“Estudo de Tecido Mamário Humano por Espectroscopia FT

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Universidade do Vale do Paraíba
Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento
“Estudo de Tecido Mamário Humano por
Espectroscopia FT-Raman”
Renata Andrade Bitar Carter
Dissertação
apresentada
Graduação
como
no
em
de
Mestrado
Programa
Engenharia
complementação
de
Pós-
Biomédica
dos
créditos
necessários para obtenção do título de
Mestre em Engenharia Biomédica.
São José dos Campos, SP
2004
Universidade do Vale do Paraíba
Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento
“Estudo de Tecido Mamário Humano por
Espectroscopia FT-Raman”
Renata Andrade Bitar Carter
Dissertação
apresentada
Graduação
como
no
em
de
Mestrado
Programa
de
Engenharia
complementação
Pós-
Biomédica
dos
créditos
necessários para obtenção do título de
Mestre em Engenharia Biomédica.
Orientador:
Prof.
Dr.
Airton
Abrahão Martin.
Co-orientador: Prof. Dr. Carlos
Julio T.Criollo
São José dos Campos, SP
2004
À minha Família.
Agradecimentos
Ao Reitor da Universidade do Vale do Paraíba, Prof. Dr. Baptista Gargione Filho.
Ao Diretor do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento da Universidade do Vale do
Paraíba, Prof. Dr. Marcos Tadeu Tavares Pacheco, pela oportunidade e pelo apoio
oferecido durante o mestrado.
Ao Prof. Dr. Airton Abrahão Martin pela oportunidade, pela confiança em mim
depositada neste grande projeto, pelo apoio intelectual e paciência durante o decorrer
deste trabalho.
Ao Prof. Dr. Mário Mourão Netto pela dedicação na coleta das Amostras deste projeto.
À Profa. Dra. Leandra Naira Zambelli Ramalho pelo apoio intelectual e grande
entusiasmo na análise histopatológica das Amostras.
Ao Prof. Dr. Carlos Julio Criollo pela disposição no esclarecimento das dúvidas, pelo
apoio na cuidadosa análise estatística dos dados.
À Profa. Dra. Emília Loschiavo Arisawa pela disposição em ajudar-nos, pelo apoio
intelectual e carinho na revisão da tese.
Ao Dr. Ronaldo Roesler pela amizade, carinho e apoio na providência das amostras e
dedicação intelectual.
À Secretaria do IP&D, em especial às amigas Claudia e Ivone sempre atenciosas e
prestativas.
Ás funcionárias da Biblioteca Central, Rosângela e Rúbia, pelo carinho.
Aos meus Amigos do LEVB e IP&D pela alegria nos momentos de ansiedade, pelo
carinho, pelo apoio, pela troca de experiências e companheirismo.
Às pacientes que acreditaram nesta pesquisa, sem as quais seria impossível sua
realização.
“A vida é complicada, mas não desinteressante”.
(Jersy Neyman)
“Estudo de Tecido Mamário Humano por Espectroscopia FT-Raman”
RESUMO
O objetivo primário deste estudo foi o de identificar, via Espectroscopia Raman
com Transformada de Fourier, tecido mamário humano tanto normal quanto de algumas
alterações benignas e malignas que acometem este órgão. Uma das principais vantagens
da Biópsia Óptica, é o de fornecer diagnóstico diferencial de maneira minimamente
invasiva.
No presente estudo, foram obtidos 208 espectros FT-Raman de tecido mamário,
separados em 9 grupos classificados pela análise histopatológica. Os espectros FTRaman de cada grupo diagnóstico apresentaram alta correlação entre os elementos do
mesmo grupo, favorecendo a realização das médias espectrais.
A presença dos Lipídios, que possuem forte sinal Raman, foi identificada em
abundância no tecido normal. A estrutura primária das proteínas foi identificada através
dos deslocamentos dos picos e bandas referentes aos aminoácidos; a identificação da
estrutura secundária das proteínas ocorreu através das ligações peptídicas Amida I e
Amida III. Em relação aos carboidratos, os espectros dos carcinomas infiltrante
mucinoso, doença fibrocística e carcinoma infiltrante foram comparados e identificou-se
aumento de intensidade na região de deslocamento Raman de 800 a 1200cm-1 , o que
pode indicar a expressão espectral da variação de líquido cístico. Foram identificadas as
alterações nos picos e bandas nos regiões de deslocamento Raman de 500 a 600cm-1 e
2000 a 2100cm-1 , que sugerem ser picos referentes aos ácidos nucléicos.
Através do teste estatístico t de Student e Diagrama de Dispersão foram
processados os sinais Raman de Mama Normal, Doença Fibrocística e Carcinoma
Ductal Infiltrante a fim de verificar se a diferença entre os dados se dava pela diferenças
das médias ou devido a um erro amostral. Através da dispersão binomial das áreas dos
picos analisados pelo teste t de Student tentou-se promover a separação entre os grupos.
Comprovou-se que as áreas dos picos identificados entre os espectros realmente
identificam diferenças moleculares consistentes para a promoção de diagnósticos
diferenciais via “Biópsia Óptica”, porém exigem uma metodologia estatística mais
apurada, como Redes Neurais.
Palavras chaves: Espectroscopia FT-Raman; Câncer de Mama, Biópsia Óptica.
“Study of Human Breast Tissue by FT-Raman Spectroscopy”
ABSTRACT
The main objective of this study was to identify human breast tissue, normal and
abnormal, by Fourier Transform Raman Spectroscopy. The main advantage of this
technique of Optical Biopsy is to supply differential diagnosis non- invasively.
In the present study, 194 breast tissue FT-Raman spectra had been gotten,
separate in 9 groups according to the histopathological analysis. The FT-Raman spectra
of each histopathological group had presented high correlation enter the elements,
favoring the accomplishment of the spectral averages.
Lipid has shown a strong Raman signal, and this structure was identified in
abundance in the normal breast tissue spectra. The primary structure of proteins was
identified through the displacements of the peaks and referring bands to amino acids;
the identification of the secondary structure of proteins occurred through the peptide
linkages (Amide I and Amide III). In relation to the carbohydrates, the spectra of ductal
infiltrate carcinoma with mucin, fibrocystic condition, and infiltrate ductal carcinoma
had been compared and identified increase of intensity in the region of Raman shift of
800 to 1200 cm-1 , that could indicate the spectral expression of the presence of cystic
liquid. To the alterations in the peaks in the regions of Raman shift 500 to 600 cm-1 and
2000 to 2100 cm-1 may suggest refer to the nucleic acids region.
Through the t test and binomial dispersion the signals of Normal breast tissue,
fibrocystic condition and Ductal infiltrate carcinoma had been processed in order to
verify if the difference between the data occurred due to differences of the averages or
due to an amostral error. Through the binomial dispersion, the areas of the peak
analyzed by t-test, was plotted to promote the separation between these three groups.
The t-test proved that the identified peaks really identify consistent molecular
differences, but the binomial dispersion proposed to distinguish the three diagnostic
groups failed. However, a more accurate statistics methodology is needed, like Neural
Networks.
Key Words: FT-Raman spectroscopy; Breast Cancer, Optical Biopsy.
Lista de Figuras
Figura 1. Corte histológico de glândula mamária adulta jovem normal, onde se observa
o sistema secretor composto por lóbulos e ductos situados no estroma interlobular
composto predominantemente por tecido fibroso denso, com alguns adipócitos.* 47
Figura 2. Corte histológico de glândula mamária feminina adulta jovem normal durante
a lactação. Neste observa-se o sistema secretor preenchido por secreção lactífera.*
................................................................................................................................. 47
Figura 3. Corte histológico de doença fibrocística da mama.* ....................................... 47
Figura 4. Corte histológico de Carcinoma ductal in situ.* ............................................. 47
Figura 5. Corte histológico Carcinoma ductal in sit u tipo comedo.* ............................. 48
Figura 6. Aspecto Macroscópico do Carcinoma ductal infiltrante de Mama.* .............. 48
Figura 7. Corte histológico e lâmina citológica de Carcinoma ductal infiltrante.* ....... 48
Figura 8. Corte histológico de Carcinoma ductal infiltrante. *....................................... 48
Figura 9. Corte histológico de Carcinoma ductal infiltrante inflamatório.* ................... 49
Figura 10. Corte histológico de Carcinoma ductal infiltrante medular, com linfócitos
infiltrando nas camadas de células tumorais de alto grau.* .................................... 49
Figura 11. Corte histológico de carcinoma ductal infiltrante mucinoso. Observe os lagos
de mucina levemente corada, com pequenas ilhas de células tumorais.*............... 49
Figura 12. Corte histológico de Carcinoma lobular infiltrante.* .................................... 49
Figura 13. FT-Raman Spectrometer RFS 100, Bruker. .................................................. 51
Figura 14.Geometria de Espalhamento e Porta Amostra do FT-Raman Spectrometer
RFS 100................................................................................................................... 52
Figura 15 - Médias dos espectros FT-Raman normalizados pelo pico máximo dos
tecidos de Mama normal (1), Condição fibrocística (2), Carcinoma ductal in situ
(3), Carcinoma ductal in situ tipo comedo (4), Carcinoma ductal infiltrante (5),
Carcinoma ductal infiltrante inflamatório (6), Carcinoma ductal infiltrante medular
(7), Carcinoma ductal infiltrante mucinoso (8) e Carcinoma lobular infiltrante (9).
................................................................................................................................. 57
Figura 16 - Média dos Espectros FT-Raman não-normalizados dos diferentes tecidos
mamários representados entre 1200 a 1800cm-1 . .................................................... 60
Figura 17 - Média dos Espectros FT-Raman normalizados pelo pico máximo (1446 cm1
) de tecido mamário humano normal, Carcinoma ductal in situ e Carcinoma ductal
infiltrante representados no deslocamento Raman entre 800 a 1400cm-1 . Em
evidência estão as regiões espectrais identificadas como referentes os aminoácidos
formadores do colágeno. ......................................................................................... 61
Figura 18 - Média dos Espectros FT-Raman de tecido mamário normal, Carcinoma
ductal in situ e Carcinoma ductal infiltrante e representação dos Picos e Bandas
entre 1200 a 1700cm-1 . Em evidência estão as regiões espectrais identificadas
como referentes à representação espectral da estrutura secundária das proteínas,
através das ligações peptídicas................................................................................ 63
Figura 19. Média dos Espectros FT-Raman de Carcinoma ductal in situ e Carcinoma
ductal in situ Comedo. ............................................................................................ 64
Figura 20. Média dos Espectros FT-Raman referentes aos Nove tipos Histológicos
estudados na região de deslocamento Raman de 2700 a 3400cm-1 referente ao gasto
energético tecidual. ................................................................................................. 65
Figura 21. Média dos Espectros FT-Raman de Carcinoma ductal infiltrante, Carcinoma
ductal infiltrante mucinoso e Condição fibrocística. .............................................. 66
Figura 22. Médias dos Espectros FT-Raman referentes aos tecidos Mama normal,
Carcinoma ductal in situ, Carcinoma ductal infiltrante e Carcinoma lobular
infiltrante. ................................................................................................................ 67
Figura 23. Médias dos Espectros FT-Raman referentes aos espectros Mama normal,
Carcinoma ductal in situ, Carcinoma ductal infiltrante e Carcinoma lobular
infiltrante. ................................................................................................................ 68
Figura 24 – Espectros FT-Raman de tecido mamário normal, com correção de linha de
base e normalizado em seu pico máximo pelo software Matlab . ........................ 69
Figura 25 - Espectros FT-Raman de Condição fibrocística, com correção de linha de
base e normalizado em seu pico máximo pelo software Matlab . ........................ 70
Figura 26 - Espectros FT-Raman de Carcinoma ductal infiltrante, com correção de linha
de base e normalizado em seu pico máximo pelo software Matlab ..................... 70
Figura 27. Nível de Significância (p) para o Teste t de Student (linha horizontal, p= a =
0,05) entre Média dos Espectros de Mama Normal e Condição Fibrocística......... 71
Figura 28. Nível de Significância (p) para o Teste t de Student (linha horizontal, p= a =
0,05) entre média dos espectros de Mama normal e Carcinoma ductal infiltrante. 72
Figura 29. Nível de Significância (p) para o Teste t de Student (linha horizontal, p= a =
0,05) entre média dos espectros de Condição fibrocística e Carcinoma ductal
infiltrante. ................................................................................................................ 72
Figura 30. Média dos espectros FT-Raman de Mama normal, Condição fibrocística e
Carcinoma ductal infiltrante, obtidas pelo espectrômetro FT-Raman RFS 100,
Bruker, onde estão demarcados pelos quadrados os picos analisados pelo teste t de
Student. ................................................................................................................... 74
Figura 31 - 2028 cm-1 versus 2084 cm-1 ......................................................................... 75
Figura 32 - 1657 cm-1 versus 2084 cm-1 ......................................................................... 75
Figura 33 - 1657 cm-1 versus 2028 cm-1 ......................................................................... 76
Figura 34 - 1457 cm-1 versus 2084 cm-1 ......................................................................... 76
Figura 35 - 1457 cm-1 versus 2028 cm-1 ......................................................................... 77
Figura 36 - 1457 cm-1 versus 1657 cm-1 ......................................................................... 77
Figura 37 - 1340 cm-1 versus 2084 cm-1 ......................................................................... 78
Figura 38 - 1340 cm-1 versus 2028 cm-1 ......................................................................... 78
Figura 39 - 1340 cm-1 versus 1657 cm-1 ......................................................................... 79
Figura 40 - 1340 cm-1 versus 1457 cm-1 ......................................................................... 79
Figura 41 - 1270 cm-1 versus 2084 cm-1 ......................................................................... 80
Figura 42 - 1270 cm-1 versus 2028 cm-1 ......................................................................... 80
Figura 43 - 1270 cm-1 versus 1657 cm-1 ......................................................................... 81
Figura 44 - 1270 cm-1 versus 1457 cm-1 ......................................................................... 81
Figura 45 – 1270 cm-1 versus 1340 cm-1 ......................................................................... 82
Figura 46 - 1457 cm-1 versus 2084 cm-1 ......................................................................... 82
Figura 47 - 1004 cm-1 versus 2084 cm-1 ......................................................................... 83
Figura 48 - 1004 cm-1 versus 2028 cm-1 ......................................................................... 83
Figura 49 - 1004 cm-1 versus 1657 cm-1 ......................................................................... 84
Figura 50 - 1004 cm-1 versus 1457 cm-1 ......................................................................... 84
Figura 51 - 1004 cm-1 versus 1340 cm-1 ......................................................................... 85
Figura 52 - 1004 cm-1 versus 1270 cm-1 ......................................................................... 85
Figura 53 - 940 cm-1 versus 2840 cm-1 ........................................................................... 86
Figura 54 - 940 cm-1 versus 2028 cm-1 ........................................................................... 86
Figura 55 - 940 cm-1 versus 2028 cm-1 ........................................................................... 87
Figura 56 - 940 cm-1 versus 1457 cm-1 ........................................................................... 87
Figura 57 - 940 cm-1 versus 1657 cm-1 ........................................................................... 88
Figura 58 - 940 cm-1 versus 1340 cm-1 ........................................................................... 88
Figura 59 - 940 cm-1 versus 1270 cm-1 ........................................................................... 89
Figura 60 - 940 cm-1 versus 1004 cm-1 ........................................................................... 89
Figura 61 - 540 cm-1 versus 2084 cm-1 ........................................................................... 90
Figura 62 - 540 cm-1 versus 2028 cm-1 ........................................................................... 90
Figura 63 - 540 cm-1 versus 1657 cm-1 ........................................................................... 91
Figura 64 - 540 cm-1 versus 1457 cm-1 ........................................................................... 91
Figura 65 - 540 cm-1 versus 1270 cm-1 ........................................................................... 92
Figura 66 - 540 cm-1 versus 1340 cm-1 ........................................................................... 92
Figura 67 - 540 cm-1 versus 1004 cm-1 ........................................................................... 93
Figura 68 - 540 cm-1 versus 940 cm-1 ............................................................................. 93
Lista de Tabelas
Tabela 1 - Distribuição dos tipos histológicos de câncer de mama ................................ 42
Tabela 2. Parâmetros ajustados com auxílio do Software OPUS 4.2 para a aquisição dos
espectros no FT-Raman Spectrometer RFS 100. .................................................... 53
Tabela 3 - Coeficiente de correlação dos Espectros FT-Raman dos Grupos
Histopatológicos...................................................................................................... 58
Tabela 4 - Relação dos Picos Raman analisados pelo Software Origin 5.0 através da
Análise Gaussiana de Múltiplos Picos e tentativa de identificação da maioria dos
modos vibracionais observados nos tecidos mamários normais e patológicos....... 59
Tabela 5 - Modos Vibracionais e Biomoléculas referentes picos Raman de tecido
mamário humano normal e patológico.................................................................... 60
Tabela 6. Teste t de Student correspondente aos espectros FT-Raman de mama normal,
condição fibrocística e carcinoma ductal infiltrante em relação aos picos
estatisticamente relevantes para diferenciação das médias..................................... 73
Lista de Abreviaturas, Siglas e Símbolos
FT-Raman
Fourier Transform Raman Spectroscopy
LASER
Light Amplification by Stimulated Emission of Radiation
Nd:YAG
Neodímio Ítrio-Alumínio-Granada
Ti:Safira
Titânio-Safira
InGaAs
Índio-Gálio-Arsênio
CCD
Charge Couple Device
SERS
Surface Enhanced Raman Scattering
CARS
Coherent Anti-Stokes Raman Scattering
USG
Ultra-sonografia
RNM
Ressonância nuclear magnética
PAAF
Punção aspirativa por agulha fina
IR
Infrared (Infravermelho)
NIR
Near Infrared (Infravermelho próximo)
UV
Ultravioleta
PCA
Principal Components Analysis
DNA
Deoxyribose nucleic acid (Ácido desoxirribonucléico)
RNA
Ribonucleic Acid (Ácido Ribonucléico)
ν
Modo de Estiramento
νS
Modo de Estiramento Simétrico
ν AS
Modo de Estiramento Assimétrico
δ
Modo de Dobramento
δS
Modo de Dobramento Simétrico
δ AS
Modo de Dobramento Assimétrico
C
Carbono
H
Hidrogênio
O
Oxigênio
N
Nitrogênio
=
Dupla Ligação

Ligação Simples
MB
Membrana basal
E. coli
Escherichia coli
MN
Mama Normal
CF/DF
Condição Fibrocística
CDIS
Carcinoma Ductal in Situ
CDISC
Carcinoma Ductal in Situ Comedo
CDI
Carcinoma Ductal Infiltrante
CDII
Carcinoma Ductal Infiltrante Inflamatório
CDIM
Carcinoma Ductal Infiltrante Medular
CDIMU
Carcinoma Ductal Infiltrante Mucinoso
CLI
Carcinoma Lobular Infiltrante
MHz
Mega Hertz
cm-1 /s
1/Centímetro/ segundo
cm-1
1/Centímetro
mm
Milímetro
µm
Micrômetro
nm
Nanômetro
o
Grau
C
Celsius
mW
mili Watt
%
Porcentagem
CA
Carcinoma
Ác.
