MONIQUE ASSIS DA SILVA A UTILIZAÇÃO DA BOLA SUIÇA E BRINQUEDOS NO MECANISMO DE CONTROLE POSTURAL NORMAL: UM ESTUDO DE CASO Tubarão, 2006. MONIQUE ASSIS DA SILVA A UTILIZAÇÃO DA BOLA SUIÇA E BRINQUEDOS NO MECANISMO DE CONTROLE POSTURAL NORMAL: UM ESTUDO DE CASO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Fisioterapia, como requisito à obtenção do título de Bacharel em Fisioterapia. Universidade do Sul de Santa Catarina Orientadora Profª. Msc. Fabiana Durante de Medeiros Tubarão, 2006. DEDICATÓRIA Dedico este trabalho aos meus pais, que acreditaram e lutaram durantes estes anos para que conseguisse concluir esta fase tão importante da minha vida, ao meu namorado, Gustavo, que esteve presente e torcendo pela minha vitória e as minhas amigas, que estiveram sempre ao meu lado, nos dias bons e ruins de toda formação acadêmica. AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente, a Deus, por iluminar meus passos e pensamentos, dandome paciência para ultrapassar muitas barreiras, me concedendo saúde para prosseguir esta longa e às vezes difícil jornada. Aos meus pais, pela vida, carinho, incentivo e dedicação em toda a jornada. Ao meu namorado, Gustavo, pelo amor, carinho e compreensão nas horas em que deixamos de namorar para a realização do TCC. A minha orientadora, Fabiana, por toda sua dedicação e amizade, e pelo tempo que concedeu para esclarecimento de dúvidas, sugestões e correções. Muito Obrigada! As minhas amigas, em especial a Cristiane, Simone e Ediane, que estiveram sempre ao meu lado, nos dias bons e ruins, apoiando e contribuindo para que este trabalho fosse concretizado com excelência, Obrigada amigas! Aos membros da banca por concederem seu tempo para contribuir em meu trabalho. A K. que sempre colaborou, e mostrou-se participativa em todos os atendimentos e a seus pais por terem confiado e contribuído para que pudesse realizar o estudo, muito obrigada! RESUMO O objetivo do ser humano é ficar em pé contra a gravidade e realizar atividades funcionais do dia-a-dia, e para isso precisa do controle postural. A criança com Paralisia Cerebral apresenta atraso na aquisição do controle postural normal, devido a uma série de características específicas. Frente a esse problema, este estudo foi constituído de uma pesquisa experimental do tipo estudo de caso, realizado na instituição da APAE do município de Tubarão – SC, nos meses de agosto e setembro do ano de 2006, cinco vezes por semana, com duração de sessenta minutos cada, totalizando vinte e dois atendimentos; onde se executou um programa de atividades com a bola suíça e brinquedos, num ambiente lúdico, em uma criança portadora de Paralisia Cerebral por Citomegalovirose Congênita, estimulando precocemente, a fim de facilitar os movimentos motores e inibir os movimentos e posturas anormais, promovendo melhora no Mecanismo do Controle Postural. Para tal, foi utilizado uma ficha de avaliação fisioterapêutica de Neuropediatria, aplicada no início e no fim dos atendimentos, e o armazenamento dos dados foi realizado por meio de fotos da evolução diária do Mecanismo do Controle Postural Normal desta criança. No processo de análise qualitativa dos dados e considerações, observou-se ao final de quatro semanas de tratamento diário, uma melhora no quadro do Mecanismo do Controle Postural Normal (quanto às reações de retificação, equilíbrio e endireitamento; quanto às posturas sentadas, de gatas e de pé), principalmente associadas as atividades de preensão palmar e as bimanuais. Conclui-se que atividades com a bola suíça e brinquedos, podem interferir na atividade reflexa postural desta paciente na fase de estimulação precoce, propiciando uma melhora na qualidade funcional da postura e do movimento, de forma significativa em uma freqüência maior de atendimentos semanais. Palavras-chave: Paralisia Cerebral, Mecanismo do Controle Postural Normal, Bola Suíça, Brinquedos. ABSTRACT The objective of human being is to be on foot against gravity and to realize functional daily activities, and for this it’s necessary postural control. Child with Cerebral Palsy shows a delay in normal postural control’s acquisition, due to series of specific characteristics. In front of this problem, this study was consisted of na experimental research of type of study of case, realized at institution of APAE of Tubarão – SC, during months of august and september, 2006, five times per week, with duration of sixty minutes each one, totalling twenty two attendances; where it was executed a program of activities with fit ball and toys, at a play environment, in a Cerebral Palsy carrier child for congenital cytomegalovirus, stimulating in a precociuos way, with the aim to facilitate motor movements and to inhibit anormal movements and postures, promoting an improvement of Mechanism of Postural Control. For this, it was used a physiotherapic evaluating register of Neuropediatrics, that was applicated in the beginning and in the end of attendances, and the dates’ storage was realized through pictures of daily evolution of this child’s Normal Mecanhism of Postural Control. In process of qualitative analysis of dates and considerations, it was observed that in the end of four weeks of daily treatment, na improvement of Normal Mechanism of Postural Control (about reactions of rectification, balance and straightenment; about seating, creeping and on the floor postures), principally wuehn associated to activities of palm prehension and bimanual. It’s concluded that activities with fit ball and toys, can interfere in reflex postural activity in this pacient in stage of precocious stimulation, propitiating an improvement in functional quality of posture and movement, in a significative form and in a larger frequency of attendances per week. Key-words: Cerebral Palsy, Normal Mechanism of Postural Control, Fit ball, Toys. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................9 2 PARALISIA CEREBRAL POR CITOMEGALOVIROSE CONGÊNITA...................13 2.1 Citomegalovirose congênita.............................................................................................13 2.2 Microcefalia.......................................................................................................................16 2.3 Introdução à Paralisia Cerebral......................................................................................17 2.3.1 Incidência.........................................................................................................................19 2.3.2 Fatores etiológicos da Paralisia Cerebral.........................................................................19 2.3.3 Classificação da Paralisia Cerebral..................................................................................19 2.3.3.1 Tipos de tônus anormal.................................................................................................22 2.3.3.2 Distribuição do tônus....................................................................................................23 2.3.4 Diagnóstico......................................................................................................................24 2.3.5 Deficiências associadas....................................................................................................26 2.3.6 Ajustes posturais..............................................................................................................27 2.3.7 Grau de motilidade...........................................................................................................27 2.4 Mecanismo de Controle Postural Normal......................................................................28 2.4.1 Tônus Postural normal.....................................................................................................28 2.4.1.1 Definições de tônus.......................................................................................................29 2.4.2 Todos os graus de inervação recíproca............................................................................32 2.4.2.1 Inervação recíproca anormal.........................................................................................33 2.4.3 Todas as variedades de padrões de movimentos que formam a base das atividades funcionais .................................................................................................................................33 2.4.4 Padrões de movimentos alterados....................................................................................34 2.5 Bola suíça...........................................................................................................................39 2.5.1 Histórico da bola suíça.....................................................................................................39 2.5.2 Princípios gerais no trabalho com a bola suíça.................................................................41 2.5.3 Técnica.............................................................................................................................41 2.5.4 Aprendizado motor utilizando a bola suíça......................................................................42 2.5.4.1 Conhecimento do resultado...........................................................................................44 2.5.4.2 Feedback.......................................................................................................................44 2.5.4.3 Análise do equilíbrio.....................................................................................................45 2.5.5 Condições da bola............................................................................................................47 2.5.5.1 Superfície para os exercícios........................................................................................48 2.5.5.2 Tamanho da bola...........................................................................................................48 2.5.6 Contra-indicações.............................................................................................................48 2.6 Brinquedos.........................................................................................................................49 2.6.1 A história dos brinquedos................................................................................................49 2.6.2 O papel dos brinquedos no desenvolvimento da criança normal e da portadora de paralisia cerebral ......................................................................................................................50 3 DELINEAMENTO DAPESQUISA................................................................................... 54 3.1 Caracterização da pesquisa..............................................................................................54 3.2 População/amostra............................................................................................................55 3.2.1 Sujeito da amostra............................................................................................................55 3.2.2 Critérios de inclusão.........................................................................................................56 3.3 Instrumento de coleta de dados.......................................................................................56 3.4 Procedimentos de coleta de dados...................................................................................56 3.5 Análise e interpretação dos dados...................................................................................58 4 Apresentação do caso...........................................................................................................59 4.1 Identificação......................................................................................................................60 4.2 Queixa principal................................................................................................................60 4.3 História do nascimento.....................................................................................................61 4.4 História Pregressa.............................................................................................................61 4.5 Antecedentes familiares....................................................................................................61 4.6 Estado atual.......................................................................................................................61 4.7 Problemas associados........................................................................................................63 4.8 Exames complementares..................................................................................................63 5 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS.............................................................64 5.1 Análise................................................................................................................................64 5.1.1 Primeira semana de atendimento.....................................................................................64 5.1.2 Segunda semana de atendimento.....................................................................................66 5.1.3 Terceira semana de atendimento......................................................................................67 5.1.4 Quarta semana de atendimento ......................................................................................69 5.1.5 Avaliação final.................................................................................................................73 5.2 Discussão dos resultados...................................................................................................75 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................................82 REFERÊNCIAS.......................................................................................................................84 ANEXOS...................................................................................................................................90 Anexo A – Ficha de Avaliação.................................................................................................91 Anexo B – Exames complementares......................................................................................100 Anexo C – Termo de consentimento......................................................................................103 1 INTRODUÇÃO O termo paralisia cerebral (PC) é usado para definir qualquer desordem caracterizada por alteração do movimento secundária a uma lesão não progressiva do cérebro em desenvolvimento. O desenvolvimento do cérebro tem início logo após a concepção e continua após o nascimento. Ocorrendo qualquer fator agressivo ao tecido cerebral antes, durante ou após o parto, as áreas mais atingidas terão a função prejudicada e, dependendo da importância da agressão, certas alterações serão permanentes caracterizando uma lesão não progressiva. O tipo de alteração do movimento observado está relacionado com a localização da lesão no cérebro e a gravidade das alterações depende da extensão da lesão. Uma criança com PC pode apresentar alterações que variam desde leve incoordenação dos movimentos ou uma maneira diferente para andar ou até inabilidade para segurar um objeto, falar ou deglutir. Estas alterações modificam o desenvolvimento e o Mecanismo do Controle Postural Normal (MCPN) do portador de Paralisia Cerebral, sinais precoces que chamam a atenção para a necessidade de avaliações mais detalhadas e acompanhamento neurológico. Dentre as várias características clínicas dos indivíduos com Paralisia Cerebral, encontra-se o atraso das aquisições motoras, que tem como conseqüência o retardo do Mecanismo do Controle Postural Normal. Há várias alterações que retardam este desenvolvimento, uma das principais é o tônus muscular anormal que pode estar aumentado (hipertonia) ou diminuído (hipotonia), apresentando uma alteração na resistência aos movimentos passivos e ativos. Outras alterações como o atraso do desaparecimento de alguns reflexos, como o de Moro, RTCA, por exemplo, é resultante no atraso do Mecanismo do Controle Postural Normal. Um grande número de crianças com paralisia cerebral apresenta dificuldades para a realização das atividades da vida diária (AVDs) e, dependendo do grau das limitações motoras, técnicas de execução, adaptações, e o uso de dispositivos especiais poderão favorecer o desempenho nessas atividades A fisioterapia evoluiu muito nos últimos anos, hoje existem várias áreas que o profissional pode atuar, uma delas é a fisioterapia realizada em crianças. Na área de pediatria, a fisioterapia dispõe de uma série de técnicas a serem aplicadas, favorecendo o bem estar geral