ABELHAS VISITANTES DE Turnera subulata Sm. EM UMA ÁREA URBANA Natália Uemura (Bolsista PIBIC/CNPq), Pablo Kruger Fernandes (Bolsista Fundação Araucária), Silvia Helena Sofia, e-mail: [email protected] Universidade Estadual de Londrina/Departamento de Biologia Geral/CCB 2.04.00.00-4 (Zoologia)/2.04.04.00-0 (Comportamento Animal) Palavras-chave: Turneraceae, Polinizadores, Apoidea Resumo Turnera subulata Sm. é uma espécie heterostílica, ruderal de porte subarbustivo, com flores branco-amareladas e corola aberta para plataforma de pouso. Devido às suas características florais especialmente melitófilas, indivíduos desta espécie vegetal atraem grande diversidade de visitantes florais, especialmente abelhas. Tendo em vista que esta espécie é comumente encontrada em áreas urbanas como parques, jardins e calçadas, o presente trabalho teve como objetivo inventariar a fauna apícola visitante de suas flores em uma área urbana e identificar neste tipo de ambiente, quais espécies atuam como polinizadores de T. subulata. O estudo foi realizado na cidade de Londrin/PR, no período de abril a setembro de 2014. Nas amostragens, o comportamento das abelhas visitantes de T. subulata foi observado durante o tempo em que estas realizavam suas atividades na flor e em seguida eram coletadas. Foram capturados ao todo, 964 indivíduos distribuídos em 23 espécies. As espécies Apis mellifera L., Trigona spinipes (Fabricius) e indivíduos da família Halictidae e do gênero Exomalopsis Spinola foram considerados como prováveis polinizadores de T. subulata. Tetragona clavipes (Fabricius), Tetragonisca angustula (Latreille) e Scaura latitarsis (Friese) mostraram comportamento pilhador. Introdução e objetivo O gênero Turnera L., pertence à família Turneraceae Kunth ex DC., a qual inclui normalmente diversas espécies de valor ornamental, econômico e em muitos casos consideradas plantas invasoras (SOUZA; LORENZI, 2005). Turnera é gênero o mais representativo da família, abrangendo cerca de 120 espécies, distribuídas nas Américas e África. Este se caracteriza por possuir hábito herbáceo a arbustivo, flores com corolas brancas, amarelas a alaranjadas (ARBO, 2005) e em sua maioria, apresentando espécies distílicas, ou seja, composto por duas formas florais (brevistila e longistila) (BARRETT; 1 SHORE, 1987). Espécies deste gênero mostram-se auto-incompatíveis, isto é, possuem barreiras às quais impedem que ocorra fertilização de seu próprio pólen, sendo, portanto, dependentes de visitantes florais, os quais devem atuar na polinização cruzada de flores deste gênero de Angiosperma. Esta dependência de Turnera de agentes polinizadores tem atraído a atenção para estudos voltados à interação de visitantes florais, especialmente abelhas, com flores de diferentes espécies deste gênero (ex. MEDEIROS, 2001). Neste estudo, o autor observou que as diferentes espécies de abelhas visitantes de Turnera sp podem atuar como polinizadores efetivos, polinizadores ocasionais ou pilhadores de néctar e pólen das flores de Turnera. Apesar de Turnera ser um gênero comumente encontrado em áreas urbanas, onde diferentes espécies deste gênero são frequentemente cultivadas em canteiros de parques e jardins, ainda são escassos os estudos sobre as espécies de abelhas visitantes e seus tipos de comportamento em flores de Turnera em tais ambientes. Assim, o presente estudo teve como objetivos identificar a fauna de abelhas visitantes de Turnera subulata Sm. em uma área urbana, bem como descrever os comportamentos das diferentes espécies de abelhas e suas interações com as flores desta planta. Procedimentos metodológicos As amostragens foram realizadas em dois pontos (A e B) da cidade de Londrina, estado do Paraná, distantes entre si aproximadamente 3 km. No ponto A, a planta amostrada possuía aproximadamente 70-75 cm de altura e apresentava flores predominantemente (90%) longistilas, sendo o restante das flores brevistilas. A planta no ponto B consistia em um indivíduo de aproximadamente 55-60 cm de altura e apresentava apenas flores na forma brevistila. As coletas ocorreram entre 01 de abril/2014 e em 18 de setembro/2014, totalizando cinco meses de coleta de dados. As coletas ocorreram entre 8-14h, antes da antese das flores. As amostragens nos dois pontos foram realizadas alternadamente, duas vezes por semana. Durante as amostragens, após a abertura das flores, dois coletores posicionados junto ao espécime florido observavam durante 10 minutos as abelhas visitantes, anotando o comportamento dos diferentes visitantes nas flores visitadas por estes. Imediatamente após, as abelhas erma coletadas com auxilio de uma pequena rede entomológica, de 15 cm de diâmetro com cabo de madeira de 10 cm de comprimento. Todas as abelhas observadas e coletadas nas flores de T. subulata neste intervalo eram coletadas e colocadas em um mesmo frasco. Todos os indivíduos capturados um dado intervalo de tempo eram colocados em câmaras mortíferas