1 1996 – 1999 Mestrado em Biotecnologia Universidade de São Paulo, USP, São Paulo, Brasil Título: Produção de sondas genéticas não radioativas para o diagnóstico do vírus rábico atraves de RT-PCR e imunoquimioluminescência Orientado: Pedro Carnieli Junior Orientador: Edison Luiz Durigon Ano de obtenção do título: 1999 Palavras-chave: Virus rábico, Diagnostico, Imunoquimioluminescência, Clonagem, RT-PCR Áreas do conhecimento: Virologia,Microbiologia Aplicada 2 1. INTRODUÇÃO 1.1. HISTÓRICO A primeira referência escrita sobre a raiva, uma encefalite fatal, é encontrada no Código de Eshnunna, Babilônia, escrito a 2500 anos ( BAER, 1985 ). No século IV a. C., Aristóteles, na antiga Grécia, classificou a raiva como uma doença que ocorria somente entre animais. O escritor Cornelius Celsus, da antiga Roma, no século I d. C., recomendava a imediata excisão e cauterização do local da mordedura de um cão raivoso. Modificações deste mesmo tratamento, com a adição de aplicação local de diversas substâncias, como ácidos, foram realizadas até o século XIX ( WIKTOR, 1985). A primeira referência sobre a raiva nas Américas foi feita em 1709, no México, por Frei José Gill Ramirez. Acredita-se que a raiva já estava presente neste continente antes da chegada de Colombo, por citações históricas acerca de mordidas fatais causadas por animais agressores ( KOPROWSKI, 1959 ). Em 1804, na Alemanha, Zinke fez a primeira abordagem científica, inoculando saliva de cães raivosos em cães não raivosos, induzindo-os a contraírem raiva. Galtier, em 1879, inoculando extratos de tecido nervoso de coelhos com raiva em cabras e carneiros, levou Pasteur e colaboradores a concluirem que o Sistema Nervoso Central ( SNC ) é o local de replicação do vírus rábico. Posteriormente, Pasteur e col. cultivaram o vírus, inoculando-o sucessivamente em animais de laboratório, observando que o período de incubação, antes variável, encurtava e se estabilizava. Esta nova amostra viral, obtida experimentalmente, foi chamada de “atenuada”. Desta adaptação do vírus rábico originou-se o vírus “fixo”, cuja virulência é constante e reprodutível para a espécie na qual foi adaptado, ao contrário dos vírus “de rua”, isolados de animais infectados naturalmente. Pasteur, em 1884, utilizando medulas de coelhos, inoculadas com vírus “fixos” e dessecadas com potassa ( NaOH ) a 22° C, inoculou durante nove dias, 3 intracerebralmente, o macerado deste material em cães, e estes não adquiriram raiva. Posteriormente, observou que animais inoculados diariamente com este material, por via subcutânea, tornavam-se imunes. A partir dessas observações Pasteur produziu a primeira vacina anti-rábica ( KOPROWSKI, 1985 ). Após a obtenção desta vacina, vários pesquisadores continuam aprimorando a produção da vacina anti-rábica e, diversos métodos de controle e manejamento da população de animais de criação, susceptíveis à raiva, são estudados e realizados, sendo a imunização em massa efetuada para controlar a cadeia epidemiológica. 1.2. CLASSIFICAÇÃO E NOMENCLATURA O vírus rábico pertence à ordem Mononegavirales, família Rhabdoviridae, gênero Lyssavirus. Outras famílias de vírus pertencentes à ordem Mononegavirales são Filoviridae e Paramyxoviridae, todos com genoma formado por RNA com sentido negativo. Vesiculovirus; Ephemerovirus; A família Rhabdoviridae possui cinco gêneros: Cytorhabdovirus; Nucleorhabdovirus e, Lyssavirus ( DIETZSCHOLD et al., 1996; MURPHY et al., 1995 ). Os Lyssavirus infectam animais homeotermos, preferencialmente mamíferos carnívoros, causando infecções no sistema nervoso central, sendo que a espécie representante deste gênero é o vírus rábico. As espécies ( sorotipos ou genotipos ) do gênero Lyssavirus são : Vírus rábico; Vírus Lagos bat; Vírus Mokola; Vírus Duvenhage; European bat 1 e European bat 2. 4 1.3. MORFOLOGIA E PROPRIEDADES FÍSICO-QUÍMICAS DO VÍRUS RÁBICO O vírus rábico é baciliforme com 100 a 300 nm de comprimento e 70 nm de diâmetro, em média, com uma extremidade semi-circular e a outra plana. Possui envoltório externo formado por lipídios da célula hospedeira ( envelope ), com espículas de 5 a 10 nm de comprimento, cerca de 3 nm de espessura, distanciadas em 5 nm, formadas por trímeros da glicoproteína G. Abaixo do envelope encontra-se uma camada matriz formada por proteínas M, que une o envoltório viral externo à ribonucleoproteína interna. A matriz M e a ribonucleoproteína formam o ribonucleocapsídeo (figura 1). A ribonucleoproteína ( RNP ) é helicoidal, possuindo 30 a 35 giros, 50 nm de espessura por 170 nm de comprimento, em média; é formada pelo RNA genômico de fita simples, sentido negativo, não segmentado, associado às proteínas RNAs polimerases RNA-dependentes L, fosfoproteínas P, nucleoproteínas N, além de proteínas M. Encontramos formando o complexo ribonucleotroteíco (RNP), aproximadamente, 1800 moléculas da proteína N, 950 da fosfoproteína P e 30 a 60 da polimerase L ( MURPHY et al., 1995; GAUDIN et al., 1992; WUNNER et al., 1994 ). O peso seco do vírion contém 65 - 75 % de proteínas e 1 - 2 % de RNA. É constituído também por 15 - 25 % de lipídios, sendo que, deste total, 55 - 60 % são fosfolipídios e 35 - 40 % glicolipídios. A quantidade de carboidratos do peso seco é 3 %. O vírus rábico tem peso molecular entre 500 a 700 x 106 Da, densidade em CsCl de 1,19 a 1,20 g / cm3, densidade em sucrose de 1,17 a 1,19 g / cm3. A infectividade é estável entre pH 5,0 e 10,0 e é rapidamente inativado a 50°C; por irradiação ultravioleta ou raio-X; exposição a solventes lipídicos ou agentes oxidantes ( MURPHY et al., 1995; GAUDIN et al., 1992 ). 5 Envelope Ribonucleocapsídeo Figura 1: esquema representando a estrutura do vírus rábico 6 1.4. ORGANIZAÇÃO GENÔMICA DO VÍRUS RÁBICO O genoma do vírus rábico contém 11932 nucleotídeos ( nt ), com uma discordância média de 5 % entre as diferentes amostras. O RNA genômico é linear, policistrônico, não interrompido, codificando do extremo 3’ para 5’ ( sentido negativo ), com o final 5’ trifosfatado e não poliadenilado. Possui cinco genes, designados como: N ( 1350 nt ), P ( M1 ou NS ) ( 891 nt ), M ( M2 ) ( 606 nt ), G ( 1572 nt ) e L ( 6426 nt ), transcrevendo as proteínas virais estruturais com as mesmas designações. Assim, possuem 5 ORFs ( “open reading frame” ), codificando nesta ordem: 3’ - N - P - M - G - L - 5’, transcritas em molaridade decrescente de abundância ( MURPHY et al., 1995; BANERJEE, 1987). É proposta a existência de um 6º gene, entre os genes G e L, mas ainda não foi isolada uma proteína referente a essa região ( TORDO et al., 1986; TORDO et al., 1996 ). No final da região de cada um dos cinco genes, uma seqüência poli ( U ), determinará a poliadenilação das regiões finais de seus respectivos RNAm, de sentido positivo ( 5’ 3’ ). As seqüências intergênicas no genoma do vírus rábico variam em composição e tamanho, sendo que, em alguns casos, a região 5’ do RNAm transcrito se sobrepõe à região 3’ do gene seguinte. A região entre os genes N e P tem os nucleotídeos GA; a região entre P e M tem GUCCG; a região entre M e G tem GAUAA e a grande região entre G e L ( chamada pseudogene ) tem 423 nucleotídeos, iniciando com GGACCCAAG e terminando com UUGACGG ( TORDO et al., 1996; MURPHY et al., 1995 ; BANERJEE, 1987 ). Os sinais genômicos internos do vírus rábico de início ( start ) e parada ( stop ) da transcrição flanqueiam os genes. São compostos por nove nucleotídeos de uma seqüência de consenso entre os Rhabdoviridae. O sinal de parada termina com uma seqüência de sete resíduos de Uridina, que são copiados reiterativamente pela transcriptase, para produzir a cauda de 7 poliadenilação de cada RNA mensageiro, antes da leitura do próximo sinal de início ( TORDO et al., 1986 ). Os sinais de início ( start ) e parada ou poliadenilação ( stop ) são seqüências de consenso entre os Rhabdoviridae ( TORDO et al., 1996 ). Tanto a transcrição quanto a replicação são etapas autônomas e independentes da célula hospedeira e catalisadas pela RNA polimerase RNA-dependente L, presente no genoma do vírus. A replicação do genoma ocorre após a tradução dos RNAm, com a formação de vários RNAs intermediários com sentido positivo ( antigenomas ); sendo moldes genômico dos futuros RNA de sentido negativo. A transcrição inicia-se pela extremidade 3’ do genoma viral, os RNAm são 5’ poli-U, 3’ poliadenilados e monocistrônicos. Um promotor para polimerização é reconhecido pela transcriptase próximo à extremidade 3’ e, deste ponto, o complexo transcricional desloca-se para a extremidade 5’ do genoma, produzindo os transcritos seqüencialmente. Primeiramente, ocorre a síntese de um grupo de RNAs-líder não traduzidos, com 58 nucleotídeos, os quais correspondem exatamente ao trecho de nucleotídeos do extremo 3’ do genoma, precedendo a primeira seqüência de tetranucleotídeos ( UUGU ) localizados no início da seqüência do gene N. O pequeno RNAm líder não é poli-U ou poliadenilado e, há evidências de exercer controle na mudança da transcrição para a replicação ( WUNNER et al., 1988; TORDO et al., 1986; TORDO et al., 1996 ). A produção dos cinco diferentes RNAm não é igual em número, pela existência de seqüências genômicas internas de atenuação e pausa. Desta forma, ocorre um gradiente na produção das proteínas nesta ordem: N > NS > M > G > L ( BANERJEE et al., 1992 ). O que parece determinar esta molaridade decrescente dos produtos gênicos são os sinais internos do genoma, que controlam a progressão seqüencial do complexo transcricional L. Pensa-se que o complexo polimerase dissocia-se do genoma após a leitura de cada sinal de parada antes de se acoplar ao próximo sinal de início. Como as regiões intergênicas, não transcritas, são muito curtas ( cinco a seis nucleotídeos ), o complexo polimerase tem dificuldade em unir-se ao próximo sinal de início. Os complexos polimerases que não se encaixam nos sinais de início subseqüentes 8 voltam ao primeiro sinal, e este fato explicaria o grande número de produtos do primeiro gene e pouquíssimos do último ( 1800 e 60 respectiva e aproximadamente ). Portanto, a localização de um gene influencia diretamente sua taxa de transcrição ( SCHNELL et al., 1994; GAUDIN et al., 1992; BANERJEE et al., 1992 ). A polimerase L efetua tanto a transcrição do genoma em RNAm, quanto a replicação do próprio RNA genômico. Durante a replicação, a polimerase não deve reconhecer os sinais de parada e atenuação. Pesquisas recentes postulam que os RNAs genômicos replicam-se após a transcrição dos RNAm e, também, após a síntese de proteína N. Esta proteína liga-se ao RNA genômico recémsintetizado e determinaria o não reconhecimento dos sinais de parada e atenuação, respeitados na transcrição ( TORDO et al., 1996; BANERJEE et al., 1992 ; WERTZ et al., 1987 ). O primeiro evento da replicação é a formação do anti-genoma. Tanto o genoma quanto o anti-genoma, para serem funcionais, devem estar revestidos com proteína N, e isto requer coordenação entre polimerização e capsidização. Assim, um promotor para capsidização deve existir no final 5’, para iniciar a