Ácido
AN
Ácido Nucléico
aa
aminoácido
BRCA1
gene supressor do câncer
BRCA2
gene supressor do câncer
Sumário
1
INTRODUÇÃO....................................................................................................... 17
2
OBJETIVOS............................................................................................................ 20
3
REVISÃO DE LITERATURA................................................................................. 21
3.1
Espectroscopia Molecular.................................................................................... 22
3.1.1
Espectroscopia Raman....................................................................................22
3.1.2
Espectroscopia Raman em câncer de mama......................................................30
3.2
Inferência para duas populações.......................................................................... 35
3.2.1
Teste t de Student para duas amostras independentes.........................................35
3.3
A Mama Humana e a Carcinogênese ................................................................... 37
3.3.1
Histofisiologia da Mama .................................................................................38
3.3.2
Condição Fibrocística .....................................................................................39
3.3.3
Carcinoma de Mama.......................................................................................41
4
METODOLOGIA.................................................................................................... 50
4.1
Obtenção das amostras de tecido mamário .......................................................... 50
4.1.1
Cirurgia para Ressecção das Amostras.............................................................50
4.1.2
Armazenamento das amostras antes da Espectroscopia FT-Raman.....................50
4.2
Obtenção dos espectros FT-Raman...................................................................... 51
4.2.1
Espectrômetro FT-Raman ...............................................................................51
4.2.2
Parâmetros do Equipamento ............................................................................52
4.2.3
Preparação das Amostras para Experimento .....................................................53
4.3
Análise Histopatológica........................................................................................ 54
4.4
Análise dos Dados Espectrais............................................................................... 54
4.4.1
Análise Qualitativa .........................................................................................54
4.4.2
Análise Quantitativa .......................................................................................55
5
RESULTADOS........................................................................................................ 57
6
DISCUSSÃO............................................................................................................ 95
7
CONCLUSÃO....................................................................................................... 104
8
PROPOSTAS......................................................................................................... 105
REFERÊNCIAS............................................................................................................ 106
ANEXOS E APÊNDICES.............................................................................................. 111
1
INTRODUÇÃO
Hoje, o progresso da Medicina está intimamente relacionado aos muitos
fenômenos de interações moleculares dos sistemas biológicos. O desenvolvimento
tecnológico se espelha nestas dúvidas e intensifica as pesquisas na instrumentação
auxiliar para a análise físico-química visando investigar as estruturas e interações dos
sistemas moleculares. Dentre estes avanços tecnológicos, a Espectroscopia Óptica vem
se estabilizando como uma ferramenta prática para as análises morfo-químicas de
amostras sólidas, líquidas ou soluções de arranjos moleculares altamente complexos,
como as macromoléculas de interesse biológico.
Sem dúvida, a técnica de Espectroscopia Raman, com suas numerosas variantes,
é um desses métodos. Poucas técnicas espectroscópicas têm encontrado tanta faixa de
aplicação quanto à técnica de Espectroscopia Vibracional Raman. Isto pode ser
explicado tanto pela própria característica dos movimentos vibracionais moleculares,
quanto pelos substanciais desenvolvimentos instrumentais ocorridos nas duas últimas
décadas, envolvendo a construção de lasers mais potentes, detectores multicanais
intensificados, assim como instrumentos interferométricos com Transformada de
Fourier. Permitiu a aplicação da técnica Raman, conhecida e utilizada há muito tempo,
ser acessada por não-especialistas nos procedimentos de diagnósticos estruturais e/ou
finalidades analíticas.
Baseados no sucesso da Espectroscopia Raman em biologia, muitos grupos
reconhecem o potencial desta técnica no estudo e diagnóstico de doenças. No entanto,
as primeiras tentativas de medir os Espectros Raman de células e tecidos biológicos
foram retardadas basicamente por dois fatores: a altíssima fluorescência natural dos
tecidos biológicos, que obscureciam os fracos sinais Raman destes tecidos, e as
limitações instrumentais, exigindo maior potência do laser e maior sensibilidade dos
equipamentos para obter uma adequada razão sinal/ruído dos espectros. Melhorias
implementadas na instrumentação Raman desde os anos 80, particularmente nos
instrumentos que trabalham na região de infravermelho do espectro eletromagnético
favoreceram o fantástico crescimento das aplicações biomédicas da Espectroscopia
Raman. Diversos autores recentemente reportaram suas pesquisas em espectroscopia de
vários tecidos biológicos, ilustrando o potencial diversificado desta técnica estendendose desde o monitoramento de patologias, preciso diagnóstico molecular do processo
cancerígeno in vivo, ao desenvolvimento de imagem química de células e tecidos
através dos espectros Raman (MAHADEVAN-JANSEN, 1995; MAHADEVANJANSEN; RICHARDS-KORTUM, 1996; MAHADEVAN-JANSEN et al., 1998;
KLINE; TREADO, 1998).
As técnicas espectroscópicas que em conjunto denominam-se “Biópsia Óptica”,
têm o potencial de serem altamente sensíveis e serem utilizadas de maneira
minimamente invasiva, possibilitando o surgimento de métodos diagnósticos mais
seguros e rápidos, proporcionando maior conforto para um maior número de pacientes
(KLINE; TREADO, 1998). A “Biópsia Óptica” pode empregar a Espectroscopia
Vibracional para sondar regiões teciduais suspeitas in locu sem extensa preparação das
amostras e longa espera do resultado. A informação diagnóstica é fornecida pela
assinatura espectral singular de cada amostra, permitindo a diferenciação entre tecidos
biológicos normais e anormais em tempo real através de extensas análises estatísticas de
seus espectros. A Espectroscopia Raman é uma das técnicas da “Biópsia Óptica” que
será utilizada largamente na caracterização da variedade de estados patológicos no
câncer.
A técnica Raman poderá contribuir para o estudo histológico e histoquímico
através da implementação das variantes da técnica Raman, como Micro-Raman e
Surface Enhanced Raman Scattering (SERS). As duas técnicas ampliarão o campo de
visualização e aumentarão significativamente o sinal Raman a ser coletado,
possibilitando a identificação de alterações nucleares e de proteínas tumorais também in
locu.
Este presente estudo também revisa brevemente a literatura relevante
relacionada ao desenvolvimento tecnológico e ao uso da Espectroscopia Raman para
fins diagnósticos, principalmente de patologias mamárias, e considerações sobre as
vantagens da utilização dos equipamentos com Transformada de Fourier. Finalmente, a
exposição dos Espectros Raman de tecido mamário, com referências ao trabalho em
nível microscópico e molecular.
Os espectros FT-Raman obtidos dos tecidos mamários, neste estudo,
comprovaram ter informações altamente relevantes em relação à composição molecular
dos tecidos normais e das alterações moleculares no processo da carcinogênese.
Desenvolveu-se para este estudo parâmetros para aquisição dos espectros FT-Raman de
tecido mamário normal e alterado a fim de produzir uma biblioteca espectral, assim
como a introdução ao estudo de construção de modelos matemáticos para classificação
dos espectros em grupos semelhantes aos obtidos pela análise histopatológica.
Obtivemos com esta técnica nove modelos espectrais, com alto índice de correlação:
mama normal, Condição fibrocística, Carcinoma ductal in situ, Carcinoma ductal in situ
comedo, Carcinoma ductal infiltrante, Carcinoma ductal infiltrant e inflamatório,
Carcinoma ductal infiltrante medular, Carcinoma ductal infiltrante mucinoso,
Carcinoma lobular infiltrante.
Os testes estatísticos aplicados nos espectros, sendo Coeficiente de correlação e
Teste t Student serviram tanto para validar diferenças espectrais facilmente visualizadas
quanto para início do desenvolvimento de algoritmos matemáticos para classificação
dos espectros de acordo com o tipo histológico.
Esperamos que este trabalho seja uma base para adicionar às futuras
interpretações dos sinais Raman de tecido neoplásico que guiarão o desenvolvimento
racional das técnicas de diagnóstico para utilização clínica.
2
OBJETIVOS
O Projeto de Pesquisa envolvendo Espectroscopia Raman com transformada de
Fourier e tecido mamário humano feminino, é composto por inúmeras etapas,
envolvendo diferentes linhas de pesquisa, até culminar no desenvolvimento de uma
tecnologia de análise em tempo real.
Para tanto, o objetivo deste trabalho consiste em:
1. Obter espectros FT-Raman de tecido Mamário humano normal e de patologias
malignas e benignas que acometem este tecido;
2. Qualificação dos dados espectrais através de observação das variações dos espectros
de acordo como o tipo histopatológico;
3.
Validar estatisticamente, através de Teste t de Student, os espectros FT-Raman
obtidos de Mama normal, Condição fibrocística e Carcinoma ductal infiltrante, a fim
de verificar se as diferenças encontradas são válidas estatisticamente ou se ocorrem
devido a um erro amostral.
3
REVISÃO DE LITERATURA
O câncer se configura como um grande problema de saúde pública tanto nos
países desenvolvidos como nos países em desenvolvimento. As estatísticas mundiais
mostram que no ano 2000, ocorreram 5,3 milhões de casos novos de câncer em homens
e 4,7 milhões em mulheres, e que 6,2 milhões de pessoas morreram por essa causa,
sendo 3,5 milhões de homens e 2,7 milhões de mulheres, correspondendo a 12% do
total de mortes por todas as causas, que somam 56 milhões de pessoas. O câncer de
pulmão é o mais comum no mundo, somando cerca de 1,2 milhão de novos casos
anualmente, seguido pelo câncer de mama feminina o segundo câncer mais comum e o
primeiro entre as mulheres, com aproximadamente um milhão de novos casos por ano.
(INCA, 2003).
A Holanda é o país com a maior incidência, com uma taxa de incidência ajustada
de 90,2/100.000 habitantes. Nos Estados Unidos, a taxa é de 86,9/100.000. Taxas
elevadas também são encontradas na Europa, Austrália, Nova Zelândia e no sul da
América do Sul, especialmente no Uruguai e na Argentina. As populações da África e
da Ásia possuem, em sua maioria, baixos valores de incidência. As taxas de incidência
por câncer de mama aumentam com a idade, alcançando seu pico na faixa etária de 65 a
70 anos (INCA, 2003).
A rotina clínica para detecção do câncer de mama se utiliza largamente da
mamografia para monitoramento diagnóstico. Devido a incorreções relacionadas à
própria densidade da radiografia, como resultados destas são obtidos 22% de índices de
falso-negativos assim como uma alta taxa de resultados falso-positivos, 56% com risco
acumulativos de 10 exames, em mulheres com idade inferior a 50 anos. Além disso, o
uso de terapia de reposição hormonal (HRT) em mulheres pós-menopausa é
conhecidamente um fator de aumento da densidade da mama, demo nstrado
recentemente que impede a total eficácia do mapeamento da mama por mamografia
radiográfica. Técnicas como a Ressonância Magnética por Imagem (MRI) e Ultrasonografia (US) são utilizadas como procedimentos secundários devido aos fatores
como alto custo e pobre especificidade da técnica MRI e baixa sensibilidade para US.
Geralmente, procedimentos invasivos como a punção aspirativa por agulha fina
(PAAF), Core Biopsy  ou biópsias cirúrgicas são implementadas para promover
diagnóstico definitivo, porém em 80% dos casos estas biópsias são realizadas em
tecidos com alterações benignas que geralmente não possuem características
morfológicas malignas.
Dentro desta problemática, diversas investigações são propostas para a utlilização
de metodologias capazes de identificar alterações morfo-químicas das amostras através
de suas propriedades ópticas. Através das técnicas espectroscópicas no infravermelho se
propõem novas abordagens para diagnóstico de câncer de maneira minimamente
invasiva. Estas técnicas baseadas nas propriedades ópticas dos tecidos se mostram
vantajosas, pois permitem ser acessadas por não-especialistas, não oferecem riscos de
radiação ionizante ao médico e ao paciente, além de promover diagnóstico diferencial
em tempo real.
3.1
Espectroscopia Molecular
A Espectroscopia estuda a interação da radiação eletromagnética com a matéria,
sendo um dos seus principais objetivos a determinação dos níveis de energia de átomos
ou moléculas. De maneira direta, são obtidas as diferenças entre estes níveis de energia
a partir de medidas que determinam as posições relativas dos níveis energéticos. No
caso das moléculas, a região espectral onde estas transições são observadas depende do
tipo de níveis energéticos envolvidos: eletrônicos, vibracionais e/ou rotaciona is, assim,
as vibrações moleculares podem ser medidas por diferentes técnicas como a
Espectroscopia
de
Absorção
Eletrônica,
Espectroscopia
de
Fluorescência,
Espectroscopia de Absorção no Infravermelho, Espectroscopia Raman, e variáveis
destas mesmas técnicas (SALA, 1995).
3.1.1
Espectroscopia Raman
As técnicas espectroscópicas, de uma maneira geral, fornecem informações
detalhadas sobre os níveis de energia dos espécimes em estudo. Particularmente, no
caso da espectroscopia vibracional Raman, a grande vantagem reside na aquisição de
uma maior riqueza de detalhes proporcionada pelos níveis de energia vibracional frente
aos níveis de energia eletrônico. Enquanto os espectros eletrônicos, conhecidos como
fluorescência, são constituídos por bandas largas e usualmente sem estrutura, os
vibracionais Raman representam a “impressão digital” das moléculas (FARIA;
SANTOS, 1997).
A Espectroscopia Raman vem sendo utilizada para determinar a composição
química dos mais diversos materiais por mais de 70 anos. Devido aos espetaculares
avanços na área tecnológica, foram desenvolvidos instrumentos extremamente sensíveis
e de menor custo, despertando o interesse de pesquisadores em todas as áreas do
conhecimento científico (ANGEL; CARRABBA; COONEY, 1995).
3.1.1.1 Histórico
O efeito Raman foi previsto teoricamente por Smekal et al. (1923) e confirmado
experimentalmente por Chandrasekhara Venkata Raman (1928). Surpreendentemente, o
equipamento empregado por Raman para a observação do efeito não poderia ser mais
simples: a luz do sol, um espectroscópio de bolso e, como detector, o olho humano.
Essencialmente, Raman imaginou a possibilidade da radiação visível interagir com a
matéria de modo tal que houvesse a variação na energia do fóton incidente, sendo que
essa transferência de energia seria dependente da massa de do tipo de ligações das
moléculas (FARIA; SANTOS, 1997).
O primeiro artigo de Raman sobre este efeito foi publicado na revista Nature em
31 de Março de 1928. Neste artigo, Raman descreveu o arranjo experimental utilizado
que o possibilitou visualizar o espalhamento inelástico da radiação. Neste experimento,
Raman focalizou, através de uma série de lentes especiais, a luz solar em um recipiente
contendo um líquido cuidadosamente purificado. Antes da amostra, porém, era colocado
um filtro azul que deixava passar somente radiação na região de maior energia do
espectro visível (vermelho). Observando a amostra, em uma direção perpendicular à
direção de iluminação, era possível observar o traço luminoso, azul esverdeado, devido
ao espalhamento inelástico da radiação. Assim estava descoberto um novo tipo de
fenômeno, batizado de Efeito Raman por um dos estudantes do pesquisador indiano
(RAMAN; KRISHNAN, 1928). Com esta descoberta Raman ganhou o prêmio Nobel de
Física em 1930 (JAYARAMAN et al., 1989).
Desde a sua descoberta inicial, o efeito despertou interesse entre os físicos, que
procuraram explicar seu mecanismo, pois tal efeito sugeriu a possibilidade de fornecer
informações valiosas sobre a estrutura molecular dos compostos através de uma
metodologia não destrutível. Os trabalhos experimentais daquela época se limitavam à
obtenção de espectros e em alguns casos à atribuição das freqüências aos modos
vibracionais. Na década de 1940 os químicos já usavam a Espectroscopia Raman para
obtenção de informações relativas à simetria molecular e às ligações químicas
(JAYARAMAN, 1989).
A introdução do uso da radiação laser como fonte de excitação na
Espectroscopia Raman, em 1962, se deve ao brasileiro Sérgio Porto, que em
colaboração com Wood, utilizaram laser pulsado de rubi para obtenção de espectros
Raman. Kogelnik e Porto (1963) foram os primeiros a utilizar laser contínuo de HélioNeônio (He-Ne) no comprimento de onde de 632,8 nm na Espectroscopia Raman. Este
processo de constante inovação e desenvolvimento na tecnologia disponível permitiu
que a Espectroscopia Raman se tornasse uma poderosa ferramenta analítica acessada
por não especialistas (PORTO; WOOD, 1962; KOGELNIK; PORTO, 1963).
A crescente utilização da técnica de Espectroscopia Raman em diversos
segmentos científicos direcionou e acelerou o desenvolvimento de equipamentos.
Surgiram, a partir de então, técnicas mais específicas de análise Raman, ampliando as
possibilidades de análises dos materiais, como o efeito Raman Ressonante, efeito
Raman Intensificado por Superfície (SERS), efeito Raman Inverso, espalhamento
Raman Anti-Stokes Coerente (CARS) e Micro-Raman.
3.1.1.2
Efeito Raman
O Efeito Raman é o espalhamento inelástico da luz produzido por íons, átomos e
moléculas, relacionado à mudança de freqüência da luz incidente quando espalhada.
Quando um feixe de luz monocromática incide em uma molécula cujas dimensões são
menores que o comprimento de onda da luz incidente, ocorre o fenômeno do
espalhamento. Uma parte da energia monocromática dos fótons incidentes é transferida
para as moléculas de uma tal maneira que alguns dos elétrons pertencentes aos
diferentes níveis de energia se tornam então excitados, ocorrendo aumento na
freqüência de vibração de algumas ligações desta molécula. Para esta molécula voltar ao
seu estado fundamental, mais estável que o estado excitado, existe a necessidade de que
esta energia seja entregue novamente ao meio. Esta variação na freqüência entre a
energia emitida e a espalhada pela molécula é um fenômeno dependente da massa da
molécula e dos tipos de ligações que a constitui. A estrutura da molécula, massa
atômica, tipos de ligações, substitutos moleculares, geometria molecular e pontes de
hidrogênio afetam a constante de força vibracional que dita a vibração molecular. Sendo
assim, existem diversos movimentos que constituem o conjunto de modos vibracionais
normais, entre estes podemos citar: modo de estiramento entre duas ligações atômicas;
modo de dobramento entre três átomos conectados por duas ligações; modo de
deformação fora do plano que muda a estrutura da molécula de plana para angular
(SALA, 1995).
A Espectroscopia Raman é fundamentada no fenômeno de mudança de
freqüência da luz quando esta é espalhada pelas moléculas. Uma dada freqüência de
uma luz incidente é ? 0 e a freqüência da luz espalhada por uma molécula é ? r, a variação
de freqüência incidente e espalhada pode ser entendida por:
∆ν = ν r −ν 0
A freqüência de deslocamento Raman é equivalente a mudança de energia h∆ν .
Os resultados observados são usualmente expressos em termos de número de ondas
(wavenumbers) e não freqüência.
3.1.1.3 Espalhamento Raman
A maior parte da luz espalhada apresenta o mesmo comprimento de onda da luz
incidente, e este espalhamento é conhecido como espalhamento elástico ou Rayleigh.
Uma pequena parcela desta luz espalhada, no entanto, apresenta um comprimento de
onda diferente daquele da luz incidente, e a sua existência constitui espalhamento
inelástico ou Raman. A proporção de fótons espalhados inelasticamente em relação aos
espalhados elasticamente é da ordem de 10-7 , o que torna a sua detecção problemática
em algumas situações. Estas mudanças de freqüências estão diretamente relacionadas à
quantidade de energia de excitação das partículas que são distintas para cada tipo de
moléculas.
Filtrando-se a linha Rayleigh, de freqüência conhecida, pelo fato de se utilizar
uma luz monocromática como fonte de excitação de moléculas, obtem-se somente as
freqüências espalhadas inelasticamente. Assim, a energia vibracional de diversos
materiais pode ser deduzida e a estrutura de suas partículas identificada através do
espectro Raman.
No processo de espalhamento, um fóton de energia é destruído e
simultaneamente um fóton espalhado de energia é criado. No espalhamento Raman a
radiação que interage com a molécula é espalhada com freqüência ligeiramente
modificada. Esta variação de freqüência corresponde à diferença de energia entre dois
estados vibracionais. A interação, entretanto, pode ser inelástica, a qual leva a matéria
para um nível de energia excitado, o que resulta em uma perda de energia do fóton, e
este é espalhado com freqüências menores que a incidente, sendo estas freqüências
Raman conhecidas como linhas Stokes. Se a matéria está em um estado excitado, a
colisão com um fóton pode causar uma perda de energia e os elétrons sofrem uma
transição para um estado de energia mais baixa. Neste caso, as freqüências Raman são
conhecidas como Anti-Stokes (SALA, 1995).
