O TRABALHO NAS ESCOLAS INDIGENAS COM A LÍNGUA COMO FORMA PARA A NÃO EXTINÇÃO DE UMA CULTURA DE UMA ETNIA Daiele Flores Ribeiro1 Sirlei Maria de Aguiar2 Introdução A linguagem é o meio que todas as pessoas utilizam para se comunicar desde os primórdios da evolução do homem na Terra, ela é algo que nos acompanha e nos diferenciam de outros povos, outras nações. O trabalho com a linguagem vem sendo desenvolvido a muito tempo por vários pesquisadores os quais estão na tentativa de identificarem de descreverem, e analisarem os fenômenos que envolvem o fenômeno da linguagem, a qual é diferente conforme a cultura que se vive, alem do meio. A língua não é algo uniforme já que a mesma é constituída de uma gama de variedades. Para uma pessoa ser considerada realmente um cidadão, hoje um fator importante na sociedade é que ela seja alfabetizada, no entanto, como se pode falar sobre isso quando a educação para os índios na maioria das vezes é negada, por meio de um descaso. Nesta perspectiva Barroco, Chaves e Faustino (2008) colocam que [...] esta defesa é fundamental, ou seja, como o domínio da leitura e da escrita, na língua indígena e na língua portuguesa, portanto, em uma situação de bilinguismo, leva ao desenvolvimento de uma consciência diferenciada nos indivíduos. (BARROCO, CHAVES e FAUSTINO, 2008, p.153) A preocupação com a Educação Indígena aconteceu a partir da década de 90 onde se começou a ter um olhar mais atencioso, a partir daí criaram o Referencial 1 Graduada em Pedagogia pela Faculdade Integrado de Campo Mourão – PR. E-mail: [email protected] 2 Professora de Língua Portuguesa da Faculdade Integrado de Campo Mourão – PR. E-mail: [email protected] Curricular Nacional para as Escolas Indígenas o qual dá base para o trabalho nos os municípios que atuam com educação indígena, ou que possuem áreas indígenas. É necessário que todos tenham uma educação de qualidade, no entanto essa mesma educação muitas vezes é negada a grande parcela da população. É por meio da língua que o individuo interage na sociedade, que ele se emancipa, a partir do momento que isso é negado ao individuo ele acaba não se desenvolvendo como um sujeito cultural. Para o RCNE/I (2005), o trabalho com a alfabetização para o auxilio da revitalização da língua indígena deve levar em conta a língua de instrução oral, ou seja, os professores em sala de aula deverão trabalhar em sala com a língua indígena, falando escrevendo, vivenciando essa língua em sala de aula. De acordo com o RCNE/I [...] os alunos aumentarão sua competência oral em língua indígena, pois aprenderão a utilizá-la também para falar sobre os novos conhecimentos adquiridos, em vez de terem que recorrer ao português para isso. A língua indígena ficará assim, mais forte, pois passará a ter uma função importante, aquela própria do espaço escolar. (RCNE/Indígena, 2005, p.119) O outro ponto a se levar em conta o ensino da língua indígena em sala de aula é que a mesma deve se tornar a língua de instrução escrita, esse procedimento ira auxiliar na sistematização da cultura transformando o conhecimento popular vivenciado por todos em cientifico. Esse trabalho vem com o objetivo de fazer um retrato sobre como deve ser o trabalho com a linguagem nas escolas de Educação Indígena de acordo com o Referencial Curricular Nacional para as Escolas Indígenas, além de outros autores que falam sobre esse tema. Isso para que se tenha um olhar mais cuidadoso com essa educação em nossos dias já que é uma área que a cada dia vem tomando mais importância tanto na questão do ensino como na de aprendizado e na formulação de novas políticas para a melhoria desse ensino. Para nortear esse estudo, foi utilizada a pesquisa bibliográfica, uma vez que as fontes de pesquisa foram periódicos, livros, artigos além de documentos como o Referencial Curricular Nacional para Educação Indígena. De natureza qualitativa com objetivos foram explicar e compreender os fenômenos que acontecem na linguagem e identificar a importância do seu trabalho nas escolas de