capsidização do RNA nascente. Através de estudos sobre o VSV ( vírus da estomatite vesicular ), o vírus mais estudado da família Rhabdoviridae, sabe-se que os elementos catalíticos na função polimerase são as proteínas L e P. A proteína L possui, no mínimo, a seguintes funções enzimáticas: síntese de RNA, “capping”, poliadenilação e quinação parcial das proteínas N e P. As funções da proteína P são regulatórias: ajuda a polimerase L a ligar-se corretamente ao promotor de polimerização, retira proteínas N do RNA molde à frente do complexo de polimerização e detecta a quantidade mínima de proteína N necessária para a capsidização ( PRINGLE, 1987). A proteína N possui a principal função estrutural na capsidização do RNA genômico, além de ser a responsável pela mudança ( “switch” ) entre transcrição e replicação. A replicação não pode iniciar-se sem uma quantidade suficiente de proteína N unida ao RNA genômico. Enquanto a quantidade de proteína N sobre o genoma for pequena, o complexo polimerase reconhece os sinais de 9 poliadenilação ( “stop codon” ) da seqüência líder; solta-se do RNA e reconhece os sinais de início dos genes N, P, M, G ou L, produzindo os RNAs mensageiros. Havendo quantidade suficiente de proteínas N sobre o RNA, os sinais internos de início e parada não são respeitados e o complexo polimerase segue a leitura do genoma ininterruptamente. Como o pequeno RNA líder ( 57 - 58 ribonucleotídeos ) da extremidade 3’, rico em resíduos A ( adenina ), que entre outras funções, quebra o promotor de capsidização da extremidade 5’ durante a transcrição, não é mais produzido durante a replicação, pela presença da proteína N, a capsidização pode ocorrer ( TORDO et al., 1996 ). As extremidades genômicas 3’ e 5’ desempenham importantes funções na replicação viral por formarem os sítios da iniciação da síntese de RNA e da iniciação de capsidização, respectivamente. As seqüências gênicas envolvidas nessas funções contém 58 nucleotídeos na região 3’ e 69 nucleotídeos na região 5’ não transcrita. Ambas regiões são ricas em resíduos U e A entre os nucleotídeos 7 a 40, em todos Lyssavirus. Essas regiões podem corresponder ao sinal de reconhecimento do complexo polimerase L. Também existe uma perfeita complementariedade entre os 11 primeiros nucleotídeos das extremidades 3’ e 5’. Esta complementariedade terminal é encontrada em todos os vírus RNA não segmentados de sentido negativo e, pode representar a conservação de sinais entre o genoma e o antigenoma, sinalização fundamental na replicação ( TORDO et al., 1996 ). 1.5. REPLICAÇÃO VIRAL Os eventos seqüenciais no ciclo do vírus rábico na célula hospedeira são: adsorção, penetração, transcrição, tradução, replicação, maturação e liberação por brotamento. Todas as fases intracelulares ocorrem no citoplasma celular. A adsorção não é dependente de temperatura, mas de pH, sendo o pH 6,5 o mais favorável. O vírus liga-se aos receptores celulares, provavelmente colinérgicos, através das espículas de glicoproteína G encontradas sobre a 10 superfície do capsídeo viral ( SCHLEGEL et al., 1985 ). A penetração do vírus é dependente de temperatura, sendo 37° C o ponto ótimo. A endocitose ( pinocitose ) é a hipótese mais aceita atualmente para explicar como ocorre a entrada do vírus na célula. No interior da célula ocorre a liberação da ribonucleoproteína, e imediatamente ocorre a transcrição dos cinco RNAm, em seguida a tradução e, finalmente, a replicação ( PRINGLE, 1987 ). A montagem do vírus no citoplasma da célula hospedeira inicia-se com a associação das proteínas N, P e L ao RNA genômico recém-sintetizado, formando a ribonucleoproteína. As proteínas M, recém-formadas, seguem dois caminhos: uma parte une-se a ribonucleoproteína, condensando-a, e outra parte insere-se na membrana plasmática da célula hospedeira, preparando-a para a liberação dos vírions. Esta proteína é reconhecida tanto pela glicoproteína G como também pelas proteínas P e N ( LAWSON et al., 1995; WILSON et al., 1981). A glicoproteína G também tem um papel crítico na liberação e biogênese do vírion. Primeiramente, esta proteína agrega-se à membrana plasmática da célula hospedeira, em regiões basolaterais, juntamente com proteínas M, direcionada, provavelmente, por enzimas presentes no citoesqueleto celular. O domínio citoplasmático da glicoproteína G, com carga negativa, parece dirigir a reunião da ribonucleoproteína, revestida com proteína M, à membrana plasmática ( GAUDIN et al., 1992; GAUDIN et al., 1993). A ribonucleoproteína, junto à membrana plasmática, e outros possíveis fatores intracelulares, parece estimular a liberação do vírion por brotamento. A vesícula que brota da célula é formada pela ribonucleoproteína, a matriz M, que a acomoda na membrana plasmática, sendo que esta se apresenta transpassada por glicoproteína G. Antes do brotamento do vírion, a transcrição e replicação viral são inibidas pela ação da proteína M, inibindo a síntese de RNA. A proteína M, concentrando glicoproteína G em certas áreas da membrana plasmática, determina a atração de proteínas N, pois estas são atraí das pela glicoproteína G. A pressão interna desse aglomerado nucleoproteico, sobre a membrana plasmática, determina que a região formada destaque-se da célula, ocorrendo o brotamento do vírus rábico ( MESLIN et al., 1996 ). 11 Durante o ciclo do vírus rábico no interior da célula ocorre a inibição, mesmo que pequena, da síntese de RNA, DNA e proteínas celulares. Os dois principais fatores destas inibições, provavelmente, são os RNA-líderes de 58 nt formados no início da transcrição, e a proteína M do vírus, que é encontrada no núcleo das células infectadas e, portanto, devem ter alguma ação sobre a expressão gênica celular ( REMENICK et al., 1986; REMENICK et al., 1988 ). 1.6. PROPRIEDADES ANTIGÊNICAS, ESTRUTURAIS E FUNCIONAIS DAS PROTEÍNAS DO VÍRUS RÁBICO Embora as características bioquímicas e imunológicas das proteínas rábicas N, P, M, G e L sejam objeto de inúmeros estudos, estes se concentram, principalmente, sobre as proteínas G e N, por serem mais imunogênicas e fáceis de serem detectadas e isoladas. A glicoproteína G é a única capaz de induzir a formação e reagir com os anticorpos neutralizantes do vírus rábico. Esta proteína tem 524 aminoácidos, deduzidos da clonagem do gene que a codifica, a partir de várias amostras de vírus. Esta mesma proteína, pós-processada, contém somente 505 aminoácidos, pois ocorre uma clivagem retirando 19 aminoácidos da posição N-terminal-sinal. O domínio extracelular da proteína é o mais imunogênico. Este domínio externo estimula tanto linfócitos B quanto linfócitos T ( WUNNER, 1991; KAWAI et al., 1994 ). O domínio citoplasmático C-terminal da glicoproteína G tem 44 aminoácidos, o domínio transmembrana possui 22 e o domínio N-terminal, com 439 aminoácidos, é externo ao vírus. As células infectadas produzem, além de glicoproteína G encontrada nos vírus, a forma solúvel de G ( Gs ) com 447 aminoácidos, referentes ao domínio extra-citoplasmático desta glicoproteína ( RUPPRECHT et al., 1991). No mínimo, oito sítios antigênicos foram encontrados e, destes, seis foram mapeados no domínio externo da glicoproteína G. Epítopos estimuladores de linfócitos T-citotóxicos foram localizados entre os aminoácidos 130 e 178 da glicoproteína G ( MACFARLAN 12 et al., 1986 ). Um sítio de glicosilação, na posição 319 da glicoproteína G, parece ser de grande importância, pois é encontrado em todos Vesiculovirus e Lyssavirus ( BOURHY et al., 1993 ). A presença do aminoácido arginina na posição 333, determina a invasão do vírus nos neurônios e a conseqüente patogenicidade. A falta deste aminoácido determinaria o não reconhecimento dos receptores virais de membrana, pelo vírus rábico ( PREHAUD et al., 1988). A partir de várias amostras virais deduziu-se que a nucleoproteína N é formada por 450 aminoácidos, possuindo grande homologia entre as amostras ( 98 % - 99.6 % ), sendo muito conservada durante a evolução do vírus rábico ( ERTL et al., 1989 ). Os aminoácidos mais conservados da proteína N são aqueles que, provavelmente, interagem com o genoma RNA do vírus rábico. Sua função é encapsidar o genoma e protegê-lo contra nucleases celulares, além de ser o fator que regula a expressão gênica ( KAWAI et al., 1994 ). A proteína N não induz anticorpos neutralizantes, mas protege contra o vírus rábico após desafio periférico. Esta proteína é o antígeno alvo das células T CD4+; entre as diversas amostras do vírus rábico e, entre os diferentes genotipos do gênero Lyssavirus ( LAFON et al., 1992 ). A fosfoproteína P é formada por 297 aminoácidos, sendo relativamente bem conservada entre as diferentes amostras de vírus rábico, com uma homologia média de 95 % ( KAWAI et al., 1994 ). Dois sítios antigênicos entre os aminoácidos 75 a 90 estão presentes e epítopos para linfócitos T CD4+ e T CD8+ foram encontrados. Somente um determinante antigênico de linfócito B foi detectado através de anticorpos monoclonais nesta fosfoproteína ( LAFON et al., 1992 ). A proteína matriz M contém 202 aminoácidos ( TORDO et al. 1986 ), tem homologia entre as diversas amostras virais de 93 %, em média, sendo que sua antigenicidade não foi, até agora, muito estudada. Esta proteína tem uma importante função, senão a principal, em regular a morfogênese do vírus rábico. Um determinante antigênico na posição entre os resíduos 1 e 72 foi localizado ( WUNNER, 1991 ). A RNA polimerase RNA-dependente L é a maior proteína do vírus rábico, 13 possuindo 2142 aminoácidos. É responsável pela síntese de RNA ( RNA transcriptase ), cobertura da extremidade 5’ com poli-U ( “cap” ), metilação ( metil-transferase ), poliadenilação, e funções de guanilil-transferase, proteína quinase, nucleosídeo trifosfatase e nucleosídeo trifosfato quinase dos RNAs virais. A polimerase L, provavelmente, é um complexo multienzimático ( DIETZSCHOLD et al., 1996 ; MURPHY et al., 1995). 