e o crescimento como pessoa em um ambiente lúdico, a bola suíça e os brinquedos são uma dessas técnicas. A bola suíça é um instrumento terapêutico muito utilizado na área da fisioterapia. É um conceito neuroevolutivo, que busca solucionar problemas, otimizando as funções do paciente consigo mesmo e com seu meio. Ela adapta-se a qualquer tipo de criança dando-lhes motivação para realizar as atividades com entusiasmo, conseqüentemente ajudando a recuperarse mais rapidamente. A bola suíça auxilia de uma forma geral o bem estar do paciente, dando-lhe motivação e incentivo ao realizar uma tarefa, já que é um instrumento de cores vivas e alegres. Cabe ressaltar que a bola suíça possibilita o apoio seguro e eficiente das mãos de quem está sendo tratado, proporcionando ao terapeuta melhor e maior chance de alcançar a excelência no manuseio com as crianças. Entendemos que o brincar seja a função básica da criança, pois, brincando ela explora, descobre, aprende, apreende o mundo a sua volta e que numa situação de limitações patológicas, toda sua rotina de vida é modificada. O brincar é um processo pelo qual a criança se adapta ao ambiente ou adapta o ambiente à sua vontade. Este processo pode ser sensório-motor, social-emocional, lingüístico ou cognitivo, e pode ser realizado por vários métodos, como por exemplo, pela exploração, repetição, reprodução ou transformação. Tudo isto é valorizado pela motivação, que inclui a novidade, a escolha de objetos que sejam irresistíveis, mas não opressivos, e, assim, requer um planejamento terapêutico e o acesso a uma sala com um bom estoque de brinquedos que a estimulem. Sendo a bola suíça útil no tratamento de pacientes em todas as áreas da fisioterapia, incluindo a área pediátrica, assim como os brinquedos que realizam um papel fundamental na estimulação da criança, indaga-se neste estudo: quais os benefícios da bola suíça e dos brinquedos no mecanismo do controle postural normal (MCPN) através de criança com Paralisia Cerebral? Neste trabalho, o objetivo geral é analisar os efeitos da utilização de bolas suíças e brinquedos no MCPN de uma criança com Paralisia Cerebral atendida na estimulação precoce da APAE do município de Tubarão - SC. Esta pesquisa tem como objetivos específicos, verificar a resposta nas reações de retificação, equilíbrio e proteção; verificar a resposta do controle das posturas (sentada, de gatas, de pé), a resposta do tônus postural, pois, estes itens têm importância fundamental no Mecanismo do Controle Postural Normal e verificar a resposta nas preensões palmares e na atividade bimanual, pois estas eram umas das queixas principais, após a intervenção fisioterapêutica. Este estudo foi constituído de uma pesquisa experimental do tipo estudo de caso. A criança deficiente representa um tipo de desenvolvimento qualitativamente diferente e único, ela o faz de outra maneira, por outro percurso e é particularmente importante estar ciente da singularidade, que transforma o menos da deficiência no mais da compensação, alterando todo o MCPN. A alta incidência de crianças com paralisia cerebral e o seu alto grau no atraso da aquisição do Mecanismo do Controle Postural Normal (MCPN) despertou o interesse em pesquisar o tratamento com bola suíça e com brinquedos em relação a este atraso em uma criança em idade de estimulação motora (pré escolar) justificando assim a importância desta. As crianças com Paralisia Cerebral apresentam atraso da aquisição do MCPN, devido há uma série de características específicas, isto gera retardos posturais, como ajuste precário das reações de retificação, proteção e equilíbrio. Então, visto que, este atraso pode causar uma série de prejuízos à criança portadora da PC, é de suma importância para a fisioterapia investigar se o tratamento com a bola suíça e os brinquedos melhora este quadro. Diante dos fatos, percebe-se que a bola suíça é uma excelente criação terapêutica ocupacional, assim como os brinquedos que além de motivar a criança ao aprendizado motor, estimula a criatividade do terapeuta, possibilitando uma utilização inovadora e variada, para diferentes atividades, dentro de um ambiente lúdico. Esta pesquisa foi dividida em seis capítulos, sendo que o primeiro refere-se à introdução, relatando um breve comentário geral sobre o assunto a ser tratado neste estudo. O segundo capítulo está direcionado ao referencial teórico, descrevendo detalhadamente sobre o assunto pesquisado. O terceiro capítulo cita a caracterização desta pesquisa, expondo o tipo de pesquisa, a população/amostra utilizada, o procedimento de coletas dos dados e a análise e interpretação dos dados. Já o quarto capítulo relata a apresentação do caso constando dados de identificação, história pregressa, exames complementares dentre outros. O quinto capítulo expõe a análise e discussões dos possíveis resultados. E o sexto capítulo refere-se às considerações finais e sugestões feitas pela autora do estudo. 2 PARALISIA CEREBRAL POR CITOMEGALOVIROSE CONGÊNITA 2.1 Citomegalovirose congênita É uma infecção causada pelo citomegalovirus, vírus DNA da família Herpesviridae, sub-família Betaherpesvirinae. É um vírus universal com prevalência de 40 a 60% na população adulta de classe socioeconômica média e mais de 80% nos grupos de classe mais baixa. A infecção aguda na gestante ocorre em 0,7 a 4,0%, das quais 36% ocorrem no 1º trimestre, 44,9% no 2º e 77,6% no 3º trimestre da gestação. As principais fontes de contaminações são os adultos jovens. A citomegalovirose congênita ocupa lugar de destaque no cenário mundial acometendo cerca de 0,2 e 2,2% dos recém-nascidos. Enquanto em alguns países do primeiro mundo a incidência pode ser extremamente baixa, em torno de 0,9 por 1000 recém-nascidos, no Brasil mostrou-se incidência de 0,5 a 6,8%, embora poucos estudos epidemiológicos tenham sido realizados (AZEVEDO, 2005) Segundo Azevedo (2005), durante a gestação, a transmissão vertical do vírus pode ocorrer por passagem transplacentária, como resultado de infecção materna aguda ou por reativação de vírus endógeno. O citomegalovírus (CMV) é um herpesvírus humano que se caracteriza por apresentar latência, não é eliminado do organismo, permanecendo em seu interior, sendo possíveis reativações em diferentes circunstâncias, principalmente em casos de modificação da resposta imunológica, como: gestação, uso de drogas imunossupressoras, síndrome da imunodeficiência adquirida, entre outras. O mesmo autor ainda afirma que em termos de prevalência, a citomegalovirose congênita é inversamente proporcional ao status socioeconômico (83,5% em gestantes de nível socioeconômico baixo, contrastando com 49,3% na classe econômica elevada). Também se observa aumento da prevalência com a paridade e com a faixa etária. Calcula-se em 2,1% a incidência de infecção aguda na gestação. Nesses casos, o risco de contaminação fetal na primoinfecção varia entre 30-40%, sendo o risco de 1 a 2,2% na infecção recorrente. Cerca de 90% das crianças infectadas são assintomáticas ao nascimento e 10% dessas desenvolvem distúrbios neurossensoriais no decorrer de sua vida. Essas seqüelas são mais graves e de aparecimento mais precoce quando ocorrem na primoinfecção materna em relação às crianças infectadas devido à reativação. Aproximadamente 10% das crianças infectadas, ao nascimento, apresentarão sinais clínicos da infecção congênita por CMV: petéquias (75%), hepatoesplenomegalia (60%), icterícia com bilirrubina direta >2 mg/dL e TGP >80 UI/mL (80%), trombocitopenia (77%), anemia, microcefalia, calcificações intracranianas e surdez neurossensorial (50%) (AZEVEDO, 2005). Para Azevedo (2005), o CMV pode ser transmitido ao feto ao longo de toda a gestação. Não há influência da idade gestacional no risco de transmissão intra-uterina, entretanto as conseqüências clínicas parecem se agravar quando a infecção ocorre antes da 20ª semana de gestação. Quando a infecção aguda ocorre no primeiro trimestre, o risco de seqüelas neurossensoriais é de 35-40%; já no 2º e 3º trimestres, o risco varia de 8-25 e 0-7%, respectivamente (AZEVEDO, 2005) Azevedo (2005) ainda cita que devido à alta incidência de infecção congênita por CMV e à possibilidade do desenvolvimento de seqüelas fetais irreversíveis durante a vida intra-uterina, há atualmente maior preocupação com o rastreamento e diagnóstico desta infecção na gravidez. Entretanto, ainda não há consenso na literatura sobre a recomendação do rastreamento universal no pré-natal da citomegalovirose congênita. No Brasil esse rastreamento ainda não é recomendado, baseado na não-existência de imunidade permanente, em não haver uma terapia eficaz que possa ser utilizada durante a gestação e na possibilidade de gerar ansiedade desnecessária nos pais e na equipe médica. Entretanto, alguns estudos recomendam o rastreamento, justificado principalmente pela elevada incidência do CMV. Conforme Yamamoto (1998), o diagnóstico fetal é realizado por amniocentese, sendo a reação em cadeia de polimerase (PCR) o método de escolha. Preconiza-se sua realização a partir de 21 semanas de gestação. Esse método propedêutico é realizado no líquido amniótico, em decorrência de o epitélio tubular renal fetal apresentar-se como o local de maior replicação viral. A positividade do teste confirma a infecção fetal, mas não avalia a gravidade. Nesse aspecto, a ultra-sonografia fornece informações importantes a respeito do prognóstico fetal. As alterações ecográficas que podem alertar o obstetra incluem: restrição de crescimento intra-útero, hiperecogenicidade intestinal, dilatação moderada/grave dos ventrículos cerebrais, microcefalia, calcificações intracranianas, aumento da densidade placentária, hepatoesplenomegalia, ascite, oligoidrâmnio ou poliidrâmnio e eventualmente anasarca fetoplacentária. De acordo com Azevedo (2005), até o momento, não há nenhum tratamento intraútero para a citomegalovirose congênita. Algum progresso tem sido atingido na prevenção da infecção, no entanto o tratamento para a doença estabelecida permanece difícil e em fase experimental. Na prática, o primeiro objetivo seria prevenir a infecção materna, por meio de medidas preventivas e de higiene, e/ou diminuir sua gravidade, uma vez que a vacinação ainda se encontra em estágio experimental; o segundo objetivo seria diminuir a taxa de transmissão materno-fetal com uso profilático de agentes antivirais; e o terceiro, diminuir a gravidade da infecção pelo tratamento intra-útero dos conceptos infectados. Sendo assim, atualmente, tem sido considerado que o desenvolvimento de vacinas contra o CMV é problema de saúde pública, devendo-se estimular pesquisas nessa área e também no desenvolvimento de terapias antivirais para prevenir sintomas dos recém-nascidos infectados. O desenvolvimento de uma droga sem riscos para a mãe, com concentração adequada na placenta, no líquido amniótico ou até mesmo no sangue fetal, seria o desejável, pois permitiria reduzir, em proporção importante, a carga viral no compartimento feto-anexial. Os recém-nascidos com evidência de comprometimento do sistema nervoso central têm recebido tratamento com ganciclovir; no entanto, esta droga apresenta pouca biodisponibilidade oral e elevada toxicidade, não devendo ser usada durante a gestação, devido ao seu alto potencial teratogênico. 2.2 Microcefalia De acordo com Leal (2005), a microcefalia é um defeito no crescimento do cérebro. O cérebro está contido dentro do crânio, que é formado por vários ossos interligados, mas não soldados. O cérebro consegue crescer porque as suturas que ligam os ossos ainda não estão soldadas. Caso se fechem precocemente, ocorre o que se chama de craniossinosteose. A calota óssea do crânio acaba impedindo que o cérebro cresça, trazendo conseqüências para a criança. Leal (2005) ainda, considera que um indivíduo apresenta microcefalia quando a medida de seu perímetro cefálico situa-se mais de três desvios-padrões (DP) abaixo da média populacional para idade e sexo. A microcefalia é um sinal clínico encontrado em vários distúrbios com etiologia ambiental e/ou genética, podendo estar acompanhado de outros defeitos morfológicos (forma sindrômica) ou não (microcefalia não-sindrômica). Hipóxia perinatal, infecções congênitas (tais como rubéola, citomegalovirose, toxoplasmose e herpesvirose tipo 2), exposição intra-uterina a radiação ionizante e a drogas (como álcool e hidantoína), e fenilcetonúria materna são algumas das causas ambientais de microcefalia. A microcefalia geneticamente determinada pode resultar de alterações monogênicas, anomalias cromossômicas ou distúrbios multifatoriais. Segundo Merritt (1977), a microcefalia não é propriamente uma deficiência, mas pode acarretar no surgimento de uma deficiência física como conseqüência da agressão ao cérebro, como a encefalopatia crônica. O cérebro lesado não comanda adequadamente os membros, provocando dificuldades motoras, gerando um atraso no desenvolvimento neuropsicomotor. 2.3 Introdução à Paralisia cerebral A paralisia cerebral, também denominada encefalopatia crônica não progressiva da infância, é consequência de uma lesão estática, ocorrida no período pré, peri ou pós-natal que afeta o sistema nervoso central em fase de maturação estrutural e funcional. É uma disfunção predominantemente sensoriomotora, envolvendo distúrbios no tônus muscular, postura e movimentação voluntária. Mancini (2003), afirma que estes distúrbios se caracterizam pela falta de controle sobre os movimentos, por modificações adaptativas do comprimento muscular e em alguns casos, chegando a resultar em deformidades ósseas. Esta doença ocorre no período em que a criança apresenta ritmo acelerado de desenvolvimento, podendo comprometer o processo de aquisição de habilidades. Tal comprometimento pode interferir na função, dificultando o desempenho de atividades frequentemente realizadas por crianças com desenvolvimento normal. Para Medeiros (2003), a PC é uma deficiência neuromuscular causada por lesões no centro motores do cérebro, antes de nascer ou na primeira infância até os três anos aproximadamente. Andrade (1999), afirma que atualmente, o termo paralisia cerebral vem sendo utilizado como significado do resultado de um dano cerebral, que leva a inabilidade, dificuldade ou descontrole de músculos e de certos movimentos do corpo, ou seja, o termo cerebral quer dizer que a área atingida é o cérebro (Sistema Nervoso Central – SNC) e a palavra paralisia refere-se ao resultado do dano ao SNC, com conseqüências afetando os músculos e sua coordenação motora. 2.3.1 Incidência Em países desenvolvidos observou-se um aumento nos casos de paralisia cerebral nas duas últimas décadas, com índices de prevalência dos casos moderados e severos variando entre 1,5 e 2,5 por 1.000 nascimentos. Estes dados têm sido atribuídos à melhoria dos cuidados médicos perinatais, contribuindo para aumento da sobrevivência de crianças com idade gestacional e baixo peso ao nascimento cada vez mais extremos. Entre os recém-nascidos prétermo com muito baixo peso (inferior a 1500g) a presença de disfunções neurológicas é observada com maior frequência do que em crianças nascidas a termo com peso adequado, podendo a paralisia cerebral acontecer com frequência de 25 a 30 vezes mais no grupo de crianças consideradas de risco perinatal. Em países subdesenvolvidos a incidência desta doença é maior do que nos países desenvolvidos, observando-se índices de 7:1000. No Brasil os dados estimam cerca de 30000 a 40000 casos novos por ano, afirma Mancini (2003). Merritt (1977), diz que a paralisia cerebral é encontrada com maior frequência em crianças pré-maturas ou após o trabalho de parto difícil, em relação às crianças normais, sendo aproximadamente igual em ambos os sexos. 2.3.2 Fatores etiológicos da Paralisia Cerebral Pré-natais -Genéticas -Vírus -Herpes -Citomegalovirus -Rubéola -Infecções -Toxoplasmose -Fármacos e drogas álcool ---Fármacos prescritos ou não com efeitos teratogênicos Perinatais Pós-natais -Prematuridade -Infeccção -Baixo peso ao nascimento -Trauma -Icterícia grave -Acidente de automóvel -Hemorragia -Espancamento infantil -Síndrome do bebê sacudido intraventricular Desnutrição -Asfixia -Asfixia -Traumatismo craniano -Trabalho de parto -Quase afogamento prolongado -Parada cardíaca -Apresentação de nádegas -Acidente vascular cerebral -Prolapso de cordão -Tumor cerebral umbilical -Exposição ao chumbo -Trombose -Anemia falciforme Quadro 1: causas conhecidas da Paralisia Cerebral Fonte: RATLIFFE, K.T. Fisioterapia clínica pediátrica: guia para equipe de fisioterapeutas. 2000. 