3.1.1.4 Polarizabilidade
Para um modo vibracional ser Raman ativo existe a necessidade da variação da
polarizabilidade da molécula durante a vibração, isto é, o momento de dipolo a ser
considerado é induzido pela radiação eletromagnética. O campo elétrico produzido pelo
feixe de luz monocromática polariza os elétrons da molécula em ressonância,
promovendo a deformação da nuvem eletrônica molecular. Nesta distorção, a carga
positiva do núcleo é atraída em direção oposta ao pólo negativo do campo elétrico, o
elétron em direção oposta ao pólo positivo. Esta separação de cargas causa uma indução
no momento dipolo e se diz que a molécula está polarizada (SALA, 1995).
O campo elétrico produzido pela molécula polarizada oscila na mesma
freqüência da onda passante, então a molécula age como uma fonte de radiação própria
emitindo fótons para todas as direções (SALA, 1995).
Se a polarização é constante, o espalhamento é elástico; se a molécula muda sua
polarizabilidade, ou seja, muda o centro de carga, então, o espalhamento é inelástico, ou
Raman.
3.1.1.5
Instrumentação em Espectroscopia Raman
Espectroscopia Raman requer o uso de fontes de luz monocromáticas, ou seja,
com um único comprimento de onda, visto que é baseada no deslocamento da
freqüência a partir da luz incidente, que é muito pequena e pode ser obscurecida por
uma fonte de largos comprimentos de onda.
A Espectroscopia Raman pode ser classificada baseada por sua fonte de luz
utilizada, como por exemplo: Ultra-Violeta (UV), Visível e Infra-Vermelho (IR). Para a
maioria das aplicações da Espectroscopia Raman na área Bioló gica/ Biomédica, fontes
de excitação no infravermelho são mais utilizadas devido à propriedade física de
conseguir diminuir virtualmente a emissão de autofluorescência de, por exemplo,
enzimas presentes nos tecidos biológicos. Os lasers mais comuns usados pela
Espectroscopia Raman no infravermelho são: Neodímio Ítrio-Alumínio-Granada (Nd:
YAG) e Titânio-Safira (Ti: Safira) (SALA, 1995). Quando uma luz monocromática no
comprimento de onde visível, ou até mesmo em 780 nm, são utilizadas como fonte de
excitação para o efeito Raman, estas linhas fracas geralmente são encobertas pela
radiação de fluorescência emitida por constituintes celulares, como enzimas, que estão
sempre presentes mesmo em concentrações muito baixas. Para driblar este obstáculo,
diminui-se a energia quântica da fonte de excitação para um grau tal que somente os
níveis vibracionais são excitados e não os níveis eletrônicos. Com excitação a 1064 nm
a partir de um laser de Nd: YAG, por exemplo, esta fluorescência é virtualmente
eliminada (SCHRADER, 1989; SCHRADER, 1995; SCHRADER; MOORE, 1997;
SCHRADER et al., 1997).
A Espectroscopia Raman também pode ser classificada de acordo com
tecnologia empregada, por exemplo: Transformada de Fourier (FT-Raman) ou de
Sistema Dispersivos. O Sistema FT-Raman tem inúmeras vantagens sobre o Sistema
Dispersivo, incluindo a vantagem “multiplex” o qual lidera a capacidade de coletar
vários comprimentos de onda em um curto período de tempo. No entanto, a
Espectroscopia Raman Dispersiva tem se tornado muito mais popular desde o advento
de um detector CCD (Charge Couple Device Detector) devido ao alto ganho de
eficiência quântica. A partir desta tecnologia, provavelmente serão desenvolvidos os
equipamentos para coleta de espectros Raman in vivo, a atual dificuldade é a baixa
sensibilidade do detector CCD nos comprimentos de onda de excitação acima de
830 nm (SCHRADER, 1989; SCHRADER, 1995; SCHRADER; MOORE, 1997;
SCHRADER et al., 1997).
3.1.1.5.1 Espectroscopia FT-Raman
Sinais Raman obtidos a partir de amostras biológicas são extremamente fracos, e
a emissão de fluorescência acaba sendo a maior interferência para as medidas de
Espectroscopia Raman (ALCANTARA, 2002). No Raman convencional onde para
excitação geralmente se utilizam lasers de radiação visível, cerca de 90% das amostras
que contém impurezas produzem forte fluorescência, mascarando assim, o sinal Raman
(ANGEL et al., 1995). Para remover esta fluorescência indesejável no espectro Raman,
utilizam-se diversas técnicas como, por exemplo, a Espectroscopia Raman Anti-Stokes
Coerente (CARS). Este método, porém, requer um sistema óptico complexo e muito
caro, não sendo, portanto, um método de primeira escolha. A melhor opção para esta
situação é a Espectroscopia Raman com Transformada de Fourier (FT-Raman)
utilizando como fonte de excitação o laser de Nd: YAG no comprimento de onda de
1064 nm que mantém a maioria das bandas de absorção dos fluoróforos fora do espectro
Raman. Na região do comprimento de onda de 1000 a 1300 nm, o método de FT-Raman
promove a maior sensibilidade óptica devido ao sistema multiplex do espectrômetro FT
(ALCANTARA, 2002).
A excitação no infravermelho próximo, a 1064 nm, também minimiza a
degradação fotolítica da amostra, permitindo que uma maior potência de incidência do
laser seja utilizada para compensar o espalhamento Raman menos intenso quando
excitado por comprimentos de onda mais longos. Há alguns anos, foi demonstrado que
quando se emprega um laser de Nd: YAG como fonte de excitação para o efeito Raman,
o número de amostras que fluorescem diminui enormemente (SCHRADER, 1989;
SCHRADER, 1995; SCHRADER; MOORE, 1997; SCHRADER et al., 1997).
3.1.1.5.1.1 Transformada de Fourier
O interesse em métodos de processamento digital de imagens advem
principalmente de duas áreas de aplicações: a melhoria da informação para interpretação
humana e para o processamento de dados em computador. A Transformada Discreta de
Fourier Bi-dimensional, desenvolvida por Jean Baptiste Joseph Fourier, um matemático
francês, se tornou uma ferramenta matemática de grande aplicabilidade na solução dos
problemas de processamento digital de imagens, ou seja, promove a mudança do
domínio do tempo ou espaço (x, y) para o domínio da freqüência facilitando, assim, o
processamento digital da imagem (FONSECA NETO; ALCOCER, 1998).
3.1.1.6
Aplicações Bioquímicas e Biomédicas da Espectroscopia Raman
A Medicina, para muitos estudiosos, é a ciência que se baseia firmemente nos
fundamentos das Ciências Biológicas, na qual traça sua evolução a partir das Ciências
Exatas como Química, Física e Matemática (MADSEN et al., 1994).
A exemplo desta interação entre Ciências Biológicas e Exatas, a Espectroscopia
Raman se torna uma ferramenta potencialmente importante na análise química na área
médica, permitindo futuramente a detecção, o monitoramento e o estudo das patologias
humanas in vivo promovendo diagnóstico em tempo real (PARKER, 1971; LONDON et
al., 1992; FRANK et al., 1994; KELLER et al., 1994; MIZUNO et al., 1994; FELD et
al.,
1995;
MAHADEVAN-JANSEN
RICHARDS-KORTUM,
1996;
et
al,
1995;
MANOHARAN;
MAHADEVAN-JANSEN;
WANG;
FIELD,
1996;
MAHADEVAN-JANSEN et al, 1998; MANOHARAN, 1998; HATA et al., 2000;
PAPPAS, 2000; STONE et al., 2000; HAKA et al., 2002, KENDALL et al., 2003; LAU
et al., 2003; MOLCKOVSKY et al., 2003; CROW et al., 2004; GNIADECKA et al.,
2004; STONE et al., 2004).
Idealmente, todos os procedimentos diagnósticos deveriam ser não- invasivos.
No entanto, não é a realidade dos métodos de análise histopatológica atual, que
analisam o tecido cirurgicamente removido antes do diagnóstico final. No caso de
amostras de tecidos biológicos, uma fina secção do tecido removido é examinada pelo
patologista que identifica os elementos essenciais das patologias como grau de
diferenciação celular, anormalidades celulares e nucleares, invasão, fibroses, entre
outros (JACKSON; MANTSCH, 1997; CONTRAN; KUMAR; COLLINS, 2000;
MARTONELLI FILHO, 2000; HONDERMARCK et al., 2002).
A Espectroscopia Vibracional ou Raman poderá ser aplicada com eficiência em
vários tipos de análise com grandes benefícios ao paciente. Em trabalho proposto por
Jackson e colaboradores (1997), foram relacionadas informações sobre a concentração
de todos os componentes presentes no fluído sanguíneo obtidas através de análises
matemáticas baseadas em dados espectrais de referência, promovendo diagnóstico sobre
a concentração dos componentes celulares presentes em amostra de sangue (JACKSON;
MANTSCH, 1997).
Na Espectroscopia Vibracional, destacam-se duas técnicas diferentes que, de
acordo com regras de seleção das bandas vibracionais, são complementares: a
Espectroscopia Raman e Espectroscopia de Absorção no Infravermelho. Os espectros
FT-Raman no Infravermelho Próximo (FT-NIR Raman) e Espectroscopia Vibracional
no Infravermelho (FT-IR) de microorganismos, células vegetais, animais e células
humanas, incluindo fluidos corporais, se tornam altamente específicos, possuindo
assinaturas espectrais que podem ser usadas para discriminar os diversos subgrupos e
patologias existentes, caracterizar os fenômenos do processo de crescimento celular,
estudar as interações celulares com diferentes drogas e a diferenciação de estágios
patológicos. Estas informações espectrais são altamente poderosas na caracterização
biomédica que pode ser distribuída por toda a região do infravermelho do espectro
eletromagnético. No entanto, a chave do problema se encontra na elucidação de um
método de avaliação das informações vibracionais extraídas a partir do espectro
infravermelho de amostras complexas como são as biológicas (MAHADEVANJANSEN,
1995;
MAHADEVAN-JANSEN;
RICHARDS-KORTUM,
1996;
MANOHARAN; WANG; FIELD, 1996; MAHDEVAN-JANSEN et al., 1998;
MANOHARAN, 1998).
Os espectros Raman de tecidos biológicos com alterações benignas e malignas
mostram crescimento no conteúdo de proteína e decréscimo no conteúdo de lipídios em
comparação aos tecidos biológicos normais. A Espectroscopia Raman macroscópica
executada eficientemente em amostra de tecido mamário evidencia o espectro de um
grande número de células. Sendo uma pequena porção da amostra compostas por
células cancerosas, em estágio inicial de desenvolvimento da patologia, o macro-Raman
geralmente será insensível na presença da doença. Uma estratégia para detectar uma
baixa média de concentração de células cancerosas no tecido é promover a resolução
espacial do espectro Raman usando Micro-Raman (KLIN E, TREADO, 1998).
3.1.2
Espectroscopia Raman em câncer de mama
A Espectroscopia de Fluorescência dominou as pesquisas no passado devido a
sua alta intensidade e sensibilidade. Com o advento da tecnologia e detectores
apropriados, a Espectroscopia Raman vem se tornando a técnica espectroscópica de
escolha no estudo do câncer de mama, devido a sua alta especificidade e sensibilidade
(PAPPAS, 2000).
Mudanças na estrutura da célula associada à doença são geralmente aparentes no
Espectro Raman, permitindo sua identificação em fase inicial (PAPPAS, 2000). Além
disso, a Espectroscopia Raman oferece uma vantagem significativa sobre as outras
técnicas de analise pelo fato da água ter um sinal Raman extremamente fraco (CROW et
al., 2004).
Tanto os tecidos normais quanto os cancerosos estão sob influência de processos
bioquímicos. Portanto, possuem fatores particulares ou marcadores que podem ser
usados para diferenciá- los. Podemos entender marcadores bioquímicos como sendo
alguns componentes teciduais importantes que fa zem parte do metabolismo e/ou
constituição celular, como o citrato e o glicogênio, fosfolipídios, glicose e até mesmo o
DNA (MAHADEVAN-JANSEN, 1995; MAHADEVAN-JANSEN; RICHARDSKORTUM, 1996; MANOHARAN; WANG; FIELD, 1996; MAHDEVAN-JANSEN et
al., 1998; MANOHARAN, 1998). Estes marcadores informam sobre a diferenciação de
tecido com alterações pré-cancerosas que podem vir a desenvolver um tumor maligno.
Desta maneira, pode ser possível que se utilize a Espectroscopia Raman para identificar
este tipo de lesão em estágios menos avançados, aumentando as chances do paciente ser
submetido a tratamentos bem sucedidos.
A caracterização do tecido mamário humano por Espectroscopia Raman
Dispersiva, em comprimentos de onda de excitação do visível ao infravermelho,
primeiramente visava identificar os picos Raman e compostos predominantes para
classificar as lesões em três grandes grupos baseados no diagnóstico histológico:
normal, tecido com alterações fibrocísticas e carcinoma ductal. Em 1992, Redd e
colaboradores identificaram diferenças nas concentrações de lipídios e carotenóides, que
se mostraram mais intensas no tecido normal do que nas alterações fibrocísticas e
carcinoma ductal. Porém, o diagnóstico diferencial entre patologias benignas e malignas
não foi possível.
Frank e colaboradores (1994), também caracterizaram amostras de tecido
mamário humano em diferentes comprimentos de onda de excitação, em relação à
composição dos lipídios e carotenóides presentes nestes tecidos e as suas alterações no
decorrer do processo de carcinogênese. Em 1995, Frank e colaboradores fixaram o
comprimento de onda de excitação em 784 nm com um detector de CCD que reduzia a
interferência da fluorescência produzida. O estudo baseou-se nas diferenças entre os
espectros de tecido mamário de diversos pacientes, onde primeiramente verificou-se que
as diferenças entre todos os espectros de tecido normal foram menores que 5 %.
Identificaram também uma drástica mudança a partir da obtenção dos espectros de
tecido fibrocístico e carcinoma intraductal, porém ainda não conseguiram estabelecer
diagnóstico diferencial.
A dificuldade, portanto, se encontra na diferenciação entre os Espectros Raman
dos tecidos mamários com alterações benignas e malignas. Análises estatísticas
multivariadas, baseadas na Análise dos Componentes Principais (PCA), foram
empregadas na tentativa de resolver este problema. Manoharan e colaboradores (1996)
foram capazes de diagnosticar corretamente 14 em 15 amostras de tecido normais, 13
em 15 amostras de tecido com alterações benignas e 31 em 31 amostras de tecido
mamário humano com alterações malignas, utilizando-se destes métodos estatísticos.
A reação desmoplásica dos carcinomas justificava a comparação do espectro
Raman dos carcinomas ductais com espectro de colágeno. Porém, o verdadeiro
potencial diagnóstico desta técnica permanecia obscurecido: os espectros dos ductos
alterados não conseguiam ser identificados. A partir desta lógica, o estudo do câncer de
mama por Espectroscopia Raman tomou novos rumos.
Kline e colaboradores (1998) foram os pioneiros na utilização da técnica de
imagem Raman obtida de tecido mamário humano por Espectroscopia Micro-Raman.
Utilizaram esta técnica, associada à análise matemática multivariada, para avaliar a
distribuição de lipídios e proteínas dentro do tecido mamário normal e com câncer, e
assim promover o diagnóstico diferencial, a partir do fato de que as alterações
cancerosas apresentam reação desmoplástica, ou seja, o desenvolvimento de tecido
fibroso em substituição a um tecido lipídico. Justifica-se a visualização dos
componentes como um passo essencial no desenvolvimento de uma “Biopsia Óptica”
quantitativa adequada para a detecção não invasiva do câncer de mama.
Manoharan e colaboradores (1998) conseguiram obter o diagnóstico diferencial
entre mama normal e tecidos mamários com alterações neoplásicas benignas e malignas,
obtidos de amostras de punção por agulha fina, utilizando a técnica de Espectroscopia
Micro-Raman, com o objetivo de melhorar a exatidão do diagnóstico das amostragens
por agulha fina. Além disso, pôde com a técnica, identificar em solução objetos
microscópicos fluorescentes, comprovando a possibilidade de se identificar estas
alterações em meio heterogêneo.
O potencial clínico da Espectroscopia Raman desperta interesse para o
desenvolvimento de importantes pesquisas baseadas nos espectros obtidos por MicroRaman confocal, a partir de amostras de tecido mamário colhidas por punção de agulha
fina. Estes resultados futuramente servirão de dados base para o SERS através da
amplificação destes sinais para o estudo de marcadores tumorais (MC DANIEL et al.,
2003).
Shafer-Peltier e colaboradores (2002), publicaram trabalho baseado nos
espectros de tecido mamários obtidos pela técnica de Espectroscopia Micro-Raman. O
princípio é o mesmo da técnica macroscópica, no entanto, ao equipamento foi acoplado
um microscópio confocal para ajustar a imagem microscópica permitindo o foco do
laser a até 1µm pontual. Ainda câmeras CCD de captura de imagens digitais,
desenvolvimento de algoritmos matemáticos sofisticados para filtragem e análise destes
espectros, possibilitaram a obtenção de uma imagem química da amostra, facilmente
comparável a uma lâmina histológica. Para o entendimento da morfologia e da
bioquímica dos tecidos mamários obtidos a partir desta técnica, Shafer-Peltier e
colaboradores obtiveram imagens espectrais a partir da soma dos espectros isolados dos
componentes do tecido mamário humano: componentes celulares, lipídios, colesterol,
beta caroteno, colágeno, hidroxiapatita de cálcio, oxalato de cálcio e água. O resultados
desta pesquisa descrevem em porcentagem as variações existentes entre estes
componentes em diferentes estados do tecido mamário: sem alterações, com alterações
benignas e em tumores malignos.
A imagem química Raman da distribuição de lipídios, proteínas e ácidos
nucléicos em tecido mamário é realizada sem a utilização de agentes de contraste
invasivos. Ao contrário, a discriminação dos componentes tissulares é baseada na
particularidade do espectro vibracional intrínseco dos compostos. No entanto, o
contraste da imagem química é conseguido quando a técnica de Espectroscopia Raman
é empregada, incluindo as análises dos deslocamentos de picos e análises multivariadas
de imagem. A visualização de componentes tissulares de mama é um passo essencial no
desenvolvimento de uma análise quantitativa de biópsia óptica baseada na técnica
Raman compatível para detecções minimamente invasivas para classificação das
diversas patologias mamárias (KLINE; TREADO, 1998).
Baseados nos fundamentos das análises mamográficas para diagnóstico clínico
de câncer de mama, Haka e colaboradores (2002) analisaram, utilizando Espectroscopia
Micro-Raman, as microcalcificações de tumores benignos e malignos da mama através
de lâminas histológicas. O estudo pode ser assim realizado pelo fato de as
microcalcificações serem relativamente inertes aos efeitos da preparação da amostra
para estudo microscópico, e, além disso, os autores possuíam espectros Raman de
amostras de microcalcificações não fixadas para efeito de comparação. Neste estudo
utilizou-se um Equipamento Raman Dispersivo, com laser de excitação em 830 nm,
acoplado a um microscópio confocal, focando o laser em 2 µm. Aplicando a Análise
dos Componentes Principais (PCA) nos espectros obtidos, foram capazes de diferenciar
os diferentes tipos de microcalcificações que ocorrem nos ductos mamários. Para as
alterações benignas diagnosticaram a presença de calcificação tipo I, as calcificações
tipo II foram diagnosticadas tanto para neoplasias benignas quanto para malignas,
porém com maior significância para as últimas. Os resultados apresentaram 88% e 93%
de sensibilidade e especificidade, respectivamente, promovendo uma discussão sobre o
desenvolvimento desta técnica diagnóstica frente a mamografia, que não permite tal
diferenciação das microcalcificações (HAKA et al., 2002).
