veículo deforma a geometria do braço sensor, defasando o sinal em relação à referência. Os sinais dos dois braços são então combinados utilizando outro acoplador, e a interferência causada pelas diferenças de fase se converte em diminuição de amplitude (SAFAAI-JAZI, ARDEKANI e MEHDIKHANI, 1990). Esta diminuição de amplitude é detectada como a passagem do eixo do veículo sobre o sensor. 8 Figura 4: Esquema do interferômetro de Mach-Zehnder. Dentre os pontos negativos dos sensores de fibra ótica podem ser citados os danos causados ao pavimento para sua instalação e substituição e a limitada vida útil, devido aos constantes choques mecânicos a que são submetidos. 2.1.1.4 Sensores piezoelétricos A piezoeletricidade é uma propriedade de alguns materiais que geram energia elétrica quando sujeitos a pressão (efeito piezoelétrico direto), e que produzem trabalho mecânico quando excitados eletricamente (efeito piezoelétrico inverso). Entre os principais materiais utilizados para fabricação de sensores piezoelétricos estão as cerâmicas de titanato zirconato de chumbo (PZT) e titanato de chumbo modificado com cálcio; os polímeros ferroelétricos (fluoreto de polivinilideno – PVDF), e os compósitos de polímero/cerâmica (PTCa) (MARAT-MENDES, 2000). Particularmente nas cerâmicas tipo PZT, os pequenos cristais possuem uma estrutura que abaixo de uma determinada temperatura crítica, conhecida como temperatura de Curie, apresentam simetria tetragonal em que o centro de simetria das cargas elétricas positivas não coincide com o centro de simetria das cargas negativas, dando origem a um dipolo elétrico. A existência deste dipolo faz com que a estrutura cristalina se deforme na presença de um campo elétrico, e gere um deslocamento elétrico quando submetida a uma deformação mecânica. Estes fenômenos caracterizam os efeitos piezoelétricos inverso e direto respectivamente. Os dipolos elétricos se arranjam em domínios que se distribuem aleatoriamente no material. Para que ocorra a interação piezoelétrica, é necessária uma orientação preferencial destes domínios, através de um processo chamado de polarização. A polarização do material é obtida através da aplicação de um campo elétrico durante um 9 intervalo de tempo suficientemente longo e a uma temperatura conveniente (MARATMENDES, 2000). A configuração básica dos sensores piezoelétricos utilizados para contagem de eixos de veículos consiste em um cabo coaxial instalado transversalmente à pista. A região do cabo coaxial compreendida entre os condutores interno (fio de cobre) e externo (malha de cobre) é preenchida com um material piezoelétrico, agindo como o dielétrico do cabo coaxial. A tensão de saída de um cabo piezoelétrico é proporcional à variação da pressão aplicada sobre o cabo ao longo do tempo, e não à pressão aplicada propriamente dita (SAFAAI-JAZI, ARDEKANI e MEHDIKHANI, 1990). Os cabos piezoelétricos possuem algumas peculiaridades construtivas que prejudicam sua eficiência. O processo de fabricação necessita de algumas etapas que dificultam o controle da espessura do cabo e da centralização do fio de cobre na seção transversal (Figura 5). Devido a estas variações, o processo de polarização se torna irregular (Figura 6), causando uma não-uniformidade da sensibilidade do cabo ao longo de seu comprimento (OPITZ e CALL, 1996). Figura 5: Seção transversal do cabo piezoelétrico. a) Antes da polarização b) Polarização ideal c) Polarização real Figura 6: Polarização do cabo piezoelétrico. Outro problema prático comum a estes sensores é a dificuldade de se instalar um cabo longo e rígido no mesmo nível da superfície da pista. O pavimento normalmente possui ondulações, e um trecho do cabo pode estar nivelado com a pista enquanto outro trecho está 10 abaixo da superfície, causando diferenças de sensibilidade. Ondas de choque horizontais, inerentes a todas as estradas, também causam acionamentos indevidos. Um veículo pesado trafegando em uma faixa adjacente onde há um sensor instalado pode causar uma tensão elétrica no cabo maior que a causada por um veículo de passeio (OPITZ e CALL, 1996). 2.1.1.5 Perfil de borracha condutiva O princípio do perfil de borracha condutiva para detecção de eixos é o mesmo dos outros sensores por esforço mecânico. Instalado como uma linha transversal à pista, é pressionado pelas rodas dos veículos que passam sobre o sensor. Alves (2002) apresentou um sensor para contagem de eixos de veículos que emprega borracha condutiva. Este material é justamente o grande diferencial tecnológico deste sistema. Alguns métodos foram desenvolvidos para obtenção de materiais poliméricos condutores, e consistem basicamente no emprego de aditivos com condutividade específica, como metais na forma de pó finamente dividido (prata, cobre, zinco, níquel, entre outros), fibras metálicas, negro de fumo e fibras de carbono. A preparação destes materiais pode ser feita aplicando-se uma camada de material condutor à superfície de uma peça moldada, ou misturando-se estes aditivos condutores no polímero durante o processamento. Também podem ser obtidos polímeros intrinsecamente condutores, que não necessitam de aditivos ou recobrimento, que é o caso do material utilizado neste sensor (ALVES, 2002). Da borracha condutiva é feito um perfil com centro oco (Figura 7), onde é inserida uma lâmina de aço inoxidável isolada do perfil através de uma fita de material polimérico, ficando apenas uma estreita faixa de contato na parte superior da lâmina. Quando o veículo passa sobre o sensor, o perfil tem a sua borda superior pressionada e entra em contato com a lâmina metálica, conduzindo corrente elétrica e identificando a passagem da roda do veículo. 11 Figura 7: Seção transversal do perfil de borracha condutiva com centro oco. 2.1.2 Sistemas de contagem de eixos sem esforço mecânico 2.1.2.1 Barreiras laser Uma das técnicas para contagem de eixos de veículos através de feixes laser, utiliza barreiras óticas verticais. Estes equipamentos geralmente são empregados em praças de pedágio para tarifação automática dos veículos, e monitoram apenas uma faixa de trânsito. O princípio de funcionamento consiste em uma linha de emissores de luz posicionados verticalmente de um lado da faixa, e de detectores do outro lado (Figura 8). Quando ocorre a passagem de um veículo, há uma interrupção nos feixes. Uma unidade de controle avalia quais feixes foram interrompidos durante a passagem do veículo, e faz a contagem dos eixos. Figura 8: Barreira ótica vertical instalada em um posto de pedágio. Liepmann (1998) apresentou outra técnica para realizar a detecção de veículos e contagem de eixos através de barreiras óticas para até 4 faixas. São instalados seis conjuntos 12 de emissores de um lado da pista e seis conjuntos de detectores do outro lado (Figura 9). De acordo com a seqüência de interrupção dos feixes é possível detectar em que faixa o veículo trafega. Um veículo trafegando pela Faixa 4 (Figura 9), por exemplo, interromperá respectivamente os feixes das barreiras f, c, b, e, d, a. Já um veículo a trafegar pela Faixa 1, interromperá respectivamente os feixes f, e, d, c, b, a. Figura 9: Sensores laser para detecção de eixos em 4 faixas de trânsito. Este tipo de sensor é aplicável para ambientes indoor, como praças de pedágio ou postos de pesagem. Como qualquer objeto posicionado em frente às barreiras bloqueia os feixes laser, o sistema pode ser facilmente vandalizado. A passagem de transeuntes, o crescimento da vegetação, entre outros fatores, também prejudica o funcionamento deste sistema em ambientes outdoor. 2.1.2.2 Polígono scanner laser Outra metodologia existente para contagem de eixos sem esforço mecânico utiliza um laser scanning range finder. Este dispositivo calcula distâncias de objetos que refletem os feixes laser emitidos. Quando um veículo adentra a seção da pista monitorada pelo 13 equipamento, o feixe nele refletido percorre uma distância menor em relação à distância percorrida pelo feixe refletido no asfalto. Ueda et al (1997) apresentaram um sistema de contagem de eixos que utiliza um laser scanning range finder instalado lateralmente à pista (Figura 10). Um feixe pulsado, emitido por um diodo laser infravermelho (830 nm), faz a varredura em uma linha transversal à faixa de trânsito através de um espelho rotativo conhecido como polígono scanner. Uma lente receptora foca a luz refletida no objeto (que pode ser a superfície do asfalto, a roda ou o corpo do veículo) em um detector de posição. O sinal de saída do detector de posição indica a direção e a distância do ponto de luz no objeto. Os dados deste sinal de saída são calculados através de uma triangulação com base na direção da luz emitida pelo scanner, na direção da luz refletida, e na linha entre o ponto de entrada da luz na lente receptora e o polígono scanner. Este sistema permite a detecção de três estados: sem veículo, presença do corpo do veículo e presença do eixo do veículo. Figura 10: Sistema de detecção de eixos laser instalado lateralmente à pista. Um método semelhante ao descrito acima foi apresentado por Wangler et al (2001). O equipamento também é instalado lateralmente à pista, a uma altura entre 2,0m e 3,4m. Este sistema calcula a velocidade, o comprimento dos veículos, detecta eixos (inclusive suspensos) e determina a distância entre os eixos. Uma imagem lateral do veículo (Figura 11) também é gerada, e auxilia o equipamento para obtenção de uma maior precisão na contagem dos eixos. O veículo é classificado entre as categorias pré-definidas pelo órgão norte-americano Federal Highway Administration (FHWA, 2001). O índice de acerto obtido para detecção de eixos com este equipamento foi de 95,2%. 