espaço escolar e o preconceito etno

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Anais Semana de Geografia. Volume 1, Número 1. Ponta Grossa: UEPG, 2014. ISSN 2317-9759
ESPAÇO ESCOLAR E O PRECONCEITO ETNO-RACIAL NA CIDADE DE PONTA
GROSSA, PARANÁ
BUENO, Emerson Darcy
ORNAT, Márcio José1
Introdução
Este texto tem como foco central a compreensão das maneiras pelas quais o
preconceito etno-racial constitui o espaço escolar na cidade de Ponta Grossa, Paraná. As
espacialidades, segundo Massey e Keynes (2004), são possibilidades de construção de novas
trajetórias, produzindo novas formas de existência social. Tais espacialidades são
possibilidades da ampliação de pensamentos humano-geográficos, instituindo potencialidades
de construção de novas identidades e relações de diferença, estando dentre elas a
espacialidade escolar. Da mesma forma, como visto por Junckes e Silva (2009), a
espacialidade escolar é vivenciada cotidianamente por um conjunto de práticas que se
convertem também em aprendizado, uma espacialidade complexa que vai além de um local de
apropriação de conhecimento, mas componente da existência social, constituído e constituinte
de significados, dentre eles os relacionados ao preconceito etno-racial. Quando tratado do
preconceito, devemos levar em consideração que ações relacionadas a hierarquização das
pessoas refere-se, como proposto por Louro (2004), ao fato de que é tanto no corpo quanto
através do corpo que processos de afirmação ou de transgressão acontecem e se expressam.
Segundo ela, as marcas que os corpos carregam tem tanto efeitos simbólicos quando
expressão material e social. As marcas permitem que:
determinado sujeito seja reconhecido como pertencente a determinada
identidade; que seja incluído ou excluído de determinados espaços; que seja
acolhido ou rejeitado por um grupo; que possa (ou não) usufruir de direitos;
que possa (ou não) realizar determinadas funções ou ocupar determinados
postos; que tenha deveres ou privilégios; que seja, em síntese, aprovado,
tolerado ou rejeitado (LOURO, 2004, p. 85).
Esta proposta chama a atenção para o fato de que a cor da pele refere-se a uma marca
corporal, possibilitando a inclusão ou a exclusão de determinadas espacialidades, e como na
nossa proposta, em relação ao espaço escolar. Como apontado no relatório do MEC/INEP
(2009), toda a comunidade escolar (diretores, professores, funcionários, alunos e pais / mães)
apresentam atitudes e crenças que apontam que o preconceito é uma realidade no espaço
escolar, ficando o preconceito etno-racial em 6º lugar no ranqueamento de preconceito
nacional. Segundo Butler (2008), pensando os corpos abjetos, a matriz que produz corpos
identificáveis socialmente demanda a produção simultânea de corpos desconsideráveis,
produzindo também àquilo que pode ser denominado como preconceito etno-racial. Para
Butler, as zonas invisíveis e inabitáveis da vida social são ao mesmo tempo o produto do
tensionamento e a delimitação do que é visível e considerado habitável socialmente. Portanto,
pensar como o preconceito etno-racial constitui o espaço escolar na cidade de Ponta Grossa,
Paraná possibilita a ampliação das discussões geográficas sobre a relação entre espacialidade
e preconceito, como também produzindo elementos a elaboração de políticas educacionais
direcionadas a diminuição das ações discriminatórias no âmbito escolar. Concordamos com
Levina e Pataki (2005), na medida em que a problematização sobre o preconceito e o racismo,
direciona nossa reflexão para um conjunto de ações que engloba qualquer atitude hostil para
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Orientador
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com membros de um grupo racial. Consideramos que isto está relacionado ao cotidiano
escolar, impondo-se como relutância em encontrar, conversar ou até mesmo conviver com
qualquer membro que pertença a esse grupo, ou grupos. Este tipo de preconceito, neste caso o
racial, pode tomar a forma de um ódio mais violento, podendo se manifestar nas tentativas de
prejudicar indivíduos socialmente vulneráveis.