1.7. PATOGÊNESE A quase totalidade dos casos de raiva humana ocorre pela penetração do vírus presente na saliva de animais infectados, através de mordidas. Casos de arranhões, contato de mucosas com saliva ou materiais contaminados, inalação de aerossóis em laboratórios ou cavernas já foram descritos, mas têm chances mínimas de causarem infecção. A probabilidade de que uma pessoa agredida desenvolva raiva depende da profundidade e localização da mordida. Quanto mais profunda e próxima de regiões muito enervadas, como cabeça, mão e pé, maior a chance de ocorrer a infecção. A rápida assepsia com água e sabão e aplicação de um antisséptico local é a melhor forma de combater a infecção, obviamente, seguida de soro- vacinação ( VEERARAGHAVAN, 1954 ). O período de incubação em humanos é em média de 1 a 2 meses. Entretanto, variações de menos de uma semana até 6 anos são registradas. A duração do período de incubação depende da proximidade da mordida em relação ao SNC, quantidade de vírus inoculado, idade e estado imune do indivíduo. Nos EUA e Europa, há registros de doadores de córnea para transplante que morreram infectados pela raiva, sem terem sido diagnosticados, contaminando seus receptores ( MESLIN et al., 1996 ). O desenvolvimento clínico de um paciente com raiva pode ser dividido em 3 estágios distintos: período prodrômico, fase neurológica aguda e coma. Durante o período prodrômico, os sintomas podem se manifestar de 2 a 10 dias, e são inespecíficos como: febre, dor de cabeça, anorexia, fotofobia e 14 formigamento ao redor da inoculação. Na fase neurológica aguda, que se estabelece pela invasão do vírus no SNC, ocorre ansiedade, agitação, paralisia, hidrofobia, aerofobia e episódios de delírio. Quando a hiperexcitabilidade é predominante, o quadro clínico é classificado como “furioso” e quando a paralisia é predominante, como “paralítico” ( CHOPRA et al., 1980 ). A raiva paralítica é mais observada em herbívoros expostos a vírus inoculados por morcegos . A raiva furiosa progride mais rapidamente ( 2 a 7 dias ) do que a paralítica ( média de 2 meses ) no período neurológico. O final destas fases é paralisia total e asfixia. Três casos de sobrevivência, após tratamento clínico, são documentados e, os sobreviventes apresentam seqüelas neurológicas ( WHO, 1992 ). Após a introdução de saliva infecciosa de animal raivoso, o vírus replicase no próprio local de entrada, e segue em direção ao SNC. Os vírus replicamse em tecido muscular e, através das conexões neuro-musculares, penetram nos nervos periféricos. É muito provável que os vírus penetrem no sistema nervoso através dos finais dos nervos sensoriais desmielinizados e placas motoras. Estudos comprobatórios destes eventos ainda estão sendo desenvolvidos. Com o uso de sondas moleculares e técnicas de hibridização in situ, espera-se demonstrar a existência de replicação viral nas células musculares antes da entrada do vírus no SNC ( SHANKAR et al., 1991 ). Em relação ao neurotropismo, é provável que o vírus reconheça sítios celulares colinérgicos em células musculares. Ao que parece, componentes das membranas celulares com fosfolípidios e glicolípidios estimulam o neurotropismo do vírus rábico. Em neurônios e fibroblastos, componentes de membrana como o ácido siálico e gangliosídeos, parecem estar envolvidos ( LENTZ et al., 1986 ). Após a entrada nos nervos periféricos, o vírus rábico move-se através do fluxo interno dos axônios dos neurônios em direção ao SNC. Através das junções sinápticas, os virions passam de neurônio a neurônio, transportados por movimento axonal retrógrado ( TSIANG, 1978 ). Chegando ao cérebro, os virions encontram na região do hipocampo superior, no chamado Corno de Amon, do sistema límbico, o local mais propício para a replicação, multiplicando-se com maior intensidade. Também mostram ter 15 preferência pelo cerebelo e região superior da medula, mas todas as regiões do SNC são infectadas, em maior ou menor intensidade. Do cérebro, ocorre uma propagação viral centrífuga a vários locais ( coração, rins, cavidades nasais, córnea, etc ). O forte tropismo pelas glândulas salivares representa o final do ciclo no hospedeiro, que culmina com a morte. Desta forma, o vírus rábico durante seu ciclo, passa pelo sistema límbico, altera o comportamento, geralmente aumentando a agressividade. O animal tem como reflexo a mordedura e o vírus, estando presente na saliva, passa para o animal agredido, perpetuando-se ( MURPHY, 1985 ). As mudanças patológicas em animais e humanos infectados são lesões inflamatórias, observadas histologicamente, que normalmente levam as células à morte. O citoplasma dos neurônios apresentam aglomerados de nucleocapsídeos do vírus, os chamados Corpúsculos de Negri ( FU et al., 1993 ). 1.8. IMUNIDADE ANTI-RÁBICA O vírus rábico, ao penetrar no hospedeiro via células musculares ou células epiteliais, pode permanecer um longo período em latência e replicar-se no local. Isto possibilita que o tratamento anti-rábico seja realizado com administração de vacina ( muitas vezes associada a soro hiperimune ) que, na grande maioria das vezes, impede a penetração do vírus nos neurônios. No entanto, se o vírus penetrar no SNC, foge da vigilância imunológica do hospedeiro levando-o, invariavelmente, à morte ( KING et al., 1993 ). Sem vacinação, a quantidade de vírus no local de inoculação não é suficientemente antigênica para provocar uma resposta protetora. O aparecimento de anticorpos anti-rábicos ocorre muito tardiamente, já na fase final da doença, sem nenhuma influência sobre seu desfecho fatal ( KOPROWSKI et al., 1972 ). Os antígenos rábicos são timo-dependentes, tanto assim que a vacinação anti-rábica não protege camundongos da linhagem “nude” de uma infecção, já 16 que estes apresentam uma deficiência de linfócitos T ( SUGAMATA et al, 1992 ). Os macrófagos, células dendríticas e outras células fagocíticas e apresentadoras de antígeno ( APC ), têm papel fundamental, já que são responsáveis pela ingestão e processamento dos antígenos rábicos e a consequente apresentação de seus determinantes antigênicos, juntamente com moléculas de classe 2 do Complexo de Histocompatibilidade Principal ( CELIS et al., 1985 ). Os linfócitos T auxiliares CD4+, uma vez estimulados por determinantes antigênicos do vírus expostos na superfície das APC, passam a produzir citocinas, que vão estimular diferentes células, como linfócitos T citotóxicos CD8+, os linfócitos B produtores de anticorpos e as células “Natural Killer” ( PERRY et al., 1991). O vírus rábico pode ser neutralizado por anticorpos da classe IgG específicos para a glicoproteína G, já que estas estão na parte externa da partícula viral e são as responsáveis pelo seu neurotropismo. Uma vez revestida de anticorpos anti-G, a partícula viral não consegue se ligar aos seus receptores específicos. Além disso, células infectadas são passíveis de serem revestidas por anticorpos com subseqüente atuação do Sistema Complemento, provocando a lise das células, limitando a propagação viral até o SNC ( FINKELMAN et al., 1988). Dentre as citocinas produzidas, principalmente pelos linfócitos T auxiliares, já foi demonstrado que o interferon ( INF- ) tem efeito adjuvante quando administrado concomitantemente com a vacina. Um dos principais estimuladores dos linfócitos T citotóxicos é o INF-. No entanto, quando esta citocina foi usada no tratamento da raiva humana, não foi obtido nenhum sucesso ( KAWANO et al., 1990). Linfócitos Th 1 ( sub-tipo de linfócitos T auxiliares ) respondem a imunização com peptídios sintéticos de proteina N ou com plasmídeos, expressando a proteína G, secretando interleucina 2 ( IL-2 ) ( BOOM et al., 1988). Além disso, a dosagem de IL-2 produzida pela estimulação in vitro de esplenócito murino com antígeno rábico, mostrou ter correlação direta com os níveis de proteção ( ROBB, 1984). Os linfócitos T citotóxicos agem no local de infecção depois de reconhecerem peptídeos do vírus expressos na superfície de 17 células infectadas, associadas a moléculas de classe 1 do Complexo de Histocompatibilidade Principal. Assim, destroem as células infectadas e parecem ter papel fundamental na proteção contra amostras atenuadas do vírus rábico ( PERRY et al., 1990 ). 1. 9. EPIDEMIOLOGIA A raiva é uma doença cosmopolita, sendo que alguns países insulares conseguiram eliminar o vírus de seus territórios, como o Japão, Grã-Bretanha, Oceania e outros poucos. É uma zoonose de difícil erradicação pela multiplicidade de hospedeiros naturais e pelo fato do vírus ser transmitido pela saliva, através de mordidas entre animais no ecossistema, comportamento comum nas disputas territoriais intra e extra-específicas ou mesmo pela expulsão do indíviduo doente da população ou grupo ( SMITH, 1996 ). Os principais hospedeiros são os mamíferos carnívoros e quirópteros. Os herbívoros, roedores e os lagomorfos desempenham papel secundário na epidemiologia. A excreção do vírus rábico pela saliva ocorre antes mesmo de surgirem os primeiros sintomas neurológicos e, provavelmente, é uma característica específica da espécie infectada e origem do virus. Assim, deve haver pesquisas acerca da excreção viral em termos de amostra de vírus, espécies hospedeiras e coadaptação do vírus com o hospedeiro ( WHO, 1994 ). A doença está presente tanto no meio silvestre como no urbano. Nos países pobres a zona urbana é claramente mais afetada, sendo os principais transmissores o cão e o gato. Na América do Norte e Europa os principais transmissores são os animais silvestres ( BAER et al., 1990 ). Entre o ano de 1990 a 1993, 51.453 casos de raiva em animais foram diagnosticados na América Latina, com uma média anual de 12.865 casos, sendo que 15% destes animais eram de interesse econômico. No Brasil, Peru, Paraguai e México, o cão ocupa o primeiro lugar na transmissão da raiva 18 humana ( aproximadamente 75 % ), vindo em seguida os morcegos ( aproximadamente 18 % ). No Panamá e no Chile o morcego é o principal transmissor. Os morcegos hematófagos, somente encontrados em Trinidad Tobago e países da América Latina, são os responsáveis pela transmissão, quase total, dos casos de raiva em bovinos e eqüinos ( PAHO, 1995 ). A raiva, por representar um problema na área de Saúde Pública e Pecuária, é considerada prioritária nos programas de saúde humana e animal. Em 1992, mais de 800.000 pessoas receberam vacina pós-exposição em todo mundo, sendo cerca de 70 % nas Américas. Na Ásia, ocorre o maior número de mortes humanas, onde se estimou, em 1987, mais de 50.000 casos / ano. A China, pelo desenvolvimento recente de vacinas de cultura celular, diminuiu esmagadoramente esta doença. Foram registrados, na América Latina, em 1994, 4.956 casos de raiva em cães, 1.492 em bovinos, 463 em animais silvestres e 349 em gatos ( PAHO, 1995; MESLIN et al.,1996 ). No Brasil, o controle da doença se faz com imunoprofiláticos e interrupção da cadeia epidemiológica urbana, através da vacinação em massa de animais domésticos e o sacrifício de animais errantes capturados. Mais de 50 milhões de doses de vacinas são aplicadas por ano no plantel de gado nacional, estimado em 180 milhões de cabeças. O número de pessoas atendidas no Brasil, durante o ano de 1995, em relação a raiva, foi de 363.163 casos. Destas, 186.204 receberam vacina e 18.366 receberam soro e vacina. O número total de vacinas aplicadas em humanos foi 893.543 doses. O número de animais colocados em observação, suspeitos de raiva, foi 213.908 ( MS/FNS BRASIL, 1994). Na campanha nacional de vacinação anti-rábica canina de 1995, foram aplicadas 14.051.669 doses de vacina, sendo 11.808.237 em cães, 2.232.400 em gatos e 11.032 em outros animais. Apesar dos estados de Santa Catarina e Paraná não realizarem campanha de vacinação canina, foram atendidas respectivamente, 6.424 e 20.703 pessoas agredidas por animais e, aplicadas 14.775 e 21.497 doses de vacinas humanas, respectivamente. O número de acidentes com animais agressores, observados em Santa Catarina foi de 3.517 e no Paraná 14.495 ( MS/FNS BRASIL, 1995 ). 