14 Figura 11: Perfil bidimensional de um veículo. Este tipo de equipamento, além de monitorar somente uma faixa de rolamento, é aplicável somente em ambientes controlados, como praças de pedágio, devido à limitação da velocidade máxima dos veículos em 60 km/h para a plena operação. 2.1.2.3 Deteção de eixos por vídeo O aumento da capacidade de processamento de hardwares embarcados está viabilizando sistemas de processamento de imagens em tempo real. Métodos alternativos de detecção de eixos por vídeo têm a vantagem de serem não intrusivos e possuir baixo custo em relação aos sistemas piezoelétricos e de fibra ótica (FRENZE, 2002). Frenze (2002) realizou experimentos para contagem de eixos de caminhões através de uma câmera NTSC posicionada lateralmente à pista (Figura 12). O campo de visão da câmera foi ajustado de modo que um caminhão longo necessita de vários quadros para sua visualização completa. Figura 12: Vista em planta do posicionamento da câmera. No primeiro estágio do processamento, são capturados os quadros do vídeo que contém caminhões. Isto é feito através de duas pequenas janelas, que funcionam como 15 gatilhos. Uma das janelas é posicionada à direita da imagem, e a outra no canto superior esquerdo (Figura 13). Estas janelas têm seus pixels continuamente processados para detecção de alterações. O quadro atual da imagem é subtraído de um padrão de fundo, sendo somadas as diferenças nos valores dos pixels. Quando esta soma atinge um determinado limiar, é detectada alteração na imagem, indicando a presença do veículo. Figura 13: Imagem de um caminhão com as janelas de detecção. O segundo estágio do algoritmo é a estimativa de velocidade. Este cálculo é necessário para determinação do espaçamento entre eixos. Uma janela posicionada para capturar a roda e uma parte da carroceria do caminhão, é utilizada para determinar o deslocamento do objeto entre quadros subseqüentes do vídeo. O mapeamento da distância percorrida na imagem para distância percorrida na pista é feito pela calibração da câmera e por marcações na pista. A velocidade estimada é obtida pela relação entre o deslocamento entre quadros e a taxa de quadros por segundo. As imagens em tons de cinza são convertidas em binárias através de um processo de limiarização. Um algoritmo é aplicado na imagem para detecção das bordas dos pneus. Devido à câmera ser instalada com um certo ângulo em relação ao eixo longitudinal da pista, a borda detectada tem um formato elíptico. Porém, como são utilizados apenas os campos ímpares da imagem, a figura se torna mais circular. Características circulares das rodas dos veículos são detectadas utilizando a transformada de Hough (FRENZE, 2002). O desempenho do sistema foi testado em três diferentes condições de iluminação, e o resultado integralizado é apresentado na Tabela 1. Pode-se observar o alto índice de falsos positivos (o sistema detectou eixos que na verdade eram outros objetos), que ocorrem devido a grades e outros detalhes da carroceria dos caminhões que produzem bordas adicionais e confundem o algoritmo da transformada de Hough. 16 Tabela 1: Resultados do sistema de detecção de eixos por vídeo. Número de eixos 300 Eixos detectados 238 Eixos perdidos 62 Falsos positivos 451 2.2 SENSORIAMENTO INDUTIVO DE VEÍCULOS Os sensores indutivos foram introduzidos nos anos 60, e desde então se tornaram a forma mais popular de detecção de veículos (FULLERTON, KELL e MILLS, 1990; KI e BAIK, 2006). Também conhecido como laço indutivo, este sensor é composto de uma ou mais voltas de um cabo isolado, enrolado em sulcos no pavimento, formando uma bobina (Figura 14). Esta bobina é o elemento indutivo de um circuito eletrônico que detecta a passagem dos veículos. Esta detecção é realizada através de alterações na indutância do sensor, provocadas pela passagem dos veículos. Figura 14: Detalhe de um sensor indutivo. 2.2.1 Princípio de funcionamento 2.2.1.1 Campo magnético O campo magnético é uma propriedade intrínseca de algumas partículas elementares, como os elétrons. Em alguns materiais os campos dos elétrons se somam, dando origem a um campo magnético resultante. Em outros materiais esses campos se cancelam e a resultante é nula. Os efeitos do campo magnético são forças que atuam sobre partículas carregadas. 17 Uma partícula carregada de carga q que atravessa um determinado ponto de um campo magnético está sujeita a uma força FB, cuja intensidade é dada por (HALLIDAY, RESNICK, e WALKER, 2003): FB = q v X B (1) onde: • FB = vetor intensidade da força magnética • q = carga elétrica da partícula • v = vetor velocidade da partícula • B = vetor intensidade do campo magnético A força magnética será sempre perpendicular ao plano que contém os vetores B e v, e seu módulo é dado por (HALLIDAY, RESNICK, e WALKER, 2003): FB = |q| v B sen θ (2) onde: • FB = módulo da força magnética • q = carga elétrica da partícula • v = módulo da velocidade da partícula • B = módulo da intensidade do campo magnético • θ = ângulo entre as direções positivas do vetor velocidade v e do vetor campo magnético B. O campo magnético é comumente representado por linhas de campo, onde a direção tangente a uma linha de campo em um ponto fornece a direção de B. Campos magnéticos também são produzidos pela circulação de corrente elétrica. Em um condutor transportando uma corrente elétrica, as linhas de campo formam círculos concêntricos em um plano perpendicular ao fio (Figura 15). Em um laço indutivo retangular, as linhas de campo têm a configuração ilustrada na Figura 16 (FULLERTON, KELL e MILLS, 1990). 18 Figura 15: Linhas de campo magnético ao redor de um condutor com corrente entrando na página. Figura 16: Linhas de campo magnético em um laço retangular. 2.2.1.2 Fluxo magnético Fluxo magnético é a quantificação do campo magnético que atravessa uma determinada área. Seu valor pode ser obtido por: ΦB = ∫ B · dA (3) Se o campo magnético B for uniforme e perpendicular à área A, o fluxo magnético pode ser escrito como: ΦB = BA onde: • ΦB = intensidade do fluxo magnético • B = intensidade do campo magnético (4) 19 • A = área onde se deseja obter o fluxo magnético 2.2.1.3 Corrente induzida pela variação do fluxo magnético Segundo a Lei de Faraday da indução magnética (HALLIDAY, RESNICK, e WALKER, 2003), um condutor sujeito a um fluxo magnético variável tem uma corrente elétrica induzida. Isto se deve à ação da força magnética sobre os elétrons livres do condutor, fazendo com que este se polarize e tenha uma força eletromotriz induzida. A intensidade desta força eletromotriz é dada por: fem = − dφ B dt (5) onde: • fem = força eletromotriz • dΦB = variação do fluxo magnético • dt = variação do tempo No sensoriamento indutivo de veículos, a fonte de fluxo magnético, ou indutor, é o sensor indutivo. O indutor possui uma propriedade, chamada de indutância, que é uma medida do fluxo magnético por unidade de corrente elétrica produzido pelo indutor. A indutância é dada por: L= Nφ B i (6) onde: • L = indutância • N = número de espiras • ΦB = fluxo magnético • i = corrente elétrica Como citado anteriormente, a variação do fluxo magnético induz uma corrente elétrica em um condutor. Uma das maneiras de obtenção de fluxo variável é pela aproximação ou afastamento relativo do indutor e do condutor, como no experimento de Faraday 20 (HALLIDAY, RESNICK, e WALKER, 2003), ou pela alimentação do indutor por uma corrente alternada. Esta última é a técnica utilizada no sensoriamento indutivo. A freqüência da corrente alternada que alimenta os laços indutivos normalmente varia entre 10 e 200 kHz (KI e BAIK, 2006). A indutância do sensor devido ao seu próprio fluxo magnético é chamada de autoindutância (FULLERTON, KELL e MILLS, 1990). Quando um veículo entra na região de influência do campo magnético produzido pelo laço, correntes elétricas de baixa intensidade, chamadas de correntes de Eddy (CALVERT, 2004), são induzidas em suas partes condutivas. Estas correntes induzidas geram outro fluxo magnético que se acopla ao fluxo inicialmente estabelecido. Isto faz com que o sensor indutivo e o veículo tenham entre si uma indutância mútua. De acordo com a Lei de Lenz, um fluxo magnético devido a uma corrente induzida tem sentido oposto ao fluxo que induziu a corrente (HALLIDAY, RESNICK, e WALKER, 2003). Logo, esta interação sensor/veículo resulta em um decréscimo da indutância do laço, pois o campo magnético induzido no veículo tende a se opor ao campo magnético do laço indutivo (NISHIMOTO, 2006). O efeito ferromagnético tende a aumentar a indutância do sensor. Por terem o coeficiente de permeabilidade magnética maior que o coeficiente do ar, os materiais ferromagnéticos produzem um aumento de indutância. Todavia, geralmente o efeito do campo magnético induzido no veículo sobrepõe o efeito ferromagnético, e o sensor sofre um decréscimo de indutância (FULLERTON, KELL e MILLS, 1990). 