Segunda-feira, 3 de março de 2003

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Domingo, 20 de fevereiro de 2011
Sétimo do Tempo Comum, Ano “A”, 3ª Semana do Saltério, Livro III, cor, Litúrgica Verde
Santos: Abílio de Alexandria (bispo), Aristeu de Salamis (mártir), Atanásio de Nicomédia (abade), Margarida de Cortona
(franciscana terciária), Maximiano de Ravena (bispo), Papias de Hierápolis (bispo), Pascásio de Viena (bispo), Rainério de
Beaulieu (monge), Talássio e Lineu (eremitas), Ângelo Portasole (bispo, bem-aventurado)
Antífona: Confiei, Senhor, na vossa misericórdia; meu coração exulta porque me salvais. Cantarei ao Senhor pelo bem
que me fez. (Sl 12,6)
Oração: Concedei, ó Deus todo-poderoso, que, procurando conhecer sempre o que é reto, realizemos vossa vontade em
nossas palavras e ações. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
I Leitura: Levítico (Lv 19,1-2.17-18)
Sede santos porque eu sou santo
O Senhor falou a Moisés, dizendo: 2”Fala a toda a comunidade dos filhos de Israel e dize-lhes:
‘Sede santos, porque eu, o Senhor vosso Deus, sou santo. 17Não tenhas no coração ódio contra
teu irmão. Repreende o teu próximo, para não te tornares culpado de pecado por causa dele.
18
Não procures vingança nem guardes rancor dos teus compatriotas. Amarás o teu próximo como
a ti mesmo. Eu sou o Senhor”’”. Palavra do Senhor!
1
Comentando a I Leitura
Amarás o teu próximo como a ti mesmo
A santidade é o principal atributo do Deus de Israel. Em primeiro lugar porque ele é separado, ou
seja, não se confunde com a criatura. Nas civilizações vizinhas de Israel, as religiões politeístas
confundiam a divindade com vários seres da natureza ou com imagens. Em Israel, ao contrário,
um só era reconhecido como Deus criador, os demais eram apenas criatura. É nesse sentido que
Deus é separado (santo): o Criador não pode ser confundido com a criatura.
A santidade de Deus era comunicada a todos os que se aproximavam dele ou a tudo o que lhe
era consagrado: pessoas, animais, objetos. Tudo o que pertencia a Deus era separado dos
demais para simbolizar a unicidade do Criador.
Nesse sentido é que o povo de Israel deveria ser separado ou diferente dos demais povos. Por
isso, Israel não deve odiar, mas praticar a exortação comunitária para o crescimento pessoal;
não se vingará nem terá rancor, mas amará o próximo. Agindo assim, Israel participava da
santidade de Deus e se tornava diferente dos povos vizinhos, que praticavam ações contrárias a
esse preceito. Isso significa a existência de uma ética inerente ao monoteísmo que não era
encontrada em religiões politeístas, em cujos mitos as divindades praticavam e ensinavam o ódio
e o egoísmo. [Aíla Luzia Pinheiro Andrade, nj, Vida Pastoral n.276, Paulus]
Salmo: 102 (103)1-2.3-4.8.10.12-13 (R/.1a.8b)1
Bendize, ó minha alma, ao Senhor, pois ele é bondoso e compassivo.
Bendize, ó minha alma, ao Senhor, e todo o meu ser, seu santo nome! Bendize, ó minha alma, ao
Senhor, não te esqueças de nenhum de seus favores!
Pois ele te perdoa toda culpa e cura toda a tua enfermidade; da sepultura ele salva a tua vida e
te cerca de carinho e compaixão.
1
Numeração dos Salmos: a numeração dentro do primeiro parêntese refere-se á anotação hebraica; a de fora segue a
Nova Vulgata, adotada pela Igreja Católica e também usada pela Bíblia AVE-MARIA; as demais seguem a numeração
inversa (Nova Vulgata dentro do parêntese). A numeração dos versículos (estrofes) é obtida no DIRETÓRIO LITÚRGICO DA
CNBB, 2011; a numeração do segundo parêntese está relacionada ao versículo de resposta.
Evangelho do Dia
19/02/11
Mundo Católico (www.mundocatolico.org.br)
Pg.1
O Senhor é indulgente, é favorável, é paciente, é bondoso e compassivo. Não nos trata como
exigem nossas faltas nem nos pune em proporção às nossas culpas.