Existem também estudos promissores na análise dos linfonodos axilares das
pacientes com diagnóstico de câncer de mama. Smith e colaboradores (2003)
publicaram o estudo baseado no mapeamento dos linfonodos axilares. O método de
mapeamento espectral consiste na varredura de toda a amostra biológica, deslocando
pequenos pontos para a aquisição dos espectros Micro-Raman. A imagem, visualizada
na tela do computador obtida a partir da escolha de um pico significativo da amostra, e
por análises matemática, como PCA, mostraram a distribuição deste pico dentro do
espaço de mapeamento. Escolhidos os picos de interesse e feita a plotagem em imagem
química, o que se obtém é uma imagem computadorizada que futuramente será idêntica
às lâminas histológicas.
A Espectroscopia FT-Raman pode ser melhorada, ainda medindo amostra
macroscópicas, para identificação de compostos protéicos muito importantes para o
diagnóstico e prognóstico de câncer de mama. Os marcadores tumorais podem ser
identificados pela técnica Raman Intensificado por Superfície (SERS), técnica na qual
se aplicam substratos metálicos, como a prata, na amostra de tecido biológico,
aumentando enormemente a eficiência do Efeito Raman e melhorando o detalhamento
do espectro Raman. McDaniel e colaboradores (2003) avaliaram, pela técnica SERS, o
genótipo do citocromo P450 3A4 para identificação de tumores mamários, baseando-se
nas hipóteses de que a expressão do gene CYP 3A4 tem representação clínica no câncer
de mama e que a espectroscopia juntamente com análises genéticas permitem resultados
exatos, podendo ser perfeitamente aplicados em clínica.
3.2
Inferência para duas populações
Nesta fase do presente estudo, existe a necessidade de se padronizar as medidas
bem como verificar a correlação entre os espectros FT-Raman coletados neste trabalho.
Assim, abordaremos o tópico importante de comparar duas populações baseadas em
técnicas estatísticas, supondo que as variáveis deste estudo tenham distrib uição normal
(BUSSAB, 2004).
3.2.1
Teste t de Student para duas amostras independentes
Este teste estatístico é provavelmente o mais amplamente utilizado em todos os
tempos. É certamente o mais conhecido de todos por ser um teste simples, direto, fácil
de aplicar e adaptável a vários tipos de situações. Sua utilidade é ocasionada pelo fato
de que a pesquisa científica freqüentemente examina o fenômeno da natureza através de
duas variáveis ao mesmo tempo, com a finalidade de questionar questões do tipo: “Este
tecido mamário está doente ou é normal?”; “Existem diferenças entre o tecido com
condição fibrocística da mama e carcinoma ductal infiltrante baseados em seus
espectros FT-Raman?”.
Cada uma destas perguntas, para este estudo, propõe o estudo estatístico de três
amostragens independentes, sendo cada um destes grupos compostos por um conjunto
de espectros FT-Raman separados de acordo com o modelo histopatológico: tecido de
mama sadio; tecido alterado benigno, no caso condição fibrocística; e carcinoma ductal
infiltrante, representando as lesões malignas. Sendo assim se torna obvio que o grupo
mama normal seja independe ao grupo condição fibrocística e carcinoma ductal
infiltrante.
Para inferir sobre a diferença estatística entre duas populações o teste da hipótese
nula H0 : não existe diferença entre as médias de dois grupos, será utilizado. A aceitação
ou rejeição desta hipótese parte da fixação a priori de um nível de significância α, que
neste estudo é de 0,05, ou 5 %. Sendo assim, o intervalo de confiança e a região crítica
com base nos valores críticos para α/2 e 1-α/2, são determinados. Para valores da
diferença das médias fora do intervalo de confiança H0 é rejeitada.
Porém, existe outra maneira de proceder, a qual tem como chave o valor p,
chamado de probabilidade de significância, que é calculado a partir dos dados obtidos
na investigação. A principal diferença está em não construir a região crítica ou intervalo
de confiança. Este procedimento indica a probabilidade de ocorrer valores da estatística
mais extremos do que o observado sob a hipótese H0 ser verdadeira. (MORETTIN;
BUSSAB, 2004).
Assim, a estratégia para comparar populações por meios de seus parâmetros
envolve suposições sobre a forma das suas distribuições de probabilidades, para então,
testar médias e variâncias. Se H0 for verdadeira, todas as amostras têm origem em
populações com a mesma distribuição de probabilidades, assim, a diferença entre
grupos se deve à amostragem aleatória. Se o valor p for baixo (p < α), Ho é rejeitada, e
conclui- se que a diferença é estatisticamente significativa para o nível de significância
α, e as possibilidades de sobreposição das distribuições de probabilidade é pequena. Se
p for alto (p ≥ α), Ho é aceita, e os dados não dão nenhuma razão estatística para
concluir que as médias dos grupos diferem significativamente e haverá uma quantidade
significativa de sobreposição entre as distribuições de probabilidades dos grupos (ZAR,
et al., 1999). O teste t de Student é apropriado para inferir esse tipo de situação.
Sendo assim neste presente trabalho, o tecido mamário humano feminino foi
estudado através do teste t de Student a partir dos espectros FT-Raman de cada tipo
histológico (mama normal, condição fibrocística e carcinoma ductal infiltrante) usados
como padrão espectral que descrevem sua bioquímica e morfologia. As mudanças
transicionais encontradas nos tecidos pré-cancerosos assim como as anormalidades
benignas como inflamação podem também gerar espectros que permitem sua
diferenciação (MAHADEVAN-JANSEN; RICHADS-KORTUM, 1996).
Para o teste t de Student utilizou-se como hipótese de Ho que as amostras
randomizadas são parte de populações que possuem a mesma distribuição normal. As
hipóteses nulas a serem verificadas são: (1) médias das componentes espectrais de
mama normal e condição fibrocística são iguais; (2) médias das componentes espectrais
de mama normal e carcinoma ductal são iguais; (3) médias das componentes espectrais
do carcinoma ductal e infiltrante são iguais. A implicação imediata é que qualquer
diferença encontrada entre as médias das amostras deveria ser significativamente
diferente de zero.
3.3
A Mama Humana e a Carcinogênese
A incidência do câncer de mama feminina vem experimentando um crescimento
contínuo na última década, o que pode ser resultado de mudanças sócio-demográficas e
acessibilidade aos serviços de saúde permitindo o seu diagnóstico. Seu prognóstico é
relativamente bom se diagnosticado nos estádios iniciais. Estima-se que a sobrevida
média geral cumulativa após cinco anos seja de 65%, podendo variar entre 53 e 74%,
nos países desenvolvidos, e de 51%,variando entre 49 e 56%, para os países em
desenvolvimento. Na população mundial, a sobrevida média após cinco anos é de 61%
(INCA, 2003).
Fatores de risco em mulheres incluem história familiar de câncer de mama,
endométrio e próstata, diagnóstico confirmado de hiperplasia atípica, densidade da
mama aumentada, história de menarca precoce ou menopausa tardia, obesidade após a
menopausa, reposição hormonal pós- menopausa, nuliparidade ou primeira gravidez
após 30 anos de idade e consumo de bebidas alcoólicas. Os genes BRCA1 e BRCA2,
genes supressores identificados como responsáveis pelo desenvolvimento de câncer de
mama familiar, são responsáveis por apenas 5% de todos os casos que ocorrem na
população feminina. Por outro lado, a atividade física regular parece ser fator de
proteção (INCA 2003).
Apesar do desenvolvimento de novas técnicas cirúrgicas e dos avanços em
quimioterapia e radioterapia, observa-se que a mortalidade causada por esta
enfermidade se ma ntém em um patamar pouco variável. No entanto, quando detectados
e tratados de forma adequada precocemente, as taxas de mortalidade reduzem
significativamente (STOCKS, 1992; MURPHY et al., 1995; SOUEN, 1996;
MARTORELLI FILHO, 2000; PINOTTI; TEIXEIRA, 2000; GREENBAUN, 2000).
3.3.1
Histofisiologia da Mama
A glândula mamária em repouso é constituída de seis a dez sistemas de ductos
principais, cada um deles subdividido em lóbos, que são as unidades funcionais do
parênquima mamário. Cada sistema ductal drena, através de um ducto excretor principal
separado, denominado seio lactífero. As ramificações sucessivas dos grandes ductos
distais dão origem aos ductos terminais. Antes da puberdade, o complexo sistema de
ductos ramificados termina em fundo cego. No início da menarca ocorre a proliferação
distal, dando origem a lóbulos, que consistem em agrupamentos de dúctulos ou ácinos
revestidos de epitélio (LONGACRE; BARTOW, 1986; ELLIS et al., 1993;
CONTRAN; KUMAR; COLLINS, 2000).
A maior parte do estroma da mama consiste em tecido fibroconjuntivo denso
misturado com abundante tecido adiposo, o estroma interlobular, contendo fibras
elásticas que sustentam os grandes ductos. Os lóbulos estão contidos em delicado
estroma mixomatoso frouxo, específico da mama hormonalmente responsivo, que
contém alguns linfócitos espalhados, o estroma interlobular (Figura 1) (LONGACRE;
BARTOW, 1986).
Assim como o endométrio aumenta e diminui a cada ciclo menstrual, observa-se
o mesmo com a mama. Na primeira metade ou fase folicular do ciclo menstrual, os
lóbulos são relativamente em repouso. Após a ovulação, sob a influência do estrógeno e
dos níveis crescentes de progesterona, tanto a proliferação celular quanto o aumento no
número de ácinos por lóbulos aumentam, e ocorre vacuolização das células epiteliais
basais. O edema do estroma lobular torna-se pronunciado. Esse efeito estimulador
combinado com o estrogênio e a progesterona sobre os elementos mamários
intralobulares é responsável pela sensação de edema comumente percebida pelas
mulheres durante a fase pré- menstrual do ciclo. Quando ocorre menstruação, a queda
dos níveis de estrógeno e progesterona é acompanhada da morte de células epiteliais por
apoptose, desaparecimento do edema do estroma, infiltração linfocítica e regressão
global do tamanho dos lóbulos (LONGACRE; BARTOW, 1986).
Somente com o início da gravidez é que a mama assume a sua maturação
morfológica e atividade funcional completa. A partir de cada ducto terminal, numerosas
glândulas secretoras verdadeiras desenvolvem-se, formando aglomerados semelhantes a
cachos de uva. Em conseqüência, ocorre uma reversão da relação habitual entre o
estroma e o epitélio, de modo que no final da gravidez, a mama é quase inteiramente
constituída de lóbulos separados por uma quantidade relativamente escassa de estroma.
Os lóbulos são revestidos por células cubóides e, no terceiro trimestre, são encontrados
vacúolos secretores de material lipídico no interior das células. Imediatamente após o
nascimento, começa a secreção de leite (Figura 2) (LONGACRE; BARTOW, 1986).
Depois da terceira década de vida da mulher, os ductos atrofiam-se com maior
redução do estroma intra e interlobular. Os ácinos lobulares e o estroma podem
desaparecer quase por completo nas mulheres muito idosas, deixando apenas ductos que
criam um padrão morfológico semelhante ao da mama masculina. Entretanto, na
maioria das mulheres, existe uma estimulação estrogênica persistente suficiente,
possivelmente de origem supra-renal ou das reservas de gordura corporal, para manter
os remanescentes vestigiais dos lóbulos que diferenciam até mesmo a mama de
mulheres muito idosas da mama masculina. O estroma interlobular radiodenso da mama
de mulheres jovens limita-se predominantemente ao sexo feminino. Nos homens, a
mama é uma estrutura rudimentar relativamente insensível às influencias endócrinas e
aparentemente resistente ao crescimento neoplásico. Por outro lado, na mulher, a
estrutura mamária mais complexa, o maior volume mamário e a extrema sensibilidade
às influencias endócrinas predispõem esse órgão a diversas condições patológicas
(LONGACRE; BARTOW, 1986).
3.3.2
Condição Fibrocística
As doenças da mama manifestam-se, em sua maioria, como massas palpáveis,
lesões inflamatórias, com secreção de líquido não-lactífero pelo mamilo, ou
anormalidades mamográficas (CONTRAN; KUMAR; COLLINS, 2000).
O termo condição fibrocística engloba uma variedade de alterações morfológicas
que ocorrem na mama feminina e constituem um distúrbio isolado mais comum da
mama, sendo responsável por mais da metade de todas as intervenções cirúrgicas da
mama feminina. Em um estudo que se considera mama normal, isto é, em casos post-
mortem forenses não–selecionados, foram encontradas alterações císticas e fibroses
macroscopicamente evidentes em 20% dos casos, enquanto ocorrem alterações
histológicas em 59% das mulheres. A condição é rara antes da adolescência. Pode ser
diagnosticada freqüentemente entre 20 e 40 anos de idade, atinge um pico na
menopausa ou imediatamente antes e raramente desenvolve-se após a menopausa.
Entretanto, as lesões pré- menopausas podem persistir durante muitos anos (CONTRAN;
KUMAR; COLLINS, 2000).
Acredita-se que os distúrbios hormonais sejam fundamentais para o
desenvolvimento desse distúrbio de múltiplos padrões. O excesso de estrogênio pode
representar um aumento absoluto, como nos tumores ovarianos funcionantes raramente
associados, ou pode estar relacionado a uma deficiência de progesterona, conforme
observado em mulheres anovulatórias. Há também algumas evidências de metabolismo
anormal dos hormônios no órgão terminal na patogenia da doença cística. O uso de
anticoncepcionais orais diminui o risco de alterações fibrocísticas, presumivelmente
devido ao suprimento de uma fonte equilibrada de progesterona a e estrogênio.
Existem três padrões principais de alterações morfológicas: (1) formação de
cisto, freqüentemente com metaplasia apócrina; (2) fibrose; (3) adenose (Figura 3)
(CONTRAN; KUMAR; COLLINS, 2000).
Os cistos, macroscopicamente, podem ocorrer em uma das mamas, porém a
doença é multifocal e com freqüência bilateral. Em conseqüência da dilatação cística
dos ductos e lóbulos, as áreas acometidas revelam, à palpação, um aumento difuso mal
definido na sua consistência, bem como nodularidades discretas. Os cistos pequenos e
estreitamente agregados produzem uma textura nodular. Os cistos maiores,
particularmente quando solitários, causam maior alarme quando aparecem como massas
isoladas firmes enganosamente persistentes. Os produtos secretórios no interior dos
cistos sofrem calcificação, resultando em microcalcificações detectadas na mamografia.
Esses cistos intactos exibem coloração acastanhada a azulada, devido ao líquido
semitransparente contido. Com freqüência os cistos são revestidos por grandes células
poligonais que possuem abundante citoplasma granular eosinófilo, com pequenos
núcleos redondos intensamente cromáticos, lembrando o epitélio apócrino das glândulas
sudoríparas (metaplasia apócrina). Essa metaplasia apócrina é encontrada comumente
na mama normal e é quase sempre benigna. O crescimento epitelial exagerado e as
projeções papilares são comuns nos cistos revestidos por epitélio apócrino. Nos cistos
maiores, as células de revestimento podem ser achatadas ou totalmente atróficas. Com
freqüência os cistos sofrem ruptura liberando material secretório no estroma adjacente.
A conseqüente inflamação crônica e fibrose contribuem para a consistência firme da
mama (CONTRAN; KUMAR; COLLINS, 2000).
A adenose é reconhecida como aumento no número de unidades acinares por
lóbulo. Ocorre adenose fisiológica durante a gravidez, todavia, essa alteração também
pode ser observada em mulheres não- grávidas. As luzes glandulares estão
freqüentemente aumentadas, caracterizando adenose ductal, e não são deformadas como
as das lesões distintamente proliferativas denominadas adenoses esclerosantes. Em
certas ocasiões, observam-se calcificações no interior das luzes. Na ausência de doença
mamária proliferativa, as alterações fibrocísticas não aumentam o risco de
desenvolvimento de câncer. Todavia, essas alterações podem chamar a atenção clínica
quando imitam um carcinoma ao produzir massas palpáveis, densidades ou
calcificações na mamografia ou secreção do mamilo. Os cistos e a fibrose produzem os
achados nodulares no exame físico, podendo dificultar a detecção de outras massas
mamárias. Os cistos aumentados solitários podem formar densidades na mamografia ou
massas
palpáveis,
entretanto,
podem
ser
geralmente
diagnosticados
pelo
desaparecimento da massa após aspiração do conteúdo cístico que contêm resíduos
sólidos ou os aglomerados de pequenos cistos, podendo exigir excisão cirúrgica. As
calcificações, sempre formam aglomerados suspeitos na mamografia. As alterações
fibrocísticas também estão raramente associadas a uma secreção unilateral espontânea
do mamilo (CONTRAN; KUMAR; COLLINS, 2000).
3.3.3
Carcinoma de Mama
Os carcinomas são divididos em carcinomas não- infiltrantes ou in situ e
carcinomas infiltrantes. O carcinoma in situ foi originalmente classificado em ductal ou
lobular, baseando-se na semelhança dos espaços afetados com ductos e lóbulos. Embora
estes termos descritos ainda sejam utilizados, acredita-se que todos os carcinomas se
originam da unidade lobular ductal terminal, de modo que os termos “ductal” e
“lobular” não implicam mais um local ou um tipo celular de origem. Os tipos
histológicos mais comuns de carcinoma de mama invasivo, infiltrante, estão
relacionados na Tabela 1. Outros tipos menos comuns, como carcinomas apócrinos,
carcinomas com diferenciação neuroendócrina, carcinoma de células raras, entre outros,
assemelham-se clinicamente aos carcinomas sem tipo especial de comportamento e
prognóstico, de modo que não estão incluídos. O carcinoma inflamatório se refere à
manifestação clínica de um carcinoma que afeta extensamente os linfáticos dérmicos,
resultando em aumento de mama eritematosa, sem padrão histológico específico
(CONTRAN; KUMAR; COLLINS, 2000).
Tabela 1 - Distribuição dos tipos histológicos de câncer de mama
Cânceres Totais *
Carcinoma In Situ
15-30%
Carcinoma ductal in situ
80%
Carcinoma lobular in situ
20%
Carcinoma Invasivo
70-85%
Carcinoma ductal – sem tipo especial
79%
Carcinoma lobular
10%
Carcinoma tubular – cribiforme
6%
Carcinoma colóide – mucinoso
2%
Carcinoma medular
2%
Carcinoma papilar
1%
*A proporção de carcinomas in situ detectados depende do número de mulheres submetidas à triagem
com mamografia, e varia de menos de 5% em populações não submetidas à triagem a 50% em pacientes
com cânceres detectados com triagem. Os números atuais observados se situam entre esses dois extremos.
(DIXON et al., 1985).
3.3.3.1 Carcinoma Ductal In Situ
O número de casos de carcinoma ductal in situ (CDIS) aumentou rapidamente
nas últimas duas décadas, de menos de 5% de todos os carcinomas antes da triagem
com mamografia a atualmente 15 a 30% dos carcinomas em populações submetidas à
triagem. Entre os cânceres detectados através de mamografia, quase metade é
representada por CDIS. A lesão consiste numa população de células malignas que
carecem da capacidade de invadir através da membrana basal, sendo, portanto incapaz
de produzir metástases distantes. Entretanto, essas células podem sofrer disseminação
através de um sistema ductal e produzir lesões extensas, comprometendo todo um setor
da mama. Quando o carcinoma in situ afeta lóbulos, os ácinos estão freqüentemente
deformados e sem dobras, assumindo o aspecto de pequenos ductos (Figura 4).