2.2.2 Aplicações veiculares dos sensores indutivos Pode-se utilizar o sensor indutivo solitariamente (single loop detectors) ou em pares (double loop detectors). Os sensores utilizados em pares, também conhecidos como speed traps, permitem o cálculo da velocidade dos veículos com boa precisão. Equipamentos de monitoramento de velocidade, como as lombadas eletrônicas, usam esta técnica. A velocidade do veículo é calculada a partir da obtenção do tempo decorrido entre os acionamentos do primeiro e do segundo sensor. Como a distância entre os dois sensores é conhecida, a velocidade pode ser obtida através da equação básica da cinemática (Equação 7). V = d t (7) 21 onde: • d = distância entre os laços; • t = tempo decorrido entre os acionamentos do primeiro e segundo laço; Algumas técnicas de cálculo de velocidade utilizam o tempo entre os desacionamentos para melhorar a confiabilidade da medição. Desta maneira, são realizadas duas medições: uma utilizando o tempo entre os acionamentos e outra utilizando o tempo entre os desacionamentos (NISHIMOTO, 2006). Outros equipamentos utilizam três laços indutivos para minimizar os erros, realizando três medições. A velocidade é calculada entre o primeiro e o segundo sensor, entre o primeiro e o terceiro e entre o segundo e o terceiro. Caso a diferença entre as três velocidades calculadas seja superior a um limiar pré-determinado, a medição é descartada. Outra informação obtida com duplos sensores é o comprimento magnético do veículo. O comprimento é dito magnético pois com sensores indutivos é possível contabilizar apenas o comprimento das partes magnéticas do veículo, ou seja, das partes metálicas. Extensões de carrocerias de madeira após o término do chassi, por exemplo, não são detectadas. Com o conhecimento da velocidade e do tempo que o sensor permaneceu acionado, calcula-se o comprimento magnético do veículo utilizando a mesma equação do cálculo da velocidade (Equação 7). O comprimento obtido deve ser subtraído da dimensão do laço na direção longitudinal da pista, pois durante o tempo de acionamento do sensor o veículo percorre uma distância equivalente à soma do seu comprimento e da dimensão do laço na direção longitudinal da pista (ANDREOTTI, 2001). Os sistemas de apenas um sensor são utilizados em semáforos acionados sob demanda, controle de abertura de cancelas em estacionamentos, para realizar a contagem do fluxo, determinar a taxa de ocupação e a velocidade média na via. A velocidade média pode ser estimada com apenas um laço caso se saiba o comprimento médio dos veículos que trafegam por um determinado local (NISHIMOTO, 2006). 2.3 PERFIL MAGNÉTICO Unidades convencionais de controle de sensores indutivos enviam apenas um sinal binário que indica a presença ou a ausência de veículo sobre o sensor. Este sinal é enviado quando as alterações na indutância do sensor atingem um determinado limiar. Sistemas mais 22 avançados têm a capacidade de analisar o perfil magnético dos veículos. Perfil magnético é variação ao longo do tempo do sinal de saída da unidade de controle, proporcional à variação da indutância (Figura 17). A variação de indutância não é medida diretamente, porém se reflete na alteração de freqüência ou de amplitude no circuito de detecção (KI e BAIK, 2006; LEES, 2002). a) Carreta b) Carro de passeio Figura 17: Perfis magnéticos de uma carreta e de um carro de passeio. Na Figura 17, o eixo das abscissas representa o tempo e o eixo das ordenadas o sinal associado à variação da indutância do sensor. Quando não há presença de veículo sobre o sensor, o sinal do perfil magnético é constante ao longo do tempo, como pode ser verificado no início e no fim do gráfico da Figura 17b. Quando o veículo está sobre o sensor, há variações na indutância e consequentemente no sinal do perfil magnético. Vários fatores influenciam a amplitude de variação deste sinal, entre eles (GOODRIDGE, 2003): • O tamanho, geometria e condutividade do objeto que está sobre o sensor; • A orientação 3D do objeto com relação ao cabo do sensor; • A posição 3D do objeto sobre o sensor; • O tamanho e a geometria do sensor; • A freqüência nominal de operação do circuito de detecção. A variação da indutância é diretamente proporcional à área metálica sobre o sensor, e inversamente proporcional à distância desta área em relação ao sensor (GOODRIDGE, 2003). Os componentes metálicos do veículo que ficam mais próximos do sensor são a roda e a malha de aço contida nos pneus. Para as geometrias mais comuns de laços indutivos, como as retangulares, o campo magnético alcança uma altura acima do pavimento que atinge áreas metálicas maiores, as quais sobrepõem o efeito da maior distância em relação ao sensor e causam uma amplitude de 23 variação do perfil magnético maior que as rodas e os pneus. O assoalho dos veículos de passeio tem uma grande influência na variação de indutância do sensor, e como sua área de abrangência se estende por praticamente todo o veículo, o perfil magnético resultante é praticamente simétrico (Figura 17b). Já nos veículos que não possuem assoalho metálico em sua parte inferior, como os caminhões e as carretas, os componentes metálicos distribuídos ao longo de seus comprimentos produzem variações pontuais, que podem ser observadas na forma de picos no perfil magnético (Figura 17a). O perfil magnético também é uma ferramenta para cálculo de velocidade com duplos sensores. Os erros na medição se reduzem a um terço do erro padrão na convencional detecção por limiar (PURSULA e KOSONEN, 1989). Coletando-se simultaneamente o perfil magnético de dois laços separados de uma distância conhecida, são obtidas duas formas de onda semelhantes defasadas no tempo (Figura 18). Figura 18: Perfis magnéticos de duplos sensores. A defasagem entre as duas formas de onda é o tempo decorrido durante o trajeto do veículo entre os dois sensores. Se as curvas forem deslocadas de forma que fiquem sobrepostas, o deslocamento total para que ocorra esta sobreposição será equivalente ao tempo de trajeto do veículo (Figura 19). Um algoritmo de correlação pode ser utilizado para encontrar o ponto de melhor sobreposição das curvas (SMITH, 1999). Figura 19: Sobreposição dos perfis magnéticos para cálculo de velocidade. 24 2.3.1 Influência da geometria do sensor no perfil magnético Como mencionado anteriormente, a distribuição dos componentes metálicos do veículo determina seu perfil magnético. Da mesma maneira, as propriedades do campo magnético gerado pelo sensor indutivo têm grande influência no perfil magnético. De acordo com a geometria com que a bobina é formada, o campo magnético terá uma configuração espacial singular, e será mais sensível a determinados objetos do veículo. A densidade de fluxo magnético que atravessa perpendicularmente uma área de material condutivo é diretamente proporcional à corrente induzida e ao campo magnético opositor gerado (GOODRIDGE, 2003). Logo, o campo magnético do sensor deve ser direcionado para que intercepte as áreas de interesse a serem detectadas nos veículos. A escolha da geometria deve ser feita de acordo com a aplicação. Para detecção de bicicletas e motocicletas – que são estreitas, verticais, e tem menor massa metálica que os outros veículos – é desejável que a geometria do sensor seja tal que o campo magnético produzido tenha uma componente horizontal que atravesse o plano da motocicleta, como ilustrado na Figura 20 (SHANTEAU, 2007). Figura 20: Configuração ideal do campo magnético para detecção de motocicletas e bicicletas. A detecção dos veículos de quatro rodas é mais fácil devido à maior massa metálica. Todavia, sensores cuja geometria produz campos magnéticos verticais são melhores para detectar veículos mais altos, como os caminhões e utilitários. Outro fator limitante da escolha 25 de geometrias é a facilidade de implantação em campo, dado que formas curvas são difíceis de serem cortadas no pavimento. As geometrias de sensores comumente utilizadas geram dipolos ou quadrupolos magnéticos (Figura 21). Nos dipolos, as linhas de campo se somam no centro do laço, formando um magneto permanente orientado verticalmente (WATCHEL, 2000). Já nos quadrupolos, que geralmente tem formato de 8, em cada metade do laço os cabos são enrolados em sentidos opostos. Desta forma, a corrente elétrica circula em sentidos opostos nos segmentos externos (LEES, 2002), gerando dois dipolos de polaridades opostas posicionados lado a lado. Com isto, as linhas de campo se estendem horizontalmente do pólo norte de um dipolo para o pólo sul do outro (WATCHEL, 2000). Estas características fazem dos sensores dipolos mais sensíveis a objetos posicionados a maiores alturas em relação ao sensor, enquanto os quadrupolos são mais recomendados para detecção somente dos objetos mais próximos do sensor. a) Dipolo magnético b) Quadrupolo magnético Figura 21: Visualização das linhas de campo em dipolo e quadrupolo magnético. São encontrados na literatura estudos de geometrias para atender as necessidades específicas de cada aplicação (SHANTEAU, 2007; NISHIMOTO, 2006; WATCHEL, 2000; GADJA et al, 2001; GOODRIDGE, 2003). Nishimoto (2006) avaliou cinco geometrias de acordo com as necessidades de equipamentos de fiscalização eletrônica de velocidade (lombadas eletrônicas). As geometrias avaliadas foram: retângulo (Figura 22a), retângulo curto (Figura 22b), forma de Q (Figura 22c), oito deitado (Figura 22d) e paralelogramo (Figura 22e). 26 a) b) c) d) e) Figura 22: Geometrias de laço indutivo avaliadas por Nishimoto (2006). As características de interesse deste estudo foram (NISHIMOTO, 2006): • A capacidade de detectar motocicletas: Devido à pequena massa metálica das motocicletas em relação aos outros tipos de veículos, há dificuldades de detectá-las com precisão. • Obter melhor resolução do perfil magnético: A resolução é considerada neste caso como a quantidade de detalhes da estrutura do veículo que o perfil magnético consegue captar. • Reduzir o fenômeno de splash-over: Splash-over é a interação entre dois sensores instalados lado a lado em faixas de trânsito adjacentes. Quando um veículo passa sobre o sensor de uma das faixas, há uma falsa detecção de veículo na faixa adjacente. O afastamento do campo magnético das bordas do laço através do ajuste da geometria diminui este fenômeno. • Manter a indutância do sensor entre 80 µH e 120 µH: Devido a uma restrição do hardware utilizado nos ensaios. Os ensaios foram realizados em campo e através de simulações que utilizaram o software FastHenry (FASTHENRY, 2007), onde foi feita uma predição dos resultados da interação laço/veículo. Foram criados modelos 3D dos veículos (carro de passeio, motocicleta, ônibus e caminhão) e dos sensores indutivos. Para cada posição relativa do modelo de veículo sobre o modelo de sensor foi calculada pelo software a impedância complexa do conjunto. Os testes validaram a ferramenta de predição, revelando resultados semelhantes entre as simulações e os ensaios em campo (NISHIMOTO, 2006). 