Quando dista o nascente do poente, tanto afasta para longe nossos crimes. Como um pai se
compadece de seus filhos, o Senhor tem compaixão dos que o temem.
Leitura paralela: Eclesiástico 18,8-14. Este salmo é um hino de louvor a Deus pelo seu amor eterno.
II Leitura: 1 Coríntios (1Cor 3,16-23)
Somos templos de Deus
Irmãos, acaso não sabeis que sois santuário de Deus e que o Espírito de Deus mora em vós?
17
Se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá, pois o santuário de Deus é santo, e
vós sois esse santuário. 18Ninguém se iluda: se algum de vós pensa que é sábio nas coisas deste
mundo, reconheça sua insensatez, para se tornar sábio de verdade; 19pois a sabedoria deste
mundo é insensatez diante de Deus. Com efeito, está escrito: “Aquele que apanha os sábios em
sua própria astúcia”, 20e ainda: “O Senhor conhece os pensamentos dos sábios; sabe que são
vãos”. 21Portanto, que ninguém ponha a sua glória em homem algum. Com efeito, tudo vos
pertence: 22Paulo, Apolo, Cefas, o mundo, a vida, a morte, o presente, o futuro; tudo é vosso,
23
mas vós sois de Cristo, e Cristo é de Deus. Palavra do Senhor!
16
Comentando a II Leitura
Vós sois de Cristo
Paulo ensina aos cristãos de Corinto que o único fundamento de sua fé é o Cristo, e não os sábios
deste mundo, sejam eles cristãos ou não, pois o que é sabedoria deste mundo é loucura diante
de Deus.
Os cristãos são de Cristo, como Cristo é de Deus. Eles não pertencem ao mundo e, por isso, não
devem reger a vida segundo os valores do mundo. Pertencendo a Cristo, os cristãos são templos
do Espírito de Deus, como Cristo é o templo de Deus por excelência, lugar do encontro definitivo
entre a humanidade e o Criador. Os cristãos, por meio de sua inserção em Cristo pelo batismo,
com uma vida dedicada a Deus e ao amor ao próximo, testemunham a presença de Deus no
meio dos povos. Ser templo de Deus, pertencer a Cristo, significa ser mediação do amor e do
perdão, ser lugar do encontro com Deus. E isso é loucura para o mundo, mas sabedoria de Deus.
[Aíla Luzia Pinheiro Andrade, nj, Vida Pastoral n.276, Paulus]
Evangelho: Mateus (Mt 5, 38-48)
Amor aos inimigos
Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: 38”Vós ouvistes o que foi dito: ‘Olho por olho e
dente por dente!’ 39Eu, porém, vos digo: não enfrenteis quem é malvado! Pelo contrário, se
alguém te dá um tapa na face direita, oferece-lhe também a esquerda! 40Se alguém quiser abrir
um processo para tomar a tua túnica, dá-lhe também o manto! 41Se alguém te forçar a andar um
quilômetro, caminha dois com ele! 42Dá a quem te pedir e não vires as coisas a quem te pede
emprestado. 43Vós ouvistes o que foi dito: ‘Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo!’ 44Eu,
porém, vos digo: amai os vossos inimigos e rezai por aqueles que vos perseguem! 45Assim, vos
tornareis filhos do vosso Pai que está nos céus, porque ele faz nascer o sol sobre os maus e bons
e faz cair a chuva sobre justos e injustos. 46Porque, se amais somente aqueles que vos amam,
que recompensa tereis? Os cobradores de impostos não fazem a mesma coisa? 47E se saudais
somente os vossos irmãos, o que fazeis de extraordinário? Os pagãos não fazem a mesma coisa?
48
Portanto, sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito” Palavra da Salvação!
Leituras paralelas: Ex 21,23-25; Lv 24,17-21; Lc 6,27-36;
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Comentando o Evangelho
Amai os vossos inimigos
“Olho por olho, dente por dente” (Mt 5,38; Ex 21,24) é uma antiga lei, anterior à existência do
povo de Israel. Era uma lei de natureza social e não individual. Tinha por objetivo limitar os
excessos de vingança de uma tribo contra outra. Israel também aderiu a esse preceito, mas o
abrandou bastante com a exigência do perdão (Lv 19,17-18).