19 Foram eliminados, em 1992, na América Latina, 542.852 cães, e em 1993, 668.537, sendo 45.238 no Brasil. Em 1994, também no Brasil, 64.000 cães foram sacrificados somente na cidade de São Paulo, este número representando 50 % do total brasileiro ( WHO, 1994 ). No final da década passada, o Centro de Controle de Zoonoses da cidade de São Paulo, capturou morcegos insetívoros positivos na região central desta capital, um deles na sala de estar de um apartamento residencial. Entre os anos de 1990 e 1995, 27 espécies de morcegos, hematófagos ou não, foram diagnosticados com o vírus rábico e 42 casos humanos transmitidos por morcegos foram diagnosticados no Brasil ( MS/FNS BRASIL, 1995 ; MS/FNS BRASIL, 1994), conforme mostrado nas tabelas 01 e 02. Tabela 01- número de casos de raiva humana, por região geográfica do Brasil, durante o período de 1986 a 1998 ( Dados fornecidos por MS/ FNS Brasil, 1998 ) REGIÃO TOTAL NORTE 112 NORDESTE 347 SUDESTE 62 SUL 01 CENTRO-OESTE 51 TOTAL GERAL 573 20 Tabela 02- casos de raiva humana, segundo o tipo de animal agressor, no período de 1986 a 1998 ( Dados fornecidos por MS/ FNS Brasil, 1998 ) ANIMAL Nº DE CASOS CÃO 415 MORCEGO 61 IGNORADO 38 GATO 28 RAPOSA 13 MACACO 10 OUTROS 08 TOTAL 573 No Brasil, o estudo da epidemiologia da raiva entre as populações de animais silvestres é praticamente nulo. Para exemplificar, casos com raposas agressoras de humanos, na região do agreste nordestino, são freqüentemente registrados, e entretanto, análises mais detalhadas não se realizam ( MS/LACEN BRASIL, 1995 ). Em 1995, na região de Ribeirão Preto ( São Paulo ) um surto de raiva canina foi observado, com um caso humano fatal. Somente no Instituto Pasteur, em São Paulo, foram diagnosticados 47 casos positivos em cães. É de se observar que durante vários anos não se diagnosticava casos positivos nesta região. Em contrapartida, cidades paulistas como Andradina e Araçatuba são regiões com freqüentes casos de raiva, ao longo de vários anos. Em 1996, durante janeiro a junho, foram diagnosticados 38 animais raivosos na região de Birigui ( São Paulo ), com uma infectividade média de 40% das amostras enviadas. Nesta mesma cidade, não se diagnosticava raiva há longo tempo. Estas explosões de surtos localizados são imprevísiveis ( INSTITUTO 21 PASTEUR-SP, 1994, 1995, 1996 ). O controle da raiva é oneroso e difícil pelo grande número de fatores ecológicos, comportamentais e sócio-econômicos envolvidos. Um país, como os EUA, onde se gasta, anualmente, mais de 300 milhões de dólares em programas de controle da raiva, observou-se entre 1957 a 1993 que o número de mãos-pelada ( Procyon lotor ), conhecidos como “ racoons ”, diagnosticados com raiva, subiu de 36 para 5.912 casos / ano. Em 1996, na Austrália, país continental, que oficialmente é livre da raiva, foi diagnosticado um vírus associado a encefalite em morcegos frugívoros e em um humano ( SMITH, 1996 ). A raiva, como algumas outras doenças virais, pode dizimar pequenas populações animais em qualquer região. Quando isto ocorre entre espécies com risco de extinção, pelo pequeno número de indivíduos existente, é um problema maior ainda. A interferência ambiental humana nos nichos ecológicos, via de regra, introduz o principal transmissor da raiva, o cão ( Canis familiaris ) ( CLEAVELAND et al., 1995 ). É impossível calcular, em todo mundo, o número de casos de raiva não notificados, seja por falta de experiência ou condições laboratoriais. O efetivo controle da raiva depende de uma série de medidas, tais como: campanha de vacinação; captura de animais e destino adequado; envio de material para exame laboratorial; cobertura de foco; atendimento dos indíviduos expostos ao risco; tratamento profilático; observação de cão e gato; investigação dos casos; educação em saúde e pesquisa de novos imunógenos, através das técnicas tradicionais e moleculares, visando oferecer produtos mais potentes e com baixo custo financeiro. A raiva, por ser uma zoonose, dificilmente será erradicada e, portanto, o aprimoramento das campanhas vacinais deve ser constantemente valorizado e estimulado, na tentativa de se tentar controlar a cadeia epidemiológica do vírus rábico ( WHO, 1992; OMS/WSPA, 1990 ). 1.10. VACINAS 22 Atualmente, a profilaxia contra a raiva consiste no tratamento do indivíduo com soros e vacinas. Os regimes vacinais, que possuem diferenças entre diferentes países, são estabelecidos de acordo com as necessidades da imunização ( regime pré ou pós exposição, gravidade do ferimento, etc ). A profilaxia com imunoglobulinas anti-rábicas, homólogas ou heterólogas, é recomendada para ferimentos graves, conjuntamente com o uso de vacinas e assepsia local cuidadosa ( MS/FNS BRASIL, 1995 ). A produção de vacinas depende da qualidade das amostras virais utilizadas. Estas amostras pertencem ao sorotipo 1, de amostras “fixas”: Pasteur Virus ( PV ), Challenger Virus Standard ( CVS ) e Pitman-Moore ( PM ), são derivadas da amostra inicial utilizada por Pasteur no século passado. As amostras veterinárias freqüentemente utilizadas são “Street Alabama Dufferin” ( SAD ) ou “Evelyn-Rokitnicki-Albelseth” ( ERA ) ( CELIS et al., 1990; MS/FNS BRASIL, 1995; WHO, 1992 ). FUENZALIDA & PALACIOS, em 1955 ( FUENZALIDA et al., 1955 ), desenvolveram uma vacina, de modo original, inoculando camundongos recémnascidos, e portanto, desprovidos de mielina no sistema nervoso. Assim, diminuíram significativamente, mas não totalmente, as reações adversas graves. Esta ainda é a vacina mais utilizada em todo o mundo, inclusive no Brasil ( WHO, 1992 ). Em 1953, SANDERS, KIEM & LAGUNOFF foram os primeiros a cultivarem o vírus rábico em cultura celular ( SANDERS et al., 1953 ). Em 1960, FENGE ( FENGE, 1960 ) conseguiu a produção de vacina anti-rábica em cultura celular primária de rim de hamster. Esta mesma vacina, com poucas modificações, é utilizada na China, e na antiga URSS. Na China, a amostra viral utilizada é a Beijring e na URSS é a amostra viral modificada Vnukovo-32 ( FANGTAO et al., 1983 ). Convém salientar que as vacinas anti-rábicas produzidas em cultura celular são totalmente desprovidas de mielina e, portanto, não causam acidentes vacinais neuroparalíticos. O vírus rábico foi adaptado em células diplóides humanas, em 1964, por WIKTOR, FERNANDEZ & KOPROWSKI na linhagem WI-38 e, assim, a produção de vacinas utilizando culturas celulares iniciou-se ( WIKTOR et al., 23 1964 ). Em 1970, JACOB, JONES & BAILLE substituíram a linhagem WI-38 por outra linhagem humana a MRC-5, sendo a mais usada atualmente ( JACOB et al., 1970 ). 1.10.1. Vacinas de última geração Vacinas sintéticas de subunidades homólogas ou heterólogas, produzidas por meios bioquímicos e genéticos, são pesquisadas pela produção de peptídeos representativos dos sítios imunogênicos das proteínas G e N do vírus rábico. Uma outra forma de se obter peptídeos imunogênicos, por processos biotecnológicos, de maneira econômica e obtendo produtos com grande pureza, é com o uso de plasmídeos e vetores virais ( DIETZSCHOLD et al., 1987 ). Desde a década de 70, busca-se uma forma eficaz para a vacinação antirábica por via oral. Dois tipos de imunização já foram efetuados, em larga escala, em vários países, para vacinação oral animal. Estas imunizações utilizaram vacinas atenuadas e vacinas produzidas pela tecnologia do DNA recombinante ( THOMAS et al., 1990 ). O custo operacional de uma imunização em massa, de forma oral para animais, ficaria bastante reduzido pois seria desnecessária a inoculação individual e o espectro de espécies vacinadas seria, teoricamente, amplo. Com o uso de iscas, é possível realizar campanhas vacinais objetivando a imunização dos grandes reservatórios naturais da raiva, como os animais silvestres e cães errantes ( WHO, 1992; PASTORET et al., 1995 ). O cDNA do gene N, que codifica a proteína N, foi clonado e expresso, a proteína depois de purificada, foi utilizada para imunizar, intramuscularmente, camundongos que sobreviveram a um desafio com o vírus rábico ( FU et al., 1991 ). A utilização do vírus vaccínia ( poxvírus ) como vetor do gene da glicoproteína G, fez com que esta proteína fosse expressa em células de camundongos. Estes animais foram inoculados intramuscularmente com vírusvaccínia-recombinado com G ( VRG ) e demonstraram indução de linfócitos B que produziram anticorpos neutralizantes e estimulação de linfócitos T 24 citotóxicos ( WIKTOR et al., 1984 ). Em 1991, foi construído um outro vetor a partir de poxvírus de aves ( canaripox ) que expressou a glicoproteína G. A construção de um vetor do gene G, usando um vírus que não infecta mamíferos, resultou em um novo conceito de vacinas. Esta vacina não replica nas células de mamíferos, pois ocorre replicação abortiva, mas mesmo assim, os genes inseridos, como G ou N, são expressos e produzem suas respectivas proteínas por um curto espaço de tempo, sendo suficiente para obter a imunização ( TAYLOR, 1991 ). Entre 1989 até hoje, a Bélgica e a França realizaram, em uma área de 10.000 km2, uma campanha para erradicar a raiva entre raposas e, após a campanha, foi constatado um decréscimo superior a 90 % de animais raivosos. Foi usada a vacina com o vírus vetor vaccínia com a glicoproteína G ( VRG ), de uso oral, adicionada, inicialmente, em pescoços de galinha, usados como isca. Atualmente é utilizado um sistema de iscas vacinais, designado com o nome comercial Raboral ( DESMETRE et al., 1990 ). Na América Latina, a atual situação econômica é um fator que muito limita uma possível imunização de forma oral em grande escala. Calcula-se que um programa de imunização em massa, com vacinas orais, possa ser pago como custo-benefício em aproximadamente sete anos. No Brasil, os dois principais vetores da raiva são os cães e os morcegos. As campanhas de vacinação atuais para a população canina, se feitas com rigor, dão bons resultados, ainda que não atinjam os níveis ideais, pois não são a única maneira de se controlar a raiva em área urbana. O controle de morcegos, principais vetores da zona rural, é feito de modo precário e através de algumas práticas totalmente condenáveis, como explosões de cavernas e uso de pastas anti-coagulantes aplicadas em alguns indivíduos da colônia ( WHO, 1993; CAMPBELL, 1994 ). 