educação escolar indígena. Referencial Teórico A linguagem está em constante transformação, desde os primórdios do mundo, conforme colocam Barroco, Chaves e Faustino (2008), a língua é meio para se estabelecer relações em sociedade, no início a mesma era somente códigos que com o passar do tempo se aprimorou e ganhou caráter sistematizado com a escrita. No principio era ligada a função de se obter resultados imediatos de forma prática, a partir de um determinado momento se tornaram códigos utilizados e que até hoje é usado para se expressar ideias e pensamentos. Por conta do processo de evolução industrial, a escola brasileira teve que se adequar a novas culturas que nela ingressavam, nesse ambiente estabeleceu-se uma barreira instransponível entre os que sabem falar a língua padrão formal e os que falam a língua simples “errado”, segundo a norma padrão. Diante de um longo processo educacional que o país se passou pode-se ter uma ideia de que nossa língua sofreu várias influências, assim como as pessoas que a falam. Para muitos é somente um conjunto de palavras, pronúncias e regras gramaticais que foram elaboradas no decorrer do processo evolutivo, tanto na escrita como na fala, o que recebe o nome de Norma Padrão, que nada mais é do que o modelo considerado como “correto” da língua. De acordo com as Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa para a Educação Básica (2008), quando a criança começa a frequentar a escola ela já leva consigo sua própria linguagem, adquirida no convívio familiar. Assim que entra em sala de aula depara-se com uma linguagem, a chamada de língua-padrão, almejada pela sociedade e aplicada nos mais diversos contextos em que as interações sociais se dão por intermédio da língua, seja ela oral ou escrita, a qual se tem que seguir as regras gramaticais. De acordo com Barroco, Chaves e Faustino Com o domínio da linguagem, o pensamento verbal, conceitual, que se emancipa ou que vai se tornando independente da situação imediata, é desenvolvido, permitindo aos indivíduos estarem no mundo e nele intervir de modo mais intencional e complexo . (BARROCO, CHAVES e FAUSTINO, 2008, p.153) Com o passar do tempo a linguagem se torna algo independente, e dessa maneira permite que cada pessoa consiga agir de forma diferente no meio em que vive, e em diversas situações. O que chamamos de língua na sociedade. Bagno (2004, p.35) dá o nome de “produto social, artificial, que não corresponde àquilo que a língua realmente é.” A língua é um produto sociocultural que foi e ainda é elaborado durante o decorrer do tempo por todas as pessoas, portanto ela é um patrimônio imaterial. Para os sociolinguístas Bagno (2007, p.36) a língua “é heterogênea, múltipla, variável, instável, e está sempre em desconstrução e em reconstrução.” Por esse motivo, ela não é um produto pronto e acabado, pois está em constante transformação, é decorrente de um processo que é permanente e que nunca vai se concluir, pois, é uma atividade social feita por todos os falantes da língua a cada momento em que os mesmos se expressam. Segundo Cagliriari (1989), os alunos aprendem a variação linguística própria da comunidade em que vivem, mas a sociedade se utiliza desses modos de se expressar para marcar indivíduos e classes sociais pelo modo de falar. Essa atitude social revela os preconceitos, pois marca as diferenças linguísticas como índices de estigma ou prestigio. De acordo com Mollica e Braga (2003), dentro da Linguística a Sociolinguística é uma das subáreas que estuda a língua em uso no seio das comunidades de fala, relacionando os aspectos linguísticos e sociais da língua. Ela está presente dentro de um espaço interdisciplinar, entre a língua e sociedade, tendo como foco os empregos linguísticos concretos, principalmente no que se refere ao caráter heterogêneo. Nesse sentido Mollica e Braga, (2003, p. 9) afirmam que: “Todas as línguas apresentam um dualismo inerente, o que significa dizer que elas são heterogêneas.”, ou seja, não existe uma língua inteiramente pura, pois