NOTAS DE ÁULA OSCILADORES ELETRÔNICA 4 Estas notas de aula não tem finalidade comercial, se destinam apenas a reduzir o trabalho de cópia do aluno durante as aulas (indica-se manter em cada aula, cada aluno a sua cópia) É importante perceber que este material NÃO esgota o que o aluno deve ler durante o curso, nem mesmo substitui a participação em sala de aula, devendo ser encarado apenas como material de apoio. Uma lista de exercícios deverá ser entregue ao representante de sala para ser distribuída a todos os alunos, salientando que os exercícios das provas poderão ser baseados nos mesmos, mas não obrigatoriamente os mesmos. Documentos de Referência: Dispositivos Eletrônicos e Teoria de Circuitos - Boylestad Fundamentals of Microelectronics- Behzad Razavi – Malvino, A.P. ELETRÔNICA Apresentação -PUC/SP - Engenharia Elétrica - Prof. Marcello Bellodi 46 2. OSCILADORES 2.1 DEFINIÇÃO É todo circuito que possui a propriedade de fornecer um sinal alternado (CA), a partir de uma tensão contínua (CC) de alimentação. É importante frisar que este tipo de circuito não converte tensão CC para CA, e sim fornece um sinal alternado como resultado de certos fenômenos que serão abordados a seguir. A tensão CC deve ser aplicada como alimentação do circuito, apenas como polarização dos componentes envolvidos. Pode-se dividir os osciladores em dois grandes grupos: 2.1.1 Osciladores harmônicos São aqueles que geram onda senoidal: RC – utilizam resistores e capacitores na sua rede de realimentação e são aplicados em circuitos que necessitam de sinais de freqüências mais baixas. Ex.: Duplo T, Ponte de Wien, de Defasagem. LC – utilizam indutores e capacitores na sua rede de realimentação e são aplicados em circuitos que necessitam de sinais de freqüências mais elevadas. Ex.: Colpits, Hartley, Armstrong, Clapp. Cristal – utilizam cristais de quartzo para gerar sinais com valores de freqüência altamente estáveis. 2.1.2 Osciladores não-harmônicos São aqueles que geram ondas não senoidais (quadrada, triangular, pulsos, etc...). Esses osciladores possuem como célula básica o oscilador de relaxação que gera sinais do tipo dente-de-serra, possibilitando a obtenção das outras formas de onda. Dentre as inúmeras aplicações, pode-se citar as seguintes: Telecomunicações: fonte de freqüência portadora em transmissores e receptores de rádio (AM, FM), TV, radar, etc; Medição e equipamento: geradores de varredura, geradores de áudio, RF, etc; Áudio: polarização para gravação, servo controles para toca discos; Sistemas digitais: geração de base de tempo (clock); 47 Circuitos eletrônicos em geral: clock para timmer, controles seqüenciais, alarmes, etc. Os osciladores senoidais representam a maior parte das aplicações em eletrônica analógica, o que justifica o detalhamento do princípio básico de funcionamento deste tipo de estruturas. 2.2 OSCILADORES SENOIDAIS Em sistemas de rádio, osciladores senoidais geram a freqüência da portadora de transmissores e alimentam estágios misturadores que convertem sinais de uma freqüência para outra. Numa extensão pequena, mas crescente, essas aplicações podem também serem desempenhadas por osciladores de onda quadrada e sintetizadores, mas para maior parte de aplicações, osciladores senoidais são fontes de sinais bastante econômicas. Basicamente, os osciladores senoidais são circuitos que, através de amplificação e realimentação, dão uma onda senoidal de saída. Seu elemento ativo é normalmente um simples transistor, AMP-OP ou FET e a freqüência de operação é determinada por um circuito sintonizado (ou um cristal pizoelétrico) na malha de realimentação. Existem muitos tipos de circuitos osciladores, alguns fatores que entram na escolha de um circuito oscilador para uma aplicação particular inclui: 1. Freqüência de operação; 2. Potência de saída; 3. Estabilidade de freqüência; 4. Estabilidade da amplitude da onda de saída; 5. Pureza da forma de onda; 6. Probabilidade de não ocorrer outros modos de oscilação. O que faz um circuito oscilar? O critério para oscilação pode ser estabelecido em várias rigorosas e equivalentes formas. Primeiro, um oscilador contém um elemento ativo de duas portas devendo possuir uma malha de realimentação por onde parte do sinal de saída é aplicado na entrada. Se o sinal de realimentação é maior que, e está em fase com a entrada, oscilações começam e crescem em amplitude até que a saturação