Historicamente, ao carcinomas in situ foram divididos em cinco subtipos arquiteturais:
comedocarcinoma, sólido, cribiforme, papilar e micropapilar. Alguns casos de
carcinomas in situ exibem um único padrão de crescimento, porém a maioria apresenta
uma mistura de padrões (CONTRAN; KUMAR; COLLINS, 2000).
3.3.3.2 Carcinoma Ductal in situ tipo Comedo ou Comedocarcinoma
O Comedocarcinoma se caracteriza por camadas sólidas de células malignas de
indiferenciadas e necrose central. A necrose, que costuma sofrer calcificação, é
detectada na mamografia como aglomerados ou microcalcificações lineares ramificadas.
Ao exame macroscópico, podem ser observadas áreas puntiformes de material
necrótico, semelhante ao comedão. É comum a ocorrência de fibrose concêntrica
periductal e inflamação crônica, e, algumas vezes, lesões extensas são palpáveis como
área de nodulidade vaga (Figura 5) (CONTRAN; KUMAR; COLLINS, 2000).
3.3.3.3 Carcinoma Ductal Infiltrante
O carcinoma ductal infiltrante inclui a maioria dos carcinomas, cerca de 70 a
80 %. A maioria destes cânceres exibe um aumento pronunciado no estroma fibroso
denso, dando ao tumor uma consistência dura, conhecido como carcinoma cirroso.
Esses crescimentos ocorrem na forma de nódulos bem delimitados, de consistência
pétrea, com diâmetro médio de um a 2 cm, que raramente ultrapassam quatro a 5 cm. À
palpação, pode revelar uma aderência infiltrativa às estruturas adjacentes, com fixação à
parede torácica subjacente, enrugamento da pele e retração do mamilo. A massa é
característica em corte transversal. É retirada abaixo da superfície de corte, possui
consistência cartilaginosa dura e produz um som áspero quando raspada. No foco
central, existem pequenos focos puntiformes ou estrias de estroma elastótico
esbranquiçado e, em certas ocasiões, pequenos focos de calcificação (Figuras 6 e 7)
(CONTRAN; KUMAR; COLLINS, 2000).
Ao exame histológico, o tumor consiste em células malignas dispostas em
cordões, ninhos celulares sólidos, túbulos, massas anastomosantes e misturas de todas
essas formas invadindo o estroma. O detalhe citológico das células tumorais varia desde
pequenas células com núcleos regulares moderadamente hipercromáticos até células
gigantes com grandes núcleos irregulares hipercromáticos. Com freqüência, a invasão
dos linfáticos e espaços perineurais é facilmente evidente (Figura 8). A aneuploidia e a
ausência de receptores hormonais variam com o grau, ocorrendo em mais da metade dos
tumores pouco diferenciados e em menos da metade dos tumores bem diferenciados
(CONTRAN; KUMAR; COLLINS, 2000).
3.3.3.4 Carcinoma Ductal Infiltrante Inflamatório
Alguns tumores ductais infiltrantes da mama tendem a comprometer
amplamente o tecido mamário, danificando a maioria dos vasos linfáticos dérmicos,
produzindo edema agudo e eritema com hipersensibilidade da mama. Esta condição
clínica é conhecia como carcinoma ductal infiltrante inflamatório (Figura 9)
(CONTRAN; KUMAR; COLLINS, 2000).
3.3.3.5 Carcinoma Ductal Infiltrante Medular
O carcinoma medular é responsável por um a 5 % de todos os carcinomas
mamários e ocorre em mulheres mais jovens que a média. Entretanto, são
desproporcionalmente descritos em mulheres com gene BRCA1 , quando representam,
nesse grupo, 13 % dos cânceres.
O tamanho típico do carcinoma medular é de dois a 3 cm, entretanto, alguns
produzem grandes massas tumorais de 5 cm de diâmetro ou mais. Esses tumores não
exibem a notável desmoplasia do carcinoma comum e, portanto, são nitidamente mais
acessíveis à palpação externa e corte transversal. O tumor possui consistência mole e
carnosa, o termo medular é de origem latina e se refere a uma estrutura mole, e é bem
circunscrito. Do ponto de vista histológico, o carcinoma se caracteriza por: (a) camadas
sólidas, semelhantes a sincícios, que ocupam mais de 75 % do tumor, de células grandes
com núcleos vesiculares, freqüentemente pleomórficos, que contêm nucléolos
proeminentes e mitoses freqüentes, (b) infiltrado linfoplasmocitário moderado a
pronunciado no interior do tumor e ao seu redor e (c) borda não- infiltrativa (Figura 10).
Os carcinomas medulares possuem prognóstico ligeiramente melhor do que os
carcinomas ductais infiltrantes sem tipo especial, apesar da presença quase universal de
fatores de prognóstico sombrio, incluindo elevado grau nuclear, aneuploidia, ausência
de receptores hormonais, expressão de p53 e elevada taxa de proliferação. O padrão de
crescimento sincicial e as bordas não- infiltrativas podem refletir retenção ou expressão
excessiva de moléculas de adesão passíveis de limitar o potencial metastático
(CONTRAN; KUMAR; COLLINS, 2000).
3.3.3.6 Carcinoma Colóide ou Mucinoso
Essa variante incomum, cerca de um a 6 % de todos os carcinomas, tende a
ocorrer em mulheres de idade mais avançada e cresce lentamente no decorrer de muitos
anos.
Ao exame histológico, são observados grandes lagos de mucina amorfa, de
coloração clara, dissecando e se estendendo nos espaços teciduais contíguos e nos
planos de clivagem. Flutuando nessa mucina, são encontradas pequenas ilhas e células
neoplásicas isoladas, que algumas vezes formam glândulas. Em 14 a 50 % dos casos,
ocorre diferenciação neuroendócrina na forma de grânulos argirófilos (Figura 11). O
tumor é extremamente mole e possui a consistência e o aspecto de gelatina cinzaazulado pálida. Em geral, os carcinomas colóides são bem circunscritos e podem limitar
lesões benignas ao exame físico e na mamografia.
A taxa de sobrevida é apreciavelmente menor no carcinoma colóide do que nos
carcinomas sem tipo especial, e ocorrem metástases para linfonodos em pelo menos de
20 % das pacientes (CONTRAN; KUMAR; COLLINS, 2000).
3.3.3.7 Carcinoma Lobular Infiltrante
Apesar de constituírem apenas cinco a 10 % dos carcinomas de mama, os
carcinomas lobulares infiltrantes possuem interesse particular devido sua tendência a ser
bilateral com mais freqüência do que outros tipos, e a probabilidade de ocorrer câncer
na mama contralateral é da ordem de 20 %; tendem a ser multicêntricos na mesma
mama. Com freqüência, possuem padrão difusamente invasivo, que pode dificultar a
detecção dos tumores primários e das metástases através de exame físico ou estudos
radiológicos. Metastatizam-se mais freqüentemente para o líquido cefalorraquidiano,
superfícies serosas, ovário e útero e para a medula óssea em comparação com outros
subtipos.
Ao exame macroscópico, o tumor se apresenta elástico e pouco circunscrito;
entretanto, algumas vezes, possui aspecto cirroso típico. Ao exame histológico,
observam-se feixes de células tumorais infiltrantes, muitas vezes com largura de apenas
uma célula, formando uma fila única, que estão frouxamente dispersos me toda a matriz
fibrosa. No tipo clássico, as células do carcinoma lobular infiltrante são pequenas,
apresentando relativamente pouco pleomorfismo nuclear. É comum a presença de
células em anel de sinete. Além disso, podem ocorrer ninhos sólidos de forma irregular
em continuidade com o padrão em paliçada. As células tumorais estão freqüentemente
dispostas de maneira concêntrica ao redor dos ductos normais (Figura 12).
Em geral, os carcinomas lobulares infiltrantes bem diferenciados clássicos são
diplóides, possuem receptores hormonais e em mais de 90 % dos casos e apresentam
prognóstico mais satisfatório do que os carcinomas ductais sem tipo especial.
Praticamente todos os carcinomas lobulares infiltrantes carecem da molécula de adesão
celular caderina-E, em comparação com apenas 52 % dos carcinomas ductais
infiltrantes (CONTRAN; KUMAR; COLLINS, 2000).
Figura 1. Corte histológico de glândula mamária adulta jovem normal, onde se observa o sistema secretor
composto por lóbulos e ductos situados no estroma interlobular composto predominantemente por tecido
fibroso denso, com alguns adipócitos.*
Figura 2. Corte histológico de glândula mamária feminina adulta jovem normal durante a lactação. Neste
observa-se o sistema secretor preenchido por secreção lactífera.*
Figura 3. Corte histológico de doença fibrocística da mama.*
Figura 4. Corte histológico de Carcinoma ductal in situ.*
Figura 5. Corte histológico Carcinoma ductal in situ tipo comedo.*
Figura 6. Aspecto Macroscópico do Carcinoma ductal infiltrante de Mama.*
Figura 7. Corte histológico e lâmina citológica de Carcinoma ductal infiltrante.*
Figura 8. Corte histológico de Carcinoma ductal infiltrante. *
Figura 9. Corte histológico de Carcinoma ductal infiltrante inflamatório.*
Figura 10. Corte histológico de Carcinoma ductal infiltrante medular, com linfócitos infiltrando nas
camadas de células tumorais de alto grau.*
Figura 11. Corte histológico de carcinoma ductal infiltrante mucinoso. Observe os lagos de mucina
levemente corada, com pequenas ilhas de células tumorais.*
Figura 12. Corte histológico de Carcinoma lobular infiltrante.*
*(Cortesia de Profa. Dra. Leandra Naira Zambelli Ramalho – FMRP-USP)
4
METODOLOGIA
Esta pesquisa seguiu os Princípios Éticos, segundo as diretrizes e normas
regulamentadoras de pesquisa envolvendo seres humanos, conforme Resolução no
196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Esta pesquisa teve aprovação das Comissões de
Ética em Pesquisa do Hospital do Câncer A. C. Camargo (N o 268/00 – Anexo A) e da
Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP) (017/2000/CEP – Anexo B). Todas as
pacientes foram informadas sobre a pesquisa e assinaram um termo de consentimento
para utilização do material colhido para a realização da mesma (Apêndice A).
4.1
Obtenção das amostras de tecido mamário
4.1.1
Cirurgia para Ressecção das Amostras
As amostras de tecido mamário alterado foram obtidas de 30 pacientes do
gênero feminino atendidas no Ambulatório de Mastologia do Hospital do Câncer A. C.
Camargo, São Paulo, no período de Fevereiro a Outubro de 2001. Estas pacientes
apresentavam nódulos ao exame físico e/ou alterações radiográficas à mamografia. As
amostras de tecido mamário normal foram obtidas de cinco pacientes submetidas à
cirurgia estética para redução de mama. Todas as amostras apresentaram diferentes
tamanhos e formatos, com dimensões variando de 0,3 x 0,5 x 0,3 cm a 0,5 x 1,5 x
0,5 cm.
4.1.2
Armazenamento das amostras antes da Espectroscopia FT-Raman.
A separação das amostras para o experimento foi realizada logo após o
procedimento de ressecção cirúrgica do material. As mesmas foram devidamente
identificadas, sendo colocadas em tubos criogênicos Nalgene
®
e, em seguida,
armazenadas em nitrogênio líquido a –196 o C até o momento da realização da
Espectroscopia FT-Raman no Laboratório de Espectroscopia Vibracional Biomédica
(LEVB) da Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP) em São José dos Campos, São
Paulo
4.2
Obtenção dos espectros FT-Raman
4.2.1
Espectrômetro FT-Raman
O equipamento utilizado neste estudo para aquisição dos espectros Raman das
amostras de mama humana foi o FT-Raman Spectrometer RFS 100 da Bruker 
Alemanha, instalado no LEVB (Figura 13). O equipamento se compõe de subunidades
importantes que serão descritas a seguir.
Figura 13. FT-Raman Spectrometer RFS 100, Bruker.
4.2.1.1
LASER Nd: YAG (Neodímio: Ítrio Alumínio Granada)
O LASER de Nd: YAG usado no FT-Raman Spectrometer emite alta intensidade
de radiação em 1064 nm A potência do laser deste equipamento é de no máximo
500 mW, podendo ser eletronicamente ajustada para cada tipo de amostra a ser
estudada. Neste experimento, a potência ajustada para o laser de Nd: YAG foi de
110 mW na amostra, potência máxima ajustada para a coleta dos sinais com melhor
razão sinal/ruído, sem que houvesse aquecimento ou degradação das amostras.
4.2.1.2
Geometria de Espalhamento
Neste estudo, utilizou-se a geometria de espalhamento de 180 o (Figura 14),
devido ao alto grau de rejeição contra o Espalhamento Rayleigh. Para maximizar o sinal
Raman, fixou-se cada amostra em um espelho de Alumínio.
Figura 14.Geometria de Espalhamento e Porta Amostra do FT-Raman Spectrometer RFS 100.
4.2.2
Parâmetros do Equipamento
A partir do software instalado no FT-Raman Spectrometer RFS 100, o OPUS
versão 4.2, Copyright  Bruker Optik GmHb 1997-2002, pode-se ajustar todos os
parâmetros do equipamento, como potência do laser, abertura de feixe, ajuste na
transformada de Fourier, auxílio durante a aquisição dos espectros, armazenamento e
manipulação dos dados espectrais, gráficos em três dimensões (3D); análises
quantitativas, armazenamento dos dados em forma de bibliotecas.
A seguir serão descritos (Tabela 2) os parâmetros ajustados no Equipamento FTRaman, para a aquisição dos espectros Raman, tanto para as amostras normais, quanto
para as amostras alteradas.
Tabela 2. Parâmetros ajustados com auxílio do Software OPUS 4.2 para a aquisição dos espectros no FTRaman Spectrometer RFS 100.
Tecido Mamário Normal
Espectrômetro FT-Raman RFS 100
Tecido Mamário Alterado
Parâmetros de Aquisição
Espera antes das medidas
10 segundos
10 segundos
Espera para Estabilização
5 segundos
5 segundos
Número de Varreduras
100
150
Resolução
4 cm-1
4 cm-1
Tempo total de Varreduras (médio) 180 segundos
246 segundos
Parâmetros Ópticos
Abertura do Feixe
Potência do Laser Raman
Potência do Laser na Amostra
Velocidade da Varredura
5.0 mm
150 mW saída
110 mW
4; 5.0 KHz
Neste experimento, estabeleceu-se que as amostras não ficariam expostas ao
ambiente por mais de 10 minutos. Sendo assim, ajustados os parâmetros do
equipamento, adequamos a coleta de um a três espectros Raman por amostra. Este
número variou porque o equipamento rejeita espectros de baixa qualidade, aumentando
o tempo de coleta para atingir o número de varreduras desejadas.
4.2.3
Preparação das Amostras para Experimento
Sendo o objetivo da Espectroscopia Raman fornecer resultados morfo-químicos sem
a manipulação das amostras, foi a título de padronização que os espécimes de tecido
mamário foram adequados ao experimento, como descrito a seguir:
4.2.3.1 Descongelamento das Amostras
No intuito de preservar os espécimes biológicos, para que não se degradassem
quando expostos ao ambiente, o descongelamento dos mesmos em soro fisiológico a
9 % foi realizado somente no momento serem utilizados para o experimento. Assim
sendo, procedia-se o corte da matriz original congelada que rapidamente era recolocada
no nitrogênio líquido.
4.2.3.2 Punch
Os espectros FT-Raman de tecido mamário de 35 pacientes mulheres foram
obtidos a partir de amostras congeladas padronizando, com um punch de 2 mm de
diâmetro, a remoção de três a sete pequenas amostras, de 2 mm3 , simulando um exame
Core Biopsy . O restante do ma terial foi novamente armazenado em Nitrogênio líquido
para futuras análises, sem que estas amostras tivessem sido descongeladas.
4.2.3.3 Procedimento Pós-Espectroscopia
Ao término da coleta dos espectros FT-Raman de cada nova amostra, as mesmas
foram armazenadas separadamente em solução de formol 10 % para fixação e posterior
análise histopatológica.
4.3
Análise Histopatológica
As amostras armazenadas foram enviadas ao Departamento de Patologia da
Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, na Universidade de São Paulo para realização
da análise histopatológica. Avaliou-se a metodologia de manipulação e aquisição de
espectros Raman através da avaliação da presença de deterioração das amostras.
4.4
Análise dos Dados Espectrais
Os espectros FT-Raman obtidos e armazenados pelo OPUS  (Bruker, Inc.,
Karlsruhe, Alemanha), foram convertidos para o formato ASCII, para posterior
processamento e análise no Matlab da Mathworks Inc.
4.4.1
Análise Qualitativa
Todos espectros obtidos neste estudo foram divididos em 9 grupos distintos a
partir dos dados da análise histopatológica das amostras estudadas.
Para cada um dos espectros foram ajustadas as linhas de base, com o auxílio do
próprio software do sistema de FT-Raman, Bruker (OPUS ). Os espectros de cada
grupo foram normalizados em relação ao pico de maior intensidade e posteriormente
foram realizadas as médias de cada grupo a fim de se obter um padrão espectroscópico,
no qual se basearam as análises qualitativas.
As análises focaram as variações de intensidade, deslocamento e aparecimento
de novos picos e bandas entre os espectros dos diferentes grupos; e a associação dos
espectros dos tecidos mamários aos espectros de macromoléculas biológicas
conhecidamente presentes nos tecidos mamários normais e alterados.
4.4.2
Análise Quantitativa
Baseados na literatura científica sobre Espectroscopia Raman para fins de
automatização de diagnóstico de câncer de mama, no presente estudo admitiu-se, para
avaliação, a região de deslocamento Raman de 400 a 2500 cm-1 como característica dos
espectros de tecido mamário para o processamento das análises estatísticas
(MAHADEVAN-JANSEN, 1996). Primeiramente os espectros foram normalizados
com seu máximo pico e para cada grupo calculados os coeficientes de correlação e
realizado o teste t de Student.
4.4.2.1 Coeficientes de correlação
Com vista a se obter uma melhor relação sinal-ruído do espectro (FT-Raman) de
cada amostra, um espectro médio dos diferentes pontos de coleta na amostra foi obtido.
Para tal, considerou-se somente os espectros que apresentaram um coeficiente de
correlação maior ou igual a 0,7.
Os espectros de cada amostra foram considerados independentes porque pela
metodologia utilizada estes espécimes foram colhidos de maneira aleatória.
4.4.2.2 Teste t de Student
O teste t de Student é muito utilizado em pesquisa para verificar se a diferença
observada entre duas médias obtidas em diferentes amostras é significativa, e explicar
se estas diferenças são reais ou se ocorrem devido ao erro amostral. Para uma primeira
visualização dos dados, através deste teste, pretendeu-se observar uma separação entre
os dados obtidos a partir de amostras de mama normais e entre as amostras que foram
consideradas pelo exame histopatológico como condição fibrocística e carcinoma ductal
infiltrante. Estes três grupos forma escolhidos por exemplificarem uma situação clínica
muito importante, que é a diferenciação entre tecidos benignos e malignos, além de
serem estes três grupos que se mostraram mais presentes neste estudo.
Estatisticamente, quando se trabalha com uma amostragem pequena, existe uma
tendência para que as médias das amostras sejam realmente diferentes, mesmo que se
originem da mesma população. Neste caso, o Teste t-Student objetiva justamente
verificar se o grau de diferença entre os três conjuntos ocorre devido a fatores outros
que não o erro de amostragem.
5
RESULTADOS
Todos os espectros de tecido mamário deste estudo foram obtidos através do
espectrômetro FT-Raman RFS 100, Bruker, com fonte de excitação laser Nd: YAG a
1064 nm, coletados por um detector de germânio resfriado por nitrogênio líquido. A
energia de excitação a 1064 nm, com potência de 110 mW nas amostras, se mostrou
adequada, pois a maioria da emissão da fluorescência das moléculas orgânicas foram
eliminadas e a presença de água não influenciou no espectro Raman. O aquecimento das
amostras promovido pelo laser e o tempo de exposição ao meio ambiente que as
mesmas permaneceram para a aquisição dos espectros não comprometeram a estrutura
destas amostras, como comprovado pela histopatologia.