de maneira direta ou indireta ela sofreu influências de outras línguas, culturas, costumes e no Brasil isso também acontece, Bagno (2006, p. 18) coloca que: “(...) no Brasil, não se fala uma só língua. Existe mais de duzentas línguas ainda faladas em diversos pontos do país pelos sobreviventes das antigas nações indígenas Dessa forma, nas escolas os professores não devem buscar uma única língua correta, pois somos influenciados pelas variedades que existem, e essa miscigenação que a sociolinguística estuda. Se a língua começar a ser vista como mais um conteúdo que deve ser trabalhado em sala de aula sem sentido, ela vai perder sua razão para ser ensinada. Pontes, et al. colocam que [...] a linguagem é constitutiva do homem. E só tem significado quando em uso. Deslocada desse contexto, a língua é um mero código, e não é apenas essa dimensão da linguagem que precisam contemplar na escola. (PONTES, 1998, p.07) Nesse contexto, a Sociolinguística afirma que nossa língua possui uma variabilidade linguística presente em todas as línguas, partindo dessa afirmação a Sociolinguística tem como objetivo de estudo a variação, a entendendo como algo que pode ser descrito, analisado cientificamente. De acordo com Mollica e Braga (2003, p. 10) “Ela parte do pressuposto de que as alternâncias de uso são influenciados por fatores estruturais e sociais”. O aprendizado precisa fazer ligações entre teoria e prática para demonstrar, utilização de seus conhecimentos, e assim, aprender com seus erros. A língua deve desenvolver a capacidade de comunicação, isso engloba produzir e compreender textos em diversas situações de comunicação, além do próprio contexto que a envolve. Nos estudos de Faustino, Chaves e Barroco O reconhecimento da importância da linguagem, na vida dos homens, não emana apenas do conhecimento ocidental. Entre os indígenas da etnia Guarani, por exemplo, a palavra define o homem, ou seja, as palavras são, para esse grupo, manifestações de ayvu, palavra-alma. (BARROCO, CHAVES e FAUSTINO, 2008, p.157) A palavra exerce grande importância para as relações em todos os meios, é por meio dela que os indivíduos espessam suas ideias, pontos de vista, o que desejam. A linguagem possui as funções de codificar e transmitir informações e passá-las para o sistema e dessa maneira designar ações que deveram ser realizadas pelos indivíduos. A questão da valorização da língua não se restringe a um trabalho realizado somente no ocidente. Educação Indígena Não basta ter uma política para as escolas indígenas se os professores que lá atuarem não tiverem consciência de que sua prática deve ter uma análise constante, crítica, abrangente sobre as práticas aplicadas na escola. A prática da atuação pedagógica é necessária para a realização de avaliações e re-avaliações, para que se possa promover com os alunos indígenas um exercício de cidadania e de interculturalidade com relação às práticas linguístico-culturais. Dentro do Referencial Curricular Nacional para a Educação Indígena (2005) se leva em consideração, como parte principal a diversidade cultural existente em nosso país. O não atendimento dessa proposta impossibilitará a implantação de escolas indígenas no sistema público de educação. De acordo com o Referencial Curricular Nacional para as Escolas Indígenas É preciso que os Conselhos Estaduais de Educação, os técnicos de Secretárias Estaduais de Educação, os técnicos de Secretárias Estaduais e municipais, conheçam as especificidades da Educação Escolar Indígena, e as considerem em suas tomadas de decisão. (RCNEI, 1998, p.12) Para que dessa forma sejam elaboradas propostas de funcionamento de escolas indígenas. Mas para que isso aconteça é necessário que os Conselhos Estaduais de Educação e Técnicos das Secretarias tanto estaduais como municipais de ensino saibam de todas as especificidades da educação escolar indígena e as considerem em suas tomadas de decisões. Para que ocorra a implantação e implementação de propostas curriculares as quais deem a importância necessária