reduza o ganho através da malha de realimentação para a unidade. Portanto, critério um é aquele que o circuito oscila quando a malha de realimentação está presente, provendo no mínimo um ganho de realimentação igual a unidade de deslocamento de fase igual a zero. TEORIA BÁSICA DA OSCILAÇÃO SENOIDAL O diagrama de blocos apresentado a seguir mostra um amplificador que possui um ganho “A”, e uma rede de realimentação com ganho B dependente da 48 freqüência. A saída VS fornece a tensão senoidal gerada pelo oscilador. O oscilador pode iniciar sua oscilação a partir dos passos a seguir: Figura 2.1 – Amplificador e rede de realimentação Primeiramente, supõe-se as chaves “S1” e “S2”abertas e a saída VS = 0. Ao fechar a chave “S1”, aplica-se uma tensão de excitação (na entrada), então, instantaneamente tem-se: VS A VE VR A B VE Fechando a chave “S2” e abrindo “S1”, VR é aplicada na entrada do amplificador. Para que a tensão de saída não varie em relação ao passo anterior, é necessário que: VR VE Neste caso, duas condições devem ser observadas, os chamados “Critérios de Brakhausen”: 1) O ganho de malha fechada deve ser igual a um A B 1 2) A defasagem total da malha deve ser igual a 0 0, ou seja, se o amplificador for inversor, a rede de realimentação também deve defasar 180 0. Se o primeiro critério não for observado, ocorrerá o seguinte: AB 1 A B VE VE Figura 2.2 – Produto A.B > 1 AB 1 A B VE VE Figura 2.3 – Produto A.B < 1 49 A tensão de entrada por ser apenas utilizada na “ignição” do sistema, é chamada de “tensão de partida”. Na prática, a utilização de uma tensão de partida é inviável, pois exigiria circuitos ou equipamentos extras para obter as oscilações. O que realmente acontece é que os osciladores utilizam a tensão de ruído inerente a qualquer circuito eletrônico como tensão de partida. A tensão de ruído apresenta uma composição harmônica muito rica, ou seja, é composta pela somatória de infinitas senoides de freqüências diferentes e amplitudes muito pequenas. Como já foi mencionado anteriormente, o ganho da rede de realimentação é dependente da freqüência e então apenas uma dessas harmônicas atenderá aos critérios de Barkhausen, gerando oscilações neste valor. Para garantir uma oscilação em níveis de tensão utilizáveis, é necessário fazer com que o produto (A.B) seja um pouco maior que a unidade, no início do processo da oscilação. Assim, existirá a tendência de elevação do valor da tensão até que ocorra a saturação do amplificador. Neste momento o produto (A.B) torna-se igual a um e as oscilações estabilizam sua amplitude. Figura 2.4 – Produto A.B 50 Figura 2.5 Critério de Bode Através dos Diagramas de Bode podemos verificar se ocorrerá oscilação. Sempre ocorrerá oscilação quando para um deslocamento de fase de 180º, a amplitude da resposta em freqüência for maior que 1 (destacado em azul). Dessa forma, a análise de um circuito oscilador se dá em três fases: (1) verificação da realimentação positiva, (2) dedução da freqüência de ressonância e (3) verificação se o ganho de malha é unitário. Podemos também analisar um oscilador trabalhando no domínio da freqüência (Laplace), onde temos: Malha de realimentação do oscilador Figura 2.6 Critério de oscilação Oscilações auto-sustentadas: •A realimentação deve ser positiva •O ganho de malha deve ser unitário Figura 2.7 51 Como aplicar o critério de Barkhausen? Deve-se analisar o circuito e determinar (se possível) quem é A e quem é B. Determinar as condições para que L( jω0 ) = A( jω0 ) B( jω0 ) =1 Como este resultado é um número complexo, deve-se garantir: Pólos de Af (s) 1.oscilações cessam 2.oscilador 3.oscilações crescem em amplitude O circuito é projetado de modo que os pólos estejam no SPLD (perto do eixo jw). Quando a amplitude das oscilações alcançam o nível desejado, uma rede não linear entra em ação e faz o ganho de malha ser reduzido a unidade. A ação da rede não linear causa distorção. Entretanto, esta distorção é reduzida pela ação da rede seletora de Freqüências na malha de realimentação. 