27 2.3.2 Classificação de veículos pelo perfil magnético Como cada tipo de veículo possui diferente altura do solo e diferente distribuição de suas peças metálicas, os perfis magnéticos também serão diferentes. Todavia, os perfis serão semelhantes para veículos de uma mesma categoria. Baseados neste princípio são desenvolvidos os sistemas de classificação de veículos através do perfil magnético, cujos estudos se iniciaram a partir da década de 1980 (CALIXTO, 2006). Para separação dos perfis magnéticos de acordo com a categoria do veículo, são utilizadas várias técnicas, como: redes neurais, sistemas fuzzy, coeficientes estatísticos, mapas auto-organizáveis, além de métodos híbridos (CALIXTO, 2006). Calixto (2006) apresentou um sistema que extrai coeficientes do perfil magnético do veículo, e através de um sistema fuzzy (ZADEH, 1965) classifica os veículos em 6 categorias pré-definidas (moto, carro, ônibus, caminhão, carreta e utilitário). Foram analisadas informações de cerca de vinte mil veículos para a escolha de coeficientes que possuíssem distribuições estatísticas agrupadas para cada categoria. Os coeficientes escolhidos foram: • Comprimento do veículo. • Amplitude média do perfil magnético. • Número de inversões da inclinação do perfil magnético. • Amplitude média dos pontos de máximo. • Variância do perfil magnético normalizada em amplitude. 2.4 GEOMETRIAS DE LAÇOS INDUTIVOS PARA CONTAGEM DE EIXOS Na patente norte-americana US 5.614.894, Stanczyk (1997) apresenta várias configurações de laços indutivos que podem ser utilizadas para contagem de eixos de veículos. O autor considera as seguintes características para as geometrias: • O formato preferencialmente é retangular, com indutância entre 40 e 700 µH. São enroladas de 1 a 10 espiras e é utilizado cabo isolado com área da seção transversal entre 0,2 e 3,0 mm2. 28 • A dimensão do sensor na direção do eixo longitudinal da pista (dimensão C, Figura 23) deve ser menor que o diâmetro da roda dos veículos a serem identificados. • A dimensão do sensor na direção transversal ao eixo da pista (dimensão L, Figura 23) é de 0,5 a 1,2 m. • Pode ser utilizado um ou dois sensores, posicionados na região onde passam as rodas dos veículos, como mostrado na Figura 23. Figura 23: Disposição do laço indutivo na faixa de rolamento. Na patente norte-americana US 6.337.640, Lees (2002) apresenta um sensor indutivo em formato de 8 para contagem de eixos. Nishimoto (2006) também utiliza em seu trabalho um sensor com este formato. Porém, há uma diferença na disposição dos laços exibidos nestes dois trabalhos. Lees (2002) posiciona o 8 longitudinalmente à pista, como mostrado na Figura 24. Nishimoto posiciona transversalmente, como mostrado na Figura 22d. Outro detalhe da geometria de Lees (2002) é que apenas as rodas de um dos lados do veículo passam sobre o sensor. 29 Figura 24: Laço em forma de 8 apresentado por Lees (2002). A geometria apresentada por Lees (2002) possui entre 100 e 140 cm na direção transversal ao eixo da pista, sendo 120 cm a medida mais recomendada, e entre 45 e 60 cm na direção do eixo da pista. Uma vantagem desta configuração é a pequena altura do campo magnético sobre a pista. O sensor é excitado para produzir um campo de não mais que 30 cm. Desta maneira, há pouca sensibilidade aos maiores volumes de metal do veículo, como motor e chassi. Em contrapartida, os laços respondem especificamente às rodas e ao metal contido nos pneus. Uma nova abordagem, denominada lâmina sensora (blade sensor), permitiu diferenciar as rodas do corpo do veículo no perfil magnético (RITCHIE et al, 2005). São utilizados dois circuitos RLC casados, cujas bobinas de indução são contidas dentro de uma única lâmina sensora, que é embutida no pavimento através de um corte de 0,5 cm de largura (Figura 25). A bobina sensora é orientada para a superfície do pavimento, e a bobina de referência para a base do corte. Como a bobina sensora fica mais próxima dos veículos que passam pela via, é mais sensibilizada que a bobina de referência. A coleta de dados é iniciada pela carga simultânea de ambos circuitos por um limiar de tensão através de uma função impulso, e então permitindo o decaimento assintótico para um nível de referência. Este sinal diferencial é amplificado e digitalizado, gerando o perfil magnético do veículo (Figura 26). Percebe-se entre os pontos 1 e 2 da Figura 26 um pico referente ao eixo dianteiro do veículo, e entre os pontos 3 e 4 outro pico referente ao eixo traseiro. Foram utilizadas duas lâminas sensoras espaçadas de 1,8m e inclinadas 20º em relação ao eixo transversal da pista (Figura 27). Verifica-se nesta abordagem que o sensor se estende 30 por mais de uma faixa de rolamento, inviabilizando a coleta de dados quando veículos trafegam lado a lado pela via. Figura 25: Instalação da lâmina sensora na pista. Figura 26: Perfil magnético gerado por um carro de passeio na lâmina sensora. Figura 27: Vista em planta da instalação da lâmina. 31 2.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Não existe atualmente um sistema de contagem de eixos de veículos que tenha um grande diferencial técnico sobre os outros. Os sensores mais utilizados são os piezoelétricos e de fibra ótica. Porém, como já citado, estes sensores também possuem problemas, como a vida útil relativamente curta, os danos causados ao pavimento para a instalação e imprecisão na detecção dos eixos. Como apresentado neste capítulo, existem na literatura alguns estudos relativos à detecção de eixos de veículos com sensores indutivos (STANCZYK, 1997; LEES, 2002, RITCHIE et al, 2005). Todavia, estes trabalhos se limitam a apresentar geometrias de sensores, sem detalhar o sistema de aquisição de dados, o algoritmo computacional para contagem de eixos, eventuais ensaios e os índices de aproveitamento. Esta dissertação busca aprofundar a discussão do tema, demonstrando as possibilidades da tecnologia baseada em sensores indutivos, detalhando os estudos, o sistema de aquisição de dados, os ensaios e os resultados. 32 33 CAPÍTULO 3 ESTUDOS DA INFLUÊNCIA DA GEOMETRIA DO SENSOR INDUTIVO PARA CONTAGEM DE EIXOS Neste capítulo são apresentados os estudos para seleção da geometria do sensor indutivo a ser utilizada no sistema de contagem de eixos de veículos. Preliminarmente à exposição do estudo, é feita uma descrição do hardware utilizado para aquisição do sinal digital proveniente dos sensores. Posteriormente, são apresentados os testes realizados com três geometrias pré-selecionadas, e os resultados obtidos. As três geometrias testadas foram escolhidas a partir de citações na literatura (GADJA et al, 2001; STANCZYK, 1997; NISHIMOTO, 2006; LEES, 2002), que as indicam como apropriadas para detecção de eixos de veículos. A partir dos resultados dos ensaios, é definida a escolha de uma das geometrias para compor o sistema de contagem de eixos a partir do perfil magnético do veículo. 3.1 SISTEMA DE AQUISIÇÃO DE DADOS O sistema de leitura dos laços indutivos utilizado neste trabalho, conhecido como placa detectora de veículos, foi apresentado por Andreotti (2001) e é de propriedade da empresa Perkons S.A. Este equipamento é capaz de coletar o perfil magnético de até quatro sensores indutivos a uma taxa de 1000 amostras por segundo, que garantem a riqueza de detalhes necessária à aplicação. O diagrama em blocos é apresentado na Figura 28. Figura 28: Diagrama em blocos da placa detectora. Neste sistema, o sinal do laço indutivo passa por um filtro passa-faixa que elimina freqüências fora do espectro de interesse. Posteriormente, um transformador isola os sensores indutivos da eletrônica da placa, elevando o sinal através da relação 16:1 das bobinas. O sinal 34 é então amplificado eletronicamente e digitalizado por um conversor A/D de 10 bits. Após a digitalização são executados filtros de software, e o resultado ao final deste processo é o perfil magnético do veículo. O perfil magnético é tratado por rotinas de software, que são executadas por um processador digital de sinais (Digital Signal Processor – DSP) da família C5000 da Texas Instruments. Este sistema embarcado se comunica com outros dispositivos através de uma interface serial. 3.2 GEOMETRIAS DE LAÇO INDUTIVO ESTUDADAS Foram instaladas em campo três geometrias de laços indutivos para comparação. A primeira (Tipo 1) é retangular com dimensão 0,25 m x 3,0 m, e suas 5 espiras resultaram em uma indutância de 98µH. Sua locação na faixa de rolamento é mostrada na Figura 29. Alguns trabalhos citam que a pequena dimensão na direção longitudinal da pista desta geometria pode permitir a detecção dos eixos dos veículos (GADJA et al, 2001; STANCZYK, 1997; NISHIMOTO, 2006). Figura 29: Posição do laço Tipo 1 na faixa de rolamento. A segunda geometria estudada possui uma forma mais complexa, chamada de Tipo 2. Seu formato pode ser descrito como um retângulo maior (0,5 m x 3,0 m) que contém dois retângulos menores (0,5 m x 0,5 m) em suas extremidades (Figura 30). Formato semelhante foi apresentado por Stanczyk (1997). Suas 6 espiras resultaram em uma indutância medida de 145µH. O objetivo deste formato foi concentrar a sensibilidade do laço na região por onde passam as rodas do veículo. 