e que sejam realmente relevantes tanto em caráter político como cultural, é necessário que os professores que pertencem as escolas indígenas façam análises constantes de suas de suas práticas dentro e fora de sala de aula. A atuação pedagógica deve ser avaliada continuamente, para que dessa forma promova juntamente com os alunos indígenas, um exercício de cidadania e assim trabalhe a interculturalidade dentro principalmente no que se refere as práticas linguistico culturais. O RCNEI (2005) coloca que Para que essas tarefas possam ser levadas a cabo, é preciso um ambiente plural e intenso de discussão e reflexão sobre os significados embutidos na expressão “uma escola indígena especifica, diferenciada e de qualidade”, de modo que tal expressão seja utilizada, não como um mero jargão da área, mas, sim para descrever quais devem ser, de fato, seus reais atributos. (2005, p.13) Dessa forma o instrumento utilizado para esclarecer alguns pontos fundamentais à educação escolar indígena, como diferenciar as escolas indígenas das não indígenas, pensar em novas políticas educativas que possam melhorar a educação escolar indígena além de se pensar em novos princípios para cada área de estudo dentro do currículo e dessa maneira traduzam quais os objetivos que se desejam alcançar alem das ações que devem ser executadas em sala de aula, já que segundo o RCNEI (2005, p.22) “O Brasil é uma nação construída por grande variedade de grupos étnicos, com histórias, saberes, culturas e, na maioria das situações, línguas próprias. Tal diversidade sociocultural é riqueza e deve ser preservada.” Por esse motivo é tão importante a preservação dos idiomas indígenas, eles são mais que uma língua, eles são a tradução de várias culturas existentes, a extinção dos idiomas significariam a morte de uma cultura, de povos. Conforme o RCNEI (2005) [...] as sociedades indígenas, cultural e linguisticamente, representam uma magnífica som de experiências históricas e sociais diversificadas, de elaborados saberes e criações de arte, de música, de conhecimento, de filosofias originais, construídos ao longo de milênios pela pesquisa reflexão, criatividade, inteligência e sensibilidade de seus membros . (RCNEI, 2005, p.22) No Brasil ainda existem centenas de povos indígenas e cada um possui suas particularidades, sua cultura seu modo de vida, seu idioma, seus costumes é importante que todos esses pontos recebam a devida importância que merecem, e sejam trabalhados em sala de aula pelos professores de forma que os alunos sejam sujeitos atuantes do processo de aprendizado. O RCNEI (2005) tem como objetivos principais: [...] a) a elaboração e implementação de programas de educação escolar que melhor atendam aos anseios e interesses das comunidades indígenas, b) a formação de educadores capazes de assumir essas tarefas e de técnicos aptos a apoiá-los e viabilizá-las. (RCNEI, 2005, p.13) Esse documento se baseia nos fundamentos de reconhecer a multietnicidade, pluralidade e diversidade. O Brasil é um país rico em sua diversidade, tanto de grupos étnicos, as histórias, os saberes populares além da diversidade linguística que nosso país possui. O grupo indígena de nosso país soma cerca de 300 mil pessoas cerca de 0,2% da população do nosso país, eles são a sociedade que representa tanto a experiência histórica e social, como a cultura, a diversidade linguística, musicas, dentre outros pontos. De acordo com o RCNEI (2005) Cada povo indígena que vive hoje no Brasil é dono de universos culturais próprios. Sua variedade e sua originalidade são um patrimônio importante não apenas para eles próprios e para o Brasil mas, de fato para toda a humanidade.” (RCNEI, 2005, p.22) Estes povos fazem parte da nossa história, eles criam, são a história do nosso país, no entanto não são valorizados, reconhecidos por tudo que já fizeram, passaram, sua cultura, linguagem, as diferenças existentes entre a língua, o estilo de vida, a forma de pensar, as experiências históricas e o contato com o branco. O que diz