contendo éter. Nos dez minutos seguintes realizava-se o mesmo procedimento e, assim, sucessivamente até o fim da coleta, quando as visitas das abelhas se tornavam menos frequentes e as flores estavam 2 próximas de fecharem-se. Todo material coletado foi montado em alfinete entomológico, seco em estufa e identificado em estereomicroscópio (Zeiss). As abelhas foram identificadas ao nível de espécie ou morfo-espécie. Para a identificação do comportamento das abelhas visitantes, foram realizadas observações diretas nas flores de cada planta estudada. Além disto, foram feitos registros fotográficos para auxiliar na caracterização dos tipos de comportamento das abelhas. Os comportamentos de contato ou não das abelhas com os aparelhos reprodutivos da flor foram observados e anotados, assim como o(s) recurso(s) que estes procuravam e retiravam em suas visitas nas flores. Assim, foi possível classificar as abelhas visitantes seguindo as categorias propostas por Faegri e van der Pijl (1979) e Inouye (1980): polinizadores efetivos, polinizadores ocasionais e pilhadores. Durante as coletas, o horário de antese (abertura das flores) também foi anotado a cada dia de coleta, bem como o número de flores abertas por dia e a quantidade de formas brevistilas e longistilas em cada planta, para posteriormente, calcular a proporção de cada forma. Resultados e discussão Durante o período de estudo, T. subulata apresentou abertura média de suas pétalas entre 09h00 e 09h45, com variações dentro deste espectro ao longo dos meses. Entretanto, estes horários de antese diferem dos vistos por Medeiros (2001) ao estudarem plantas de T. subulata na região nordeste do Brasil. Tais autores registraram a abertura das flores próximas das 6h00 e 5h10, respectivamente, e esta diferença pode dever-se ao fato de que na região nordeste, o dia amanhece mais cedo do que na região sul. No total, foram coletadas 964 abelhas (57 machos e 907 fêmeas) distribuídas em duas famílias (Apidae e Halictidae), 16 gêneros e 23 espécies A família Apidae mostrou-se como a mais abundante (854 indivíduos, 88,6% do total) e também abrigou a maior riqueza de espécies (15). Considerando-se os dois pontos de amostragem, as espécies mais frequentes foram Plebeia droryana (n=235, ou 24,4% do total), Trigona spinipes (n=206, 21,4%) e Exomalopsis sp1 (n=150, 15,6%), totalizando 61,4% dos indivíduos amostrados no estudo. Além destas espécies, Tetragonisca angustula (Latreille, 1811), com 61 indivíduos, eTetragona clavipes, com 58 visitantes, foram outras duas espécies de Apidae também relativamente frequentes (>5%) nas flores de T. subulata. Com relação ao comportamento de visita das abelhas nas flores, as espécies Apis mellifera, Trigona spinipes, Ceratina sp e indivíduos do gênero Exomalopsis e da família Halictidae (Augochlora sp1, Augochlora sp2, Augochlora sp3, Augochlora iphigenia, Augochlorella ephyra e Pseudaugochlora graminea Fabricius) comportaram-se como polinizadores efetivos, pois entravam em contato com estigmas e anteras (INOUYE, 1980) 3 das flores de T. subulata em todas as suas visitas. Tetragona clavipes, Tetragonisca angustula e Scaura latitarsis apenas sobrevoavam as flores e pousavam nas folhas, muitas vezes em busca do nectário foliar e em nenhum momento tocavam as estruturas reprodutivas masculinas ou femininas da flor. Deste modo, forama incluídas na categoria de pilhadores ((INOUYE, 1980). As demais espécies comportaram-se como polinizadores ocasionais, uma vez que nem sempre havia o contato com as estruturas reprodutivas masculinas e femininas da flor. Conclusão Turnera subulata representou uma importante fonte de recurso para as abelhas na área estudada e teve entre seus visitantes polinizadores efetivos, ocasionais e pilahores. Agradecimentos À Fundação Araucária e CNPq/PIBIC pelas bolsas de IC concedidas. Referências ARBO, M.M. Estudios sistemáticos em Turnera (Turneraceae). III. Series Anomalae y Turnera. Bonplandia v. 14, n. 3-4, p.115-318, 2005 .BARRETT, S.C.H.; SHORE, J.S. Variation and evolution of breeding systems in the Turnera ulmifolia L. complex (Turneraceae). Evolution, v. 41, p.340-354, 1987. FAEGRI, K.; van der PIJL, L. The principles of pollination ecology, 3.ed. Pergamon Press, Oxford, 1979. INOUYE, D. W. The terminology of floral larceny. Ecology, v. 61, p. 1251-1253, 1980. NEFF, J.L.; SIMPSON, B.B. Bees, pollination systems and plant diversity. In: Hymenoptera and Biodiversity, eds. LASALLE, J; GAULD, I.D. p.143-147. CA-B International, Wallingford, 1993. MEDEIROS, P.C.R. de. Polinização de Turnera subulata Smith (Turneraceae) uma espécie ruderal com flores distílicas. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Pernambuco, Recife – PE, 2001. SOUZA, V. C, LORENZI, H. Botânica Sistemática: Guia ilustrado para identificação das famílias de Angiospermas da flora brasileira, baseado em APG II. Nova Odessa, São Paulo: Instituto Plantarum de Estudos da Flora, 2005. 4