18º Curso Informativo de Preservação de Coleções Bibliográficas e Documentais Qualidade do ar e microclima em áreas de guarda de coleções da Biblioteca Nacional Jandira Flaeschen Conservadora-restauradora do CCE/COP Mestranda em Preservação de Acervos de Ciência e Tecnologia – MAST/MCT&I Rio de Janeiro, 17 de outubro de 2016. A apresentação baseia-se na pesquisa que está sendo desenvolvida no Programa de Mestrado Profissional em Preservação de Acervos de Ciência e Tecnologia, no Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST), com o título: Qualidade do ar e microclima – relações e interferências na preservação da Coleção Miscellanea Curiosa. Acervos bibliográficos Materiais orgânicos Sensíveis à temperatura e umidade relativa instáveis e fonte de alimento para micro-organismos Monitoramento Controle Ações de preservação Fatores que influenciam a deterioração dos acervos ligados às condições ambientais nos locais de guarda e características microclimáticas do edifício: Temperatura Umidade relativa Iluminação Contaminação atmosférica e microbiológica Catástrofes Ações humanas inadequadas Qualidade do ar Microclima Microbiodeterioração Pesquisa realizada nos ambientes de guarda de acervo da Biblioteca Nacional quanto à presença de agentes microbiológicos. Qualidade do ar A qualidade de ar em ambientes climatizados é uma ciência que antes de tudo busca a qualidade de vida, uma vez que passamos 80 % de nosso tempo de vida em ambientes fechados. O estudo da poluição do ar em ambientes internos é relativamente novo. A Síndrome do Edifício Doente (SED) é um problema mundial. O termo estabelecido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) designa situações nas quais os ocupantes de um determinado prédio experimentam efeitos adversos à saúde e ao conforto. Principais fontes de poluentes em ambientes interiores: • Poluentes químicos (CO2, Hidrocarbonetos aromáticos); NOx, SO2, O3, Aldeídos, Formaldeídos • Poluentes biológicos (micro-organismos, pólen, esporos de fungos); • Poluição física (temperatura, umidade relativa e luminosidade). e Poluição Ambiental em instituições culturais: Os poluentes contribuem muito para a deterioração dos acervos. Dentre os mais agressivos, destacam-se a poeira e os gases ácidos devido à queima de combustíveis. Os danos causados são sérios e irreversíveis. O papel fica quebradiço e o couro se deteriora. A poeira depositada sobre os itens age como abrasivo, favorece o desenvolvimento de microorganismos, acelera a deterioração do acervo quando em contato com a umidade e se transforma em ácidos. Os ambientes de guarda estão vulneráveis a duas variáveis: microclima e biodeterioração. Microclima: Qualquer variação em relação à temperatura e umidade relativa existente em um ambiente circundante. Biodeterioração e microbiodeterioração: A biodeterioração pode ser definida como danos ou alterações nas propriedades de um dado material, provocados pela atividade de agentes biológicos (Milagros Callol, 2013). A microbiodeterioração é causada por micro-organismos. Os micro-organismos são organismos microscópicos. Serão abordados os fungos e bactérias que ameaçam a preservação dos acervos bibliográficos e documentais. Onde eles estão? Eles estão em toda parte, no solo, na água, no ar, nas plantas, nos animais, em nosso corpo (mãos, unhas, saliva, cabelo), nos alimentos, em utensílios e materiais sujos. Os fungos são muito úteis. Alguns são comestíveis e outros são utilizados no processo de fabricação de bebidas alcoólicas, como a cerveja e o vinho, no processo de preparação de pães e na fabricação de antibióticos. Microbiologia A Microbiologia pode ser uma importante ferramenta para a Preservação. Temperatura e umidade relativa elevadas Proliferação biológica, crescimento e desenvolvimento de micro-organismos sobre os itens. Microbiologia => suporte para conhecer os mecanismos de deterioração destes organismos. Ações de Conservação preventiva Controlar / Mitigar / Eliminar os riscos potenciais da deterioração por agentes microbiológicos Microbiodeterioração dos suportes Os suportes orgânicos, como papel, pergaminho, couro, tecido e madeira são fontes de nutrientes para os micro-organismos. Em conjunto com os fatores ambientais adequados ( umidade e temperatura favoráveis), presença de impurezas e pH favorável, eles encontram as condições ideais para as suas necessidades vitais. Eles decompõem as cadeias de celulose e enfraquecem os suportes. A poeira (sujidade) é fator nutricional importante, composta por partículas químicas, pólen de flores e esporos, com a propriedade de reter umidade, favorece o desenvolvimento dos micro-organismos. Micro-organismos mais encontrados em museus, arquivos e bibliotecas por suas características nutricionais Observação macroscópica Observação microscópica Danos Enzimas produzidas Material atrativo Gênero