Barroco, Chaves e Faustino (2008) com relação ao ensino da língua materna e o ensino da língua portuguesa ingressos Ao contrário do que algumas famílias indígenas de diferentes grupos pensam, a educação bilíngue não compromete a aprendizagem da criança na língua oficial. Se o professor não-índio ensina o português, desde o inicio, a criança aprende a falar está língua corretamente e com compreensão e, se o professor indígena ensinar a ler e escrever na língua materna, a criança poderá articular esta aprendizagem à leitura em português, tornando sua trajetória escolar mais eficiente e significativa. (BARROCO, CHAVES e FAUSTINO, 2008, p.164) A aprendizagem da língua materna a primeira língua de uma pessoa, a que ela primeiro aprende, em sua vida Porzig (1970), no caso em estudo a língua indígena e também a língua portuguesa essas auxiliam a criança em sua aprendizagem e desenvolvimento, pois a mesma aprende a língua portuguesa e aperfeiçoa o idioma indígena. No que se refere a elaboração escrita que é realizada pelas crianças, e ao idioma indígena, é por meio desse trabalho que a criança poderá adquirir a apreensão das regras e ao mesmo tempo compreender os significados da mesma, e assim perceber sua importância. Para que isso aconteça segundo Barroco, Chaves e Faustino (2008) é necessário que essa aprendizagem ocorra de forma sistematizada e de forma ativa, ou seja, o aluno é sujeito participante do processo da aprendizagem. Para Barroco, Chaves e Faustino (2008) É importante salientar que o atendimento do professor, sobre o processo de escrita e como esse se manifesta no espaço escolar, definirá e orientará as decisões. O educador, na perspectiva dos autores citados nesse estudo, apresenta-se não como observador e acompanhante do processo, mas como realizador da mediação efetiva determinante. (BARROCO, CHAVES e FAUSTINO, 2008, p.165) Dessa forma ocorre a valorização da comunidade, da cultura e da tradição da comunidade que a criança vive. O professor deve sempre levar em consideração as experiências de seus alunos, para que elas se tornem ponto para a aquisição de novos conhecimentos os quais não se restringem a escrita somente, mas para que isso aconteça é necessário que o professor tenha seus objetivos claros. Citelli (2001, p.12) fala que: “(...) a “crise da linguagem” é a crise da escola, que é extensão da própria crise social, econômica, que de um outro modo, acompanha a sociedade brasileira.”, diante dessa crise colocada estão os educadores os quais são responsáveis pelo processo de ensino/aprendizagem e que estão preocupados com a formação de seus alunos, por esse motivo a autora coloca a importância de se respeitar os alunos, cada um em sua individualidade sua história, sua cultura e linguagem. Dessa forma Citelli ressalta o seguinte [...] a criança que está à nossa frente, olhando muitas vezes espantada, parecendo ressoar como coro de uma situação que a transcende, possui uma linguagem, e a nós cabe deixá-la fluir, tão forte que possa funcionar como defesa ou ataque, e que seja capaz de interagir com outras linguagens. (CIETELLI, 2001, p. 15) Dessa maneira se faz necessário que o professor permita que o aluno saiba a função da linguagem, pois para ela o mundo é algo novo, que surpreende, e a forma que a mesma tem para entender o mundo é a linguagem, a sua língua é forma para entender o mundo que vive a partir do momento que ela entender o mundo que vive, vai perceber a função da linguagem e de como ela pode auxiliar dentro das relações em sociedade, além de poder interagir com outras línguas. Com relação aos conteúdos que devem ser ensinados em sala de aula o RCNEI (2005) fala que O diálogo respeitoso entre a realidade dos próprios alunos e os conhecimentos vindos de diversas culturas humanas é a realização da interculturalidade, e a escola indígena deve tornar possível essa relação entre a educação escolar e a própria vida em sua dinâmica histórica. Agindo-se assim na escola, abre-se espaço para a identificação de alguns dos problemas sociais mais