1.11. DIAGNÓSTICOS Antes que ocorra a invasão do vírus rábico no sistema nervoso, é possível a vacinação após a infecção, e assim, o seu diagnóstico é de extrema 25 importância para quem tenha entrado em contato com o vírus. O diagnóstico clínico do animal agressor ou do indíviduo infectado é importante em localidades totalmente desprovidas de assistência laboratorial. Entretanto, é difícil, pois o vírus determina manifestações clínicas inespecíficas no período que precede a invasão ao SNC. Há diferentes sintomas, mesmo em indivíduos da mesma espécie. Na avaliação clínica do agredido é importante analisar se o transmissor é espécie de risco, se a região é zona endêmica, como também a gravidade do ferimento ( WHO, 1992; WHO, 1994 ). As técnicas laboratoriais de diagnóstico antemortem são similares as post mortem, mudando o material a ser analisado. O indivíduo vivo, suspeito de infecção, poderá ter sua saliva, bulbo piloso e córnea analisados. As duas últimas estruturas são altamente enervadas e, a primeira, a porta de saída do vírus do hospedeiro. A análise post mortem se efetua no SNC, preferencialmente na região do hipocampo, cerebelo e medula. Em algumas espécies, como morcegos e outros animais silvestres, recomendase a análise das glândulas salivares, devido à falta de conhecimento sobre o tropismo do vírus nestas espécies ( KAPLAN, 1996; CHOMEL, 1993 ). As técnicas laboratoriais devem identificar e isolar o vírus rábico. A metodologia de diagnóstico para a raiva é normatizada pela Organização Mundial da Saúde. O diagnóstico clínico deve ser realizado através de Imunofluorescência Direta, utilizando conjugado antinucleoproteína, seguida de inoculação intracerebral em camundongos. As duas técnicas, quando utilizadas conjuntamente, necessárias oferecem pela alta máxima letalidade sensibilidade da infecção e alta ( específicidade, WHO, 1992 ). A Imunofluorescência Direta é rápida e executada facilmente em duas a três horas. Anticorpos fluoresceína, anti-nucleoproteínas coram amostras marcados positivas, com detectando isotiocianato inclusões de intra- citoplasmáticas, chamadas Corpúsculos de Negri, que são aglomerados de nucleocapsídeos do vírus ( DEAN et al., 1996 ). A inoculação de suspensões do SNC, ou saliva, da pessoa ou animal suspeito de raiva, em camundongos, por via intracerebral, é amplamente utilizada para o isolamento do vírus rábico. Após 26 a inoculação, observa-se os camundongos 21 dias e, todos que morrerem após o quinto dia de inoculação, devem ter seus cérebros retirados e analisados por Imunofluorescência Direta ou deles se preparar uma suspensão, para posteriormente inoculá-la em outros camundongos ( KOPROWSKI, 1996 ). Uma linhagem celular de neuroblastoma murino ( C-1300; clone NA ), por ser muito susceptível à infecção do vírus rábico, é utilizada em laboratórios de grandes centros para isolamento do vírus. Após 48 a 72 horas de efetuada a inoculação do material suspeito, cora-se a cultura celular, como na Imunofluorescência Direta e observa-se a presença de Corpúsculos de Negri nas amostras positivas ( WEBSTER et al., 1996 ). Esta técnica poderá, em um futuro próximo, substituir as inoculações em animais, por seu caráter ético. O isolamento do vírus rábico também pode ser feito pela inoculação de suspensões em células BHK 21 ( RUDD et al., 1987 ), ovos embrionados e outros animais ( KOPROWSKI, 1996). Diagnósticos para identificação do vírus também são realizados através de métodos imunohistoquímicos, utilizando Avidina-Biotina, em alguns laboratórios. Esta técnica é muito importante em estudos de epizootiologia, que necessita de grande número de amostras de campo e conseqüente conservação em formalina para posterior diagnóstico. Neste tipo de pesquisa é inevitável que muitas amostras comecem a se decompor, mas pela grande sensibilidade da técnica, este inconveniente é superado ( WEBSTER et al., 1996 ). A reação imunoenzimática, tipo ELISA, é realizada em alguns laboratórios e existe grande tendência em ser usada amplamente. Atualmente, é muito utilizada em estudos epidemiológicos feitos em campo, pois seu resultado é rápido e constatado facilmente ( BOURHY et al., 1996 ). Técnicas histoquímicas são pouco utilizadas por sua pequena sensibilidade, como a reação de Sellers, usada durante muitos anos, que cora os Corpúsculos de Negri em vermelho ( TIERKEL et al., 1996 ). Reações de contra-imunoeletroforese ( MANZANERO, 1983 ), hemaglutinação e reação de fixação de complemento ( PEREIRA et al., 1970 ), por serem pouco difundidas nos laboratórios de diagnóstico da raiva, não tiveram sua sensibilidade e 27 especificidade suficientemente pesquisadas para serem usadas em rotina laboratorial. A análise de anticorpos para o vírus rábico, no soro ou líquido céfaloraquidiano, também pode ser usada para o diagnóstico antemortem da raiva, desde que o indíviduo nunca tenha sido vacinado contra esta doença. Um fator limitante desta técnica de diagnóstico é a demora na resposta imune-humoral contra o vírus rábico. A titulação de anticorpos neutralizantes, em cultura celular ou camundongos, é importante para se diagnosticar a resposta imune-humoral do indivíduo em tratamento, em sistemas de pré ou pós-exposição ( SMITH, 1996 ), pois diferenças na potência das vacinas de um certo lote produzido, condições de armazenamento, local e número de doses aplicadas, além do próprio genótipo do indivíduo, influem na resposta imune contra o vírus rábico, estimulada pela vacinação, sendo, portanto, necessário que a imunização seja acompanhada laboratorialmente ( SIZARET, 1996 ). Atualmente, também se tem utilizado reações imunoenzimáticas ( ELISA ) para avaliação de títulos de anticorpos neutralizantes (ELMGREN et al., 1996; ESTERHUYSEN et al., 1995). O vírus rábico, até recentemente, somente podia ser identificado com o uso de anticorpos policlonais ou monoclonais, após o isolamento do vírus em cultura de células ou tecidos infectados. A clonagem e seqüênciamento do genoma deste vírus, permitiu o início do uso de técnicas moleculares para seu diagnóstico; o estudo da expressão gênica ( relacionando os elementos genômicos na replicação e transcrição ). Também permitiu a tipificação do vírus, iniciando assim, o estudo da epidemiologia molecular e das relações taxonômicas, dentro do seu gênero e, entre diferentes gêneros. Duas estratégias foram aplicadas para o seqüênciamento do vírus; clonando o RNAm ou o RNA genomico, sendo que, a segunda estratégia permite o conhecimento das regiões intergênicas, relacionando espacialmente os genes com as seqüências não expressas. A clonagem inicia-se com a amplificação do genoma, podendo ser realizada através de RT-PCR. Através de clonagens é possível formar um banco de cDNA que, armazenado, permite a conservação das seqüências genômicas para futuras investigações ( TORDO et al., 1996; SAMBROOK et al., 1989 ). 28 O diagnóstico molecular do vírus rábico é realizado pela demonstração direta da presença do gene N, hibridizando sondas complementares a região alvo através de Dot blot, Northern blot ou Southern blot ou, indiretamente, efetuando a hibridação depois de amplificação através de RT-PCR. Sondas radioativas hibridizadas podem ser detectadas diretamente por autoradiografia, e sondas não radioativas, conjugadas com peroxidase, são detectadas indiretamente por imunoquimioluminescência. A detecção direta do RNA viral por dot blot ou Northern blot não tem suficiente sensibilidade, provavelmente pela degredação do RNA do vírus durante a manipulação da amostra, ou pela quantidade insuficiente de vírus. A observação direta do ácido núcleico em gel de agarose, corado com brometo de etídio, após RT-PCR, não tem suficiente especificidade, pois pode ocorrer migração de bandas inespecíficas junto a banda de interesse, fato comum em amostras altamente degradadas. Entretanto, produtos amplificados e hibridizados, após Southern blot, discriminam bandas específicas e inespecíficas ( SACRAMENTO et al., 1991; TORDO et al., 1996 ). O uso de RT-PCR, devido a sua grande sensibilidade, permite o diagnóstico de amostras em avançado estado de decomposição, e a execução da técnica RT-PCR em diagnósticos antemortem possibilita o diagnóstico precoce da infecção; permitindo o tratamento do indíviduo infectado e profilaxia pós-exposição para os que entraram em contacto com o infectado ou a fonte do vírus ( SMITH, 1996; KAMOLVARIN et al., 1993; ORCIARI et al., 1993 ). O uso conjunto de RT-PCR e sondas genéticas evita os riscos de diagnósticos falsopositivos, pelo aumento da sensibilidade e especificidade ( JACKSON et al., 1991; JACKSON et al., 1989; MAUDRU et al., 1998; WHITBY et al., 1997 ). Os resultados comparativos obtidos para o diagnóstico do vírus rábico pelo uso de RT-PCR ( confirmado através de sondas radioativas ou marcadas com digoxigenina, utilizadas após Dot blot ou Southern blot ), e técnicas de rotina ( Imunofluorescecência Direta, ELISA, ou diagnóstico em culturas de células NA ), são semelhantes. Comparando o tempo de execução das técnicas citadas acima, determinou-se para a Imunofluorescência Direta 2-3 hs.; ELISA 4- 29 5 hs.; PCR seguido de hibridização 18- 20hs. e, diagnóstico em cultura de células 24- 36 hs.. O diagnóstico através de Dot blot de amplificados de RT-PCR é a técnica molecular efetuada com maior rapidez e facilidade e a utilização de sondas não radioativas é mais simples e rápida do que as radioativas, além de possuirem maior estabilidade ( SACRAMENTO et al., 1991 ). A amplificação e detecção in vitro de ácidos nucleicos virais, através de RT-PCR possui sensilbilidade comparável a propagação do vírus em culturas celulares, tendo a vantagem de ser mais rápida e não necessitar da viabilidade do vírus e, assim, a médio prazo, o custo do RT-PCR é vantajoso. As variações das seqüências genômicas são detectáveis através da sua hibridização com sondas, pela especificidade do pareamento das bases nitrogenadas. A associação da amplificação do genoma por RT-PCR e hibridização com sondas genéticas, pode detectar infecções latentes, mesmo na ausência de antígenos específicos e com pequena quantidade do ácido nucleico do vírus. A versatilidade da técnica RT-PCR permite um grande número de aplicações, utilizando-se variações da reação. A técnica de Nested PCR permite o aumento da especificidade e sensibilidade da reação; PCR multiplex amplifica vários segmentos genômicos em uma mesma reação; PCR utilizando primers degenerados possibilita seqüenciar genomas; PCR utilizando primers conjugados a determinados grupos químicos podem sintetizar sondas genéticas e PCR quantitativo permite correlacionar o número de moléculas amplificadas com o número de moléculas utilizadas no início da reação ( SAMBROOK et al., 1989 ). Também utiliza-se RT-PCR para a produção de sondas DNA reveladas por quimioluminescência. Amplificando a região genômica a ser detectada ( alvo ), esta será utilizada como molde na reação de “nick-translation” que dá origem a sonda. Nesta reação corre a incorporação de hexanucleotídeos randômicos, conjugados com digoxigenina, portanto, as sondas são regiões complementares ao alvo, possuindo diversos tamanhos e com digoxigenina incorporada em sua estrutura. Esta reação é polimerizada pelo fragmento de Klenow, que não realiza a síntese de novo, permitindo, assim, a conservação dos hexanucleotídeos 30 conjugados. A sonda é hibridizada ao ácido nucleico alvo após Southern-blot, e a detecção inicia-se com a adição de anticorpo anti-digoxigenina conjugado com fosfatase alcalina. A hibridação é revelada com Lumi-Phos; uma formulação para a detecção imunoquimioluminescente de ácidos nucleicos, contendo LumigenTM ( substrato para fosfatase alcalina ) que, entre outras substâncias, possui fluoresceína. O substrato LumigenTM ao ser defosforilado pela fosfatase alcalina, forma um intermediário instável que emite luz, captada em chapa fotográfica. A tipificação e epidemiologia molecular do vírus rábico são realizadas através de hibridização, enzimas de restrição, RT-PCR e