35 Figura 30: Posição do laço Tipo 2 na faixa de rolamento. A terceira geometria utilizada (Tipo 3) tem formato de 8 disposto longitudinalmente à pista (Figura 31). Suas dimensões (1,0 m x 0,5 m) foram definidas para que não haja a cobertura de toda a seção transversal da faixa de rolamento. Desta maneira o campo magnético ficará confinado apenas à região por onde passam as rodas de um dos lados do veículo. Formato semelhante foi sugerido por Lees (2002) para aplicações de contagem de eixos. Figura 31: Posição do laço Tipo 3 na faixa de rolamento. 3.3 COLETA DE DADOS EM CAMPO Para os testes em campo com as três geometrias apresentadas, foi utilizado o campo de provas da empresa Perkons. Este campo de provas situa-se na via marginal da BR-476 sentido sul, próximo ao cruzamento com a Av. Victor Ferreira do Amaral, em Curitiba-PR. Para instalação dos laços, foram realizados cortes no pavimento que permitam o enrolamento de várias geometrias diferentes. Após o enrolamento dos sensores, os cortes não 36 são selados, mas apenas tapados com areia. Desta forma, os laços podem ser retirados, os cortes limpos, e novos sensores instalados com outros formatos. O desenho dos cortes é mostrado na Figura 32. Na Figura 33 é mostrada a fotografia dos cortes no pavimento. Figura 32: Desenho dos cortes executados no pavimento para instalação de sensores. Figura 33: Fotografia dos cortes executados no pavimento para instalação de sensores. Foram coletadas imagens e os respectivos perfis magnéticos de veículos nas três configurações de laços. O objetivo dos ensaios foi verificar em qual dos laços o perfil magnético dos veículos apresenta maior proeminência dos eixos. Nas Figuras 34, 35 e 36 são apresentadas respectivamente para os laços Tipo 1, 2 e 3 as fotos e os perfis magnéticos de um carro de passeio pequeno. Figura 34: Foto e perfil magnético de um passeio pequeno - Laço Tipo 1. 37 Figura 35: Foto e perfil magnético de um passeio pequeno - Laço Tipo 2. Figura 36: Foto e perfil magnético de um passeio pequeno - Laço Tipo 3. Nos perfis magnéticos apresentados (Figuras 34, 35 e 36), a curva da esquerda representa o sinal do primeiro sensor, e curva da direita o segundo sensor. Os dois sensores são espaçados de 4m. O eixo das abscissas representa o tempo em ms e o eixo das ordenadas o sinal digital vinculado à variação da indutância. Verifica-se nestes perfis que para os carros de passeio apresentados, os eixos não são diferenciados das outras partes metálicas do veículo em nenhum dos sensores. Este comportamento se repetiu para outros modelos de carros de passeio. Os eixos não são diferenciados pois não notam-se picos nos gráficos devidos aos metais das rodas e dos pneus. Nas Figuras 37 (Tipo 1), 38 (Tipo 2) e 39 (Tipo 3) são apresentados perfis magnéticos de uma camionete. Nota-se que para esta categoria de veículo os sensores Tipo 1 e Tipo 2 não apresentam detalhes dos eixos. Já para o sensor Tipo 3, é possível distinguir claramente os dois eixos, destacados na Figura 39 pelos picos circulados. A distinção dos eixos com esta configuração de sensor não ocorreu nos veículos de passeio devido à menor altura do solo em relação às camionetes. A disposição horizontal do campo magnético do laço Tipo 3, não 38 alcança com grande intensidade a carroceria das camionetes, ao contrário do que ocorre nos veículos de passeio. Desta maneira, as rodas e a malha de aço dos pneus são os principais componentes detectados nas camionetes pelo laço Tipo 3, como ilustrado na Figura 40. O campo magnético vertical dos laços Tipos 1 e 2 atinge em ambos os veículos áreas metálicas maiores, sobrepondo a menor distância das rodas em relação aos sensores e mascarando os detalhes necessários a este estudo. Figura 37: Perfil magnético de uma camionete - Laço Tipo 1. Figura 38: Perfil magnético de uma camionete - Laço Tipo 2. 39 Figura 39: Perfil magnético de uma camionete - Laço Tipo 3. Figura 40: Campo magnético intenso atinge assoalho dos veículos de passeio devido à menor altura do solo, diferentemente das camionetes. Nas Figuras 41 (Tipo 1), 42 (Tipo 2) e 43 (Tipo 3) têm-se os perfis magnéticos de um caminhão de dois eixos. Para este exemplo, os laços Tipos 2 e 3 apresentaram melhores resultados. Percebe-se que na Figura 42 (Tipo 2), os dois picos têm amplitudes semelhantes. Da mesma maneira, no sensor Tipo 3 os eixos também podem ser facilmente detectados, inclusive com menos ruídos no perfil magnético na região entre eixos. Já no laço Tipo 1 (Figura 41), a amplitude do segundo pico (eixo traseiro) é significativamente menor que a do primeiro, com vários pequenos picos na região entre eixos. 40 Figura 41: Perfil magnético de um caminhão de dois eixos - Laço Tipo 1. Figura 42: Perfil magnético de um caminhão de dois eixos - Laço Tipo 2. Figura 43: Perfil magnético de um caminhão de dois eixos - Laço Tipo 3. Os dados coletados de outros caminhões de dois eixos não seguiram exatamente os padrões das Figuras 41, 42 e 43. Isto significa que em alguns veículos os picos provocados pelos dois eixos podem ser visualizados claramente nos perfis magnéticos adquiridos do 41 sensor Tipo 1. Em outros casos, perfis deste tipo de veículo adquiridos dos sensores Tipos 2 e 3 não apresentaram os picos referentes aos eixos. A Tabela 2 resume para os três sensores os índices de perfis magnéticos de caminhões de dois eixos onde é possível visualizar claramente os picos provocados pelas rodas. Tabela 2: Índice de visualização dos eixos no perfil magnético – Caminhões de 2 eixos. Sensor No. de imagens analisadas Perfis magnéticos onde os Aproveitamento dois picos referentes aos eixos são visualizados Tipo 1 79 42 53,2% Tipo 2 72 69 95,8% Tipo 3 127 125 98,4% As Figuras 44, 45 e 46 ilustram os perfis magnéticos de caminhões de três eixos respectivamente nos laços Tipos 1, 2 e 3. Nota-se na Figura 44 (Tipo 1) a existência de picos positivos referentes aos dois eixos traseiros. Picos positivos também ocorreram nos sensores Tipos 2 e 3. Isto se deve ao efeito ferromagnético das grandes massas metálicas dos veículos, que possuem menor resistência ao fluxo magnético que o ar, e causam um acréscimo de indutância. Como mencionado no Capítulo 2, geralmente o efeito das correntes de Eddy sobrepõe o efeito ferromagnético. Todavia, em alguns casos, peculiaridades estruturais e geométricas dos veículos fazem com que em algumas de suas seções, o efeito ferromagnético sobreponha o efeito das correntes de Eddy. Na Figura 44 (Tipo 1), observa-se que o eixo dianteiro não se distingue dos outros materiais metálicos da cabine do caminhão, onde se forma um pequeno pico negativo seguido de uma região plana com amplitude semelhante a do pico. Já na Figura 45 (Tipo 2), não é possível visualizar uma separação entre os dois eixos traseiros. Uma característica importante do perfil magnético do caminhão de três eixos no sensor Tipo 3 (Figura 46), é a grande região sem variações no sinal entre o eixo dianteiro e os eixos traseiros. Isto confirma a menor altura de sensibilidade deste sensor, onde somente os metais das rodas e dos pneus produzem alterações na indutância do laço. Todavia, este grande intervalo de tempo onde o sinal tem derivada nula, indica ao algoritmo de detecção da unidade de controle que não há nenhum veículo sobre o sensor. Desta maneira, outra geometria de laço indutivo que tenha uma maior altura de sensibilidade deve ser utilizada em conjunto com o sensor Tipo 3 para realizar a detecção do veículo. 42 Figura 44: Perfil magnético de um caminhão de 3 eixos - Laço Tipo 1. Figura 45: Perfil magnético de um caminhão de 3 eixos - Laço Tipo 2. Figura 46: Perfil magnético de um caminhão de 3 eixos - Laço Tipo 3. 43 Para os ônibus de linha, nos laços Tipos 1 e 2 (Figuras 47 e 48), o efeito da chapa que compõe o assoalho na parte inferior destes veículos supera a variação da indutância causada pelos eixos e rodas. Isto ocorre devido à pequena altura do bagageiro destes ônibus em relação ao solo, e mais uma vez evidencia a grande altura de sensibilidade dos sensores Tipos 1 e 2. Na Figura 49 (Tipo 3), se observam claramente os picos positivos referentes aos três eixos do veículo, e a pequena influência do assoalho no perfil magnético, resultando em uma região plana entre o eixo dianteiro e os dois eixos traseiros. Fica evidente que para este modelo de veículo a geometria Tipo 3 apresenta uma eficiência superior às outras geometrias. Figura 47: Perfil magnético de um ônibus de 3 eixos – Laço Tipo 1. Figura 48: Perfil magnético de um ônibus de 3 eixos – Laço Tipo 2. 44 Figura 49: Perfil magnético de um ônibus de 3 eixos – Laço Tipo 3. As Figuras 50 (Tipo 1), 51 (Tipo 2) e 52 (Tipo 3) ilustram os perfis magnéticos de carretas de 5 eixos. Os melhores resultados para esta categoria de veículos foram obtidos pelos sensores Tipos 1 e 3. No sensor Tipo 2 (Figura 51), não é possível visualizar nem os eixos da carreta (os três eixos traseiros), onde não há grandes áreas de metal excetuando-se as rodas, e nem os eixos do cavalo mecânico (dois eixos dianteiros). No sensor Tipo 1 (Figura 50), em algumas seções do cavalo mecânico são produzidos picos não referentes a eixos, como um pequeno pico positivo situado imediatamente antes do pico negativo referente ao eixo traseiro do cavalo mecânico. Já os eixos da carreta são claramente visualizados, inclusive o eixo dianteiro que está suspenso, detectado com uma amplitude menor. Mais uma vez o sinal de melhor qualidade foi obtido com o sensor Tipo 3 (Figura 52). Nota-se que somente as rodas produzem perturbações no sinal. A amplitude do pico referente ao eixo dianteiro do cavalo mecânico é nitidamente inferior à dos outros picos. Isto se deve ao fato de os outros eixos possuírem rodado duplo. 