No evangelho, Jesus pede a seus seguidores que não resistam a ninguém que lhes cause algum
prejuízo. Ou seja, Jesus proíbe aos cristãos resistir ao mal com a vingança. O papel dos cristãos é
o combate do mal no mundo mediante a não violência, como fez Jesus na cruz.
“Ouvistes o que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás teu inimigo” (Mt 5,43). Passagem
alguma da Escritura ordena odiar os inimigos. Essa orientação teve origem em grupo judeu
contemporâneo de Jesus. Em um livro, intitulado Regra da Comunidade, encontrado no século
passado nas grutas próximas ao mar Morto, os judeus pertencentes ao grupo dos essênios dão
essa orientação de ódio aos inimigos: “Ame o que Deus escolheu e odeie o que Deus rejeitou”.
Jesus enfrenta e condena essa postura de seus contemporâneos. Os cristãos devem amar amigos
e inimigos sem exceção, pois uns e outros são filhos de Deus, todos são irmãos, todos são
próximos.
A aceitação ou a recusa dessa ordem de Jesus são o critério para uma pessoa ser ou não
reconhecida por Deus como filha (Mt 5,44-45). Pois, da mesma forma que o filho reflete a
fisionomia dos pais, os cristãos devem, nas relações com seus semelhantes, refletir o amor de
Deus para com todos os seres humanos. [Aíla Luzia Pinheiro Andrade, nj, Vida Pastoral n.276,
Paulus]
A Palavra se faz oração (Missal Dominical)
A caridade fraterna, o amor aos inimigos deve ser a característica de quem segue a Cristo.
Peçamos a Deus que nos ajude a vencer o egoísmo e a amar a todos com coração sincero. Ouvinos Senhor.
• Por todas as nações, para que resolvam suas controvérsias na justiça, num encontro sereno,
sem recorrer às falsas soluções da violência, das armas e da guerra, rezemos.
• Pelas famílias, para que não se fechem no egoísmo e eduquem os filhos para o amor, a
compreensão, o diálogo, rezemos.
• Pelas diversas confissões cristãs, para que deem o exemplo de perdão e reconciliação,
derrubando os históricos muros que as dividem, buscando a unidade na reflexão comum do
evangelho, rezemos.
• (Outras intenções)
Oração sobre as Oferendas:
Ao celebrar com reverência vossos mistérios, nós vos suplicamos, ó Deus, que os dons oferecidos
em vossa honra sejam úteis à nossa salvação. Por Cristo, nosso Senhor.
Antífona da comunhão:
Senhor, de coração vos darei graças, as vossas maravilhas narrarei! Em vós exultarei de alegria,
cantarei ao vosso nome, Deus altíssimo! (Sl 9,2-3)
Oração Depois da Comunhão:
Ó Deus todo-poderoso, concedei-nos alcançar a salvação eterna, cujo penhor recebemos neste
sacramento. Por Cristo, nosso Senhor!
Evangelho do Dia
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Amar até os inimigos
O mandamento do amor ao próximo não era desconhecido antes de Jesus. De fato, no Antigo
Testamento nunca se havia pensado em amar a Deus nem se interessar pelo próximo (1ª
leitura). Nos Provérbios encontra-se até uma passagem que ressoa quase com as mesmas
palavras do mandamento de Cristo: “Se teu inimigo tem fome, dá-lhe de comer; se tem sede,
dá-lhe de beber...” (Pr 25,21). Mas é necessário acrescentar que a frase surge ali inteiramente
isolada das demais.
Um mandamento paradoxal
Em sua formulação, em seu conteúdo e em sua forte exigência, o mandamento de Jesus é novo e
revolucionário.
É novo pelo seu universalismo, por sua extensão em sentido horizontal: não conhece restrições
de classe, não leva em conta exceções, limitações, raça, religião; dirige-se ao homem na unidade
e na igualdade da sua natureza. É novo pela medida, pela intensidade, por sua dimensão vertical.
A medida é dada pelo próprio modelo que nos é apresentado: “Dou-vos um mandamento novo,
que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei assim amai-vos uns aos outros” (Jo 13,34). A
medida do nosso amor para com o próximo é, pois, o amor que Cristo tem por nós; ou melhor, o
mesmo amor que o Pai tem por Cristo: porque “Como o Pai me amou, também eu vos amei” (Jo
15,9). Deus é amor (1Jo 4,16) e nisto se manifestou o seu amor: ele nos amou primeiro e enviou
seu Filho para expiar nossos pecados (1Jo 4,10).
