DA CRÍTICA DA TEORIA UTILITARISTA À ANTROPOLOGIA DO CONSUMO: UMA REVISÃO DE O MUNDO DOS BENS, DE MARY DOUGLAS E BARON ISHERWOOD Flavia Gleicielli Gordiano Rodrigues (UEL/Iniciação Científica) Rodolfo Rorato Londero, e-mail: [email protected] Universidade Estadual de Londrina; Centro de Educação, Comunicação e Artes; Departamento de Comunicação Área e sub-área do conhecimento: Comunicação – Relações Públicas e Propaganda Palavras-chave: cultura; consumo; teoria utilitarista. Resumo O objetivo deste trabalho é discutir os conceitos de consumo apresentados em O mundo dos bens (1978), de Mary Douglas e Baron Isherwood. Considerada como uma das obras pioneiras da antropologia do consumo, O mundo dos bens opõe-se à abordagem econômica tradicional que compreende os produtos exclusivamente a partir da teoria utilitarista. A antropologia do consumo inaugurada por Douglas e Isherwood problematiza os bens enquanto criadores e estabilizadores de significados culturais. Este trabalho integra o mapeamento das diversas teorias da publicidade realizado em artigos anteriores, cuja finalidade é representar um panorama histórico-didático das teorias em questão. Introdução e objetivo Contrariamente à abordagem econômica, a antropologia do consumo compreende que “os indivíduos não buscam satisfação nos produtos, mas na novidade e nos sonhos que podem ser criados, a partir de seus significados” (LIMA, 2010, p. 38). Esse é o enfoque de O mundo dos bens (1978), de Mary Douglas e Baron Isherwood, obra que se pretende comentar e revisar neste artigo. Por se tratar de um clássico, essa obra é importante para todas as áreas interessadas no fenômeno do consumo, inclusive a publicidade. Este trabalho integra o mapeamento das diversas teorias da publicidade realizado em artigos anteriores, cuja finalidade é representar um panorama histórico-didático das teorias em questão. 1 Procedimentos metodológicos Dentre os três tipos de trabalho monográfico citados por Oliveira (2005, p. 42) – análise teórica, análise teórico-empírica e estudo de caso –, esta pesquisa se organiza a partir do primeiro, ou seja, “um trabalho teórico conceitual sobre um determinado tema que requer uma exaustiva pesquisa bibliográfica” (OLIVEIRA, 2005, p. 42). A autora ainda divide a monografia de análise teórica em três níveis, dos quais destacamos o seguinte para os propósitos desta pesquisa: “análise crítica ou comparativa de uma obra, teoria ou modelo já existente, a partir de um esquema conceitual bem definido” (OLIVEIRA, 2005, p. 42). Portanto, para atingir seus objetivos, este trabalho se apoia em pesquisa bibliográfica sobre o pensamento dos autores (DUARTE, 2010; LIMA, 2010). Resultados e discussão Enquanto atividade ritual, “o consumo usa os bens para tornar firme e visível um conjunto particular de julgamentos nos processos fluidos de classificar pessoas e eventos” (DOUGLAS; ISHERWOOD, 2004, p. 115). Ou seja, os indivíduos usam o consumo para fazer definições de si próprios e do mundo, fazendo do consumo um processo ativo que redefine continuamente as categorias sociais. Para os autores, “o consumo é a própria arena em que a cultura é objeto de lutas que lhe conferem forma” (DOUGLAS; ISHERWOOD, 2004, p. 103), sendo assim, a cultura toma forma a partir das escolhas, às vezes contraditórias, realizadas livremente pelos consumidores. Douglas e Isherwood (2004) propõe a definição de consumo como uma área de comportamento cercada de leis que demonstram explicitamente um uso de posses materiais que está além do comércio e é livre dentro da lei. Por meio desta definição, tem-se um conceito universal de consumo, aplicável tanto às sociedades industriais como às sociedades pré-industriais. Assim pode-se tomar as decisões de consumo como a fonte vital da cultura do momento. Considerando os bens como marcadores de categorias da cultura, devese entender que o objetivo dominante do consumidor é buscar informações sobre o que se passa à sua volta, sobre a cena cultural que se encontra em constante movimento. Para além de satisfazer necessidades físicas, os bens funcionam como marcadores culturais que viabilizam rituais necessários para o consumidor se envolver de maneira significativa com seus pares. O problema da teoria utilitarista é considerar o consumidor isoladamente, quando, na verdade, as atividades de consumo são sempre sociais. Para Douglas e Isherwood (2004), os indivíduos, ao dominarem o acesso de informação aos bens, erguem barreiras contra esse acesso, controlam as oportunidades e, deste modo, possibilitam a exclusão. Deste modo, tentativas de interpretar a demanda por bens sem as preocupações de alcançar ou 2 manter poder e privilégio, assim como outros significados culturais (segurança, identidade, felicidade, etc.), recaem na irracionalidade do consumidor. Para os autores, “a exclusão do controle provocada pelo consumo provavelmente inibirá a interpretação racional do universo” (DOUGLAS; ISHERWOOD, 2004, p. 142). Conclusão O mundo dos bens busca fazer uma aliança entre antropologia e ciência econômica. Uma vez que nascemos como seres comunicativos, e dependemos dos outros, nós certamente devemos assumir que algum poder comunicativo é inerente aos indivíduos, sendo assim, a ciência econômica deveria levar em consideração a função comunicativa dos bens. Portanto, o consumo produz o tipo de sociedade na qual o consumidor vive. No âmbito geral, o significado dos bens de consumo é percebido como performativo, variando de acordo com as situações, os tempos e os espaços e atendendo ao seu papel na produção de identidades e na expressão de valores. Partindo do pressuposto que os bens são a cultura material de qualquer sociedade, é possível concebê-los como objetivações e normatizações das relações sociais, além de servirem de mediadores de valores e sentimentos. Conclui-se assim, como Duarte, que “o consumo justifica todo o atual interesse no seu estudo” (DUARTE, 2010, p. 390). Agradecimentos Gostaria de agradecer à Universidade Estadual de Londrina por possibilitar a oportunidade de expandir meus horizontes durante a graduação através do Projeto de Iniciação Científica; agradeço especialmente ao professor Rodolfo Londero, pela oportunidade por participar de uma iniciativa tão interessante, onde recebi todo apoio e suporte para desenvolver os conhecimentos e desenvolver as pesquisar no assunto solicitado. Referências LIMA, D. N. O. Consumo: uma perspectiva antropológica. Petrópolis: Vozes, 2010. DOUGLAS, M.; ISHERWOOD, B. O mundo dos bens: para uma antropologia do consumo. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 2013. 3 DUARTE, A. A antropologia e o estudo do consumo: revisão crítica das suas relações e possibilidades. Etnográfica, v. 14, n. 2, p. 363-393, 2010. Disponível em: <http://etnografia.revues.org/329>. Acesso em: 22 jun. 2015. OLIVEIRA, M. M. Como fazer projetos, relatórios, dissertações e teses. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. monografias, 4