seqüênciamento genômico. A utilização paralela de um painel de anticorpos monoclonais, representativo da área estudada, é de fundamental importância, pois a detecção imunológica é prova diagnóstica confiável. O princípio do diagnóstico epidemiológico do vírus rábico parte da análise comparativa dos dois genotipos mais divergentes do gênero Lyssavirus, o genotipo 1 ( vírus rábico ) e o genotipo 3 ( Mokola ). A área de maior polimorfismo destes vírus é a do pseudogene , região pouco conservada e não codificadora de proteína. Outra região de interesse neste estudo é a do gene G, relativamente pouco conservada. A comparação das regiões conservadas, como a do gene N, entre os diferentes genotipos, são importantes na tipificação por relacionar a distância taxônomica entre os Lyssavirus. A tipificação e epidemiologia molecular em regiões geográficas onde circulam diversas amostras de vírus divergentes é fundamental; o conhecimento adquirido assegura se a amostra vacinal oferece proteção contra as amostras circulantes ( BOURHY et al., 1993; SACRAMENTO et al., 1991 ). A epidemiologia molecular do vírus rábico tem início com a tipificação molecular do vírus, identificando as variantes gênicas de uma região, e associando-as com os possíveis vetores encontrados na área. As divergências encontradas entre as variantes gênicas ocorrem por mutações genéticas, permitindo ao vírus adaptações ambientais, que em última análise, relacionam- 31 se ao hospedeiro. O conhecimento da História Natural dos vetores, associada a tipificação molecular do vírus, é essencial para a obtenção de dados para a prevenção da infecção. Também é possível construir a gênese das variantes genômicas do vírus, associando a seqüência de nucleotídeos com as espécies animais de diversas regiões geográficas; e assim, determinar um quadro de evolução molecular e diversificação do vírus no ecossistema. A árvore filogenética construída para os Lyssavirus possui 6 principais “clusters” genéticos, sugerindo que as regiões genômicas evoluem paralelamente, de acordo com as pressões seletivas locais. A análise compara a variação no tamanho das regiões genômicas e regiões não codificadoras ( BOURHY et al., 1993; TORDO et al., 1996 ). 32 2. OBJETIVOS O objetivo deste trabalho é o diagnóstico do vírus rábico, realizado pela técnica de RT-PCR e hibridação, revelada por imunoquimioluminescência. Em resumo, o trabalho abrange: 2.1. Produção de sonda DNA não radioativa para detecção do gene N ( região conservada ). 2.2. Produção de sonda DNA não radioativa para detecção do gene G ( região variável ). 2.3. Construção de um plasmídeo com inserto do gene da glicoproteína G, para controle e comparação do diagnóstico. 33 3. MATERIAIS e MÉTODOS 3.1. Amostras As amostras clínicas são designadas, conforme normas do Instituto Pasteur, como: 878 M ( bovino ), 963 M ( equíno ), 51 M ( cão ) do ano de 1999; 3959 M ( cão ), 4004 M ( bovino ), de 1997; e 008 M ( cão ) de 1998. As amostras 008 M ( 1998 ) e 51 M ( 1999 ) são negativas e todas as outras são positivas. Todas as amostras acima foram cedidas pelo Instituto, e diagnosticadas por Imunofluorescência Direta e inoculação intracerebral em camundongos. Também foi realizada RT-PCR para a detecção dos genes G e N do vírus rábico, utilizando os primers citados neste trabalho, as seguintes amostras da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia - USP, gentilmente cedidas pelo Prof. Dr. Fumio Honma Ito: M-276/98, T-11/95, IC/94, T-09/95 ( morcegos hematófagos positivos ); M-07/96, M-13/88 ( amostras de bovinos positivos ) e as amostras PV e CVS. Como controles negativos, M-328/98 ( ovino ) e M-49/76 ( bovino ). 3.2. Extração do RNA As amostras clínicas foram preparadas utlizando-se 0,5 g de sistema nervoso maceradas em 1,5 mL de H2O-DEPC e centrifugadas a 2.000g. Em seguida, coletou-se 0,5 mL do sobrenadante para a extração do RNA viral. Procedeu-se a extração do RNA viral utilizando-se 0,5 mL de amostra e adicionando-se TRIzol ( solução monofásica de fenol-isothiocianato de guanidina-GIBCO ). Nas amostras virais fixas, CVS ou PV, congeladas a -70C em alíquotas de 0,5 mL, foram adicionados 0,5 ml. de Trizol, após serem descongeladas em banho de gelo. Após 5 min., seguindo com o protocolo para todas as amostras, foram adicionados 0,2mL de clorofórmio e, após homogeneização em vortex, a mistura resultante foi incubada em gelo, por 5 min. e centrifugada a 12,000g a 4ºC, durante 15 min. Após centrifugação, o sobrenadante obtido da fase superior foi coletado, transferido para outro tubo 34 estéril e precipitado, volume a volume, com isopropanol e, a seguir, incubado em gelo durante 15 min.. A mistura foi novamente centrifugada ( 12,000g por 15 min. ) e o sedimento lavado com 1 mL de etanol ( 75% ), centrifugado a 7,500g a 4ºC, por 8 min.. Finalmente, o sedimento foi seco durante 10 min. e ressuspenso em 25uL de H2O-DEPEC ( dietilpirocarbamato ). A seguir, foi colocado em banho-maria a 60C, durante 10 min., para completa dissolução e armazenado a -70ºC, até o momento de uso. 3.3. Descrição dos oligonucleotídeos iniciadores ( "primers" ) Os primers para os genes G e N do vírus rábico, foram desenhados a partir das seqüências nucleotídicas da amostra PV, obtidas durante acesso ao GeneBank e, produzidos por GIBCO BRL Custom Primers. Chamou-se de N1 e N2 os primers para o gene N, com sentido de polimerização 5´ 3´ e, 3´ 5´, respectivamente. Da mesma forma, chamouse G1 e G2 os primers para o gene G, com sentido de polimerização 5´ 3´ e, 3´ 5´, respectivamente. Abaixo o desenho dos primers N e G. N1: 5´ CAC CTG CAC GGA TCC ATG GAT GCC GAC AAG ATT 3´ N2: 5´ CAC CTG CAC GGA TCC TTA TGA GTC ACT CGA ATA 3´ G1: 5´ CAC CTG CAC GGA TCC ATG GTT CCT CAG GCT CTC 3´ G2: 5´ CAC CTG CAC GGA TCC TCA GAG TCC GGT CTC AC 3´ Legenda do desenho dos primers N1, N2, G1 e G2 : azul, seqüências inespecíficas; negrito, seqüências para cortes com Bam H I e; vermelho, seqüências dos genes G ou N. 35 3.4. Polimerização por Transcrição Reversa ( RT ) Nas reações de transcrição reversa ( RT ), para a obtenção de cDNA, assim como nas de polimerização em cadeia ( PCR ), foram utilizadas ponteiras com filtros e fluxos laminares. Para a transcrição reversa ( RT ) foi utilizado o sistema Super Script RT-PCR ( Gibco-BRL ). Para cada 5L de amostra usou-se; 8L de tampão RT; 12L de H2O-DEPC; 1L RNAsin; 6L dNTPs; 5L de primer 5´ 3´ e, 5L de primer 3´ 5´; 1L de enzima RT e; 4L DDT. A reação foi realizada em termociclador ( MJ Research ) com 1 ciclo de 42°C, em 60 minutos. 3.5. Reação em Cadeia pela Polimerase ( PCR ) Foram utilizados, para esta reação, 0,5 L de Taq DNApolimerase ( Gibco-BRL ); água-DEPC 50,5 L; MgCl2 5L; tampão PCR 10 L; dNTPs 1,25 mM 16l; 5L de primer 5´ 3´ e, 5L de primer 3´ 5´;e, 10L de amostra em cDNA. Os tubos de reação Eppendorff ( 500L ) foram cobertos com 50L de óleo mineral Nujol. A reação de polimerização em cadeia ( PCR ) teve o seguinte protocolo no termociclador: 1 ciclo 94°C Denaturação 5 min. 35 ciclos 94ºC Denaturação 45 seg. 35 ciclos 55ºC Anelamento 45 seg. 35 ciclos 72°C Extensão 1 min. 30 seg. 1 ciclo 72°C Extensão 5 min. Foram submetidos à corrida de eletroforese 10 L das amostras dos produtos amplificados, em gel de agarose (Gibco BRL), a 1% ( w/v ), contendo 0,5 g / ml de brometo de etídio ( Etd Br-Sigma ) em tampão TBE ( 89 mM - Tris 36 HCl; 89 mM H3BO3; 2 mM Na2 EDTA; pH 8,3 ) durante 45 minutos à 100 volts, visualizados sobre transluminador de U.V., sendo os resultados comparados aos controles positivos e negativos, e aos marcadores de peso molecular, com 100 pb. ( Gibco BRL ) ou 1 Kb ( Bethesda Research Laboratories ). Os resultados em géis de agarose foram fotografados digitalmente em equipamento Eagle Eye ( Stratagene ). 3.6. Construção do plasmídio pSHG 3.6.1. Plasmídeo pSH O vetor pSH, com 5900 bp e AmpR ( VENTURA et al., 1993 ) foi escolhido para a clonagem do gene G, sendo gentilmente cedido pelo Prof. Dr. Armando Ventura ( Depto de Microbiologia, ICB III ), que também orientou os procedimentos de clonagem e transfecção do mesmo ( figura 2 ). 37 3.6.2. RT-PCR com polimerase DeepVent O gene G do vírus rábico foi amplificado para a clonagem por RT-PCR a partir da amostra PV, e utilizou-se a polimerase DeepVent ( New England Biolabs), com o mesmo protocolo do RT-PCR para Taq polimerase. 3.6.3. Purificação por Eletroeluição Após confirmação da amplificação em gel de agarose, retirou-se o amplificado do gel, recortando-o com bisturi, isolando-o de bandas espúrias. Em seguida, o fragmento foi colocado em saco de diálise com TBE ( 0,5% ) e realizou-se eletroeluição em cuba eletroforética a 100 volts, durante 1 h. Em seguida, foi invertida a corrente elétrica durante 2 min., dissociando o DNA eletroeluído da membrana de diálise. Em um Becker, com 500 mL. de TE ( 1 mL EDTA 0,5M; 5mL Tris 1M pH 8; 500 mL de H2O Milli-Q ), sobre agitador magnético, realizou-se a troca dos tampões TBE por TE, por agitação. Após duas trocas de tampão, sendo 20 min. cada uma, retirou-se cuidadosamente o fragmento do gel de agarose do interior do saco de diálise, medindo-se o conteúdo líquido no interior da membrana, no qual a seqüência do gene G encontrava-se. Em seguida, a amostra G foi purificada pelo método do fenolclorofórmio e ressuspessa em 20 L de TE ( SAMBROOK al., 1989 ). 3.6.4. Preenchimento das extremidades dos amplificados Foi realizado o preenchimento ( "feel-in" ) das extremidades do amplificado do gene G, com T4 polimerase, conforme o seguinte protocolo do produtor ( New England, Biolab ): gene G, 15 L; dNTP, 8 L; enzima T4 polimerase, 1 L; tampão T4, 1 L; 0,1% BSA, 3 L. A reação ocorreu em 1h. e a 37°C. 38 3.6.5. Linearização e defosforilação do vetor A linearização do vetor pSH foi realizada em seu sítio de restrição Bam H I, conforme protocolo do fabricante. Foi utilizado; pSH, 3L; H2O, 23L; Bam H I ( GIBCO ), 1L; tampão Bam H I 1L. A reação foi realizada durante 2h. a 37°C. Em seguida, realizou-se a defosforilação do vetor pSH linearizado com CIP ( fosfatase alcalina intestinal, New England, Biolab ), conforme protocolo do fabricante: adicionou-se 1L de CIP no tubo onde ocorreu a linearização, em 1h. e a 37°C. Após as etapas anteriores, purificou-se o vetor pSH, através do método fenol-clorofórmio e, em seguida, foi ressuspenso em10L de H2O MilliQ. 3.6.6. Formação de extremos coesivos no inserto G O amplificado do gene G, tendo em suas extremidades sítios de restrição para Bam H I, teve que ser digerido para a formação de extremos coesivos, para a ligação clone-vetor, utilizando a referida enzima, da mesma forma que foi utilizada com o vetor pSH. Em seguida, purificou-se o inserto G através do método fenol-clorofórmio, que foi ressuspenso em 10L de H2O Milli-Q. 3.6.7. Ligação clone-vetor Utilizou-se a enzima T4 DNA ligase ( New England, Biolab ) para a ligação inserto-vetor, conforme protocolo do produtor a seguir: pSH linearizado e defosforilado ( com extremos coesivos ), 1L; inserto G com extremos coesivos, 2L; T4 DNA ligase, 0.5L; tampão ATP ligase 10X, 1L; H2O Milli-Q, 5.5L., e a reação ocorreu em 12h. a 16°C. 39 3.6.8. Preparo das bactérias competentes Utilizou-se células DH5-, linhagem bacteriana de Escherichia coli, supE44 alc U 169 ( 80 lac Z M 15 ) nsd R 17 rec A1 end A1 gyra 96 thi-rel A1 ( New England, Biolabs ), com marca para Tetraciclina. Colônias bacterianas mantidas refrigeradas em meio LB sólido ( Triptona, 1%; extrato de levedura, 0.5%; NaCl, 0.5%; agár, 1.5%; Tris pH 7.4, 10mM; MgSO 4, 1mM ), foram propagadas em meio LB líquido, em estufa rotatória a 37°C, por 2h., e, atigindo a fase log de crescimento, efetuou-se o método do Cálcio-Rubidio ( SAMBROOK et al.,1989 ), para a obtenção de células competentes. 