PUBLICAÇÃO Referência: Anais do IV Fórum Ambiental da Alta Paulista Abrangência do Evento: Nacional Instituição Organizadora: ANAP – Associação Amigos da Natureza da Alta Paulista Período de Realização do Evento: 21 a 24 de julho de 2008 Local do Evento: Estância Turística de Tupã/SP TRABALHO Categoria do Trabalho: Acadêmico / Resumo Expandido Eixo Temático: Mudanças Climáticas Forma de Apresentação: Painel Forma de Publicação: Eletrônica em CD-Rom PERIÓDICO DO ELETRÔNICO Nome: Fórum Ambiental da Alta Paulista ISSN: 1980-0827 Páginas: 1747 a 1752 Volume: IV Ano: 2008 Titulo do Trabalho AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS SEGUNDO AL GORE Nome do Autor (a) Principal Daniela de Souza Onça Nome (s) do Co-autor (a) (s) Ricardo Augusto Felício Nome (s) do Orientador (a) (s) Ricardo Augusto Felício Instituição ou Empresa Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo, Programa de Pósgraduação em Geografia Física da Universidade de São Paulo Instituição (s) de Fomento E-mail de contato [email protected] ; [email protected] Palavras-chave Aquecimento global. Mudanças climáticas. Mídia. INTRODUÇÃO Dentro de um cenário de contestação sobre o aquecimento global, cada vez mais difícil de ser dissimulado pela mídia, um fato inusitado chamou a atenção. A alta corte britânica fez o que os cientistas dissidentes tanto almejavam: declarou publicamente as inverdades contidas dentro do documentário apresentado pelo ex-vice presidente dos EEUU, Al Gore. Não obstante a esse fato, ainda demonstra que tais “fatos” não passam de especulações, até mesmo pouco científicas. Neste trabalho, elencamos os questionamentos e explicações dadas pela decisão do juiz Michael Burton. Salienta-se que esta tendência de questionamento ronda a Câmara dos Lords nos dias de hoje. Também torna-se importante frisar que o verdadeiro significado da Ciência é o esclarecimento, algo que deve ser buscado nos eventos científicos atuais. RELATO Em 2 de novembro de 2006, o ex-vice-presidente norte-americano Albert Gore, um dos maiores expoentes do ativismo ambiental do planeta, lançou um documentário denominado An inconvenient truth (Uma verdade inconveniente), abordando a temática do aquecimento global, seu funcionamento, causas, conseqüências e sugestões de medidas de mitigação. Com um rigor bastante distante daquele exigido na academia, o documentário consiste numa grande mistura de afirmações genéricas (como “Cientistas concluíram que...”, “Novos estudos comprovam que...” e “Evidências sugerem que...”) com imagens chocantes e uma evidente descrição apaixonada do problema. Abordando de maneira superficial as publicações sobre o tema, Gore conclui que não existe mais qualquer ceticismo significativo quanto à hipótese do aquecimento global, tomada hoje como uma verdade incontestável, quando até mesmo os relatórios do IPCC sublinham, em diversas passagens, suas incertezas e carências de dados. É estabelecida uma relação bastante simplista entre as concentrações atmosféricas de dióxido de carbono e a elevação da temperatura média global, suficiente para explicar fenômenos tão diversos como ondas de calor, furacões, derretimento de geleiras, extinção de espécies, desertificação e elevação do nível dos mares. A ameaça do aquecimento global, dessa forma, coloca em xeque a própria sobrevivência da humanidade, sendo hoje seu principal desafio. Por fim, o autor explica que esta crise é também sinônimo de oportunidades, não se esquecendo, é claro, de destacar a lucratividade advinda da busca de eficiência energética e da adoção de tecnologias consideradas limpas. Em 12 de outubro de 2007, Al Gore seria finalmente agraciado com o Prêmio Nobel da Paz, por seus esforços em disseminar o conhecimento sobre as mudanças climáticas globais. Entretanto, um dia antes do anúncio do prêmio, uma notícia com muito menos publicidade seria anunciada. Após o governo da Inglaterra ter distribuído o documentário em todas as escolas públicas do país, o juiz da Alta Corte Michael Burton decretou que, ao exibirem o documentário aos alunos, os professores deveriam deixar bem claro que ele se tratava de doutrinação política e que continha nove erros flagrantes (embora saibamos que é possível encontrar muitos mais). MATERIAL AVALIADO E RESULTADOS De todo o material avaliado para o relato deste trabalho, escolhemos os mais criticados pela Alta Corte britânica. Para cada “evento climático” levantado, explanamos a réplica debatida pela Corte, apresentada como sentença. Deste modo, a lista com as nove inverdades convenientes de Al Gore ficou assim definida: - As neves do Kilimanjaro estão desaparecendo devido ao aquecimento global. O tribunal considerou a afirmação errada, pois a mudança seria devida a alterações de precipitação locais. - Evidências de geleiras provam que o aumento das concentrações atmosféricas de CO2 provocam aumento de temperatura global. O tribunal considerou provado que existe uma defasagem de pelo menos 800 anos entre o aumento de temperatura (causa) e a elevação do CO2 (conseqüência). - O furacão Katrina foi causado pelo aquecimento global. O tribunal considerou que não se pode atribuir eventos únicos ao aquecimento global. Recentemente, pesquisadores do grupo de Kerry Emanuel, climatologista do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) demostraram que os prognósticos de furacões, adotados pelo IPCC, estão muito além do número normal de eventos previstos para o decorrer do século XXI. - A seca do lago Chade foi causada pelo aquecimento global. O tribunal considerou que não era o caso. - O documentário mostra um estudo que aponta a breve extinção dos ursos polares. O tribunal considerou que Al Gore interpretou mal o estudo: ele apenas apontava o desaparecimento de quatro ursos numa tempestade violenta. Notícias recentes têm mostrado que a caça ilegal de ursos polares aumentou consideravelmente, com suas peles sendo comercializadas pela internet, a preços de cerca de 80 mil dólares. Seria este o grande motivo da extinção dos ursos. - O aquecimento global pode interromper a corrente do Golfo e iniciar uma nova idade do gelo na Europa. O tribunal considerou esta afirmação uma impossibilidade científica. - O aquecimento global é o culpado da extinção de diversas espécies, inclusive corais. Não foram encontradas evidências para sustentar essa afirmação. Resultados locais de pesquisas sobre corais foram interpoladas para o mundo inteiro, algo que não é plausível de acontecer. - O nível dos mares poderá subir até sete metros. O tribunal concluiu que ele atingirá no máximo 40 cm no final deste século (de acordo com o IPCC, são 59 cm). - A subida do nível dos mares já provocou a evacuação de habitantes de algumas ilhas do Pacífico. O tribunal considerou essa afirmação falsa. Dubai, por exemplo, continua a construir diversos hotéis de alto luxo, ao largo de sua costa. CONCLUSÃO Concluímos que o objetivo da obra de Al Gore está visivelmente mais relacionado à construção de uma propaganda política contrária ao governo de George W. Bush e sua insistência no combate ao terrorismo, ao invés do combate ao aquecimento global (embora o presidente esteja agora modificando essa atitude, já que politicamente parece convergir com o planejamento norte-americano e sua política de petróleo) do que propriamente à divulgação verdadeiramente científica. Sabe-se que a hipótese do aquecimento global não é consensual nem incontestável, persistindo ainda muitas dúvidas a respeito. A mudança climática é um fato permanente: o clima sempre mudou e, até onde sabemos, continuará a mudar, não importa o que façamos. Não há evidências seguras de que as mudanças supostamente verificadas no último século sejam globais, com a intensidade apregoada ou que estejamos caminhando em direção ao apocalipse climático – ao menos num mundo controlado pela razão. A mídia e os eventos científicos precisam manter os canais de comunicação abertos para todas as vertentes, Necessitam sempre ser polifônicas, caso contrário, voltaremos ao contexto de uma Idade Média, tão combatida pela Ciência. REFERÊNCIAS Jordan, Mary. U.K. Judge Rules Gore's Climate Film Has 9 Errors. Washington Post, 12 de outubro de 2007, página A12. Peck, Sally. Al Gore's 'nine Inconvenient Untruths'. http://www.telegraph.co.uk/earth/main.jhtml?xml=/earth/2007/10/11/scigore111.xml (acesso em 5 de dezembro de 2007)