45 Figura 50: Perfil magnético de uma carreta de 5 eixos – Laço Tipo 1. Figura 51: Perfil magnético de uma carreta de 5 eixos – Laço Tipo 2. Figura 52: Perfil magnético de uma carreta de 5 eixos – Laço Tipo 3. No sensor Tipo 3, os eixos suspensos de caminhões e carretas ou não são detectados, ou produzem uma leve perturbação no perfil magnético, dependendo da altura que se 46 encontram do solo. Quando um eixo da carreta é suspenso, a altura em relação ao solo pode ser ajustada. Quanto maior a altura, menor será a sensibilização. Na Figura 53, é apresentado o perfil magnético de um caminhão de 3 eixos com um eixo suspenso, onde o eixo suspenso não produz um pico, apenas uma queda mais suavizada do sinal (destacada pela região circulada) . Figura 53: Caminhão de três eixos com eixo suspenso – Laço Tipo 3. Na Figura 54, é apresentado o perfil magnético de uma carreta de 5 eixos com um eixo suspenso, que produz um pequeno pico no perfil magnético. Figura 54: Carreta de cinco eixos com eixo suspenso – Laço Tipo 3. 3.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Os estudos e ensaios de campo indicaram que a geometria de sensor indutivo em formato de 8 (Tipo 3) possui as características mais apropriadas para detecção de eixos de veículos. Os perfis magnéticos adquiridos com as outras duas geometrias de laços não 47 demonstraram, na maioria dos testes, a capacidade de sensibilizar apenas os componentes dos veículos de interesse da aplicação. A natureza do campo magnético gerado por estes dois sensores faz com que sejam atingidos outros componentes metálicos do veículo, resultando em um perfil magnético onde o metal das rodas causa uma redução de indutância de menor intensidade em relação às reduções de indutância causadas por peças localizadas a uma maior altura do solo. Com base nestes dados, foi definida a utilização do sensor Tipo 3 para composição do sistema proposto. 48 49 CAPÍTULO 4 SISTEMA PROPOSTO Com base nos dados apresentados no capítulo anterior, o sistema proposto utiliza um sensor indutivo Tipo 3, trabalhando em conjunto com dois sensores retangulares (Figura 55). Figura 55: Disposição dos laços indutivos na pista. Os dois sensores maiores, de formato retangular, realizam as seguintes funções no sistema: • Cálculo da velocidade; • Cálculo do comprimento magnético; • Detecção de motocicletas; • Detecção de veículos trafegando entre pistas; • Determinação do início e do fim do perfil magnético no sensor de contagem de eixos. A maior altura de sensibilidade (detecção de metais a maiores alturas do solo) e a melhor cobertura da seção transversal da pista, possibilitam que a geometria retangular obtenha uma maior precisão nas tarefas descritas acima. Os sensores retangulares também são responsáveis pela determinação do início e do fim do perfil magnético. Nas regiões entre os eixos de veículos com chassi alto, como as carretas, o laço em formato de 8 não é 50 sensibilizado, ocasionando a falsa impressão de que não há veículo sobre o sensor. Este sensor em formato de 8 é posicionado entre os dois sensores retangulares, exclusivamente para a aquisição de perfil magnético para contagem de eixos. Os perfis magnéticos provenientes dos laços indutivos são processados por um software embarcado no sistema de aquisição de dados apresentado na seção 3.1. Este sistema computacional embarcado, descrito a seguir, analisa o perfil magnético adquirido do sensor em formato de 8 e realiza a contagem dos eixos. 4.1 SISTEMA COMPUTACIONAL BASEADO EM MÁQUINA DE ESTADOS O sistema computacional para contagem de eixos utiliza como variáveis além do perfil magnético, a velocidade e o comprimento do veículo. O algoritmo é acionado apenas para veículos de comprimento igual ou superior a 6m. Veículos com comprimento inferior a 6m são considerados de dois eixos. O algoritmo utilizado neste sistema varre o perfil magnético do veículo, realizando uma análise de basicamente dois parâmetros: o sinal da variação temporal e a diferença de amplitude do perfil magnético em relação ao perfil do laço sem veículo. Cada alteração nestes parâmetros é considerada como um evento discreto, que por sua vez é utilizado como entrada para uma máquina de estados. Na máquina de estados são tomadas decisões e executadas ações, cujo resultado final pode ser o incremento de uma unidade no número de eixos do perfil magnético analisado. Sistemas de eventos discretos (SED) são um tipo especial de sistemas dinâmicos. O estado destes sistemas muda apenas em instantes discretos de tempo, e o termo “evento” é utilizado para representar a ocorrência de mudanças descontínuas. O comportamento destes sistemas é modelado através de suas trajetórias, listando os eventos que ocorrem ao longo de um determinado caminho. As trajetórias devem satisfazer algumas propriedades, tais como: estabilidade, convergência, ordenamento correto dos eventos, deadlock, etc (KOSECKÁ, 1992). A modelagem dos SED pode ser feita utilizando alguma estrutura de transição (autômatos, redes de Petri), através de equações algébricas, ou por lógica temporal. Neste trabalho foi utilizado um autômato finito, ou máquina de estados finita. Uma máquina de estados finita é um modelo de comportamento composto de um número finito de estados, transições entre estes estados, e ações. 51 4.1.1 Parâmetros analisados no perfil magnético 4.1.1.1 Derivada Como mencionado anteriormente, o perfil magnético do veículo é constituído de valores digitais capturados com intervalo de 1 ms, cuja amplitude varia em uma escala de 0 a 4095. Para o cálculo da derivada em um determinado ponto do perfil magnético, é subtraída da amplitude neste ponto, a amplitude no ponto lido há 6ms, conforme Equação 8. di = ai – ai-6 (8) onde: • di = derivada no ponto i; • ai = amplitude do perfil magnético no ponto i; • ai-6 = amplitude do perfil magnético no ponto i-6. São considerados três estados para o valor da derivada: zero, positivo e negativo. Não somente o valor da derivada em um ponto específico é utilizado para determinar este estado. Para que a derivada seja considerada positiva na região em análise do perfil magnético, o valor di deve ser positivo, superior a um limiar, e manter esta condição por 10 pontos consecutivos. Para que a derivada seja considerada negativa, di deve ser negativo, inferior ao valor negativo do mesmo limiar, e também manter esta condição por 10 pontos consecutivos. Caso o valor absoluto de di seja menor ou igual ao limiar em questão por 4 pontos consecutivos, a derivada é considerada zero. 4.1.1.2 Diferença de amplitude em relação ao sinal do laço sem veículo A variação do perfil magnético, positiva ou negativa em relação ao valor de referência (quando não há veículo sobre o sensor), é o outro parâmetro analisado pelo sistema computacional. O valor digital do sinal momentos antes da entrada do veículo sobre o laço é armazenado (Figura 56). Este valor é utilizado como referência para a análise subseqüente do perfil magnético. 52 Figura 56: Nível de referência, capturado momentos antes da entrada do veículo sobre o sensor. Para a determinação do estado do sinal em um ponto qualquer do perfil magnético, é subtraído do nível do sinal neste ponto, o valor de referência. Caso o resultado desta subtração seja maior que 50, o valor do sinal é considerado positivo. Por outro lado, se o resultado for menor que -50, o valor do sinal é negativo. Se o resultado estiver entre 50 e -50, o valor do sinal é zero (Figura 57). Figura 57: Regiões do perfil magnético onde o valor do sinal é considerado zero, positivo e negativo. 53 4.1.2 Método de avaliação dos parâmetros do perfil magnético Cada alteração no estado dos parâmetros avaliados no perfil magnético é tratada como um evento discreto. No total, seis eventos podem ser gerados: • Valor do sinal é positivo (S+); • Valor do sinal é negativo (S-); • Valor do sinal é zero (S0); • Derivada é positiva (D+); • Derivada é negativa (D-); • Derivada é zero (D0). O exemplo da Figura 58 indica os pontos onde ocorrem em um perfil magnético a seguinte seqüência temporal de eventos: D-, S-, D0, D+, S0, D0, D+, S+, D0, D-, S-, D0, D+, S0, D0. Figura 58: Seqüência temporal de eventos em um perfil magnético. Os eventos gerados são as entradas de uma máquina de estados, que toma decisões de acordo com a seqüência das ocorrências. As variações positivas e negativas no perfil magnético são tratadas pelo sistema em uma única máquina de estados. De acordo com o evento ocorrido quando a máquina está em seu estado inicial, é definido o sentido de variação do perfil magnético. O sentido de variação que o sistema está interpretando também pode ser alterado nos estados intermediários da máquina, conforme detalhamentos a seguir. 54 Em uma variação positiva, a entrada da roda do veículo sobre o sensor produz uma derivada positiva, e consequentemente o valor do sinal se torna positivo em relação ao nível de referência. Já em uma variação negativa, a entrada do veículo produz uma derivada negativa e o sinal se torna negativo. Pode-se então definir as seguintes equivalências entre os eventos gerados por variações positivas e por variações negativas: Tabela 3: Eventos equivalentes nas variações positivas e negativas. Variação Positiva Variação Negativa Derivada negativa Derivada positiva Derivada positiva Derivada negativa Nível do sinal positivo Nível do sinal negativo A seqüência de eventos básica para contabilização de um eixo em uma variação negativa causada por um único eixo, como a exibida na Figura 59, é: • 1º. - derivada negativa: D-; • 2º. - valor do sinal negativo: S-; • 3º. - derivada zero: D0; • 4º. - derivada positiva: D+; • 5º. - valor do sinal zero: S0; • 6º. - derivada zero: D0. 