Objetivos
A presente pesquisa busca oferecer uma compreensão de como tratar as formas de opressão
(nesse caso o racismo) nas escolas da rede estadual de ensino na cidade de Ponta Grossa-Pr, e
como tal forma se constitui envolvendo as relações de convívio entre alunos (as) nos espaços
escolares, além de elaborar a partir de dados2 e pesquisas3, um questionário a ser respondido
pelos alunos e alunas da rede estadual de ensino da cidade. Tal pesquisa também tem
finalidade mostrar se há ou não, preconceito etno-racial, de cunho racista especificando tal
preconceito, com os alunos (as) negros (as) das escolas estaduais da cidade. Tendo em vista
que o racismo dentro das escolas é um fato comprovado por inúmeras propostas já publicadas
em nosso país e que este tema não deve ser ignorado pela população, o presente trabalho
toma-se como base que:
Os órgãos federais, distritais e estaduais de fomento à pesquisa e à pósgraduação poderão criar incentivos a pesquisas e a programas de estudo
voltados para temas referentes às relações étnicas, aos quilombos e às questões
pertinentes à população negra.” (Estatuto da Igualdade Racial,2010 Cap.II,
Seção II, Art.12)
E que:
Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e
privados, é obrigatório o estudo da história geral da África e da História da
População Negra no Brasil. (Estatuto da Igualdade Racial ,2010 Cap II Seção I,
Art.11)
Entendemos que, como sendo um órgão estadual de fomento à pesquisa e à pósgraduação esta IES (Universidade Estadual de Ponta Grosssa) tem embasamento suficiente
para criar esta pesquisa tendo como referência temática as relações étnicas pertinentes à
população negra, e que, é de obrigatoriedade nos estabelecimentos de ensino público e
privado, o estudo sobre a História da População Negra no Brasil. Sendo assim o criar a
conscientização dentro das escolas de combate ao preconceito racial.
Metodologias
Foram analisadas as escolas que seriam receptivas para com a pesquisa, adquirindo o
contato da coordenação pedagógica e posteriormente da direção escolar. Foram feitos
agendamentos com a equipe pedagógica de cada escola a fim de apresentar a proposta da
pesquisa, assim como a importância da sua aplicação aos alunos do ensino médio, e também
quais seriam os resultados esperados após a sua conclusão. Foi elaborado um questionário
adaptando as frases contidas na pesquisa realizada pela FIPE, MEC, e INEP (2009) a ser
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Dados obtidos a partir das aplicações feitas aos alunos, seguida da alimentação do banco de dados próprio.
Pesquisas como a do MEC/INEP (2009) ao qual este artigo foi adaptado.
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aplicado aos alunos, onde podiam apontar o nível de pertencimento de cada frase em seu diadia. O questionário compõe um quadro com informações (não diretamente identificadas) dos
alunos, a serem preenchidas com o estabelecimento de ensino, série, cidade de nascimento,
sexo, idade, cor-etnia, se possui religião, qual religião pertence e sua participação religiosa,
além de acesso à informação, com quem mora, e quantos residem dentro de sua casa, se
trabalha, em que área de atividade, se possui filhos, e quantos filhos possui. O modo pelo qual
se faz necessário analisar as práticas sociais relacionadas ao preconceito etno-racial das
escolas estaduais são feitas através de frases diretas sobre preconceito racial. As frases
possibilitam ao aluno concordar (muito ou pouco) ou discordar (muito ou pouco), mas além
disso, propicia maturidade ao conscientizá-los sobre como o preconceito racial se constitui
dentro de suas próprias escolas, qual a sua posição pessoal referente a esse assunto. O
questionário também apresenta três questões de múltipla escolha. Tais questões possibilitam
ao aluno assinalar a frequência das ocorrência e/ou intensidade de tais ações racistas presentes
em sua escola. Estudar a analisar os elementos que estruturam o preconceito etno-racial das
escolas, foram os principais objetivos que nortearam esse trabalho, possibilitando dissertar
sobre os resultados preliminares obtidos.