É novo pelo motivo que nos propõe: amar por amor de Deus, pelas mesmas finalidades de Deus;
exclusivamente desinteressado; com amor puríssimo; sem sombra de compensação (Mt 4,46).
Amar-nos como irmãos, com um amor que procura o bem daquele a quem amamos, não a nosso
bem. Amar com Deus, que nos busca o bem na pessoa a quem ama, mas cria nela o bem,
amando-a.
É novo porque Cristo o eleva ao nível do próprio amor por Deus. Se a concepção judaica podia
deixar crer que o amor fraterno se põe no mesmo plano dos outros mandamentos (Lv 19,18) a
visão cristã lhe dá um lugar central, único. No Novo Testamento o amor do próximo está
indissoluvelmente ligado ao preceito do amor de Deus.
Temos inimigos a perdoar?
“A fé... lembra ao cristão os mandamentos de Deus e proclama o espírito das bem-aventuranças;
convida a ser paciente e bondoso, a eliminar a inveja, o orgulho, a maledicência, a violência;
ensina a tudo crer, tudo esperar, tudo sofrer, porque o amor nunca passará” (RdC47)
Mas insiste ainda: “Ama teu inimigo... oferece a outra face... Não pagues o mal com o mal”.
Quanto cristãos fizeram da palavra de Jesus a lei da sua vida! A história da Igreja está cheia de
exemplos sublimes a este respeito: J. Gualberto, que perdoa, por amor de Cristo crucificado, o
assassínio de seu irmão; pais que esquecem heroicamente ofensas recebidas dos filhos; esposos
que superam as ofensas e culpas; homens políticos que não conservam rancor pelas calúnias,
difamações, derrotas; operários que ajudam o companheiro de trabalho que tentou arruiná-los,
etc...
Não devemos também pedir perdão?
Em nome da religião e de Cristo, os cristãos se dividiram, dilacerando assim o corpo de Cristo.
Viram no irmão um inimigo, se “excomungaram” reciprocamente, chamando-se hereges,
queimando livros e imagens... Derramou-se sangue, explodiu ódio em guerras de religião. O
orgulho, o desprezo e a falta de caridade caracterizaram as diatribes teológicas e os escritos
apologéticos. Os inimigos de Deus, da Igreja, da religião foram combatidos com armas e com
ódio. Travaram-se lutas, organizaram-se cruzadas.
Hoje, a Igreja superou, ou se encaminha par superar, muitas dessas limitações. Não há mais
hereges, mas irmãos separados; não há mais adversários, mas interlocutores; não consideramos
mais o que divide, mas antes de tudo o que une; não condenamos em bloco e a priori as grandes
Evangelho do Dia
19/02/11
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religiões não cristãs, mas nelas vemos autênticos valores humanos e pré-cristãos que nos
permitem entrar em diálogo.
Mas a intolerância e a polêmica estão sempre de atalaia. Não estaremos acaso usando, dentro da
própria Igreja, aquela agressividade e polêmica excessivas que outrora usávamos com os de fora
da Igreja? Quantos cristãos engajados, uma vez faltando o alvo de fora, começaram a visar com
“inimigos” aos próprios irmãos na fé, e os combatem obstinadamente, sem amor e sem perdão!
[Missal Cotidiano, ©Paulus, 1995]
Como amar o próximo?
Dom Eurico dos Santos Veloso, Arcebispo Emérito de Juiz de Fora - MG
O alcance e a raiz do amor vivido e ensinado por Jesus é explicado dentro do Sermão da Montanha
proferido por Ele e apresentado em São Mateus 5,38-48 é um amor que não pode ficar reservado ao círculo
dos mais próximos, àqueles de nosso grupo ou os que nos amam, mas que deve atingir inclusive os
inimigos. É um amor sem fronteiras e somente pode ser entendido como expressão do amor de Deus, que
é para todos.
Os discípulos devem amar dessa forma porque é assim que Deus nos ama. Esse será o seu sinal
característico.