2900 2850 2800 2750 2700 2650 2600 1 22 43 64 85 106 127 148 169 190 211 232 253 274 295 Figura 59: Variação negativa causada por um único eixo. 55 Para adaptar esta seqüência a uma variação positiva, basta substituir os eventos relacionados na coluna “Variação Negativa” da Tabela 3 aos seus correspondentes da coluna “Variação Positiva” da mesma tabela. Existem ainda outras duas seqüências básicas de eventos que são consideradas para a contagem de eixos. Estas seqüências são relativas a eixos que são posicionados muito próximos, em duas ou mais unidades, como conjuntos de eixos traseiros de ônibus, caminhões e carretas (Figura 60). Figura 60: Exemplo de conjunto de eixos posicionados muito próximos. Os eixos com esta configuração produzem dois formatos de perfis magnéticos. Em um dos formatos há variação invertida, ou seja, um dos eixos produz variação positiva e o outro negativa (Figura 61). Já no outro formato os dois eixos adjacentes produzem o mesmo tipo de variação, seja positiva ou negativa (Figura 62). 2900 2800 2700 2600 2500 2400 1 17 33 49 65 81 97 113 129 145 161 177 193 209 225 241 257 Figura 61: Perfil magnético onde dois eixos adjacentes produzem variações invertidas. 56 4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500 0 1 16 31 46 61 76 91 106 121 136 151 166 181 196 211 226 241 Figura 62: Perfil magnético onde dois eixos adjacentes produzem variações no mesmo sentido. No caso das variações invertidas, a seguinte seqüência de eventos deve ocorrer para que os dois eixos sejam contabilizados: • 1º. - derivada positiva: D+; • 2º. - valor do sinal positivo: S+; • 3º. - derivada zero: D0; • 4º. - derivada negativa: D-; • 5º. - valor do sinal zero: S0; • 6º. - valor do sinal negativo: S-; • 7º. - derivada zero: D0; • 8º. - derivada positiva: D+; • 9º. - valor do sinal zero: S0; • 10º. - derivada zero: D0. Já para o caso das variações no mesmo sentido, a seguinte seqüência é esperada: • 1º. - derivada positiva: D+; • 2º. - valor do sinal positivo: S+; • 3º. - derivada zero: D0; • 4º. - derivada negativa: D-; • 5º. - derivada zero: D0; • 6º. - derivada positiva: D+; • 7º. - derivada zero: D0; 57 • 8º. - derivada negativa: D-; • 9º. - valor do sinal zero: S0; • 10º. - derivada zero: D0; Após o término destas seqüências de eventos, algumas propriedades do pico no perfil magnético devem ser satisfeitas para que seja considerado um eixo. As propriedades analisadas são: • Largura do pico em metros: Calculado através do tempo de início e de fim de cada pico, utilizando a velocidade do veículo. A largura do pico deve ser superior a um valor mínimo e inferior a um valor máximo. • Largura da derivada zero no ponto de inversão da derivada: Quando há a inversão da inclinação da curva, a derivada permanece com valor zero por alguns instantes. A largura da derivada zero é calculada através da multiplicação deste tempo com a velocidade do veículo, e deve ser inferior a um valor máximo admitido. • Distância entre eixos: A partir da detecção do primeiro eixo no perfil magnético, a localização dos próximos eixos deve obedecer a uma distância mínima. Esta distância mínima é maior para o segundo eixo, e menor para os eixos subseqüentes. O ponto de início do pico é definido no momento que a máquina de estados deixa o seu estado inicial (em variações negativas devido aos eventos D- ou S-), ou quando ocorre a inversão de sentido de variação do perfil magnético em estados intermediários (transição do estado 6 para o estado 3, ou do estado 7 para o estado 3). Já o ponto de fim de pico é assinalado quando ocorre o evento S0 e a máquina se encontra no estado 4 ou no estado 5, ou quando ocorre a transição do estado 5 para o estado 7 (evento D0). A Figura 63 ilustra o início e o fim dos picos de um perfil magnético. 58 Figura 63: Marcações de início e fim de pico no perfil magnético. A distância entre eixos é calculada através dos pontos de fim de pico. Pelo perfil magnético da Figura 63 é possível perceber que a distância entre o primeiro e o segundo eixo é significativamente maior que a distância entre o segundo e o terceiro eixo. O sistema restringe a distância mínima entre o primeiro e o segundo eixo, com a finalidade de não contabilizar algumas variações no perfil magnético produzidas pelas cabines de caminhões e ônibus, como a ilustrada na Figura 64. 4200 4000 3800 3600 3400 3200 3000 1 154 307 460 613 766 919 1072 1225 1378 1531 1684 1837 1990 Figura 64: Perfil magnético com destaque para o pico provocado pela cabine do veículo. A Figura 65 mostra o diagrama simplificado (apenas para variações negativas) da máquina de estados do sistema de contagem de eixos. A determinação do sentido da variação do perfil magnético é realizada quando a máquina de estados se encontra em seu estado inicial (estado 0). Caso ocorra um evento derivada negativa (D-) ou valor do sinal negativo (S-) quando a máquina estiver em seu estado inicial, o sentido de variação é considerado negativo. Caso no estado inicial ocorra um evento derivada positiva (D+) ou valor do sinal positivo (S+), o sentido de variação é considerado positivo. 59 As Tabelas 4 e 5 apresentam respectivamente a transição de estados do sistema para variações negativas e positivas. Nestas tabelas, as indicações “inv” significam inversão do sentido de variação do sinal. Caso o sistema esteja tratando os eventos como uma variação negativa do sinal, deve começar a tratá-los como uma variação positiva, e vice-versa. Já as indicações “av” significam que o ciclo de eventos de um pico foi completado, e suas propriedades devem ser avaliadas para sua efetiva contabilização. Figura 65: Diagrama da máquina de estados baseada em eventos. Tabela 4: Tabela de transição de estados para variações negativas. Estado/ Evento D0 0 1 2 3 4 5 6 7 ... 0 0 4 0 7 0 (av) 0 D- 1 0 3 0 3 0 0 5 D+ 1 (inv) 0 1 (inv) 0 5 0 0 0 S0 ... ... 0 0 0 (av) 6 0 0 (av) S- 2 3 0 0 0 0 0 0 S+ 2 (inv) 0 0 0 0 0 3 (av) (inv) 0 60 Tabela 5: Tabela de transição de estados para variações positivas. Estado/ Evento D0 0 1 2 3 4 5 6 7 ... 0 0 4 0 7 0 (av) 0 D- 1 (inv) 0 1 (inv) 0 5 0 0 0 D+ 1 0 3 0 3 0 0 5 S0 ... ... 0 0 0 (av) 6 0 0 (av) S- 2 (inv) 0 0 0 0 0 3 (av) (inv) 0 S+ 2 3 0 0 0 0 0 0 4.2 CONSIDERAÇÕES FINAIS A solução computacional por máquina de estados foi adotada devido à natureza e às possibilidades de solução do problema. O fato de o sistema ser embarcado e em tempo real, com um hardware limitado em relação aos PCs, exige um baixo custo computacional. No algoritmo apresentado, são analisados apenas dois parâmetros do perfil magnético, parâmetros estes que não submetem o processador a operações de alta complexidade. A eficiência desta solução é dependente da qualidade do sinal obtido junto aos laços indutivos, de tal forma que eventuais ruídos e a sensibilização de partes metálicas do veículo que não sejam de interesse da aplicação prejudicam o sistema. 61 CAPÍTULO 5 RESULTADOS E CONCLUSÕES 5.1 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS Para medição dos resultados obtidos pelo sistema de contagem de eixos, foram utilizados 344 perfis magnéticos, sendo 247 de caminhões, 17 de carretas e 80 de ônibus. Estes dados foram coletados no campo de provas da empresa Perkons. Após a coleta dos dados, o sistema computacional, desenvolvido em PC, foi melhorado e calibrado até atingir os índices apresentados. A via onde foi instalado o sistema de aquisição, por ser pública, e por suas características geométricas, permite que os veículos tenham liberdade para não passar pela região ótima de detecção dos sensores indutivos. Logo, apesar de durante a coleta dos dados o tráfego ter sido canalizado utilizando cones de sinalização, a exata posição de passagem dos veículos sobre os sensores não foi controlada. A velocidade média dos caminhões cujos perfis magnéticos foram analisados foi de 40,8 km/h, das carretas de 41,4 km/h e dos ônibus de 44,1 km/h. Os histogramas ilustrados na Figura 66 apresentam a distribuição destas velocidades. 9 120 35 8 100 30 7 25 6 80 60 40 5 20 4 15 3 10 2 20 5 1 0 0 0 30 40 50 a) Caminhões 60 Mais 30 40 50 b) Carretas 60 Mais 30 40 50 60 Mais b) Ônibus Figura 66: Histograma de velocidades de caminhões, carretas e ônibus. As Tabelas 6 e 7 apresentam respectivamente a quantidade de veículos pelo número de eixos e a proporção de veículos por número de eixos em relação ao total de perfis magnéticos. 62 Tabela 6: Quantidade de veículos por número de eixos. 2 eixos 3 eixos 4 eixos 5 eixos 6 eixos Total Caminhões 210 37 - - - 247 Carretas - - 5 8 4 17 Ônibus 30 50 - - - 80 Tabela 7: Proporção de veículos por número de eixos. 2 eixos 3 eixos 4 eixos 5 eixos 6 eixos Total Caminhões 85,0% 15,0% - - - 100% Carretas - - 29,4% 47,1% 23,5% 100% Ônibus 37,5% 62,5% - - - 100% O conjunto de imagens e respectivos perfis magnéticos foi analisado pelo sistema computacional, que gerou um relatório associando o nome do arquivo e o número de eixos que o software contabilizou. Os dados deste relatório foram confrontados com as imagens dos veículos, meio utilizado para se verificar o real número de eixos dos veículos, obtendo-se assim o índice de aproveitamento. A Tabela 8 apresenta o índice de acerto na contagem de eixos por categoria e total. Tabela 8: Índice de acerto por categoria e total. Total de veículos Total de acertos Índice de acerto Caminhões 247 237 95,6% Carretas 17 14 82,4% Ônibus 80 75 93,8% TOTAL 344 326 94,8% A Tabela 9 apresenta o índice de acerto discriminado por categoria e por número de eixos. 