2.3.3 Classificação da Paralisia cerebral A paralisia cerebral é classificada para fins de tratamento, com o objetivo de associar características semelhantes de acordo com os sinais clínicos de cada paciente, segundo Shepherd (1996). Mancini (2003) diz que, com base no modelo de classificação proposto pela Organização Mundial de Saúde esta enfermidade pode apresentar consequências variadas. No que se refere à função de órgãos e sistemas, a paralisia cerebral geralmente interfere no funcionamento do sistema músculo-esquelético. Neste nível, as características associadas a esta patologia incluem distúrbios de tônus muscular, postura e movimentação voluntária. O comprometimento neuromotor desta doença pode envolver partes distintas do corpo, resultando em classificações topográficas específicas (e.g., quadriplegia, hemiplegia e diplegia). Outro tipo de classificação é a baseada nas alterações clínicas do tono muscular e no tipo de desordem do movimento podendo produzir o tipo espástico, discinético ou atetóide, atáxico, hipotônico e misto. A gravidade do comprometimento neuromotor de uma criança com paralisia cerebral pode ser caracterizada como leve, moderada ou severa, baseada no meio de locomoção da criança. Estas classificações servem a um propósito de descrição e caracterização da lesão, não fornecendo informação sobre as conseqüências desta enfermidade na rotina diária da criança. No sistema de classificação quanto a gravidade da paralisia cerebral, a autora Ratliffe (2000), expõe uma tabela utilizando os três niveis de gravidade (leve, moderado e grave), aplicando-se quanto às áreas funcionais de habilidade motora delicada, habilidade motora grosseira, QI e fala não usado ainda universalmente, sendo então usado de forma subjetiva por muitos médicos e outros profissionais da área da saúde. Essa mesma autora expõe outra tabela relacionando a qualidade do tônus muscular, o padrão de expressão motora, região de comprometimento motor e novamente a gravidade. Gravidade Leve Motora grosseira Motora delicada QI Anda independente Função não > 70 limitada Fala Geral > palavras Função independente Moderado Engatinha ou anda com apoio Função limitada 50-70 Palavras simples Grave Sem locomoção Sem função < 50 Gravemente Atendimento deficiente total Precisa assistência de Quadro 2: Gravidade da Paralisia Cerebral Fonte: RATLIFFE, K.T. Fisioterapia clínica pediátrica: guia para equipe de fisioterapeutas. 2000. Qualidade do tônus muscular Padrão de expressão motora Região de comprometimento cerebral Rígido Atáxico Comprometimento de todo corpo Tônus flutuante/ atetóide/ distônico Espástico Comprometimento de todo corpo Monoplegia Diplegia/paraplegia Hemiplegia Triplegia Tetraplegia Generalizado Extrapiramidal cerebelar Extrapiramidal Gânglios basais Gravidade Hipotônico Hipertônico Misto Piramidal Tractos motores Leve ou Moderado ou Grave Múltiplas regiões Quadro 3: Classificação da Paralisia Cerebral Fonte: RATLIFFE, K.T. Fisioterapia clínica pediátrica: guia para equipe de fisioterapeutas. 2000 Mancini (2003) diz que além das deficiências neuromotoras, a paralisia cerebral pode também resultar em incapacidades, ou seja, limitações no desempenho de atividades e tarefas do cotidiano da criança e de sua família. Estas tarefas incluem, por exemplo, atividades de auto-cuidado como conseguir alimentar-se sozinho, tomar banho e vestir-se, ou atividades de mobilidade como ser capaz de levantar da cama pela manhã e ir ao banheiro, jogar bola e andar de bicicleta com amigos, além das atividades de características sociais e cognitivas como brincar com brinquedos e com outras crianças e freqüentar a escola. Informações sobre o desempenho de atividades funcionais como estas são extremamente relevantes, uma vez que as dificuldades no desempenho das mesmas constituem, geralmente, a queixa principal de crianças, pais e familiares. 2.3.3.1 Tipos de tônus anormal a) Hipertonia, conforme Bobath e Bobath (1989), é um aumento na resistência, uma diminuição da amplitude de movimento (ADM), ao movimento passivo de uma articulação. Os autores ainda relatam que se a hipertonia é constante, embora mude em intensidade, dizemos que a criança tem espasticidade (espasticidade é interpretada como sendo uma desordem do movimento que afeta tanto as características neurais e não neurais do tônus postural, e pode ser descrita pelos sintomas positivos e negativos do neurônio motor superior, descrito por D. Burke (1988) – os sintomas positivos são vistos como uma exacerbação de um fenômeno normal, como por exemplo, reflexos proprioceptivos exagerados, e os sintomas negativos são os fatores que referem-se às dificuldades funcionais tais como a fraqueza, perda da destreza, etc.). Lance (1990) define espasticidade como uma desordem motora, dependente da velocidade, caracterizada por aumento dos reflexos miotáticos com exagerado abalo dos tendões, resultando em hiperexitabilidade dos reflexos de estiramento, como conseqüência de lesão do neurônio motor superior. b) Hipotonia - Shepherd (1996), diz que qualquer diminuição da resistência aos movimentos passivos em decorrência de lesão no SNC é chamada de hipotonia. Shepherd (1996) relata que, durante os primeiros meses de vida, o lactente com disfunção cerebral apresenta freqüentemente o sinal clínico da hipotonia muscular. Bertoti (1999), explica que a hipotonia muscular generalizada, e o encurtamento ligamentar associados com a Paralisia Cerebral, contribuem com a maior parte dos atrasos motores e com prejuízos musculoesqueléticos secundários nestas pessoas. De acordo com Schwartzman, (apud SILVA e SAMPOL, 2002) a hipotonia costuma ir diminuindo à medida que a criança fica mais velha e pode haver algum aumento na ativação muscular através da estimulação tátil. Segundo os mesmos autores é através do treino muscular precoce da musculatura que poderá diminuir a hipotonia. b) Tônus flutuante, segundo Ratliffe (2000), é aquele tônus que oscila de um nível para outro, tendo dificuldades de controlar essa oscilação voluntariamente. De acordo com a mesma autora, esse tônus é típico de crianças com atetose, que apresentam características gerais de movimentos desajustados e bruscos, falta de fixação do tônus muscular com presença de movimentos incoordenados nas articulações distais. A criança com atetose, tem inervação recíproca anormal, onde apresenta mobilidade demais e estabilidade não suficientes; também apresenta padrões de movimentos alterados, onde há dificuldade na organização desses movimentos. Ratliffe (2000) afirma que, a criança com ataxia também apresenta característica geral com flutuações, porém menores que os da atetose, sendo de forma cíclica com tremor intencional, dismetria, incoordenação dos movimentos e equilíbrio anormal. Bobath (1990), diz que a criança com ataxia, tem inervação recíproca anormal, onde apresenta mobilidade demais e estabilidade não suficientes; também apresenta padrões de movimentos alterados, onde há redução na seletividade desses movimentos e potencial para tremor de intenção. 2.3.3.2 Distribuição do tônus De acordo com Ratliffe (2000): a) Monoplegia é quando ocorre paralisia de um dos quatro membros. A freqüência é pequena. b) Hemiplegia é quando ocorre paralisia dos membros de um dos hemicorpos. É mais freqüente que a monoplegia. c) Paraplegia é quando ocorre paralisia dos membros inferiores. Não é muito freqüente. d) Diplegia ocorre paralisia dos MMII e leve comprometimento dos MMSS. Na paralisia cerebral ocorre com boa freqüência. O tronco também está comprometido. e) Triplegia ocorre paralisia em três membros: MMII e um dos MMSS, ou MMSS e um dos MMII. Não é muito freqüente. f) Quadriplegia é a paralisia dos quatro membros e tronco, podendo estar comprometido a face. É a seqüela de maior incidência dentro da Paralisia Cerebral. g) Dupla hemiplegia é a seqüela da Paralisia Cerebral com paralisia dos quatro membros, no entanto um dos hemicorpos se apresenta mais comprometido. A face poderá estar comprometida. A freqüência é razoável. 2.3.4 Diagnóstico O autor Lefévre (1986), relata que o diagnóstico da paralisia cerebral é primordialmente clínico, ou seja baseado nos itens acima citado (qualidade de tônus muscular, padrão de comprometimento motor e pela gravidade da deficiência sob o ponto de vista funcional). Mas sendo óbvio, torna-se de suma importância a realização de exames complementares de rotina, visando especificar a sua etiologia, entre eles podemos citar a angiografia cerebral, estando indicada somente quando há suspeita de malformação vascular ou de hematoma subdural e o eletroencefalograma que tem importante papel no prognóstico das convulsões. Bax (2000) cita que os primeiros exames do lactente começam com a equipe de cuidados neonatais, onde, então, a mesma alertará os pais quanto a possibilidade de seu bebê desenvolver algum problema cerebral. A mesma autora, cita então que todos os casos o médico não deve protelar o diagnóstico para decidir se a criança tem ou não paralisia cerebral, realizando os seguintes exames complementares: exame de sangue procurando componentes anormais ou cromossomos com informação degenerativa, tomografia computadorizada e ressonância magnética são comumente utilizadas para a verificação de áreas danificadas no cérebro; ultra-sonografia sendo indicada para bebês de pouca idade, tomografia com emissão de pósitrons procurando substância química específica no cérebro e eletro encefalograma nos casos em que a criança é acometida por convulsões, o diagnóstico da paralisia cerebral pode ser estabelecido com segurança no primeiro ou segundo ano de vida. Para Bobath (1989), o diagnóstico de paralisia cerebral é muito difícil em crianças com menos de quatro meses de idade ou mesmo com seis meses, principalmente se for de forma levemente afetada, devido às crianças desta idade apresentarem pouca atividade motora funcional. À medida que a criança com paralisia cerebral torna-se mais ativa, posturas e movimentos anormais desenvolvem-se, sendo importante o diagnóstico precoce para controlar e guiar o tratamento e evitar algumas ou a maioria das alterações predizíeis para pior. Burns e MacDonald (1999), relatam que no inicio, a paralisia cerebral, nem sempre apresenta manifestações típicas sendo assim não existe uma prova que por si só seja capaz de confirmar o diagnóstico. Relatam ainda que o diagnóstico não depende de presença de sinais snormais isolados e sim de uma combinação de sinais neurológicos, de disfunção motora e de atraso das reações posturais. Uns exemplos são os casos muito benignos de paralisia cerebral onde podem passar despercebidos e sem diagnóstico até a época em que a criança começar a andar. 2.3.5 Deficiências associadas Em relação a este item, observa-se novamente na literatura uma considerável concordância entre vários autores, tais como Lefèvre (1986), Shepherd (1996), Andrade (1999), Aires (2000), e Ratliffe (2000), relatando que embora a paralisia cerebral seja caracterizada por uma disfunção motora são quase sempre acompanhadas por outros distúrbios da função cerebral. Estes autores citam que aproximadamente metade das crianças com paralisia cerebral apresentam distúrbios de aprendizado moderados a severos, então o quociente de inteligência (QI) delas está abaixo de setenta ou oitenta sendo que o QI médio é cem. Cerca de 50% das crianças com paralisia cerebral têm problemas de visão, entre eles podemos citar o estrabismo, o nistagmo, miopia e cegueiras corticais. Aproximadamente 10% das crianças apresentam problemas de audição, sendo mais comum nos paralisados do tipo atetóide e as crianças com exposição a rubéola materna. O déficit de fala está presente em quase 50% das crianças, devido às dificuldades de mover os músculos que controlam o som comumente encontrado no tipo atetóide. Crianças com paralisia cerebral têm maior probabilidade de sofrer convulsões em alguns momentos em comparação com crianças normais, podendo ocorrer em metade da população com paralisia. Conforme os autores citados, estas crianças podem ter dificuldades na coordenação da musculatura oral ocasionando má deglutição, sialorréia e regurgitação. Crianças com lesões no córtex motor podem sofrer lesões no córtex sensorial, que é extremamente próximo, podendo então apresentar má esterognose, má integração dos sistemas sensoriais (hipersensibilidade “a estímulos externos) e má organização dos movimentos devido “a má integração dos estímulos sensoriais que tem relação com déficit motor. Outras crianças podem apresentar distúrbios de comportamento diretamente relacionados com áreas não motoras de disfunção cerebral, relacionando com componentes emocionais como algumas frustrações. Ressaltam ainda, os problemas ortopédicos em conseqüência dos problemas motores como contraturas articulares, subluxação ou luxação do quadril, escoliose, pé torto, torção tibial entre outros. 2.3.6 Ajustes posturais As crianças com Paralisia Cerebral possuem dificuldades em terem um controle postural normal, o que leva a um quadro de ajustes posturais precários. Segundo Shepherd (1996) os ajustes posturais consistem em tipos de ativação muscular que fazem parte do sinergismo muscular em determinados atos. As crianças com Paralisia cerebral adaptam-se de maneira precária as mudanças em relação às condições de tarefa, quando comparadas com crianças normais da mesma idade. Em decorrência destes ajustes posturais precários, as crianças procuram medidas de adaptação motoras. Shepherd (1996, p. 168), afirma que a criança realiza esses “atos motores adaptativos para realizar os ajustes necessários aos deslocamentos do seu centro de gravidade sobre a base de sustentação”. 2.3.7 Grau de motilidade De acordo com Shepherd (1996) o grau de motilidade que se desenvolve na criança mentalmente retardada depende até certo ponto da gravidade de sua deficiência mental. A falta de um incentivo, do desejo de deslocar-se de um lugar para outro, de apanhar determinado brinquedo e de explorar as possibilidades do ambiente são fatores de importância decisiva para a deficiência motora da criança cujas funções cognitivas estão afetadas. 2.4 Mecanismo do Controle Postural Normal O objetivo do ser humano é ficar em pé contra a gravidade e realizar atividades funcionais do dia-a-dia, e, para as quais, precisamos de controle postural. Atividade postural precede, acompanha e segue uma ação intencional (BOBATH, 1990). Há três componentes principais no Mecanismo de Controle Postural Normal: - Tônus postural normal; - Todos os graus de inervação recíproca; - A variedade de padrões de movimentos comuns ao homem. 2.4.1 Tônus postural normal Segundo Mayston (1995), falamos em tônus postural preferivelmente ao termo tônus muscular, para salientar o fato que músculos são ativados em grupos para desempenhar atividades posturais e objetivas. A qualidade do tônus postural normal deve ser de tal forma que possamos conseguir tanto a mobilidade quanto a estabilidade, isto é, alto o suficiente para manter-nos contra gravidade mais, ao mesmo tempo, que permita movimentos suaves e coordenados. É fato que o reconhecimento de que o tônus é à base dos padrões de postura e de movimento que são necessários ao desempenho de habilidades, entretanto o conceito de tônus é polêmico e é visto de diferentes formas pelos clínicos e fisiologistas. A confusão que envolve o conceito de tônus, provavelmente tem origem no fato que o tônus é geralmente avaliado mais em repouso do que durante movimentos ativos. 