Depressão unipolar x depressão bipolar

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Neurociência
de A a Z
Depressão unipolar x depressão
bipolar
DRA. SILVIA MARIAMA
Médica Psiquiatra da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro, RJ. CRM-RJ 52-46019.
P
Divulgação
Caso clínico
aciente com 49 anos, casada, sem
filhos, enfermeira e estudante de
mestrado.
Há oito meses teve problemas no trabalho, sendo transferida de setor por decisão
de sua chefia; não gostou da nova rotina,
teve dificuldades para se adaptar às tarefas.
No mestrado não conseguia estudar; sua
concentração estava péssima, tinha esquecimentos frequentes com situações muito
corriqueiras e qualquer esforço mental lhe
deixava muito angustiada; não conseguia
acompanhar o grupo, começou a faltar a compromissos
do mestrado e a coordenadora com muitas exigências, as
quais ela não conseguia seguir prazos e tarefas; acabou
por abandonar o mestrado.
Após sair do mestrado e com problemas no trabalho
foi tomada por um sentimento muito forte de incompetência, de incapacidade, de inferioridade, achava que sua
vida profissional estava toda errada; e quando pensava
na sua vida pessoal, havia casado há pouco tempo e já
não podia mais ter filhos por causa da idade.
A tristeza aumentava a cada dia, chorava todos os
dias, várias vezes ao dia; tinha uma sensação de eterno
abandono e um vazio que alternava com desespero.
Pensava por vezes que era melhor morrer.
Não tinha ânimo para nada, sentia-se exaurida e já
não fazia quase nada, começou a ter dificuldade até para
tomar banho. Tinha dores pelo corpo todo, os músculos
e as articulações doíam.
A essa altura tirou uma licença no trabalho, piorou ainda mais, ficava jogada na
cama o dia inteiro, dormia muito, ficava dias
sem tomar banho. Tinha noites que acordava
passando mal, com muita palpitação, achando que ia morrer.
Não tinha apetite e perdeu cerca de 4 kg
em pouco tempo.
Foi atendida por um médico clínico, fez
vários exames, seu check-up estava normal,
a única alteração foi a pressão arterial, que
apresentou picos e foi medicada com losartana; foi então procurar um psiquiatra, que
diagnosticou depressão e prescreveu sertralina 50 mg/dia;
amitriptilina 25 mg/dia; atenolol 50 mg/dia e alprazolam
em caso de insônia ou ansiedade.
Durante dois meses usou estes medicamentos sem
resposta, não melhorou; estava muito desestimulada
com o tratamento.
Neste momento conheci a paciente. Tratava-se de
Depressão Recorrente, visto que já tinha apresentado
episódio anterior há nove anos. Relato também de ser
uma pessoa muito ansiosa desde a infância. Negava
outros sintomas.
Tomada a decisão de aumentar a sertralina até
150 mg/dia e manter as demais medicações por quase 2
meses; como não houve melhora do quadro, houve troca
de antidepressivo para AD dual, a duloxetina, primeiro
60 mg/dia e depois 90 mg/dia, sem resposta.
Foi reavaliado todo o quadro, a paciente queixava-se
apenas de depressão e sintomas de TAG ao longo da
Neurociência de A a Z
Médicos se sensibilizam
com as queixas depressivas
e questionam pouco sobre
sintomas de mania e/ou
hipomania
riores a este episódio depressivo, acha que tinha períodos
de excesso nos estudos e realmente gastos compulsivos.
Hoje se encontra bem, retomou sua vida, está trabalhando no novo setor; aprendeu toda a rotina rapidamente, voltou aos estudos. Também está muito feliz com sua
vida pessoal.
Discussão
Nem sempre é fácil diante de um episódio depressivo
o diagnóstico de Depressão Bipolar; é necessária vasta
pesquisa junto ao paciente e seus familiares.
1) Em um episódio depressivo que não responde a dois
esquemas de ADs na dosagem e períodos adequados, devemos questionar Depressão Bipolar.
2) Pacientes quando deprimidos supervalorizam sintomas depressivos e não se lembram de sintomas
hipomaníacos. Os sintomas hipomaníacos podem
ser reconhecidos como normais, “eu sou assim, eu
funciono assim”. Pacientes bipolares, principalmente o tipo II, passam a maior parte de suas vidas com
vivências depressivas.
3) Médicos se sensibilizam com as queixas depressivas
e questionam pouco sobre sintomas de mania e/ou
hipomania.
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A PERSISTIREM OS SINTOMAS O MÉDICO DEVERÁ SER CONSULTADO (11611R).
162105 - Produzido em dezembro/2011
vida. Na procura de sintomas de hipomania, relato de
períodos em que estudava muito, mas não conseguia
identificar como algo anormal, visto que sempre foi
muito motivada e comprometida com estudos. Achava
que comprava muitos livros e roupas, principalmente
quando estava mais chateada.
Na história familiar, relato da mãe, falecida, ter sido
muito ansiosa, pai também falecido, teve depressão e era
muito autoritário e dois tios por parte de pai com história
de alcoolismo.
Não tem irmãos e nega outras patologias na família.
Redirecionado o tratamento para possível Depressão
Bipolar.
Foi retirado aos poucos o AD e iniciada lamotrigina,
com aumento de doses de forma bem lenta, já com melhora bastante satisfatória; ficou com 100 mg de lamotrigina
e introduzida oxcarbazepina 600 mg/dia. Paciente com
a melhora retornou ao trabalho e já começou a pensar
na possibilidade de retomar os estudos.
Sustentou esta melhora, porém ainda com sintomas
depressivos residuais por aproximadamente dois meses,
quando novamente houve piora do quadro, com predominância de cansaço, ansiedade e irritabilidade.
Introduzida quetiapina XRO 50 mg um cp no jantar
no 1° dia.
Quetiapina XRO 50 mg 2 cp no jantar no 2° dia.
Quetiapina XRO 50 mg 4 cp no jantar no 3° dia.
Quetiapina XRO 300 mg 1 cp no jantar a partir do
4° dia.
A paciente percebeu melhora a partir do 4° dia e com
o uso contínuo de 300 mg da quetiapina XRO no jantar
apresentou remissão dos sintomas depressivos.
Atualmente está com 50 mg de lamotrigina e 300 mg
de quetiapina XRO por dia e encontra-se bem, recuperada
do quadro depressivo.
Quando questionada sobre sintomas bipolares ante-
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