3.6.9. Transformação bacteriana A cultura celular DH5- competente foi transformada pela adição de 5 L do plasmídeo pSH-G ( pSH ligado ao inserto G ), através de eletroporação, utilizando cuvetas "Gene Pulser/E.coli" ( BIO-RAD ), conforme instruções do fabricante. Após a eletroporação, as células foram reparadas em meio SOC ( SAMBROOK et al.,1989 ), e em seguida semeadas em placas de cultura para bactérias, em meio LB-sólido Ampicilina/Tetraciclina ( 50 g/mL ), para a seleção das células transformadas, durante 24 horas em estufa de CO 2, a 37°C. Da eletroporação obteve-se 37 colônias, expandidas com meio LB líquido Ampicicilina/Tetraciclina, em estufa rotatória durante 12h., a 37°C. 3.6.10. Extração do DNA plasmideal e Análise de Restrição Utilizando um "kit" ( Nucleon Mip, Amersham Life Science ), foi extraído o DNA plasmideano ( "miniprep" ), das 37 colônias expandidas em meio LB líquido, conforme protocolo de extração e purificação do fabricante. Após a obtenção do DNA plasmideano, foi realizada análise de restrição, com a enzima Bam H I, nas culturas celulares, para a comprovação da presença do gene G, e em seguida, análise de restrição com as enzimas de restrição Bam H I e Hind III, para a detecção da orientação do inserto G no vetor pSH. Confirmada a 40 orientação correta, inoculou-se as colônias, com o inserto G na orientação correta, em meio LB líquido Ampicilina/Tetraciclina, que foram propagadas em estufa rotatória por 12 horas, para a obtenção de DNA plasmideano em média escala ( med-prep ), conforme protocolo descrito a seguir. As células, das colônias selecionadas pela análise de restrição, foram inoculadas na proporção de 1/100 em 250 mL de meio LB com 100 g/mL de Ampicilina/Tetraciclina e, novamente incubadas, por uma noite, sob agitação a 37°C. Em seguida, as células foram centrifugadas a 6000g, por 15 min., a 4°C e, o sedimento ressuspendido em 15 mL de solução I, contendo 5 mg/mL de lisozima. A suspensão foi mantida a temperatura ambiente por 10 min. e em seguida, adicionou-se 15 mL de solução II. Após incubação no gelo por 10 min., adicionou-se 15 mL de solução III, misturando-se com cuidado. O material foi mantido no gelo por 20 min. e centrifugado a 6000g por 15 min. a 4°C. O sobrenadante foi transferido para outro tubo (antes, porém, o líquido foi filtrado utilizando-se uma gaze estéril), adicionou-se 0,6 volumes de isopropanol e deixou -se a temperatura ambiente por 1 h. para precipitar o DNA. O material foi, então, centrifugado a 8000g por 15 min., o sedimento ressuspendido em 2,5 mL de tampão TE e transferido para um tubo Corex de 15 mL. As proteínas foram precipitadas pela adição de 2,5mL de NaH4Oac ao material que foi homogeneizado e incubado no gelo por 20 min.. Após este período, procedeu-se à centrifugação por 15 min. a 8000g a 4°C. O sobrenadante foi transferido para outro tubo Corex, adicionou-se 2 volumes de etanol 95% e incubou-se a –20% por 30 min.. O material foi centrifugado a 8000g por 15 min., o sedimento dissolvido em 0,7 ml. de tampão TE e transferido para um tubo Eppendorf. Adicionou-se 0,5 L de uma solução de Rnase a 20 mg/mL e incubou-se a 37°C por 15 min.. A seguir, adicionou-se 300L de uma solução de NaCL 5M e 250 L de PEG30%NaCl 1,5M sendo o material incubado por 30 min. no gelo. Procedeu-se a centrifugação por 15 min. a 14000g a 4°C. O sedimento foi ressuspendido em 0,2 mL de tampão PK 2X ( 20mM Tris-HCl, pH 8,0; 10mM EDTA; 1% SDS ) e 10L de proteinase K ( 20 mg/mL ),sendo em seguida incubado a 37°C por 30 min.. O material foi tratado com fenol e centrifugado a 41 14000g por 15 min. para separar as fases. À fase resultante, adicionou-se acetato de potássio 3M para atingir uma concentração de 0,3M, seguindo-se à adição de 2 volumes de etanol absoluto e incubação a –20°C por 30 min.. O sedimento foi coletado por centrifugação, lavado com 1mL de etanol 70% e ressuspendido em tampão TE. A concentração do DNA plasmideal foi determinada por espectrofotometria, medindo-se a absorbância em 260nm ( Sambrook et,1989 ). O DNA obtido foi congelado a -70°C para ser utilizado no momento adequado. 3.7. Reação de Seqüenciamento Automático Para a reação de seqüenciamento automático do gene G, inserto em pSH-G, utilizou-se BigDyeTM terminator – cycle sequencing ready reaction – Applied Biosystems – Perkin Elmer, conforme descrito a seguir. Foi utilizado o DNA do gene G presente em pSH-G, obtido após reação de PCR. Após eletroforese do produto de PCR, recortou-se do gel de agarose a banda de interesse, onde encontrava-se o amplificado do gene G, e efetuou-se a extração do DNA do gel utilizando-se o “kit” ConcertTM Rapid Gel extraction System ( GibcoBRL ), conforme protocolo do fabricante. A reação de seqüenciamento foi executada seguindo as normas do fabricante. Para cada reação: Reagentes Terminator ready reaction Mix Produto de PCR Primer G1 e G2 Água deionizada Quantidade 4 L 30-90 ng 3.2 pmol ( para cada primer ) q.s.p. 10 L Após homogeneização, a mistura foi levada ao termociclador com o seguinte programa: 25 ciclos 96 C por 10 segudos 50 C por 5 segundo 60 C por 4 minutos 42 Após a amplificação, o DNA foi purificado por filtração em coluna, utilizando-se Spin column – Centri-StepTM FROM Princeton Separations ( P/N CS-901 ), conforme descrito a seguir: Após hidratação da coluna, por no mínimo 2 hs., a amostra foi aplicada cuidadosamente na superfície do gel ( após todo o líquido de hidratação ter sido retirado ). A coluna, acoplada a um tubo tipo Eppendorf , foi centrifugada a 730g por 2 min., sendo a seguir descartada. A amostra coletada no tubo foi seca em speed vacumm por 15 min.. Após a secagem, a amostra foi ressuspendida em 10 L de tampão formamida EDTA, aquecida a 95C por 2 min. e imediatamente resfriada em gelo. Foram adicionados 1,5 L de cada amostra em cada orifício do gel de poliacrilamida 5,5% e a eletroforese foi realizada no equipamento ABI Prism 377 DNA sequencer. Após a corrida, as seqüências geradas foram analisadas pelos programas do equipamento. Analisadas as seqüências, foi comprovado que a seqüência do gene G é presente em pSH-G. 3.8. Construção das sondas G e N marcadas com digoxigenina Foram utilizados o sistema "DIG DNA Labeling Kit" (BOEHRINGER MANNHEIM ), para a produção das sondas G e N, através do protocolo abaixo. O gene N foi obtido amplificando-se por RT-PCR a amostra PV, e o gene G, amplificando-se o gene G inserto no vetor pSH-G. Foram adicionados 2 L da amostra do gene G, para a construção da sonda G, e 2L do gene N, para a construção da sonda N, em 15L de àgua Milli-Q, seguida de fervura a 100°C durante 10 min., denaturando o DNA. Em seguida, resfriou-se rapidamente em gelo-seco-álcool, impedido a reorganização do DNA. Descongelou-se o produto acima e foram adicionados 2L de hexanucleotídeos ( dUTP ), 2L de dNTPDIG e 1L de enzima Klenow. A reação foi realizada a 37°C por 12 horas. Após este período, o produto da reação foi diluído em 150L de TE, adicionando-se o diluido em colunas spin, com carga positiva, centrifugando a 2000g. Ressuspendeu-se o produto ( DNA marcado com digoxigenina ) em 30L de água Milli-Q. 43 3.9. Hibridação pelo Southern blot e detecção pela quimioluminescência A hibridação do DNA marcado sobre fragmentos alvo amplificados, ocorreu sempre em etapas sob agitação constante e à temperatura ambiente, iniciando-se com a denaturação dos produtos da reação RT-PCR, na qual o gel foi mantido em tampão denaturante ( 0,5N NaOH; 1,5 M NaCI ) durante uma hora, neutralizados em solução ( 0,5 M Tris-H Cl; 1,5 M NaCI; pH 7,5 ) por 30 min. e transferidos durante 60 min. para membrana de nylon com carga positiva ( BOEHRINGER MANNHEIM, Mannheim, W.Germany ), utilizando-se tampão 20 X SSC ( 3 M NaCI; 0,3 M Citrato de Sódio; pH 7,0 ) sobre a cuba a vácuo Vaccum Blotter ( BIORAD Labs. ), montada segundo instruções do fabricante. Após dois ciclos de imobilização do produto, com radiação UV em aparelho Ultraviolet Cross Linker ( AMERSHAM International plc, Littie Chelfont, Bucks, England, UK ), a membrana foi pré-hibridizada em tampão 5 x SSC; 0,02% (w/v) SDS; 1% ( w/v ) de reagente de bloqueio ( BOEHRINGER Mannheim ) ] por 2 hs., a 60°C, e hibridizada, utilizando o tampão anterior acrescido de uma sonda marcada pela digoxigenina, para uma concentração final de 10 pmol / ml., em Sistema Hybridization Oven/Shaker ( AMERSHAM, International ), em tubos tipo "roller" durante 9 hs., a 60°C como fator de estringência. No fim deste período, a membrana foi mantida em solução de bloqueio [ ( 100 mMTris-HCI; 150 m M NaCI; 2% ( w/v ) de reagente de bloqueio; pH 7,0 ) ] por 2 hs. e substituída por tampão de lavagem ( 100 m M Tris-HCI; 150 m M NaCI ) durante 2 min.. A seguir, por solução de bloqueio acrescentada de conjugado anticorpo antidigoxigenina-fosfatase alcalina ( antidigoxigenin-AP Fab fragments- BOEHRINGER Mannhelm ), para concentração de 250 mU/mL, por 30 min.; tampão de lavagem, por duas vezes de 15 min.; e em tampão de equilíbrio ( 100mM Tris-HCI; 100 mM NaCI; 50 mM Mg Cl2; pH 9,5 ) por 5 min.. A detecção prosseguiu adicionando-se 1 mL de LUMI-PHOS 530 ( BOEHRINGER Mannhelm ) sobre a membrana, intercalando-a entre folhas de acetato, mantendo a 37°C, por 30 min. e exposta a um filme X - OMat AR ( 44 EASTMAN KODAK CO., Rochester, N.Y. ) por período variável ( 01 a 04 min. ), e revelando em câmara escura. 45 4. RESULTADOS Após a extração do RNA viral, realizou-se RT-PCR com os primers G1 e G2 e a polimerase Taq; para a amplificação do gene G, da glicoproteína G do vírus rábico. Usou-se as amostras PV e CVS, e os resultados, como mostra a figura 3, foram positivos. Continuando com as amplificações genômicas, agora utilizando as polimerases Taq e DeepVent, amplificou-se por RT-PCR o mesmo gene G, da amostra PV ( a figura 4 mostra as amplificações positivas ). Após a obtenção do amplificado do gene G com a polimerase Deep Vent, foi realizada a eletroeluição do mesmo, retirando a banda espúria, observada nas figuras 3 e 4. O resultado da eletroeluição pode ser visto na figura 5, onde nota-se a ausência de banda espúria. 