Resultados e Discussões
Foi dada prioridade na pesquisa para escolas tidas como ‘centrais’, aqui não ilustrada
como em sua forma física e local onde está situada, mas sim onde concentram um maior
número de alunos (as), estes distribuídos em vários e distintos bairros da cidade que
contemplam grande parte da população. Foram identificadas 8 escolas centrais na cidade
(Colégio Arnaldo Jansen, Colégio 31 de Março, Colégio Borell, Institutoo de Educação,
Colégio Regente Feijó, Colégio General Osório, Colégio Meneleu e Colégio Polivalente) para
que fossem aplicados os questionários. Atualmente a pesquisa encontra-se em andamento
portanto ainda não concluída, sendo sua aplicabilidade analisada e alimentada junto ao banco
de dados, assim compõe-se com os questionários respondidos por alunos (as) de 3 escolas
(Colégio Arnaldo Jansen, Colégio Borell du Vernay, e Colégio 31 de Março), gerando um
total de 637 aplicações somente com alunos (as) dos três turnos matutino, vespertino,
noturno) do ensino médio. Dada as aplicações parcialmente completas e inseridas no banco de
dados específico foi feita as consultas para análise quantitativa da pesquisa em questão. Foi
levado em consideração o peso social que cada frase tem ao ser respondida pelos alunos, e
como essa mesma frase se constitui na comprensão de cada aluno, com um total de 335
respondentes, sendo que 175 são mulheres e 141 são homens. Até o presente momento foi
observado com os questionários que já estão prontos, uma certa tendência para a concordância
de que sim, há preconceito racial nas escolas e ele se constitui como fator social nas relações
de convívio entre os estudantes, porém existe uma tendência mais favorável para afirmação de
que o racismo nas escolas não deve existir, justo que somos todos iguais e que gozamos dos
mesmos direitos. Tal tendência foi verificada pelos alunos da 3ª série do Ensino Médio, por se
tratar de alunos mais maduros e com mais comprensão para o tema. Esta mesma pesquisa
também levanta outros questionamentos relacionados a prática docente, referente ao
preconceito racial existente dentro de nossas escolas, e qual o fundamento de tal pensamento
racista. É na escola que meninos e meninas passam geralmente a maior parte do dia. A escola
é o local de produção de caminhos educacionais para a igualdade, pois como visto até agora
nas respostas de campo, o preconceito etno racial é uma realidade brasileira, e mais
especificamente, pontagrossense.
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Conclusões
Conclui-se que determinadas posturas, na maioria pertencentes aos discentes,
demonstram um comportamento racista dentro do espaço escolar na cidade de Ponta
Grossa/Pr, e que a partir da análise dessas posturas, possam ser estruturados meios de
conscientização racial dentro das escolas. Pensando em não visualizar apenas de uma forma
inocente onde tais atitudes racistas não são devidamente responsabilizadas, a ‘inocência’ do
escarnio pejorativo pode-se tornar em pura agressão física ou psicológica, muitas vezes
permanente. E que trabalhos e temas como este sejam problematizados dentro dos espaços
escolares, facilitando a discussão de políticas educacionais, fazendo com o espaço não um
fator de discriminação de grupos, mas sim de promoção de igualdade.
Referências
BUTLER, Judith. Cuerpos que Importan – Sobre los Límites Materiales y Discursivos del
'Sexo'. Buenos Aires: Paidós, 2008.
JUNCKES, Ivan Jairo; SILVA, Joseli Maria. Espaço escolar e diversidade sexual: um
desafio às políticas educacionais no Brasil. Revista de Didácticas Específicas, nº 1, p. 148166, 2009.
LOURO, Guacira Lopes. Um Corpo Estranho. Ensaios sobre sexualidade e teoria queer.
Belo Horizonte: Editora Autêntica, 2004 .
MASSEY, D.; KEYNES, M. Filosofia e política da espacialidade: algumas considerações.
Geographia, Ano VI, nº 12, p. 7 – 23, 2004.
MEC-INEP. Projeto de Estudo sobre ações Discriminatórias no Âmbito Escolar,
Organizadas de Acordo com Áreas Temáticas, a Saber, Étnico-Racial, Gênero,
Geracional, Territorial, Necessidades Especiais, Socioeconômica e Orientação Sexual.
Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, 2009.
LEVINE, Michael; PATAKI, Tamas. Racismo em Mente. São Paulo: Madras, 2005.
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