1
2
3
4
5
6
7
8
9
600
800
1000
1200
1400
1600
1800
-1
Deslocamento Raman (cm )
Figura 15 - Médias dos espectros FT-Raman normalizados pelo pico máximo dos tecidos de Mama
normal (1), Condição fibrocística (2), Carcinoma ductal in situ (3), Carcinoma ductal in situ tipo comedo
(4), Carcinoma ductal infiltrante (5), Carcinoma ductal infiltrante inflamatório (6), Carcinoma ductal
infiltrante medular (7), Carcinoma ductal infiltrante mucinoso (8) e Carcinoma lobular infiltrante (9).
Neste presente estudo, todos os dados espectrais foram inicialmente agrupados
de acordo com os resultados da análise histopatológica. Na Figura 15, pode-se observar
as médias dos espectros FT-Raman normalizados em seu pico máximo, 1446 cm-1 ,
referentes aos nove tipos histopatológicos encontrados neste presente estudo. São eles:
Mama normal, Condição fibrocística, Carcinoma ductal in situ, Carcinoma ductal in situ
comedo, Carcinoma ductal infiltrante, Carcinoma ductal infiltrante inflamatório,
Carcinoma ductal infiltrante medular, Carcinoma ductal infiltrante mucinoso,
Carcinoma lobular infiltrante.
Para cada grupo de espectro foram calculados os Coeficientes de correlação
relacionando os espectros de mesmo diagnóstico, determinando a proporcionalidade
entre os dados do mesmo grupo (Tabela 3).
Tabela 3 - Coeficiente de correlação dos Espectros FT-Raman dos Grupos Histopatológicos.
Diagnóstico Histopatológico
Espectros FT-Raman
Coeficientes de
Correlação (CC)
Mama Normal
31
0,55 < CC < 0,99
Condição Fibrocística
28
0,60 < CC < 0,98
Carcinoma Ductal in Situ
2
0,98 < CC < 0,99
Carcinoma Ductal in Situ Comedo
2
0,95 < CC < 0,99
102
0,70 < CC < 0,98
Carcinoma Ductal Infiltrante Inflamatório
13
0,85 < CC <0,98
Carcinoma Ductal Infiltrante Medular
14
0,71< CC < 0,96
Carcinoma Ductal Infiltrante Mucinoso
6
0,72 < CC < 0,86
Carcinoma Lobular Infiltrante
10
0,92 < CC < 0,98
208
-
Carcinoma Ductal Infiltrante
TOTAL DE ESPECTROS FT-RAMAN
Visando obter-se uma melhor relação sinal/ruído dos espectros de tecido
mamário, um espectro médio de cada grupo diagnóstico foram adquiridos, a partir dos
diferentes pontos de coleta nas amostras, considerando somente os espectros que
apresentaram um coeficiente de correlação maior ou igual a 0,7.
De maneira geral, as diferenças nos espectros Raman entre os tecidos normais e
alterados são relativamente fáceis de serem comparadas visualmente. Utilizando-se de
algoritmos matemáticos mais simples, baseados nas características de bandas Raman,
através da Deconvolução dos espectros, foram identificadas diferentes intensidades e
energias destes picos nos espectros médios dos tipos histológicos de mama envolvidos
neste estudo. A Deconvolução é um processo de decomposição de um sinal complexo
em seus componentes individuais, através da otimização pelo critério de mínimos
quadrados, tendo como parâmetros de entrada o número e posição dos picos, forma e
largura do sinal e uma linha de base.
Para melhor entendimento das bases moleculares dos espectros Raman
observados do tecido mamário humano normal e patológico, apresentam-se, nas Tabelas
4 e 5, as bases moleculares e modos vibracionais relativos ao tecido mamário humano
normal e patológico de acordo com os dados da literatura (DOLLISH, 1974; KELLER,
1994; MIZUNO, 1994; SHIM, 1996; MANOHARAN, 1997; MAHADEVANJANSEN, 1998; STONE, 2000; HATA, 2000).
Tabela 4 - Relação dos Picos Raman analisados pelo Software Origin 5.0 através da Análise Gaussiana de
Múltiplos Picos e tentativa de identificação da maioria dos modos vibracionais observados nos tecidos
mamários normais e patológicos.
Picos
MN
CF
CDIS
CDI
CDII
CDIM
CDIMU
CLI
1
-
538,9
538,95
538,92
538,68
538,72
538,76
538,64
2
858,75
861,7
858,4
854,08
853,34
854,57
869,38
853,51
3
-
935,6
-
964,83
970,27
962,09
976,14
971,26
4
1005
1005,3
-
1005,4
1004,7
1004,8
1007,1
1005,7
5
1080,6
1091,4
1080,7
1082,4
1084,4
1095,6
1091,6
1083,5
6
1266,6
1261,2
1264,1
1262,5
1261,1
1274,5
1277,2
1266,9
7
1304,0
1305,4
1304,8
1305,2
1303,8
1303,3
1305,4
1303,6
8
1446,4
1449,4
1447,5
1448,6
1448,0
1450,2
1449,6
1447,8
9
1657,1
1657,7
1657,8
1659,5
1659,1
1659,7
1657,1
1657,8
10
1747,4
1747,6
1746,4
1748,1
1746,4
1743,5
1748,0
1747,8
11
-
-
2028,9
2028,9
2029,0
2029,3
2028,5
2029,0
12
-
-
2084,2
2084,2
2083,7
2083,6
2079,1
2084,3
MN = mama normal; CF = condição fibrocística; CDIS = carcinoma ductal in situ; CDISC = carcinoma
ductal in situ comedo; CDI = carcinoma ductal infiltrante; CDII = carcinoma ductal infiltrante
inflamatório; CDIM = carcinoma ductal infiltrante medular; CDIMU = carcinoma ductal infiltrante
mucinoso; CLI = carcinoma lobular infiltrante.
Tabela 5 - Modos Vibracionais e Biomoléculas referentes picos Raman de tecido mamário humano
normal e patológico.
Picos
Modos Vibracionais
Biomoléculas
1
(SS), (CO) e (NO), (OPO)
Cisteína, Hemoprotéinas, Ácidos Nucléicos
ν (CC), δ(CCH), Anel Aromático,
2
Prolina, Tirosina, Polissacarídeos, Ácidos Nucléicos
(OPO)
3
ν (CC), α-helix, (OPO)
Prolina, Valina, Colágeno, Desoxirribose
4
ν s(CC), Anel Aromático, (CCH3 )
Fenilalanina, Carotenóides
5
ν (CC) ou ν (CO), (CH OH)
Fosfolipídios, Carboidratos
6
ν (CN), δ(NH), Amida III, α-helix, (=CH)
Colágeno, Triptofano, Lipídios
7
δ(CH2), (δCH3)
Colágeno, Fosfolipídios, Triglicérides
8
δ(CH2), δ(CH3), (OPO)
Colágeno, Fosfolipídios, Desoxirribose, Carboidratos
9
ν (C=O), Amida I, α-helix, (C=C)
Colágeno, Elastina, Lipídios
10
ν (C=O)
Fosfolipídios
11
(CO)
Proteínas, Ácidos Nucléicos
12
C=O/ CN/ CO
Proteínas, Ácidos Nucléicos
-1
Intensidade (u.a.)
1446cm
1304cm
Tecido Mamário Normal
Doença Fibrocística
Carcinoma Ductal in Situ
Carcinoma Ductal in Situ Comedo
Carcinoma Ductal Infiltrante
Carcinoma Ductal Infiltrante Inflamatório
Carcinoma Ductal Infiltrante Medular
Carcinoma Ductal Infiltrante Mucinoso
Carcinoma Lobular Infiltrante
-1
-1
1657cm
1270cm
-1
-1
1747cm
1200
1300
1400
1500
1600
1700
1800
-1
Deslocamento Raman (cm )
Figura 16 - Média dos Espectros FT-Raman não-normalizados dos diferentes tecidos mamários
representados entre 1200 a 1800cm-1 .
Através da Deconvolução dos espectros FT-Raman
dos
nove
tipos
histopatológicos encontrados nestes estudo, propôs-se uma análise qualitativa dos
padrões espectrais dos mesmos, combinando as diferenças espectrais aos achados
histopatológicos.
Na Figura 16, observam-se que as diferenças entre os espectros Raman dos
tecidos de mama normal e patológicos são relativamente fáceis de serem comparadas
visualmente. A grande quantidade de lipídios presentes no tecido mamário normal pode
ser claramente identificada por fortes bandas Raman em: (i) 1270 cm-1 relacionadas ao
modo vibracional de estiramento ν(CN) e de dobramento δ (NH); (ii) 1304 cm-1
relacionada ao modo vibracional de dobramento da ligação δCH2 , (iii) 1446 cm-1
também relacionada ao modo vibracional de dobramento entre os átomos de carbono e
hidrogênio δCH2 , (iv) 1657 cm-1 relacionada ao modo vibracional de estiramento da
ligação C=C e (v) 1747 cm-1 relacionada ao modo vibracional de estiramento da ligação
C=O.
Intensidade (u.a.)
Mama Normal
CA Ductal in Situ
CA Ductal Infiltrante
Alanina (C3H 7NO2)
Glicina (C 2H5NO2)
Prolina e Hidroxiprolina
Alanina (C3H 7NO2)
Glicina (C2H 5NO2)
Prolina e Hidroxiprolina
3
FENILANALINA
1
2
800
900
1000
1100
1200
1300
1400
-1
Deslocamento Raman (cm )
Figura 17 - Média dos Espectros FT-Raman normalizados pelo pico máximo (1446 cm-1 ) de tecido
mamário humano normal, Carcinoma ductal in situ e Carcinoma ductal infiltrante representados no
deslocamento Raman entre 800 a 1400cm-1 . Em evidência estão as regiões espectrais identificadas como
referentes os aminoácidos formadores do colágeno.
Na Figura 17, existem três regiões, que nesta figura estão destacadas pelo
quadrado, que caracterizam os principais aminoácidos constituintes do colágeno. As
regiões demarcadas mostram o aumento da intensidade do sinal do tecido tumoral em
relação ao tecido normal, e especialmente o aumento da intensidade quando o
carcinoma se torna infiltrante. Nos espectros de Mama normal, Carcinoma ductal in
situ, e Carcinoma ductal infiltrante, em relação às áreas representativas do colágeno,
observou-se que na área 1, o pico mais intenso encontrado no tecido normal está em
858 cm-1 de largura de linha de 57,15 cm-1 ; no tecido mamário com Carcinoma ductal in
situ, este pico mais intenso se não se desloca, mas tem sua largura de linha aumentada
para 73,42 cm-1 ; no Carcinoma ductal infiltrante, o pico mais intenso está situado em
872 cm-1 e largura de linha de 47,15 cm-1 . Na área 2, os picos encontrados referentes aos
aminoácidos no tecido mamário normal foram: 919 e 972 cm-1 , com largura de linha de
66,23 e 14,03 cm-1 respectivamente; no tecido Carcinoma ductal in situ estes picos
deslocaram para a posição 932 e 967 cm-1 , com larguras de linha de 30,53 e 27,57 cm-1 ,
respectivamente. Nos espectros com Carcinoma ductal infiltrante, ocorreram
deslocamentos de picos máximos para região de 923 e 964 cm-1 , com larguras de linha
variando para 19,11 e 22,68 cm-1 , além do surgimento de um novo pico em 941 cm-1 de
largura de linha de 15,17 cm-1 . Na Área 3, não foram observados picos nesta região no
tecido normal, porém com o desenvolvimento do Carcinoma ductal in situ se observou
uma banda centrada em 1317 cm-1 com largura de linha de 140,84 cm-1 , que se
deslocou para 1311 cm-1 com largura de linha de 112,54 cm-1 no espectro de Carcinoma
ductal infiltrante.
Mama Normal
CA Ductal in Situ
CA Ductal Infiltrante
Intensidade (u.a.)
Amida I (C=O)
Amida III (C-N, N-H)
1657cm
-1
-1
1270cm
1200
1300
1400
1500
1600
1700
1800
-1
Deslocamento Raman (cm )
Figura 18 - Média dos Espectros FT-Raman de tecido mamário normal, Carcinoma ductal in situ e
Carcinoma ductal infiltrante e representação dos Picos e Bandas entre 1200 a 1700cm-1 . Em evidência
estão as regiões espectrais identificadas como referentes à representação espectral da estrutura secundária
das proteínas, através das ligações peptídicas.
Na Figura 18, observa-se a região de deslocamento Raman do modo vibracional
Amida III, que no espectro Mama normal o pico máximo localiza-se em 1304 cm-1 com
largura de linha de 20,12 cm-1 . Esta banda, no Carcinoma ductal in situ não se deslocou,
porém se tornou mais larga, com 25,02 cm-1 de largura de linha. No Carcinoma ductal
infiltrante, esta banda se deslocou para a posição de 1305 cm-1 com largura de linha de
20,54 cm-1 . Na região de deslocamento Raman referente ao modo vibracional Amida I,
o espectro Mama normal apresentou deslocamento Raman em 1657 cm-1 com largura de
linha de 16,77 cm-1 . No espectro do Carcinoma ductal in situ, não houve deslocamento
porém esta banda se tornou mais larga, com 27,41 cm-1 . No Carcinoma ductal
infiltrante, esta mesma banda se deslocou para a posição de 1659 cm-1 com largura de
linha de 24,84 cm-1 .
Carcinoma Ductal in Situ
Carcinoma Ductal in Situ Comedo
Intensidade (u.a.)
1450cm
1447cm
-1
CH 2
C=C
-1
-1
1310cm
-1
1661cm
CH2
1657cm
-1
1304cm
800
1000
1200
1400
-1
1600
1800
-1
Deslocamento Raman (cm )
Figura 19. Média dos Espectros FT-Raman de Carcinoma ductal in situ e Carcinoma ductal in situ
Comedo.
Na Figura 19 observamos claramente, dentro da demarcação quadrada
pontilhada, que a diferença entre os sinais Raman de Carcinoma ductal in situ e
Carcinoma ductal in situ comedo, o aumento da intensidade e aspecto ruidoso do
espectro do segundo me relação ao primeiro. Os picos referentes aos deslocamentos das
freqüências Raman que qualificam os espectros dos mesmos, destacam-se: o pico em
1304 cm-1 no tecido Carcinoma ductal in situ se deslocou para 1310 cm-1 no Carcinoma
in situ comedo, além de ter a largura de linha variado de 25,02 cm-1 para 31,25 cm-1 . O
pico em 1447 cm-1 no tecido Carcinoma ductal in situ se deslocou para 1450 cm-1 no
Carcinoma in situ comedo, além de ter a largura de linha variado de 31,28 cm-1 para
37,82 cm-1 ; o pico em 1657 cm-1 no tecido Carcinoma ductal in situ se deslocou para
1661 cm-1 no CA in situ comedo, além de ter a largura de linha variado de 27,41 cm-1
para 31,81 cm-1 .
Tecido Mamário Normal
Doença Fibrocística
CA Ductal in Situ
CA Ductal in Situ Comedo
CA Ductal Infiltrante
CA Ductal Infiltrante Inflamatório
CA Ductal Infiltrante Medular
Carcinoma Ductal Infiltrante Mucinoso
Carcinoma Lobular Infiltrante
Intensidade (u.a.)
C-H
2950cm
-1
OH (NH)
3250cm
2700
2800
2900
3000
-1
3100
3200
3300
3400
-1
Deslocamento Raman (cm )
Figura 20. Média dos Espectros FT-Raman referentes aos Nove tipos Histológicos estudados na região de
deslocamento Raman de 2700 a 3400cm-1 referente ao gasto energético tecidual.
Na Figura 20, observa-se no tecido normal, que a região de deslocamento
Raman em 2950 cm-1 apresentou maior intensidade, e praticamente não apresentou
manifestação na região de deslocamento 3250 cm-1 . De maneira contrária, se expressam
todos os outros tecidos mamários patológicos, onde observamos um grande aumento na
intensidade na banda de 3250 cm-1 em relação à banda em 2950 cm-1 .
CA Ductal Infiltrante Mucinoso
CA Ductal Infiltrante
Doença Fibrocística
C-O
Intensidade (u.a)
-CH OH
800
900
1000
1100
1200
-1
Deslocamento Raman (cm )
Figura 21. Média dos Espectros FT-Raman de Carcinoma ductal infiltrante, Carcinoma ductal infiltrante
mucinoso e Condição fibrocística.
Na Figura 21 observam-se picos referentes às vibrações moleculares que
identificam os carboidratos que constituem a substância amorfa presente em conteúdo
cístico representada no espectro de tecido mamário, existiram alguns deslocamentos de
pico importantes: o pico em 1062 cm-1 referente à ligação -CH OH no espectro de
Carcinoma ductal infiltrante se deslocou para 1071,7 cm-1 no Carcinoma ductal
infiltrante mucinoso e para 1061 cm-1 na Condição Fibrocística, além de ter a largura de
linha variado de 7,18 cm-1 para 31,74 e 60,87 cm-1 , respectivamente. O pico em
1082 cm-1 referente à ligação C-O no espectro de Carcinoma ductal infiltrante se
deslocou para 1091 cm-1 no Carcinoma infiltrante mucinoso e para 1091 cm-1 na
Condição fibrocística; além de ter a largura de linha variado de 38,05 cm-1 para
10,87 cm-1 e 39,721 cm-1 , respectivamente.
Intensidade (u.a.)
Mama Normal
Carcinoma Ductal in Situ
Carcinoma Ductal Infiltrante
Carcinoma Lobular Infiltrante
500
520
540
560
580
-1
Deslocamento Raman (cm )
Figura 22. Médias dos Espectros FT-Raman referentes aos tecidos Mama normal, Carcinoma ductal in
situ, Carcinoma ductal infiltrante e Carcinoma lobular infiltrante.
Como podemos observar na Figura 22, na região de deslocamento Raman de 500
a 580 cm-1 existem diferenças que facilmente diferencial nos espectros dos tecidos
normais, in situ e infiltrantes, mostrando que esta região espectral pode ser uma área de
bastante interesse para o diagnóstico clínico. O pico mais evidente nesta figura, 538cm1
, pode representar as alterações de material genético que ocorrem durante o processo
tumoral. Nesta figura estão representados os espectros dos tecidos mamários com
alterações do epitélio ductal ou lobular. O tecido epitelial da mama, composto de ductos
e lóbulos, é o elemento principal das transformações neoplásicas expostas; as diferenças
encontradas nestes espectros condizem somente às alterações envolvendo somente as
células epiteliais e suas transformações neoplásicas in situ e infiltrante. Notamos que no
tecido mamário normal existe o pico em 538 cm-1 , de baixa intensidade quando
comparados aos outros espectros. No Carcinoma ductal in situ, o centro do pico 538 cm1
, não deslocou, mas aumentou a intensidade e tem largura de linha de 7,94 cm-1 . Neste
espectro nota-se o aparecimento de um novo pico, centrado em 521 cm-1 , com largura
de linha de 11,69 cm-1 . Nos espectros de Carcinoma infiltrante, tanto ductal quanto
lobular, apresentaram este pico mais intenso e similar, mostrando possivelmente as
alterações encontradas nesta faixa de deslocamento podem estar relacionadas às
alterações que identifiquem a invasividade dos tumores. O pico em 538 cm-1 se manteve
na mesma posição, somente variando a largura de linha para 6,41 cm-1 no Carcinoma
ductal infiltrante e para 5,8 cm-1 no Carcinoma lobular infiltrante.
Intensidade (u.a.)