2.4.1.1 Definições de tônus É muito importante conhecer o sentido das fibras musculares. A musculatura que usamos mais para a sustentação tem mais tônus (MEDEIROS, 2003). Conforme Finnie (2000), o tônus postural normal oferece a base para o movimento, sendo alto suficiente para suportar a gravidade e baixo suficiente para possibilitar o movimento. Segundo Ekman (2000), tônus muscular é uma quantidade ou grau de tensão do músculo em repouso, sendo avaliado por uma faixa de movimentação passiva. Ratliffe (2000), enfatiza, conceituando tônus muscular como a resistência passiva ao alongamento, oferecida pelos músculos à manipulação externa, sendo dinâmico pode ser influenciado pela posição do corpo e da cabeça, por vários fatores emocionais como raiva ou depressão, fatores sistêmicos como doença ou fadiga, fatores ambientais como temperatura ou tipo de superfície de apoio ou por fatores comportamentais. Bobath (1978), ainda complementa que a regulação do tônus, através do corpo, para a manutenção da postura e para os movimentos, é função do sistema proprioceptivo, sendo os reflexos posturais importantes na regulação de grau e da distribuição do tono muscular, sendo esses reflexos provocados pelo estímulo dos órgãos sensoriais terminais nos músculos e articulações ou pelos labirintos, então o tono postural é dependente do arco reflexo proprioceptivo intacto, sendo os órgãos proprioceptivos estimulados pelos movimentos do corpo. De acordo com Basmajan e De Luca, (1985) “Em repouso total, um músculo não perdeu seu tônus, muito embora não tenha atividade neuromuscular alguma nele.” Tônus normal pode ser definido como uma leve e constante tensão em músculos saudáveis (KANDEL; SCHWARTZ; JESSELL, 1991). Pelo menos, dois mecanismos contribuem para a resistência percebida durante o movimento passivo (Katz e Rymer, 1989). Esses fatores também podem ser considerados durante atividades posturais e voluntárias e, mais adiante, serem subdivididos, com os fatores resultantes conhecidos como tônus. - Tensão produzida pela contração reflexa causada pelo estiramento muscular (KATZ; RYMER, 1989). a) Reflexos proprioceptivos (estiramento) e cutâneos, todos os quais influenciados pelas estruturas supraespinhais pelas vias ascendentes e descendentes. Esses reflexos são relativamente inativos em indivíduos normais em repouso. b) Quantidade de estimulação que pode aumentar a excitabilidade de uma retração simples de tendão. c) O estado de excitação do SNC em qualquer momento é a soma cumulativa de atividade produzida por mecanismos de feedforward e feedback, incluindo a quantidade de estimulação. É a soma de atividade no SNC que ocorre como resultado de (a) feedforward devido a experiência anterior, e (b) feedback sensorial. Deve-se notar que a capacidade em usar o feedback sensorial para aprender novas tarefas, vai depender da capacidade de adaptação plástica do SNC e na habilidade cognitiva e perceptual do indivíduo, em utilizar a informação em contexto apropriado. Por essa razão, esses fatores vão também influenciar o tônus postural. Por exemplo, uma criança pode ter uma disfunção na percepção espacial e, como resultado, vai ter medo de movimentar-se no espaço e terá tônus postural alto por causa deste medo. A conduta com essa criança deve ser em direção da melhora da consciência espacial, se possível; trabalhar o tônus postural e balanço não vai chegar ao problema principal (KATZ; RYMER, 1989). - As propriedades visco-elásticas do músculo. a) As propriedades elásticas, viscosas e plásticas das fibras musculares ajudam um examinador perceber o que acontece quando um músculo é estirado, além da contribuição do tecido conectivo nos músculos e articulações (LINS et al., 1993). • Elasticidade: comprimento, característica subordinada ao músculo. O quanto que as fibras musculares são extensíveis. • Viscosidade: velocidade, característica subordinada ao músculo. Qual a rapidez que um músculo pode ser estirado, alongado. • Plasticidade: uma característica de tempo do estiramento muscular. Quanto tempo um músculo leva para retornar ao seu comprimento original. • Contratura: encurtamento do músculo e um número reduzido de sarcômeros, resultando em uma produção reduzida de força. d) Propriedades das fibras musculares: tipo I; tipo II (lenta e rápida, respectivamente). A maior parte de nossos músculos tem uma mistura de tipos de fibras: lentas, rápidas e intermediárias. Estudos em adultos com hemiplegia espástica mostraram que pode acontecer atrofia de fibras do tipo II (rápidas) resultando na predominância de fibras posturais lentas, levando, assim, a uma pobreza do ajuste postural rápido (DIETZ, et al. 1986; EDSTROM, 1970). Não se sabe se uma situação similar ocorre em crianças. e) Comprimento do músculo: de acordo com Manacero (1999), a clássica curva tensão-comprimento mostrada em textos de fisiologia indica que um músculo produz tensão máxima por volta de seu meio-comprimento. Isso significa que músculos encurtados ou alongados, como os encontrados na hipertonia e hipotonia, respectivamente, não vão ser capazes de produzir tensão e força adequada para realizar um movimento eficiente. Esse fato nos lembra que os fatores biomecânicos devem ser levados em conta quando determinar a qualidade do movimento e tônus postural. Bernstein (1967) definiu que tônus é uma organização e uma adaptação física e contínua da periferia, uma condição de prontidão. É possível perceber o tônus postural de uma pessoa através da observação de como ela se levanta na superfície de apoio, a partir de qualquer postura, através da observação dos movimentos funcionais e também pela resposta individual ao ser movimentado. Há uma variação do tônus normal na população. A chave do tônus normal mais provável está na habilidade do indivíduo em realizar todos os movimentos necessários eficientemente. 2.4.2 Todos os graus de inervação recíproca Segundo Manacero (1999), a co-contração ou ação recíproca dos agonistas, antagonistas e sinergistas permite a boa coordenação de padrões de postura e de movimentos. Co-contração está geralmente presente proximalmente para dar estabilidade nas partes móveis mais distais, enquanto que mais atividade recíproca ocorre distalmente para permitir movimentos e ajustes posturais. Desse modo, todos os graus de inervação recíproca são requisitados para um suave e eficiente controle postural e desempenho da atividade funcional. Isso fornece os pré-requisitos para a atividade automática e voluntária, como os seguintes: a) Fixação sinérgica proximal para permitir a mobilidade distal; b) adaptação/ajuste automático de músculos para mudanças posturais; c) controle graduado de agonista e antagonista, isto é, a co-contração normal para o ritmo, graduação e direção dos movimentos. Ainda de acordo com o autor supracitado, esse aspecto do controle pode ser determinado pelo ‘placing’ de um membro. Segundo Medeiros (2003), “placing, é a habilidade do paciente em manter um membro ou segmento de um membro em qualquer estágio dos graus normais de movimento”. De acordo com Manacero (1999), se o terapeuta coloca o membro em uma determinada posição, ele parecerá ‘leve’, à medida que a pessoa assume o controle ativo do membro. Se a pessoa adaptar-se automaticamente a qualquer movimento desse membro, então o controle ativo dentro daquela amplitude é possível. 2.4.2.1 Inervação recíproca anormal De acordo com Manacero (1999), a estabilidade demais e movimentos não suficientes é típico da criança com espasticidade. Mobilidade demais e estabilidade não suficiente é típico da criança com ataxia e atetose (discinética). 2.4.3. Todas as variedades de padrões de movimentos que formam a base das atividades funcionais Manacero (1999) relata que, todos nós sentamos, levantamos e andamos de formas similares, assim como a criança em desenvolvimento adquire habilidades funcionais em uma seqüência típica (com variações individuais). Esses padrões básicos de movimento estão presentes para permitir o ajuste, a adaptação e uma variedade de possibilidades para lidar com as diversas exigências do ambiente. Embora os padrões básicos estejam presentes, eles são moldados como exigido pelo SNC. Isso é produzido pelos mecanismos de feedback e feedforward. O processo de feedback ajusta o movimento contínuo e pelo mecanismo de feedforward o movimento é refinado para a próxima vez que for feito, isto é, para situações conhecidas. O mecanismo de feedforward também permite um controle postural eficiente, colocando programas de movimento em prática sem a necessidade de feedback sensorial. Isso permite o ajuste postural antecipado e uma coordenação suave de atividades funcionais praticadas anteriormente. (MANACERO, 1999, p. 58). 2.4.4 Padrões de movimentos alterados Estes itens de acordo com Manacero (1999) são devidos ao distúrbio da inervação recíproca: • Variedade limitada de padrões de movimento na criança com espasticidade; • Dificuldade na organização de movimentos na criança com atetose: geralmente padrões de atividade mais globais; • Redução na seletividade de movimentos e potencial para tremor de intenção na criança com ataxia. Segundo Bobath (1984), fundamentalmente, a função do sistema nervoso central (SNC), com respeito à nossa conduta motora, é de dar a habilidade de movimentar-se e realizar atividades altamente especializadas mantendo ao mesmo tempo nossa postura e equilíbrio. Cada movimento e cada mudança de postura produzem uma variação de relação do centro de gravidade do corpo em relação à base de sustentação. Estas adaptações de tono envolvendo a musculatura total do corpo, que estão constantemente mudando, e padrões dinâmicos são automaticamente eliciados. Durante essas mudanças adaptativas para preservar o equilíbrio durante o movimento, o sistema nervoso central está constantemente ativando grupos musculares em padrões de coordenação, nos quais os músculos individuais perdem sua identidade. Entretanto, o homem precisa se movimentar de muitas e variadas formas, e realizar atividades altamente especializadas. Para esse objetivo, ele desenvolveu gradualmente um mecanismo automático altamente complexo, o chamado “mecanismo do reflexo postural normal”. O mecanismo do reflexo postural promove o controle da cabeça no espaço, a coordenação da cabeça com o tronco e do tronco com os membros mediante rotação, isto é, adaptação de agonistas e antagonistas. A capacidade que tem o homem de manter-se em posição ereta, apesar da gravidade, e de manipular com habilidade, falar e pensar exige um mecanismo reflexo de manutenção postural, que coordene os padrões motores correspondentes. (FLEMING, 2000, p.31). Segundo Medeiros (2003) a atividade postural normal (isto é, atividade normal nas diversas vias do SNC envolvendo interação entre todos os níveis do SNC) forma a base necessária para o movimento normal e habilidades funcionais. O mecanismo (reflexo) de controle postural normal (MCPN) tem muitas reações posturais dinâmicas que funcionam em conjunto para a manutenção do balanço e ajuste da postura antes (feedforward), durante e depois (feedback) do movimento. Segundo Horak (1987) os ajustes posturais ocorrem não somente como um resultado de feedback sensorial, em resposta a uma perturbação inesperada, mas também como resultado do ‘feedforward’, como antecipação de perturbações esperadas. Para Schaltenbrand (apud BOBATH, 1984) um mecanismo de reflexo postural normal é a base para a realização dos movimentos voluntários normais e especializados. Este consiste de um grande número e variedade de respostas motoras automáticas, as quais são adquiridas na infância e são gradualmente desenvolvidas durante os primeiros três anos de vida. Vários fatores contribuem para o controle postural, incluindo alinhamento das partes do corpo, tônus muscular e inputs do sistema visual, somatosensorial e vestibular. Bobath (1978), relata que o controle postural é dinâmico e envolve numerosos tipos de padrões de movimentos bem coordenados e com mudança de tônus muscular. A regulamentação do tono muscular através do corpo, para a manutenção da postura e para os movimentos, é função do sistema proprioceptivo. Os reflexos posturais têm um papel dominante na regulamentação do grau e na distribuição do tono muscular. A maior parte desses reflexos é provocada pelo estímulo dos órgãos sensorial terminais nos músculos e articulações ou pelo menos labirintos. O tono muscular é dependente do arco reflexo proprioceptivo intacto, sua fonte sendo o músculo em si mesmo. Os órgãos proprioceptivos são estimulados pelos movimentos do corpo. (BOBATH, 1978, p. 11). Ainda, segundo a mesma autora, foi verificado que devido à atividade de um mecanismo reflexo integrado ao nível do tronco cerebral, ocorrem contrações musculares contínuas que não sofrem fadiga. Isto significa, do ponto de vista funcional, que há uma manutenção da postura contra a gravidade. Três grupos de reações foram identificados e atuam em conjunto para formarem o Mecanismo do Controle Postural Normal: - Reações de endireitamento Bobath (1984), explica que as reações de endireitamento são respostas automáticas, mas ativas, que não apenas mantêm a posição normal da cabeça no espaço (face vertical, boca horizontal), mas também o alinhamento normal da cabeça e pescoço com o tronco e do tronco com os membros. Ao restaurar o alinhamento normal da cabeça e do pescoço com o tronco, elas dão ao homem uma das características mais importantes da mobilidade humana, isto é, rotação do eixo no corpo, entre os ombros e a pélvis. Pois todos os nossos movimentos são rotatórios, e mesmo as nossas superfícies articulares estão orientadas obliquamente. De acordo com Bobath (1978), os padrões de movimento desta reação de correção da postura são aquelas das nossas primeiras atividades, como virar-se da posição supina para o lado e deitar em decúbito ventral, de engatinhar e ficar em pé. Eles se desenvolvem no lactente em crescimento, são gradualmente modificados e desaparecem por volta do final do quinto ano de idade. Eles são, no entanto essenciais na construção dos padrões motores na vida adulta. Estas importantes habilidades físicas e conceitos mentais são assegurados pela interação de cinco grupos de reações. Eles são tanto verticais quanto rotacionais e desenvolvem-se simultaneamente. a) Reação labiríntica de retificação: Bobath (1978) diz, que estas reações servem para manter a cabeça na posição normal no espaço. b) Reação de retificação cervical: Segundo Bobath (1978), estas reações agem sobre o corpo e servem para mantê-lo alinhado com a cabeça. Em qualquer movimento da cabeça, enquanto o corpo permanece na posição original, a cervical está contraída, isso provoca uma reação pelo qual o tórax segue direção do movimento da cabeça. Esta reação é o resultado da estimulação de proprioceptores dos músculos da cervical. c) Reação de retificação do corpo agindo sobre o corpo: Bobath (1978), explica que estas reações servem para manter o corpo na posição normal, mesmo se a cabeça não está numa posição normal. São resultados de uma estimulação assimétrica de órgãos sensoriais táteis da superfície corporal. d) Reação de retificação do corpo agindo sobre a cabeça: Conforme Bobath (1978), estas reações são evocadas pelo contato da superfície corporal com o solo. Ocorrem como um resultado da estimulação assimétrica dos órgãos sensoriais táteis da superfície corporal. e) Reação óptica de retificação: As reações ópticas de retificação têm um papel importante no homem, o uso dos olhos para a orientação postural é um fator dominante nas reações motoras. Se as reações de endireitamento não podem funcionar adequadamente, todavia o paciente aprende a compensar essas falta fixando seu olhar num objeto, usando, portanto as reações ópticas de retificação, afirma Bobath (1978). - Reações de equilíbrio De acordo com Bobath (1984), as reações de equilíbrio são respostas automáticas complexas e altamente integradas às mudanças de posturas e movimentos, destinadas a restabelecer o equilíbrio alterado. Para seu funcionamento adequado, elas necessitam da contribuição do córtex. Conforme Bobath (1978), estes ajustes posturais às modificações do centro de gravidade são contínuos quando nos movemos e, mesmo as menores mudanças do equilíbrio, têm que ser contrapostas por modificações do tono muscular. Estas têm que ser rápidas adequadas em sua amplitude e bem sincronizadas. Elas podem ser testadas movimentando o corpo contra um suporte fixo, ou colocando uma pessoa sobre a tábua de equilíbrio. Segundo Bobath (1984), as reações de equilíbrio e de retificação estão intimamente integradas no adulto normal a partir dos três anos de idade, época em que o mecanismo de retificação torna-se parcialmente inibida, e pode desaparecer completamente. O mecanismo do controle postural alcança no homem um grau de perfeição que lhe permite manter a sua postura e o equilíbrio da cabeça, tronco e extremidades inferiores em todas as circunstâncias normais, enquanto os braços e as mãos permanecem livres para atividade manipulativa específica. - Reação de proteção Para Bobath (1978), essa forma a última etapa de defesa do sistema nervoso central e é elo entre as reações de endireitamento e de equilíbrio no desenvolvimento da criança. A reação consiste em movimentos de extensão dos membros, geralmente na mesma direção que a força que deslocou o centro de gravidade. Esta reação é eliciada quando o centro de gravidade é bastante deslocado para que as reações de equilíbrio e de endireitamento atuem e quando a velocidade de deslocamento é alta demais para que as reações de equilíbrio surjam. 