prementes para aquela comunidade, quando são construídas as opiniões, atitudes e procedimentos novos que deverão apoiar as soluções possíveis de tais problemas. (grifos do autor) (RCNEI, 2005, p.60) Em sala de aula o professor deve trabalhar com todas as possibilidades possíveis com a cultura, costumes que seus alunos trazem do ambiente familiar, para que o aluno faça relações de suas vivencias com os conteúdos de sala de aula. Dessa forma a escola passa a ser um ambiente de preservação de uma cultura, mas também de instrução para os alunos. Metodologia O estudo desenvolvido é de caráter bibliográfico, uma vez que se utilizou de livros, periódicos científicos, artigos e documentos como o Referencial Curricular Nacional para Educação Indígena. De natureza qualitativa com objetivos de explicar e compreender os fenômenos da linguagem e a sua importância do seu ensino em sala de aula nas Escolas Indígenas, por essa razão as fontes de informação foram bibliográficas e documentais. Considerações Finais Diante dos estudos realizados até o momento, pode-se perceber que a língua não é uniforme, mas sim constituída por muitas, além dos vários grupos étnicos culturais existentes, pois nosso país é constituído de uma gama de culturas muito grande, principalmente porque o mesmo possui vários grupos indígenas. Por conta do processo de colonização em que vários imigrantes vieram para nosso país em busca de uma vida melhor, trazendo consigo cultura diferente, que mais tarde se misturou com outras já existentes em nosso país, como as línguas indígenas, e dessa forma temos o povo brasileiro. Junto de sua cultura esses imigrantes também trouxeram sua linguagem e com todas as misturas se formou o chamado português não padrão. E que o professor deve levar em conta esses fatores ao ensinar seus alunos as normas ortográficas, sem desvalorizar o português não padrão já que também existe uma diversidade de pessoas, de culturas, de idiomas, cada uma com seu jeito de ser, e é no ambiente de sala de aula que os professores têm que ver isso, pois esse é um ambiente riquíssimo no que se refere às diversidades. O professor das séries iniciais, bem como o de Língua Portuguesa, além de ensinar os conteúdos, deve ensinar o valor de sua língua seja ela falada ou escrita, especialmente para àquelas crianças que vêm de famílias e comunidades “diferenciadas” como as indígenas, as quais são vitimas frequentes de preconceitos pelo seu idioma, os quais muitas vezes ainda utilizam no dia-a-dia. A língua oral em sala de aula tem que garantir atividades sistemáticas de fala, escuta, escrita e reflexão sobre a língua, sempre valorizando a que é trazida pelo aluno, de suas comunidades, mostrando como eles podem utilizar a linguagem, tanto falada como escrita de variadas formas, para uma melhor interação. Isso tem que ser organizado de modo que os mesmos possam transmitir, nas mais variadas situações, tanto formais quanto informais, conhecendo, assim, suas estruturas. Dessa forma é necessário que os professores não somente saibam como se dá o fenômeno da variação linguística, mas como trabalhar com ele dentro e fora de sala de aula, nos conteúdos gramaticais, produção textual, oralidade e leitura. A fala é parte fundamental do ensino no trabalho com a língua, não só para conhecer os “erros” (variedades) mais comuns da fala de seus alunos, mas também para elaborar em metodologias de trabalho, de ensino e avaliação que contribuam para o aprendizado da gramática pelo aluno. Referências BAGNO, Marcos. Nada na Língua é por acaso - Por uma pedagogia da variação Linguística. São Paulo: Parábola Editoria, 2007. ______. A Língua de Eulália. Novela Sociolinguística. 15ª ed. São Paulo: Contexto, 2006. ______. Preconceito Linguístico. O que é e como se faz. 47ª ed. São Paulo: Edições Loyola, 2006. BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto. Referencial Curricular Nacional para as Escolas Indígenas. Brasília: MEC; SEF, 1998. CITELLI, Beatriz. 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