63 Tabela 9: Índice de acerto por categoria e por número de eixos. Caminhões Total de veículos Total de acertos Índice de acerto 2 eixos 210 204 97,1% 3 eixos 37 33 89,2% Carretas Total de veículos Total de acertos Índice de acerto 4 eixos 5 4 80% 5 eixos 8 6 75% 6 eixos 4 4 100% Ônibus Total de veículos Total de acertos Índice de acerto 2 eixos 30 27 90% 3 eixos 50 48 96% A Tabela 10 detalha qual o número de eixos detectado pelo sistema, apresentando as categorias subdivididas por número de eixos. Sua interpretação deve ser feita da seguinte maneira: De um total de 30 ônibus de 2 eixos, 27 foram detectados corretamente pelo sistema como sendo de 2 eixos, e 3 foram detectados incorretamente como sendo de 3 eixos. Tabela 10: Detalhamento do número de eixos detectado pelo sistema por categoria de veículo. Eixos detectados 1 2 3 4 5 6 Total Ônibus 2 eixos - 27 3 - - - 30 Ônibus 3 eixos - 1 48 - 1 - 50 Caminhão 2 eixos 4 204 2 - - - 210 Caminhão 3 eixos - 4 33 - - - 37 Carreta 4 eixos - - - 4 - 1 5 Carreta 5 eixos - - - 2 6 - 8 Carreta 6 eixos - - - - - 4 4 Veículo 5.2 ANÁLISE DOS RESULTADOS Os resultados apresentados neste trabalho atestaram a viabilidade dos sensores indutivos para aplicações de contagem de eixos de veículos. O princípio do sistema proposto 64 possui condições para ser implantado comercialmente, seja para geração de estatísticas ou como uma ferramenta em aplicações de tarifação automática em praças de pedágio. Os dados que geraram os resultados foram obtidos somente em um local, com perfil de tráfego predominantemente urbano e velocidade média se situando por volta de 40 km/h. É necessário que o sistema seja posto à prova em locais com diferentes condições, sejam elas mais controladas, como em praças de pedágio, onde as características geométricas da via permitem um controle maior sobre a passagem dos veículos sobre os sensores; ou em rodovias de trânsito livre. Em vias com velocidade média muito distante da aferida nos veículos deste estudo, possivelmente seja necessária uma calibração dos parâmetros do sistema computacional, como os limiares que definem o valor da derivada e o estado do sinal (positivo, negativo ou zero). A maioria dos erros observados na contagem de eixos, pode ser atribuída à não passagem dos veículos sobre a região ótima de detecção dos sensores indutivos. Notou-se uma grande diferença de amplitude de variação do perfil magnético em veículos de características semelhantes. Na Figura 67a, observa-se uma carreta de 6 eixos cuja amplitude máxima de variação do perfil magnético é de cerca de 600 pontos. Na Figura 67b, tem-se um veículo semelhante que provocou 1800 pontos de variação no sinal digital do sistema de aquisição de dados. Esta disparidade se dá devido à posição de passagem das rodas dos veículos sobre os sensores. a) Amplitude de 600 pontos b) Amplitude de 1800 pontos Figura 67: Diferença de amplitude do perfil magnético em veículos de características semelhantes. As grandes diferenças de amplitude também foram observadas entre o primeiro e o segundo laços, em casos onde o veículo está mudando de faixa de rolamento enquanto está 65 sobre os sensores. Poucos centímetros de diferença na posição relativa das rodas sobre o sensor causam a diferença de amplitude observada na Figura 68. Figura 68: Diferença de amplitude do perfil magnético entre o primeiro e o segundo laço. Devido às diferenças de amplitude, o sistema computacional foi adaptado para trabalhar em todas as condições: perfis magnéticos de altas e baixas amplitudes. Porém, ajustar o software para detectar eixos em variações de baixa amplitude, deixa o sistema com menor imunidade a ruídos ou a pequenas variações causadas por outras partes metálicas que não sejam as rodas. Alguns erros ocorreram devido a contagem incorreta de pequenos picos produzidos por pára-choques traseiros de caminhões ou pelo assoalho de ônibus, que foram contabilizados como eixos (Figura 69). Figura 69: Pequenos picos produzidos pelo assoalho de um ônibus que geram falsas detecções de eixos. 66 5.3 CONCLUSÕES O sistema de sensores indutivos possui algumas vantagens sobre os sistemas usualmente utilizados para contagem de eixos. Como uma das principais, pode-se citar a tecnologia continuamente desenvolvida pela academia e indústria nacionais, fator que possibilita a incorporação da funcionalidade de contagem de eixos em conjunto com outras funcionalidades já utilizadas. Praticamente a totalidade dos equipamentos fixos de medição de velocidade de veículos atualmente em operação no país, utiliza sensoriamento indutivo. Os sensores indutivos também possuem baixo custo de instalação se comparados com outras tecnologias. Se instalados com materiais adequados, possuem grande durabilidade. A boa durabilidade dos laços, que geralmente está atrelada à vida útil do pavimento, é uma das vantagens dos laços indutivos em relação aos sensores piezoelétrico e de fibra ótica, que são constantemente submetidos a estresse mecânico, e se deterioram rapidamente. Por não realizar a detecção de eixos por ação mecânica, os sensores indutivos não possuem o inconveniente de gerarem falsos acionamentos por vibrações causadas por veículos pesados trafegando em faixas de rolamento adjacentes às que possuem sensores instalados. Este tipo de problema é comum principalmente em sensores piezoelétricos. Já as barreiras óticas, não são apropriadas para utilização em vias com mais de uma faixa de rolamento. Também não são recomendadas em locais não vigiados, onde estas barreiras podem ser facilmente vandalizadas, encobertas pela vegetação ou por outros corpos. Puderam-se observar nos dados coletados neste trabalho, que o sensor utilizado para contagem de eixos não apresenta problemas de splash over, que é a falsa detecção de veículos em faixas adjacentes. A desvantagem deste sensor é justamente oposta. Os veículos devem trafegar sobre uma pequena região sensível dos laços, caso contrário a qualidade do sinal obtido pelo perfil magnético decai de qualidade e prejudica a correta detecção dos eixos. Desta maneira, conclui-se que o sistema proposto tem sua eficiência maximizada em situações controladas, como guaritas, postos de pedágio, postos de pesagem e outros locais com tráfego canalizado. Vias urbanas não são recomendadas para a instalação do sistema. Em congestionamentos, onde os veículos permanecem parados sobre os sensores, o cálculo da velocidade fica prejudicado, aumentando a probabilidade de ocorrência de erros. O cálculo preciso da velocidade é fundamental para a determinação de parâmetros restritos (largura do pico, largura da derivada zero e distância entre eixos) para a assunção de um pico como um 67 eixo. A utilização do sistema em vias de trânsito livre é viável para geração de estatísticas. Os resultados apresentados foram obtidos nestas condições e atestaram aproveitamento total de cerca de 95%. Por fim, conclui-se que foi obtido sucesso no desenvolvimento deste trabalho, pois o princípio do sistema – contagem de eixos por sensores indutivos – demonstrou ser uma alternativa viável e alcançou os objetivos propostos. 5.4 TRABALHOS FUTUROS Como mencionado anteriormente, os dados para o desenvolvimento do sistema e aferição dos resultados foram coletados em apenas um local, com velocidades médias típicas de ambientes urbanos, e condições de passagem dos veículos sobre os sensores pouco controladas. Os índices de acerto alcançados pelo sistema proposto podem ser melhorados em ambientes controlados, como discutido na seção 5.2. Todavia, nestes locais, a velocidade dos veículos é mais baixa, e ajustes nos parâmetros do software serão necessários. Ajustes finos nas dimensões, número de espiras e na posição do laço indutivo também podem ser realizados, com o intuito de melhor definir a região sensível de interesse e o alcance vertical do campo magnético. Com a informação do número de eixos, a classificação de veículos é facilitada, principalmente na diferenciação entre caminhões, carretas e ônibus. A geometria de laço indutivo proposta, também provê um perfil magnético mais detalhado que a convencional geometria retangular. Possivelmente seja um caminho para a diferenciação dos modelos dos veículos pelo perfil magnético, através de um grande banco de dados e de um sistema de redes neurais. 68 69 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES, C. T. S. Processo de obtenção de borracha condutiva, sua composição e seu uso, sensor para detecção e classificação de veículos automotores, através da contagem de número de eixos. Pedido de Patente PI0203376-3. Agosto, 2002. ANDREOTTI, M. T. Sensoriamento indutivo para veículos automotores. 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Foi utilizado também um par de laços retangulares convencionais para realizar a detecção dos veículos e o cálculo da velocidade, visto que o sensor específico para contagem de eixos não possui sensibilidade para detectar a presença de veículos altos, exceto na região das rodas. O perfil magnético capturado do sensor indutivo de contagem de eixos é analisado por um software, que verifica o comportamento de dois parâmetros do sinal: a derivada e a diferença do nível do sinal em relação ao sinal do sensor quando sem veículo. Mudanças nestes dois parâmetros geram eventos, que são modelados através de uma máquina de estados. De um conjunto de 344 perfis magnéticos analisados, foi obtido um índice de acerto total de cerca de 95%. Desta maneira, foi atingido o objetivo do trabalho, que é o de confirmar a viabilidade de se contar eixos de veículos utilizando sensores indutivos. PALAVRAS-CHAVE 1. Sensores Indutivos. 2. Contagem de Eixos. 3. Detecção de Veículos. ÁREA/SUB-ÁREA DE CONHECIMENTO 3.10.00.00-2: Engenharia de Transportes 3.10.03.01-0: Engenharia de Tráfego 2008 No: 482 74