2.5 Bola Suíça Segundo Shepherd (1996), as bases gerais para o tratamento de crianças com Paralisia cerebral com déficit do desenvolvimento motor buscam melhorar o controle motor exigindo participação cognitiva da própria criança. Os métodos terapêuticos mais usados no tratamento dos problemas de motricidade que acompanham a deficiência intelectual compreendem os assim chamados métodos neurofisiológicos, em particular o método de facilitação segundo Bobath. De acordo com Carrière (1999), a bola suíça vem sendo usada no tratamento neuroevolutivo há cerca de 40 anos. Pode ser utilizada para a avaliação das deficiências de força, mobilidade, equilíbrio, coordenação e também na terapia manual. A bola suíça tem-se tornado um instrumento terapêutico aceito, não somente nos departamentos de fisioterapia, mas também entre personal-trainer e aqueles que buscam promover um estilo de vida saudável. As bolas suíças não são mais raridades e podem ser encontradas por qualquer pessoa que deseje explorar seus diferentes usos (CARRIÈRE, 1999). Nicolau (2004), diz que não é à toa que a bola suíça está fazendo grande sucesso em clínica e em academias daqui e dos Estados Unidos. A bola desafia a estabilidade e precisase manter certo equilíbrio sobre ela. 2.5.1 Histórico da bola suíça Segundo Lima (2004), a utilização da bola de forma terapêutica iniciou na Suíça, na década de 20, com a intenção de ativar o sistema neuromotor em pacientes com acometimentos neurovasculares. Os suíços acreditavam que haveria maior recrutamento muscular com a utilização de uma superfície não-estável. Alguns autores creditam esta iniciativa da bola como recurso terapêutico a um pediatra suíço chamado Elbeth Köng. No final da década de 50, o conceito neuro-evolutivo Bobath difundiu o uso da bola como recurso terapêutico no trabalho de pacientes neurológicos. Silva e Sampol (2003) relatam que a bola de Bobath é um dos equipamentos mais usados com pacientes neurológicos. A indicação dos equipamentos depende do comprometimento neuromotor e da inabilidade dos movimentos de cada paciente. A bola foi denominada “bola suíça” por terapeutas da América do Norte que a viram ser utilizada em 1960 na Suíça, inicialmente era usada na Europa nas áreas de ortopedia e neuropodiatria. (LIMA, 2004). De acordo com Nesi (2004), as bola suíças ou bolas terapêuticas, foram produzidas na Itália no início dos anos 60 pelo Sr. Aquilino Cosani como brinquedos de criança, e sua utilização terapêutica inicial foi no tratamento de bebês e recém-natos com problemas neurológicos. Segundo o autor supracitado, só no início dos anos 70 é que a Dr. Susan KleinVogelback, na Alemanha, começou a utilizar as bolas suíças com pacientes adultos na área de ortopedia e com outros problemas médicos. Em 1998, Beate Carrière, fisioterapeuta alemã e aluna de Klein-Vogelbach, escreveram o livro para fisioterapeutas “Bola Suíça: teoria, exercícios básicos e aplicação clínica [...]”, direcionando a utilização da bola para todas as áreas da fisioterapia (LIMA, 2004 p. 3). Souza (2004) relata que ao longo do tempo vários novos exercícios surgiram e certamente outros continuarão a ser desenvolvidos dados à versatilidade do método. De acordo com Lima (2004), atualmente, a bola também está sendo utilizada no treinamento de atletas de alto-rendimento e no fitness em geral e tornou-se uma tendência mundial de diferenciação do serviço terapêutico. 2.5.2 Princípios gerais no trabalho com a bola suíça De acordo com Lima (2004) existem seis princípios gerais: • Concentração: concentrar a mente no que o corpo está fazendo; • Controle: aprimorar a coordenação do corpo e da mente e garantir que os movimentos não sejam malfeitos ou banais; • Respiração: usar padrão ventilatório costal-inferior ou diafragmático; • Centragem: exercita-se a partir da força dos músculos profundos. Este princípio de trabalho com a bola suíça é o método Pilates. Craig (2004) descreve que esse método é uma combinação de exercícios de força do músculo com ênfase na flexibilidade e no relaxamento. O objetivo maior deste método, segundo o autor supracitado, é proporcionar aos seres humanos um aprofundamento na compreensão de seus corpos. Desse modo, todos poderão usá-los de forma mais eficiente, aprimorando sua performance nas atividades de vida diária e profissional. Goddard (2004), diz que este método também proporciona realinhamento do corpo, isolamento e treinamento dos músculos posturais profundos, fortalecendo assim os mesmos. • Alinhamento postural: saber o posicionamento corporal no espaço; • Leveza: movimentar-se lenta e graciosamente. 2.5.3 Técnica Aleixo (2001), explica que a bola suíça é instrumento terapêutico neuroevolutivo que preconiza o controle da postura e do movimento em uma abordagem global e funcional. O fisioterapeuta utiliza manuseios de facilitação do movimento normal para chegar à função desejada, técnicas de estimulação sensorial com o objetivo de adequar o tônus permitindo assim uma movimentação eficiente. Segundo Carrière (1999), os exercícios são realizados através do manuseio da bola de uma forma criativa preconizando o controle da postura e do movimento. Utilizam-se pontos chaves (pontos pelos quais se reduz a espasticidade e simultaneamente facilitam-se reações posturais e movimentos normais). 2.5.4 Aprendizado motor utilizando bola suíça A bola suíça é um instrumento útil, pois supre um elo motivacional e pode ser usada tanto pelo paciente quanto, pelo terapeuta para a solução dos problemas. A bola possibilita dividir uma tarefa, e permite que o paciente pratique o que ele é capaz. Assim, o paciente atingirá sua meta pela compreensão de que certos exercícios precisam ser feitos visando o alcance da meta funcional estabelecida pela terapeuta. Um dos objetivos da bola terapêutica, segundo Nesi (2004), é o treinamento ou retreinamento da percepção sensorial estimulando a percepção do corpo do paciente no espaço através dos sistemas vestibular, visual, somatossensorial, proporcionando uma integração da informação sensorial. Segundo Kelly (1991), a postura e o equilíbrio estão intimamente ligados ao sistema vestibular do e da orelha interna. Dois órgãos alojados na orelha interna proporcionam impulsos aferentes dominantes para o vestibulocerebelo: a) os canais semicirculares: Ghez (apud CARRIÈRE, 1999), diz que o sinal dos canais semicirculares muda conforme a posição da cabeça. Já para Kelly (1991) relata que seu arranjo tridimensional no espaço permite a detecção da aceleração angular da cabeça em qualquer uma das três direções. b) os otólitos que de acordo com Carrière (1999), eles detectam acelerações linares e sinalizam a posição da cabeça com relação à gravidade. A informação visual é usada sempre que possível para guiar e refinar o movimento. (CARRIÉRE, 1999, p. 11). De acordo com Magill (apud CARRIÈRE, 1999), quando todos os sistemas sensoriais estão disponíveis, confiamos mais na informação visual e nos baseamos nela para decisões congênitas, usando primariamente os impulsos somatosensoriais para planejar e completar uma tarefa. Para Umphre (apud CARRIÈRE, 1999), o sistema límbico também apresenta um papel importante no controle motor e aprendizado. Segundo Machado (1993), a função mais conhecida do sistema límbico é de regular os processos emocionais e intimamente relacionadas com esta função estão as de regular o sistema nervoso autônomo e os processos motivacionais essenciais à sobrevivência da espécie e do indivíduo, como fome, sede e sexo. De acordo com o autor supracitado, alguns componentes do sistema límbico estão ligados diretamente ao mecanismo da memória e aprendizagem e participam da regulação do sistema endócrino. Carriére (1999) diz que, o sistema límbico possui a base da importância da motivação e da memória no processo de aprendizagem; saber o porquê, por exemplo, envolve o lobo frontal, enquanto o cerebelo assiste no condicionamento. Existem dois tipos de aprendizado: o declarativo e o de procedimento, que de acordo com Carrière, (1999) o aprendizado declarativo trata com fatos e eventos – “saber que” – enquanto o aprendizado de procedimento envolve “saber como”. No declarativo, pensa-se que há um forte componente emocional e de julgamento, enquanto que o aprendizado de procedimento trata mais das habilidades, dos hábitos e do comportamento estereotipado. A solução de problemas envolve tanto o aprendizado declarativo quanto o de procedimento. Carrière (1999) ainda descreve que o conhecimento dos processos envolvidos no aprendizado motor é útil quando usamos a bola suíça. Em crianças que não podem realizar a tarefa como um programa total, a transferência de aprendizado é aplicada, e uma tarefa complicada, como caminhar é, inicialmente, dividida em tarefas mais simples. 2.5.4.1 Conhecimento do resultado Carrière (1999) diz que, o conhecimento do resultado tem sido estudo por inúmeros pesquisadores. Schimidt e Salmoni (apud CARRIÈRE, 1999), concluíram que o conhecimento do resultado, guia o indivíduo para frente durante o estágio inicial do aprendizado, mas pode diminuir a sua habilidade em detectar erros, pois ele pode tornar-se dependente da informação dada. Winstein, Schmidt, (apud CARRIÈRE, 1999), afirmam que, receber de forças externas, pouco conhecimento do resultado favorece o aprendizado de habilidades motoras porque a pessoa, desse modo, passa a se autocorrigir. No estágio inicial de prática, aquele que realiza o movimento é direcionado para uma resposta idealizada; no estágio tardio, o feedback menos freqüente favorece o aprendizado. 2.5.4.2 Feedback Para aquisição da postura e movimento é de fundamental importância o feedback. Swinnen (apud CARRIÈRE, 1999), diz que estudos de feedback instantâneo e aprendizado concluem que pode ser vantajoso fazer com que os indivíduos estimem seus próprios erros antes de dar o feedback). Desse modo o cerebelo se autocorrige e aprende a refinar o programa motor. De acordo com Fitts e Posner (apud CARRIÈRE, 1999), o feedback provê conhecimento, motivação e reforço. Carrière (1999) diz que, isso se aplica ao feedback intrínseco, que é o feedback natural do corpo (sentir e ver) sobre a velocidade do movimento e sua localização e ao feedback aumentado, que é o feedback de fontes externas. O conhecimento do desempenho é um exemplo de feedback aumentado que vem de uma fonte externa para o próprio sistema sensorial da pessoa. Para Schmidt (apud CARRIÈRE, 1999), a transferência do aprendizado é a aplicação do aprendizado obtido de uma tarefa. Isso pode significar, inicialmente, segundo Carrière (1999), dividir uma tarefa em elementos separados para facilitar a aprendizagem e a transferência para um movimento mais complexo. 2.5.4.3 Análise do equilíbrio Segundo Craig (2004), para a grande maioria das pessoas que utilizam a bola suíça, o primeiro contato tem se tornado, uma experiência e um desafio, dos mais interessantes. Isto tem costumado ocorrer em especial no exato momento em que o terapeuta conduz o paciente para o ato de jogar parte do próprio peso do corpo sobre a bola. É o seu primeiro contato com a sensação de desequilíbrio. Uma sensação tão diferente que vai se tornando forma de motivação. O que poderia ser um fator de inibição, logo se torna forma de um desejo inato de superação. Um bom equilíbrio requer controle postural (força e mobilidade), visão intacta, audição e propriocepção. Lopes (2004), explica que a bola suíça proporciona equilíbrio e coordenação, beneficiando a coordenação motora durante os exercícios e a correção postural e exige também do equilíbrio em movimentos de sustentação e apoio. Nesi (2004), explica que através da bola se adquire o equilíbrio pelos benefícios proporcionados pelo “desequilíbrio constante” que a bola proporciona, provocando rápidas respostas posturais inconscientes e ajustes que reforçam a coordenação entre os músculos posturais. De acordo com Craig (2004), a bola suíça é um elemento instável, requer que o corpo reaja com cada músculo para se manter nela e estabilizar-se causando ativação dos mesmos. Estas ativações dos músculos, além de manterem o equilíbrio, servem como terapia para aliviar tensões musculares, fortalecimento do abdômem, resistir a fraqueza e a falta de força funcional. Craig (2004), ainda relata que a bola suíça por possuir uma base de sustentação instável, a gravidade atua sobre o corpo, isso requer um contrapeso, recrutando os músculos mais profundo até que alcance uma estabilização necessária para manter equilibrado sobre a bola suíça. Com o uso da bola, mantém-se uma postura de sustentação estável e dá ao corpo flexibilidade. Carrièri (1999) descreve a importância da bola suíça para análise do equilíbrio. Umpherd (apud CARRIÈRE, 1999), diz que, a bola suíça pode ser usada para analisar e avaliar problemas de equilíbrio já que ‘para fazer um cliente sentar-se sobre uma bola de ginástica e fazer a maioria dos exercícios é necessário feedback vestibular e proprioceptivo para ter as respostas adaptativas apropriadas. Além disso, é um instrumento de valor de trabalho de controle postural e força. Através de seqüências de exercícios para déficits de equilíbrio Carrière (1999), relata, que o paciente obtém feedback do seu desempenho e pode praticar em casa. O sucesso é mensurável, pois os exercícios podem ser adaptados à habilidade do paciente e serem tornados mais difíceis à medida que o paciente fica mais ágil. O planejamento motor central prepara e afeta os movimentos do mesmo modo, incluindo a habilidade em graduar os movimentos e subconscientemente ajustar os músculos ao pegar, por exemplo, um copo de água cheio ou vazio. A habilidade melhora com o treinamento. Uma pessoa saudável geralmente sabe se a superfície onde ela está planejando sentar é móvel ou estável e automaticamente ajusta seus músculos de acordo. Os reflexos (como o ocular e o vestíbulo-espinhal) e as reações de endireitamento são vistos cedo no desenvolvimento das crianças (CARRIÈRE, 1999, p. 104). Carrière (1999) explica que as respostas posturais automáticas assistem na manutenção do centro de gravidade sobre a base de suporte. Além disso, respostas posturais antecipadas e movimentos posturais voluntários estão também envolvidos na manutenção do equilíbrio. Segundo Nesi (2004), o treinamento ou retreinamento da postura vai ser acessado através das características descritas em percepção visual e equilíbrio, mas vale ressaltar qualidade de resposta do paciente, principalmente em relação a postura sentada, onde o corpo procura a estratégia motora mais eficiente para funcionar, impossibilitando a postura desleixada muito comum após algum tempo sentado. Para favorecer o aprendizado, o terapeuta deve começar com exercícios que o paciente possa realizar e progredir para exercícios mais difíceis em vez de começar praticando aqueles que o paciente não consegue fazer. Treinar o equilíbrio sentado do paciente pode prepará-lo para ficar em pé e andar, por exemplo (CARRIÈRE, 1999, p.107). 2.5.5 Condições da bola 2.5.5.1 Superfície para os exercícios Segundo Carrière (1999), quando um paciente tem medo de escorregar, grupos musculares impróprios são ativados, há influência límbica sobre o controle motor; o exercício pretendido é feito com a programação motora incorreta, perdendo assim, a harmonia. O local mais seguro para a bola suíça é sobre um solo firme e antideslizante. Os exercícios com a bola suíça podem também ser feitos sobre o carpete de pêlos para que o paciente e a bola não escorreguem. Tapetes macios impedem que a bola role facilmente e inibem as reações de equilíbrio corretas devido à maleabilidade da superfície (CARRIÈRE, 1999). De acordo com Souza (2004), os exercícios devem ser realizados em tatame, longe de equipamentos, com o paciente usando roupa confortável e sem sapatos. 2.5.5.2 Tamanho da bola O tamanho do paciente não determina o tamanho da bola suíça a ser usada. No máximo, ele dará uma idéia para a pessoa que deseja sentar-se sobre a bola (CARRIÈRE, 1998). Segundo Lopes (2004), deve-se levar em conta a altura e o comprimento das pernas, se está acima do peso ou se existe algum problema postural para escolher o tamanho ideal da bola para o exercício. 2.5.6 Contra-indicações De acordo com Carrière (1999), existem algumas contra-indicações para o uso da bola suíça: - dor; - apoio de peso ausente ou parcial, na posição sentada; - amputação, na posição sentada; - cirurgias: algumas podem ser contra-indicadas, dependendo de como o exercício é feito; - convulsões. 2.6 Brinquedos 2.6.1 A história dos brinquedos De acordo com Oliveira (1986), o interesse pela origem dos brinquedos há muito tempo tem levado pesquisadores a desvendar pelo mundo afora resquícios e retratos que pudessem associar o fenômeno do brinquedo e o ato de brincar ao contexto histórico dos diversos grupos sociais. A partir da Segunda Guerra Mundial houve maior incorporação de brinquedos de plástico. Começa aí, também, o aumento da violência nas ruas, e as crianças passam a ficar presas em casa, tendo a televisão e os brinquedos como companhia, já que as mulheres começaram a ter o direito e o dever de trabalhar para garantir a subsistência familiar. Dessa forma, os brinquedos industrializados passaram a ser os mais adequados à ordem doméstica, justamente por serem práticos e funcionais, não provocarem sujeira e, quando quebrados, virarem lixo e poderem ser substituídos por outros. Com a crescente industrialização do brinquedo, cada vez mais "aumentam" as opções de brincar; aumento questionável se for considerado que os brinquedos não-estruturados são os que permitem um maior uso da imaginação e da criatividade. Conforme Brougère (2004), o brinquedo é, assim, um fornecedor de representações manipuláveis, de imagens com volume: está aí, sem dúvida, a grande originalidade e especificidade do brinquedo que é trazer a terceira dimensão para o mundo da representação. É claro que esta imagem manipulável deve ser adaptada à criança tanto no que diz respeito ao seu conteúdo quanto na sua forma, para ser verdadeiramente reconhecida como brinquedo. Traduzido em termos funcionalistas, importa por traz de tudo, a função expressiva do brinquedo, a tal ponto que ela faça desaparecer qualquer outra função: o brinquedo deve significar, deve traduzir um universo real ou imaginário que será fonte da brincadeira. Encontramos essa força expressiva na arquitetura dos parques de diversão (Disneylândia e outros) que deve expressar o universo de referência que se apresenta ao público. 