Mama Normal
Carcinoma Ductal in Situ
Carcinoma Ductal Infiltrante
Carcinoma Lobular Infiltrante
2000
2020
2040
2060
2080
2100
-1
Deslocamento Raman (cm )
Figura 23. Médias dos Espectros FT-Raman referentes aos espectros Mama normal, Carcinoma ductal in
situ, Carcinoma ductal infiltrante e Carcinoma lobular infiltrante.
Na Figura 23, observa-se que os espectros apresentam diferenças importantes
que podem diferenciá-los entre Normal, tumores in situ e infiltrantes. No espectro
Carcinoma ductal in situ, o centro dos picos estão em 2028 e 2083 cm-1 e evidencia-se
um aumento na intensidade dos mesmos quando observados os espectros dos
carcinomas infiltrantes, tanto ductal como lobular. Nos espectros dos carcinomas
infiltrantes, estas bandas apresentaram o centro em 2029 e 2084 cm-1 , porém com
larguras de linha diferentes: 9,27 e 8,01 cm-1 para o tipo ductal, e 7,04 e 6,24 cm-1 , para
o tipo lobular relacionados aos primeiro e segundo picos, respectivamente.
Todas as informações contidas nos 208 espectros FT-Raman de tecido mamário
humano obtidos neste presente estudo, mostraram-se extremamente complexa para
serem analisadas ind ividualmente. Por esta razão, esta enorme quantidade de estruturas
dificultou a identificação precisa dos picos e as vibrações relacionadas para uma
abordagem particularizada dos compostos. Entretanto, todos estes espectros FT-Raman
de tecido mamário se mostraram extremamente valiosos e definitivos como padrões
matemáticos para o desenvolvimento de algoritmos de reconhecimento de padrões para
diagnóstico automático.
Para esta finalidade, existem várias técnicas de processamento de sinais que
visam classificação de padrões. Para este estudo, utilizou-se o Teste t de Student para
validar estatisticamente as principais diferenças espectrais, promovendo posteriormente
a dispersão destes dados em função das áreas destes principais picos. As Figuras 24, 25
e 26 mostram o conjunto de espectros FT-Raman obtidos a partir dos tecidos de Mama
normal, Condição Fibrocística e Carcinoma ductal infiltrante. As figuras dos espectros
foram obtidas através do software Matlab  6.2, estão com as linhas de base corrigidas e
normalizados em seu pico máximo
Figura 24 – Espectros FT-Raman de tecido mamário normal, com correção de linha de base e
normalizado em seu pico máximo pelo software Matlab .
Figura 25 - Espectros FT-Raman de Condição fibrocística, com correção de linha de base e normalizado
em seu pico máximo pelo software Matlab .
Figura 26 - Espectros FT-Raman de Carcinoma ductal infiltrante, com correção de linha de base e
normalizado em seu pico máximo pelo software Matlab .
As Figuras 27, 28 e 29 mostram a comparação estatística, com o Teste t de
Student, entre cada componente espectral (Deslocamento Raman - cm-1 ) da Mama
Normal e Condição Fibrocística, Mama Normal e Carcinoma Ductal Infiltrante, e
Condição Fibrocística e Carcinoma Ductal Infiltrante, respectivamente.
Figura 27. Nível de Significância (p) para o Teste t de Student (linha horizontal, p= a = 0,05) entre Média
dos Espectros de Mama Normal e Condição Fibrocística.
Figura 28. Nível de Significância (p) para o Teste t de Student (linha horizontal, p= a = 0,05) entre média
dos espectros de Mama normal e Carcinoma ductal infiltrante.
Figura 29. Nível de Significância (p) para o Teste t de Student (linha horizontal, p= a = 0,05) entre média
dos espectros de Condição fibrocística e Carcinoma ductal infiltrante.
O deslocamento Raman entre a Mama Normal e Condição Fibrocística (Figura
27) mostrou-se estatisticamente diferente (p < α) nas bandas cujos picos correspondem
a 540, 940, 1004, 1270, 1340, 1457, 1657 e 2084 cm-1 . Estes picos estão relacionados às
biomoléculas conforme descritas na Tabela 6. Resultado similar foi obtido ao se
comparar à Mama Normal e Carcinoma Ductal Infiltrante (Figura 28). Deve-se indicar
que, em ambos os casos, o deslocamento Raman 2028 cm-1 , relacionada a
proteínas/ácidos nucléicos (Tabela 6), embora estatisticamente não se tenha mostrado
com diferença significativa (p > α), visualmente a sua média (Figura 30) mostra
diferença. Este resultado pode ser devido à pequena relação sinal-ruído desta
componente no espectro Raman. A comparação entre Condição Fibrocística e
Carcinoma Ductal Infiltrante (Figura 29), basicamente, mostrou diferenças nas bandas
anteriormente apontadas, porém com diferentes valores de significância p.
Tabela 6. Teste t de Student correspondente aos espectros FT-Raman de mama normal, condição
fibrocística e carcinoma ductal infiltrante em relação aos picos estatisticamente relevantes para
diferenciação das médias.
Picos (cm-1 )
1
540
2
940
3
1004
4
1270
5
1340
6
1457
7
1657
8
2028
9
2084
Biomoléculas Correspondentes
Cisteína (aa)
Proteínas
Fenilalanina (aa)/ Proteínas/ RNA Ribossomal
Lipídios/ Proteínas (amida III)/ Carboidratos (?C—C—H/ dC—C)
Triptofano (aa)/ RNA Ribossomal
Lipídios/ Proteínas/ Ácidos Nucléicos/ Carboidratos = (C—H)
Lipídios/ Proteínas
Proteínas/ Ácidos Nucléicos
Proteínas/ Ácidos Nucléicos
6
Mama Normal
CA Ductal Infiltrante
Condição Fibrocística
Intensidade (u.a.)
7
5
4
1
2
3
8
400
600
800
1000
1200
1400
1600
1800
9
2000
2200
-1
Deslocamento Raman (cm )
Figura 30. Média dos espectros FT-Raman de Mama normal, Condição fibrocística e Carcinoma ductal
infiltrante, obtidas pelo espectrômetro FT-Raman RFS 100, Bruker, onde estão demarcados pelos
quadrados os picos analisados pelo teste t de Student.
Na Figura 30 estão representados as médias dos espectros de Mama normal,
Condição fibrocística e Carcinoma ductal infiltrante, para melhor visualização das áreas
espectrais cujas as diferenças entre os espectros são estaticamente significativas. Na
Tabela 6, constam as biomoléculas correspondentes a estas regiões espectrais.
Foram elaborados os gráficos de Dispersão binomial em função das áreas dos
picos Raman identificados pelo teste t de Student com a finalidade de observar se estas
áreas, quando agrupadas de duas a duas, promoveriam a separação dos grupos de acordo
o tipo histopatológico. Todos os espectros destes grupos foram dispersos e os gráficos
que seguem mostram os resultados desta análise.
75
Figura 31 - 2028 cm-1 versus 2084 cm-1
Figura 32 - 1657 cm-1 versus 2084 cm-1
76
Figura 33 - 1657 cm-1 versus 2028 cm-1
Figura 34 - 1457 cm-1 versus 2084 cm-1
77
Figura 35 - 1457 cm-1 versus 2028 cm-1
Figura 36 - 1457 cm-1 versus 1657 cm-1
78
Figura 37 - 1340 cm-1 versus 2084 cm-1
Figura 38 - 1340 cm-1 versus 2028 cm-1
79
Figura 39 - 1340 cm-1 versus 1657 cm-1
Figura 40 - 1340 cm-1 versus 1457 cm-1
80
Figura 41 - 1270 cm-1 versus 2084 cm-1
Figura 42 - 1270 cm-1 versus 2028 cm-1
81
Figura 43 - 1270 cm-1 versus 1657 cm-1
Figura 44 - 1270 cm-1 versus 1457 cm-1
82
Figura 45 – 1270 cm-1 versus 1340 cm-1
Figura 46 - 1457 cm-1 versus 2084 cm-1
83
Figura 47 - 1004 cm-1 versus 2084 cm-1
Figura 48 - 1004 cm-1 versus 2028 cm-1
84
Figura 49 - 1004 cm-1 versus 1657 cm-1
Figura 50 - 1004 cm-1 versus 1457 cm-1
85
Figura 51 - 1004 cm-1 versus 1340 cm-1
Figura 52 - 1004 cm-1 versus 1270 cm-1
86
Figura 53 - 940 cm-1 versus 2840 cm-1
Figura 54 - 940 cm-1 versus 2028 cm-1
87
Figura 55 - 940 cm-1 versus 2028 cm-1
Figura 56 - 940 cm-1 versus 1457 cm-1
88
Figura 57 - 940 cm-1 versus 1657 cm-1
Figura 58 - 940 cm-1 versus 1340 cm-1
89
Figura 59 - 940 cm-1 versus 1270 cm-1
Figura 60 - 940 cm-1 versus 1004 cm-1
90
Figura 61 - 540 cm-1 versus 2084 cm-1
Figura 62 - 540 cm-1 versus 2028 cm-1
91
Figura 63 - 540 cm-1 versus 1657 cm-1
Figura 64 - 540 cm-1 versus 1457 cm-1
92
Figura 65 - 540 cm-1 versus 1270 cm-1
Figura 66 - 540 cm-1 versus 1340 cm-1
93
Figura 67 - 540 cm-1 versus 1004 cm-1
Figura 68 - 540 cm-1 versus 940 cm-1
94
Observando-se os Gráficos de dispersão, verificou-se que o teste t de Student
não foi capaz de separar os espectros de Condição fibrocística e Carcinoma ductal
infiltrante, porém os espectros de Mama normal foram separados com eficiência pelas
seguintes combinações de áreas: 1270 versus 540 cm-1 , 1270 versus 1340 cm-1 , 1270
versus 1457 cm-1 , 1270 versus 1657 cm-1 , 1270 versus 2028 cm-1 , 1270 versus 2084 cm1
, 1340 versus 1657 cm-1 , 1340 versus 2028 cm-1 , 1340 versus 2084 cm-1 , 1457 versus
1657 cm-1 , 1657 versus 2028 cm-1 e 1657 versus 2084 cm-1 .
Os picos mais importantes para classificação dos espectros, apresentados neste
estudo, foram os picos 1270 cm-1 que identificam os modos vibracionais ν (CN), δ(NH),
Amida III, α-helix e (=CH) e 1657 cm-1 com os modos vibracionais ν (C=O), Amida
I, α-helix, (C=C), que representam, proteínas e lipídios.
95
6
DISCUSSÃO
Estudos recentes têm investigado a praticabilidade do diagnóstico baseado na
Espectroscopia Raman. A maioria destes estudos comparam o espectro de tecido normal
e patológico ex vivo. Devido ao intervalo de tempo entre a excisão do tecido e o exame
espectroscópico, estas amostras devem ser congeladas adequadamente para manter seu
estado bioquímico nativo. Com o objetivo de estabelecer um procedimento ótimo para a
Espectroscopia Raman de tecido ex vivo, os efeitos sobre a desidratação do tecido,
fixação por formol ou congelamento em nitrogênio líquido, foram estudados por Shim e
Wilson (1996) no intuito de determinar se qualquer um destes procedimentos
introduziam artefatos aos espectros Raman. Experimentos em tecidos biológicos
indicaram que ocorre aquecimento do tecido devido ao laser de excitação, porém não há
mudança significativa dos espectros. A desidratação do tecido causada pela disrupção
dos modos vibracionais das proteínas pode causar artefatos espectrais. Para evitar esta
situação, neste presente estudo as amostras foram levadas à temperatura ambiente em
soro fisiológico ou soro fetal bovino e permanecerem hidratadas durante todo o
procedimento de coleta dos espectros, de acordo com os procedimentos preconizados
por Shim e Wilson (1996).
A primeira etapa do processo de otimização da técnica de Espectroscopia FTRaman para análise de tecido mamário humano requeriram que os espectros obtidos
fossem comparados à técnica de reconhecimento histológico ouro, sendo a biópsia
excisional combinada à histopatologia. Com este padrão de reconhecimento dos tecidos,
os espectros foram separados para início das análises estatísticas. Stone e colaboradores
(2004) avaliaram o potencial da espectroscopia Raman para construção de livrarias
espectrais de diversos tipos de tecido humano, como: cólon, mama, próstata e predizer
algoritmos para classificação de tecido e patologias. Neste estudo, seguiram um
rigoroso protocolo de coleta espectral seguida de análise histopatológica auxiliados por
especialistas em Patologia. Foram utilizados somente os dados espectrais, para
construção da base de dados de treinamento, das amostras de tecido os quais a
histopatologia revelou como sendo de uma patologia homogênea.
Através da Figura 15 observa-se nos espectros Raman dos nove tipos
histopatologicos encontrados neste estudo, que não existe uma banda Raman específica
que prove definitivamente a existência do tumor ou que os diferenciem. Entretanto,
96
existem mudanças características de todos estes espectros, por exemplo, a diminuição
da intensidade das bandas de ácidos graxos e aumento da intensidade e deslocamento
das bandas de proteínas que podem representar algumas mudanças bioquímicas que
ocorrem nos diferentes tipos histopatológicos que poderão favorecer sua classificação
via espectroscopia Raman como descrito previamente por vários autores (PARKER,
1971; LONDON et al., 1992; FRANK et al., 1994; KELLER et al., 1994; MIZUNO et
al., 1994; FELD et al., 1995; MAHADEVAN-JANSEN et al, 1995; MAHADEVANJANSEN; RICHARDS-KORTUM, 1996; MANOHARAN; WANG; FIELD, 1996;
MAHADEVAN-JANSEN et al, 1998; MANOHARAN, 1998; HATA et al., 2000;
PAPPAS, 2000; STONE et al., 2000; HAKA et al., 2002, KENDALL et al., 2003; LAU
et al., 2003; MOLCKOVSKY et al., 2003; CROW et al., 2004; GNIADECKA et al.,
2004; STONE et al., 2004).
Os Coeficientes de Correlação dos espectros FT-Raman de tecido mamário
indicados pela Tabela 3 variaram mais nos casos diagnosticados como Mama normal e
Condição fibrocística. Nestes dois casos, em particular, parte das amostras de tecido
eram compostas apenas por tecido adiposo nas Mamas normais e tecido fibroso nos
tecidos com Condição fibrocística, sem manifestação de tecido epitelial, culminando em
grandes diferenças entre os espectros dentro do mesmo grupo diagnóstico.
Existem essencialmente dois tipos de tecido mamário, o tecido protéico, em sua
maioria colágeno, e estruturas lipídicas, que geralmente se mostram combinadas.
Algumas análises de clusterização dos espectros deste tecido protéico, como fator de
análise, identificaram as diferenças típicas entre patologias benignas e malignas. Os
espectros dos tumores são dependentes dos sítios de investigação das amostras
(SCHRADER et al., 1997).
Na Figura 16, observa-se que tecido mamário normal tem o espectro mais
intenso, provavelmente devido a sua composição estrutural ser quase inteiramente de
tecido adiposo. O sinal Raman dos ácidos graxos é conhecidamente muito intenso, e
neste caso, sobrepõem-se sobre todos os outros sinais Raman dos demais componentes
tissulares da mama normal, como ductos e lóbulos. Redd e colaboradores (1992)
identificaram diferenças nas concentrações de lipídios e carotenóides, que se mostraram
mais intensas no tecido de mama normal do que nas alterações fibrocísticas e carcinoma
ductal, propondo que estas características espectrais poderiam promover diagnóstico
97
diferencial entre tecido normal, benigno e maligno. Frank e colaboradores (1994),
também caracterizaram amostras de tecido mamário humano em diferentes
comprimentos de onda de excitação, em relação à composição dos lipídios e
carotenóides presentes e as alterações destes compostos no decorrer do processo de
carcinogênese.
Na Figura 17, como pôde ser observado por diversos autores, como Freire
(2004) estudando carcinoma espinocelular de pele, Mahadevan-Jansen e RichardsKortum (1996), em estudo diversificado sobre espectroscopia em tecidos biológicos,
identificaram o pico em 1005 cm-1 o denominando como representante do aminoácido
Fenilalanina. Com a bibliografia levantada em relação aos modos vibracionais dos
aminoácidos como Alanina, Valina e Glicina através da publicação de Schrader (1989),
identificamos que estes aminoácidos também possuem modo vibracional em 1005 cm-1 .
Sendo assim, justifica-se o aumento da intensidade deste pico nos tumores infiltrantes
pela grande atividade mitótica, sendo representado no pico o aumento do material
genético.
Também pode ser observado nesta figura a menor intensidade do sinal de todos
os espectros Raman dos tecidos mamários patológicos. Esta diminuição da intensidade
ocorreu provavelmente devido aos seguintes fatores: (i) aspectos físicos relacionados à
disposição desorganizada das células nos tecidos alterados, resultando em uma menor
seção de espalhamento Raman, alterando, assim, a intensidade dos modos vibracionais e
(ii) nos tecido patológicos da mama, a abundância de colágeno ocorre em função da
reação desmoplástica decorrente do processo carcinogênico, e o sinal Raman deste
componente é pouco intenso e ruidoso (FELD et al., 1995; MAHADEVAN-JANSEN et
al, 1995; MAHADEVAN-JANSEN; RICHARDS-KORTUM, 1996; MANOHARAN;
WANG; FIELD, 1996; MAHADEVAN-JANSEN et al, 1998; MANOHARAN, 1998;
HATA et al., 2000; PAPPAS, 2000; STONE et al., 2000; HAKA et al., 2002).
Na Figura 18, existem duas regiões destacadas pelo quadrado que identificam as
ligações peptídicas da estrutura secundária das proteínas que são Raman ativas: Amida I
e Amida III. As regiões demarcadas mostram o aumento da intensidade do sinal do
tecido maligno em relação ao tecido normal, e especialmente o aumento da intensidade
quando o carcinoma se torna infiltrante. A estrutura secundária das proteínas influencia
significativamente o espectro Raman através das ligações peptídicas entre os
98
aminoácidos. Mahadevan-Jansen; Richards-Kortum (1996) estudando a participação das
proteínas dentro do processo neoplásico por Espectroscopia Raman, verificaram
vibrações corresponde às ligações dos aminoácidos residuais que formam a estrutura
secundária da proteína na conformação α. Dentre os quatro modos normais de ligação
entre os aminoácidos residuais existentes, dois são Raman ativos: o modo Amida I, cuja
estrutura responsável pela vibração é o estiramento existente entre os átomos de carbono
e oxigênio (C=O); e o modo Amida III, envolvendo dois tipos vibração: (i) a vibração
de dobramento da ligação dos átomos de nitrogênio com hidrogênio, δ(N-H) e (ii) a
vibração de estiramento correspondente à ligação dos átomos de carbono e nitrogênio,
ν(C-N). (FELD et al., 1995; MAHADEVAN-JANSEN et al, 1995; MAHADEVANJANSEN; RICHARDS-KORTUM, 1996; MANOHARAN; WANG; FIELD, 1996;
MAHADEVAN-JANSEN et al, 1998; MANOHARAN, 1998; HATA et al., 2000;
PAPPAS, 2000; STONE et al., 2000; HAKA et al., 2002).
Como observado na Figura 19, existem diferenças entre os espectros de
Carcinoma ductal in situ e o Carcinoma ductal in situ comedo que podem ser
justificadas em relação ao conteúdo necrótico presente em abundância no Carcinoma
tipo Comedo, além da algumas figuras de linfócitos presentes decorrentes do processo
inflamatório. Dentro da área quadrada pontilhada, destaca-se no espectro do Carcinoma
ductal in situ comedo, além da semelhança espectral com o espectro de colesterol
simulando necrose, obtido por Shafer-Peltier e colaboradores (2002), outras diferenças
importantes, como o surgimento de um novo pico em 1005 cm-1 referente a
aminoácidos e RNA.