52 2.3 Oscilador Sintonizado Figura 2.8 O oscilador senoidal típico é aquele formado por três impedâncias. Sempre duas impedâncias estão em série e a terceira em paralelo com o conjunto anterior. Figura 2.9 53 OSCILADOR COLPITTS A TBJ O oscilador Colpitts a TBJ pode ser implementado como mostra a Fig.2.10 A freqüência do circuito é determinada pela equação abaixo: fo 1 2 LC EQ C EQ C1C 2 C1 C 2 Figura 2.10 54 OSCILADOR COLPITTS COM AMP-OP Figura 2.11 A Fig. 2.11 mostra um circuito oscilador Colpitts empregando um amp-op como elemento ativo. Novamente, o amp-op fornece a amplificação necessária, e a freqüência do oscilador é determinada pelo circuito de realimentação LC, de uma configuração Colpitts. A freqüência do circuito é determinada pela equação abaixo: fo 1 2 LC EQ C EQ C1C 2 C1 C 2 55 Oscilador Hartley Se os elementos do circuito ressonante da Fig. 2.9 são X1 e X2 (indutores), e X3 (capacitor), o circuito é um oscilador Hartley. Oscilador Hartley a TJB Figura 2.12 A Fig. 2.12 mostra um circuito oscilador Hartley a TBJ. O circuito opera na freqüência determinada pela Equação abaixo 56 Oscilador Hartley com AMP-OP Figura 2.13 57 2.4 Osciladores Não Sintonizáveis 2.4.1 Oscilador com Ponte de Wien Há um tipo de configuração que utiliza um circuito RC em ponte, com freqüência do oscilador determinada pelos componentes R e C. A figura 2.14 mostra uma versão básica de circuito oscilador com ponte de Wien. Figura 2.14 Os resistores R1, R2 e os capacitores C1, C2 formam os elementos de ajuste da freqüência, enquanto os resistores R3 e R4 formam parte do caminho de realimentação. A saída do AMP-OP é conectada à entrada da ponte, nos pontos a e c. A saída da ponte, b e d, é a entrada para o AMPOP. Desprezando os efeitos de carregamento entre a impedância de entrada do AMP-OP e a impedância de saída da ponte, tem-se a seguinte equação para a ponte: R3 R1 C1 R4 R2 C2 fo 1 2 R1C1 R2C2 Se em particular, os valores são R1=R2 e C1=C2. A freqüência do oscilador é: 58 fo 1 2RC e R3 2 R4 Portanto, uma razão entre R3 e R4 maior do que 2 proporcionará um ganho de malha suficiente para que o circuito oscile na freqüência calculada pela equação acima. EXEMPLO Determine os elementos RC de um oscilador com ponte de Wien para a operação em fo= 10kHz Solução: Utilizando valors iguais de R e C, podemos selecionar R=100 KΩ e calcular o valor de C. 1 1 10 9 C 159 pF 2f o R 6,28(10 x103 )(100 x103 ) 6,28 Podemos utilizar R3=300kΩ e R4=100kΩ para que a razão R3/R4, seja maior do que 2 e o circuito possa oscilar. 2.4.2 Oscilador de Deslocamento de Fase O oscilador de deslocamento de fase é um exemplo de oscilador que exibe as características de um circuito com realimentação. A figura 2.15 apresenta uma versão deste circuito. Nesse modelo estamos considerando que o circuito de realimentação está sendo alimentado por uma fonte ideal (impedância de saída nula). Concentrando nossa atenção no circuito de desvio de fase, estamos interessados no valor da atenuação em uma dada freqüência que o deslocamento de fase é exatamente 180º . Aplicando a análise do circuito temos: 59 Figura 2.15 1 2RC 6 1 29 f e o deslocamento de fase é 180º; Para que o ganho de malha βA seja maior do que 1, o ganho do estágio amplificador deve ser maior do que 1/β, ou 29 A>29 60 Oscilador de deslocamento de fase a transistor Figura 2.16 Análise AC do circuito fornece a seguinte equação para o cálculo da freqüência do oscilador: f 1 1 x 2RC 6 4( RC / R Para que o ganho de malha seja maior do que 1, o ganho de corrente deve do transistor deve atender à seguinte condição: h fe 23 29 R R 4 C RC R 61 Oscilador de deslocamento de fase utilizando AMP-OP Figura 2.17 1 2RC 6 1 29 f e o deslocamento de fase é 180º; Para que o ganho de malha βA seja maior do que 1, o ganho do estágio amplificador deve ser maior do que 1/β, ou 29 A>29 62 2.5 OSCILADOR A CRISTAL 2.5.1 Princípio de funcionamento de um cristal No aspecto macroscópico, o princípio é simples: certos cristais, como o quartzo e também alguns materiais cerâmicos, geram um campo elétrico sob ação de um esforço mecânico e o processo inverso também ocorre. Figura 2.18 Na Figura 2.18, um cristal piezelétrico tem eletrodos em faces opostas e sofre uma tensão mecânica de compressão. Um potencial elétrico aparece entre os eletrodos e pode ser medido com um instrumento. Se o esforço for de tração, a polaridade será inversa. No processo inverso (Figura 2.19), se um potencial elétrico é aplicado nos eletrodos, o cristal sofre uma tensão mecânica de compressão. Se a polaridade for invertida, o esforço mecânico também se inverte, ou seja, será de tração. Fig 2.19 É evidente que o processo vale também para sinais não contínuos. Se, por exemplo, o cristal sofrer uma vibração, um sinal elétrico correspondente estará presente entre os eletrodos. Assim, o efeito pode ser usado em microfones e, na operação inversa, em fones de ouvido. Outro aspecto importante é a relação da freqüência do sinal aplicado com a freqüência de ressonância natural do cristal. O efeito tem a máxima intensidade quando ambas as freqüências são iguais. Osciladores e filtros a cristal operam por esse princípio. 