2.6.2 O papel dos brinquedos no desenvolvimento da criança normal e da portadora de paralisia cerebral Os brinquedos e materiais utilizados pelas crianças em suas brincadeiras influenciam, decisivamente, na maneira como interagem e como brincam entre si (Rubin e Howe, 1985; Bonamigo & Kude, 1990). Bonamigo e Kude (1990) abordam que o tipo de brinquedo utilizado pelas crianças tem capacidade para influenciarem determinadas áreas do desenvolvimento infantil - como motricidade, inteligência, sociabilidade, afetividade e criatividade. Segundo os autores, a afetividade, por exemplo, é mais suscetível de ser abordada pela criança quando ela brinca com brinquedos que favorecem a dramatização de situações do cotidiano. Assim como os brinquedos podem facilitar o desenvolvimento de alguns aspectos do desenvolvimento infantil, Langley (1985) verificou que as respostas frente aos brinquedos variam de acordo com as limitações cognitivas das crianças que interagem com eles. Ele ressalta que a adequação dos brinquedos às limitações das crianças pode contribuir para um melhor aproveitamento destes em seu desenvolvimento. Igualmente, Elgas et al. (1988) verificaram que os tipos de objetos utilizados por crianças de 3 a 5 anos para brincar são usados por elas como forma de afiliação e marca de pertença aos grupos de brincadeiras. Estes estudos demonstram que os brinquedos não são apenas utilizados pelas crianças para sua diversão, mas desempenham um papel importante na condução de seu desenvolvimento. Na perspectiva cognitiva, o brinquedo e o ato de brincar, conforme Amorim, Oliveira e Mariotto (1997), constituem-se em vínculos importantes na construção do conhecimento, pois o sujeito internaliza sua realidade através da simbolização. Como "prazer funcional", o brinquedo faz do ato de brincar uma oportunidade de melhora e domínio, de que, quando adulto, o homem vai necessitar. Segundo Rizzo (1986) em 1837, foi criado por Froebel o primeiro jardim de infância. Ele defendia a potencialidade inata do homem e a influência do meio ambiente sobre a criança. Tanto a metodologia (linguagem oral/afetiva, brinquedos e atividades lúdicas) propostas por ele para aperfeiçoar as habilidades sensório-motoras como os recursos pedagógicos e o papel do professor são mantidos até hoje. O brinquedo, o trabalho manual e os estudos de natureza eram a base do processo educativo. Seus princípios se estendiam para a educação infantil de um modo geral, além de terem influenciado os fabricantes de brinquedos e de materiais recreacionais. Introduziu o jogo, caracterizado pela liberdade e espontaneidade, e realçou nos seus trabalhos a exploração e a manipulação dos objetos como fatores favoráveis ao aprendizado da criança, relata Kishimoto (1992). A criança com paralisia cerebral, geralmente tem pouco acesso a essa experiência, pela sua própria limitação de locomoção e de expressão, tem maiores dificuldades de se integrar ao meio. Somando a falta de estímulos ambientais advinda das condições de educação, geralmente não brinca ou suas brincadeiras são limitadas. Isto porque não consegue expressar por falta do repertório necessário para iniciar o movimento, ou porque quase ninguém brinca com ela, dificultando a aquisição daqueles comportamentos próprios da infância, acarretando maior limitação no aprendizado sensório-motor, afirma Lorenzini (2002). Kudo & Pierri (1990), Lindquist (1993), Sikilero et al (1997), Novaes (1998) e Santa Roza (1999) – vêm apontando para a importância da presença da atividade lúdica em crianças neuropatas. Nesse sentido, o brincar passa a ser visto como um espaço terapêutico capaz de promover a continuidade do desenvolvimento infantil. Um fator a ser enfatizado quando se considera a importância de boas mediações para o desenvolvimento infantil é a função que o brinquedo e as brincadeiras podem assumir como efetivo recurso mediacional, do qual o educador pode lançar mão em diferentes ocasiões, no exercício de suas funções, por meio de uma intervenção educativa reflexiva, conforme têm demonstrado estudos tanto ao nível nacional quanto internacional. A despeito de inúmeras controvérsias em relação às diferenciações entre jogo, brinquedo e brincadeira, neste trabalho o termo ‘brinquedo’ se aplica tanto às brincadeiras e jogos em geral, quanto a qualquer objeto utilizado com a função de brinquedo, conforme sugere Moya (1988). Assim, "[...] o terapeuta pode desempenhar um importante papel no transcorrer das brincadeiras, se consegue discernir os momentos em que deve só observar, em que deve intervir na coordenação da brincadeira, ou em que deve se integrar como participante das mesmas." (OLIVEIRA, 1986, p.102), de forma a tornar-se um eficiente mediador em suas interações com as crianças, oportunizando situações de brincadeiras e aprendizagens que estimulem "[...] a vivência, a aquisição de novas competências, saberes e habilidades" (WAJSKOP, 1999, p. 13). Em conseqüência, darão condições para que a própria atividade lúdica realizada favoreça as reações de retificação e as de equilíbrio. Dessa forma, a criança com paralisia cerebral vivenciará situações e experiências importantes para seu desenvolvimento. 3 DELINEAMENTO DA PESQUISA Gil (2002), diz que, delineamento refere-se ao planejamento da pesquisa em sua dimensão mais ampla envolvendo tanto a sua diagramação quanto à sua previsão de análise e interpretação dos dados. 3.1 Caracterização da pesquisa Este estudo foi constituído de uma pesquisa experimental do tipo estudo de caso, pois manipulou a variável citada no problema (atuação da bola suíça e dos brinquedos) e buscou encontrar os efeitos de casualidade que a bola suíça e os brinquedos poderiam ter sobre o Mecanismo do Controle Postural Normal, comparando “antes” e “depois”. De acordo com Rudio (1999), a pesquisa experimental está interessada em verificar a relação de casualidade que se estabelece entre variáveis, isto é, em saber se a variável x (independente) determina a variável y (dependente). Segundo Gil (2002), o estudo de caso é caracterizado pelo estudo profundo e exaustivo de um ou de poucos objetos, de maneira a permitir conhecimento amplo e detalhado do mesmo. Conforme o autor supracitado, quando os pesquisadores tomam a precaução de selecionar os casos adequadamente, é possível que as conclusões do estudo apresentem um valor muito alto e que possam ser generalizadas para todo o universo, com grau razoável de confiança. Segundo Rudio (1999), este plano permite obter informação da influência que o fator experimental exerce sobre os indivíduos e certas modificações que produz. Esta pesquisa tem como abordagem, a qualitativa, que segundo Luciano (2001), considera a existência da relação entre realidade e sujeito, ou seja, a indissocialidade entre o fenômeno objetivo e a subjetividade do sujeito que não pode ser traduzida em números. Mazzotti e Gewandsznajder (1999), afirmam que esse tipo de abordagem fundamenta-se em dados coligidos nas interpretações interpessoais, na co-participação das situações dos informantes. 3.2 População/ Amostra 3.2.1 Sujeito da amostra A pesquisa abrangeu uma criança com Paralisia Cerebral por Citomegalovirose congênita, do sexo feminino, com três anos de idade, que apresenta alteração no Mecanismo do Controle Postural Normal, matriculada na APAE de Tubarão-SC, residente nesta cidade. A criança foi avaliada e submetida à pesquisa na instituição da APAE de Tubarão-SC, com o devido consentimento dos pais. Foram realizados cinco atendimentos semanais, segunda, terça, quarta, quinta e sexta-feira, com duração de 60 minutos cada, totalizando 22 atendimentos, nos meses de agosto e setembro do ano de dois mil e seis. A escolha do estudo de caso foi justificada pela disposição do tempo e para que houvesse um melhor atendimento individual. 3.2.2 Critérios de inclusão A amostra foi selecionada obedecendo aos seguintes critérios: 1 Preenchimento do termo de consentimento e adesão da pesquisa (ANEXO C), 2 Comprovação da Paralisia cerebral por citomegalovirose congênita (ANEXO B), e do atraso no Mecanismo Postural Normal através do diagnóstico médico e preenchimento da ficha de avaliação de Neuropediatria (ANEXO A); 3.3 Instrumento de coleta de dados Para a realização desta pesquisa, foi utilizado como instrumentos de coleta de dados: a bola suíça, brinquedos e ficha de avaliação utilizada no estágio supervisionado em Neuropediatria na APAE (ANEXO A) e máquina digital da marca Olympus®. 3.4 Procedimentos utilizados na coleta de dados Primeiramente foi realizada a avaliação através da ficha de Avaliação de Neuropediatria. Os exercícios foram específicos para treino postural, equilíbrio e preparo para as transições de posturas. Os exercícios foram realizados de forma passiva, ativa assistida e ativa livre, com adaptações necessárias para a paciente. O tamanho da bola bipolar utilizada foi de 30 cm, e os brinquedos utilizados foram os comuns nas brincadeiras das crianças, como bonecos, ursos de pelúcia, chocalhos, entre outros (Fig 1, 2, 3). Figura 1: bola bipolar 30 cm Figura 2: cavalinho Figura 3: brinquedos Os exercícios realizados foram os seguintes: Fonte:Benatti et al, 1990 Fonte:Benatti et al, 1990 Fonte:Benatti et al, 1990 1. Com a criança de barriga para cima (supino), faça-a rolar lentamente para um lado e para outro, olhando objetos coloridos que foram colocados dos dois lados. 2. Faça barulho com objetos (sino, chocalho, apito, guizo, palmas), dos lados da cabeça da criança para que ela olhe na direção dos sons. 3. Segure a criança em pé, virado para frente, encostado em seu corpo, para que ele sinta peso sobre os pés. Fonte:Benatti et al, 1990 Fonte:Benatti et al, 1990 Fonte:Benatti et al, 1990 4. Deite a criança de costas (supino), e segurando-a pelas mãos levante-a como se quisesse senta-la. 5. Coloque a criança no chão de bruços (prono), com um rolo ou uma bola bipolar embaixo de seu peito. Coloque na sua frente brinquedos para chamar sua atenção. Segure a criança pelos joelhos fazendo-a rolar suavemente pelo rolo. 6. Coloque a criança de cavalinho em cima de um rolo de espuma, ou uma bola bipolar ou um próprio cavalinho. Segure-a pelas coxas e role o rolo para a direita e para esquerda fazendo com que a criança apóie um pé e depois o outro. Fonte:Benatti et al, 1990 7. Sente a criança em um banquinho, ou na própria perna da terapeuta, com os pés apoiados no chão e mostre um brinquedo para que ela se vire de um lado e depois do outro. Foram realizados vinte e dois atendimentos, com duração de 60 minutos cada. No qual o primeiro atendimento foi a avaliação da criança e o último atendimento, realizou-se a reavaliação, utilizando os mesmos recursos da avaliação, com os resultados obtidos. 3.5 Análise e interpretação dos dados A análise e interpretação dos dados foi realizada através dos resultados obtidos por meio de registros fotográficos da paciente realizando os exercícios das figuras de 1 à 7 citadas nos procedimentos de coleta de dados, durante as semanas de atendimentos, no qual baseou-se de acordo com o protocolo de Benatti et al (1990) para a estimulação precoce. Este estudo por apresentar uma abordagem qualitativa, não obtendo dados numéricos como resposta, optou-se por registros fotográficos para a comparação das evoluções semanais da paciente, assim como para a análise final, ou seja, a reavaliação, observando o “antes” e o “depois” do tratamento. 4 APRESENTAÇÃO DO CASO Figura 1: Paciente K.S.A de 3 anos e 8 meses 4.1 Identificação Nome: K. S. A. Idade cronológica: 3 anos e 8 meses Data de nascimento: 03/01/2003. Sexo: feminino Cor: Branca Naturalidade: Tubarão – SC Nacionalidade: Brasileira Responsáveis: os pais Mãe: L. S. S. Número de gestações: 1 Pai: M. A. abortos: 0 Número de filhos: 1 Diagnóstico médico: Paralisia Cerebral por citomegalovirose congênita Diagnóstico fisioterapêutico: Paralisia Cerebral quadriplégica espástica moderada, atraso no desenvolvimento neuropsicomotor com défict no Mecanismo do Controle Postural Normal. 4.2 Queixa principal Não consegue permanecer na postura sentada sem apoio, devido ao reflexo de estiramento (opistótono), não consegue segurar objetos (realizar preensão palmar e atividade bimanual). 4.3 História do nascimento Duração da gestação: 36 semanas Tipo de parto: normal Peso do bebê: 2.950 kg Transcrição do período gestacional: A mãe relatou que não houve nenhuma intercorrência durante o período gestacional. 4.4 História pregressa A criança realiza fisioterapia na APAE de Tubarão desde os 6meses de idade. Mãe relata que nunca realizou cirurgia. 4.5 Antecedentes familiares Os pais de K. S. A. estão vivos e sadios. Negam outros portadores de Paralisia Cerebral por citomegalovirose congênita. 4.6 Estado atual Paciente em bom estado geral e ativo. Apresenta microcefalia; estrabismo; espasticidade moderada generalizada; Visão: apresenta miopia bilateral Audição: aparentemente normal Comunicação: não gesticula palavras, balbucia. Vestir: dependente Despir: dependente Comer: dependente Beber: dependente Tônus muscular: apresentava ao movimento tanto ativo como passivo, aumento do tônus muscular caracterizando uma espasticidade moderada de tronco e cervical, sendo mais acentuado nos grupos musculares dos MMII, flexores de tronco e quadril, e nos MMSS. Amplitude de movimento tanto ativo como passivo apresenta-se diminuída, principalmente na articulação do punho, cúbito nos MMSS,e coxo-femoral e joelho nos MMII. Não realiza a marcha; . Transição de posturas: - De pé: não realiza - De pé para sentado: não realiza, somente cai sentado. - De sentado para de pé: somente com apoio do terapeuta. Passa para esta postura em bloco, com extensão de cervical, tronco, quadril e joelho, com a terapeuta dando o estimulo no punho. - De sentado para supino: não realiza de forma voluntária, apenas cai, passando para esta postura - De supino para sentado: não realiza sozinho, apenas com apoio da terapeuta durante a transferência, não permanecendo nesta postura. - Não assume a postura de gatas sozinho, e quando colocada não assume, ocorre um aumento do tônus, com o reflexo de estiramento – paciente realiza extensão de cervical, tronco, quadril e joelhos. Em relação às posições: sentada num banco, sentado de lado para a perna direita, sentado de lado com a perna esquerda, e sentado com as pernas estendidas, a paciente não realizou nenhuma dessas posições sozinhas, sendo que as de “sentado de lado para a perna direita e para a esquerda” a paciente nem com auxilio da terapeuta assumiu a postura devido o aumento de tônus nos MMII, porém com apoio ela assumiu a postura sentada com as pernas estendidas, no qual se notou que a criança apresentava déficit de equilíbrio quando a terapeuta retirava um pouco do apoio. Quando sentado no solo com apoio no tronco permanecia com os MMII em abdução, rotação externa de quadril e extensão de joelhos, mantendo-se com déficit de equilíbrio de tronco para os lados e para trás com e sem atividades bimanuais. Em posição prona, apresenta semi-flexão de cotovelos, extensão de tronco, abdução de MMII e rotação externa de quadril e extensão de joelhos. Ao movimento, eleva a cabeça do apoio tanto para os lados, como na linha média. Mantém-se apoiado sobre os antebraços, com as mãos fechadas e com os cotovelos semi-fletidos. Em posição supina, mantém um padrão de rotação externa e abdução de quadril e extensão de joelhos, cúbitos em semiflexão, e uma mão segurando a outra. A paciente não realiza rotação de tronco nesta posição. 4.7 Problemas associados AVDs: limitada, não realiza atividades como, higiene pessoal, alimentar-se e vestir-se sozinha, controle de esfíncteres. Posturas: não adota e não mantém posturas (sentado, ajoelhado, semi-ajoelho e em pé sem apoio) quando sustentado de pé, mantém apoio de peso no médio pé, com os pés em eversão. Fala: não se comunica, somente por gestos e balbucia. Deambulação: não realiza 4.8 Exames complementares Aos vinte e seis dias de idade, no dia quatorze de fevereiro de dois mil e três, foi comprovado o diagnóstico de Paralisia Cerebral por citomegalovirose congênita através de um exame laboratorial de sangue, no qual foi confirmado o resultado “reagente” para o citomegalovirus (IGG) e para o vírus Herpes simples I E II (IGG). Exame também realizado na mãe da criança, no dia vinte e oito de março de dois mil e três, confirmando o mesmo resultado, positivo para o citomegalovirus (IGG) e vírus Herpes simples I E II (IGG) (ANEXO B). 