1 2 3 4 5 6 7 1600 bp Bandas espúrias 400 bp Figura 3: Gel de agarose com amplificação do gene G, com Taq polimerase. Canaletas 1 e 2, amostra PV; 3, amostra CVS; 4 e 5, controles da reação ( H 2O ); 6, linha vazia e; 7, peso molecular 100 bp. 46 1 2 3 4 5 Bandas espurias 400 bp Figura 4: Gel de agarose 1%, para confirmação de PCR do gene G, da amostra PV, utilizando as enzimas DeepVent e Taq polimerase. Em 1 e 2, DeepVent positivo e controle negativo, respectivamente. Em 3 e 4, Taq pol positivo e controle negativo, respectivamente. Peso molecular: 100 bp. 1 2 1600 bp Figura 5: Gel de agarose mostrando o gene G, obtido por RT-PCR, utilizando a enzima DeepVent, após eletroeluição, para retirada de banda espúria ( 400 bp ). Em 1, peso molecular 1 Kb; e em 2, o gene G. 47 Tendo obtido o amplificado do gene G, para o inserto do mesmo no plasmídeo pSH, foi realizado "feel-in" no inserto G; e "feel-in", linearização e defosforilação do plasmídeo pSH. Na figura 6, podemos observar a linearização de pSH. Notar pSH linearizado situando-se abaixo do controle não linearizado. 1 2 3 4 1600 bp Figura 6: Gel de agarose confirmando linearização de pSH. Em 1, G após “feel-in”; 2, pSH linearizado com Bam H I; 3, peso molecular 1Kb; 4, pSH não linearizado como controle. Após o preparo do vetor pSH e do inserto G, foi realizada a transformação das células DH5 competentes, por eletroporação, após “mini-prep”. Nas colônias transformadas foi realizada análise de restrição, com as enzimas Bam H I e Hind III. A figura 7 mostra o resultado após digestão com Bam H I de colônias transformadas com pSH-G e, portanto, com o inserto G retirado do plasmídeo. A figura 8, mostra a análise de restrição com Bam H I e Hind III, efetuada em uma das colônias obtidas com o inserto G na orientação correta. 48 1 2 3 P 4 5 6 7 Inserto G Figura 7: Gel de agarose mostrando 7 colonias ( 1 a 7 ) com inserto G, após digestão com Bam H I. O peso molecular ( P ) 1Kb. A B C 1 2 3 4 Figura 8: Gel de agarose mostrando análise de restrição com Bam H I e Hind III. Em A2, pSH sem o inserto G; em A3, inserto G retirado de A2. Em B1, pSH sem o fragmento de 122 bp, retirado por Hind III; em B4, fragmento de 122 bp ( perdido durante a eletroforese ). Em C peso molecular 1 Kb. 49 Sendo confirmada, por análise de restrição, a obtenção das células transformadas, o plasmídeo passou a ser chamado pSH-G. Após propagação das células transformadas, foi realizado "med-prep", obtendo-se quantidade adequada de pSH-G, posteriormente usado no controle de RT-PCR, como citado nos objetivos. Em seguida, foi realizado o seqüênciamento do gene G inserto em pSH-G. O resultado do alinhamento ( anexo 1 ), indica a concordância entre as seqüências do gene G, da amostra PV, com a seqüência nucleotídica do gene G clonado, a partir da amostra PV, e inserto em pSH-G. Somente a primeira metade do gene foi seqüenciada. Na amostra PV, o gene G tem ínicio na posição 3321 nt, terminando na posição 4893 nt. Foi seqüenciado 714 nt, de um total de 1572nt. O resultado do seqüenciamento tem início na posição 15 nt e termina na posição 729 do gene G. Comparando as seqüências, nota-se algumas mutações pontuais ( em 7 posições ), e alguns nucleotídeos não detectados na reação. Após o seqüenciamento iniciou-se a produção das sondas N e G, descrita em Material e Métodos, e após as reações confirmou-se a produção das mesmas, como pode ser visto nas figuras 9 e 10. 1 2 Figura 9: Imagem obtida por imunoquimioluminescência, comprovando a produção da sonda G. Observar faixa mais escura na região da seta. Em 1 e 2, mesmas amostras em duplicata. Figura 10: Imagem obtida por imunoquimioluminescência, comprovando a produção da sonda N. Observar faixa mais escura. 50 Após a construção das sondas N e G, passou-se à detecção de amplificados dos genes G e N, por RT-PCR, seguido de hibridização. A figura 11 mostra a sonda G detectando o inserto G, de pSH-G. A figura 12, mostra a detecção, através da hibridização da sonda G, do gene G, presente na amostra clínica 3959 M. Figura 11: Detecção do gene G ( observar a seta ), presente no inserto G em pSH-G, hibridizada com a sonda DNA G, através de imunoquimioluminescência Figura 12: Detecção do gene G, na amostra clínica 3959 M, através da sonda DNA G, por imunoquimioluminecência Em seguida, passou-se à detecção do gene N, através de RT-PCR e hibridização com a sonda N. As amostras clínicas 4004 M e 3959 M, foram detectadas através de RT-PCR e imunoquimioluminescência, como podemos observar nas figuras 13, 14 e 15. 51 1 2 3 4 Figura 13: Detecção por imunoquimioluminescência, através da hibridização da sonda N, dos genes N, na amostra PV ( 1 ), e nas amostras clínicas 963 M ( 2 ); 4004 M ( 3 ); e 3959 M ( 4 ). 1 2 3 4 5 6 7 1600 bp Figura 14: gel de agarose com produtos de RT-PCR. Em 1, peso molecular 100 bp; em 2, amostra PV ( controle positivo para G ); em 3, amostra 51 M ( controle negativo para G ). Em 4 e 6, amostra 4004 M, teve amplificado os genes N e G ( pouco visível ), respectivamente; e em 5 e 7, amostra 3959 M, amplificou os genes N e G, respectivamente. 1 2 3 4 1600 bp Figura 15: gel de agarose com produtos RT-PCR. Em 1, amplificação do gene G, por PCR, da amostra 4004 pouco visível na figura 14. Em 2 peso molecular 100 bp.. Em 3 e 4, amplificação do gene N, das amostras 878 M e 008 M, respectivamente 52 5. DISCUSSÃO A produção das sondas genéticas não radioativas apresentadas neste trabalho partiu do interesse em oferecer um método alternativo para o diagnóstico do vírus rábico. A premissa assumida foi a produção de um material de baixo custo, fácil manipulação, alta sensibilidade e específicidade. A hibridação quando realizada em produtos amplificados por RT-PCR, que possui grande sensibilidade, aumenta ainda mais a sensibilidade desta técnica e confere alta específicidade ao diagnóstico ( TORDO, 1996; SACRAMENTO 1991 ). O vírus rábico, devido a sua letalidade, deve ser detectado com rapidez e segurança e, para isto diversas técnicas são utilizadas ( BOURHY et al., 1989 ). A Imunofluorescência Direta é a técnica preconizada pela OMS, devido a sua rapidez, simplicidade e sensibilidade ( BOURHY et al., 1990 ). Entretanto, esta técnica apresenta alguns inconvenientes como o custo e necessita de prova complementar do seu resultado, como a inoculação em camundongos ( WHO Expert Committee on Rabies, Eighth Report, 1992 ). As técnicas moleculares para detecção do genoma viral, baseados na hibridação com sondas genéticas e na reação em cadeia pela polimerase ( RTPCR ), vem contribuindo de maneira irrefutável para o aumento de específicidade e sensibilidade de detecção do vírus rábico. A técnica de RT-PCR oferece sensibilidade, tempo reduzido para obtenção de resultados e custo compatível com outras metodologias ( TORDO et al., 1996 ). A RT-PCR possibilita também determinar diferenças geográficas entre as amostras virais, possibilitando estudos de epidemiologia molecular ( BOURHY et al., 1993 ). Utilizou-se a amostra PV ( Pasteur Virus ) para a produção das sondas G e N, por ser esta uma amostra vacinal utilizada em todo mundo ( WHO Expert Committee on Rabies, Eighth Report, 1992 ) e, teoricamente, possui características genotípicas semelhantes a um grande número de amostras de vírus circulantes. O gene N do vírus rábico, por ser conservado, é o alvo de escolha para o diagnóstico de amostras virais circulantes. O gene G, sendo 53 pouco conservado entre as diferentes amostras do vírus rábico, como também o é entre os Lyssavirus, não possui valor diagnóstico mas, facilita o estudo epidemiológico do vírus, pois sua variabilidade permite detectar diferenças entre as amostras circulantes ( BOURHY, 1993; SACRAMENTO, 1991 ). A detecção de diferenças genotípicas pode promover o controle genético de cepas vacinais representativas, pois a glicoproteína G do vírus rábico é a única que induz a formação de anticorpos neutralizantes ( SACRAMENTO et al., 1992 ). O interesse em se construir o plasmídeo pSH-G partiu da necessidade de um controle positivo para o RT-PCR do gene G, para análise epidemiológica. A utilização da polimerase DeepVent, para a clonagem do gene G, deve-se ao fato desta enzima diminuir a taxa de mutações pontuais que possam vir a ocorrer durante as amplificações. Esta enzima possui uma região com função de correção exonucleásica 3´ 5´, não existente na enzima Taq polimerase e, assim, a possível troca de nucleotídeos durante a incorporação destes durante o ciclo de extenção na polimerização em cadeia, tem maior probabilidade de ocorrência. Apesar da enzima DeepVent oferecer a vantagem da correção exonucleásica, o seqüenciamento mostrou sete mutações pontuais quando a seqüência da amostra PV clonada foi comparada com a seqüência do vírus PV realizada por Tordo et al. ( TORDO et al., 1986 ). Essas mutações provavelmente são de nossa amostra PV, devido as várias passagens em células BHK 21. Apesar de não ter sido realizado o seqüenciamento total do gene G inserto em pSH-G, obtivemos um fragmento com tamanho esperado após a análise de restrição efetuada. A capacidade de detecção do vírus rábico em amostras clínicas pode ser aumentada com o uso de uma segunda amplificação, utilizando a técnica de “nested PCR” ( KAMOLVARIN et al., 1993 ). Contudo, essa técnica apresenta a desvantagem de um grande consumo de tempo para ser realizada, além de aumentar consideravelmente os riscos de obtenção de resultados falsopositivos, devido a contaminação do DNA. O uso da técnica de imunoquimioluminescência pelo método de “Southern-blot”, utilizando as sondas marcadas com digoxigenina, resulta em sensibilidade e específicidade 54 comparaveis ao “nested PCR”, mostrando-se no mínimo 100 vezes mais sensível do que uma única amplificação por RT-PCR ( DURIGON et al., 1994; HOLTKE et al.,1992 ). A maior vantagem, contudo, é em relação ao controle de contaminação no laboratório, pois com a hibridação com a sonda marcada, não existe a necessidade de se fazer uma segunda amplificação para se obter a sensibilidade e específicidade desejada. Uma opção para o uso das sondas marcadas com digoxigenina, será uma reação de hibridação “in situ”, diretamente no material clínico ( JACKSON et al., 1989; JACKSON et al., 1991 ), utilizando as sondas G e N como uma alternativa ao método de RT-PCR. Este método poderia ser uma alternativa bastante útil ao RT-PCR nos processos de diagnóstico aonde as provas de PCR possam ser muito onerosas ou os riscos de contaminação bastante acentuados. Acreditamos que a produção de sondas genéticas não radioativas para a detecção dos genes G e N, vem referendar a importância do desenvolvimento de novos métodos moleculares para o diagnóstico rápido das infecções por vírus rábico. 55 6. CONCLUSÃO 6.1. As sondas G e N produzidas e marcadas com digoxigenina, ao serem utilizadas para a detecção de produtos amplificados pela reação de RT-PCR, mostraram ter sensibilidade e específicidade. 6.2. A utilização das sondas G e N pode ser uma alternativa para o diagnóstico da raiva. 6.3. A construção do plasmídeo pSH-G foi de grande utilidade, servindo como controle para as reações de RT-PCR. 56 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BAER, G. M. Rabies Virus. In: FIELDS, B. N.; ed. Virology. New York: Raven; 1133-1156, 1985. BAER, G. M.; BELLINI, W. J.; FISHBEIN, D. 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