63 Osciladores piezelétricos Os circuitos ressonante LC apresentados anteriormente apresentam, uma limitação prática: a estabilidade de freqüência é insuficiente para algumas aplicações. Um relógio, por exemplo, seria inviável se utilizarmos, como base de tempo, pulsos fornecidos por um oscilador LC. Figura 2.20 No circuito equivalente de um cristal (Figura 2.20), L, C e R dependem das propriedades do cristal e C1 é a capacitância que surge em virtude de seu encapsulamento. Figura 2.21 No circuito da Figura 2.21, o cristal substitui L e C1 do oscilador Colpitts e determina a freqüência de operação (o indutor no coletor serve apenas para evitar retorno do sinal). Ressonadores piezelétricos são produzidos para freqüências desde cerca de 100 kHz até muitos MHz. Figura 2.22 64 Embora a freqüência, em princípio, seja fixa, podem, por exemplo, ser construídos com um diodo varicap em série, permitindo algum controle de freqüência por tensão. Osciladores a cristal são estáveis. Circuitos adequadamente projetados podem ter estabilidade tão alta quanto 1 parte em 100 milhões. Na Figura 2.22, um circuito típico para produzir um sinal quadrado para aplicações digitais, tendo, como elementos ativos, dois inversores lógicos. Quartzo ou cerâmica? O material piezelétrico do elemento ressonante pode ser quartzo ou cerâmica. O quartzo apresenta menor tolerância de freqüência, menor variação com a temperatura e menor capacitância própria e, por isso, é adequado para freqüências mais altas. A cerâmica tem melhor resistência mecânica, menor volume e menor custo e é usada em muitos aplicações, onde as melhores características do quartzo não são determinantes. 65 2.5.2 Circuitos Ressonantes Série O cristal pode apresentar duas freqüências ressonantes. Uma condição de ressonância ocorre quando as reatâncias do ramo RLC são iguais (e opostas) com conseqüente baixa impedância ressonante-série do circuito (ver figura 2.20 e 2.23). Outra condição ocorre em uma freqüência mais alta, quando a reatância do ramo RLC é igual à do capacitor C1 ( condição anti ressonante do cristal). Para excitar um cristal no modo ressonante-série, ele pode ser conectado como elemento em série de um circuito de realimentação. Na freqüência ressonante-série do cristal, sua impedância é a menor possível, contribuindo para que haja uma realimentação (positiva) efetiva do sinal. Figura 2.23 A Figura 2.24 mostra um circuito típico a transistor. Os resistores, R 1, R2 e RE formam um circuito de polarização dc estabilizada por divisor de tensão. O capacitor CE faz um desvio ac do resistor de emissor, e a bobina de CRF deixa passar a polarização e desacopla qualquer sinal ac da alimentação. A realimentação de tensão do coletor para a base é máxima quando a impedância do cristal é mínima (no modo ressonante-série). O capacitor de acoplamento C c apresenta uma impedância desprezível na freqüência de operação do circuito, mas bloqueia qualquer tensão dc entre o coletor e a base. 66 Figura 2.24 A freqüência resultante do circuito é determinada, portanto, pela freqüência série-ressonante do cristal. Variações na fonte de tensão, parâmetros do transistor, e assim por diante, não influem na freqüência de operação do circuito, que é mantida estável pelo cristal. A estabilidade na freqüência do circuito é determinada pela estabilidade na freqüência do cristal, que é boa. Circuitos Paralelo-Ressonantes Como no modo paralelo-ressonante a impedância do cristal é máxima, a conexão deste é realizada em paralelo. Na freqüência de operação correspondente à ressonância em paralelo (ou antiressonante), o cristal apresenta a máxima reatância indutiva possível. A Figura 2.25 mostra um cristal conectado em um circuito modificado de Colpitts, substituindo o elemento indutor. O circuito de polarização dc é evidente. A tensão máxima sobre o cristal ocorre em sua freqüência paralelo-ressonante. A tensão é acoplada ao emissor por meio de um divisor de tensão por capacitor capacitores C1 e C2. Figura 2.25 67