Na Figura 20 destacam-se áreas do espectro que podem ser utilizadas para
promoção do diagnóstico diferencial entre patologias benignas e malignas. De maneira
semelhante aos resultados encontrados por Weng e colaboradores (2000), onde
verificaram as diferenças existentes entre os espectros FT-Raman de tecido esofágico
normal e com carcinoma, observa-se diferenças importantes na região de deslocamento
Raman de 2700 a 3400 cm-1 , que possivelmente se referem às moléculas envolvidas no
metabolismo energético celular. Os modos vibracionais de estiramento OH (NH)
possuem bandas Raman na região de 3250 cm–1 geralmente mais largas que as bandas
Raman geradas pelo modo vibracional de estiramento da ligação C–H na região de
deslocamento 2950 cm–1 . Neste trabalho, não utilizou-se esta região espectral para as
99
análises estatísticas, pois a região de 3250 cm-1 pode estar associada ao aquecimento da
amostra perante a excitação do laser de Nd: YAG. Observamos, através dos espectros
obtidos no LEVB, esta mesma característica espectral em diversos compostos, desde
outros tipos de tecido biológico, desde bactérias e traquéia de rato, até compostos
carbônicos inorgânicos.
Na Figura 21, as bandas vibracionais em 1025 e 1045 cm −1 são responsáveis
pelos modos vibracionais do grupo –CΗ OH e o modo de estiramento C–O acoplado ao
modo de dobramento de C–O do grupo C–OH dos carboidratos, o que inclui glicose,
frutose e glicogênio. Nos espectros FT-Raman representados na Figura 21, observam-se
diferenças na região do espectro de 1050 à 1150 cm-1 que podem ser referentes ao
conteúdo colóide presentes nos tecidos Condição fibrocística e Carcinoma ductal
infiltrante mucinoso. Pode-se afirmar que nesta região de deslocamento, destacada pelo
quadrado, existe aumento da intensidade do sinal dos espectros de Condição fibrocística
e Carcinoma ductal infiltrante mucinoso em relação ao espectro de Carcinoma ductal
infiltrante, o que não é observada no restante da figura, destacada pelo quadrado
pontilhado.
O uso da espectroscopia FT-Raman na análise da conformação do DNA tem
mostrado a possibilidade de se extrair informações sobre as conformações a, ß ou outras
conformações as quais o DNA pode ser encontrado. Na maioria das células, o DNA
existe na forma ß, que não é exatamente uma estrutura, e sim uma família de interações
do DNA com o ambiente. Geralmente, as bandas espectrais Raman referentes ao DNA
podem ser designadas às vibrações predominantemente das quatro bases nitrogenadas
adenina, timina, citosina e guanina (PETICOLAS; ENETSZ, 1992; DUNGUID et al.,
1993). Mahadevan-Jansen e Richards-Kortum (1996) desenvolveram um trabalho sobre
o modelamento morfológico de várias biomoléculas que participam do processo
neoplásico; obtiveram diversos espectros destas substâncias isoladas em solução. Como
resultado, estabeleceu-se os espectros dos ácidos nucléicos. De acordo estes autores, a
região de deslocamento Raman de 500 a 800 cm-1 é repleta de picos e bandas
relativamente fracas devido a vibração de anéis heterocíclicos das bases nitrogenadas.
Também existem duas fortes linhas que representam as bases pirimidínicas em 770 cm-1
e outras em 670 cm-1 devido as bases purínicas, devido a vibração de seus anéis
aromáticos. A região de deslocamento de 1100 a 1700 cm-1 também é rica em picos e
100
bandas pouco intensos referentes aos ácidos nucléicos. As bases pirimidínicas possuem
energia característica em 1240 cm-1 enquanto as bases purínicas em 1480 e 1570 cm-1 .
As pentoses também contribuem na caracterização vibracional dos ácidos nucléicos,
como o modo vibracional de estiramento O-P-O localizado perto da região de
deslocamento 800 cm-1 e pela vibração na região de 1460 cm-1 devido à deformação
CH2 . Em relação ao grupo fosfato, existem três principais modos vibracionais: (i) o
estiramento simétrico de dois fosfatos ionizados no éster difosfato próximo de 1095 cm1
, (ii) o estiramento simétrico de O-P-O entre a C3’ terminal de um nucleotídeo e C5’
terminal de um segundo nucleotídeo encontrada na região de 814 cm-1 no RNA e
809 cm-1 no DNA, e (iii) a vibração assimétrica de O-P-O localizada em 832 cm-1 no
DNA (KELLER et al., 1994).
Observa-se na Figura 23 que o espectro de Mama normal apresentou picos de
menor intensidade nesta faixa de deslocamento Raman. Entretanto, os tecidos tumorais
apresentaram bandas mais intensas que sugerem representação espectral de situações
histológicas específicas do processo tumoral como perda de diferenciação, resultando
em um aumento da razão núcleo/citoplasma e o aumento da atividade proliferativa,
aumenta o montante de nucleoproteínas e ácidos nucléicos (BURNER et al., 1992). As
células com alterações pré- malignas e malignas acumulam um montante anormal de
subprodutos metabólicos com porfirinas (SVANBERG et al., 1994); também exprimem
antígenos tumor-específicos únicos que podem ser detectados por serem moléculas
Raman ativas. Uma das mudanças mais significativas que ocorrem na transformação
neoplásica é o aumento do conteúdo celular de ácidos nucléicos; extensivos estudos de
Espectroscopia indicam a possibilidade de identificação de alterações no DNA através
das vibrações moleculares.
Neste presente estudo, através da deconvolução dos espectros FT-Raman foram
identificados os centros e as variações dos principais picos Raman de nove tipos
histológicos de tecido mamário. Normalmente, a deconvolução produz resultados
precisos quando a separação entre os centros dos picos de duas bandas é maior que suas
meias- larguras, o que não ocorre nos espectros biológicos, principalmente nos espectros
de proteínas. Em trabalho desenvolvido por Forato et al. (1998), onde propuseram um
modelo teórico de deconvolução de espectros Raman e Infravermelho de proteínas,
concluíram que as áreas ou intensidades originais com intensidades iguais foram
101
distorcidas em até 50% depois de realizada a deconvolução (FORATO et al., 1998).
Geralmente, técnicas mais elaboradas como métodos estatísticos de análises
multivariadas, podem melhorar a diferenciação dos espectros que permitirão o
diagnóstico automático para detecção da doença em tempo real.
Lau e colaboradores (2003) baseados em resultados sobre alterações moleculares
de tecidos neoplásicos da nasofaringe identificados nos espectros Raman, exploraram
maneiras automáticas de distinguir tecidos normais de patológicos. Encontrou
diferenças nos espectros Raman, certificados pelo teste t de Student em três bandas
1290 a 1320 cm-1 (p = 0,005), 1420 a 1470 cm-1 (p = 0,006) e 1530 a 1580 cm-1 (p =
0,002). Analisando as biomoléculas da Tabela 6 do presente estudo, estas correspondem
aos picos Raman avaliados pelo teste t de Student relacionados a diferenciação das
médias FT-Raman de Mama normal, Condição fibrocística e Carcinoma ductal
infiltrante. Estes picos Raman são basicamente relacionados a proteínas e lipídios que,
neste presente estudo, promoveram a diferenciação entre os espectros de mama normal
e espectros patológicos quando observamos as seguintes combinações dos gráficos de
Dispersão: 1270 versus 540 cm-1 , 1270 versus 1340 cm-1 , 1270 versus 1457 cm-1 , 1270
versus 1657 cm-1 , 1270 versus 2028 cm-1 , 1270 versus 2084 cm-1 , 1340 versus 1657 cm1
, 1340 versus 2028 cm-1 , 1340 versus 2084 cm-1 , 1457 versus 1657 cm-1 , 1657 versus
2028 cm-1 e 1657 versus 2084 cm-1. O teste t de Student é um teste de hipótese que tem
por objetivo determinar a afirmação sobre uma população, usualmente sobre um
parâmetro desta, quando se deseja saber se os resultados experimentais provenientes de
uma amostra contrariam ou não tal afirmação. Muitas vezes, essa afirmação sobre a
população é derivada de teorias desenvolvidas no campo substantivo do conhecimento.
A adequação ou não desta teoria ao universo real pode ser verificada ou refutada pela
amostra. O objetivo do teste estatístico de hipóteses é, então, fornecer uma metodologia
que permite verificar se os dados amostrais trazem evidências que apóiem ou não a
hipótese formulada (MORETTIN, 2004).
Os picos mais importantes para classificação dos espectros, apresentados neste
estudo, foram os picos 1270 cm-1 que identificam os modos vibracionais ν (CN), δ(NH),
Amida III, α-helix e (=CH) e 1657 cm-1 com os modos vibracionais ν (C=O), Amida
I, α-helix, (C=C), que representam, proteínas e lipídios (PARKER, 1971; LONDON et
al., 1992; FRANK et al., 1994; KELLER et al., 1994; MIZUNO et al., 1994; FELD et
102
al.,
1995;
MAHADEVAN-JANSEN
RICHARDS-KORTUM,
1996;
et
al,
1995;
MANOHARAN;
MAHADEVAN-JANSEN;
WANG;
FIELD,
1996;
MAHADEVAN-JANSEN et al, 1998; MANOHARAN, 1998; HATA et al., 2000;
PAPPAS, 2000; STONE et al., 2000; HAKA et al., 2002, KENDALL et al., 2003; LAU
et al., 2003; MOLCKOVSKY et al., 2003; CROW et al., 2004; GNIADECKA et al.,
2004; STONE et al., 2004).
A dificuldade, no entanto, se encontrou na diferenciação dos espectros Raman de
tecidos com alterações benignas e malignas por meio destes algoritmos matemáticos e
não na aquisição das informações espectrais pela técnica FT-Raman. Manoharan e
colaboradores (1996) foram capazes de diagnosticar corretamente 14 em 15 espectros
Raman de amostras de tecido mamário normal, 13 em 15 espectros de amostras de
tecido com alterações benignas e 31 em 31 de tecido mamário com alterações malignas,
utilizando-se da análise estatística dos principais componentes do espectro (PCA).
Utilizando-se de dados da espectroscopia Raman para diagnostico diferencial,
Molckovsky e colaboradores (2003) avaliaram o potencial diagnóstico das informações
dos espectros Raman, obtidas através de fibra óptica, para distinguir adenomatose,
pólipos hiperplásicos e tecido sem alterações de tecido do trato gastrintestinal, através
de análises multivariadas (PCA) e análise discriminante linear como algoritmo de
classificação dos mesmos. Este algoritmo identificou as amostras com 91 % de
sensibilidade, 95 % de especificidade e 93 % de precisão. Foram analisadas amostras
obtidas in vivo, a partir de dez pacientes com diagnóstico de adenomas e nove pacientes
apresentando pólipos. O algoritmo desenvolvido apresentou 100 % de sensibilidade,
89 % especificidade e 95 % de precisão, avaliando esta amostragem.
Jaganath e colaboradores (2004), utilizando algoritmo de ENVI, desenvolveram
uma metodologia de diagnóstico automática para classificar os espectros de células
uroteliais, obtidos a partir da urina coletada para exames rotineiros de avaliação de
carcinoma de bexiga. A partir da clusterização destes espectros foi possível separar,
com 82% e 81% de especificidade de sensibilidade, respectivamente, os espécimes
celulares benignos e malignos sem que previamente tivessem obtido qualquer tipo de
informação morfológica que permitisse a classificação das células.
Gniadecka et al. (2004) estudaram a possibilidade de diagnóstico espectral para
o melanoma, mais agressivo dentre os cânceres de pele. Justificou sua nova abordagem
103
identificando a baixa especificade e a sensibilidade do diagnóstico clínico para este tipo
de patologia, que varia de 40 a 80 %. No estudo, os autores investigaram as mudanças
químicas no melanoma e de outras lesões que clinicamente podem ser confundidas com
este carcinoma: nevus pigmentado, carcinoma basocelular, queratose seborréica e pele
normal. Os espectros foram obtidos através da Espectroscopia FT-Raman e por Redes
Neurais foram classificados, pela sensibilidade da análise da freqüência espectral por
determinar a importância dos componentes individualmente no espectro Raman. Este
algoritmo, utilizado para fins de diagnóstico automático de melanoma, apresentou 85 %
e 99 %, de especificidade e sensibilidade, respectivamente.
104
7
CONCLUSÃO
Através da análise qualitativa dos espectros FT-Raman deste presente estudo,
foram construídos modelos espectrais para cada um dos nove grupos histopatológicos
encontrados, utilizando-se do ajuste do sinal pela deconvolução dos espectros seguido
de análise dos múltiplos picos. Desta maneira, foi possível identificar as diferenças entre
os espectros de Mama normal, Condição Fibrocística, Carcinoma ductal in situ,
Carcinoma ductal in situ comedo, Carcinoma ductal infiltrante, Carcinoma ductal
infiltrante inflamatório, Carcinoma ductal infiltrante medular, Carcinoma ductal
infiltrante mucinoso, Carcinoma lobular infiltrante. Estas diferenças foram baseadas nos
deslocamentos e variações de intensidades dos espectros e achados histopatológicos.
Destacam-se no tecido de Mama normal maior conteúdo de lipídio; colágeno, presente
em abundância em todos os tecidos patológicos; conteúdo cístico, presentes nos tecidos
de
Condição
Fibrocística
e
Carcinoma
ductal
infiltrante
mucinoso;
células
inflamatórias, presente no espectro de Carcinoma ductal infiltrante inflamatório;
diferentes intensidades das bandas de ácidos nucléicos que diferenciaram patologias in
situ de infiltrantes.
Estatisticamente, as diferenças espectrais encontradas entre os espectros de
Mama normal dos espectros de Condição fibrocística e carcinoma ductal infiltrante
foram validada pelo teste t de Student e a dispersão bidimensional destes dados, que
mostrou forte tendência de separação pelos picos 540, 940, 1004, 1270, 1340, 1457,
1657, 2028 e 2084 cm-1 . Porém, as maiores tendências de separação foram encontradas
pela relação entre as áreas dos picos 1270 cm-1 e 1657 cm-1 , que separaram os espectros
Normal versus Condição Fibrocística e Carcinoma ductal infiltrante, relacionando seus
conteúdos de lipídios e colágeno.
As informações obtidas pela Espectroscopia FT-Raman mostraram-se decisivas
para o desenvolvimento de algoritmos de treinamento para fins de classificação
automática, entretanto, são requeridos um número maior de amostras para validação
adicional.
105
8
PROPOSTAS
A Espectroscopia FT-Raman pode promover importantes informações sobre a
estrutura molecular de tecidos vivos. No entanto, deve-se admitir que a Espectroscopia
Raman para fins diagnósticos está ainda iniciando seu desenvolvimento. Diversas linhas
de pesquisa deverão estar completas para que esta técnica possa ser aplicada
rotineiramente. Entre estas técnicas, citam-se:
1- Micro Raman
a. Análise mais detalhada de tecidos e/ou células isoladas a partir de dados
espectrais espectros com resolução de 1µm.
2- SERS (Surface Enhancement Raman Scattering)
a. Possibilidade de identificação de proteínas envolvidas no metabolismo
celular no processo carcinogênico.
3- Raman in vivo através da implementação de Fibras Ópticas
a. Possibilidade se avaliar in vivo o processo de desenvolvimento de um
tumor, utilizando-se cobaias;
b. Desenvolvimento de cateteres ópticos para uso de clínico para
diagnóstico e monitoramento de patologias via espectroscopia óptica.
4- Rede Neural (Neural Networks)
a. Para classificação e confecção de banco de dados espectrais com
finalidade diagnóstica;
b. Para visualização de imagem química do tecido e/ou células a partir de
dados coletados por Espectroscopia Micro-Raman.
106
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111
ANEXOS E APÊNDICES
112
113
Consentimento Pós-Informado
Termo de Consentimento Pós-Informado
Para obter maiores conhecimentos clínicos e científicos do câncer, médicos e
pesquisadores desenvolvem pesquisas clínico-científicas, as quais possibilitam conhecer
melhor os mecanismos da doença, oferecendo novas possibilidades de diagnóstico e
tratamento. Estes estudos são realizados em fragmentos de tecido humanos removidos
em cirurgias. Você está sendo admitido (a) neste Hospital para estabelecimento de
procedimento cir úrgico cujo tecido removido, conforme Legislação Sanitária
regulamenta sobre o assunto, será descartado.
Um fragmento deste tecido será encaminhado para um projeto de pesquisa,
previamente submetido à apreciação da Comissão de Ética em Pesquisa da
Universidade do Vale do Paraíba, através da utilização da Espectroscopia Raman e de
Infravermelho com transformada de Fourier para estudos de materiais biológicos, a qual
fornece informações bioquímicas detalhadas, diferenciando tecidos normais de
patológicos, através de alterações microscópicas detectadas por espectroscopia óptica. O
fragmento do tumor será identificado no laboratório por um código formado por número
e letras e, portanto, sua publicação científica será feita de modo a manter o anonimato
do paciente.
Concordamos com o uso do material para fins acima descritos, é necessário
esclarecê-lo (a) que não existem quaisquer benefícios ou direitos financeiros a receber
sobre eventuais resultados decorrentes da pesquisa. Se você não concordar em doar
materiais para pesquisa, sua decisão não influenciará, de modo algum, no seu
tratamento.
Dúvidas ou questões sobre o Termo de Consentimento poderão ser esclarecidas
pelo seu médico.
Você receberá uma cópia deste documento e o original será arquivado em seu
prontuário.
Somente assine este Termo, se consentir.
DECLARAÇÃO
Declaro estar ciente das informações ora prestadas, tendo lido atentamente e
concordando com o teor.
São José dos Campos,
Responsável ou Paciente
Nome:
RG:
114
Consentimento Pós-Informado
Termo de Consentimento Pós-Informado
Para obter um maior conhecimento clínico e científico do câncer, o Corpo
Clínico deste Hospital (médicos e pesquisadores) desenvolvem pesquisas clínicocientíficas, as quais possibilitam conhecer melhor os mecanismos da doença, oferecendo
novas possibilidades de diagnóstico e tratamento. Estes estudos são realizados em
fragmentos de tumores removidos em cirurgias. Você está sendo admitido (a) neste
Hospital para estabelecimento de diagnóstico e tratamento de alguma forma de tumor.
Para fins de diagnóstico, fator prognóstico e/ou como parte de seu tratamento, há
necessidade da remoção do tumor para exames clínicos laboratoriais, necessários para
um diagnóstico definitivo, principalmente o diagnóstico histopatológico. O restante do
tumor que é retirado, não é utilizado, sendo descartado, conforme Legislação Sanitária
regulamenta sobre o assunto.
Um fragmento do tumor será encaminhado para um projeto de pesquisa,
previamente submetido à apreciação da Comissão de Ética em Pesquisa do Hospital,
através da utilização da Espectroscopia Raman e de Infravermelho com Transformada
de Fourier para estudos de materiais biológicos, com ênfase em tecidos com câncer de
mama, a qual fornece informações bioquímicas detalhadas, diferenciando tecidos
benignos de tecidos malignos, através de alterações microscópicas detectadas por
espectroscopia óptica. O fragmento do tumor será identificado no laboratório por um
código formado por números e letras e, portanto, sua publicação científica será feita de
modo a manter o anonimato do paciente.
Concordamos com o uso do material para fins acima descritos, é necessário
esclarece-lo (a) que não existem quaisquer benefícios ou direitos financeiros a receber
sobre eventuais resultados decorrentes da pesquisa. Se você não concordar em doar
materiais para pesquisa, sua decisão não influenciará, de modo algum, no seu
tratamento.
Dúvidas ou questões sobre o Termo de Consentimento poderão ser esclarecidas
pelo seu médico.
Você receberá uma cópia deste documento e o original será arquivado em seu
prontuário.
Somente assine este Termo, se consentir.
DECLARAÇÃO
Declaro estar ciente das informações ora prestadas, tendo lido atentamente e
concordando com o teor.
São Paulo,
Responsável ou Paciente
Nome:
RG:
RGH:
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