Danos Enzimas produzidas Material atrativo Gênero Pesquisa realizada nos ambientes de guarda de acervo da Biblioteca Nacional quanto à presença de agentes microbiológicos. Metodologia já utilizada em pesquisas em ambientes de instituições culturais. Objetivo: investigar a presença de micro-organismos com atividade degradadora de celulose, através do monitoramento de áreas de guarda de acervo climatizadas – 1ª parte da pesquisa. Metodologia - Amostragem microbiológica ambiental: Realizada em ambientes internos destinados à guarda de acervo, seguindo o método de sedimentação com uso de placas de Petri com meios de cultura para bactérias (PCA – Plate Count Agar) e para fungos (Sabouraud). - Amostragem microbiológica de superfícies: Realizada em áreas de superfície de itens selecionados. As amostras são coletadas com cotonetes esterilizados e é feito o espalhamento sobre as placas de Petri. - Amostragem microbiológica da poeira: É feita a coleta da poeira depositada sobre prateleiras das áreas de guarda com pincel de cerdas firmes nas placas de Petri. As placas são armazenadas em ambiente com condições climáticas semelhantes às das áreas de guarda, durante 7 dias. Após, é feito o registro fotográficos das mesmas para análise e contagem das unidades formadoras de colônia (UFC/cm2). Os padrões referenciais adotados: • Portaria 176/2000 da ANVISA • Estudos de Costa et al., 2011 Lembramos que é feita a coleta de material particulado presente no ambiente e nas superfícies. Os meios de cultura possuem os nutrientes necessários para crescimento dos micro-organismos. o 1ª Amostragem: janeiro/ 2016 Amostragem ambiental na Divisão de Obras Raras: Bactérias Fungos Amostragem de superfície em volumes da Coleção Miscellanea Curiosa da Divisão de Obras Raras: Corte superior de livro Bactérias Fungos Área interna de livro Bactérias Fungos 2ª Amostragem: março/ 2016 Amostragem ambiental na Divisão de Obras Raras: Bactérias Fungos Amostragem de superfície em volumes da Coleção Miscellanea Curiosa da Divisão de Obras Raras: Corte superior de livro Bactérias Fungos Área interna de livro Bactérias Fungos 3ª Amostragem: abril/ 2016 Amostragem ambiental na Divisão de Obras Raras: Bactérias Fungos 4ª Amostragem: julho/ 2016 Amostragem ambiental na Divisão de Obras Raras: Bactérias Fungos Observações: 1ª amostragem – verão => maior proliferação de bactérias; 2ª amostragem – outono => maior proliferação de fungos; 3ª amostragem – intensificação da limpeza do ambiente => menor proliferação; 4ª amostragem – inverno => idem => menor proliferação. Amostragem de superfície em volumes da Coleção Miscellanea Curiosa da Divisão de Obras Raras: Bactérias Fungos Observações: Os cortes dos livros sempre apresentaram maior proliferação de micro-organismos devido ao acúmulo de sujidade, enquanto o interior que fica protegido, não acusou a presença dos mesmos. Amostragem microbiológica de poeira coleta de prateleira da Divisão de Obras Raras: Fungos Conclusões: • A poeira presente no ambiente de guarda possui grande quantidade de esporos de micro-organismos. • Se houverem as condições ambientais propícias (T e UR), os agentes microbiológicos irão surgir. • O controle ambiental e as condições de limpeza do local de guarda e do acervo são fundamentais para que não haja a proliferação de micro-organismos. Recomendações Prevenção: – Inspeções periódicas – Higienização das coleções e ambientes de guarda – Manter a estabilidade das condições ambientais (T e UR), evitando mudanças bruscas. Recursos para alcançar as melhorias ambientais: • Localizar os depósitos em áreas com menor insolação (evita as oscilações de T). • Evitar fontes geradoras de umidade ( reduz a UR). • Promover ventilação do ambiente, para amenizar a T e estabilizar a UR com o uso combinado de ventiladores e desumidificadores. • A temperatura é fator fundamental para o desenvolvimento de micro-organismos. • A UR acima de 65% acelera a atividade microbiológica. Muito obrigada! Referências: MAGNANI, Luís A. C.; PINTO, Fátima P.; ASSOLANT, Kátia R. M.; MORENO, Roberto. “Ambientes saudáveis”, In: Revista Brasindoor, vol. III, n.3, p. 17-25, 1999. BRICKUS, L.S.R.; AQUINO NETO, F. R., “A qualidade do ar de interiores e a química”, In: Química Nova, v. 22, n. 1, p. 65-74, 1999. CALLOL, Milagros Vaillant. Biodeterioração do patrimônio histórico documental: alternativas para sua erradicação e controle. Rio de Janeiro: Museu de Astronomia e Ciências Afins, Fundação Casa de Rui Barbosa, 2013. ANVISA, Resolução n.º 176 de 24/10/2000. Disponível em: www.anvisa.gov.br. Acesso em 15 set. 2015. COSTA, Antonio C. A.; LINO, Lucia A. S.; HANNESCH, Ozana. “Micro-organismos em áreas de guarda de acervos científicos do Museu de Astronomia e Ciências Afins: adequação aos padrões nacionais de qualidade do ar”, In: Boletim Eletrônico da ABRACOR, n. 5, setembro de 2011.