5 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 5.1 Análise Após a apresentação do caso, com o relato dos dados encontrados na avaliação fisioterapêutica inicial, passou-se à análise e considerações a respeito dos dados obtidos a partir da observação e da evolução diária e avaliação fisioterapêutica final da criança. O objetivo geral foi verificar o Controle do Mecanismo Postural Normal de uma criança portadora de Paralisia Cerebral por Citomegalovirose Congênita associado ao tratamento com a Bola Suíça e Brinquedos. 5.1.1 Primeira semana de atendimento Durante a primeira semana de atendimento na postura sentada, apresentou melhor equilíbrio de tronco para os lados, para frente e para trás, não realizando extensão de tronco, porém seus membros superiores continuavam com uma leve flexão de cúbito com as mãos fechadas, permanecendo com os membros inferiores em abdução, rotação externa e extensão de joelhos, assumindo a postura sem apoio durante a maior parte do atendimento (figura 4, 5). Quando mantida em pé com apoio da terapeuta no tronco e quadril, manteve os pés em eversão, extensão de joelhos; com o estímulo de um brinquedo aderido ao espelho a criança flexionava seu ombro e direcionava sua mão no sentido do brinquedo para pegá-lo, estimulando a atividade bimanual associada ao controle da postura de pé (figura 6, 7). Na posição supina, a terapeuta estimulava a criança a realizar rotação de tronco, em direção ao brinquedo em sua mão (figura 8). Figura 4: Criança na posição sentada com leve flexão de de cúbito, mãos fechadas; MMII em abdução e rotação externa de quadril com extensão de joelhos. Figura 5: Posição sentada, sem apoio externo,MMSS com leve flexão, com bom equilíbrio de tronco, apoiando o MSD(antebraço) no tatame. Figura 6: Posição de pé com apoio da terapeuta no tronco e quadril; criança olhando para o brinquedo no espelho. Figura 7: Criança na posição de pé levando sua mão em direção ao brinquedo, estimulando a atividade bimanual, preensão palmar e controle de tronco nesta postura. Figura 8: terapeuta estimulando a criança com um brinquedo a realizar uma rotação de tronco. 5.1.2 Segunda semana de atendimento No decorrer da semana do tratamento, observa-se uma melhora no controle de tronco quando a criança assume a postura sentada associada a atividades bimanuais, como ao pegar brinquedos no tatame, sem realizar extensão de tronco, e consequentemente caindo (Figura 9). Foi observada uma maior abertura nas mãos, assim como uma rotação de tronco com uma significativa melhora na amplitude quando estimulada a alcançar os brinquedos durante os exercícios, realizando preensão palmar (Figura 10,11,12). Figura 9: Melhor controle de tronco na Figura 10: maior rotação de tronco durante o postura sentada durante as atividades exercício para alcançar o brinquedo. bimanuais. Figura 11: maior abertura da mão para pegar Figura 12: criança segurando o brinquedo, o brinquedo; melhora significativa da habilidade manual (preensão palmar) não rotação de tronco da criança. realizada antes. 5.1.3 Terceira semana de atendimento Na terceira semana o equilíbrio na posição sentada está completo para frente e para trás, e para os lados; a criança está flexionando os joelhos durante os exercícios, sem realizar o reflexo de estiramento, apoiando os pés no tatame, associando as atividades bimanuais e preensões palmares, no qual a criança já segura os brinquedos com as mãos, função não realizada pela criança antes (Figura 13, 14, 15). Figura 13: Criança sentada no cavalinho controlando o tronco, com flexão de joelhos e dorsiflexão dos tornozelos, apoiando os pés no tatame. Figura 15: controle completo na postura sentada, com equilíbrio, sem realizar extensão de tronco, joelhos. Figura 14: Criança associando o controle de tronco na postura sentada à atividade de preensões palmares, segurando a orelha do cavalinho. 5.1.4 Quarta semana de atendimento Na quarta semana de atendimento a paciente apresentava um melhor controle de tronco na postura sentada durante as atividades bimanuais e de preensões palmares, com um melhor alinhamento postural, principalmente no controle de cervical quando estimulada a “buscar” o brinquedo das mão da terapeuta, manipulando objetos facilmente sem oscilações de tronco (Fig. 16-24). Figura 16: terapeuta dando estímulo para a transição da postura supina para sentada; paciente olhando para o estímulo visual, observe o alinhamento de tronco e controle cervical. Figura 17: paciente olhando para o brinquedo, observe o alinhamento da criança durante a atividade, o equilíbrio e controle de tronco. Atualmente a paciente consegue flexionar os joelhos quando colocada na postura de gatas sem estimular o reflexo de estiramento, que aumentava seu tônus, limitando o movimento; assim como o apoio de peso nas mãos nesta postura merece destaque, visto que antes a paciente não apoiava peso na mão quando a terapeuta realizava a transição para esta postura, devido também ao acionamento do reflexo de estiramento (Fig. 25, 26). Figura 18: paciente iniciando a atividade de preensão palmar com seu membro superior direito; observem o controle postural, e a abertura da mão para pegar o brinquedo. Figura 19: observem a reação de endireitamento, evitando que a paciente caia para o lado durante a atividade de preensão palmar. Figura 20: terapeuta estimulando com o brinquedo, o inicio da atividade de preensão palmar com a mão esquerda da paciente. Figura 21: paciente pegando o brinquedo da mão da terapeuta, Observe o alinhamento e equilibrio postural durante a atividade. Figura 21: paciente pegando o brinquedo do Figura 22: paciente levando o brinquedo até a tapete. mão da terapeuta. Figura 23: paciente sentada no colo da Terapeuta com flexão de joelhos sem realizar extensão de tronco. Figura 24: observe o controle de tronco da paciente quando desafiada através de um estimulo verbal. Permanece com a flexão de joelhos e apoio de peso nos pés. Figura 25: paciente trabalhando a postura de gatas na bola suíça. Observe a flexão de joelho. Figura 26: paciente colocada na postura de gatas, observe o apoio de peso nas mãos, o alinhamento do tronco e a flexão de quadril e joelho, sem realizar o reflexo de estiramento. A paciente consegue apoiar peso nas mãos e nos pés quando colocada na postura sentada sobre a bola, controlando tronco, equilibrando-se mesmo quando desafiada por um estímulo (Fig. 27, 28, 29). A atenção ao estímulo visual foi outro fator importante na evolução da paciente, que antes se apresentava muitas vezes desatenta. Mesmo porque a paciente estava em todos os atendimentos sem óculos, sendo que ela faz uso deste. Quando colocada na postura em supino, a paciente não permanece mais estática, ela flexiona o joelho, responde aos comandos verbais, aos estímulos externos (brinquedos) (Fig. 30, 31, 32). Figura 27: paciente sentada sobre a bola Figura 28: paciente sentada na motoca, Bipolar, observe o apoio da mão e dos pés. controlando tronco, apoiando peso nos pés, segurando com as mãos na motoca e respondendo aos estímulos externos sem cair. Figura 29: paciente olhando para a câmera Figura 30: paciente em supino com flexão de realizando extensão de cervical sem estimular joelho olhando para o estimulo verbal da o reflexo de estiramento. terapeuta. Figura 31: paciente em supino iniciando a Figura 32: paciente olhando para o brinquedo atividade de preensão palmar estimulada com enquanto o alcança. brinquedo. Terapeuta ao colocar a paciente na posição de pé observou a evolução quanto ao controle de tronco, alinhamento, onde foi aplicado apenas um apoio no quadril da paciente, não ocorrendo a extensão de tronco antes realizada pela criança (Fig. 33, 34). Figura 33: paciente na posição de pé, apoiada Figura 34: observe o controle de tronco, o apenas pelo quadril. alinhamento postural; Paciente dando um passinho, olhando para a terapeuta. 5.1.5 Avaliação final No final da última semana corresponde à época da reavaliação, a criança continua apresentando um quadro de espasticidade, porém com uma leve diminuição do tônus postural dos flexores de tronco, flexores de quadril e joelhos. Apresenta a reação corporal de retificação, mantendo-se mais alinhado tanto na postura sentada, com ou sem função bimanual, como na posição ortostática. As reações de equilíbrio em prono, sentado e em pé apresentam-se completas, permitindo melhores ajustes posturais. Notou-se aumento da percepção sensório-motora, permitindo ajuste da postura provocado pelo “desequilíbrio” constante que a bola suíça e o cavalinho proporcionaram. Na posição prona, mantém a extensão completa dos membros superiores e de tronco, transferindo peso para os MMSS. Mantém a posição sentada, no chão, em um banco e na bola, com completo equilíbrio de tronco. Realiza rotação de tronco. Senta-se para o lado direito, com apoio de um membro superior, mas não alterna. Passa da postura ajoelhada para de pé, necessitando de mínimo apoio nas mãos para levantar-se. Realiza passagem da posição sentada, em um banco, para de pé, necessitando apenas de apoio nas mãos, realizando esta passagem pelo comando verbal. Mantêm a posição de pé com apoio no quadril, com base de sustentação pouco alargada, bom equilíbrio de tronco e cervical e apoio de peso nos pés. Não realiza mais o reflexo de estiramento, onde a paciente entendia seu tronco. Atualmente segura objetos com as mãos, realizando preensões palmares e atividades bimanuais, não realizadas antes dos atendimentos. 5.2 Discussão dos resultados O desenvolvimento sensório-motor de um bebê com necessidades especiais é estimulado se oferecermos oportunidades para que ele vivencie experiências e sensações diversificadas e adequadas para a fase em que se encontra. Portanto, intervir precocemente é fundamental para a reabilitação e inclusão social destas crianças. Gabineski (2003), diz que a Estimulação Precoce deverá ser iniciada a partir do momento que a criança for diagnosticada como bebê de risco ou portador de atraso no desenvolvimento, onde serão estimulados as percepções sensoriais, os movimentos normais, o rolar, o sentar, o engatinhar, a deambulação a comunicação, a socialização e a cognição. O trabalho do Fisioterapeuta coloca-se como imprescindível na Estimulação Precoce - direcionado a crianças de 0 a 3 anos e 11 meses com patologias orgânicas e psíquicas (prematuros de risco, síndromes em geral, paralisia cerebral, hidrocefalia, autismo, etc), tendo como objetivo geral promover o desenvolvimento global da criança aproximandoo ao máximo do normal, favorecendo a manutenção e aprimoramento das funções existentes, prevenindo vícios posturais patológicos e primando pela independência, recuperação ou adaptação em diferentes níveis. Desta forma o presente trabalho visou estimular precocemente uma criança portadora de Paralisia Cerebral por Citomegalovirose Congênita atarvés da utilização da bola suíça e brinquedos no Mecanismo de Controle Postural Normal, visto que está alterado devido a patologia Rotta (2002), afirma que desde o Simpósio de Oxford, em 1959, a expressão PC foi definida como "seqüela de uma agressão encefálica, que se caracteriza, primordialmente, por um transtorno persistente, mas não invariável, do tono, da postura e do movimento, que aparece na primeira infância e que não só é diretamente secundário a esta lesão não evolutiva do encéfalo, senão devido, também, à influência que tal lesão exerce na maturação neurológica". A partir dessa data, PC passou a ser conceituada como encefalopatia crônica não evolutiva da infância que, constituindo um grupo heterogêneo, tanto do ponto de vista etiológico quanto em relação ao quadro clínico, tem como elo comum o fato de apresentar predominantemente sintomatologia motora, à qual se juntam, em diferentes combinações, outros sinais e sintomas. Em estudo com 100 crianças com PC, acompanhadas no HCPA de 1979 a 1983, Rotta (1983) diz que foram observados fatores pré-natais em 35 casos, sendo ameaça de aborto em 10 casos a possibilidade etiológica mais freqüente; fatores perinatais foram relatados em 14, os principais fatores etiológicos são infecções e parasitoses (lues, rubéola, toxoplasmose, Citomegalovírus, HIV); intoxicações (drogas, álcool, tabaco); radiações (diagnósticas ou terapêuticas); traumatismos (direto no abdome ou queda sentada da gestante); fatores maternos (doenças crônicas, anemia grave, desnutrição, mãe idosa). Com base no modelo de classificação proposto pela Organização Mundial de Saúde, Mancini (2003) cita que esta enfermidade pode apresentar conseqüências variadas. No que se refere à função de órgãos e sistemas, a paralisia cerebral geralmente interfere no funcionamento do sistema músculo-esquelético. Neste nível, as características associadas a esta patologia incluem distúrbios de tônus muscular, postura e movimentação voluntária. O comprometimento neuromotor desta doença pode envolver partes distintas do corpo, resultando em classificações topográficas específicas (e.g., quadriplegia, hemiplegia e diplegia). Outro tipo de classificação é a baseada nas alterações clínicas do tono muscular e no tipo de desordem do movimento podendo produzir o tipo espástico, discinético ou atetóide, atáxico, hipotônico e misto. A gravidade do comprometimento neuromotor de uma criança com paralisia cerebral pode ser caracterizada como leve, moderada ou severa, baseada no meio de locomoção da criança. Além das deficiências neuromotoras, a paralisia cerebral pode também resultar em incapacidades, ou seja, limitações no desempenho de atividades e tarefas do cotidiano da criança e de sua família, ou seja, atividades de auto-cuidado como conseguir alimentar-se sozinho, tomar banho e vestir-se, ou atividades de mobilidade como ser capaz de levantar da cama pela manhã e ir ao banheiro, jogar bola e andar de bicicleta com amigos, além das atividades de características sociais e cognitivas como brincar com brinquedos e com outras crianças e freqüentar a escola. Justificando a importância da estimulação precoce para um paciente com PC em sua vida diária, principalmente no que se refere às brincadeiras, pois esta é uma das atividades básicas da criança desta fase, onde ela descobre, aprende, imagina, desafia, o mundo ao seu redor, refletindo diretamente em seu desenvolvimento motor. Pensando neste contexto, nada seria mais apropriado do que usar o lúdico no tratamento de uma criança, logo se optou utilizar como recursos terapêuticos a bola suíça e os brinquedos, como afirma Lorenzini (2002), quando diz que podemos concluir que a brincadeira é um dos recursos recomendados para ajudar qualquer criança a adquirir experiências que contribuíram para o desenvolvimento das suas habilidades. A criança portadora de deficiência comumente não realiza aquele movimento iniciador do seu contato com o mundo. Por meio dessa atividade, acreditamos que estaríamos contribuindo para a construção do alicerce de seu aprendizado. Conforme Ratliffe (2002), as atividades lúdicas são um meio para atingir os objetivos terapêuticos. A brincadeira original não é como tirar férias da vida; é vida. O terapeuta e a criança estão sempre crescendo e mudando. A brincadeira original não se baseia no medo, mas em uma relação de confiança com a vida. Como um amiguinho, o terapeuta se junta a criança de tal forma que ambos sentem-se amados, respeitados e ansiosos por explorar. As habilidades necessárias para a brincadeira serão as curiosidades, confiança, resistência, vigilância. A autora cita ainda que, antes que a criança chegue é necessário planejar como utilizar o ambiente e os brinquedos para trabalhar no sentido das metas de desenvolvimento da criança. É importante ter pelo menos um plano de reserva para a sessão de fisioterapia, pois a criança pode não querer realizar atividade proposta. O uso criativo do equipamento e dos brinquedos é uma habilidade muito importante. Um adjunto à flexibilidade é aprender a usar o ambiente como instrumento de fisioterapia. Uma grande motivação para as crianças pequenas são irmãos, pais e avós. A família pode conseguir que a criança faça alguma coisa que o terapeuta não consegue. Concordando com Piret & Béziers (1992) e Béziers e Hunsinger (1994), vemos que o desequilíbrio entre as musculaturas posterior e anterior do tronco dificulta a realização de endireitamento, torção e tensão, fundamentais para a aquisição do controle da cabeça, do tronco e do movimento funcional dos membros. Esse conjunto de situações atrasa o Mecanismo de Controle Postural Normal da criança. Estudiosos, como Anderson, Hinojosa e Strauch (1987) acreditam na integração de atividades lúdicas com o tratamento neurodesenvolvimental de crianças portadoras de paralisia cerebral. Defendem, ainda, que os objetivos terapêuticos da incoorporação do lúdico no tratamento são: desenvolver práticas de conhecimento e percepção específicas; promover experiências como estímulos para padrão de movimento normal; e motivar a criança para intervenção de apoio às necessidades normais de desenvolvimento. Dessa forma, visam adequar o tônus postural e proporcionar padrões posturais e movimentos automáticos, facilitando, assim, a sua participação na brincadeira, beneficiando-as no aspecto motor, perceptivo, visual, cognitivo e social. Telg (1991) complementa afirmando que a, arte de normalizar o tônus é brincar com ele. Se o tônus é baixo, trazê-lo para um tônus mais alto e normalizado; se o tônus é alto, trazê-lo para o tônus mais baixo e normalizado. Assim que obtiver um tônus mais normalizado, é necessário dar-se a reação de equilíbrio. São essas reações de equilíbrio, rotação, tirar da linha média, que vão manter o tônus normalizado e fazer com que o cérebro integre essas reações e mantém o tônus. Apesar de a bola Suíça ter se tornado um instrumento terapêutico aceito, utilizada na prática não somente nos departamentos de fisioterapia, mas entre personal trainer e aqueles que buscam um estilo de vida saudável, têm-se certa dificuldade em encontrar literatura especializada sobre a Bola Suíça. Carrière (1999, p. 319), diz que “com base no meu treinamento em Londres, com B. Bobath e K. Bobath, em 1967, integrei a bola suíça no tratamento em crianças com PC e também na intervenção precoce para bebês com risco de atraso no desenvolvimento motor [...]”