As palavras finais SEDE PERFEITOS, ASSIM COMO VOSSO PAI CELESTE É PERFEITO, resumem de uma
forma magnífica o ensinamento contido no discurso que Jesus Cristo faz usando antíteses: TENDES
OUVIDO O QUE FOI DITO, EU, PORÉM, VOS DIGO.
É a motivação mais radical de nova interpretação da Lei de Moisés proposta por Jesus como norma de vida
para o cristão: os discípulos devem viver com o olhar voltado para Deus, pois foram chamados a
manifestar em sua vida a perfeição de Deus, cuja expressão mais perfeita é o amor incondicional a todos. A
maior justiça proposta por Jesus exige de nós, cristãos, a superação do egoísmo de grupos e classes. Só é
possível atingir tal objetivo se tivermos um relacionamento positivo com a pessoa do outro, por meio de
atos concretos.
Porque razão S. João não fala do amor em relação aos inimigos?
Enquanto os Evangelhos de Mateus e de Lucas acentuam a necessidade de um amor que ultrapasse o círculo dos que
estão do mesmo lado para englobar até os que se lhes opõem, os escritos de S. João só falam do amor entre os
discípulos. Deveríamos concluir que a visão de João é mais limitada?
Para João, como para o conjunto do Novo Testamento, a missão de Jesus é universal. Ele é o Verbo de Deus “que, ao vir
ao mundo, a todo o homem ilumina” (João 1,9). Veio para perdoar os pecados do mundo inteiro (1 João 2,2). Ninguém é
excluído do seu amor: “Todos os que o Pai me dá virão a mim; e quem vier a mim eu não o rejeitarei.” (João 6,37)
“Salvador do mundo” (João 4,42), Jesus oferece a cada ser humano a água viva que dá a vida em plenitude.
Mas a vida que Cristo dá é «eterna», quer dizer que ela é a própria Vida de Deus. Consiste numa existência partilhada
com Deus a que se chama comunhão. Esta comunhão é em primeiro lugar uma realidade em Deus, a corrente de vida
entre o Pai e o Filho, e exprime-se sobre a terra por uma comunhão entre os seres humanos que acolhem o Evangelho
(cf. 1 João 1,3). Aqueles que entram nessa comunhão deixam muito para trás uma existência não autêntica porque
pretensamente autossuficiente; em termos joaninos, nasceram de Deus (João 1,13; cf. 3,3-8) e já não pertencem “ao
mundo” (cf. João 17,16).
É neste contexto que se situa o ensinamento joanino sobre o amor. Para João, o amor é uma tradução “em atos e em
verdade” (1 João 3,18) dessa comunhão em Deus. Assim, é por essência recíproco, aquele a quem é oferecido deve
acolhê-lo para, por sua vez, o dar. Isto é verdade primeiramente em Deus, depois em nós: “Como o Pai me amou, eu
também vos amei: permanecei no meu amor.” (João 15,10) Permanecemos nesse amor vivendo o “mandamento novo”:
“Amai-vos uns aos outros como eu vos amei.” (João 13,34; cf. 15,10.17) Dessa forma, o amor entre os discípulos de
Cristo torna-se o sinal por excelência da presença de Deus no coração do mundo (cf. João 13,35).
Se João insiste tanto sobre o amor recíproco dos discípulos, não é portanto de forma alguma para restringir o amor a um
pequeno grupo dos que pensam da mesma forma. O objetivo desse amor continua universal, “para que o mundo creia”
(João 17,21.23), para que os humanos se abram à presença de Deus e entrem na sua comunhão. Mas o único sinal
verdadeiramente convincente dessa presença, dessa comunhão, é um amor dado e acolhido, um amor “perfeito” (1 João
4,12; 2,5; 4,17.18). Este amor, longe de ser um simples sentimento, reconcilia as oposições e cria uma comunidade
fraterna a partir dos mais diversos homens e mulheres, da vida desta comunidade sai uma força de atração que pode
agitar os corações. Para S. João, é assim que Deus ama o mundo de forma eficaz (cf. João 3,16), não diretamente, pois
Deus não pode forçar os corações e há uma incompatibilidade profunda entre o mundo fechado a Deus e o seu amor (cf.
1 João 2,15), mas pondo no coração do mundo um fermento de comunhão, o amor fraterno, capaz de penetrar e de
levedar toda a massa. [http://www.taize.fr]
Evangelho do Dia
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