. As crianças portadoras de Paralisia Cerebral incluem-se neste grupo e necessitam de um tratamento especializado integrando a bola suíça como forma de treinar habilidades motoras, a fim de preparar o paciente para movimentos funcionais, onde o tônus anormal possa ser inibido e os movimentos mais normais facilitados. De acordo com a literatura é esperado que o uso da bola suíça promova melhora no controle postural. A bola com 30 cm de diâmetro pode ser usada para pacientes em decúbito ventral ou sentados para desencadear reações de equilíbrio e de endireitamento, trabalho de controle da cabeça e suporte sobre os cotovelos. Isso pode ser combinado com a transferência de peso de um lado para outro, alcance de objetos, rolamento etc... para promover o desenvolvimento normal. Em decúbito ventral sobre uma bola de 30 cm, o paciente pode praticar extensão protetora dos membros superiores (CARRIÈRE, 1999). De acordo com Carrière (1999), a boa força dos músculos, o equilíbrio e a coordenação são necessários para dominar a tarefa, e a bola proporciona ao paciente e ao terapeuta o feedback para o conhecimento do desempenho e dos resultados. Não é necessário que o terapeuta diga ao paciente que ele faça tal coisa. Usando a bola, o terapeuta pode ajudar o paciente a descobrir sozinho o que ele pode e o que ele não pode fazer e dar pistas ou demonstrar como realizar uma tarefa. Em nosso estudo, podemos verificar que houve melhora quanto ao controle de tronco nas posturas, inclusive durante as atividades de preensão palmar e as bimanuais, na solicitação dos ajustamentos automáticos da postura, a fim de produzir reações automáticas de proteção, endireitamento e equilíbrio. Observou-se com a paciente em estudo, que quando comparados à primeira avaliação em relação à avaliação final, houve, ganho significativo do alinhamento e controle de tronco nas posturas, das reações corporal de retificação e de equilíbrio, permitindo a criança adquirir as posturas sem estimular os reflexos de estiramento, logo mantendo-as sem cair, facilitando às preensões palmares e as atividades bimanuais. Em relação ao tônus, observou-se que a evolução apresentou-se de forma lenta, com uma leve diminuição do tônus muscular dos flexores de tronco, de quadril e joelhos. Por se encontrar ligado com funções de equilíbrio e com as regulações mais complexas do ato motor, o tônus, de acordo com Fonseca (apud BELTRAME; TREMEA e CEOLIN, 2003), assegura a repartição harmoniosa das influências facilitadoras e inibidoras do movimento. Verificou-se que a avaliação evolutiva do Mecanismo do Controle Postural Normal de uma criança portadora de Paralisia Cerebral, foi possível de ser realizada efetivamente por estar, a criança, num ambiente lúdico, com brinquedos familiares. Hoje, mais do que alguns anos, o tratamento com o uso da bola suíça, em um ambiente lúdico, com brinquedos, proporciona ao paciente uma forma divertida, prazerosa, transformante e segura ao realizar os exercícios, além de promover o desenvolvimento de habilidades motoras o mais normal possível. 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS Com base no presente estudo, verificou-se que, quando possível, devem-se realizar programas de intervenção diários, de forma a possibilitar maior integração paciente – terapeuta, gerando maior confiança da criança pela familiaridade, além do que, este estudo mostrou que para uma criança portadora de Paralisia Cerebral, em idade de estimulação precoce, os atendimentos mais freqüentes beneficiaram seu desenvolvimento motor de forma mais rápida do que os atendimentos convencionais, como no completo controle nas reações de retificação, equilíbrio e proteção, observados principalmente durante as aquisições das posturas sentadas, de gatas e de pé, antes não executadas pela paciente. Atualmente a paciente além de realizar estas posturas, controlando-as, consegue trabalhar suas preensões palmares pegando objetos (brinquedos), e realizar atividades bimanuais. Analisando que, a criança recebe atendimento fisioterapêutico duas vezes por semana na instituição da APAE do município de Tubarão/SC, e que depois de uma verificação de sua história nesta, foi confirmado que a mesma não possui boa assiduidade, prejudicando assim sua evolução. Sugere-se então que o atendimento fisioterapêutico, visto que trará benefícios à criança, deve ser realizado com mais freqüência por profissionais da área, a fim de obter resultados significativos em curto prazo. O estudo sobre a utilização da Bola Suíça e Brinquedos e seus benefícios no Mecanismo do Controle Postural Normal, buscando melhorar os movimentos motores, aumentando assim a qualidade das funções, permitiu chegar à conclusão que, a bola suíça e os brinquedos melhoram o quadro postural de uma criança portadora de Paralisia cerebral por Citomegalovirose congênita. A escassez de estudos sobre o uso da bola suíça em crianças dificultam a discussão deste trabalho, havendo uma maior necessidade de adaptações das técnicas aplicadas em adultos. Para maiores resultados, há necessidade de mais estudos abrangendo uma população maior para validade científica. Com a realização deste estudo, acredita-se ter promovido experiências novas e agradáveis, através do contexto estimulante e motivacional que a bola suíça e os brinquedos proporcionam, gerando melhora do controle postural e o início da atividade bimanual. A avaliação evolutiva do desenvolvimento do controle postural, foi possível de ser realizada efetivamente por estar, a criança, num ambiente lúdico, com brinquedos familiares. REFERÊNCIAS AIRES, V. L. T.. Práticas pediátricas: Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (IPPMG) - Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio. São Paulo: Atheneu, 2000. 353 p. ALEIXO, F. D. Fisioterapia: método Bobath. 2001. Disponível em: http://www.mpsbrasil.org.br/textos/metodo_bobath.htm. Acesso em: 20 abr .2006 AMORIM, C., OLIVEIRA, M. & MARIOTTO, R.A. Psicologia do brinquedo. Revista Psicologia Argumento, v.15 n. 21, 1997, p. 9-31. ANDERSON, J.; HINOJOSA, J.; STRAUCH, C. Integrating play in neurodevelopmental treatment. In: The American Journal of Occupational Therapy. v. 41 n. 7. jul, 1987. ANDRADE, J.M. Paralisias cerebrais. 1999. Disponível em: <htp://www.defnet.org.br/>. Acesso em: 23 abril 2006. AZEVEDO, P.F. et al. Citomegalovirose congênita: relato de caso. Rev. Bras. Ginecol. Obstet. v.27 n.12 .Rio de Janeiro dez. 2005. BASMAJAN, J.; DE LUCA, C. J. Muscles ative: the functions reveald by electromyography. Williams e Wilkins. Cap. 10-11, 1985 BAX, M. Aspectos clínicos da paralisia cerebral. In___. FINNIE, N.R. O manuseio em casa da criança com paralisia cerebral. 3 ed. São Paulo: Mnole, 2000. cap. 2. BELTRAME, T. S.; TREMEA, V. S.; CEOLIN, C. R. Z. A dança e o portador da síndrome de Down. Cinergis, Santa Cruz, v. 4, n. 1, p. 39-53, jan./jun. 2003. BENATTI, A. M.; OLIVEIRA, M. C. S.; CAMPOS, M. T. G. R.; ZANGIROLAMI, T. R. Síndrome de Down: estimulação precoce: 0 a 6 meses. Centro de informação e Pesquisa da Síndrome de Down. São Paulo, 1990. _________ . Síndrome de Down: estimulação precoce: 6 a 12 meses. Centro de informação e Pesquisa da Síndrome de Down. São Paulo, 1990. _________ . Síndrome de Down: estimulação precoce: 2 a 5 anos. Centro de informação e Pesquisa da Síndrome de Down. São Paulo, 1990. BERNSTEIN, N. The co-ordination and regulation of movements. Oxford, Pergamon, 1967. BERTOTI, D. Mental retardation: focus on Down syndrome. In: TECLKIN, j. S; et al. Pediatric physical therapy. 3. ed. Philadelphia, New York, Baltimore: Lippincott Willians & Wilkis, 1999. BÉZIERS, M. M.; HUNSINGER, Y. O bebê e a coordenação motora: os gestos apropriados para lidar com a criança. São Paulo: Summus, 1994. BOBATH, B.; BOBATH, K. Desenvolvimento motor nos diferentes tipos de paralisia cerebral. São Paulo: Manole, 1989. BOBATH, B. Atividade postural reflexa anormal causada por lesões cerebrais. 2. ed. São Paulo: Manole, 1978. 132 p. BOBATH, Kl. Uma base neurofisiológica para o tratamento da paralisia cerebral. 2. ed. São Paulo: Manole, 1984. 110 p. BOBATH, B. Adult hemiplegia. Butterworth Heinemann Medical Books. 3. ed. 1990. BONAMIGO, E. R., & KUDE, V. M. Brincar: brincadeira ou coisa séria? Porto Alegre: Educação e Realidade, 1990 BROUGÈRE, G. Brinquedo e cultura. 5 ed. São Paulo: Cortez, 2004. BURNS, Yvonne R.; MACDONALD, Julie. Fisioterapia e crescimento na infância. São Paulo: Livr. Santos, 1999. 516 p. CARRIÈRE, B. Bola suíça: teoria, exercícios básicos e aplicação clínica. São Paulo: Manole, 1999. CRAIG, C. Pilates on the ball: the Pilates method. 2004. Disponível em http://www.pilatesontheball.com/pilates/index.html. Acesso em: 23 abril. 2006.: DIETZ, V.; KETELSEN,; U. P. BEGER, W; QUINTERN, J. Motor unit involvement in spastic paresis: relationship between leg muscle activation and hitochemistr. J. Neurol. p. 89-103, 1986. EDSTROM, L. Selective changes in the size of red and White muscle fibres in upper motor lesions and Parkinsonism. J. Neurol, 1970. EKMAN, L. L. Neurociência: fundamentos para reabilitação. Rio de Janeiro: Guanabara, 2000. ELGAS, M. P. et al. Play and the peer culture: play styles and object use. Journal of Research in Childhood Education,1988 n.3, 142-153 FINNIE, N. R. O manuseio em casa da criança com paralisia cerebral. 3. ed. São Paulo: Manole, 2000. FLEMING, I. Desenvolvimento normal e seus desvios no lactente. São Paulo: Atheneu, 2000. GABINESKI, C. A especificidade em Estimulação Precoce. Sociedade Gaúcha de Estimulação Precoce, 2003. GIL, A. C. Como elaborar um projeto de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002. GODDARD, J. Pilates teacher is on the ball: Nearly 40 and of shape when wake-up call came. 2004. Disponível em: Disponível em: http://www.cursos.fst.br/cursos/pilates/torontostar.html. Acesso em: 23 abr. 2006 .HORAK, F. E. Clinical measurement of postural control in adults. Physical therapy, 1987 KANDEL, E. R.; SCHWARTZ.Principles of neural science. 2. ed. New York: Elservier, Notth Holand, 1985. KANDEL, E. R.; SCHWARTZ, J. H; JESSEL. Principles of neural science. 3. ed. cap.35-40, 1991. KATZ. R. T.; RYMER, W. Z. Spastic hypertonia: mechanisms & measurement. ARCH PHYS MED REHAB, v. 70, 1989. KELLY, J. P. The sence of balance. In: _____. Principles of neural science. 3. ed. Elsevier Science, Amsterdan, New York , 1991 KISHIMOTO, T. M. O jogo, a criança e a educação. São Paulo, 1992. tese (Livre Docência) – Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo. KUDO, A & PIERRI, S. Terapia ocupacional com crianças hospitalizadas,. In ___AM KUDO. Fisioterapia, fonoaudiologia e terapia ocupacional em pediatria. São Paulo: Sarvier, 1990. p. 232-245 LANCE, J.W. What is spasticity? The Lancet, v.x, march 1990 LANGLEY, M. B.. Selecting, adapting, and applying toys as learning tools for handicapped children. Topics in Early Choldhood Special Education,1985 n.5, 101-108. LEAL, G. Microcefalia primária autossômica recessiva em três famílias pernambucanas: aspectos clínicos e moleculares. Rev. Bras. Saude Mater. Infant. v.5 n.2 Recife abr./jun. 2005 LEFÈVRE, A.B. Paralisia cerebral. In___. MARCONDES, E. Pediatria básica. V. 1. São Paulo: Sarvier, 1986. LIMA, I. A. X. Apostila do curso de cinesioterapia com a bola terapêutica. Tubarão: UNISUL, 2004. LINDQUIST, I. A criança no hospital – terapia pelo brinquedo. Scritta Editorial: São Paulo, 1993. LINS, J. P.; BRAWN, J. K; BRARHERSTONE, R. Assessment of spasticity in hemiplegic cerebral palsy. I: Proximal Lower-limb reflex excitabilit. Dev. Méd and Clild Neurol 36, 1993 LOPES, L. Fitball a bola suíça. Disponível em: http://www.biofitness.com.br/modules.php?name=News&file=article&sid=21. Acesso em 24 set. 2004. LORENZINI, M. V. Brincando a brincadeira com a criança deficiente: novos rumos terapêuticos.São Paulo: Manole, 2002. LUCIANO, F. L. Metodologia científica e da pesquisa. Criciúma: Ed. do autor, 2001. MACHADO, A. B. M. Neuroanatomia funcional. 2. ed. São Paulo: Atheneu, 1993. MANACERO, S. Apostila do curso Bobath: tratamento neuroevolutivo. Porto Alegre: SD. MANCINI, M. C. Comparação do desempenho funcional de crianças portadoras de Síndrome de Down e crianças com desenvolvimento normal, 12 outubro 2003. Disponível em: http://www.scielo.com.br Acesso em: 23 abril. 2006. MAYSTON, M. J. Some aspectos of the physiological basic for intervention thechniques. Asociation of pediatric chartered physiotherapists. News Lete, 1995. MAZZOTTI, A. J. A.; GEWANDSZNAJDER, F. O método nas ciências naturais e sociais: pesquisa quantitativa e qualitativa. 2. ed. São Paulo: Pioneira, 1999 MEDEIROS, F. D. Síndrome de Down: apostila de neuropedriatria. Tubarão: UNISUL, 2003. MEDEIROS, F. D. Paralisia Cerebral: apostila de neuropedriatria. Tubarão: UNISUL, 2003. MERRITT, H.H. Tratado de neurologia. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1977. MOYA, I. O brinquedo como expressão da cultura. In____ Anais do I Congresso Brasileiro: O Brinquedo na Educação. Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo: São Paulo agosto, 1988. NESI, J. Utililização das bolas infláveis na fisioterapia traumato-ortopédica e desportiva. 2004. Disponível em: http://bemestar.ig.com.br/index.php?modulo=colunistasmat&urlnart=179&urlcol=Jacson+Nes i . Acesso em: 20 abr. 2006. NICOLAU, M. B. Bola suíça. Disponível em: http://www.bemestar.ig.br. Acesso em: 20 abr. 2006. NOVAES, L. Brincar é saúde: o alívio do estresse na criança hospitalizada. Editora da Universidade Católica de Pelotas: Pelotas,1998. OLIVEIRA, P. S. Brinquedo e indústria cultural. Petrópolis: Vozes, 1986. PIRET, S.; BÉZIERS, M. M. A coordenação motora: aspectos mecânicos da organização psicomotora do homem. São Paulo: Summus, 1992. RATLIFFE, K. T. Fisioterapia: clínica pediátrica. São Paulo: Santos, 2000. RIZZO, G. Educação pré-escolar. 4 ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1986. ROTTA, N.T. Paralisia cerebral, novas perspectivas terapêuticas. J Pediatr. v. 78, n. 7. Rio Janeiro 2002. ROTTA, N.T.; DRACHLER, M.L; VAITSES, V.D.C.; OHLWEILER, L.; LAGO, I.S. Paralisia cerebral: estudo de 100 casos. Rev HCPA. v. 3 n.2. Rio de Janeiro 1983. RUBIN, K. H.; HOWE, N. Toys and play behaviour: an overview. Topics in Early Childhood Special Education, v. 5. 1985. RUDIO, F. V. Introdução ao projeto de pesquisa científica. 26. ed. Petrópolis: Vozes, 1999. SANTA ROZA, E. Quando brincar é dizer. Contracapa, Rio de Janeiro,1999 SHEPHERD, R. B. Fisioterapia em pediatria. 3. ed. São Paulo: Santos, 1996. SIKILERO, R.; MORSELLI R; DUARTE, G.A. Recreação uma proposta terapêutica. In_____ CECCIM, R.B; CARVALHO, P.R (orgs.). Criança hospitalizada – atenção integral como escuta à vida. Editora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul: Porto Alegre, 1997. SILVA, V. M.; SAMPOL, A. V. A Fisioterapia através do método de Bobath. 2003. Disponível em: http://www.foa.org.br/vitalsampol/Artigos/Artigos3140/artigos31/artigos31.html Acesso em: 20 abr. 2006. SOUZA, W. C. Exercícios com bolas. 2004. Disponível em: http://www.bioftness.com.br/modules.php?name=News&file=article&sid=21. Acesso: 20 abril. 2006 TELG, E.K. Intervenção precoce na pratica. Revista de fisioterapia. v.4. 1991 .p.107-111. WAJSKOP, G. 500 anos de Brasil: A formação continuada de professores... Meta de qualidade! Criança, v. 33 1999. YAMAMOTO, Aparecida Yulie et al . Diagnóstico de infecção congênita e perinatal por citomegalovírus utilizando a reação em cadeia da polimerase. Rev. Soc. Bras. Med. Trop., Uberaba, v. 31, n. 1, 1998.